Resumo
Fundado como contraponto ao dualismo cultura-natureza, o conceito de mais-que-humano refere-se aos mundos dos diferentes seres que coabitam a terra, de forma a incluir e exceder às sociedades humanas. Embasados em tal noção e em diferentes perspectivas filosóficas, como pós-fenomenologias, teorias não-representacionais, eco-feminismos e pós-humanismos, os geógrafos culturais têm se interessado emampliar suas interpretações para decifrar as multiplicidades espaciais do habitar no Antropoceno. Neste ensaio objetiva-se caracterizar as Geografias Culturais mais-que-humanas efetivadas nos países anglófonos. Essas Geografias recorrem a procedimentos inter/transdisciplinares com práticas artísticas, literárias, narrativas e experimentais. Tais abordagens possibilitam que práticas geográficas artísticas, narrativas e criativas oportunizem a imersão e expressão de mundos partilhados. Os estudos vitais, atmosféricos, afetivos e corporificados realizados por esses geógrafos revelam complexos arranjos de co-vulnerabilidades e reciprocidade multi-espécie vividos nos lugares em tensão na contemporaneidade. A compreensão dessas tessituras do coabitar terrestre pode permitir-nos decifrar grafias da terra que contraponham ao excepcionalismo humano hegemônico.
Palavras-chave: Mundos mais-que-humanos; Antropoceno; Habitar
Résumé
Fondée commeun contrepoint au dualisme nature-culture, le concept de plus-que-humain indique les mondes des différents êtres qui cohabitent la terre, de façon à inclure et aller au-délà des sociétés humaines. Basée en cette notion aux différents perspectives philosophiques, comme les post-phenomenologies, théories non-représentationnelles, eco-feminismes et post-humanismes, les géographes culturelles ont eu l´intérét à élargir leurs interprétations pour déchiffrer les multiplicités spatiales du habiter au Anthropocene. Cet essai objective caractériser les Géographies Culturelles du plus-que-humaine réalisées aux payses anglophones. Cette Géographies emploient procédures inter/transdisciplinaires avec des pratiques artistiques, littéraires, narratives et expérimentales. Telles approches permettent des pratiques géographiques artistiques, narratives et créatives de créer opportunités d'immersion et d'expression de mondes partagés. Les études vitales, atmosphériques, affectifs et corporifies élaborées par ces géographes révèlent complexes assemblages de co-vulnérabilité et réciprocité multi-espécie vivent aux lieux en tension à la contemporanéité. La compréhension de ces tessitures du cohabiter terrestre peut permettre que nous déchiffrions les graphies de la terre que contrapose l'exceptionnalisme humaine hégémonique.
Palabras-clave: Mondes plus-que-humaines; Anthropocene; Habiter
Abstract
Established as a counterpoint to culture-nature dualisms, the concept of more-than-human refers to the worlds of the different beings co-dwelling on Earth, including and surpassing human societies. Based on this notion and coming from different philosophical perspectives, including post-phenomenology, non-representational theory, eco-feminism, and post-humanism, cultural geographers have sought to broaden their interpretations to decipher the spatial multiplicities of living in the Anthropocene. This essay characterizes the more-than-human Cultural Geographies of Anglophone countries, which use artistic, literary, narrative, and experimental inter and transdisciplinary practices. These approaches facilitate artistic, narrative, and creative geographical practices that create opportunities for immersion in and expression of shared worlds. Cultural geographers employ vital, atmospheric, affective, and corporeal studies to reveal complex multi-species arrangements of co-vulnerability and reciprocity experienced in modern-day places of tension. Understanding these earth-dwelling tessituras enables us to decipher terrestrial writings that contrapose hegemonic human exceptionalism.
Keywords: More-than-human Worlds; Anthropocene; Dwelling
INTRODUÇÃO
A retomada de debates concernentes à mudança climática e transições ecológicas têm suscitado o interessedos Geógrafos Culturais anglófonos para problemáticas socioambientais na alvorada do século XXI. Os estudos por eles realizados visam transcender a "nova geografia cultural" da década de 1980 em direção a temáticas da multiplicidade existencial da vida terrestre (GREENHOUGH, 2014). Whatmore (2006) argumenta que essa recente viradapara fenômenos e arranjos espaciais de entidades mais-que-humanas têm provocado reestruturações temáticas e conceituais significativas na disciplina.
O conceito de mundo mais-que-humano foi popularizado pelo eco-fenomenólogo Abram (1996) e expressa tudo aquilo que abarca a "natureza" terrestre em suas mais amplas compreensões. Como descreve o autor (ABRAM, 1996), a expressão se refere a um mundo que inclui e excede as sociedades humanas, assim as associando às complexas tramas de interdependências entre os inúmeros seres que compartilham o habitar terrestre. Visa, portanto, a superação da dicotomia moderna prevalecente entre natureza e cultura.
Embora tenha iniciado na eco-fenomenologia, o conceito de mais-que-humano é adotado em diversas perspectivas teóricas, particularmente em pós-fenomenologias (ASH; SIMPSON, 2018), teorias não-representacionais (THRIFT, 2008), eco-feminismos (BELLACASA, 2017; TSING, 2015) e pós-humanismos (HARAWAY, 2008; 2016). Essas correntes de pensamento têm sido basilares para a inspiração dos geógrafos que visam imergir nas condições de existência e emergência das situações espaço-temporais de entidades mais-que-humanas. Consideramos que essa variedade de tendências teóricas é um desdobramento positivo da abertura da Geografia Cultural para diferentes formas de decifrar cosmos sensíveis, como destaca Almeida (2013).
O presente ensaio intenta aportar as concepções, as preocupações, os procedimentos e vertentes das Geografias Culturais mais-que-humanas, com foco no escopo da bibliografia anglófona. Desse modo, trata-se de um estado da arte e análise sistemática das pesquisas e produções na área com ênfase nas últimas duas décadas. Para melhor conduzir estas discussões esse texto estrutura-se em duas grandes partes. A primeira, da discussão sobre os mundos mais-que-humanos e sua inserção nas Geografias Culturais. A subsequente, identifica os principais temas das pesquisas concernentes.
HORIZONTES FRATURADOS, DESAFIOS DO PRESENTE
O recente reconhecimento do Antropoceno como a época geológica marcada pelos impactos da ação industrial demonstra a profundidade da crise ambiental hodierna (POVINELLI, 2016). Popularizado pelo químico Crutzen (2002), é considerada como a época em que a atividade transformativa capitalista de certos grupos humanos pode ser considerada como uma relevante força geológica. Para Danowski e Castro (2017, p.48) "o Antropoceno, ao nos apresentar a perspectiva de um 'fim do mundo' no sentido o mais empírico possível, o de uma mudança catastrófica das condições materiais de existência da espécie, vem suscitando uma autêntica angústia metafísica". Essa época expande um campo de insegurança ontológica e epistêmica que nos exigem a tomada de posições para criar outros modos de pensar as relações entre mundo e sujeito.
Argumentamos que os futuros possíveis se apresentam como horizontes fraturados de mudança climática e desolação. Davis e Turpin (2015) apontam que o Antropoceno pode ser entendido como o fenômeno sensorial da experiência de viver em um mundo crescentemente tóxico. Para decifrar tais desafios do presente, é necessário que as ciências humanas se desloquem do tradicional humanismo cartesiano ocidental que as fundou na modernidade rumo às possibilidades de um fazer menos dualista. A fundação de uma consciência ambiental ampla que permita a noção do continuum cultural-natural (HARAWAY, 2016) perpassa, logo, pela constituição de uma outra forma de compreensão dos inúmeros cosmos que nos circundam.
Como previamente indicado, o conceito de mais-que-humano visa a superação desse dualismo por meio da constituição de uma noção ampla de coabitar. Popularizado pela perspectiva pioneira de Abram (1996), define-se o mundo mais-que-humano como o espectro aberto das inter-relações entre os mundos de seres vivos, não-viventes e das sociedades humanas. Destarte, são inclusos os diferentes ciclos de animais e plantas, da água, das massas de ar e das rochas. Ao abarcar tais dimensões, ele põe em xeque o excepcionalismo humano que funda a crise ambiental do antropoceno e expressa os arranjos multi-espécies do devir planetário.
Trata-se, como discorre Abram (2010), de tornar-se animal, de redescobrir o humano como um ente envolvido no solo primordial terrestre. Como ele explica, "the ground and the horizon—are granted to us only by the earth" (ABRAM, 1996, p.131, grifos do autor). O pressuposto basilar de partilha do envolvimento com a Terra desvela como são manifestos os sutis entrançamentos entre os seres do planeta. Cada qual em sua especificidade e variação corporal, os diferentes entes terrestres são reconhecidos em sua própria expressão de senciência.
Reconhecer o mundo mais-que-humano é compreender que existem outros "eus" com centros de experiência corporalmente diferente entre si e que decorrem em um vasto horizonte de intersubjetividade e intercorporeidade. O cosmo multi-espécie de reciprocidades e (des)encontros entre diferentes entes é um reconhecimento do que Bellacasa (2017, p.145) aponta como uma "in a web of living co-vulnerabilities". São as interconexões de inerências à vulnerabilidade de ser na e da Terra que reúnem as variadas formas mais-que-humanas de existência.
Na perspectiva da filósofa da ciência Haraway (2016, p.55), é reconhecido que "human beings are with and of the earth, and the biotic and abiotic powers of this earth are the main story". A abordagem pós-humanista por ela proposta perpassa por reconhecer que há um excepcionalismo humano instaurado pela modernidade e que legitima a exploração capitalista contemporânea. É basilar, logo, desconstruir a visão mecanicista em que animais, plantas e outras entidades não-humanas agem apenas por instinto (HARAWAY, 2008). Esses outros seres com os quais partilhamos nossos lugares devem ser compreendidos como sujeitos com seus próprios horizontes de intencionalidade.
Conforme conflui Abram (2010), cada entidade mineral, vegetal ou animal da terra é uma variação telúrica da textura e pulso de um mesmo mundo e cosmo sensível. Ao aproximar-se de um centro de referência que aviva às tessituras da existência, pode-se alcançar maneiras de subversão do isolacionismo humano frente aos outros seres que fazem parte das dinâmicas da biosfera. Similarmente ao animismo de populações tradicionais (DANOWSKI; CASTRO, 2017), pode-se ponderar uma forma expandida de pensar em uma senciência terrestre partilhada entre os diferentes seres que nela coabitam.
Haraway (2008, p.106) explica que enfrentar o excepcionalismo humano "requires working for the mortal entanglements of human beings and other organisms in ways that one judges, without guarantees, to be good, that is, to deserve a future". Processos de pensar-com entes não-humanos requer entender arranjos e enredamentos. Face às mudanças climáticas e práticas invasivas, as relações mais-que-humanas dos lugares são alteradas de forma a causar desajustes existenciais. Ao considerar a necessidade de um pensar-com que possibilite exercer a justiça ambiental, pondera-se que é importante decifrar as diferentes interrelações e como elas podem ser reparadas ou reinventadas nesse presente de horizontes fraturados.
A eco-feminista Tsing (2015) problematiza que reuniões e arranjos das diversas formas de ser precisam ser estudadas como conjuntos complexos e polifônicos para que possamos decifrar maneiras mais-que-humanas de coabitar os lugares. Como o estudo da autora acerca dos arranjos de precariedade e suas reinvenções do circuito internacional de colheita e comércio de cogumelos matsutake demonstra, há ainda a possibilidade de vida nessa Terra disturbada. Na expansão das ruínas do capitalismo, as formas de convivência em meio a precariedade indicam estratégias de sobrevivência no Antropoceno. Desse modo, imergir nessas tessituras mais-que-humanas pode ofertar vislumbres para pensar-com outros seres e desafiar os nexos causais de tais situações de desequilíbrio - assim como suas consequências existenciais, culturais, econômicas e afetivas.
NOS DEVIRES DA GEOGRAFIA CULTURAL
Os movimentos da "nova" Geografia Cultural da década de 1980 pouco se atentaram para questões ambientais, porém, elestomaram foco em problemas representacionais. A vida terrestre, recorrentemente presente no passado ancestral dessa subdisciplina, foi subsumida por outras temáticas de pesquisa (WHATMORE, 2006). Contudo, as problemáticas latentes do Antropoceno, particularmente nos últimos vinte anos, provocam e instigam a recente atenção para esse tema. Autores como Dardel (2011 [1952]) são retomados na condição de pioneiros de abordagens nesse horizonte.
Assim como em outras disciplinas do campo das humanidades, as Geografias Culturais anglófonas têm sido influenciadas por tais debates. Como discorre Lorimer (2010), há um conjunto crescente de geógrafos culturais interessados em aproximações com estudos animais, biofilosofia e outras abordagens mais-que-humanas. Esses pesquisadores buscam repensar paisagens e lugares por meio de noções interativas entre os elementos socioculturais e não-humanos dessas espacialidades. Entidades e forças não-humanas abordadas nesses estudos incluem, mas não se restringem a: antidepressivos (MCCORMACK, 2007), cigarros (MARKOVIĆ, 2019), elefantes (LORIMER, 2010; BARUA, 2013), rebanhos de renas (LORIMER, 2006), lagos (GIBBS, 2009), bicicletas (SIMPSON, 2018), branqueamento de corais (GIBBS et. al., 2019), árvores (PHILLIPS; ATCHINSON, 2018), atmosferas selvagens (VANNINI; VANNINI, 2020b), jardins (PITT, 2015), entre outros.
Como indicado, a virada temática em curso trata-se de uma renovação acadêmica e resulta em propostas de estudos que preteritamente poderiam parecer avessos às propostas desse subcampo disciplinar. Conforme descreve Greenhough (2014, p.115), o objetivo das Geografias Culturais mais-que-humanas é "offer particular perspective(s) on human-non-human encounters and the worlds they co-produce, while always recognizing their contingent and fragile nature". Ao dimensionar modos de pensar-com e decifrar grafias polifônicas corporais de habitar a Terra, essas pesquisas oportunizam confluências que desafiam dualismos cartesianos. Elas se articulam de modo a potencializar e expandir as capacidades explicativas das categorias geográficas, particularmente lugar e paisagem, para entidades não-humanas.
Abordagens mais-que-humanas em Geografias Culturais são caracterizadas por um interesse particular nas diferentes formas e aproximações de arranjos multi-espécies e corporificados. Elas adotam metodologias e perspectivas que intentem superar tendências de excepcionalismo humano, usualmente por meio de associações a perspectivas pós-humanistas (PANELLI, 2010). Também cabe salientar a resistência desses geógrafos ao reducionismo das representações, componente particularmente manifesto no foco de seus estudos em transformações práticas e afetivas não-representacionais. Tais posturas refletem aproximações relacionais, inter e transdisciplinares e imersivas em que as entidades não-humanas desveladas são entendidas entremeio à suas próprias capacidades e centros acionais (GREENHOUGH, 2014). Amparadas pelas categorias de análise da Geografia, elas implicam na compreensão de que lugar, paisagem e cotidiano devem ser compreendidos na inseparabilidade dos mundos multi-espécies que os compõem.
As Geografias Culturais mais-que-humanas objetivam escapar às limitações representacionais que eram vigentes na nova Geografia Cultural (LORIMER, 2006), de modo a evocar diferentes formas de ser e viver de entidades não-humanas. Ao buscar alternativas em perspectivas pós-fenomenológicas (ASH; SIMPSON, 2018) e/ou não-representacionais (THRIFT, 2008), uma nova geração de geógrafos culturais intenta retomar as reuniões de componentes bio e geo intrínsecos a mundos mais-que-humanos.
Abordagens não-representacionais concernem metodologias performativas em que os participantes tem direitos iguais em apresentar-se por meio de relações ao revés de representações e textos (THRIFT, 2008). Esse foco performático colabora na constituição de práticas e ações dialógicas que estão conectadas às especificidades corporais de todos envolvidos. Em transcendência à leitura pretérita do espaço como texto, ele é entendido como uma performance plurívoca em devir.
Whatmore (2006) argumenta que a inventividade da Geografia Cultural está no seu potencial de reunir diferentes retornos entremeio a preocupações constantes com processos vitais e existenciais de ser-no-mundo. Como disserta a autora (WHATMORE, 2006), as tendências recentes de Geografias Culturais mais-que-humanas colaboram na construção de práticas geográficas que visam o encontro em transcendência à representacionalidade. Elas também são oportunas por oferecerem vislumbres em como ser afetado e afetar diferentes arranjos de humanos e não-humanos, cada qual em suas especificidades de lugar. Também é salutar que a atenção dessas perspectivas para os múltiplos modos de coabitar e co-fabricar afetivamente mundos expande as possibilidades procedimentais para aproximações com outros campos disciplinares das humanidades.
EXPRESSÕES AFETIVAS DE ESPACIALIDADES MULTI-ESPÉCIES
Na medida em que, como explica Tsing (2015, p.281), "Without meaning to, most of us learn to ignore the multispecies worlds around us", é importante criar outros modos de sensibilidade, escuta e observação. Procedimentos ortodoxos ou metodologias humano-centradas, ainda que relevantes, podem limitar o olhar do pesquisador e sua imersão em mundos mais-que-humanos. Para transcender os dualismos das ciências modernas, faz-se imperativo reunir esforços rumo a transformações no modo de praticar geografias em arranjos polifônicos multi-espécies. Mudanças nesse fazer geográfico envolvem aberturas para práticas menos pragmáticas e para aproximações com outras formas de sensibilidade e observação.
Por essa razão, opera-se um deslocamento de interpretações de significados rumo às lógicas dos afetos. Conforme pondera Whatmore (2006), essa mudança ocorre no espectro entre os meios intercorporificados de estabelecimento de relações e as dimensões sensoriais de afetar o mundo. Os afetos desvelam-se como forças de intensidade variável que afetam intercorporealmente e intersubjetivamente os sujeitos visceralmente envolvidos nos processos de pesquisa.
No horizonte da teoria não-representacional, Thrift (2008, p.192) define que o "affect is a different kind of intelligence about the world". Afetos são entendidos como uma forma de pensar direta ou indireta. Afeto é o pensamento e a prática de afetar e ser afetado. Transcendente a uma compreensão que o reduz ao irracional ou sublime, os afetos são compreendidos dentro desse campo teórico como uma forma reciproca de interação corporificada que envolve emoções, percepções e imaginários.
Bellacasa (2017, p.221) salienta que "situations of care imply nonsymmetrical, multilateral, asubjective, obligations that are distributed across more than human materialities and existences". Do mesmo modo, circunstâncias afetivas entre entidades corporalmente diferentes decorrem na arquitetura de tessituras experienciais particulares a cada caso. Como demonstra o estudo de Lorimer (2006) acerca do fazer-lugar no pastoreio de renas, as atividades de cuidado interespécie implicam em geografias sensoriais e afetivas de reciprocidade.
O contato com as formas nativas telúricas reativa e energiza os sentidos sensoriais das pessoas (ABRAM, 1996). Desse modo, as aproximações afetivas realizadas no curso das Geografias Culturais mais-que-humanas oportunizam imersões reciprocas nos cosmos de plantas, animais e atmosferas. Ao orientar-se nas formas primais de intercorporeidade experienciadas nesses arranjos, o geógrafo pode identificar maneiras de afetar e ser afetado pelas situações geográficas em suas especificidades.
Lorimer (2012) argumenta que abordagens mais-que-humanas na Geografia podem colaborar para esforços de planejamento ambiental em áreas degradadas por clamarem a atenção para a significância interconectada de elementos corporais, afetivos e não-humanos. Considerar a agência dos elementos interativos que afetam e são afetados em cada realidade geográfica, permite observar as condições emergentes dos arranjos intercorporais de precariedade, coabitação e/ou tensão envolvidos nas práticas de fazer-lugar.
Conforme discorre Thrift (2008), há uma ascensão de técnicas e procedimentos afetivos na Geografia Cultural. Essas práticas visam efetivar pesquisas que correlacionem o psíquico e emocional em transcendência às limitações representativas interpretadas por paradigmas racionalistas. Situadas em contextos trans e interdisciplinares, essas práticas recorrem a modos imersivos de pesquisa que possibilitem aproximações com atmosferas e formas de alteridade afetivas. Desse modo, intenta-se que a própria prática de pesquisa se torne um contexto criativo e gerador de nexos afetivospor meio da combinação de atividades relacionais com àquelas ligadas à ação artística, poética e/ou imersiva.
PROCEDIMENTOS E APROXIMAÇÕES MAIS-QUE-HUMANOS
Transpor as linguagens e capacidades da arte para as práticas de pesquisa em Geografia Cultural é uma maneira de aproximar-se de mundos não-humanos. As artes podem ofertar uma possibilidade de criar cosmos de reciprocidade que sensibilizem acerca das condições ambientais do Antropoceno.Se essa é, como argumenta Haraway (2016), uma época marcada por descontinuidades, o desafio para os campos artísticos e das humanidades é o de criar modos de fazer e pensar que façam desse período o mais curto possível, de construir maneiras de coabitar que arquitetem refúgios e alternativas. Davis e Turpin (2015) demonstram que as práticas artísticas possuem estavirtualidade transformativa.
Geografias Culturais mais-que-humanas adotam uma perspectiva não-representacional nas suas aproximações com a arte. Tal abordagem é um distanciamento de observações acerca de questões estéticas ou de significados pré-definidos por sistemas simbólicos (GREENHOUGH, 2014). Em revés, eles abordam o contato arte-científico como uma forma de engajamento inventivo com o mundo, onde os sentidos são produzidos e recriados durante a interação corporificada com as entidades envolvidas. Entende-se essa reciprocidade como uma ecologia de práticas dinâmicas e intersubjetivas (GREENHOUGH, 2014; SMITH, 2007).
Em acordo, Hawkins e Straughan (2015) expressam que as capacidades da arte em engajarem os pesquisadores em experiências de mundos mais-que-humanos têm sido apreciadas pelos geógrafos culturais. Ao aproximar-se dessas possibilidades, práticas geográficas artísticas, narrativas e criativas buscam criar oportunidades de imersão e expressão de mundos partilhados. Compreende-se a arte como uma forma de desvelar e criar novas espacialidades onde encontros criativos ocorram no horizonte de cosmos afetivos, sentidos e vividos na realidade geográfica (HAWKINS, 2014). Para Haraway (2016) os diversos entes da Terra se relacionam, aproximam, conhecem e pensam histórias por meio de narrativas, mundos e conhecimentos que rompem categorizações ou especiações cartesianas.
Oportunizar a emergência e reciprocidade com essas narrativas, cruzamentos e entrançamentos é uma das metas posta pela prática das Geografias culturais mais-que-humanas. É por meio do contato imaginativo, poético, sensorial e empático que é possível encontrar as espacialidades existenciais polifônicas da Terra. Captar o afeto compartilhado entre as variações corporais telúricas é um ato que demanda uma outra forma de atenção e expressão por parte dos geógrafos. Ao buscar evidenciar as tessituras relacionais dos lugares por meio de fábulas eto-etnográficas, estudos como os de Vannini e Vannini (2020a) mostram como tais formas de sensibilidade podem ser escritas em uma associação geoliterária.
Conforme ressalta Smith (2007), expressar geograficamente a existência de outros seres implica em tornar-se aberto aos afetos e conhecimentos deles de forma a alcançar modos de falar por meio das grafias da Terra que não possuem vozes próprias. Isso implica em ser influenciado pelos encontros, de forma que eles oportunizem mudanças nas formas de alteridade e possam colaborar na construção de projetos de mundos partilhados. Trata-se de entender-se como ser no-e-do mundo em correlação a contextos mais-que-humanos.
Associações em grupos multi/transdisciplinares em projetos colaborativos conseguem dimensionar especificidades e dinâmicas da realidade geográfica. Abordagens artísticas e criativas são simultaneamente uma forma de publicização e sensibilização dos resultados de pesquisas (HAWKINS, 2018). Buscar afetos por meio da construção de canções (GIBBS et. al., 2019) ou correlações vídeo-fotográficas (LORIMER, 2010) são formas utilizadas para alcançar espaços vitais experienciados e partilhados em mundos mais-que-humanos.
GEOGRAFIAS VITAIS DE ANIMAIS E VEGETAIS
No horizonte das Geografias Culturais mais-que-humanas, as Geografias Vitais centram-se no fazer-lugar de animais e vegetais. Esse subcampo concerne-se primordialmente com as maneiras pelas quais arranjos multi-espécie são formados em mundos de contato corporificados entre diferentes seres. Eles reconhecem as intersubjetividades, afetos e formas de senciência dos entes em foco, de modo a vislumbrar a autonomia desses na composição de suas espacialidades de existência.
Hodgets e Lorimer (2015) argumentam que é essencial considerar as agências, comportamentos e modos de fazer-lugar dos animais para que os geógrafos possam se engajar com a hibridez e situações envolvendo entidades mais-que-humanas. Ao abordar as possibilidades contextuais da realidade geográfica que emergem de práticas espaciais não-humanas por uma perspectiva vitalista - que considera a senciência do outro vegetal ou animal - é possível observar as tessituras sensíveis e afetivas que conformam espacialidades específicas às suas variações corporais.
Como dissertam Vannini e Vannini (2020a), etnogeografias multi-espécie tratam de uma corporeidade mais-que-humana difusa e partilhada, acerca de um ethos espacial de reciprocidade entre mundos humanos, animais e de plantas. Na busca por geografias vitais, a experiência visceral dos espaços existenciais e corporificado dos diferentes entes são evidenciados. Cada qual em sua dimensão variável, a identificação de entrançamentos partilhados entre seres mais-que-humanos desvelam múltiplas dimensões espaciais. Parte-se, portanto, de um pressuposto que considera a agência autônoma, vital e sociável dos entes não-humanos envolvidos.
Um exemplo instigante é o estudo de Barua (2013). A pesquisa desvela as condições em que a bebida alcóolica sunai transforma as relações afetivas e tensões espaciais entre humanos e elefantes no vilarejo de Sundapur na Índia. A pesquisa etnogeográfica acerca do coabitar mais-que-humano realizada evidenciou as condições micropolíticas, culturais e biológicas do lugar. As maneiras como os animais não-humanos buscam a bebida e são por ela influenciadas a surtos agressivos desvelam biopolíticas de lugar centradas nas contradições relacionais estimuladas pelos artefatos humanos.
Outro exemplo é Philips e Atchinson (2018), que aborda como as árvores interagem e conformam mundos mais-que-humanos em espaços urbanos na Austrália. Baseando-se em relatos biográficos e expressões poéticas acerca da sensibilidade dessas plantas, as autoras desvelam as redes de co-fabricações imaginativas entre sujeitos e mundos humanos e não-humanos. As narrativas analisadas desvelam reciprocidades no habitar entre as plantas e pessoas que podem colaborar para tornar as cidades em locais de convivência multi-espécie. Há, portanto, uma sensibilidade na observação das sutis correlações relacionais inerentes ao coabitar e a partilha de senciência entre os entes envolvidos na pesquisa.
Como situa Pitt (2015) em sua pesquisa acerca da reciprocidade humanos-plantas no fazer-lugar de jardins, há um imperativo ético no reconhecimento da agência das plantas. Considera-las com base nas suas autonomias é uma forma de transcender o vício cartesiano e dualista de as entender como passivas e sem sensibilidades próprias. Essa estrutura de pensamento mecanicista faz parte de um nexo que legitima os danos ecológicos do presente. Ao adotar uma postura vitalista, os geógrafos podem colaborar na construção de percepções contra hegemônicas de relações com plantas e animais.
Geografias Vitais são múltiplas (HODGETS; LORIMER, 2015) e colaboram no desvelamento de arranjos de tensão, precariedade, descontinuidade, reciprocidade ou compartilhamento vivenciados no antropoceno. Sua empreitada em observações e práticas de partilha com seres cuja corporeidade difere da humana exige um olhar atento para variações particulares em múltiplas escalas - conforme as especificidades dos diferentes mundos mais-que-humanos. Elas abarcam modos de ser-no-mundo que diferem entre si corporalmente, de modo a concernirem topologias e realidades geográficas que não necessariamente são familiares às geografias humanas. Desse modo, colaboram na arquitetura de modos de alteridade que não possuam especismos no seu horizonte de compreensão.
GEOGRAFIAS ATMOSFÉRICAS
Outro campo com particular repercussão entre as Geografias mais-que-humanas são os estudos em Geografias Atmosféricas. Essas pesquisas se focam nas condições múltiplas pelas quais as entidades humanas e não-humanas se inter-relacionam em determinados lugares. Como pondera Adams-Hutcheson (2017), o conceito de atmosfera utilizado nesses estudos relaciona-se aos dois sentidos da palavra. Isso é, tanto a atmosfera como um campo afetivo-aural que emana dos seres e coisas quanto como manifestações da troposfera.
Trigg (2020, p.4) explica que "the indeterminate nature of an atmosphere, as something that is both subjectlike and objectlike, means that it can function as a common ground between individuals". Essa inerente característica de compartilhamento consubstancia os modos de reciprocidade mais-que-humanos que emergem na maneira como diferentes tipos de entidade participam e criam atmosferas. As atmosferas podem ser selvagens (VANNINI; VANNINI, 2020b) e explicitar convergências de um sentimento primal de forças vitalistas inerentes à Terra. A porosidade e fluxo dinâmico das atmosferas geradas por sentimentos, corpos e objetos indicam, logo, um modo não-representativo de manifestação das relações variáveis entre presenças partilhadas em um dado lugar.
Na medida em que "there are as many atmospheres as there are ways of feeling or moods" (ADAMS-HUTCHESON, 2017, p.6), elas podem ser agradáveis ou difíceis, sublimes ou excitantes, confortáveis ou opressoras. Em sua pesquisa na Nova-Zelândia, ele indicou como os ritmos sazonais da troposfera influenciam os sentidos e vínculos de lugar de pequenos agricultores, envolvendo entrelaçamentos de animais, plantas, máquinas agrícolas, pluviosidade e lamaçais. Explicita-se que a imersão em atmosferas pode demonstrar conexões discretas e dinâmicas que envolvem a corporeidade dos mais diversos seres.
De acordo com Trigg (2020), uma atmosfera pode ser delimitada pelas aderências que exerce nos corpos com os quais interage. É por esse caminho que percorre, por exemplo, Simpson (2018) em seu estudo sobre as ambiguidades das relações de ciclistas com os ventos intempestivos no litoral britânico. Simultaneamente à produção de atmosferas relacionadas às atividades com as bicicletas, há uma contra-atmosfera produzida pela troposfera que dificulta o percurso dessas pessoas. A interação desses elementos gera uma atmosfera afetiva particular que reforça uma reciprocidade mais-que-humana negociada nos lugares.
Como sublinham Ash e Simpson (2018), estudos atmosféricos podem se centrar nas teias de significados, estilos e afetividades geradas por determinados objetos. Essas pesquisas tendem a envolver amálgamas de componentes mais-que-humanos que se desdobram em espacialidades situadas e circunstanciais. McCormack (2007), por exemplo, abordou as maneiras pelas quais antidepressivos e seus processos químicos incorrem em alterações nas dinâmicas afetivas mais-que-humanas dos lugares. A reflexão ontológica do autor demonstra como a geografia pode se engajar nas temáticas de biotecnologia por meio de afetos moleculares. Baseado nessa complexa composição de afetos atmosfericamente partilhados, ele sintetiza que a experiência espaço-molecular é alterada quando os processos químicos são modificados por antidepressivos. Os lugares produzidos corporalmente nessas situações tornam-se composições hibridas entre os elementos bioquímicos e as entidades envolvidas.
CONCLUSÃO
Nos horizontes fraturados de geograficidades de desolação que parecem se expandir continuamente no Antropoceno, a possibilidade de enfrentamento perpassa pela instauração de outras formas de pensar.
Reconhecer as intersubjetividades, entrançamentos e dependências entre diferentes entes terrestres - como têm feito as Geografias Culturais mais-que-humanas - é um modo de transcender aos dualismos cartesianos que legitimam a crise ambiental atual.
Transcender as limitações de Geografias representacionais rumo às possibilidades transformativas do reconhecimento das ligações entre os seres - humanos e não-humanos - vinculados a Terra implica em construir uma relação empática com as condições de existência partilhada no planeta. Lugares vivenciados em co-vulnerabilidade, reciprocidade, precariedade e afetividade são identificados ao explorar as espacialidades existenciais de diferentes entes.
As diferentes experimentações procedimentais e teóricas em curso revelam as possibilidades inventivas da Geografia Cultural para propor modos de ver, sentir e afetar as realidades geográficas multi-espécies. Suas observações acerca da agência de objetos, atmosferas, plantas e animais não-humanos indicam perspectivas de variações corporais que potencializam modos de coabitar a Terra. Articulados às categorias de lugar e paisagem, suas considerações potencializam o escopo de enovelamentos e interrelações exploradas pelo conhecimento geográfico.
Imergir nas co-vulnerabilidades dos lugares vividos pelos diferentes entes terrestres decorre em entendimentos das reciprocidades e contradições das situações geográficas em tensão na contemporaneidade. O conhecimento geográfico aberto à compreensão desses arranjos de senciência permite-nos decifrar grafias da terra que superem o excepcionalismo humano rumo às possibilidades de vida em horizontes mais-que-humanos do habitar.
Essas contribuições das Geografias anglófonas delineadas previamente podem colaborar sobremaneira para a contínua expansão e reflexão crítica da Geografia Cultural no Brasil.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
14 Jun 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
-
Recebido
12 Nov 2020 -
Aceito
08 Jan 2021 -
Publicado
15 Fev 2021