RESUMO
(As briófitas da Reserva Particular do Patrimônio Natural Parque das Neblinas, Estado de São Paulo, Brasil: IV Workshop de Briófitas do Brasil). Em novembro de 2022, ocorreu o IV Workshop de Briófitas Brasileiras, celebrando 200 anos de estudos de briófitas no Brasil. A data comemora a publicação de Raddi em 1822 e o mês de nascimento de Aloysio Sehnem, o primeiro brasileiro a estudar briófitas. Dezessete entusiastas de briófitas participaram das atividades práticas utilizando amostras do herbário SP e coleta no Parque das Neblinas, situado entre Mogi das Cruzes e Bertioga - SP. O parque abrange uma área com Floresta Ombrófila e plantações de Eucalyptus. Foram encontradas 381 espécies de briófitas, sendo Lejeuneaceae a família mais diversa, com 83 espécies, e Pilotrichaceae com 20 espécies. Vinte e quatro espécies são novos registros para o Estado de São Paulo. 38% são exclusivas da Mata Atlântica, 12% são endêmicas do Brasil. Esses resultados destacam a importância do Parque das Neblinas para a conservação e futuros estudos de briófitas.
Palavras-chave: antóceros; florística; hepáticas; Mata Atlântica; musgos
ABSTRACT
(The bryophytes of the Reserva Particular do Patrimônio Natural Parque das Neblinas, State of São Paulo, Brazil: IV Bryophyte Workshop of Brazil). In November 2022, the IV Workshop of Brazilian Bryophytes took place, celebrating 200 years of bryophyte studies in Brazil. The date commemorates Raddi’s publication in 1822 and the birth month of Aloysio Sehnem, the first Brazilian to study bryophytes. Seventeen bryophyte enthusiasts participated in practical activities using samples from the SP herbarium and collecting in the Parque das Neblinas, located between Mogi das Cruzes and Bertioga, São Paulo State, Brazil. The park covers an area with Ombrophilous Forest and Eucalyptus plantations. 381 species of bryophytes were found, with Lejeuneaceae being the most diverse family, with 83 species, and Pilotrichaceae with 20 species. Twenty-four species are new records for the State of São Paulo. 38% are exclusive to the Atlantic Forest, and 12% are endemic to Brazil. These results highlight the importance of Parque das Neblinas for the conservation and future studies of bryophytes.
Keywords: Atlantic Forest; floristics; hornworts; liverworts; mosses
Introdução
O primeiro Workshop de Briófitas Brasileiras foi realizado em fevereiro de 2007 em Pernambuco, com a temática de identificação do gênero Lejeunea; o segundo ocorreu em agosto de 2008, também em Pernambuco e com enfoque na identificação de musgos pleurocárpicos. Já em 2011, o evento foi promovido pelo Programa de Pós-graduação em
Ecologia Aplicada ao Manejo e Conservação de Recursos Naturais da Universidade Federal de Juiz de Fora. Durante o III Workshop foi concluído e enviado para publicação, o trabalho “Synopsis of the Brazilian moss flora: checklist, synonyms, distribution and conservation” (Costa et al. 2011). Em todas as edições passadas, foram reunidos briólogos doutores e estudantes do Brasil e até especialistas convidados como a Dra. Maria Elena Reinder-Drehwald, o Dr. Steve Paul Churchill (Missouri Botanical Garden) e Dr. William Russel Buck (New York Botanical Garden).
Entre os dias 21-25 de novembro de 2022 foi realizado o IV Workshop de Briófitas Brasileiras no Instituto de Pesquisas Ambientais (São Paulo) em comemoração aos 200 anos do estudo de briófitas no Brasil. A data escolhida prestigiou o primeiro levantamento florístico de briófitas para o Brasil feita por Raddi em 1822 (Raddi 1822). As amostras coletadas no trabalho de Raddi (1822) foram revisadas pela Dra. Denise P. Costa (Costa 2009). O período escolhido para este Workshop coincidiu com a data de nascimento do Padre Aloysio Sehnem, o primeiro brasileiro que se aventurou a estudar as briófitas, seu nascimento ocorreu em 24 de novembro de 1912, sua obra foi homenageada na publicação do Padre Albano Backes (Backes 1983).
O Parque das Neblinas constitui uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), pertencente à Companhia Suzano Papel e Celulose e gerida pelo Instituto Ecofuturo, está localizado no estado de São Paulo entre os municípios de Mogi das Cruzes e Bertioga, no Alto da Serra do Mar (Zanon 2018). Criado em 1977, apresenta diferentes estágios de regeneração de Mata Atlântica, desempenhando um papel fundamental na conservação de 477 nascentes que contribuem para a formação dos principais rios da região, como o Itatinga (Zanon 2018). O Parque exerce uma função relevante na mitigação dos impactos decorrentes do crescimento urbano desordenado, provenientes da parte sul do município de Mogi das Cruzes e de São Paulo.
Ademais, o Parque abriga mais de 1.250 espécies da fauna e da flora identificadas até 2018, dessas 531 espécies são da flora de fanerógamas (Zanon 2018). A área do Parque é dedicada a uma variedade de atividades, incluindo educação ambiental, ecoturismo, pesquisas científicas, e, sobretudo, manejo e restauração florestal.
O conhecimento da biodiversidade está atrelado diretamente com os estudos florísticos, pois fornecem subsídios para a compreensão da composição das formações vegetais. Atualmente são reconhecidas 1616 espécies de briófitas para o Brasil, sendo 357 endêmicas (Flora e Funga do Brasil 2023). Do total de espécies estimado para o país, 1354 ocorrem na Mata Atlântica e 917 espécies no Estado de São Paulo (Flora e Funga do Brasil 2023). Apesar da elevada diversidade, ainda existem muitas áreas no estado de São Paulo que são pouco conhecidas quanto a biodiversidade de briófitas. Em se tratando de estudos florísticos com briófitas para o Estado de São Paulo diversas contribuições para a ciência podem ser elencadas (e.g. Amélio et al. 2019, Carmo et al. 2016, Lima & Peralta 2021, Peralta & Yano 2008, Peralta & Yano 2012, Visnadi 2005, 2009, 2013a, 2013b, Yano & Peralta 2007).
O Parque das Neblinas está totalmente inserido na Mata Atlântica, este domínio consiste em um complexo de ecossistemas de grande importância biológica, pois abriga uma parcela significativa da biodiversidade do Brasil e do mundo, além de apresentar elevado número de espécies endêmicas (Borém & Oliveira-Filho 2002, Stehmann et al. 2009). Parte da sua biodiversidade vem sendo prejudicada devido ao elevado nível de devastação o que enquadra esse domínio em um dos mais ricos e ameaçados do planeta (Myers et al. 2000; Mittermeier et al. 2005). A Mata Atlântica corresponde à segunda maior floresta pluvial tropical do continente americano, sendo esta um dos 25 hotspots mundiais de biodiversidade (Tabarelli et al. 2005).
Apesar de ser uma importante Unidade de Conservação, o Parque ainda carece de estudos florísticos com briófitas. Com o objetivo de compreender a biodiversidade de briófitas no Parque das Neblinas, este estudo teve os seguintes objetivos: (i) realizar a lista de todas as espécies de briófitas encontradas no parque; e (ii) identificar os tipos de substratos mais colonizados pelas espécies encontradas na área.
Material e métodos
Área de estudo - O Parque das Neblinas possui 7 mil hectares, encontra-se localizado acima dos 750m na escarpa cristalina da Serra do Mar (figura 1), no complexo do Itatinga (Rideg 1974) no estado de São Paulo entre os municípios de Bertioga e Mogi das Cruzes (23°43’ e 23°47’S; 46°08’ e 46°11’W). De acordo com Köppen (1948) a região apresenta clima do tipo Af (tropical úmido) com médias anuais de temperatura em torno de 24ºC e pluviosidade média de 3.207mm. Atualmente a vegetação do Parque caracteriza-se por possuir dois grandes grupos de formações florestais: um correspondente a áreas de antigos talhões de reflorestamentos com espécies do gênero Eucalyptus (entre eles um único talhão de Pinus), e outro correspondendo a remanescentes de Floresta Ombrófila Densa em diferentes estágios sucessionais, decorrentes de histórias de perturbação distintas.
Mapa indicando a localização geográfica do Parque das Neblinas, Estado de São Paulo, Brasil.
Figure 1
Map indicating the geographical location of Parque das Neblinas, State of São Paulo, Brazil.
Coleta e tratamento das amostras - O material botânico foi coletado e armazenado, seguindo as recomendações de Frahm (2003). As coletas foram realizadas pelos 17 participantes do IV Workshop de Briófitas do Brasil no dia 21 de novembro de 2022, como atividade de campo do Workshop. Foram realizadas através de caminhadas livres, abrangendo todos os substratos disponíveis colonizados pelas espécies. A metodologia para a coleta, herborização e preservação do material seguiu Gradstein et al. (2001) e todo o material obtido nas coletas está depositado no Herbário SP.
Análise de dados - Para a identificação dos exemplares, foram utilizados os métodos e a bibliografia especializada de acordo com cada família, realizando a preparação e observação das lâminas em estereomicroscópio e microscópio óptico, bem como a comparação com amostras já identificadas e depositadas no Herbário SP, o que totalizou em 1.222 amostras analisadas. As análises levaram em consideração as características morfológicas e anatômicas do gametófito e, quando necessário, do esporófito. Para as características taxonômicas foi seguido o glossário de Luizi-Ponzo et al. (2013). A literatura utilizada para a identificação seguiu Frahm (1991), Sharp et al. (1994), Yano & Carvalho (1995), Buck (1998), Villas Bôas-Bastos & Bastos (1998), Reiner-Drehwald & Goda (2000), Gradstein et al. (2001), Gradstein & Costa (2003), Reiner-Drehwald (2005), Yano & Peralta (2009), Yano & Peralta (2011), Bordin & Yano (2013), Luizi-Ponzo et al. (2013), Valente et al. (2013), Bastos et al. (2018), Gradstein & Ilkiu-Borges (2018), Bastos & Gradstein (2020), Evangelista-dos-Santos et al. (2021) e Evangelista-dos-Santos & Valente (2022). A distribuição geográfica brasileira seguiu a Flora e Funga do Brasil 2023 e os trabalhos de Forzza et al. (2010), Costa et al. (2011), Carmo & Peralta (2016), Carmo et al. (2016) e Amélio et al. (2019).
A lista das espécies está organizada em ordem alfabética por família, gênero e espécie. Foi incluído “p.p. (pro parte)”, para as espécies que aparecem exclusivamente associadas. A abreviação dos nomes dos autores seguiu Brummitt & Powell (1992). O sistema de classificação utilizado foi o de Renzaglia et al. (2009) para Anthocerotophyta, Crandall-Stotler et al. (2009) para Marchantiophyta, e Goffinet et al. (2009) para Bryophyta, exceto para a família Sematophyllaceae que foi tratada de acordo com Carvalho-Silva et al. (2017).
Resultados e Discussão
Foram encontradas 381 espécies na área do Parque das Neblinas (tabela 1), distribuídas em 159 gêneros e 64 famílias. Do total de espécies encontradas, sete espécies pertencem à divisão Anthocerotophyta, 194 spp. pertencem à Bryophyta e 181 spp. à Marchantiophyta. A diversidade briofítica encontrada no Parque das Neblinas representa 42% das briófitas encontradas no Estado de São Paulo, ou seja 23% das briófitas conhecidas para o Brasil e isso representa cerca de 9% das espécies da América Tropical (Gradstein et al. 2001, Costa & Peralta 2015).
Lista das espécies encontradas no Parque das Neblinas, Estado de São Paulo, Brasil. Distribuição nos substratos. Tr: Troncos de árvores vivos. Fo: Folhas. Ro: Rocha. Se: Serapilheira. So: Solo. Distribuição nos domínios fitogeográficos. AM: Amazónia. CA: Caatinga. CE: Cerrado. MA: Mata Atlântica. PAM: Pampa. PL: Pantanal. Distribuição no Brasil: AC: Acre. AL: Alagoas. AP: Amapá. AM: Amazonas. BA: Bahia. CE: Ceará. DF: Distrito Federal. ES: Espírito Santo. GO: Goiás. MA: Maranhão. MT: Mato Grosso. MS: Mato Grosso do Sul. MG: Minas Gerais. PA: Pará. PB: Paraíba. PR: Paraná. PE: Pernambuco. PI: Piauí. RJ: Rio de Janeiro. RN: Rio Grande do Norte. RS: Rio Grande do Sul. RO: Rondônia. RR: Roraima. SC: Santa Catarina. SP: São Paulo. SE: Sergipe. TO: Tocantins. Distribuição mundial. Neo: Neotropical. Cos: Cosmopolita. Afr: Afro-Americana. Pan: Pantropical. End: Endêmica do Brasil. Ams: América do Sul. Ame: América. *: Nova ocorrência para o Estado de São Paulo, Brasil, p.p.: pro parte.
Table 1
List of species found in Parque das Neblinas, State of São Paulo, Brazil. Distribution in substrates. Tr: Living tree trunks. Fo: Leaves. Ro: Rock. Se: Litter. So: Soil. Distribution in phytogeographic domains. AM: Amazon. CA: Caatinga. CE: Cerrado. MA: Atlantic Forest. PAM: Pampa. PL: Pantanal. Distribution in Brazil: AC: Acre. AL: Alagoas. AP: Amapá. AM: Amazonas. BA: Bahia. CE: Ceará. DF: Federal District. ES: Espírito Santo. GO: Goiás. MA: Maranhão. MT: Mato Grosso. MS: Mato Grosso do Sul. MG: Minas Gerais. PA: Pará. PB: Paraíba. PR: Paraná. PE: Pernambuco. PI: Piauí. RJ: Rio de Janeiro. RN: Rio Grande do Norte. RS: Rio Grande do Sul. RO: Rondônia. RR: Roraima. SC: Santa Catarina. SP: São Paulo. SE: Sergipe. TO: Tocantins. Global distribution. Neo: Neotropical. Cos: Cosmopolitan. Afr: Afro-American. Pan: Pantropical. End: Endemic to Brazil. Ams: South America. Ame: America. *: New occurrence for the State of São Paulo, Brazil, p.p.: pro parte.
Foram identificadas sete espécies de antóceros, o que representa 38,8% das espécies encontradas no Brasil (18 spp). A família Dendrocerotaceae apresentou o maior número de espécies, com quatro delas ocorrendo exclusivamente na Mata Atlântica (Dendroceros breutelii (Gottsche) A. Evans, Dendroceros crispus (Sw.) Nees, Nothoceros minarum (Nees) J.C. Villarreal e Nothoceros vincentianus (Lehm. & Lindenb.) J.C. Villarreal (Figura 2). Essas espécies foram coletadas em árvores, rochas e solo. A família Notothyladaceae está representada na área do parque por duas espécies que ocorrem no solo: Phaeoceros carolinianus (Michx.) Prosk. e Phaeoceros laevis (L.) Prosk., ambas ocorrendo em diversos domínios fitogeográficos brasileiros.
Diversidade por família dos antóceros (Anthocerotophyta).
Figure 2
Diversity by hornwort family (Anthocerotophyta).
As famílias de musgos que apresentaram maior diversidade foram Pilotrichaceae com 20 espécies e Sematophyllaceae com 15 espécies (Figura 3). Carmo et al. (2016) também encontraram os mesmos números para essas famílias, trabalho que foi realizado no Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo de Santa Virgínia e que também está inserido na Mata Atlântica no Estado de São Paulo, encontrou 386 espécies em uma área total de 17.000 ha. Segundo Vaz-Imbassahy et al. (2008) a região sudeste do Brasil é uma área diversa para as espécies da família Pilotrichaceae, devido à existência dos remanescentes de Mata Atlântica e pelas condições de umidade e luminosidade necessárias para esses táxons.
As dez famílias mais diversas em espécies de musgos (Bryophyta) com mais de cinco espécies registradas no Parque das Neblinas, Estado de São Paulo, Brasil.
Figure 3
The ten most diverse families in moss species (Bryophyta) with more than five species recorded in Parque das Neblinas, State of São Paulo, Brazil.
As espécies da família Leucobryaceae foram coletadas principalmente sobre árvores vivas e troncos caídos, incluindo três espécies endêmicas do Brasil e de ocorrência apenas para a Mata Atlântica e Cerrado: Campylopus gemmatus (Müll. Hal.) Paris, Campylopus thwaitesii (Mitt.) A. Jaeger e Leucobryum clavatum Hampe. Além disso, essa família também apresentou duas espécies de ocorrência exclusiva na Mata Atlântica: Campylopus flexuosus (Hedw.) Brid. e Campylopus richardii Brid.
Frahm (1990) comentou que Campylopus possui adaptações morfológicas e anatômicas (e.g., costa larga, ápice hialino) e mecanismos assexuados de reprodução, como a propagação vegetativa (através de filídios quebradiços) que facilitam sua adaptação em diversos ambientes, sendo capaz de tolerar variações de luminosidade e de disponibilidade hídrica.
Adicionalmente, a propagação vegetativa permite que a espécie sobreviva em ambientes com condições climáticas desfavoráveis para a reprodução sexuada, como em clones unissexuais. Essas características fazem com que Campylopus seja capaz de colonizar diferentes substratos (e.g. areia, solo húmico, rochas, troncos vivos e/ou em decomposição) e apresentar ampla extensão latitudinal e altitudinal.
Sematophyllaceae é considerada como uma das famílias mais diversas de musgos no Brasil com ampla diversidade na Floresta Atlântica (Costa & Peralta 2015; Evangelista-dos-Santos & Valente 2022). As espécies foram coletadas principalmente sobre troncos de árvores vivas, incluindo três espécies que ocorrem exclusivamente na Mata Atlântica: Aptychopsis cylindrothecia (Broth.) P.E.A.S. Câmara et al., Pterogoniopsis paulista (W.R. Buck & Vital) Carv.-Silva et al. e Sematophyllum succedaneum (Hook.f. & Wilson) Mitt.
Nas hepáticas, Lejeuneaceae apresenta o maior número de espécies (83 spp.) (Figura 4). Outros autores já citaram essa família como a mais diversa em trabalhos realizados na Mata Atlântica (Visnadi 2005, Valente & Pôrto 2006, Yano & Peralta 2007, Peralta & Yano 2008, Santos & Costa 2008, Visnadi 2009, Costa et al. 2015, Reis et al. 2015 e Silva & Pôrto 2015, Carmo et al. 2016, Lima & Peralta 2021). Isso se dá, principalmente, por essa família possuir uma origem evolutiva recente (Groth-Malonek et al. 2004) possibilitando uma ampla variação morfológica que permite que estas espécies possam colonizar diversos tipos de substratos (Gradstein et al. 2001).
As dez famílias mais diversas em espécies de hepáticas (Marchantiophyta) com cinco ou mais espécies registradas no Parque das Neblinas, Estado de São Paulo, Brasil.
Figure 4
The ten most diverse families in species of liverworts (Marchantiophyta) with five or more species recorded in Parque das Neblinas, State of São Paulo, Brazil.
O Parque das Neblinas apresenta uma variedade de substratos disponíveis e adequados para a ocorrência das briófitas, o que contribui para a alta diversidade encontrada (Figura 5). Durante o estudo, foram registradas 208 espécies sobre troncos de árvores vivas. Além disso, foram identificadas 88 espécies sobre a serrapilheira, que são aquelas coletadas em troncos e folhas caídas e mortas. Outras 74 espécies foram encontradas sobre rochas (rupícolas), 72 espécies foram classificadas como terrícolas e 43 espécies foram consideradas epifilas, ou seja, aquelas que se desenvolvem sobre as folhas de árvores vivas. Essa diversidade de substratos disponíveis no Parque das Neblinas oferece nichos ecológicos e microhabitats distintos para as briófitas, permitindo sua adaptação e colonização em diferentes ambientes, visto que características como pH, rugosidade e disponibilidade hídrica influenciam no estabelecimento das briófitas sobre os substratos (Glime, 2007, 2010).
Distribuição percentual da colonização das espécies nos substratos. Tr: Troncos de árvores vivos. Fo: Folhas. Ro: Rocha. Se: Serrapilheira. So: Sol).
Figure 5
Percent distribution of species colonization on substrates. Tr: Tree trunk. Fo: Leaves. Ro: Rock. Se: Litter. So: Soil.
Dentre as briófitas endêmicas do Brasil, 49 espécies foram encontradas no Parque das Neblinas, sendo entre estas, vinte e quatro novas ocorrências para o Estado de São Paulo: Archilejeunea badia (Spruce) Steph., Calypogeia miquelii Mont., Ceratolejeunea rubiginosa Gottsche ex Steph., Cololejeunea minuscula Pócs, Cryphaea filiformis (Hedw.) Brid., Dicranella subsulcata (Hampe) Hampe, Fissidens wallisii Müll. Hal., Frullania intumescens (Lehm. & Lindenb.) Lehm. & Lindenb., Jungermannia crassula Nees & Mont., Lejeunea atlantica C.J. Bastos & Gradst., Lejeunea catinulifera Spruce, Lejeunea longidentata C.J. Bastos, et al., Lejeunea ramulosa Spruce, Marchesinia bongardiana (Lehm. & Lindenb.) Trevis., Mnioloma parallelogramma (Spruce) R.M.Schuster, Neesioscyphus bicuspidatus (Steph.) Grolle e Orthostichopsis tijucae (Müll. Hal.) Broth., Plagiothecium novogranatense (Hampe) Mitt., Radula xalapensis Nees & Mont., Rhacocarpus purpurascens (Brid.) Müll. Hal., Rhodobryum roseum (Hedw.) Limpr., Rhynchostegium serrulatum (Hedw.) A.Jaeger, Trachyxiphium saxicola (R.S. Williams) Vaz-Imbassahy & Costa, Trichosteleum sentosum (Sull.) A. Jaeger.
Das espécies encontradas no Parque das Neblinas, 38% (145 espécies) são de ocorrência restrita à Mata Atlântica. Este bioma exibe uma notável diversidade de espécies e um elevado nível de endemismo tanto para a flora vascular (Tabarelli et al. 2005) quanto para a brioflora (Costa & Luizi-Ponzo, 2010). Os fragmentos remanescentes da Mata Atlântica enfrentam diversas perturbações de origem antrópica, incluindo a exploração madeireira, a caça ilegal de animais, a coleta ilegal de plantas, a introdução de espécies exóticas e a expansão urbana, visto que essa região abriga a maior concentração populacional do Brasil (Galindo-Leal & Câmara 2005). A fragmentação e o desmatamento da Mata Atlântica representam uma ameaça evidente para a diversidade de espécies de briófitas. Portanto, é importante destacar que o Parque das Neblinas desempenha um papel crucial como um remanescente significativo da Mata Atlântica, servindo como um refúgio para as briófitas endêmicas, uma vez que abriga um grau elevado de espécies restritas a esse bioma.
Além disso, a partir das informações obtidas no atual estudo, é possível desenvolver um material importante para o Plano de Manejo do Parque das Neblinas, como um guia de identificação e/ou um material educativo para o conhecimento das briófitas da área. A existência do Parque das Neblinas, assim como outras reservas no estado, garante a proteção das espécies e o desenvolvimento de campanhas em prol da conservação e educação ambiental.
Agradecimentos
Ao Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), por fornecer a infraestrutura necessária para realização deste trabalho. À administração e monitores do Parque das Neblinas, pela autorização concedida e pelo auxílio nas saídas de campo. Aos especialistas Dra. Juçara Bordin, Dr. Leandro A. Amélio e Me. Fúvio Oliveira da Silva, por toda ajuda em algumas identificações.
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Editado por
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Associate Editor:
Regina Hirai
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Nov 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
27 Maio 2024 -
Aceito
18 Jun 2024