Resumo
O presente estudo apresenta o tratamento taxonômico de Siparunaceae para as formações de canga da Serra dos Carajás (Pará, Brasil). Apenas uma espécie foi registrada, Siparuna ficoides, táxon ocorrente na Venezuela e norte do Brasil. Este registro representa o primeiro desta espécie para o estado do Pará; e provavelmente é o terceiro indivíduo conhecido da espécie, sendo o primeiro material examinado diferente dos descritos na obra original. São apresentadas descrição, comentários e ilustração da espécie.
Palavras-chave: FLONA Carajás; novo registro; Siparuna ficoides; taxonomia
Abstract
We present the taxonomic treatment of Siparunaceae for the canga formations of Serra dos Carajás (Pará, Brazil). Only one species was recorded, Siparuna ficoides, taxon ocurring in Venezuela and northern Brazil. This record represents the first of this species for the state of Pará; and probably is the third known individual of the species, being the first material examined different from those described in the original work. A description, comments and illustration of the species are presented.
Key words: FLONA Carajás; new record; Siparuna ficoides; taxonomy
Siparunaceae
Siparunaceae (A. DC.) Schodde é uma família segregada de Monimiaceae com 53-75 espécies distribuídas em dois gêneros, Siparuna Aubl. (Neotropical) e Glossocalyx Benth (África ocidental) (Renner & Hausner 2005a; Stevens 2011). Suas espécies são arbustos ou árvores, com folhas simples, estipuladas, opostas ou verticiladas, ocasionalmente em pares anisófilos. As inflorescências são cimosas, agregando flores não vistosas, actinomorfas ou assimétricas, monoclamídeas, com receptáculo floral bem desenvolvido, cercando completamente os estames ou carpelos exceto por um poro central, anteras com deiscência valvar (abertura única), gineceu apocárpico, carpelos imersos no receptáculo, óvulos unitegumentados. Os frutos múltiplos são compostos por unidades drupáceas que se desenvolvem dentro do hipanto (adaptado de Renner & Hausner 2005a; Stevens 2011). No Brasil ocorre em todos os estados, exceto Rio Grande do Sul e Santa Catarina (BFG 2015).
1. Siparuna Aubl.
Siparuna Aubl. é constituído por arbustos sarmentosos, arvoretas ou árvores, monoicas ou dioicas, aromáticas devido às células oleíferas distribuídas por toda a planta, folhas decussadas ou verticiladas, isófilas. Cimeiras mono ou dicasiais; flores unissexuais, pediceladas, actinomorfas, receptáculo floral normalmente subgloboso ou urceolado; estames 1-(5-9)-72, normalmente livres, anteras bitecas; carpelos 3-35, uniovulados, estigmas papilosos. Receptáculo dos frutos carnoso, normalmente globoso, abrindo irregularmente a partir do ápice, com odor pungente (adaptado de Renner & Hausner 2005a). Siparuna compreende 53-74 espécies distribuídas do México ao Paraguai (Renner & Hausner 2005a), 20 das quais ocorrem no Brasil (BFG 2015). Na Serra dos Carajás são registradas cinco espécies do gênero, S. bifida (Poepp. & Endl.) A.DC., S. guianensis Aubl., S. krukovii A.C.Sm., S. poeppigii (Tul.) A.DC. e S. ficoides S.S. Renner & Hausner, sendo que apenas a última ocorre em formações de canga.
1.1. Siparuna ficoides S.S. Renner & Hausner, Novon 15(1): 202-206, f. 1, 2. 2005. Fig. 1a-b
Siparuna ficoides - a. ramo fértil; b. cimeira (Harley 57286).
Figure 1
Siparuna ficoides - a. fertile branch; b. cyme (Harley 57286).
Árvore, monoica, ca. 4 m alt. Ramos jovens cilíndricos, glabros. Folhas opostas, coloração verde após secagem, mais clara na superfície adaxial e escurecida na abaxial; pecíolos 0,5-0,7 cm compr.; lâmina 4-9,5 × 2,9-4,5 cm, oblonga a elíptica, base obtusa (às vezes curtamente decurrente), margem inteira, levemente revoluta, ápice acuminado, adaxialmente glabra, abaxialmente com escassos tricomas estrelados distribuídos esparsamente, nervação broquidódroma, nervuras secundárias 6-9, levemente proeminentes na superfície adaxial e proeminentes na superfície abaxial. Cimeiras 0,4-1,1 cm, ca. 6-flora, pedúnculo ca. 1 cm compr., coberto por tricomas estrelados; brácteas ca. 3 mm compr., oblongas; bractéolas ca. 1 mm compr., subuladas. Botões florais 1,2-1,5 mm compr., ca. 1 mm diâm., elipsoides, densamente cobertos por tricomas estrelados. Flores pistiladas imaturas ca. 2 mm compr., ca. 2,5 mm diâm., subglobosas, cobertas por tricomas estrelados, 4-tépalas; tépalas ca. 0,2 mm compr., largo-triangulares, teto floral cônico; carpelos ca. 5, estiletes formando uma coluna. Flores estaminadas não vistas. Frutos não vistos.
Material examinado: Canaã dos Carajás, Serra da Bocaina, 6°18'45"S, 49°53'23"W, 716 m, 24.VI.2015, fl., R.M. Harley et al. 57286 (MG).
Siparuna ficoides assemelha-se a S. guianenesis Aubl. e S. glycycarpa (Ducke) Renner & Hausner devido às folhas opostas com margem inteira e cimeiras curtas (<1,5 cm compr.). Entretanto, pode ser diferenciada principalmente pela cor da folhas quando secas, verde-claras, verde-amareladas ou verde-acinzentadas (vs. marrom-amareladas ou marrom-acinzentadas em S. guianensis; vs. marrom-escuras em S. glycycarpa); estames 27-30 (vs. 2-6; vs. 10-18); receptáculo dos frutos persistentemente pubescente-aveludado (vs. densamente coberto por tricomas estrelados ou lepidoto-estrelados; vs. glabro); ramos glabros (vs. cobertos por tricomas estrelados; vs. glabrescentes); e folhas com lâminas menores, 9-15 cm compr. (vs. 10-22 cm compr.; vs. 10-20 cm compr.) (adaptado de Renner & Hausner 2005). O espécime de Carajás apresenta folhas um pouco menores do que o padrão da espécie, estava em botão e não apresentava flores masculinas. Apesar disso, a identificação foi possível devido a vários dos caracteres supracitados, especialmente a cor das folhas pós secagem, os ramos glabros e o indumento de outras estruturas.
Espécie Sul-Americana, ocorrendo no Brasil e Venezuela (Renner & Hausner 2005a). No Brasil é registrada no Amazonas (Renner & Hausner 2005a; BFG 2015) e agora pela primeira vez para no estado do Pará. Este registro representa também o terceiro indivíduo conhecido da espécie, sendo o primeiro material examinado diferente dos descritos na obra original (Renner & Hausner 2005b). Na Serra dos Carajás, foi registrada na Serra da Bocaina, em mata baixa sobre canga, em botão no mês de junho.
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Lista de exsicatasHarley RM 57286 (1.1).
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Editora de área: Dra. Ana Giulietti
Agradecimentos
Agradecemos ao Museu Paraense Emílio Goeldi e ao Instituto Tecnológico Vale, a estrutura e apoio. Ao CNPq, a bolsa do Programa de Capacitação Institucional (MPEG/MCTI) concedida aos autores. Aos curadores dos herbários BHCB, HCJS, IAN e MG, a disponibilização de material para a análise. Ao Dr. Pedro Viana e Dra. Ana Maria Giulietti, coordenadores do projeto "Flora de Carajás", o convite. Ao projeto objeto do convênio MPEG/ITV/FADESP (01205.000250/2014-10) e ao projeto aprovado pelo CNPq (processo 455505/2014-4), o financiamento. Ao ICMBio, especialmente ao Frederico Drumond Martins, a licença de coleta concedida e suporte nos trabalhos de campo. Ao Me. João Silveira, a confecção das ilustrações.
Referências
- BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.
- Renner SS, & Hausner G (2005a) Siparunaceae. Flora Neotropica, Monograph 95. The New York Botanical Garden, New York. 247p.
- Renner SS & Hausner G (2005b) New species of Siparuna (Siparunaceae) IV. A new subcanopy tree from white-sand areas in Brazil and Venezuela. Novon 15: 202-206.
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Stevens PF [2001 em diante]. Angiosperm Phylogeny Website. Version 9, June 2008 [and more or less continuously updated since]. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 30 março 2017.
» http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jul-Sep 2017
Histórico
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Recebido
24 Abr 2017 -
Aceito
04 Jul 2017