Open-access INTERNACIONALIZAÇÃO E TRADUÇÃO INSTITUCIONAL NA UFSC: CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE UNIVERSITÁRIA EM LÍNGUA INGLESA

INTERNATIONALIZATION AND INSTITUTIONAL TRANSLATION AT UFSC: BUILDING A UNIVERSITY IDENTITY IN THE ENGLISH LANGUAGE

Resumo

Este artigo relata o processo de construção da identidade internacional da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a partir do trabalho de Tradução Institucional realizado pelo Serviço de Tradução da Secretaria de Relações Institucionais (SINTER). Apresentamos as ações realizadas entre 2016 e 2022 que contribuíram para ampliar e uniformizar a comunicação institucional em língua inglesa e dar maior visibilidade à instituição no cenário global. Dentre elas, destacam-se: a tradução de websites institucionais; a disponibilização de um glossário português-inglês, contendo termos relevantes da estrutura acadêmica e administrativa da UFSC; e a elaboração de um guia de redação em língua inglesa. Essas e outras ações complementares buscaram aproximação com a comunidade universitária, unindo-se aos esforços do processo de internacionalização transversal em curso na UFSC.

Palavras-chave Internacionalização do Ensino Superior; Tradução Institucional; UFSC; SINTER

Abstract

The purpose of this article is to report the process of building the international identity of Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), focusing on the Institutional Translation work carried out by its Translation Service at the International Relations Office (SINTER). We present the actions carried out between 2016 and 2022 that have contributed to expanding and standardizing institutional communication in English and giving greater visibility to the institution in the global scenario. Among such actions, we would like to highlight: the translation of institutional websites; the compilation of a Portuguese-English glossary, containing terms relevant to UFSC academic and administrative structure; and the creation of a writing guide in English. These and other complementary actions sought to approach the university community, joining efforts for the process of Comprehensive Internationalization underway at UFSC.

Keywords Internationalization of Higher Education; Institutional Translation; UFSC; SINTER

Introdução

As necessidades educacionais do mundo globalizado impulsionam as instituições de ensino superior a estabelecer políticas linguísticas e ações que valorizem o uso de línguas estrangeiras e que favoreçam o entendimento e a cooperação acadêmica internacional. Para que o processo de internacionalização seja bem-sucedido, as instituições precisam comunicar-se com o mundo em outros idiomas – em especial o inglês, dado o seu status de “língua internacional” (SHARIFIAN, 2009) ou de “língua da ciência” (AMMON, 2001) – da forma mais abrangente possível, seja através de websites bilíngues (ou trilíngues), materiais de divulgação, troca de correspondências com instituições parceiras, entre outros (vide subseção 2.1 Internacionalização, Política Linguística e o Papel da Língua Inglesa). Uma comunicação bem organizada e consistente permite que a instituição construa uma identidade internacional ampla e facilmente reconhecível pelo seu público-alvo.

Nesse contexto, a tradução institucional é peça fundamental para viabilizar a comunicação internacional da universidade. Como bem aponta Fernandez (2011), “a importância da tradução é inegável como elo entre culturas e, em nosso caso, como elo entre instituições de ensino superior e o mundo globalizado” (p. 41). Para Koskinen (2008), a tradução institucional é aquela utilizada por uma organização pública ou privada como meio de ‘falar’, de se comunicar com um público em particular – nesse caso, a comunidade acadêmica internacional.

Para melhor compreender este contexto de produção e recepção da Tradução Institucional nas universidades brasileiras, faz-se necessário discutir, primeiramente, dois aspectos de relevância: (i) a atual situação do cargo de Tradutor e Intérprete de Língua Inglesa nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) e (ii) a Lei nº 14.195, que prevê as novas disposições que impactam o referido cargo.

Na UFSC, o primeiro concurso público para o cargo de Tradutor e Intérprete de Língua Inglesa, na categoria de servidor técnico-administrativo em educação (STAE), ocorreu em 2013 (Edital 252/DDP/2013). A servidora aprovada foi nomeada em dezembro de 2015 e lotada inicialmente no Gabinete da Reitoria (GR), onde tinha como principais atribuições: a tradução de sites e publicações institucionais da UFSC; a tradução de ofícios e outros documentos oficiais; e a atuação como intérprete, quando necessário, em reuniões realizadas por membros da Administração Central. Em 2016, com a troca da gestão da Reitoria e a reconfiguração dos órgãos administrativos, a servidora foi convidada a trabalhar na Secretaria de Relações Internacionais (SINTER), onde se encontra atualmente. Cabe ressaltar que, por meio do Decreto nº 9.262, de 9 de janeiro de 2018, a Presidência da República extinguiu, entre outros, o cargo efetivo de “Tradutor Intérprete” do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação no âmbito das Instituições Federais de Ensino, vedando a abertura de concurso público e o provimento de vagas adicionais para esse cargo; ou seja, limitando a presença destes profissionais nas universidades. Apesar desse cenário, em junho de 2018, através da Portaria nº 1420/2018/GR, foi instituída a Seção de Tradução (hoje Serviço de Tradução) da SINTER para fortalecer o papel institucional da tradução na UFSC.

Três anos após a extinção do cargo de “Tradutor e Intérprete” nas IFES, no dia 26 de agosto de 2021, foi sancionada a Lei nº 14.195, que dentre suas várias diretrizes, dispõe sobre a profissão de tradutor e intérprete público. Essa Lei flexibiliza os requisitos para o exercício da profissão de tradutor e intérprete público, permitindo o exercício da referida profissão por: “agente público: a) ocupante de cargo ou emprego com atribuições relacionadas com a atividade de tradutor ou intérprete; ou b) com condições de realizar traduções e interpretações simples e correlatas com as atribuições de seu cargo ou emprego” (parágrafo único do Art. 26). Além disso, a nova lei estabelece que as traduções feitas por “agente público (...) que sejam inerentes às atividades do cargo ou emprego” passam a ter fé pública (parágrafo 1º do Art. 27).

Importante esclarecer que, além de ajudar a melhor compreender o contexto de produção e recepção da Tradução Institucional, há mais outras intenções em apresentar os dois aspectos supracitados. Por um lado, acredita-se em um possível retrocesso que as duas ações governamentais acima poderão causar à tradução institucional no âmbito das universidades federais, uma vez que, sem nenhum tipo de programa criado para dar suporte, por exemplo, aos agentes públicos no desenvolvimento de suas competências para prática da tradução e interpretação, a qualidade das traduções realizadas a partir de agora poderá, consequentemente, sofrer algum impacto negativo.

Por outro lado, dentro de uma perspectiva mais positiva e otimista, reconhece-se a oportunidade institucional para capacitar, por exemplo, agentes públicos que trabalham em setores com forte impacto na internacionalização, como as Coordenadorias de Programas de Pós-Graduação (PPGs), e que necessitam dar início ao exercício de suas atribuições relacionadas à tradução e interpretação. Em sua recém-defendida dissertação de mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Natália Taxweiler (2022), a partir de dados quantitativos e qualitativos, apresenta a demanda por atividades de tradução nos PPGs da UFSC em decorrência de seus processos de internacionalização. A autora conclui seu trabalho salientando a importância de se pensar a Internacionalização do Ensino Superior pelo viés prático da Tradução Institucional e da Competência Tradutória (CT), visando a “melhoria da qualidade dos serviços das secretarias dos PPGs, uma vez que traz direcionamentos específicos para a elaboração de ações de capacitação futuras, para atendimento das demandas desses setores” (p. 149).

Logo, pode-se compreender melhor o contexto em que a tradução institucional está inserida, e sua relevância em oferecer uma base sólida para um processo de internacionalização universitária sustentável, eficaz e eficiente. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é relatar o processo de construção da identidade internacional da UFSC a partir do trabalho do Serviço de Tradução da SINTER, relacionado a uma visão mais ampla do que seria a Tradução Institucional. Para atingir esse objetivo, discutimos alguns fundamentos teóricos a respeito da Tradução Institucional e, em seguida, apresentamos um breve relato das principais ações realizadas entre 2016 e 2022 – tradução de websites institucionais; disponibilização de um glossário de tradução português-inglês; e elaboração de um guia de redação em língua inglesa –, que contribuíram para ampliar e uniformizar a comunicação institucional em língua inglesa e dar maior visibilidade à instituição no cenário global. Essas ações unem-se aos esforços de internacionalização da UFSC, que seguem impulsionados pelo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) vigente (2020-2024) e por sua Política Linguística Institucional (no prelo).

2. Fundamentos teóricos

2.1. Internacionalização, política linguística e o papel da língua inglesa

O Plano de Internacionalização da UFSC entende internacionalização como o processo de integração de uma dimensão internacional, intercultural ou global na finalidade, funções ou entrega da educação superior (KNIGHT, 2003). Tal processo permite que as universidades se tornem responsivas aos requisitos e desafios da sociedade globalizada, não só assimilando e adaptando conhecimentos globais para as necessidades locais, mas, principalmente, produzindo e disseminando o conhecimento local para seus parceiros internacionais dentro de uma relação recíproca de colaboração global.

Dentro de uma visão geral sobre Políticas de Internacionalização adotadas pela UFSC, a Política Linguística certamente desempenha um papel de extrema relevância em oferecer uma base sólida e sustentável para seu processo de internacionalização. O Relatório do Grupo de Trabalho de Políticas Linguísticas para Internacionalização da Associação Brasileira de Educação Internacional (FAUBAI) destaca que a definição de uma política linguística – entendida como “tentativa sistemática, deliberada e teoricamente informada de solucionar problemas de comunicação de uma comunidade por meio do estudo de várias línguas ou dialetos adotados localmente, além do desenvolvimento de uma política de seleção e uso dessas línguas” (WILEY; GARCIA, 2016 apud FAUBAI, 2017) – é uma prática de gestão importante nas Instituições de Ensino Superior (IES), pois especifica o modelo de internacionalização a ser adotado e as línguas que serão mediadoras das práticas de internacionalização, com base nas prioridades, objetivos e metas traçados pela instituição.

Nesse contexto, sem desconsiderar a importância das línguas faladas no Brasil e de outras línguas adicionais, a língua inglesa assume relevância na política linguística da UFSC, pois esse é o idioma mais frequentemente atrelado à comunicação científica global. Segundo Jenkins (2013), o inglês se constitui como língua franca da universidade internacional. Seu uso amplia as possibilidades de interlocução com falantes de outras línguas, permitindo a integração com a comunidade global. É importante salientar que o incentivo ao domínio da língua inglesa, como bem coloca Laus (2012), não significa a perda da identidade nacional; ao contrário, ele permite justamente a sua expansão para outros povos, reconhecendo a importância da dimensão local na produção de uma cultura global. Logo, a internacionalização pode contribuir diretamente para o próprio fortalecimento e promoção dessa identidade local (KNIGHT, 1999).

A partir de uma abordagem que considera a linguagem como uma prática social, envolvendo a construção de significados e interpretação, e a cultura como dinâmica e emergente (LIDDICOAT; SACARINO, 2013), percebemos que esses elementos não subsistem de maneira isolada no contexto contemporâneo (PILLER, 2007). Destaca-se, assim, que a língua inglesa transcende atualmente fronteiras e não se vincula exclusivamente a uma cultura ou nação específica. Pelo contrário, ela incorpora as características culturais de todos os seus falantes, transformando-se em uma força global e internacional (FERNANDEZ, 2011).

De um viés mais prático e operacional, é importante salientar que a ênfase no inglês se dá também devido à demanda externa de algumas instituições parceiras como, por exemplo, a Suécia, Dinamarca, Alemanha, França e Itália; países esses em que o inglês não é a língua oficial, mas que muitas vezes no passado deixavam de enviar seus estudantes para a UFSC pela escassez de ofertas de cursos e disciplinas nessa língua. Portanto, é com esse entendimento teórico e prático do inglês que as ações de tradução no âmbito da UFSC foram pensadas.

2.2. A tradução no contexto institucional

A institucionalidade da tradução evoca uma perspectiva tradutória voltada para o papel da tradução em seu contexto de produção e recepção, cujo enfoque está no contexto e não somente no texto propriamente dito. Segundo Holmes (1972), dentre as questões a serem levantadas nessa área de pesquisa, destacam-se, por exemplo, quais textos foram ou não foram traduzidos? Quando? Onde? Quais influências foram exercidas sobre o processo tradutório em decorrência desse contexto específico de produção e recepção? Para o autor, esse tipo de pesquisa é frequentemente apresentado como um subtema ou contra tema em estudos históricos e literários da tradução e uma ênfase maior sobre ele levaria ao desenvolvimento de uma “sociologia da tradução” (p. 72).

Quase uma década e meia depois, Mossop (1988) retoma a discussão sobre a importância de se trazer noções e conceitos sociológicos para os Estudos da Tradução, principalmente no que se refere à tradução institucional, salientando a falta de estudos teóricos sobre as “instituições tradutoras” (p. 65). Para Mossop (ibid.), as metas de uma instituição tradutora são o que determinam a abordagem geral informando as traduções produzidas por essa instituição (p. ex.: tradução literal vs. livre; linguagem convencional vs. inovadora; e a eliminação ou manutenção de metáforas). No entanto, Mossop (ibid.) salienta que a doutrina tradutória de uma instituição, ao priorizar a individualidade cultural de cada público-alvo, pode dificultar a compreensão “inter-comunitária” e o “contato cultural” entre esses públicos. Por exemplo, o autor identifica que o Federal Translation Bureau (FTB) do Canadá, por conta de uma política do bilinguismo e como medida de prevenção contra a separação do Québec, adota em suas práticas tradutórias, que primam pela fluidez da linguagem no texto alvo, o que o autor chama de “igualdade linguística individual”. Tais práticas não deixariam espaço para a compreensão “inter-comunitária” e tampouco o “contato cultural” (p. 68) entre as comunidades francófonas e anglófonas canadenses (Cf. Venuti, 1995). Mossop (ibid.) conclui seu artigo oferecendo alguns direcionamentos em relação a uma abordagem institucional da tradução que enfatize o contexto de produção de traduções, priorizando o enfoque sociológico para a tradução (p. 70).

Seguindo uma linha de raciocínio similar, Mossop (1990) – em outro artigo publicado na Meta Revue – discute uma abordagem social para a tradução cuja questão central é responder a razão pela qual textos são traduzidos da forma que são e o motivo pelo qual “modos de tradução” específicos (p. ex.: literal, semântico e idiomático) são utilizados. Segundo o autor, essa é uma questão histórica “que nunca pode ser respondida com referência apenas a conceitos linguísticos e sociolinguísticos abstratos” (p. 353). Mossop (ibid.) critica a literatura existente da tradução, que na maioria das vezes refere-se ao processo de encontrar equivalentes como se esse processo fosse realizado pelo tradutor como indivíduo ao invés do tradutor como agente de uma instituição. Logo, para ele “o que precisa ser adicionado é que essa decisão depende, em última instância, do propósito da tradução, e isso é determinado pela instituição tradutora” (p. 351).

Entretanto, é crucial ressaltar que, ao contrário da concepção popular, traduzir não se resume à simples transposição de equivalentes de uma língua para outra. O ato de tradução pode ser compreendido como uma interação comunicativa intencional e intercultural, permeada por dimensões históricas e culturais específicas, que envolve tanto um texto de partida quanto um texto de chegada (NORD, 1997). Dentro de uma perspectiva funcionalista, considerando que os textos carregam consigo propósitos e funções comunicativas, o tradutor emerge como o profissional encarregado de tomar decisões conscientes. Essas decisões são embasadas em seu conhecimento do mundo e na compreensão do propósito institucional do texto de destino, tudo isso inserido no contexto específico de sua produção e recepção.

Considerando que o público internacional – para quem as traduções no âmbito deste trabalho são voltadas – não é homogêneo, o problema da equivalência toma proporções mais amplas, uma vez que cada país/comunidade falante de inglês “compreende um determinado vocábulo ou termo apoiando-se em sua realidade sociocultural, linguística e ideológica específica, o que multiplica as possibilidades semânticas de tradução” (ZACARIAS; OLIVEIRA, 2019, p. 100). Como afirma Schütz (2007), é “no plano das ideias [dos conteúdos] e não das formas que a correlação pode ser estabelecida”, sendo a tradução uma forma de recriar a representação criada no texto de partida. Cabe ao tradutor, então, buscar estratégias adequadas para lidar com estas divergências linguísticas e culturais de forma concreta e consistente (vide HALVERSON, 1997, para uma discussão mais aprofundada sobre o conceito de equivalência nos Estudos da Tradução)1.

Por fim, a partir de uma perspectiva organizacional, Koskinen (2008) define a tradução institucional como aquela utilizada por um órgão oficial (agência governamental, organização multinacional, empresa privada etc.) como meio de se comunicar com um público em particular. A autora observa que os contextos de produção e recepção institucionais são numerosos e variados, mas possuem uma semelhança fundamental: a instituição que traduz, por sua natureza oficial, condiciona e ao mesmo tempo confere às traduções autoridade e poder performativo. Nesse tipo específico de tradução, o tradutor deve fazer ouvir a voz da instituição, de modo que ela própria é traduzida por meio do texto.

De fato, como propõe Koskinen (2008), a tradução institucional pode ser vista como uma forma de “auto-tradução”. Ao produzir documentos e traduzi-los, a instituição, personificada, é normalmente autora tanto do texto fonte quanto de sua tradução, sendo capaz de se traduzir em si mesma (em muitos casos, inclusive, ela pode ocultar a origem tradutória, produzindo versões em línguas diferentes, em vez de traduções; nesse sentido, o tradutor se torna um instrumento do multilinguismo). A partir das reflexões propostas pela autora, pode-se compreender que ao tradutor institucional compete traduzir uma instituição, e não apenas fornecer traduções encomendadas por ela. Assim, o tradutor institucional, no contexto desse trabalho, preocupa-se em manter a identidade da instituição ao adotar termos em outra língua, ao mesmo tempo que procura facilitar a compreensão e atender às necessidades e expectativas comunicativas de um público-alvo heterogêneo.

3. A Tradução Institucional na UFSC

3.1. Processo de tradução e revisão de websites institucionais da UFSC

Conforme aponta Fernández-Costales (2010), os websites ou portais universitários se desenvolveram e se abriram nas últimas décadas, deixando de ser ferramentas de informação e comunicação interna para se converterem em ponto de encontro e interação das instituições com o mundo. Deste modo, para além de informar os usuários e facilitar a comunicação, os portais são uma importante ferramenta promocional que contribui para melhorar a visibilidade internacional das universidades e atrair estudantes, pesquisadores e visitantes estrangeiros. Assim, a tradução do conteúdo do site institucional para outras línguas – em especial, o inglês – se torna uma peça-chave para que a visibilidade ocorra, sendo, portanto, “o motor que move a sua internacionalização” (FERNÁNDEZ-COSTALES, 2010, p. 474, tradução nossa).

No âmbito da UFSC, até 2015, a instituição possuía uma página em inglês vinculada ao seu site principal com informações bastante reduzidas e desatualizadas. Além disso, não havia uma normatização quanto aos termos para se referir à universidade e suas unidades acadêmicas e administrativas, fazendo com que setores traduzissem esses termos de formas distintas. KÖSE et al. (2018) observam que a falta de uma política linguística, que contemple esse tipo de normatização, torna o trabalho do tradutor institucional muito mais desafiador, pois terá que tomar decisões de repercussão política que impactam diretamente na imagem e reputação da instituição.

Desta forma, sabendo que um website é um poderoso meio de projeção de uma organização, a partir de dezembro de 2015, com a admissão da Tradutora e Intérprete de Língua Inglesa na UFSC, o site em inglês en.ufsc.br (anteriormente structure.ufsc.br) foi desenvolvido e permitiu que a UFSC se apresentasse ao mundo de forma mais estruturada, adotando o que KÖSE et al. (2018) chamam de “global player strategy” para garantir a sua visibilidade em um contexto internacional (p. 12).

As páginas do site são atualizadas com informações sobre a estrutura administrativa e acadêmica da UFSC, a relação dos cursos de graduação, cursos de pós-graduação e departamentos de ensino, além da descrição das principais atividades abertas à comunidade e links para outras páginas da instituição. Além do site principal, os sites das Pró-Reitorias e Secretarias, bem como da Biblioteca Universitária, do Hospital Universitário e do Restaurante Universitário, também tiveram versões adaptadas para o inglês. Adicionalmente, os Programas de Pós-Graduação, responsáveis pela tradução de seus próprios sites, passaram a receber uma revisão da tradução no esforço de padronizar os termos traduzidos e construir uma identidade institucional sólida e consistente em inglês.

3.1.1. O site principal em inglês

A tradução do site en.ufsc.br envolveu a tomada de decisões terminológicas acerca de como apresentar os principais termos da estrutura universitária da UFSC em inglês, incluindo sua organização administrativa em Reitoria, Pró-Reitorias e Secretarias e sua divisão acadêmica em Centros e Departamentos de Ensino. Para exemplificar algumas dessas decisões, apesar de não ser comum na estrutura universitária de países anglo-saxônicos, a figura do Reitor é reconhecida em diversas instituições de ensino pelo mundo. Assim, foi adotado o equivalente Rector e, por conseguinte, o termo Rectorate para se referir à Reitoria. Mantendo essa estrutura, os Pró-Reitores e as Pró-Reitorias foram então denominados Prorectors e Prorectorates. Já no caso das Secretarias, o termo mais próximo lexicalmente, Secretariat, não foi adotado por não ser associado às instituições de ensino, optando-se pelo termo genérico Office para se referir a esses órgãos executivos. No entanto, a figura do Secretário foi traduzida para Secretary, aproximando-se do original. Quanto aos Centros de Ensino, esses foram traduzidos para Schools, por ser um nome frequentemente adotado para essa divisão acadêmica nas universidades pelo mundo (o que também possibilitou a diferenciação entre estes centros e os centros ou núcleos de pesquisa, esses sim denominados centers). Os Departamentos, por sua vez, foram denominados Departments (ou Academic Departments, para diferenciar dos departamentos administrativos), o que parece ser consenso nas instituições internacionais.

É importante lembrar que as escolhas tradutórias acima – bem como todas as outras que figuram neste artigo– foram resultado de pesquisa cuidadosa, não apenas em dicionários bilíngues e monolíngues disponíveis online, mas principalmente em fontes de uso real da língua, como corpora online e sites de universidades na Inglaterra, nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Tal pesquisa possibilitou constatar que os termos recebem diferentes usos conforme o país e o contexto, dado que as realidades socioculturais e linguísticas são distintas. Por exemplo, o equivalente de pós-graduação pode ser postgraduate ou graduate (como em postgraduate/graduate studies). Nesses casos, em vez de optar pelo termo que é usado em um determinado país, buscou-se adotar o que é mais frequentemente usado de maneira global, analisando suas ocorrências na internet (neste caso, graduate). Do mesmo modo, a escolha da ortografia a ser seguida (como na distinção entre program e programme) baseou-se no que é mais utilizado globalmente, optando-se assim pela grafia associada ao inglês americano. Em outros casos, houve dificuldade em encontrar um equivalente para um termo que assume um significado e relevância específicos na cultura universitária brasileira e cujos possíveis correspondentes não abrangem o mesmo significado na língua inglesa; foi o caso da extensão, parte fundamental da instituição incluída no tripé “ensino, pesquisa e extensão”. Foram identificados termos semelhantes em universidades estrangeiras: extension, outreach, community engagement etc., com significados diferentes que compreendiam parcialmente o que entendemos por “extensão”. Assim, havendo a necessidade de adotar um termo, optou-se por “outreach”, entendendo-o como a ampla gama de atividades que a instituição realiza em interação com a sociedade2. Feitas essas escolhas, tomou-se o cuidado de manter a consistência em todos os textos institucionais, garantindo uma comunicação clara e efetiva com o público.

Uma outra questão que vale mencionar sobre a tradução do site institucional refere-se ao uso de bandeiras nacionais para indicar o idioma. Segundo Fernández-Costales (2010), essa era uma prática padrão há alguns anos, mas que tem caído em desuso e, mais do que isso, vem sendo evitada, já que uma bandeira nacional representa pouco de uma língua e de seus falantes em sua totalidade. Sugere-se substituir o ícone pelo nome do idioma por extenso ou sua abreviação – uma solução que não discrimina os falantes da língua. Assim foi feito no Portal da UFSC: uma aba ENGLISH no topo da página direciona os usuários ao site em inglês. Vale ressaltar, no entanto, que as páginas da instituição que possuem uma versão bilíngue, por meio da ativação de um plug-in oferecido pelo sistema do site (Wordpress), recebem automaticamente os ícones de bandeiras (no caso do inglês, a bandeira britânica). Nesse caso, a mudança esbarra em uma limitação do sistema adotado pela UFSC.

3.1.2. Versões em inglês dos sites dos órgãos da Administração Central

Para a tradução dos sites das Pró-Reitorias e Secretarias, foi feita uma análise prévia do conteúdo disponibilizado por cada Pró-Reitoria e Secretaria em suas páginas, a fim de construir um plano de tradução que contemplasse não as informações disponíveis em sua totalidade, mas aquelas que fossem de maior relevância para o público-alvo. Assim, a intenção era apresentar uma versão do site mais objetiva e acessível aos visitantes estrangeiros, não espelhada necessariamente no site em português. Em busca de uma maior padronização, também foram definidas algumas informações principais que estariam contidas em todos os sites, sendo elas: apresentação e atribuições; missão, visão e valores; apresentação do(a) Pró-Reitor(a) ou Secretário(a); equipe; e contatos. Além dessas informações, os sites apresentam a estrutura de cada órgão, com suas coordenadorias e atribuições, e demais informações específicas relevantes. Como nem todos os sites em português continham as informações padrão, cada Pró-Reitoria e Secretaria foi informada sobre a tradução e consultada sobre o conteúdo que faltava. Assim, o processo exigiu a participação dos setores envolvidos para a sua execução.

Após a seleção dos conteúdos e aprovação pelo Secretário de Relações Internacionais, uma equipe voluntária de tradutores se somou à força-tarefa de tradução, sendo orientados pela servidora tradutora. A equipe foi composta por Camila Pasquetti, Cybelle Soares e Domingos Soares, todos estudantes do Programa de Pós-Graduação em Inglês da UFSC. Para a realização do trabalho, a equipe recebeu as informações a serem traduzidas em um documento em formato .docx, um glossário português-inglês com os termos já adotados na UFSC, e o encargo tradutório [translation brief]. O encargo tradutório, proposto por Nord (1997), consiste em uma série de instruções que informam sobre o contexto e o propósito do texto-alvo da tradução, servindo para orientar o(a) tradutor(a) e permitindo a tomada de decisões e estratégias conscientes durante o processo tradutório. Tais instruções podem conter: destinatário do texto-alvo; tempo e espaço de recepção do texto; meio no qual o texto será transmitido; motivo de produção e recepção do texto; registro linguístico. O encargo tradutório informando as práticas tradutórias adotadas no âmbito desse trabalho pode ser conferido na lista de notas finais deste artigo3.

Todo o conteúdo traduzido foi revisado pela servidora e pelo Secretário e posteriormente publicado nos domínios criados para as versões em inglês dos sites (o padrão de domínio utilizado atualmente consiste do nome original do setor acrescido de “en”, por exemplo: prograden.ufsc.br). Cabe ressaltar que o site da Secretaria de Relações Internacionais não fez parte desse processo, pelo seu caráter excepcional de já ser voltado ao público estrangeiro. O site já possuía versão bilíngue de todo o seu conteúdo, o qual é frequentemente atualizado pela equipe. Assim, o visitante pode acessar as informações em inglês da SINTER no próprio domínio sinter.ufsc.br.

Uma vez disponibilizada a tradução dos sites, as Pró-Reitorias e Secretarias tiveram a oportunidade de verificar o conteúdo e fazer as adequações que julgassem necessárias. É importante ressaltar que o trabalho não foi “acabado”, no sentido de que, diferente de um livro impresso, as páginas da web são dinâmicas e estão em constante mudança; sendo assim, a tradução precisa acompanhar essas mudanças. Os órgãos que tiveram seus sites traduzidos foram convidados a designar uma pessoa da sua equipe responsável por manter a versão em inglês atualizada: havendo alterações pontuais, poderia ela mesma atualizar a página ou, então, solicitar à tradutora a atualização. Infelizmente, foram poucos os órgãos que retornaram e, na prática, coube ao Serviço de Tradução da SINTER centralizar a atualização periódica das páginas, o que acaba sendo uma limitação na eficiência do processo, dada a quantidade de demandas a serem atendidas pelo setor. Ainda assim, a Secretaria toma esse cuidado para que as informações disponibilizadas ao público internacional não se tornem defasadas.

A tradução dos sites da Biblioteca Universitária, do Hospital Universitário e do Restaurante Universitário, também órgãos vinculados à Administração Central, seguiu processo semelhante ao descrito acima. Os domínios adotados para as versões em inglês foram: unilibrary.ufsc.br, unihospital.ufsc.br e unirestaurant.ufsc.br. Com a mudança do site do hospital universitário para o portal do governo (devido ao vínculo com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH), o domínio unihospital.ufsc.br foi desativado.

3.1.3. Revisão das páginas em inglês dos Programas de Pós-Graduação

Além dos sites traduzidos, o Serviço de Tradução da SINTER tem realizado desde 2017 a revisão do conteúdo em inglês disponibilizado pelos Programas de Pós-Graduação em seus sites. O Serviço verifica, de tempos em tempos, quais Programas possuem páginas em inglês e efetua a revisão do conteúdo, que depois é enviada à Coordenação do Programa, para que realize a devida atualização no site. A revisão leva em conta a adequação terminológica com base no glossário de termos institucionais já instituído, bem como ajustes gramaticais, lexicais, ortográficos e de redação. Essa ação visa contribuir para o fortalecimento da identidade da UFSC em inglês e para a melhoria da comunicação da Pós-Graduação com o público estrangeiro.

Uma dificuldade encontrada é a demora em obter retorno de alguns programas, ficando muitas vezes a revisão pendente de aprovação/efetivação. O Serviço de Tradução faz o acompanhamento das revisões pendentes, enviando lembretes periódicos aos Programas que ainda não atualizaram suas páginas e se colocando à disposição para auxiliar na inserção do conteúdo quando o Programa enfrenta dificuldades. Outra limitação é que cada Programa define quais conteúdos são traduzidos e de que forma são dispostos no site. Assim, alguns possuem informações bem completas em inglês, enquanto outros apresentam informações insuficientes. A SINTER não traduz as páginas dos Programas, pela impossibilidade de atender a todos, mas se coloca à disposição para revisar qualquer conteúdo traduzido para o inglês em seus websites. A atualização dos conteúdos já revisados fica sob responsabilidade dos Programas. Até junho de 2022, 56 Programas receberam a revisão de seus websites.

A tradução institucional de sites universitários é, segundo KÖSE et al. (2018), um processo contínuo e, por esse motivo, deve ter como base uma política linguística pré-definida para garantir, por exemplo, sua padronização e consistência terminológica. A ausência dessa política linguística na UFSC tornou o processo de tradução dos websites mais desafiador, pois coube à SINTER estabelecer as linhas norteadoras para que as decisões tradutórias fossem tomadas. Além disso, os autores destacam que é necessário o engajamento de todos os agentes envolvidos (in)diretamente nesse processo (p. ex.: tradutores, docentes, STAEs e administração central). Eles afirmam que somente com o engajamento de todos esses agentes é que a devida atenção à política tradutória e linguística de uma universidade pode se tornar uma realidade institucional (p. 13).

3.2. Construção e publicação do glossário de termos institucionais

A partir da construção dos websites em inglês, o Serviço de Tradução elaborou um glossário de termos institucionais. O glossário de tradução português-inglês foi construído inicialmente para auxiliar nas traduções do setor, mas foi disponibilizado em seguida a toda a comunidade universitária para servir de referência a outros conteúdos em inglês e orientar possíveis traduções no âmbito da UFSC – sendo uma ação muito importante para envolver outros atores no processo de construção da referida identidade universitária internacional (em um movimento de internacionalização transversal).

Um glossário de tradução é um índice contendo termos e expressões e suas respectivas traduções na língua de interesse, a serem utilizadas de forma consistente por um grupo ou organização. No caso da Universidade, um glossário como esse é de grande importância como referência para a criação ou revisão de conteúdos institucionais, pois permite que um padrão institucional seja estabelecido e a universidade se comunique de maneira mais sólida com o mundo globalizado. Assim, evita-se a multiplicidade de traduções para nomes de unidades, cargos ou outros termos administrativos e acadêmicos, que podem gerar confusão para o público.

O glossário foi publicado no site da SINTER em julho de 2018, trazendo os principais vocábulos da estrutura administrativa e acadêmica da universidade em ordem alfabética, com suas respectivas traduções recomendadas ao lado (ex.: corpo docente/faculty; disciplina isolada/single course; linha de pesquisa/line of research; orientador/supervisor; etc). Cabe lembrar que as escolhas tradutórias que levaram à construção desse glossário e das versões em inglês dos websites e demais documentos levaram em conta o público-alvo global (não se atendo à uma cultura de língua inglesa específica) e se basearam na pesquisa em dicionários monolíngues e bilíngues e na verificação dos termos em seu contexto real de uso (ex.: consulta a websites de instituições de ensino superior de países anglófonos). Considerando que línguas diferentes operam em contextos e culturas diferentes, e que o tradutor institucional deve transmitir as características da instituição sobre a qual está falando, o trabalho teve a preocupação de não apagar a estrutura da universidade brasileira ao vertê-la para o inglês, buscando manter, assim, sua própria identidade, a começar pelo nome “Universidade Federal de Santa Catarina” que, nos documentos institucionais da UFSC em outras línguas, permanece em português como marca da instituição4.

Cabe ressaltar que um glossário nunca está terminado: ele deve ser constantemente revisado e atualizado, visto que termos são dinâmicos e as línguas estão em constante evolução e expansão. Ele também não é exaustivo: as palavras têm diferentes significados e são usadas em múltiplos contextos, então a escolha de um termo poderá variar conforme o contexto. Em sua versão atual, o glossário da SINTER não apresenta explicações ou exemplos para cada termo apresentado, mas o contato do Serviço de Tradução é fornecido em caso de dúvidas.

Acreditamos que o glossário pode auxiliar os gestores, coordenadores, professores, estudantes e servidores técnico-administrativos da UFSC em suas tarefas que envolvam a utilização da língua inglesa, contribuindo para a imagem da universidade no exterior e para a sua memória enquanto instituição.

3.3. Guia de Redação em Língua Inglesa

Partindo da necessidade dos próprios colegas da equipe da SINTER, o Serviço de Tradução elaborou, em 2019, o “Guia de Redação em Língua Inglesa”, disponibilizado à comunidade universitária em outubro daquele ano. O Guia tem como propósito auxiliar na redação de documentos e correspondências institucionais em inglês, uma vez que STAEs, professores e estudantes muitas vezes necessitam se comunicar com uma instituição ou pessoa estrangeira e possuem dúvidas ou não se sentem seguros com o uso da língua. Além disso, o Guia fornece diretrizes para uniformizar a escrita institucional, com vistas a melhorar a interação da instituição com o público externo nos níveis individuais de atuação.

Assim, o documento inclui informações sobre escrita formal e informal em língua inglesa; orientações sobre como estruturar uma carta ou e-mail em inglês; uma relação de frases úteis para diferentes situações de comunicação por carta ou e-mail (ex.: introduzir um assunto, pedir uma informação, agendar uma reunião etc.); uma breve explicação sobre as variedades do inglês e suas diferenças; recomendações sobre utilização de datas e números; referência sobre uso de vírgulas; lista de abreviações mais usuais; modelos de documentos-padrão (carta-convite e declaração); e links complementares para consulta. O guia orienta que a perspectiva adotada pela UFSC é a do inglês como língua internacional, pautando suas recomendações no que é mais utilizado globalmente.

O material está disponível no site da SINTER e pode ser acessado através do botão “Apoio à Internacionalização”, junto de outros conteúdos de relevância para todos os segmentos da universidade. O documento poderá ser revisto e aprimorado, assim como poderá servir de base para outras ações de capacitação de pessoal em língua inglesa.

Além das ações destacadas neste artigo, cabe ressaltar que outras ações de rotina – em atendimento às demandas da própria SINTER, como tradução de acordos de cooperação, materiais de divulgação e notícias, e de outros setores da Administração Central, como a tradução de documentos institucionais diversos – também contribuíram para o processo da internacionalização transversal e da construção da identidade internacional da UFSC.

4. Considerações finais

No entendimento de internacionalização como “o processo de integração de uma dimensão internacional, intercultural ou global na finalidade, funções ou entrega da educação superior”, o termo “integração” se refere ao processo de incorporar a dimensão internacional e intercultural nas políticas, programas e procedimentos da instituição, garantindo a centralidade e sustentabilidade dessa dimensão (Knight, 1999; 2003). Nesse sentido, os websites em inglês, o glossário bilíngue, e o guia de redação em língua inglesa podem ser vistos como bens institucionais que auxiliam na construção de uma política linguística e tradutória, fornecendo as bases de uma internacionalização sustentável. Tal política visa não somente o aperfeiçoamento da comunicação com parceiros internacionais, mas também a criação de um ambiente internacional que auxilie discentes, docentes e servidores técnico-administrativos a se integrarem cada vez mais em uma cultura de internacionalização institucional.

Entendemos as complexidades envolvidas em mensurar os impactos dessas ações para a UFSC. No entanto, acreditamos que elas têm contribuído gradualmente para a ampliação, a uniformização e a melhoria na comunicação de alcance internacional; para o reforço da imagem e da identidade da UFSC no exterior; e para o envolvimento da comunidade universitária nesse processo – o que entendemos como fundamental para que a internacionalização transversal continue se desenvolvendo em um processo contínuo.

Podemos demonstrar, a título de ilustração, o número de acessos que algumas das ações obtiveram na web, por meio do serviço Google Analytics. No site da SINTER (sinter.ufsc.br), o Glossário de Tradução Português-Inglês contabilizou 15.387 acessos de fevereiro de 2019 (quando iniciou a contagem) a junho de 2022. Já o Guia de Redação em Língua Inglesa contabilizou 1.905 acessos de outubro de 2019 a junho de 2022. O site principal da UFSC em inglês (en.ufsc.br) não possuía contabilização de acessos até agosto de 2020. Entre agosto e novembro de 2020, ele contabilizou 76.796 visualizações de páginas identificadas em 180 países, sendo que os 10 principais países de origem foram: Brasil (28,14%), Estados Unidos (12, 34%), Alemanha (5,64%), Índia (4,57%), França (3,64%), Reino Unido (3,06%), China (2,93%), Itália (2,58%), Canadá (1,94%) e Espanha (1,73%). Nos demais acessos figuraram países como a Holanda, Nigéria, México, Japão, Austrália, Irã, Filipinas, Suécia, entre muitos outros. Essa ampla gama de visitantes dos mais diversos países demonstra que o alcance global da Universidade através da internet é real, e que o inglês funciona como ponte para a aproximação com usuários em todos os cantos do mundo.

Naturalmente, apesar da língua inglesa ser um dos principais instrumentos de comunicação internacional, ela não exclui a importância de expandir a comunicação da UFSC para outras línguas, seguindo os interesses da instituição e o disposto na sua Política Linguística Institucional (no prelo), que tem como diretriz a criação de um ambiente multilíngue e multicultural entre a comunidade universitária e a internacional. No entanto, as ações do Serviço de Tradução estão hoje limitadas ao uso do inglês devido às demandas internas e externas e às competências da atual servidora tradutora na área de língua inglesa. Cabe lembrar que o cargo efetivo de “Tradutor Intérprete” foi extinto do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação nas IFES em 2018, o que impede a abertura de novos concursos públicos para esse cargo, seguindo na contramão das demandas das políticas públicas nacionais de fomento à internacionalização.

A fim de atender as diretrizes da sua Política Linguística Institucional (no prelo), foi implementado no dia 29 de junho de 2022, na UFSC, o Núcleo Institucional de Línguas e Tradução (NILT), um programa vinculado à SINTER que visa suprir a premente demanda da comunidade universitária por capacitação linguística e tradutória para fins internacionais, dando suporte às ações institucionais necessárias para se criar uma base plurilinguística sólida e sustentável. O programa prevê a oferta de cursos e práticas envolvendo português como língua adicional, línguas estrangeiras, idiomas como meio de instrução, aplicação de testes de proficiência em línguas estrangeiras e ações de tradução que atendam mais amplamente a comunidade universitária. Será um importante passo para a internacionalização dos campi e de seus estudantes, professores e servidores técnico-administrativos.

É importante também estabelecer estratégias e ações concretas para a formação dos agentes públicos, que segundo a Lei nº 14.195, podem agora realizar traduções e interpretações, auxiliando, por exemplo, as demandas dos programas de pós-graduação que necessitam desses serviços (TAXWEILLER, 2022). Portanto, toda a informação obtida a partir dos contextos de produção e recepção envolvidos na tradução institucional pode oferecer uma nova perspectiva às IES, no sentido de focalizar questões relacionadas à aplicação dessas valiosas informações na formação de tradutores e intérpretes institucionais, com vistas ao aprimoramento de seus processos de internacionalização.

Acreditamos que, apesar do atual cenário de crise enfrentado pelo país e as IFES brasileiras, a SINTER e a UFSC permanecem resolutas em seus esforços de promover o entendimento e a cooperação internacional para seguir em sua missão de produzir, sistematizar e socializar conhecimentos com vistas à construção de uma sociedade mais justa, democrática e saudável. Nesse sentido, confiamos que as ações de construção da identidade universitária em inglês desenvolvidas com o protagonismo do Serviço de Tradução da SINTER contribuem para estreitar esse diálogo internacional, auxiliando a UFSC em seu caminho de excelência e inclusão.

Notas

  • 1
    Um conceito bastante discutido e controverso no campo dos estudos da tradução (HALVERSON, 1997) é o da equivalência. Como as línguas são diferentes sistemas de representação, não seria possível converter palavras de uma língua a outra em uma relação matemática do tipo 1:1, já que de uma perspectiva formal a maioria das línguas não são simetricamente equivalentes.
  • 2
    Na página de apresentação da Pró-Reitoria de Extensão, foi incluída uma nota de rodapé explicando o que se entende por University outreach a partir da nossa definição de extensão como “processo interdisciplinar educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e outros setores da sociedade” (Res. Normativa nº 88/2016/CUn). No entanto, optamos por traduzir o nome da Pró-Reitoria de Extensão por Prorectorate for Outreach and Extension, compreendendo extension (programas formais que a instituição oferece, como cursos extracurriculares) como parte integrante de outreach. Essa explicação também foi inserida na página.
  • 3
    Encargo Tradutório [Translation Brief]. Objeto: tradução do site da UFSC para o inglês. Destinatário do texto-alvo: público alvo global composto de pessoas estrangeiras, de qualquer origem e idade, principalmente do meio acadêmico, que compreendam a língua inglesa e que buscam conhecer melhor a Universidade Federal de Santa Catarina, pela internet (precisamente pelo site institucional da universidade). Tempo e espaço de recepção do texto: o texto será disponibilizado na internet, de forma permanente (podendo ser modificado e atualizado). Meio no qual o texto será transmitido: meio eletrônico / Website. Propósito de produção e recepção do texto: a tradução visa contribuir para o processo de internacionalização da UFSC, que é de grande importância para ampliar o trânsito de conhecimento entre a UFSC e outras instituições internacionais. Além disso, ela irá promover o seu reconhecimento no cenário internacional. A língua é uma questão chave para o processo de internacionalização, e a comunicação em inglês possibilita a aproximação do público estrangeiro com a UFSC, tendo em vista a predominância dessa língua nas interações globais. Registro: formal, institucional. Glossário: será fornecido à equipe um glossário com os termos a serem utilizados na tarefa de tradução.
  • 4
    Importante destacar aqui que a identidade institucional está relacionada também à questão de marcas (branding) necessária para a promoção internacional das IES como lugares atrativos de estudo. Segundo SOLER (2020), a maior parte dos estudos prévios sobre o assunto tem explorado a questão a partir de uma perspectiva da Administração e do Marketing, mas “muito pouca atenção tem sido dada ao papel da linguagem e, de forma mais ampla, ao discurso em conexão com a marca da universidade”.

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer ao “dream team” da SINTER por todo o suporte durante o período de escrita do presente artigo, principalmente, à Luciana Miashiro pelo excelente trabalho de revisão desta última versão do artigo.

Referências

  • AMMON, Ulrich (Ed.) The Dominance of English as a Language of Science Berlin: Mouton de Gruyter, 2001.
  • ECO, Umberto. Quase a Mesma Coisa: Experiências de Tradução. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.
  • FAUBAI. Política linguística para internacionalização do ensino superior: Documento do GT de Políticas Linguísticas para Internacionalização. 2017. Disponível em: http://faubai.org.br/pt-br/wp-content/uploads/2019/01/Documento-do-GT-de-Pol%C3%ADticas-Lingu%C3%ADsticas-da-FAUBAI.pdf Acesso em: 18 dez. 2020.
    » http://faubai.org.br/pt-br/wp-content/uploads/2019/01/Documento-do-GT-de-Pol%C3%ADticas-Lingu%C3%ADsticas-da-FAUBAI.pdf
  • FERNANDEZ, Rosane Augusta. Glossário bilíngue de termos institucionais universitários para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UERJ_b964a12379d3b4fe504b9c81256e410a Acesso em: 18 dez. 2020.
    » https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UERJ_b964a12379d3b4fe504b9c81256e410a
  • FERNÁNDEZ-COSTALES, Alberto. Traducción, localización e internacionalización El caso de las páginas web universitarias. Tese (Doutorado) – Departamento de Filología Anglogermánica Y Francesa, Universidad de Oviedo, Espanha, 2010. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/tesis?codigo=67118 Acesso em: 18 dez. 2020.
    » https://dialnet.unirioja.es/servlet/tesis?codigo=67118
  • FRANCISCO, Reginaldo. Estrangeirização e Domesticação: indo além de mais uma dicotomia. Scientia Traductionis, Florianópolis, n.16, p. 91-100, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/scientia/article/view/1980-4237.2014n16p91 Acesso em: 18 dez. 2020.
    » https://periodicos.ufsc.br/index.php/scientia/article/view/1980-4237.2014n16p91
  • HALVERSON, Sandra L. The Concept of Equivalence in Translation Studies: Much Ado about Something. Target: International Journal of Translation Studies, Amsterdã, vol. 9, n. 2, p. 207-233, 1997.
  • JENKINS, Jennifer. English as a lingua franca in the international university: The politics of academic English language policy. Londres e Nova York: Routledge, 2013.
  • KNIGHT, Jane. Internationalisation of Higher Education. In: Knight, J.; Wit, H. (org.). Quality and Internationalisation in Higher Education Amsterdã: Organisation for Economic Cooperation and Development, 1999, p. 225–240.
  • KNIGHT, Jane. Updated internationalization definition. International Higher Education, Boston, n. 33, p. 2-3, 2003.
  • KÖSE, G. D. GÜLMÜÚ, Z. GÜMÜÚ, V. Y. and EREN, G. University Website Translation: Challenges and Solutions. In: Éric Poirier and Daniel Gallego-Hernández. Business and Institutional Translation: New Insights and Reflections, Cambridge Scholars Publishing, 2018.
  • KOSKINEN, Kaisa. Translating Institutions: An Ethnographic Study of EU Translation. Londres e Nova York: Routledge, 2008.
  • LAUS, Sonia Pereira. A internacionalização da educação superior: um estudo de caso da Universidade Federal de Santa Catarina. Tese (Doutorado em Administração) – Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, 2012. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/304497965_A_Internacionalizacao_da_Educacao_Superior_Um_estudo_de_caso_da_Universidade_Federal_de_Santa_Catarina Acesso em: 18 dez. 2020.
    » https://www.researchgate.net/publication/304497965_A_Internacionalizacao_da_Educacao_Superior_Um_estudo_de_caso_da_Universidade_Federal_de_Santa_Catarina
  • LIDDICOAT, Anthony J.; SCARINO, Angela. Intercultural Language Teaching and Learning. Chichester: John Wiley & Sons, 2013.
  • NORD, Christiane. Defining translation functions: The translation brief as a guideline for the trainee translation. Revista Ilha do Desterro, Florianópolis, n. 33, p. 39-54, 1997. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/desterro/article/view/9208 Acesso em: 18 dez. 2020
    » https://periodicos.ufsc.br/index.php/desterro/article/view/9208
  • PILLER, Ingrid. Linguistics and Intercultural Communication, Language and Linguistic Compass, vol. 1, n. 3, p. 208-226, 2007.
  • SCHÜTZ, Ricardo. The art of translation. Palestra apresentada na Conferência Anual da ATA (American Translators Association), São Francisco, 2007.
  • SHARIFIAN, Farzad (Ed.). English as an International Language – Perspectives and Pedagogical Issues Bristol: Multilingual Matters, 2009.
  • SOLER, Josep. University Branding and the Internationalization of Higher Education in the Baltic States: The Role of Language. In: Maria KUTEEVA, Kathrin KAUFHOLD & Niina HYNNINEN (Eds.) Language Perception and Practices in Multilingual Universities, 137-163, Palgrave Macmillan, Cham, 2020.
  • TAXWEILER, Natália R. S. Tradução institucional no contexto de processos de internacionalização de programas de pós-graduação: diagnóstico de necessidades formativas de servidores técnico-administrativos em educação. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, 2022.
  • TYMOCZKO, Maria. Translation in a Postcolonial Context: Early Irish Literature in English Translation. Londres e Nova York: Routledge, 2014.
  • VENUTI, Lawrence. The Translator's Invisibility: A History of Translation. Londres e Nova York: Routledge, 1995.
  • ZACARIAS, Regiani A. S.; OLIVEIRA, Dener M. de O. Internacionalização e linguagem institucional: estudo da equivalência do termo “faculdade” para o inglês internacional. Revista do GEL, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 83-110, 2019. Disponível em: https://revistas.gel.org.br/rg/article/view/1903 Acesso em: 18 dez. 2020.
    » https://revistas.gel.org.br/rg/article/view/1903

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    05 Fev 2023
  • Aceito
    27 Dez 2023
location_on
Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Bloco B- 405, CEP: 88040-900, Florianópolis, SC, Brasil, Tel.: (48) 37219455 / (48) 3721-9819 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: ilha@cce.ufsc.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro