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Malmkjær, Kirsten e Serban, Adriana e Louwagie, Fransiska (Orgs.). Key Cultural Texts in Translation. Amsterdan/ Philadelphia: Benjamin Translation Library, 2018. 320 p.

Malmkjær, Kirsten; Serban, Adriana; Louwagie, Fransiska. Key Cultural Texts in Translation. Amsterdan/Philadelphia: Benjamin Translation Library, 2018. 320 p.

O livro Key Cultural Texts in Translation faz parte da Benjamin Translation Library, que traz um extenso trabalho sobre as pesquisas e achados dos Estudos da Tradução, com o objetivo de ampliar e estimular os estudos no fenômeno da Tradução. Key Cultural Texts in TranslationMalmkjær, Kirsten e Serban, Adriana e Louwagie, Fransiska (Orgs.). Key Cultural Texts in Translation. Vol. 140. Amsterdan/ Philadelphia: Benjamin Translation Library, 2018. é o volume 140 da série, lançado em 2018, e traz artigos selecionados de dois eventos dos Estudos da Tradução: pelo grupo de estudos “Key Cultural Texts in Translation” da Universidade de Leicester, durante o período de maio de 2013 a abril de 2014 e também do Meeting of the European Society for Translation Studies, ocorrido em Germersheim em 2013. Estas informações são descritas na Introdução pelas organizadoras do livro, Kirsten Malmkjaer, da Universidade de Leicester; Adriana Serban, da Universidade Paul Valéry – Montpellier 3; e Fransiska Louwagie, da Universidade de Leicester.

Composto por artigos em língua inglesa, o livro inicia através de uma breve descrição dos pesquisadores elaboradores dos artigos, seguido por uma dedicatória e introdução elaborada pelas organizadoras. As organizadoras dedicaram este livro para Gideon Toury, grande pesquisador e estudioso dos Estudos da Tradução. O livro é organizado em seis seções, cada uma composta por 2, 3 ou 4 capítulos, elaborados pelos os artigos selecionados, totalizando 17 capítulos. As seções são diferenciadas e trazem um tema específico para cada uma.

A Introdução, escrita pelas organizadoras, traz questões sobre a seleção dos artigos, organização do livro, além de definir o que seriam textos culturais. Tal questão é esclarecida por considerar que em cada cultura de cada país alimenta a sua literatura com gêneros e formas textuais, audiovisuais e visuais diferentes que se tornam papéis centrais na literatura do país. Ainda esclarece que tais textos podem tratar sobre diferentes assuntos, tais como: infância, amadurecimento e suas relações, cidadania, liberdade, identidade pessoal, patriotismo, estrangeirismo, democracia, ditadura e o sagrado, entre tantos outros conceitos, tornando uma lista não-exaustiva de temas e gêneros. Tais conceitos variam de acordo com as línguas e culturas. Esta ampla gama de variação traz grandes questões para a tradução em outras línguas, que deve tratar tanto da obra em si como de elementos paratextuais, de notas do tradutor, prefácios e posfácios. Por esta razão, as dificuldades e razões de escolhas dos tradutores acabam sendo elementos centrais dos artigos selecionados. As organizadoras afirmam que ao analisar os padrões de similaridades e diferenças nas diversas traduções dos elementos culturais chave e reconhecer sua natureza essencial é possível dizer ou, pelo menos, apontar o sucesso ou as falhas da transmissão destes elementos culturais. Assim, as organizadoras esclarecem ainda que tentaram contemplar o maior número de variáveis sobre textos culturais na seleção e organização das seções do livro.

A seção 1, Gender and identity, traz dois capítulos, os quais são: o primeiro intitulado Genos, sex, gender and genre, de autoria de Stella Sandford, professora do Center for Research in Modern European Philosophy na Universidade de Kingston, em Londres, Inglaterra, e o segundo capítulo intitulado Dancing through the waves of feminism: Martha Graham and Marie Choulnard as intersemiotic translators, de autoria de Ouranta Tstakalou, tradutora e mestra em tradução do curso Translation and Translation Theory da Universidade de Atenas.

O artigo de Sandford traz como objetivo analisar a tradução da palavra grega “genos” presente em passagens de A República, de Platão, para as línguas inglesa e francesa através da comparação entre o grego, inglês e francês. Sandford critica a escolha da tradução de genos por sex, em inglês, e sexe, em francês, pois esta tradução influencia a maneira de interpretar a obra. Isto é corroborado quando Standford mostra por trechos da obra de partida que as características de liderança, descritas por Platão, normalmente associadas ao sexo masculino podem ter indivíduos de todos os gêneros. Assim, Standford defende uma tradução diferente das existentes. Já o artigo de Tstakalou traz a análise de duas coreografias de uma mesma peça de dança de Igor Stravinsky, Le Sacre du printemps: Tableaux de la Russie paienne en deux parties (Rite of Spring), que foi criada em 1913 e trata sobre uma lenda russa de uma garota que foi escolhida para ser sacrificada para o advento da primavera no interior da Rússia. Tstakalou descreve os movimentos e seus significados na visão das coreógrafas, Martha Graham e Marie Choulnard, e sua expectativa do olhar feminino sobre a personagem principal.

A seção dois, Texts and politics, traz três capítulos, os quais são: o terceiro capítulo intitulado Bartolomé de Las Casas’ Breve Relación de la Destrucción de Las Indias (Brief Account of the Destruction of the Indies) (1542) in translation: The politics of linguistic and cultural appropriation, de autoria de Helen Rawlings, professora da School of Arts da Universidade de Leicester; o quarto capítulo intitulado Have English translations of Wagner’s Ring of the Nibelung, an icon of german culture, been affected by the changing relationship between German and Britain in the twentieth century?, de autoria de Karen Wilson-de Roze, PhD da Universidade de Leicester; e o quinto capítulo intitulado Communicating change: Two contemporary Polish novels in translation into English, de autoria de Marta Crickmar, tradutora literária e pesquisadora dos Estudos da Tradução.

O estudo de Rawlings analisa as traduções da obra de Bartolomé de Las Casas, que participou da colonização espanhola na América Central, para as línguas inglesa e francesa e o quanto a tradução teve influência política para desmoralizar o rei e a Igreja Católica, colaborando para o crescimento da Reforma Protestante. Na mesma temática, o artigo de Wilson-de Roze contempla as traduções da obra de Wagner para a procura do antissemitismo da obra, através de características pessoais das personagens, dos trejeitos de fala e modos de andar, que influenciariam a visão da obra no período pós-guerra. No fim desta seção, o artigo de Crickmar apresenta a tradução de duas obras polonesas, em língua polaca, e suas traduções para a língua inglesa que carregaram ou não suas características culturais.

A parte três, Texts and places, traz três capítulos: o sexto capítulo intitulado Lithuanian literature into English: Two English translations of Romualdas Granauskas’s short story “The bread eaters” (1975), de autoria de Jurgita Vaicenoniene, PhD, pesquisadora e professora do Departamento de Línguas Estrangeiras, Estudos da Tradução e Literários da Universidade Vytautas Magnus University, em Kaunas, Lithuania; o sétimo capítulo intitulado Woest of wild: Translating Yorkshire culture in Emily Brontë’s Wuthering Heights, de autoria de Myrte Wouterse e Samantha Genegel, as quais Wouterse é pesquisadora da Universidade de Leiden e Genegel é professora dos Estudos Literários de Língua Inglesa e em Linguística: Teoria e Prática da Tradução na Univerdade de Leiden; e o oitavo capítulo intitulado Polish dance in Eugene Onegin: What can be found in translation, de autoria de Anna Ponomareva, PhD nos Estudos da Tradução da Universidade de Londres.

A pesquisa de Vaicenoniene traz a análise de duas traduções para língua inglesa do conto lituano “The bread eaters”, de Romualdas Granauskas, por se tratar de um conto lituano representativo da cultura do país de origem. Vaicenoniene faz a sua pesquisa baseada em corpus e, com isso, defende que este tipo de método auxilia nas traduções passadas e nas que ainda estão por vir. Em seguida, o artigo de Wouterse e Genegel apresenta a presença ou ausência de elementos regionais de Yorkshire, tais como dialetos e descrição de paisagens, na tradução de Wuthering Heights, de Emily Brontë para a língua alemã. Para finalizar esta seção, o artigo de Ponomareva analisa cinco traduções da obra Eugene Onegin, de Alexander Pushkin, do russo para o inglês, para ilustrar a visão de cada tradutor da obra e suas técnicas tradutórias a fim de manter elementos da cultura russa.

A parte quatro, Occident and Orient, traz quatro capítulos: o capítulo nove intitulado The image of H. C. Andersen’s tales in China (1909-1925): A case study of a set of Key Cultural Texts in Translation de autoria de Wenjie Li, PhD em Estudos da Tradução pela Universidade de Copenhagen; o capítulo dez intitulado The cultural transformation of classical Chinese poetry in translation into English, de autoria de Kelly Kar Yue Chan, PhD em Literatura Chinesa Clássica da Universidade de Edinburgh; o capítulo onze intitulado The immigration of key cultural icons: A case study of church name translation in Macao de autoria de Hanting Pan, pós-doutora na Escola de Línguas Estrangeiras na Universidade de Sun Yat-sen; e o capítulo doze intitulado Reproduction and reception of the concepts of Confucianism, Buddhism and polygamy: Kuunmong in translation, de autoria de Jinsil Choi, professor assistente na Universidade de Keimyung na Coréia do Sul.

O artigo de Li traz a recepção da obra de Andersen na cultura chinesa, o que ocorreu em homenagem aos 100 anos do autor e foi traduzido pela primeira vez na língua chinesa apenas em 1910. A partir da recepção da tradução dos contos de Andersen, Li analisa como a tradução foi importante na construção da imagem das obras e do autor na China. Em seguida, o artigo de Chan analisa a tradução de poemas chineses para a língua inglesa e foca na intraduzibilidade de determinados elementos. No terceiro artigo da quarta parte, Pan analisa a tradução do nome de uma igreja em Macao para ajudar na disseminação do cristianismo. Para finalizar esta parte, o artigo de Choi analisa a reprodução de elementos do Budismo, Confucionismo e outros elementos culturais da Coréia para a tradução em língua inglesa.

A quinta parte do livro, Translating philosophy, traz dois capítulos: o capítulo treze intitulado Hegel’s Phenomenology: A comparative analysis of translatorial hexis de autoria de David Charlston, tradutor e pesquisador independente; e o capítulo quatorze intitulado Adorno refracted: German critical theory in the neoliberal world order de autoria de Stefan Baumgarten, pesquisador independente.

O estudo de Charlston analisa as dificuldades que o tradutor enfrenta ao traduzir elementos da filosofia, que carregam na sua construção teorias e ideias, baseadas na obra de Hegel. Já o artigo de Baumgarten faz uma discussão através das traduções das obras filosóficas do filósofo alemão Theodor Wiesengrund Adorno para a língua inglesa.

A sexta e última parte do livro, Text types, traz três capítulos: o capítulo quinze intitulado Construction of a cultural narrative through translation: Texts on Sibelius and his works as Key Cultural Texts, de autoria de Turo Rautaoja, professor universitário do departamento de Inglês da Universidade de Turku, na Finlândia; o capítulo dezesseis intitulado Cultural satirical features in translation: The Pessoptimist as a case study de autoria de Muhammad J. H. Abdullatief, PhD em Estudos da Tradução na Universidade de Leicester; e, por fim, o capítulo dezessete intitulado Alterity, orality and performance in Bible translation, de autoria de Jacobus A. Naudé e Cynthia L. Miller-Naudé, os quais são professores sênior na Universidade do Free State, na África do Sul.

A pesquisa de Rautaoja explora traduções de textos finlandeses no intuito de construir a narrativa de Sibellius como reconhecimento de uma obra finlandesa. Já o artigo de Addullatief analisa as traduções da obra The Pessoptimist do árabe para a língua inglesa para determinar se o elemento da sátira foi mantido ou perdido na tradução. Por fim, o artigo de Naudé e Miller-Naudé finaliza o livro e traz a análise de elementos como alteridade e oralidade nas traduções da Bíblia.

Apesar da tentativa das organizadoras em contemplar o maior número de variáveis de textos culturais, os artigos selecionados e organizados do livro Key Cultural Texts in Translation mantém um foco nas traduções de ou para língua inglesa, com uma pequena presença de estudos para a língua francesa e alemã, mantendo um imperialismo da língua anglófona. Isto corrobora com o objetivo do livro para a internacionalização destas pesquisas ao invés de elencar também estudos de tradução com ou para outras línguas. Além disso, a representação de cada continente falha ao não elencar algum artigo sobre textos culturais originários da América do Sul e Oceania, sem contar com as línguas consideradas minoritárias e suas literaturas.

Contudo, reconhecendo a dificuldade de contemplar as diferentes e várias culturas ao redor do mundo, as organizadoras fizeram um bom apanhado científico ao trazer pesquisas sobre os textos culturais de vários países, suas características distintas e sua busca por visibilidade da sua identidade nacional, o que amplia a recepção destes estudos ao redor do mundo. Também, os artigos selecionados apresentam metodologias diferentes, temas variados, o que ilustra aos estudiosos da área as conquistas e achados dos Estudos da Tradução, além de abranger o foco de estudo para pesquisadores e leitores ávidos por novas fronteiras.

Referências

  • Malmkjær, Kirsten e Serban, Adriana e Louwagie, Fransiska (Orgs.). Key Cultural Texts in Translation Vol. 140. Amsterdan/ Philadelphia: Benjamin Translation Library, 2018.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2021

Histórico

  • Recebido
    22 Jul 2020
  • Aceito
    16 Nov 2020
  • Aceito
    Jan 2021
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