RESUMO:
Objetivo: mapear a produção científica sobre a saúde mental de pessoas transexuais, indexada na base de dados Scopus.
Método: estudo bibliométrico, compreendendo o estudo de artigos, incluindo os de revisão, no período de janeiro 2001 a junho de 2023, com análise dos indicadores com número de documentos por ano, idioma, periódicos mais utilizados, autores mais produtivos, produtividade dos autores, filiação da autoria, país dos autores e palavras-chave.
Resultados: identificaram-se 988 documentos, concentrados nos anos de 2023 (9,8%), 2022 (17,2%), 2021 (18,8%), 2020 (12,7%) e 2019 (10,1%). Os dez autores que mais publicaram sobre a temática são dos Estados Unidos (90%). O periódico com maior número de artigos foi a LGBT Health. Os termos mais utilizados nos estudos foram: Female, Male, Transgender, Human, Humans, Adult, Transgender Persons e Mental Health.
Conclusão: verificou-se a necessidade de maior incentivo às publicações tanto em periódicos brasileiros quanto internacionais sobre a temática voltada à população Transexual.
DESCRITORES: Saúde Mental; Humanos; Pessoas Transgênero; Identidade de Gênero; Bibliometria.
ABSTRACT
Objective: to map scientific production on the mental health of transgender people, indexed in the Scopus database.
Method: Bibliometric study, comprising the study of articles, including reviews, from January 2001 to June 2023, with analysis of indicators such as number of documents per year, language, journals most used, most productive authors, productivity of authors, affiliation of authorship, country of authors and keywords.
Results: 988 documents were identified, concentrated in the years 2023 (9.8%), 2022 (17.2%), 2021 (18.8%), 2020 (12.7%), and 2019 (10.1%). The ten authors who have published the most on the subject are from the United States (90%). The journal with the highest number of articles was LGBT Health. The most used terms in the studies were: Female, Male, Transgender, Human, Humans, Adult, Transgender Persons, and Mental Health.
Conclusion: There was a need for greater encouragement of publications in both Brazilian and international journals about the transsexual population.
DESCRIPTORS: Mental Health; Humans; Transgender Persons; Gender Identity; Bibliometrics.
RESUMEN
Objetivo: mapear la producción científica sobre la salud mental de las personas transexuales, indexada en la base de datos Scopus.
Método: estudio bibliométrico de artículos, incluyendo revisiones, desde enero de 2001 hasta junio de 2023, analizando indicadores como número de documentos por año, idioma, revistas más utilizadas, autores más productivos, productividad de los autores, filiación de la autoría, país de los autores y palabras clave.
Resultados: Se identificaron 988 documentos, concentrados en los años 2023 (9,8%), 2022 (17,2%), 2021 (18,8%), 2020 (12,7%) y 2019 (10,1%). Los diez autores que más han publicado sobre el tema son de Estados Unidos (90%). La revista con mayor número de artículos fue LGBT Health. Los términos más utilizados en los estudios fueron: Female, Male, Transgender, Human, Humans, Adult, Transgender Persons y Mental Health.
Conclusión: hubo necesidad de mayor estímulo a las publicaciones en revistas brasileñas e internacionales sobre el tema de la población transexual.
DESCRIPTORES: Salud Mental; Humanos; Personas Transgénero; Identidad de Género; Bibliometría.
HIGHLIGHTS
1. Os documentos se encontram disponíveis em 420 periódicos.
2. Oito palavras-chave emergiram como as mais utilizadas.
3. Os dez autores mais produtivos são provenientes dos Estados Unidos.
4. O ano de 2021 desponta como o mais produtivo.
INTRODUÇÃO
A saúde mental, historicamente, tem conceitos complexos, diretamente influenciados por contextos sociopolíticos e pela evolução de práticas em saúde. Segundo o conceito atualmente aceito pela Organização Mundial de Saúde (OMS): “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”, incluindo aspectos físicos, mentais e sociais de cada indivíduo1:110. Para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a OMS2, declarou que a saúde mental representa um indicador crítico do desenvolvimento humano, sendo base para o desenvolvimento social, portanto, deve ser incluída em todas as políticas públicas.
Segundo o Ministério da Saúde3 do Brasil, a orientação sexual e a identidade de gênero são fatores de vulnerabilidade para a saúde e, com isso, viabilizou a construção de uma política pública para garantir o direito à saúde sem preconceito de gênero, raça/etnia, orientação sexual e práticas sexuais e afetivas.
Historicamente, na área da psiquiatria, a transexualidade era vista como um processo de doença, sendo classificada como um subtipo de transtorno de identidade sexual, conforme o CID-11 (Classificação Estatística de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - 11ª versão)4. Entretanto, ao longo dos anos e com a evolução das ciências e das políticas sociais, os conceitos na área de saúde mental vêm se modificando e trazendo uma nova construção diante de uma população que já existe e vem, cada vez mais, sendo visível na sociedade.
Neste contexto, pessoas transgênero ou transexuais são aquelas cujo sexo designado ao nascimento se diferencia de sua expressão ou identidade de gênero atual e apresentam altos indicadores de iniquidades em saúde, caracterizadas como multifacetadas e resultantes de processos de marginalização socioeconômica, estigma e discriminação5.
Autores6 destacam que o transexual pertence morfologicamente a um determinado sexo, porém, psicologicamente pertence ao sexo contrário. Para os autores7, a transexualidade pode ser definida como uma experiência identitária conflituosa com as normas de gênero fundadas no biológico, a pessoa transexual reivindica seu reconhecimento como mulher ou homem.
A saúde das pessoas transexuais é um campo que precisa ser explorado pelas diversas áreas de conhecimento da saúde, a fim de construir ações mais embasadas cientificamente e melhorar a qualidade de vida dessa população. O objetivo desta pesquisa foi mapear a produção científica referente à temática sobre a saúde mental de pessoas transexuais, indexada na base de dados Scopus.
MÉTODO
Trata-se de um estudo de caráter descritivo, com abordagem quantitativa e classificado como uma revisão bibliométrica, pois se utiliza de indicadores de produção científica, análises avançadas de texto e análises de rede para revelar padrões ocultos no conteúdo de resumos, no que diz respeito às relações entre os termos8.
Os estudos bibliométricos auxiliam o entendimento de novas temáticas, possibilitando a identificação de tendências para pesquisas futuras, sendo ancorados em três Leis básicas: Lei de Bradford (que aborda os periódicos que mais publicam sobre determinada temática); Lei de Lotka (que versa sobre os autores que mais produzem em determinada área de conhecimento) e Lei de Zipf (que apresenta a correlação entre o número de palavras de um texto determinado com a frequência destas mesmas palavras)9-10.
A coleta de dados ocorreu no período de julho de 2023, na base de dados Scopus tendo como intermediário o acesso institucional online no Portal de Periódicos CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O período referente ao estudo compreendeu de janeiro de 2001 a junho de 2023, sendo a primeira publicação no ano de 2001.
A pesquisa foi elaborada conforme a estratégia PICo, a qual considera: a “letra P” a população ou o paciente, ou o problema abordado (Populacion/Patient/Problem); a “letra I” como o fenômeno de interesse (Interest); e a “sílaba Co”, o contexto (Context) da pesquisa, sendo conduzida por meio dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e mediados pelos operadores booleanos “AND” e “OR”, permitindo uma busca objetiva. Desta maneira, a busca foi efetivada da seguinte forma: (“Mental Health” OR “Saúde Mental”) AND (“Transgender Persons” OR “Pessoas Transgênero”)11-12.
Quanto à definição dos critérios para a inclusão e exclusão dos dados, optou-se como critério de refinamento o recorte temporal previamente estabelecido, bem como a tipologia de documentos, excluídos os documentos no formato de Letter (cartas), editorial e note (notas). Ademais, para efetivação da pesquisa, foi utilizada a ferramenta de busca avançada por meio da pesquisa dos termos presentes nos títulos, resumos e palavras-chave, resultando no total de 1.133 documentos recuperados, publicados no período de janeiro de 2001 a junho de 2023.
O conjunto de dados foi salvo em um único arquivo no formato em CSV Excel e analisado através do Softwares Microsoft Excel, onde ocorreu a estatística descritiva dos resultados. Elencaram-se no processo de análise oito indicadores: 1-número de documentos por ano (artigos e artigos de revisão); 2-idioma; 3-periódicos mais utilizados; 4-autores mais produtivos; 5-produtividade dos autores (Índice H); 6-filiação da autoria; 7-país de origem dos autores; 8-palavras-chave (temáticas mais frequentes nas pesquisas). Salienta-se que, os itens 5, 6 e 7 foram examinados na Scopus.
RESULTADOS
Em relação ao mapeamento da produção Científica Mundial sobre Saúde Mental de Pessoas Transexuais, o número de publicações anuais encontradas é ilustrado pelo Gráfico 1.
Distribuição Anual do Mapeamento da Produção Científica Mundial Sobre Saúde Mental de Pessoas Transexuais. Belém, Pará, Brasil, 2023
Observa-se que, embora incipiente, os estudos tiveram uma tendência de duas publicações por ano, tendo como destaque os anos de 2001, 2004, 2005, 2006 e 2012. Já no ano de 2002 houve apenas uma publicação e nos anos de 2003 e 2007 não houve registro de nenhum documento. Nos anos de 2008, 2010 e 2013, tem-se uma frequência de quatro publicações nesses períodos, com flutuação de três nos anos respectivos de 2009 e 2011. Considerando apenas os períodos de 2001 a 2013, com exceção dos dois anos sem publicação, houve um total de 29 (2,9%) documentos indexados.
O primeiro passo para o desenvolvimento das publicações, deu-se no ano seguinte, quando passou de quatro trabalhos em 2013 para 11 (1,1%) trabalhos publicados em 2014. Porém, foi a partir de 2015 que a timidez observada no período de 2001 a 2013 deu fluidez nas publicações de interesse desta pesquisa.
Assim sendo, de 2015 a junho de 2023 as publicações tiveram um crescimento expressivo, perfazendo o quantitativo de 948 documentos e/ou percentual de 95,9% do total. No ano de 2015 foram 38 (3,8%) documentos indexados, e no ano de 2016, foram 68 (6,9%) artigos publicados, ou seja, a produção científica na área teve uma curva de crescimento.
Ressalta-se que por dois anos, 2017 (8,2%) e 2018 (8,3%) o número de publicações se manteve com 81 e 82 publicações geradas nestes anos, mantendo a curva linear. Entretanto, não houve nenhum período de declínio, muito pelo contrário, as taxas de publicação aumentaram.
No período de 2019 a junho de 2023, sequencialmente, foram publicados 100 (10,1%) documentos em 2019, 126 (12,7%) em 2020, 186 (18,8%) em 2021, 170 (17,2%) em 2022 e 97 (9,8%) em 2023. Considerando o período de avanço de 2014 a junho de 2023, o percentual anual de crescimento encontrado no mapeamento da produção científica na Scopus sobre a saúde mental de pessoas transexuais foi de (97,1%), percebe-se que houve um avanço em relação às produções científicas sobre à temática.
O segundo indicador, apresentado como resultado da pesquisa envolvendo a produção científica sobre saúde mental de pessoas transexuais, trata-se do Idioma dos documentos, o qual é representado no Gráfico 2.
Distribuição dos Idiomas Envolvendo a Produção Científica Mundial Sobre Saúde Mental de Pessoas Transexuais. Belém, Pará, Brasil, 2023
Os resultados mostram que dos 988 documentos publicados, 965 (97,7%) foram publicados no idioma em inglês. Em 23 artigos há registro de publicações mantendo apenas o idioma referente ao país do pesquisador, sendo assim distribuídos: 1-nove (09) em espanhol, quatro (04) em alemão, dois (02) em português, dois (2) em holandês, dois (2) em chinês, um (01) em checo, um (1) em croata, um (01) francês e, por fim, um (1) em turco, perfazendo um total de (2,3%).
No que se refere à análise das 988 publicações encontradas na produção científica mundial sobre saúde mental de pessoas transexuais com base nos periódicos em que foram veiculadas, observou-se que estas estão difundidas em 420 periódicos diferentes. Com isso, tem-se a aplicabilidade da Lei de Bradford por meio do zoneamento a partir da frequência de produção dos periódicos, sendo a 1ª zona com 21 periódicos, enquanto a 2ª e 3ª possuem, 98 e 301, respectivamente.
Nesse contexto, foram listados os seis periódicos mais utilizados para publicar os documentos, que juntos apresentam 174 documentos e/ou percentual de 17,6%. Estes periódicos encontram-se organizados na Tabela 1, de maneira decrescente com base na frequência de documentos.
Lista dos seis Periódicos mais utilizados na Produção Científica Mundial sobre Saúde Mental de Pessoas Transexuais. Belém, Pará, Brasil, 2023
O periódico com maior número de documentos é o LGBT Health com 44 documentos e um percentual de 4,5%. Sequencialmente, tem-se o Journal of Adolescent Health com 37 documentos (3,8%); International Journal of Environmental Research and Public Health com 26 (2,6%); Journal of Homosexuality com 24 (2,4%); Archives of Sexual Behavior com 22 (2,2%) e PLoS ONE com 21 artigos (2,1%).
A contribuição em termos de produção científica dos autores do conjunto de artigos analisados nesta pesquisa foi de 3.647 autores, dos quais: 2.987 autores apresentam apenas uma produção científica; 417 escreveram dois artigos; 104 realizaram três produções; 52 escreveram quatro artigos; 34 produziram cinco artigos; 14 foram responsáveis por seis documentos; 17 tiveram sete documentos; cinco publicaram oito documentos; sete produziram nove documentos; três publicaram 11 documentos; dois foram responsáveis por 12 publicações; um realizou 14 produções; um produziu 16 documentos; e um único autor realizou 38 produções.
Observou-se que 730 autores (20% dos 3.647) tiveram uma frequência de 2.051, correspondendo a 41,3% de frequência de documentos. Considerando a Lei de Lotka, os resultados encontrados vão ao encontro do Diagrama de Paretto (20/80), uma vez que se evidenciou que determinados autores se sobressaem na produção científica sobre a saúde mental de pessoas transexuais com relação aos demais.
A partir da análise da frequência de autorias, foi possível estabelecer o destaque a uma parcela de autores que possuem o maior índice de produção. Coletados diretamente da base de dados Scopus, a Tabela 2 exibe o nome dos autores, frequência de documentos, afiliação, país e índice H.
Distribuição do número de autores mais produtivos por documentos sobre a Saúde Mental de Pessoas Transexuais. Belém, Pará, Brasil, 2023
Dos 3.647 autores, os mais produtivos tiveram um total de 151 documentos publicados: assim sendo, um autor publicou 38 documentos; um publicou 16; um publicou 14; dois autores publicaram 13 documentos; dois publicaram 12; três publicaram 11.
Em relação ao país, com exceção do Arcelus Jon, afiliado ao Hospital Universitario de Bellvitge, o qual está situado na Espanha, os demais pesquisadores mais produtivos são dos Estados Unidos e estão presentes no maior número de publicações.
Entretanto, apenas dois desses autores fazem parte da mesma afiliação, Ann & Robert H. Lurie Children’s Hospital of Chicago. Os demais pesquisadores estão afiliados em outros centros de pesquisa conforme descrito na Tabela 2.
O Quadro 1 apresenta o zoneamento das palavras, com base na frequência de palavras presentes em cada zona. Desse modo, tem-se a zona trivial como aquela caracterizada pelos termos mais utilizados para a indexação dos estudos, sendo este o núcleo, que dispõe de oito palavras diferentes, as quais somadas possuem frequência de ocorrência de 8.406 vezes, representando o percentual de 24,3%.
Percentual de ocorrências por zona de palavras-chave da produção científica sobre a Saúde Mental de Pessoas Transexuais. Belém, Pará, Brasil, 2023
Por outro lado, a zona de interesse retrata as palavras com aparições intermediárias, possuindo 59 termos, com 10.581 repetições e percentil de 30,6%. Por fim, evidencia-se a zona de ruído, a qual denota as palavras empregadas esporadicamente, revelando 3.391 palavras utilizadas 15.551 vezes, com percentual de 45,1% com relação ao total da frequência.
Os oito termos dispostos na zona trivial conforme o número de ocorrência são os seguintes: Female (1477), Male (1345), Transgender (1091), Human (948), Humans (907), Adult (905), Transgender Persons (882) e Mental Health (851).
DISCUSSÃO
Conforme os achados da distribuição de publicações por ano, estes corroboram um estudo realizado em 2020 que evidencia o aumento de produções sobre a saúde da população LGBTTI+ na literatura científica após a publicação da Política Nacional de Saúde Integral LGBT; com isso, pode-se inferir que esse crescimento foi influenciado pelo contexto político e pelos avanços que essa política de saúde representa para os direitos sociais, humanos e sexuais da referida população13. Ressalta-se, ainda, que a emergência do debate sobre a questão da diversidade sexual de gênero inicia ao longo da década de 1990, sendo consolidada a partir dos anos 2000, por um conjunto bem mais amplo de pesquisadores com uma abordagem ampla acerca de problemas e interesses em um contexto universal14.
No que se refere ao idioma, por ser um enfoque nos periódicos internacionais e a base de dados do estudo ter como domínio de publicação uma língua universal como a inglesa, acredita-se ser um fator determinante para que a maioria dos estudos publicados esteja em inglês. Em relação ao Brasil, há registros de trabalhos no idioma português mostrando uma tendência de autores brasileiros abordando a temática. Os autores15 ratificam os estudos relacionados ao universo de pessoas Transexuais no Brasil cujo foco seja compreender de forma mais profunda a realidade dessa população discriminada e excluída na sociedade. Os dados referentes a afiliação e países demonstram que os autores mais produtivos recebem apoio de várias instituições, contribuindo para a realização e publicação de trabalhos na área pesquisada. Em um estudo sobre o universo das pesquisas científicas das Travestis e Transexuais16, diz que em âmbito internacional, foi observado haver parcerias institucionais de fomento à pesquisa com conectividade ao meio LGBT, diferente do observado no Brasil, com um único financiador.
Percebe-se que, segundo os resultados apresentados em relação à Lei de Bradford, o periódico com o maior número de publicações foi o LGBT Health. Entretanto, as demais produções estão dispersas nos 420 periódicos, dando-se destaque a um núcleo de periódicos que detém as maiores taxas de disposição dos documentos, sendo considerados os mais relevantes na área trabalhada, conforme foi apresentado na Tabela 1, confirmando os princípios da Lei de Bradford17.
Ademais, a Lei de Bradford18 dispõe de uma tríade de zonas, em que cada uma das zonas é responsável por um terço do total dos artigos relevantes. A primeira zona apresenta uma pequena quantidade de periódicos altamente produtivos; a segunda contém números maiores de periódicos classificados como menos produtivos; a terceira possui números ainda maiores quando comparada à segunda. O valor de periódicos (n) presentes no núcleo e zonas modifica na proporção 1: n: n2.
Os pesquisadores19 ressaltam que a Lei de Lotka se baseia na Lei do Inverso do Quadrado, sugerindo que, ao fazer a análise de artigos em certo recorte temporal, o quantitativo de pessoas que escreveu dois ou mais artigos se iguala a um quarto daqueles que produziram apenas um. Segundo os mesmos autores, a Lei apresenta o padrão da produtividade científica dos autores e identificação dos centros de pesquisa mais desenvolvidos, considerando que poucos autores são responsáveis por muitas produções e, portanto, considerados referências na temática abordada, enquanto muitos autores detêm números de produções limitadas, possuindo menor prestígio na área.
Conforme os achados no estudo sobre a “Saúde da população LGBT: uma análise dos agentes, dos objetos de interesse e das disputas de um espaço de produção científica emergente”20:26, destaca que nesta população, os subgrupos, são alvos de diferentes objetos de pesquisas, permanecendo a disputa central da categorização pela ciência de cada um desses grupos.
Em relação à análise da frequência de autorias, surge em meados dos anos 2000 o índice H. Foi proposto pelo físico americano Jorge E. Hirsch, da Universidade da Califórnia em San Diego, em virtude de tornar as avaliações individuais mais “objetivas”. Esse fato marca o momento em que os meios científicos passaram a construir os índices bibliométricos21. Este índice H denota igualdade ao número de artigos “n” publicados por um autor e que obteve, pelo menos, “n” citações cada um desde sua publicação.
Relacionando as palavras-chave encontradas nos resultados, estas estão diretamente interligadas com a abordagem da saúde mental das pessoas transexuais, as quais têm a sua saúde mental prejudicada sempre que são expostas a agressões tanto física quanto mental. Os autores22 afirmam que evidências científicas na literatura sugerem que entre 50-90% das pessoas trans sofrerão assédio verbal ou desrespeito relacionado à sua identidade de gênero no decorrer de sua vida, e deste total, pelo menos 25% sofrerão agressão física ou violência devido à sua identidade de gênero. Além de que, estas pessoas são mais predispostas a usar tabaco, álcool ou outras substâncias para lidar com o estresse e o estigma social.
A bibliometria permite avaliar a produção acadêmica das mais diversas áreas do conhecimento, tendo papel relevante na análise da produção científica de um país, ao poderem retratar o comportamento e desenvolvimento das áreas de conhecimento através de seus indicadores23. São, portanto, fontes de grande proveito e fecundidade para se conhecer e avaliar um campo científico24.
Compreender o impacto das publicações é uma atividade obrigatória no mundo editorial, que visa aferir os mais variados tipos de documentos em periódicos, assim como materiais institucionais e livros, baseados na utilização de citações de autores25. Através das bases de dados e da triangulação com outros métodos, a análise bibliométrica possibilita aos pesquisadores uma melhor compreensão das necessidades de pesquisa em diversas áreas de busca; ao mensurar a produtividade dos núcleos de pesquisa e produção do conhecimento, viabiliza revelar as instituições, área e subáreas de maiores influências e potencialidades em determinado contexto23.
Segundo o pesquisador26, os desenvolvimentos técnico, científico e tecnológico impactam em diversas áreas sociais, especialmente na saúde, uma vez que há a busca por avanços na melhoria da qualidade de vida da população. Além disso, expressa também que “a ciência é, ainda, acumulativa”, já que os pesquisadores utilizam de estudos prévios para basear e comparar os resultados de suas pesquisas, sendo o fluxo de comunicação científica. As pessoas trans, além dos problemas de saúde únicos decorrentes das transformações corporais na tentativa de alinhamento do fenótipo à identidade de gênero, apresentam altos índices de sofrimento psíquico, incluindo a ideação e tentativas de suicídio27.
Um estudo realizado em 2017, no Rio Grande do Sul, onde os autores afirmam que, a baixa qualidade do atendimento a pessoas transexuais se deve à falta de qualificação dos profissionais de saúde diante das demandas apresentadas pelas travestis; ao “acolhimento insuficiente”; ao “desrespeito aos direitos das travestis”; à “falta de vínculo necessário entre profissional de saúde e usuário”; e à “falta de programas e ações que preconizem a promoção, prevenção e monitoramento à saúde das travestis, desestruturando a integralidade da atenção e a equidade das ações em saúde”28:607.
As limitações notabilizadas neste estudo foram pertinentes ao uso dos mecanismos de busca expressos pelos descritores e operadores booleanos, os quais determinam o algoritmo de recuperação dos estudos. Ademais, a utilização de apenas uma base de dados se configura como uma limitação, uma vez que pode estar relacionada ao quantitativo limitado de documentos identificados.
CONCLUSÃO
Este estudo analisou os artigos publicados em periódicos indexados na base de dados Scopus evidenciando que as publicações que abrangem a temática proposta ainda são limitadas quando relacionadas à saúde mental. Apesar de poucas publicações na referida base de dados, nota-se que estas estão em um elevado nível de qualidade ao se observar as métricas de avaliação dos estudos selecionados, destacando ainda, que a temática é de interesse global e de instituições renomadas no ambiente científico.
Diante do que foi contextualizado, justifica-se a pesquisa uma vez que por meio da utilização dos indicadores bibliométricos, é possível proporcionar ao meio acadêmico uma visão geral da produção científica na temática apresentada, assim como orientar a comunidade científica na utilização, aplicação e aprimoramento da pesquisa na área. A temática é de extrema relevância social e científica, por ser necessária para a prática assistencial dos profissionais de saúde e para o atendimento integralizado a esta população.
Assim sendo, este estudo emerge com contribuições como a necessidade de mais publicações tanto em âmbito nacional como internacional sobre a temática voltada à população Transexual, principalmente, no que concerne à Saúde Mental dessas pessoas que não se veem com o sexo biológico de nascimento.
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Artigo extraído da tese de doutorado: “Mapeamento da Produção Científica Mundial Sobre Saúde Mental de Pessoas Transexuais”, Faculdad Interamericana de Ciencias Sociales, Asunción, Paraguay, 2022.
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COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO:
Castilho F de NF de, Carvalho GP, Nascimento MHM, Ferreira IP. Scientific production on the mental health of transgender people in the scopus database: a bibliometrics study. Cogitare Enferm. [Internet]. 2024 [cited “insert year, month and day”]; 29. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/ce.v29i0.94179.
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Editora associada: Dra. Luciana Kalinke
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
21 Jun 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
20 Set 2023 -
Aceito
24 Nov 2023