Open-access Patrimônio industrial, identidade e memória: o caso do Vale do Ruhr

Resumo

Este artigo tem como objetivo descrever e analisar o processo de preservação e de refuncionalização do patrimônio industrial do Vale do Ruhr a partir de uma pesquisa de campo realizada na região entre outubro de 2023 e julho de 2024. Para tal finalidade, iniciaremos contextualizando o processo de industrialização e de desindustrialização ocorridos nos últimos 150 anos, no Vale do Ruhr, demonstrando suas conexões com a urbanização da área, bem como com a construção de uma identidade coletiva local fundamentada na memória do passado mineiro e industrial. Em seguida, demonstraremos como ocorreu o processo político e econômico que levou à formação da Rota do Patrimônio Industrial do Ruhr, um conjunto de espaços industriais de interesse histórico agora protegidos e reconvertidos a novas finalidades.

desindustrialização; patrimônio industrial; memória social

Abstract

This article aims to describe and analyze the process of preservation and repurposing of industrial heritage in the Ruhr Valley based on field research conducted in the region between October 2023 and July 2024. To achieve this, we will begin by contextualizing the industrialization and deindustrialization process that has been occurring over the last century and a half in the Ruhr Valley. We will demonstrate its connections with the urbanization of the area and the construction of a local collective identity grounded on the memory of the mining and industrial past. Then, we will explore the political and economic processes that led to the formation of the Ruhr Industrial Heritage Route, a collection of industrial sites of historical interest now protected and repurposed.

deindustrialization; industrial heritage; social memory

Introdução

O Vale do Ruhr, região no extremo oeste da Alemanha conhecida como Ruhrgebiet, tornou-se célebre por ser uma das mais importantes regiões industriais daquele país. Com 5,1 milhões de habitantes, o Ruhrgebiet é a maior área metropolitana da Alemanha e a quinta maior da Europa, atrás apenas de Paris, Madrid, Barcelona e Berlim (Statistikportal Ruhr, 2022). Parte do estado da Renânia do Norte-Vestfália, a região conta com mais de uma dezena de cidades muito bem conectadas pelos sistemas ferroviário e rodoviário, formando, desse modo, uma metrópole policêntrica (Reicher et al., 2020). Algumas das cidades mais importantes dessa região são: Dortmund, Bochum, Duisburg, Essen e Gelsenkirchen.

Durante pelo menos 100 anos, entre a metade do século XIX e a metade do século XX, o Vale do Ruhr foi um dos maiores centros industriais da Europa. Com economia baseada na mineração de carvão e na siderurgia, a região foi considerada o motor da industrialização alemã. A partir da década de 1950, a mineração de carvão entrou em crise e foi seguida pela indústria siderúrgica duas décadas depois. Como veremos adiante, as consequências sociais, econômicas, culturais e ambientais foram imensas. Centenas de minas e plantas industriais foram abandonadas, empregos foram dizimados e a região precisou engendrar formas de reestruturar sua economia e seu tecido urbano.

Se a hegemonia da economia e da sociedade industrial ficaram no passado do Ruhrgebiet, algo daquilo segue mantido vivo pela população e pelos governantes: a memória e a identidade. Um bom exemplo disso é a Route der Industriekultur. Dezenas de minas, fábricas, canais e antigos depósitos de sedimentos foram convertidos em parques, museus e espaços para eventos diversos, formando a referida rota turística e cultural que apresenta 150 anos de cultura industrial alemã em um trajeto de 400 quilômetros com 27 pontos de interesse (parques, museus, centros de espetáculos e convenções, centros de documentação), 17 mirantes e 13 povoações, todos muito bem conservados.

Neste artigo, vamos apresentar os resultados de um estudo de caso realizado in loco sobre a refuncionalização do patrimônio industrial do Vale do Ruhr. Tal estudo foi guiado pela seguinte questão: como, por que e para quem o Vale do Ruhr preservou seu patrimônio industrial? Para responder a referida indagação, iremos recorrer à produção bibliográfica existente sobre o tema, examinar documentos e analisar os locais de identidade e memória do patrimônio industrial do Ruhr. Entre outubro de 2023 e julho de 2024, foram visitadas 13 cidades do Ruhrgebiet1 e 13 pontos da Rota do Patrimônio Industrial do Ruhr,2 incluindo parques, museus, mirantes e bairros operários. Durante as visitas, foram entrevistados pesquisadores (sociólogos, historiadores e urbanistas), museólogo, curadores, artistas independentes, ex-operários, sindicalistas e políticos locais com os quais se mantiveram, também, conversas informais.

Industrialização e desindustrialização

O processo de urbanização do Vale do Ruhr está diretamente associado à mineração de carvão. As primeiras minas da região surgiram ainda no século XIII, quando o Ruhrgebiet ainda era um território majoritariamente rural, com algumas cidades medievais. Entre elas, algumas eram parte da Liga Hanseática. Naquele tempo, as minas de carvão eram pequenas, escassas e localizadas na superfície. A mineração era uma atividade secundária para os camponeses. Isso começou lentamente a mudar no século XVII, por ocasião da Guerra dos Trinta Anos, quando Essen passou a usar o carvão em maior escala para alimentar as forjas que os ferreiros usavam para produzir pequenos armamentos, iniciando a profunda relação da cidade com a indústria bélica (Harris, 1946).

Foi somente no século XIX que a mineração realmente mudou a história do Vale do Ruhr para sempre.3 No início daquele século, havia 127 minas de carvão na região. Em 1870, esse número mais do que dobrou. Tal evolução está associada, entre outros fatores, ao surgimento do motor a vapor, que facilitou o bombeamento da água, a perfuração e ventilação dos túneis e a suspensão dos trabalhadores e do carvão extraído. A produção média anual por mina cresceu de 50 mil toneladas em 1870 para 500 mil toneladas em 1909 e 1 milhão de toneladas em 1937. A produção de carvão no Ruhrgebiet foi três vezes maior que a da França e maior do que a da União Soviética inteira em 1937 (ibid.).

A partir da metade do século XIX, a indústria siderúrgica floresceu na região, tornando o Vale do Ruhr o motor da industrialização alemã. A conjunção de uma vasta reserva de carvão de qualidade para alimentar os grandes fornos da indústria siderúrgica; de uma boa conexão ferroviária com outras regiões do país (especialmente após a abertura da ferrovia Köln-Minden); da relativa proximidade com Siegerland, que provia o minério de ferro; da crescente demanda por aço; do protecionismo econômico propiciaram a proliferação de indústrias que combinavam diferentes estágios de produção (Feldenkirchen, 2006). Duas empresas foram particularmente importantes para o Vale do Ruhr: a Bochumer Verein, surgida na segunda metade do século XIX, na cidade de Bochum e a Krupp AG, cujo início das operações remonta ao princípio de século XIX, na cidade de Essen. Ambas cumpriram um papel importante para a unificação alemã, provendo o aço necessário para a construção das ferrovias que conectaram as distintas regiões do Estado nascente e fornecendo armamentos para as guerras contra a Áustria (1866) e a França (1870-1871).

O processo de industrialização no Vale do Ruhr foi marcado por duas características gerais: a rapidez e a falta de planejamento (Berger e Golombeck, 2020). Tais características eram fruto da pressa, uma vez que o desenvolvimento industrial alemão se deu de maneira tardia em relação a outros estados europeus, como a Inglaterra e a França. Associadas às citadas características, podemos assinalar, também, a desordenada urbanização, o vertiginoso crescimento populacional e o expressivo impacto ambiental.

Até 1823, Essen não havia expandido os seus limites para fora dos seus muros medievais. No início do século XIX, a soma da população de Bochum, Essen e Dortmund não passava de 12 mil pessoas (Pounds, 1952). Em 2023, a população das três cidades juntas chega a quase 1,5 milhão de pessoas (Statistikportal Ruhr, 2022). Esse crescimento populacional estava associado à evolução desordenada das cidades, que acompanhava o surgimento das minas e fábricas em seus diferentes estágios de desenvolvimento. Assim, segundo Wehling (1982), o Vale do Ruhr acabou por apresentar padrões desiguais de urbanização e de dinâmicas urbanas.

O expressivo crescimento populacional não seria possível sem o massivo fluxo migratório que pode ser dividido em três ondas. A primeira, ocorrida na metade do século XIX, atraiu trabalhadores de distintas regiões da Prússia, em especial da Silésia e de Posen, hoje parte dos territórios polonês e checo. A segunda onda ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, quando mais de 13 milhões de pessoas fugiram do leste alemão. Uma parcela delas encontrou emprego nas minas e fábricas do Ruhrgebiet. A terceira onda ocorreu nos anos 1950, quando, devido ao boom econômico do pós-guerra, o governo da República Federal da Alemanha recorreu a acordos com outros países para atrair mão de obra, os chamados Gastarbeiter (trabalhadores convidados). O primeiro acordo foi assinado com a Itália em 1955. Em seguida, outros acordos foram assinados com os governos espanhol, turco, marroquino, português, tunisiano e iugoslavo (Nogueira, 2018). Até hoje, a região segue como um destino para imigrantes. Dos poucos mais de 5 milhões de habitantes, 891 mil são de nacionalidade estrangeira. Destes, os maiores grupos são turcos (20%), sírios (12%), ucranianos (6%) e poloneses (6%) (Statistikportal Ruhr, 2022).

A rápida e desordenada industrialização no Vale do Ruhr também produziu graves consequências para o meio ambiente: “[...] a poluição era generalizada, as árvores foram danificadas, as colheitas foram reduzidas e os rios ficaram entupidos com resíduos e sujeira” (Brüggemeier, 1994, p. 48; tradução nossa). A poluição dos rios foi associada à epidemia de febre tifoide que, nos primeiros anos do século XX, matou mais de 3 mil pessoas na região. Não menos problemática era a poluição do ar. As cidades do Ruhrgebiet viviam sob uma forte névoa e a total falta de controle sobre o lançamento de óxido sulfuroso era percebida nas plantações, cujos vegetais mal cresciam, e nas árvores, cujas copas eram cada vez menores (ibid.).4

O ciclo industrial do Vale do Ruhr começou a definhar a partir da crise do carvão de 1959 (Berger e Golombeck, 2020), causada por sua baixa demanda e, consequentemente, pela concorrência com o petróleo e o gás natural. Aquela foi a primeira crise encarada pela Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, embrião da União Europeia (UE), que chegou a ter sua existência colocada em risco (Economic and Political Weekly, 1959). Entre 1957 e 1967, 267 mil trabalhadores perderam seus empregos no Vale do Ruhr (Oei, Brauers e Herpich, 2020). Graças à lei de codeterminação das indústrias do aço e do carvão (Montan-Mitbestimmungsgesetz), de 1951, que previa uma participação paritária entre trabalhadores e patrões nos comitês executivos das empresas, as consequências negativas da crise puderam ser minimizadas: turnos foram encurtados e trabalhadores foram aposentados com apoio do Estado. Ainda assim, demissões foram inevitáveis. Para a sorte de muitos, a crise do carvão ocorreu nos últimos anos do milagre econômico alemão, o que permitiu que parte da mão de obra mineira fosse absorvida pela indústria local (ibid.).

Não tardaria para a indústria siderúrgica também entrar em crise. Hospers (2004) recorda que a crise do petróleo, nos anos 1970, diminuiu a demanda por carros e navios. Aliado a isso, aumentavam as importações de países cujo salário médio era bem mais baixo que o da Alemanha, com os quais as indústrias do Ruhr não podiam competir. A primeira estratégia de reorientação econômica do Ruhr, o Programa para o Desenvolvimento do Ruhr, falhou e o número de desempregados na região subiu de 12 mil, em 1970, para 100 mil em 1976 (Oei, Brauers e Herpich, 2020). Medidas realmente satisfatórias só foram efetivadas com a regionalização das políticas de reestruturação econômica, a partir dos anos 1980, focadas na diversificação da economia e na qualificação profissional, o que incluiu a abertura de inúmeras universidades.

Hoje, apesar de algumas indústrias de aço extremamente especializadas continuarem operando na região, a indústria pesada do Ruhr tornou-se muito mais memória do que presença viva (Berger e Golombeck, 2020). Para se ter ideia do tamanho da transformação pela qual o Ruhrgebiet passou, é preciso ter em mente que, em 1961, 61% da população da região trabalhava no setor secundário, e 36% no setor de serviços. Já no ano 2000, 33% da população trabalha no setor secundário, enquanto 65% trabalham no setor de serviços (Oei, Brauers e Herpich, 2020). Isso sem contar a extinção da mineração de carvão. Em 1958, existiam 138 minas em operação, empregando pouco menos de meio milhão de pessoas. Quarenta anos depois, apenas 13 minas operavam, empregando 60 mil pessoas (Goch, 2002). Atualmente, não existem minas em operação no Vale do Ruhr.

Identidade e memória

Em artigo sobre as memórias de uma cidade mineradora do Brasil, Maia e Silva (2019, p. 67) afirmam que “o contraponto e a própria condição de existência da memória é o esquecimento. A memória é seletiva. Só lembramos, porque esquecemos”. Sendo assim, antes de analisar a preservação do patrimônio industrial do Vale do Ruhr, é conveniente questionarmos quais memórias foram selecionadas e o porquê da seleção. Desde já, adiantamos que a resposta está diretamente vinculada à identidade produzida e compartilhada pela população daquela região.

Anderson (2008) foi quem primeiro propôs uma interpretação da nação como uma comunidade imaginada, isto é, uma coletividade unida pela força de determinados signos compartilhados. Quando seu mais famoso livro foi lançado, a ideia do imaginário, ou seja, de uma rede simbólica que opera como uma dimensão constituída e constituinte da vida social, já havia sido apresentada por Castoriadis (1982). A novidade trazida por Anderson foi a possibilidade de compreendermos as nações para além das suas propriedades materiais e tangíveis, percebendo-as a partir da relação entre as citadas propriedades e o compartilhamento de imaginários por pessoas que se entendem e se reconhecem como parte de um grupo, apesar de jamais terem tido qualquer contato entre si.

Segundo Anderson (2008, p. 33), “qualquer comunidade maior que a aldeia primordial do contato face a face (e talvez mesmo ela) é imaginada”. Tendo isso em vista, podemos observar o Ruhrgebiet como uma comunidade imaginada, e a preservação do seu patrimônio industrial como elemento determinante para essa imaginação e para a conservação da sua identidade. A referida identidade, longe de ser um produto acabado e congelado, deve ser lida como um processo que é fruto de múltiplas interações sociais – mediadas ou não por símbolos, mas certamente permeadas pelos mais diversos imaginários –, o que se assemelha ao que Domingues (1999) chamou de subjetividade coletiva.

Para compreendermos o processo de produção da identidade coletiva do Ruhrgebiet, comecemos levando em conta sua dimensão temporal. Hoje existe uma identidade comum do Vale do Ruhr exibida em camisas e gorros com picaretas e marretas cruzadas ou com a frase Glück Auf (expressão própria dos mineiros para desejar boa sorte); em piadas internas como, por exemplo, chamar os abundantes pombos de flamingos do Ruhr; em eventos como o Ruhrpott Rodeo, um dos maiores festivais de música punk da Alemanha; nos regionalismos linguísticos como iniciar uma frase com Hömma (escute!). Contudo, nem sempre foi assim. Van Houtum e Lagendijk (2001) recordam que, outrora, a fidelidade das pessoas era muito mais vinculada à cidade natal do que à região.5 Inclusive, havia uma rivalidade saudável entre as cidades, algo também alimentado pelos times de futebol do Vale do Ruhr. Exemplo disso foi a disputa, ocorrida nos anos 1970, entre o VfL Bochum, equipe da cidade de Bochum, e o FC Schalke 04, equipe da cidade de Gelsenkirchen, sobre o direito de chamar o próprio estádio de Ruhrstadion. Ao fim, o VfL Bochum foi quem conseguiu manter a exclusividade sobre o nome do tradicional estádio localizado na Castroper Straße 145, local onde desde 1911 são realizadas as partidas de futebol da cidade.

O futebol certamente também é um elemento imprescindível para a construção da identidade do Vale do Ruhr.6 Em visita ao Ruhrstadion (agora Vonovia Ruhrstadion, após arrendar os direitos de propriedade do nome para uma empresa multinacional do ramo imobiliário sediada na cidade) organizada pela Universidade do Ruhr, fui guiado por um senhor de aproximadamente 75 anos, torcedor do VfL Bochum e voluntário. Bastante orgulhoso, o senhor mostrou todo o estádio, inclusive o túnel de entrada dos jogadores, que simula de maneira realista o interior de uma mina de carvão. Ao ser perguntado sobre a possibilidade de demolirem o antigo estádio para a construção de um novo, algo aventado por políticos locais e dirigentes esportivos, o guia cortou a pergunta: “Sem chance. Isso aqui é a nossa história. Podem modernizar e aumentar, mas não destruir”. Tal afirmação demonstra que, apesar de o estádio não ser oficialmente parte do patrimônio industrial do Ruhr, ele é considerado por muitos um símbolo da identidade Ruhrgebiet.

Não muito diferente é a relação do FC Schalke 04, tradicional clube de Gelsenkirchen, com a mineração:

Assim como a indústria do carvão, o futebol – e especialmente o FC Schalke 04 – está profundamente ligado ao chamado “Ruhrgebiet”, a região do Ruhr. Os homens que fundaram o Schalke em 1904 eram pessoas da classe trabalhadora que completaram o aprendizado na mina. A mineração é, portanto, uma parte essencial da nossa história fundadora; nossos pais fundadores nasceram do carvão. (FC Schalke 04, 2018; tradução nossa)

Após o fechamento da última mina de carvão do Ruhrgebiet, em 2018, o FC Schalke 04 organizou uma despedida emocionada em seu estádio, como podemos ver em foto da torcida do clube segurando papéis pretos, representando o “ouro negro” do Ruhr, e a imagem de um mineiro (Figura 1).

Figura 1
– Homenagem da torcida do FC Schalke 04 aos mineiros do Ruhrgebiet

Se a ideia do Ruhrgebiet como uma região singular e uma identidade compartilhada surgiu no período entreguerra – impulsionada pela ocupação francesa e belga ocorrida na região7(Berger, 2019) –, foi a partir dos anos 1960, com a crise da mineração e da indústria, que o interesse no passado e na memória do Vale do Ruhr surgiram (Berger e Golombeck, 2020). A partir de então, a herança industrial passa a ser um elemento crucial para a composição dessa identidade e, como bem recordam Berger e Wicke (2014, p. 232), “é difícil pensar em alguma outra região urbana do mundo em que o patrimônio industrial tenha assumido um papel tão significativo na representação pública”.

A relação entre um determinado patrimônio histórico, a memória e a identidade coletiva de uma região não pode ser lida como mecânica, estática ou unilateral. Trata-se de um processo de retroalimentação contínuo entre indivíduos, tempo e espaço. Augusto (2011) identifica o compartilhamento coletivo de memórias como um elemento de garantia daquilo que Giddens (1991) chamou de “segurança ontológica”, isto é, na manutenção da sua identidade, ambiente a material circundante. Ela ainda afirma que, no presente, a relação com a memória vem passando por transformações, entre as quais está a relação do presente com o futuro e a perda da confiança no progresso como sentido histórico. Justamente o progresso técnico do qual as grandes indústrias, como as do Vale do Ruhr, foram a máxima representação e que foi objeto de uma radical e inovadora crítica produzida pelo alemão Walter Benjamin (2005a). Dessa forma, o patrimônio industrial do Ruhrgebiet também repousa ambiguamente como monumento à cultura e à barbárie, à segurança ontológica e à “desconfiança com qualquer forma de entendimento mútuo: entre as classes, entre os povos, entre os indivíduos” (Benjamin, 2005b, p. 34).

A memória, vivida ou transmitida, é uma experiência que pode ser, simultaneamente, coletiva e individual. Em um livro sobre o romantismo como movimento cultural crítico à modernidade, Löwy e Sayre (2015) afirmam que tal movimento, geralmente fundamentado em uma idealização do passado, pode assumir formas semelhantes, porém com conteúdos distintos: grosso modo, progressistas ou conservadores. A indústria, como um dos grandes símbolos da modernidade e do progresso, também pode ser alvo de críticas e idealizações diversas. Ao analisar o caso do Ruhgebiet, Berger (2019) chegou à conclusão similar, afirmando a existência de nostalgias reacionárias e progressistas.

A memória é um conjunto de fragmentos que podem ser organizados de infinitas maneiras. Se o anjo da história, como afirmou Benjamin (2005a), vê uma catástrofe que acumula ruínas, podemos pensar que os fragmentos que formam a memória são estilhaços retirados das ruínas da história.8 A depender de como tais fragmentos se organizam, a nostalgia surge como memória sentida. Assim, a preservação do patrimônio industrial do Vale do Ruhr é, também, alimento para a nostalgia da população daquela região.

Berger (2019) analisou a nostalgia existente no Vale do Ruhr não como fruto de memória antagonista, mas sim agonista, isto é, “reflexiva, multiperspectiva e contra-hegemônica” (ibid., p. 41). Segundo ele, a memória agonística seria capaz de absorver ambiguidades como, por exemplo:

[...] reconhecer as vítimas deste passado industrial e presente desindustrializante e apoiar as suas (justas) causas. Ao mesmo tempo, os quadros de memória agonísticos trariam a perspectiva desta vítima para o diálogo com outras perspectivas, produzindo assim um debate políticos sobre a desindustrialização e opondo-se à sua compreensão (agora dominante) como força natural imutável. Também procuraria compreender as condições sociopolíticas de nosso presente cada vez mais pós-industrial, apontando para diferentes futuros possíveis que surgem de diversas representações do passado. (Ibid., p. 41; tradução nossa)

Assumindo que a memória agonística é capaz de lidar com ambiguidades, Berger (2019) apresentou uma tipologia das nostalgias industriais do Vale do Ruhr com sete camadas não necessariamente excludentes. A primeira camada consiste no orgulho relacionado com a ascensão de uma região industrial e da sua particular identidade, história e estética. A segunda camada está relacionada não com uma identidade regional, mas nacional, grande parte baseada em uma posição econômica vinculada à importância do Vale do Ruhr para a história alemã. A terceira camada está relacionada com a modernidade artística: além de importantes museus, as cidades da região possuem inúmeras construções modernistas, muitas delas projetadas por arquitetos próximos do movimento Bauhaus ou da Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit). A quarta camada diz respeito à solidariedade construída entre os membros da classe trabalhadora do Ruhrgebiet. A quinta camada está relacionada com a ideia de receptividade e tolerância construída após muitas décadas recebendo migrantes de diferentes origens. A sexta camada diz respeito aos muitos problemas ambientais do passado que hoje alimentam a possibilidade de construção de um futuro mais sustentável. A sétima e última camada está vinculada à cultura cotidiana do Vale do Ruhr – com cervejas, alimentos, pombos, elementos registrados por historiadores que fundaram a história oral como metodologia de pesquisa na Alemanha.

As origens da preservação e da refuncionalização

Se, como acabamos de expor, o passado industrial alimenta a memória e a nostalgia da população do Vale do Ruhr, veremos agora que o caminho inverso também é verdadeiro: a memória e a nostalgia da população tiveram fulcral importância para a preservação do patrimônio industrial. Desde já, adiantamos que a opção política e econômica pela preservação e refuncionalização do referido patrimônio não foi óbvia ou natural, mas, sim, um movimento de baixo para cima (bottom-up) que envolveu a mobilização de parte da sociedade que batalhou por tal objetivo.

Como exposto, a partir da década de 1960, uma série de iniciativas foram criadas para minimizar os efeitos da desindustrialização no Vale do Ruhr, iniciativas que apresentavam um caráter conservador, objetivando a manutenção das antigas estruturas econômicas. Caracterizadas pelo paradigma “nenhum mineiro deve estar desempregado” e fundamentadas no forte ordenamento corporativista surgido no pós-guerra, tais políticas tiveram um alto custo e obtiveram um resultado tímido no que diz respeito à manutenção de empregos e do bem-estar social na região. A partir de 1973, a taxa de desemprego disparou e até hoje jamais voltou aos antigos níveis. No final dos anos 1980, a partir da regionalização das políticas que buscavam orientar as mudanças estruturais, um novo caminho foi experimentado (Dahlbeck et al., 2021). Podemos citar o alto investimento na construção de universidades, transformando o Ruhrgebiet no Wissensregion Ruhr (Região Ruhr do Conhecimento); a diversificação econômica orientada para a especialização; e a exploração do potencial econômico endógeno, que incluiu esforços para o desenvolvimento do setor cultural, englobando a preservação do patrimônio industrial.

O marco da virada cultural ocorrida no Vale do Ruhr, cujo cerne foi a refuncionalização e a preservação do patrimônio industrial, consistiu na realização da Internationale Bauausstellung Emscher Park (IBA), iniciada em 1989 – uma exposição arquitetônica focada na implementação de projetos de ordenamento paisagístico e de desenvolvimento urbano que envolveu mais de 800 quilômetros quadrados, com intuito de renovar a economia e a cultura do Vale do Ruhr, bem como preservar o meio ambiente da região. Dezessete cidades foram incluídas no programa, a maioria delas na parte norte do Vale do Ruhr, área que costuma apresentar os piores indicadores econômicos e sociais da região. Ao fim da exposição, 117 projetos foram implementados:

Tratava-se de mais do que apenas limpeza, reforma ou reparo. Ao criar um (novo) sentido de identidade, a IBA deu uma contribuição especial para uma reestruturação consciente da região no meio de uma mudança estrutural fundamental. Os projetos do IBA foram agrupados em seis eixos norteadores centrais: trabalho no parque, novas construções e modernização de conjuntos habitacionais, renovação ecológica do sistema Emscher, promoção do desenvolvimento urbano, estímulos sociais para o desenvolvimento urbano e o estabelecimento de uma estrutura de parques regionais. (Internationale Bauausstellung Emscher Park, s.d.; tradução nossa)

Além de marco do processo de preservação e refuncionalização do patrimônio industrial do Vale do Ruhr, a IBA teve fundamental importância para a valorização do patrimônio imaterial da região (Berger e Wicke, 2014). Alimentos (currywurst), esportes (futebol) e conflitos (greves) passaram a ser vistos como elementos da cultura local e relacionados à identidade industrial. O mesmo pode ser dito sobre o conceito de solidariedade entre mineiros (Kumpel) e sobre os quiosques (Kiosk), abundantes no Ruhrgebiet, que vendem cervejas, tabaco e alguns outros produtos.

É necessário destacar que, nem sempre, o poder público demonstrou priorizar a preservação do patrimônio industrial. Paralelamente à organização da IBA, em 1992, a cidade de Oberhausen autorizou a demolição de estruturas fabris em uma área da antiga empresa de mineração Gutehoffnungshütte. Quatro anos depois, no mesmo local, foi inaugurado o Westfield Centro, um gigantesco shopping center que hoje conta com a segunda maior praça de alimentação da Europa.

A partir da realização da IBA, começou a ser ventilada a ideia da criação de um parque nacional, inspirada no exemplo do Lowell National Historical Park, fundado em 1978, em Massachusetts, para preservar e difundir a história da indústria têxtil local. A ideia foi prontamente rejeitada pela elite política e empresarial dos municípios do Ruhrgebiet, cujo temor era a limitação do potencial de desenvolvimento da região. Segundo Berger e Wicke (2014), a Rota do Patrimônio Industrial do Ruhr surgiu como um compromisso estabelecido entre políticos, empresários e movimentos que defendiam a preservação e a refuncionalização dos espaços industriais históricos. A maneira encontrada para o estabelecimento do referido compromisso foi a criação da rota que conectava distintos pontos de interesse sem, no entanto, operar como um parque nacional. Na primeira década do século XXI, contando com um orçamento fixo, a rota foi ampliada e ganhou ainda mais popularidade, atraindo moradores e visitantes da Alemanha e dos mais diversos países do mundo.

Em 2001, surge um novo marco para a preservação do patrimônio industrial do Vale do Ruhr: o complexo industrial da Mina de Carvão Zollverein foi considerado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) um patrimônio da humanidade, o segundo ligado à história industrial da Alemanha. Hoje o país possui 52 locais considerados patrimônios da humanidade pela Unesco. Apenas três deles apresentam vínculos com o passado industrial: a Siderúrgica de Völklingen, localizada na cidade homônima e inscrita em 1994; a Mina de Carvão Zollverein, localizada em Essen e inscrita em 2011; e a Fábrica Fagus, localizada em Alfeld e inscrita em 2011. O reconhecimento por parte da Unesco foi de grande importância, uma vez que certifica o valor arquitetônico e cultural, material e imaterial desses espaços para a história da humanidade.

Um terceiro marco para a preservação do patrimônio industrial do Vale do Ruhr se deu com a premiação do Ruhr (representado pela cidade de Essen) como capital europeia da cultura no ano de 2010, o que significou um nada desprezível aporte financeiro da UE e do Estado alemão para a região. O lema adotado pela candidatura não poderia ser mais representativo: "Mudança através da cultura – cultura através da mudança”. Não menos representativo das transformações estruturais que a região viveu foi o título da matéria na qual a empresa estatal de comunicação Deutsche Welle (2010) anunciou a premiação: “Do carvão à cultura”. Apesar de a maioria dos projetos relacionados à premiação não estar diretamente ligada ao passado industrial, ele não foi ignorado – até mesmo a inauguração simbólica do projeto ocorreu na Mina Zollverein, agora convertida em Museu do Ruhr. Desde então, o local ainda passou a abrigar uma enorme exposição permanente sobre a história do Vale do Ruhr, abrangendo, como não podia ser diferente, seu passado mineiro e industrial.

Para os três marcos aqui listados existirem, foi necessário empreender anos de mobilização social e negociação política. Nos anos 1960, os políticos locais e nacionais estavam mais preocupados em combater a desindustrialização do que em preservar os esqueletos das grandes indústrias. Os poderosos sindicatos da região consideravam a preservação do patrimônio industrial um modo de “assassinar empregos” e boa parte dos trabalhadores aposentados só queria ver as minas fechadas de maneira rápida e barata (Berger, Wicke e Golombek, 2017). Foi a partir da articulação entre intelectuais, acadêmicos e a população do Vale do Ruhr que a preservação e a refuncionalização do patrimônio industrial foram impulsionadas.

Berger, Wicke e Golombek (2017) listam três casos emblemáticos de mobilização da sociedade civil que podem ser considerados os embriões do movimento pela preservação e a refuncionalização do patrimônio industrial do Ruhrgebiet. O primeiro caso ocorreu na segunda metade dos anos 1960, quando historiadores, arquitetos, estudantes e artistas organizaram um volumoso abaixo-assinado contra a demolição do edifício histórico da Mina Zollern, fechada em 1966, em Dortmund. A construção, projetada por Bruno Möhring em estilo art nouveau, foi preservada após a petição ter sido entregue ao governador da Renânia do Norte-Vestfália. O segundo caso foi chamado de iniciativa dos trabalhadores (Arbeiterinitiativen), um grande movimento pela preservação de moradias operárias que envolveu os habitantes desses bairros, estudantes e professores universitários. Em 1972, o assentamento Eisenheim, fundado em 1848, na cidade de Oberhausen, foi o primeiro bairro desse tipo a ser considerado um patrimônio industrial e receber proteção. O último caso listado foi o da Mina Carl, fundada em 1886, em Essen. Em 1977, o pastor progressista Willi Overbeck começou a mobilizar jovens da classe trabalhadora para organizar um centro sociocultural no complexo da antiga mina, ameaçada por um plano de rezoneamento conduzido pelo conselho municipal. Em 1985, o local recebeu o título de patrimônio industrial.

Duas condições, uma política e outra cultural, podem ser apontadas como facilitadoras para o surgimento e a manutenção do processo aqui narrado. A primeira diz respeito ao governo social-democrata9 que estava à frente da Renânia do Norte-Vestfália. Em 1980, o então governador e futuro presidente da República Johannes Rau estabeleceu o Ministério para o Desenvolvimento Urbano Regional, no qual estava inserido o Departamento de Monumentos e Preservação de Monumentos, criando um elo institucional entre a preservação de monumentos e o planejamento urbano. A simples preservação desses espaços não seria possível sem a refuncionalização das suas estruturas. Portanto, eram necessários planejamento e orçamento destinados a tal finalidade, o que se tornou realidade com a criação do referido ministério (Oerters, 2015). Naquele momento, o Partido Social-Democrata passou a ver o patrimônio industrial não apenas como um elemento para a transformação estrutural da economia do Vale do Ruhr, mas também como um fundamento para a construção de um Vale do Ruhr social-democrata a partir da manutenção da memória operária (Berger, Wicke e Golombek, 2017).

A segunda condição que propiciou a preservação e a refuncionalização do patrimônio industrial do Ruhrgebiet foi a criação e a popularização do conceito de cultura industrial (Industriekultur), cuja autoria é atribuída ao historiador da arte Tilmann Buddensieg. Enquanto o trabalho de Buddensieg, nos anos 1970, focava a questão da estética industrial, Glaser (1981), na década seguinte, passou a pensá-lo sob a ótica social e cultural. Não tardou para o conceito ser utilizado como ferramenta de conexão entre a preservação dos espaços industriais, os espaços urbanos e a vida cotidiana, operando como um dos elementos que ajudou a dar legitimidade aos pleitos da sociedade civil pela conservação das antigas indústrias (Berger e Wicke, 2014).

Exemplos de preservação e refuncionalização no Vale do Ruhr

Primeiramente, é pertinente destacar que o conjunto do patrimônio industrial do Ruhrgebiet pode ser dividido em duas categorias: imaterial e material. Na primeira categoria, podemos encontrar as comidas, as expressões idiomáticas, o esporte, os festejos e os símbolos ligados à mineração. Na segunda categoria, a que nos interessa observar com mais atenção neste artigo, encontramos as estruturas materiais propriamente ditas. Em segundo lugar, cabe salientar que nem todo patrimônio industrial do Vale do Ruhr é parte da Rota do Patrimônio Industrial do Ruhr. Dois exemplos de construções conectadas ao passado industrial da região que não fazem parte da referida rota é o Ruhrstadion, o estádio do time VfL Bochum, e o Dortmunder U, também conhecido como Torre U (U-Turm). O edifício de 70 metros de altura, inaugurado em 1927, no centro da cidade de Dortmund, abrigou a cervejaria Dortmunder Union-Brauerei, fundada em 1873. Em 1968, uma letra “u” de quatro faces folheadas a ouro foi colocada no topo do prédio. A marca acabou se tornando símbolo da cidade. Sessenta e sete anos após inauguração do prédio, a cervejaria buscou um novo local para suas operações, e o Dortmunder U foi abandonado. Apenas em 2008, no contexto da RUHR.2010 – Capital Europeia da Cultura –, o edifício foi objeto de um processo de refuncionalização, passando a abrigar o Museu Ostwall, um campus universitário, salas de exposições e restaurantes.

Analisando propriamente a Rota do Patrimônio Industrial do Ruhr, podemos produzir dois tipos de classificações sobre os seus pontos de interesse: uma a partir da função original, outra a partir da sua preservação e refuncionalização. Segundo a primeira forma de classificação, podemos observar locais que foram minas, indústrias, portos, armazéns, estações de água ou energia e depósitos de detritos. Já de acordo com a segunda forma de classificação, podemos observar locais que se tornaram museus, parques, instituições de ensino e pesquisa, centro de convenções e mirantes. Cabe ressaltar que existem locais que podem ser enquadrados em mais de uma categoria, como o Wetspark, em Bochum – parque e centro de convenções. Há, ainda, duas ressalvas às categorias: os espaços de habitação e os monumentos. Com raras exceções – como, por exemplo, a Der Hohenhof, uma casa que se tornou um museu –, os espaços de habitação e os monumentos, como o Berger-Denkmal auf dem Hohenstein, seguem mantendo sua função original.

Injustamente, os espaços de habitação, antigos bairros operários, talvez sejam os pontos menos visitados da Rota do Patrimônio Industrial do Ruhr, por não possuírem o apelo turístico ou de lazer familiar que outros pontos têm, tornando-se, então, destinos procurados quase sempre por arquitetos, urbanistas ou apreciadores da Industriekultur. Ao chegar no Arbeitersiedlung Dahlhauser Heide, o visitante depara-se com um pequeno bairro de ruas curvas, no estilo cidade-jardim. As casas, quase todas geminadas, construídas em Heimatstil10 e com espaço para horta, foram erguidas no início do século XX, pelo grupo Krupp, para abrigar seus funcionários. Se os atuais moradores não são mais mineiros ou funcionário das mineradoras, as memórias dos tempos de trabalho duro seguem vivas nas ruas batizadas com nomes de minas, nos antigos carrinhos de mineiros usados como grandes vasos de plantas ou na miniatura de uma torre de mineração utilizada como decoração no jardim.

Ao contrário dos espaços de habitação, a Mina Zollverein é um sucesso de público. Em seus mais de 100 hectares, o complexo recebe cerca de 1,5 milhão de visitantes todos os anos e é o maior atrativo turístico do Ruhrgebiet (Nordrhein-Westfalen, s.d.). Onde outrora funcionou a maior mina de carvão de Europa, hoje operam restaurantes; um hotel design com 67 quartos projetados individualmente e inspirados na cultura mineira; a Universidade de Artes Folkwang; o Centro Coreográfico PACT Zollverein; espaços para eventos públicos e privados; o Museu de Design Red Dot, um dos mais importantes museus do tipo no mundo; o enorme, completo e diverso Museu do Ruhr, que conta a história geológica, biológica, social, cultural e econômica do Vale do Ruhr. Como justificativa para ser considerada patrimônio industrial, a Unesco destacou a importância histórica da mina e "a combinação magistral de forma e funcionalidade na linguagem arquitetônica da Bauhaus” (Deutsche Unesco Kommission, s.d.; tradução nossa). Apesar da sua refuncionalização ter ocorrido como parte da IBA, após a mina fechar, em 1986, e o último forno ser desligado, em 1993, o terreno já havia sido comprado pelo Estado e o complexo estava protegido desde 1986, uma vez que a empresa detentora da usina planejava sua demolição.

Figura 2
– Mina Zollverein

Possivelmente, a mais gigantesca e impressionante estrutura industrial preservada no Ruhrgebiet seja aquela que hoje faz parte do Landschaftspark Duisburg-Nord, um parque paisagístico de 180 hectares localizado onde, por 84 anos, funcionou uma usina siderúrgica do Thyssen-Gruppe. Fechada em 1985, a usina foi refuncionalizada e entregue à população, seis anos depois, como parte da IBA. O projeto concebido pelo professor e arquiteto Peter Latz conjuga lazer, esporte, natureza e cultura industrial em um só lugar. Hoje o parque conta com jardins bem arborizados, ciclovias, brinquedos infantis, uma rota de escalada nas antigas estruturas da siderúrgica, mirantes, uma estação biológica e o maior tanque de mergulho indoor da Europa (45 metros de diâmetro e 13 metros de profundidade), dentro de um antigo gasômetro.

Figura 3
– Landschaftspark Duisburg-Nord

Um ponto bastante inusitado da Rota do Patrimônio Industrial do Ruhr é o Halde Rheinelbe. O que à primeira vista aparenta ser uma elevação natural no terreno do Ruhrgebiet, na verdade é uma pilha de rejeitos de mineração com 100 metros de altitude, localizada em Gelsenkirchen. Resquício da mina de carvão Rheinelbe, fechada em 1928, a pilha continuou sendo abastecida até 1999 com detritos de outras minas. Hoje o espaço recebe muitos visitantes, em especial ciclistas, interessados em subir até o topo da pilha de rejeitos e apreciar a vista para o Vale do Ruhr. O Halde Rheinelbe não só é um patrimônio industrial, como uma forte lembrança das consequências ambientais das antigas atividades econômicas da região.

Um exemplo de refuncionalização do patrimônio industrial do Vale do Ruhr que não poderia deixar de ser citado neste artigo é o Museu Alemão da Mineração (Deutsches Bergbau-Museum Bochum), o maior museu do tipo no mundo. Ao contrário de outros museus que fazem parte da Rota do Patrimônio Industrial do Ruhr, o Museu da Mineração foi originalmente aberto em 1930, muito antes do fechamento das minas, do início do processo de desindustrialização e das transformações estruturais que envolveram a preservação e a refuncionalização do patrimônio industrial do Ruhrgebiet. Desde a sua fundação, o museu mudou bastante, inclusive porque foi gravemente danificado por bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. Nos quase 100 anos que nos separam da sua fundação, ganhou uma exposição permanente; uma estrutura de roldana que pertencia à Mina Germânia Unida (Zeche Vereinigte Germania), da cidade vizinha de Dortmund; um túnel de 2,5 quilômetros que funciona como mina de demonstração bastante fiel ao modelo original e passou a abrigar um importante centro de documentação e pesquisa.

Figura 4
– Halde Rheinelbe

Conclusão

Neste artigo, engendramos um estudo de caso sobre a preservação e a refuncionalização do extenso patrimônio industrial do Vale do Ruhr, no extremo oeste da Alemanha. Iniciamos expondo a história da industrialização e desindustrialização da região, ressaltando o vínculo entre a difusão da indústria e da mineração e o processo de urbanização dessa área que hoje é considerada a maior metrópole do país. Em seguida, demonstramos a relação existente entre a identidade e a memória social e as estruturas físicas e simbólicas de determinado espaço urbano. Posteriormente, explicamos os processos político, econômico e social que garantiram a preservação e a refuncionalização do patrimônio industrial do Vale do Ruhr. Por fim, apresentamos alguns exemplos de espaços que foram protegidos e receberam novas funções sociais.

Iniciamos este artigo questionando: como, por que e para quem o Vale do Ruhr preservou seu patrimônio industrial? A partir desta pesquisa, que envolveu revisão bibliográfica, visita aos pontos de interesse e entrevistas com moradores locais e estudiosos sobre o tema, acreditamos ter encontrado a resposta. A preservação do patrimônio industrial do Vale do Ruhr ocorreu como parte de um contexto de transformação estrutural pelo qual passou a região. Após distintas tentativas de frear o processo de desindustrialização e a crise da mineração do carvão, as cidades do Vale do Ruhr conseguiram parcialmente se reinventar, a partir de um projeto regional articulado, estimulando matrizes econômicas mais modernas, mais diversas e mais sustentáveis.

Ainda que as mudanças estruturais no Vale do Ruhr abrissem espaço para uma discussão sobre o que fazer com os esqueletos dos mastodontes,11 não havia nenhuma garantia de que eles poderiam ser preservados. Ao contrário disso, o caminho habitual nas sociedades capitalistas, onde o espaço urbano é uma mercadoria valiosa (Rolnik, 2004), seria a cessão desses terrenos para o mercado imobiliário. Se as antigas estruturas industriais não foram demolidas para dar lugar a shopping centers ou condomínios residenciais, foi porque houve uma intensa mobilização da sociedade civil em defesa da preservação e da refuncionalização desses locais de identidade e memória. Tal mobilização foi eficaz ao valer-se de representações como o conceito de Industriekultur e de oportunidades políticas como a vigência de um governo social-democrata interessado em sustentar uma identidade operária bastante vinculada à social-democracia alemã.

Em suma, vimos como a permanência de uma determinada identidade compartilhada, a longevidade da memória social e a preservação e reconversão de patrimônios materiais podem operar como um processo circular, porém não estático, de retroalimentação. Não se trata, no entanto, de uma relação necessária. É possível preservar dada identidade coletiva e uma memória social sem as estruturas materiais com as quais elas se relacionaram. Da mesma forma, é possível manter um patrimônio histórico sem que com ele haja laços sociais de identificação. O que ocorreu no Ruhrbgebiet foi uma bem-sucedida associação contingente entre identidade, memória e preservação que logrou obter resultados formidáveis no que concerne ao planejamento de cidades capazes de conectar transformações estruturais, respeito à identidade e à história local e promoção de espaços públicos de qualidade para a população. Acreditamos que a experiência do Vale do Ruhr aqui narrada pode servir de exemplo para muitas cidades do Brasil e do mundo cujos espaços históricos, não apenas industriais, seguem como alvos de distintos ciclos de valorização imobiliária.

Nota de agradecimento

Este trabalho foi realizado com apoio da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação através do Programa de Cooperação Internacional – Programa de Pesquisa Brasil-Alemanha (Probral), processo n. 88887.700864/2022-00.

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  • WEHLING. H. W. (1982). Revising the Urban Structure of the Ruhr Region. GeoJournal, v. 6, n. 5, pp. 409-417.

Notas

  • 1
    Bochum, Bottrop, Castrop-Rauxel, Dortmund, Duisburg, Essen, Gelsenkirchen, Hagen, Hattingen, Herne, Oberhausen, Recklinghausen, Witten.
  • 2
    Arbeitersiedlung Dahlhauser Heide, Arbeitersiedlung Lange Riege, Deutsches Bergbau-Museum Bochum, Duisburger Innenhafen, Fernsehturm Florian, Gasometer Oberhausen, Halde Rheinelbe, Jahrhunderthalle Bochum, Landschaftspark Duisburg-Nord, LVR-Industriemuseum, Peter-Behrens-Bau, Nordsternpark Gelsenkirchen, Unesco-Welterbe Zollverein.
  • 3
    Não é nenhum exagero afirmar que a mineração mudou a história do Vale do Ruhr para sempre. As escavações necessárias para a atividade mineradora fizeram com que o terreno da região perdesse até 20 metros em relação à altitude original, tornando necessária a existência de estações de bombeamento de água que evitam o alagamento do Ruhrgebiet. Foi perguntado ao engenheiro responsável, durante visita a uma delas, por quanto tempo as estações precisariam funcionar. A resposta foi: “para sempre”.
  • 4
    O caso do Emscher é exemplar. O rio, que corta a parte norte do Vale do Ruhr por 80 quilômetros de Dortmund até o Reno, foi, por muitos anos, destino do esgoto das residências e dos resíduos das indústrias e minas de carvão, chegando a ser considerado biologicamente morto. Desde 1992, o Emscher passa por um processo muito bem-sucedido de restauração conduzido pela Emschergenossenschaft, uma corporação pública centenária que cuida das suas águas. Após quase 6 bilhões de euros investidos em captação e tratamento de esgoto, em construção de parques e na restauração do ecossistema, o Emscher está limpo e à disposição da população do Vale do Ruhr.
  • 5
    Os autores, apesar de reconhecerem a existência de uma identidade regional, afirmam que ela segue preterida em relação à identificação com a cidade natal. Nossa pesquisa não comprova nem contradiz tal afirmação.
  • 6
    Não por acaso, o museu do futebol alemão (Deutsches Fußballmuseum) não está localizado na capital do país, mas sim no Ruhrgebiet, em Dortmund.
  • 7
    Entre janeiro de 1923 e agosto de 1925, o Vale do Ruhr foi ocupado por tropas francesas e belgas como punição ao Império Alemão pelo não pagamento das compensações de guerra impostas pelo Tratado de Versalhes. A ocupação acabou por fomentar o nacionalismo alemão e o orgulho da população do Ruhgebiet, que empreendeu táticas de resistência pacífica.
  • 8
    Eliot (1981, p. 105) afirma em um trecho do poema The Waste Land, no qual trata, entre outras coisas, do esquecimento: “com estes fragmentos eu escorei minhas ruínas”.
  • 9
    O Partido Social-Democrata da Alemanha (Sozialdemokratische Partei Deutschlands – SPD) governou a Renânia do Norte-Vestfália entre 1966 e 1998.
  • 10
    Heimatstil pode ser traduzido como “estilo caseiro”. Trata-se de um estilo arquitetônico muito comum na primeira década do século XX, na Alemanha, cuja característica principal é a inspiração nas construções locais tradicionais.
  • 11
    Joshua Freeman (2019), em uma interessante obra sobre a história e a importância da industrialização, refere-se às fábricas como “mastodontes”, isto é, como gigantes que foram extintos. Não obstante, Freeman argumenta que a extinção das fábricas, ou ao menos da sociedade industrial, é um fenômeno ocidental. Segundo o autor, as gigantescas fábricas seguem vivas na Ásia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Out 2024
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    13 Mar 2024
  • Aceito
    19 Jul 2024
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