Resumo:
O artigo conta a história de Edgar Jaffé e Else von Richthofen em seus círculos sociais e intelectuais, dos quais participaram, entre outros, Max e Marianne Weber. O relato se baseia na correspondência do casal Jaffé/von Richthofen, durante os anos de 1902 e 1918, descoberta pelo autor, em Nova York, com o neto Christopher Jeffrey, que doou mais de mil cartas para o Leo Baeck Institute, em 2009. A narrativa permite ao leitor entender os dramas de uma vertente da intelectualidade alemã, ao revelar a sua intimidade, os casamentos, as amizades, o erotismo, as escolhas de carreira e as lealdades políticas, antes e depois da Primeira Guerra Mundial. Na história da sociologia, Edgar Jaffé é conhecido como um dos editores do Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik, ao lado de Werner Sombart e Max Weber; Else Von Richthofen, como musa dos intelectuais e aluna dileta de Max Weber - com quem ele manteve vínculo amoroso no final da vida. No artigo, porém, penetrando na intensidade epistolar do casal, o autor pretende que Edgar Jaffé e Else von Richthofen falem por si próprios.
Palavras-chave:
Edgar Jaffé e Else von Richthofen; Max e Marianne Weber; Círculos intelectuais alemães; Estilos de vida; Primeira Guerra Mundial
Abstract:
The article tells the story of Edgar Jaffé and Else von Richthofen and their social and intellectual circles, of which participated, among others, Max and Marianne Weber. The report is based on the mail exchange between the couple Jaffé/ von Richthofen during the years 1902 and 1918, discovered by the author in New York with their grandson Christopher Jeffrey, who donated over a thousand letters to the Leo Baeck Institute in 2009. The narrative allows the reader to understand the drama of a strand of German intellectuals, to reveal their intimacy, marriages, friendships, eroticism, career choices and political loyalties, before and after the First World War. In the history of sociology, Edgar Jaffé is known as one of the editors of the Archiv für Sozialpolitik und Sozialwissenschaft, along with Werner Sombart and Max Weber; Else von Richthofen, as a muse of intellectuals and beloved student of Max Weber - with whom he maintained the bond of love late in life. In the article, however, entering the couple's intense letter-writing, the author intends that Edgar Jaffé and Else von Richthofen speak for themselves.
Keywords:
Edgar Jaffé and Else von Richthofen; Max and Marianne Weber; German intellectual circles; Ways of life; First World War
Historiadores políticos têm tratado principalmente, e de forma crítica, da participação de Edgar Jaffé (14 de maio de 1866 - 29 de abril de 1921) na Revolução Bávara de 1918 - 19 e apenas superficialmente de suas conquistas como economista, editor e redator. Entre os cientistas sociais, Edgar Jaffé ainda é conhecido, mesmo que de nome, como editor - associado a Max Weber e Werner Sombart -, do principal jornal de ciência social do seu tempo, o Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik [Arquivo para a ciência social e política social]. Entre historiadores da cultura e estudantes de literatura em particular, ele adquiriu fama ao casar-se em 1902 com Else von Richthofen (8 de outubro de 1874 - 22 de dezembro de 1973). O casal foi visto como figura de fato e de ficção no mundo antinômico habitado por Max e Marianne Weber, Otto e Frieda Gross e D. H. Lawrence e Frieda von Richthofen. Else von Richthofen foi transformada em mito como "musa da inteligência crítica do nosso século", em oposição à sua irmã Frieda Lawrence, que era a "musa da imaginação erótica" (Green, 1974Green, Martin. The von Richthofen Sisters: the Triumphant and the Tragic Modes of Love. Else and Frieda von Richthofen, Otto Gross, Max Weber and D.H. Lawrence, in the Years 1870 - 1970. Nova York: Basic Books, 1974.; Demm, 2008: 381 - 403). Cartas e documentos recém-encontrados permitem que Else e Edgar falem com suas próprias vozes e de forma mais clara do que pôde ser ouvido até então. Pretendo apresentar um relato mais coerente e equilibrado do que o que tem sido possível até agora.
NO INÍCIO, CARREIRAS SEPARADAS: ESPERANÇAS E DECEPÇÕES 1 1 Meu relato se baseia, em grande parte, na correspondência entre Else von Richthofen e Edgar Jaffé, entre 1902 e 1918. Após a morte de Else, em 1973, as cartas passaram para sua filha Marianne von Eckhardt, em Heidelberg, e para seu filho Friedel Jaffé/Jeffrey, que fora forçado a emigrar com seu irmão Hans, em 1933. Por sugestão minha, a correspondência dos Jaffé, somando mais de mil cartas escritas ao longo de um século, foi doada ao Leo Baeck Institute (LBI), em Nova York, no início de 2009, pelo filho de Friedel, Christopher Jeffrey. (Entre as cartas estão algumas de Frieda Lawrence e Ferdinand von Richthofen.) Neste fundo também estão depositadas as notas autobiográficas de Else. A maioria das cartas trocadas entre Marianne e Max Weber se encontram na Bayerische Staatsbibliothek (BSB), Deponat Max Weber-Schäfer, Ana 446. A correspondência de 1902 é especialmente valiosa porque revela em detalhes o desenvolvimento do relacionamento e seu contexto social e acadêmico mais amplo. Ela compreende 29 cartas de Edgar; e 24, de Else. Muitas cartas são respostas diretas, mas há também intervalos notáveis. Estimo que pelo menos metade da correspondência de 1902 foi preservada. As cartas de 1903 a 1905 são todas de Edgar. A situação em 1908 - 09, com suas muitas complicações psicológicas e sexuais, é revelada em duas cartas de Else para sua alma gêmea Frieda Schloffer/Gross. Quanto ao período da guerra, refiro-me aqui principalmente às cartas que Edgar escreveu em Bruxelas e Lorena.
Edgar Jaffé não encontrou obstáculo significativo ao iniciar sua tardia carreira acadêmica. Tornou-se perito do sistema bancário inglês e também escreveu com proficiência sobre a indústria de algodão de Lancashire, onde trabalhara na década 1890. Apesar de tornar-se um economista acadêmico, sua maior ambição, embora não tivesse conseguido realizá-la, consistia em escrever um importante tratado filosófico como coroação da sua Lebenswerk [obra da vida]. Ele defendia um tipo de solidariedade dedicada ao desenvolvimento de uma ordem econômica e social orientada pela assistência social, em oposição ao liberalismo ultrapassado do laissez-faire que conhecera em Manchester.
A origem judaica de Edgar também não representou nenhum obstáculo para seu casamento com Else von Richthofen. Ao contrário das alegações de que se convertera apenas pouco tempo antes do seu casamento, sua certidão de batismo prova que fora batizado e confirmado no dia 26 de março de 1882, aos 15 anos de idade, na Augustinerkirche [igreja agostiniana] em Gotha. No início de sua adolescência, seus pais o mandaram para Hamburgo, cidade em que nascera, para o Realgymnasium2 2 Trata-se de uma variante prussiana de um tipo escola secundária, o Gymnasium, cujo foco era o ensino de humanidades. Diferente deste, cuja matriz era o ensino de grego e latim, o curso do Realgymnasium (que também durava nove anos) baseava-se apenas neste último idioma (N. E.). do famoso colégio Ernestinum. No currículo exigido para sua dissertação, Edgar declarou, em junho de 1902, que era de "evangelischer Confession" [confissão evangélica]. Em seu currículo de 1901, Else afirmou ser "evangelisch" [evangélica]. Não surpreende, portanto, que, em suas cartas iniciais, os dois não se preocupam com questões de identidade judaica ou cristã.
Como muitos filhos de famílias ativas no comércio, Edgar encerrou o ensino médio com a assim chamada Mittlere Reife3 3 Espécie de certificado de conclusão da educação secundária na Alemanha que, antigamente, era ligado ao serviço militar, mas que hoje refere-se ao nível médio em geral (N. E.). sem acrescentar os dois anos adicionais para fazer o Abitur,4 4 Trata-se do exame de conclusão do ensino secundário na Alemanha, o qual é exigido para o ingresso no ensino superior (N. E.). que era exigido para um estudo de ensino superior. Com aquele certificado obtido, ele tinha direito ao status militar de Einjähriger,5 5 Recruta que possuía nível superior (N. E.). precisando prestar apenas um dos três anos de serviço militar e podendo assim completar seu treinamento na área comercial. Aos 17 anos, tornou-se aprendiz numa empresa de exportação e importação em Hamburgo, depois passou dois anos em Paris e vários meses em Barcelona, antes de iniciar seu serviço militar, e finalmente veio a trabalhar em Manchester durante oito anos, na empresa de tecidos da família. Na firma da família em Manchester, Edgar trabalhou com seu irmão mais velho Siegfried, até que, em 1898, os dois associés venderam suas ações e se mudaram para Berlim, onde investiram em imóveis. O lucro de Edgar, porém, foi menor do que o de Siegfried. Mesmo assim, Edgar teve condições de comprar uma vila monumental no distrito berlinense Grunewald, que hoje é usada pelo Wissenschaftskolleg [Instituto de Estudos Avançados], mas parece que ele não chegou a ocupá-la porque se mudou para Heidelberg em 1900.
Em Manchester, Edgar se tornara cada vez mais infeliz com sua carreira comercial. Em Berlim, sentiu-se liberto e decidiu estudar economia e realizar suas ambições filosóficas. Mas, como empresário e sem o Abitur, dependia de um apadrinhamento especial. Gustav Schmoller e Max Sering, de fato, vieram a se interessar por esse estudante de idade já relativamente avançada, especialista na indústria de algodão de Lancashire.6 6 Jaffé logo escreveu um artigo para o jornal de Schmoller, prestigioso em sua área de experiência prática (Jaffé, 1900: 193 - 217). Também estiveram dispostos a abrir uma exceção na admissão exclusiva de homens ao aceitarem a matrícula de uma mulher de 24 anos recomendada por Max Weber.
Else von Richthofen hoje é conhecida como a primeira inspetora feminina de fábricas no estado alemão de Baden (1900 - 02), como primeira mulher estudante de doutorado de Max Weber em Heidelberg (1901), como amiga vitalícia da esposa dele, Marianne, como amante tardia na vida de Max e como companheira durante quase meio século do irmão deste, Alfred. A literatura se ocupou principalmente com o período que terminou com os falecimentos de Max Weber, Edgar Jaffé e Otto Gross, em 1920 - 21 e ignorou os cinquenta anos seguintes, quando Else teve que presenciar como seus filhos e muitos de seus amigos se tornaram vítimas do antissemitismo nazista e da perseguição política. Apesar de tudo isso, ela manteve a família unida e a solidariedade entre os membros de seu círculo viva através de uma rica correspondência transatlântica.
Else von Richthofen nasceu em Chateau Salins, perto de Metz. Seu pai, Friedrich Baron von Richthofen, era um oficial prussiano que participou do sítio de Estrasburgo e Belfort como engenheiro militar durante a guerra francoprussiana de 1870. Com invalidez permanente, tornou-se kaiserlicher Baurat [supervisor imperial de construções] na cidade fortaleza de Metz, em Lorena. Ele seguiu o típico estilo de vida de um aristocrata: acumulou dívidas de jogo e manteve dispendiosos casos extraconjugais. Já cedo, Else compreendeu que precisaria trabalhar para sobreviver. Antigamente, filhas que se encontravam nessa situação teriam optado por trabalhar como governantas, mas agora o ensino público estava se tornando uma alternativa viável. Else escolheu seguir esse caminho. Completou a educação secundária no internato de renome internacional das irmãs Julie e Camilla Blas, em Friburgo. Else deixou o internato antes do seu 17º aniversário, em outubro de 1891, e obteve suas credenciais de ensino para mulheres. Foi professora durante alguns anos. Nesse tempo, preparou-se sozinha para a universidade. Em 1895 - 96, participou como ouvinte de cursos da Universidade de Friburgo. Lá, conheceu os Weber na casa do filósofo Alois Riehl, tio de sua amiga íntima, Frieda Schloffer (1876 - 1950) com quem criara laços de amizade no instituto Blas. Nomeado professor de economia em Friburgo aos 30 anos de idade, Weber começou a lecionar no semestre de inverno de 1894 - 95, mas já em janeiro de 1897 foi chamado para Heidelberg. Em Friburgo, Else era mais próxima de Marianne do que de Max, mas em Heidelberg ele começou a apoiar ativamente a carreira de Else. Em 1897 - 98, ela foi estudante de Weber durante dois semestres, e também de Georg Jellinek e Paul Hensel, com os quais ela também estabeleceu um relacionamento pessoal. Max a orientou em suas leituras sobre economia (Adam Smith, Ricardo, Karl Marx). No semestre de inverno de 1897 - 98, ela transcreveu duzentas páginas das aulas de Weber sobre Agrarpolitik [política agrária] (Weber, 2008b: 333 - 410).
Enquanto o estado de Baden passou a admitir mulheres no ensino superior já no semestre de verão de 1900; Berlim o fez apenas em 1908, mas os professores tinham a possibilidade de abrir exceções. Else estudou na Universidade de Berlim durante três semestres, de 1898 a 1900; Edgar Jaffé deu início aos seus estudos um semestre mais cedo. Max Weber escreveu uma recomendação diplomática para Schmoller, que poderia dar a Else permissão especial para ela frequentar o seu curso: "Ela tem uma mente clara, equilibrada, não é excepcionalmente talentosa, mas de boa inteligência, sem a ambição pessoal tantas vezes exibida por estudantes mulheres, mas cheia de curiosidade in- telectual imparcial. Quanto ao resto, sua personalidade fala por si mesma" (Weber [12 jul. 1898] 2008b: 21). (O que havia de errado com a ambição pessoal das mulheres na opinião de Schmoller ou Weber?)
Friedrich Wörishoffer (1839 - 1902), o primeiro inspetor de fábricas em Baden e diretor da agência de inspeção desde 1892, também recomendou Else a Schmoller, já pensando em sua futura nomeação para a posição de inspetora de fábrica. Ele até falou com seu tio Oswald von Richthofen, subsecretário e depois secretário do Estado (ministro do Exterior) (Bocks, 1978Bocks, Wolfgang. Die badische Fabrikinspektion 1879 bis 1914. Freiburg: Karl Alber, 1978., p. 84 - ss). Else morava na mansão do tio, mas se movimentava em ambientes contrastantes de Berlim: na alta sociedade prussiana, no círculo reformista de Alfred Weber (que se reunia na vila de Helene Weber), e no primeiro grupo de mulheres acadêmicas, o Verein studierender Frauen [Associação de Mulheres Estudantes], do qual ela era a presidente. Na universidade, Else foi aconselhada por Max Weber e Wörishoffer sobre os cursos e seminários que deveria participar. (Apenas Georg Simmel, ela confessou, "estava bem acima de sua inteligência".) Em vista de seu crescente interesse em assuntos de bem-estar social, Max Sering possibilitou que ela visitasse fábricas em Berlim e despertou seu interesse pelos estudos que estavam sendo feitos sobre a indústria caseira com seus funcionários principalmente de sexo feminino. Else encontrou Edgar Jaffé nos seminários de Schmoller e Sering e, num ambiente social, na casa de Helene. Na época, Alfred Weber, em colaboração com Eugen von Philippovich, lançou uma pesquisa para a Verein für Sozialpolitik [Associação para Política Social] sobre Formen von Hausindustrie und Heimarbeit [Formas da indústria e do trabalho caseiros], que foi publicada em quatro volumes em 1899. Else contribuiu com um breve, mas eloquente artigo, baseado numa curta viagem de pesquisa a vilarejos longínquos em Lorena, sobre a produção caseira de bordados para o comércio de luxo urbano. Por um curioso acaso, o artigo de Else veio logo após um artigo mais longo de Edgar Jaffé na mesma publicação (Von Richthofen, 1899: 343 - 353; Jaffé, 1899b: 279 - 341).7 7 Edgar também contribuiu com o artigo "Die westdeutsche Konfektionsindustrie mit besonderer Berücksichtigung der Heimarbeit" (Jaffé, 1899a: 99 - 187). Alfred Weber escrevia com frequência sobre os males das indústrias caseiras e sua regulamentação legislativa. Else, na verdade, discordava dele, já que "suas" jovens mulheres pareciam gostar do seu trabalho; mas ela se sentia intimidada pela intensidade erudita de Alfred, tornando um contato pessoal mais íntimo entre eles quase que inconcebível. Curiosamente, porém, Else, Edgar e Alfred cultivaram um relacionamento triangular baseado em interesses acadêmicos e contatos sociais comuns, mas sem a menor noção de como suas vidas viriam a se entrelaçar inevitavelmente no futuro.
Enquanto Alfred se encontrava "fora de seu alcance" em Berlim, Else se sentiu atraída por outro homem que, mais tarde, ela identificaria como Paderstein, um jovem médico judeu, mas que ainda não havia conseguido estabilidade financeira. Para Marianne, ela lamentou: "Se eu tivesse alguns bens, mesmo que poucos, tudo seria tão mais fácil".8 8 De um rascunho, escrito, provavelmente, durante o último semestre de Else em Berlim, no início de 1900. Mais tarde, Else citaria esse relacionamento como razão de ter rejeitado o primeiro pedido de casamento de Edgar. O motivo da atração que Edgar sentia por Else pode ser deduzido: no masculino mundo acadêmico de Berlim, ele encontrara uma das raras estudantes femininas com quem podia ter a esperança de compartilhar seus interesses intelectuais, ao mesmo tempo em que a descendência nobre e beleza física de Else a transformavam na mais desejável parceira, ainda mais porque ele conseguia viver muito bem das rendas de seus investimentos. Mais tarde, porém, ele declarou: "Quase que a partir do nosso primeiro encontro, que logo completará quatro anos, meu coração bateu por você. Foi a primeira vez em que uma emoção desse tipo se apoderou de mim" (20 mai. 1902).
Já há algum tempo, Friedrich Wörishoffer havia mencionado a Max Weber seu desejo de nomear uma inspetora mulher, de preferência uma pessoa com formação universitária. Em abril de 1898, após a aprovação da legislação necessária, Wörishoffer e Else passaram a manter uma correspondência intensa. Ele e Max Weber favoreciam Else como primeira candidata. Ela, por sua vez, estava grata a Max por todos seus conselhos: "Ele, afinal de contas, me 'dirigiu' (dirigiert) durante os últimos dois anos".9 9 Do rascunho do início de 1900. Else foi formalmente nomeada no verão de 1900, mas sua posição não figurava no orçamento regular.
Antes de sua nomeação, Else voltou para Heidelberg para mais um semestre, o do verão de 1900, o primeiro em que mulheres foram admitidas formalmente. Lá, ela completou sua dissertação, que Max Weber sugerira e que Sering supervisionara em Berlim: Über die historischen Wandlungen in der Stellung der autoritären Parteien zur Arbeiterschutzgesetzgebung und die Motive dieser Wandlungen [Sobre as mudanças históricas nas posições de partidos autoritários com relação a uma legislação protetora do trabalhador e o motivo dessas mudanças] (Von Richthofen, 1901 ______. Über die historischen Wandlungen in der Stellung der autoritären Parteien zur Arbeiterschutzgesetzgebung und die Motive dieser Wandlungen. Heidelberg: Buchdruckerei Karl Rössler, 1901.); ela defendeu sua tese no verão, pouco antes de Max Weber, cada vez mais incapacitado, se mudar para o exterior por mais de um ano e meio. Apesar de ainda sentir-se indisposto, Weber trabalhou no texto final da dissertação da "pequena Richthofen" (Marianne Weber: die kleine Richthofen), em Roma, no outono de 1901.
Else, que tinha terminado seu relacionamento com Paderstein no fim de 1900, reencontrou Edgar em Heidelberg. Após seis semestres em Berlim, ele se inscrevera para mais dois semestres (inverno de 1900, verão de 1901), a fim de completar sua dissertação sobre Dasenglische Bankwesen [O sistema bancário inglês]. As razões acadêmicas e pessoais que o levaram a se mudar para Heidelberg não estão documentadas. Era comum que os estudantes frequentassem mais de uma universidade, mas Edgar já estava velho demais para perder tempo com trocas de universidade. O motivo seria o seu anseio por Else?
Else começou a exercer sua função como inspetora em Karlsruhe, a capital de Baden, em agosto de 1900, com a melhor das intenções. Ela a descreveu, no início de dezembro, diante da Gesellschaft für soziale Reform [Sociedade para Reforma Social], em Dresden. O Volksstimme [Voz do Povo] de Mannheim, em sua edição de 12 de janeiro de 1901, escreveu sobre a primeira oficial feminina da Alemanha, Fräulein [senhorita] von Richthofen, "o quão surpresos os filisteus ficaram ao verem que esta jovem e vibrante mulher nada tinha dos ares de uma mulher letrada e intelectual".10 10 A palestra foi publicada em Von Richthofen (1902: 14 - 26). Nela, Else descreveu suas tarefas cooperativas, que abrangiam cerca de 60 mil operárias: revisão de regulamentações de local de trabalho, pedidos de construção para padarias, pedidos de permissão para horas extras etc. Finalmente, ela foi encarregada da supervisão da indústria de charutos em que setecentas empresas empregavam 23 mil mulheres ao lado de 11 mil homens (Bocks, p. 90 - 91). Ainda em 1910, Else publicou "Die Frau in der Gewerbeinspektion" (Von Richthofen, 1910: 48 - 69). Mas sua velha amiga de Friburgo, Frieda Schloffer, imediatamente expressou sua preocupação, temendo que Else pudesse exagerar seu empenho em suas novas tarefas e negligenciar suas "tarefas do amor".11 11 26 de junho de 1900, Tufts Collection, #2.
Fato é que, em 1902, Else começou a sofrer de fadiga, frustração e solidão em seu trabalho. Em janeiro de 1902, confessou para Marianne: "Tantas vezes me sinto como se não estivesse realmente viva, como se fosse apenas uma sombra, já que não possuo nenhum laço firme". Assim, ela se mostrou receptiva quando Edgar Jaffé a surpreendeu com um renovado pedido de casamento.
NOIVADO E CASAMENTO: CONQUISTAS E FRACASSOS
Aproximando-se dos 30 anos de idade, Else já tinha passado da idade habitual de casamento para alguém de sua classe social. Em 1899, aos 20 anos, sua irmã Frieda havia se casado com o auspicioso acadêmico inglês Ernest Weekley, que tinha condições de sustentá-la. Em 1900, sua irmã de 18 anos, Johanna ("Nusch") casou-se com um oficial, Max von Schreibershofen, que tinha o dobro de sua idade e logo passou a ter problemas financeiros. Else sentiu amargamente a falta de um dote. Precisava encontrar um homem com dinheiro; Edgar não precisava de uma mulher com dote.
As primeiras cartas de Else mostram que ela, de fato, sentiu pena de Edgar quando o rejeitou na primeira vez, e também depois, quando aceitou seu segundo pedido de casamento. Mas ela queria mais do que um Vernunftheirat [casamento de razão] ou um mariage de convenance. A diferença de idade, nada incomum, era de oito anos e meio; na primavera de 1902, Else tinha 28 anos, Edgar acabara de completar seus 36 anos de idade. Ambos se consideravam velhos demais para a paixão e exuberância típica dos jovens. As cartas mostram um intenso esforço dos dois de se explicarem um ao outro e de criarem uma intimidade emocional e uma compatibilidade intelectual. Else revelou a Edgar a sua intenção de guardar as cartas e de mostrá-las a ele mais tarde como lembrança daquilo que o casamento, que aconteceria em breve (29 de setembro de 1902), havia significado para eles. Assim, as cartas constituem um corpo epistolário impressionante em que cultivavam grandes esperanças e confessavam suas insistentes dúvidas em relação a si mesmos. Há muitas reflexões sobre o amor e a paixão, mas, como se pode esperar, pouco erotismo e nenhuma referência sexual. Assuntos profissionais e intelectuais ocupam muito espaço. Edgar descreve o progresso de sua dissertação e Habilitation [livre-docência] sobre o assunto mundano do sistema bancário inglês, mas fala também extensivamente sobre suas ambições filosóficas, seu verdadeiro Lebenswerk. Else relata seus desafios e sua frustração em seu trabalho como inspetora de fábricas, mas também reflete muito sobre suas possibilidades de ajudar Edgar e afastá-lo de sua egocêntrica vida de solteiro. Ela considera ser isso um dos desafios, ou até mesmo a sua tarefa principal no casamento. Edgar, por sua vez, se esforça muito para transformá-la em sua discípula intelectual. Seu desejo de moldar os pontos de vista e os interesses de Else de acordo com suas próprias visões criou tensões entre eles, já evidentes em seu período de noivado.
Em 1902, Edgar não estava apenas à procura de um emprego adequado, também perseguia uma agenda política. Os vários anos como associé da empresa da família em Manchester não o haviam transformado em anglófilo; pelo contrário, tinham fortalecido sua lealdade à Alemanha. Em seu artigo de 1900, sobre Die englische Baumwollindustrie und die Organisation des Exporthandels [A indústria inglesa de algodão e a organização do comércio de exportação], ele descrevera não só as mudanças nas relações entre fabricantes, comissários e banqueiros de comércio, mas também o papel proeminente dos exportadores, dos quais muitos eram de origem alemã, mas que haviam assimilado rapidamente a cultura inglesa. Escrevendo no início da era da Weltpolitik [política mundial], sugeriu medidas para fortalecer a capacidade da Alemanha de competir com a indústria inglesa de algodão. Defendeu a nomeação de oficiais consulares com experiência comercial. Mas também defendeu um preparo melhor dos comerciantes através da fundação de Handelshochschulen [faculdades de administração comercial]. Os municípios de Mannheim e Munique realmente vieram a criar escolas desse tipo nos anos seguintes, e Edgar fez sua carreira acadêmica em ambas. O noivado com Else von Richthofen fez com que abandonasse sua primeira opção de carreira em prol da segunda.
Em abril de 1902, Max Weber, ainda doente, retornou de uma longa estada em Roma e Florença onde, mais uma vez, havia solicitado sua exoneração do cargo de professor, acreditando que não perderia seus privilégios de promoção. Durante uma visita, Max Weber informou Else não só de que Edgar havia recebido uma sólida oferta de ir para a Austrália, mas também de que estava pensando em oferecer a Edgar a possibilidade de fazer uma Habilitation. Ela imediatamente "vazou" a informação sobre essa possibilidade para Edgar, ao mesmo tempo parabenizando-o pela oportunidade e expressando sua inveja por sua aventura pelo mundo afora. Esperava que ele se despedisse adequadamente e deixou escapar que "as condições na inspeção de fábricas tornaram-se agora bastante desconfortáveis" (18 mai. 1902).
A confissão de Else de que estava insatisfeita com seu emprego encorajou Edgar (20 mai. 1902) a lembrá-la do amor ininterrupto que sentia por ela, "aconteça o que acontecer". Também lhe revelou suas altas ambições intelectuais que, apesar de sua lógica política, haviam criado uma situação ambivalente para ele em relação à sua carreira consular. Tendo em vista uma alternativa acadêmica em Heidelberg, veio a considerar a carreira consular uma perda de tempo para alguém que, como ele, pretendia criar um Lebenswerk filosófico. Assim, tentou agradar Else duplamente, oferecendo-lhe seu amor e suas ambições.
Dois dias depois (em 22 de maio), Else pediu que Edgar tomasse uma decisão. Com grande ambivalência e um sentimento de culpa, ela deixa em aberto a possibilidade de seu casamento se transformar em algo mais do que um mero Vernunftehe. Não está infeliz, mas não se sente realizada em seu trabalho: distribuir seu amor entre 60 mil operárias não lhe basta. Ela se sente só e, às vezes, impotente diante das exigências da vida. Agora, porém, Edgar lhe oferece a visão de uma "montanha dourada" - uma metáfora notável - que até então havia considerado íngreme demais para escalar. "Conseguirei agora?". Antes, havia visto em Edgar apenas um bom amigo de estudos. Agora, ficaria feliz em providenciar-lhe alegrias após todo o sofrimento que causara em sua vida. Em troca, espera que ele estenda a mão para ajudá-la. Ao mesmo tempo, ela o adverte de que não mais é capaz de sentimentos passionais, mas também acredita que Wille und Vernunft, eine grosse Sympathie [vontade, razão e uma grande simpatia] não são suficientes. Precisa haver algo mais, mas não tem certeza se isso existe ou se será capaz de se desenvolver. Sua última linha deixa para Edgar a decisão fundamental: "Você possui a coragem para ousar a tentativa (Versuch)?".
A carta deixou Edgar eufórico e, em 24 de maio, respondeu com uma epístola de 25 páginas, misturando altos ideais com sua necessidade pessoal de uma mão que o apoie. Tornar-se uma personalidade verdadeira é mais importante do que uma vocação mundana. Se Else não tiver certeza absoluta de que é indispensável como inspetora de fábricas, poderia pensar em optar pela alternativa mais enaltecedora do aperfeiçoamento próprio. Edgar revela sua crença quase religiosa em um "poder mais alto" que exige um esforço para desenvolver a própria personalidade. Apesar de sua carta ser "infinitamente longa", como o próprio Edgar admitiu, seu persistente sermão não a aborreceu, mas parece ter ajudado a convencê-la. A sua decisão, no fim de maio, de dar início ao noivado foi muito repentina, já que Edgar não esperava nada tão cedo assim.
Uma vez que Else e Edgar decidiram casar-se antes do fim do ano, iniciaram uma correspondência intensa. Edgar vivia em Heidelberg; e Else, em Karlsruhe. Apenas uma curta viagem de trem os separava, mas a distância era grande o suficiente para justificar muitas cartas. Eventos especiais eram as viagens de inspeção de Else, principalmente na região da Floresta Negra, sua participação em convenções de mulheres com Marianne Weber e as viagens a negócios e de pesquisa de Edgar para Berlim e Londres. Ao contrário da maioria das noivas, Else era uma noiva que trabalhava, e Edgar precisava se apressar para terminar o doutorado e se igualar a Else, agora que ele estava iniciando uma carreira acadêmica. O currículo anexado à sua tese de doutorado é datado de junho de 1902, pouco tempo após seu noivado.12 12 A dissertação foi publicada sob o título Die Arbeitstheilung im englischen Bankwesen [A divisão do trabalho no sistema bancário inglês] (Jaffé, 1902). O casamento protestante aconteceu em Karlsruhe, em 19 de novembro. Os dois foram para seu novo lar em Heidelberg.
Dadas as altas ambições filosóficas de Edgar, o fato de ele ter começado tarde, já com mais de 30 anos de idade, era uma desvantagem. A seu ver, tinha perdido quinze anos com sua carreira comercial. Rickert, Hensel, Simmel e Max Weber possuíam muitos anos a mais de estudos filosóficos.
Contudo, dois anos mais tarde, Edgar sentia que havia progredido em termos intelectuais, especialmente após sua leitura de Rickert, embora ainda sofresse "a falta de progresso moral ou ético, sem a qual até um intelecto atento é deficiente" (3 out. 1904). Algumas semanas depois, em dezembro, Edgar apresentou sua aula inaugural na Universidade de Heidelberg, na presença de Max e Marianne Weber. Mas ela não teve repercussão.
Independentemente das limitações filosóficas de Edgar, sua aquisição e editoria do renomado Archiv für soziale Gesetzgebung und Statistik [Arquivo para a legislação e estatística sociais], de Heinrich Braun, fundado em 1888, provou ser sua conquista duradoura. Em 20 de julho de 1903, ele o comprou pela soma considerável de 60 mil marcos de ouro; Braun podia exigir um preço tão alto porque o Archiv era um empreendimento lucrativo. Edgar passou a editá-lo "em associação com Werner Sombart e Max Weber" (na capa) sob o novo título Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik. A correspondência entre Braun e Sombart, iniciada em março de 1903, esclarece o processo de aquisição.13 13 A correspondência se encontra na coleção Braun-Vogelstein, do LBI. Agradeço a Peter Ghosh por levar as cartas à minha atenção. Em 31 de maio, Max Braun visitou Max Weber e o encontrou disposto a tornar-se coeditor. Cogitaram a fundação de um consórcio. Foi quando Weber propôs "como sério membro o Dr. Edgar Jaffé, que está preparando sua Habilitation e é casado com a ex-inspetora de fábricas de Baden, von Richthofen" (3 jun. 1903). Enquanto Braun, dado seu interesse em política social, deu valor ao fato de Edgar ser marido de uma ex-inspetora de fábricas, o papel da própria Else na aquisição permanece incerto.
Independentemente de quem teve a "feliz ideia" primeiro, para Else foi uma oportunidade de apoiar um fórum erudito para o doente Max e retribuir todo o apoio que ele lhe dera durante seu doutorado e ao garantir seu emprego como inspetora de fábricas. Ela já não era mais sua aluna e protegée, mas simplesmente uma boa amiga da família. Como Frau Redakteurin, discutiu assuntos editoriais e projetos de tradução com Max - outra faceta da equalização e, no final das contas, da complicação de seu relacionamento. Durante as frequentes ausências de Edgar, Else cuidou dos assuntos editoriais. Em abril de 1905, ele ficou muito satisfeito ao saber através dela (8 abr. 1905) que o Archiv agora já tinha 698 assinantes - "um sucesso sem explicação".
O primeiro volume do novo Archiv (vol. 19 da antiga, e vol. 1 da nova série) foi lançado em março ou abril de 1904. A primeira edição foi introduzida pelo muito discutido Geleitwort der Herausgeber [Prefácio dos editores].14 14 A literatura secundária tende a atribuir o Geleitwort principalmente a Weber, mas Peter Ghosh demonstrou de forma convincente que era principalmente um texto de Sombart, como ele mesmo afirmara em uma carta para Julie Braun-Vogelstein, em 5 de abril de 1927 (Coleção Braun-Vogelstein, LBI). Ver Peter Ghosh (2010: 71 - 100). O novo título Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik indicou uma inclusão de temáticas mais amplas da ciência cultural e da lógica (Kulturwissenschaft undLogik), ou seja, de assuntos epistemológicos na ciência social. Hoje, o Archiv é conhecido principalmente pelas contribuições de Max Weber, Troeltsch, Simmel, Tönnies e Alice Salomon (a estimada amiga de Marianne e Else), mas continuou sendo também um Archiv für Sozialpolitik, ao modo de Heinrich Braun, dando continua- ção à cobertura internacional de assuntos sociais, econômicos e legislativos na área da assistência social. Volkswirtschaft [economia popular] e Weltwirtschaft [economia mundial] eram regularmente incluídas. Mesmo assim, a expansão temática do Archiv, conforme os novos interesses de Weber, foi recebida de forma controversa por seus leitores e contribuintes mais antigos, dentre os mais vociferantes se encontrava Heinrich Herkner.15 15 Ver a carta de Heinrich Herkner para Julie Braun-Vogelstein, Berlim, 7 abr. 1927, em Herkener ([1932] 1967: 327).
No verão de 1903, Marianne Weber acreditava que os Jaffé eram um casal feliz e agora incluiu Edgar em sua antiga afeição por Else:
Minha maior alegria são os Jaffé. É tão confortante ter por perto uma pessoa tão querida como a "Richthöfchen", e ele também me é muito simpático. Neste mundo tão egoísta, sua gentileza e altruísmo são uma grande virtude, que compensa certa falta de energia por sua parte. Os dois estão muito felizes um com o outro e reuniram um grande número de pessoas em sua volta. Estamos à espera de uma pequena Marianne em outubro (para Helene, 16 jun. 1903).
Max, porém, nada elegante, chamou a Else grávida de "enveloppe", palavra que ela nunca esqueceu e repetiu em várias ocasiões mais tarde em sua vida. Friedel nasceu em 28 de setembro de 1903; uma Marianne só veio ao mundo dois anos depois. O casal nutrira a esperança de colaborarem intimamente em assuntos editoriais, mas Else aparentemente desenvolveu uma depressão pós-parto e sofria de dores na coluna. Em maio e junho de 1904, ela passou várias semanas em um sanatório em Baden-Baden. O relacionamento do casal deteriorou em outono de 1904, quando Else passou mais de um mês com seus pais em Metz, inicialmente deixando Friedel com Edgar.
Poucas semanas após seu retorno de Metz, provavelmente em dezembro, Else engravidou novamente. A chegada de seu segundo filho, Marianne, e os problemas de saúde que acompanharam seu nascimento parecem ter contribuído para que Else não conseguisse fazer a tradução de The Souls of Black Folk [As almas do povo negro], de W.E.B. DuBois, que logo se tornou famoso após sua publicação em abril de 1903. Weber, durante um café da manhã com DuBois no congresso mundial de St. Louis, em setembro de 1904, tentou recrutá-lo como contribuinte. Também o convenceu a concordar com uma tradução de seu livro para o alemão. Em 30 de março de 1905, Max indicou Else como tradutora em uma carta em inglês:
Sua obra esplêndida [...] deveria ser traduzida para o alemão [...] Estou autorizado a pedir sua autorização para a tradução, a ser feita pela Sra. Elisabeth Jaffé-von Richthofen, erudita e amiga minha, ex-inspetora de fábricas de Karlsruhe, agora esposa de meu colega professor e editor Dr. Jaffé. Gostaria de escrever uma breve introdução sobre a questão negra e literatura... Acredito que a Sra. Jaffé seria uma tradutora muito capaz, algo bastante importante, já que o vocabulário e estilo do senhor são muito peculiares: Às vezes, me lembram os idiomas de Gladstone, mesmo que o espírito seja outro [...] Por favor, desculpe meu inglês ruim (Weber apud DuBois, 1973: 106).16 16 Sob o nome de W. E. Burghardt du Bois, publicou "Die Negerfrage in den Vereinigten Staaten", no Archiv (DuBois, 1906: 31 - 79). Sobre a relação de Weber com DuBois, ver Scaff (2010).
Em 10 de novembro de 1905, Else escreveu para DuBois em alemão, demonstrando hesitação e dúvidas:
Pretendo aceitar a sugestão do professor Weber e tentar uma tradução do seu livro. Digo tentar, pois tenho um número de obrigações a cumprir e não posso contar com a saúde necessária para a execução dessa tarefa. Durante a tradução, ficará evidente se posso fazer jus à sua obra. Não será fácil passar para o leitor alemão uma impressão mesmo que apenas aproximada da plasticidade e, ao mesmo tempo, da simplicidade do seu estilo. Após algum tempo, informarei o senhor sobre o progresso dos meus esforços.
Não sabemos se Else realmente começou a tradução ou se desistiu dela. Além das obrigações maternais e dos problemas de saúde aos quais se referiu, o desafio linguístico pode, de fato, ter sido grande demais.
O PERÍODO DOS EMARANHAMENTOS HUMANOS
Os professores bem-sucedidos de Heidelberg, empregando recursos próprios ou os bens de suas esposas, competiam construindo vilas, preferivelmente à beira do rio Neckar, a Riviera de Heidelberg. Max e Marianne Weber, por causa das incertezas em relação à saúde de Max, decidiram não construir ou comprar, mas optaram por alugar um imóvel à beira do rio e, em 1910, finalmente se mudaram para a vila da família de Souchay-Fallenstein. Lá, realizaram seus jours no grande salão com sua vista espetacular do rio e do castelo. Os Jaffé, por sua vez, decidiram construir sua mansão no alto, logo abaixo das famosas ruínas, (Unter der Schanz). A vila (que hoje pertence à universidade) foi construída por volta de 1906. Agora, Edgar podia oferecer a Else seu próprio ambiente representativo. Mas nem tudo se desenvolveu como ele esperara ao abrir sua vila para um número crescente de visitantes, culminando na dramática entrada em cena de Otto Gross (1877 - 1920), no início de 1907.
Porém, o primeiro amante de Else, que ela mantinha fora de vista, não estava entre os visitantes: Friedrich Völcker (1872 - 1955), um cirurgião da clínica universitária que tratou seus problemas ciáticos que haviam voltado a atormentá-la após o nascimento de Marianne. O muito discutido relacionamento com Otto Gross foi bem diferente, uma combinação de atração intelectual e sexual extraordinária.17 17 Em 13 de setembro de 1907, Weber escreveu sua famosa carta para Else (Weber, 1990: 393 - 403). Após ter estudado a fundo a literatura freudiana, ele, em tom altamente sarcástico, rejeitou um manuscrito de Gross que Else havia lhe submetido para o Archiv. Sua argumentação era apurada, mas por trás dela se escondia, segundo o consenso geral, o seu próprio ciúme e amor intensos disfarçados como preocupação pelo bem-estar moral de Else. Ver Schwentker (1988: 661 - 681) e Roth (2001: 581 - s). Eles se conheceram através da amizade de longa data entre Else e Frieda Schloffer, que se casou com Otto em 1903. Else continua em suas anotações:
A amiga de minha juventude, Frieda Gross, através de cujos círculos conheci os Weber e pessoas como [Friedrich] Naumann, entrou novamente em minha vida. Ela se casou com o psiquiatra e aluno de Freud, Otto Gross. 1906. Eu o encontro em Munique. Os dois [1907, anotado na margem], Frieda e Otto, concedem um ao outro, por amor, toda liberdade que se qualifica para isso dentro de sua "casta". Nenhum erotismo reprimido! "Else, porque não?" Otto vem a Heidelberg [abril de 1907, na margem]. Edgar é afetado pela nova rejeição. Disputas teóricas com os Weber [1907, na margem]. O pequeno Peter vem ao mundo.
Frieda Gross estava grávida na época. Seu filho Peter nasceu em 31 de janeiro de 1907.18 18 Peter Gross (1907 - 1946) tornou-se doutor em medicina. Após viver com Else durante um tempo na década de 1920, ele estava ansioso para deixar a Alemanha após 1933 (ver a carta de Else para Friedel, 6 set. 1933). Durante a guerra, conseguiu viajar para Davos, na Suíça, onde morreu de tuberculose em 21 de setembro de 1946. O Peter de Else, gerado por Otto, nasceu em 24 de dezembro de 1907. Marianne estava muito envolvida, dada sua intimidade com Else.
A tentativa de Otto de agrilhoar as duas mulheres a si mesmo fracassa. Frieda ainda não estava disposta a desistir de seu casamento e Else continuou seu relacionamento com Friedrich Völcker, que Otto, com seu senso de superioridade elitista, considerava ser "vulgar" e "democrático".
Até então, não existia nada na correspondência de Else que se igualasse à intimidade de suas cartas para sua tão amada amiga Frieda Gross, que ela chamava de Friedel.19 19 Apesar de, em sua carta do dia 13 de junho, Else dar a entender para Friedel que teria queimado as cartas que recebera dela, guardou um número significativo. No início da década de 1970, Else as entregou a Martin Green que as depositou na Digital Collections and Archives, da Tufts University, número de coleção MS 008 (Guia para os documentos de Else von Richthofen). Em sua carta de 13 de junho (Else acrescentou "1908" em tinta vermelha), ela fala abertamente sobre seu relacionamento com Edgar, Friedrich Völcker e Otto Gross e sobre os emaranhamentos eróticos de seus amigos de Heidelberg. Mas agora que decidira levar uma "vida burguesa, após tudo que aconteceu [...] Edgar é o melhor dos companheiros na curiosa mistura que criei para mim mesma [...] Se jamais existiu uma mulher tola com conhecimento profundo de suas aflições, essa tola sou eu, mas reconhecimento não ajuda".
Durante o ano de 1909, tudo parecia se acalmar. O cirurgião recuara, as relações com Edgar eram amigáveis, havia uma "rica vida intelectual na linda vila, o jovem Friedrich Gundolf e seu círculo vieram e um Max Weber mais relaxado nos visitava de vez em quando" (Notas autobiográficas de Else von Richthofen). No verão, Max até se tornou padrinho de Peter quando Else decidiu batizá-lo juntamente com Hans, seu último filho, que nascera em 25 de fevereiro de 1909.
Mas a calma dos lindos dias de verão era traiçoeira. Em setembro de 1909, Max e Marianne participaram, com Edgar, das reuniões do Verein für Sozialpolitik, em Viena. Marianne se sentiu tremendamente aliviada ao encontrar Max em boa forma e tinha altas esperanças de que ele, finalmente, estivesse se recuperando. Depois, encontraram-se com Frieda Gross, em Graz, para onde Else havia viajado antes. Os Weber e os Jaffé continuaram sua viagem até o resort à beira do lago, em Grignano, próximo a Trieste, onde conversaram intensamente sobre ética moral. Foi lá que Marianne veio a entender, com absoluta clareza, o quanto Max se sentia atraído pela vitalidade e beleza de Else. Marianne, entristecida, retornou sozinha para Heidelberg, mas os Jaffé e Max continuaram até Veneza onde ficaram por pouquíssimo tempo. Esse episódio deu origem a toda uma mitologia que imaginava um encontro sexual entre Else e Max nos canais da cidade.20 20 Após apenas dois dias, em 11 de outubro, Max viajou apressadamente para Leipzig para uma reunião da diretoria da nova Soziologische Gesellschaft. Ver Weber (1994: 292) e Roth (2001: 584 - s).
Else, porém, providenciou um testemunho direto que esclarece a história, em outra carta íntima para Frieda, de 28 de novembro [acrescentou "1909" em tinta diferente], em que jurou:
Passar tempo com os Weber, digo, com Max W., é claro, foi uma experiência rica. Mas não é como você imagina: submeter-se a ele não é algo que se faça com gosto. De forma alguma. Especialmente nos momentos em que mais o amo e admiro é que sinto com a maior clareza o quão diferentes são as nossas visões da vida. Ele insiste que estou errada. E eu não posso protestar sempre e exclamar "Não, não!" Ele foi tão gentil, tão compreensivo e caloroso, e ainda o é. Mas não posso evitar que sinta que esse relacionamento, pelo menos assim como é agora, é como uma flor frágil de pouca vida que não está arraigada no solo.
Quando, no início de 1910, Else insistiu que não estava mais disposta a viver com Edgar sob o mesmo teto, ele tentou convencê-la à força, ameaçando tirar os filhos dela. Isso resultou em muitas discussões urgentes e negociações tensas entre os partidos envolvidos, incluindo não apenas Edgar, Else e Alfred, mas também Max e Marianne. Max começou a dar conselhos jurídicos não só para Else, mas também para sua mãe, lutando para manter o controle sobre seus próprios sentimentos diante da possibilidade de perder Else para Alfred.
A constelação emocional muito tensa em Heidelberg finalmente foi atenuada, mesmo que não resolvida, com a mudança dos Jaffé para Munique e redondezas. Em 1910, Edgar aceitou um cargo de professor na Handelshochschule de Munique, com direitos de ensino na universidade. Edgar fixou residência em Munique, mas também comprou uma casa em Irschenhausen, no vale de Isar, e outra na cidade próxima de Wolfratshausen, o Vogelnest, para Else; Alfred, que tinha fobia de pessoas que morassem acima dele, alugou uma cobertura em Ebenhausen, não longe dali. Em Munique, porém, Edgar não se limitou a dar aulas nas duas universidades, mas também se envolveu cada vez mais na vida boêmia de Schwabing, à qual Otto Gross o havia introduzido em 1907.
Já no fim de sua vida, Else lembrou esse período de emaranhamentos humanos e refletiu sobre o papel que ocupara nele. Quando, em seu 89º aniversário, Friedel escreveu para ela e expressou sua profunda veneração por ela, esta respondeu que se referir a ela naqueles termos não era apropriado. Acrescentou uma confissão, curiosamente citando Caroline Schlegel-Schelling: "Eu 'ousadamente me permiti' (wagend erlaubt) fazer muitas coisas e, assim, causei muita dor a outros. A cada dia, sinto gratidão pelo fato de isso não ter afetado o amor entre mim e meus filhos" (7 out. 1963).21 21 Else se lembrou de uma carta que Caroline escrevera para Friedrich Wilhelm Schelling, em março de 1801, pouco antes de se divorciar de Wilhelm Schlegel e de se casar com ele: "A profunda convicção da minha fidelidade interior permitiu que ousadamente me permitisse cometer atos maus. Mas sabia do eterno equilíbrio em meu coração" (Schelling, 1914: 242; tradução livre).
A GRANDE GUERRA, A REVOLUÇÃO DE 1918 E O AMARGO FIM
Em 1913, começou a Primeira Guerra dos Balcãs, pressagiando o início da Grande Guerra. Na primavera, Edgar e um colega viajaram para a Grécia e Turquia e foram testemunhas de uma primeira demonstração do conflito moderno na terra e no mar. Mas não faziam ideia do que estava por vir. Em uma carta de 2 de agosto de 1934 para seu filho, Friedel, e sua esposa, Marianne, que tinham emigrado para Nova York, Else se lembra: "Hoje, faz vinte anos que a guerra começou. Ainda sinto o momento, à janela de sacada no Vogelnest, enquanto meu pai e Alfred conversavam, e senti uma dor aguda no peito ao entender o que a guerra significava". De repente, os eventos da vida privada pareciam triviais. Durante os primeiros meses, quando as mortes na frente de guerra rapidamente se transformaram em um massacre em grande escala, Else tinha que encarar a morte iminente de seu pai. "Um fim assim é tão doloroso, justo em um tempo que concede a tantos uma morte linda e orgulhosa!", ela escreveu em 2 de janeiro de 1915 para Marianne Weber, que estava extática em relação à guerra e se identificava com os soldados e seu heroísmo.22 22 Ver o texto anônimo de Marianne Weber, "Erlebnisse der Seele", publicado em fevereiro de 1915 na revista Die Frau (Weber, 1915), e Roth (2001: 587). Mas Else conseguiu encontrar seu rumo antes de Marianne. No início, Else confirmou as convicções de Marianne: "Quero persuadir sua consciência que não deve sentir vergonha de seus sentimentos. Como pode o mundo suportar tanto sofrimento se não houver corações cuja dádiva é ser corajoso e sereno?". Mas também a aconselhou a criar certa distância em relação à guerra e a retomar sua própria vida: "Começo a pensar, porém, que não há nada de errado em retornar gradativamente para a sua própria vida e seus interesses intelectuais, agora que a guerra está deixando de ser um evento excitante e passa a ser um estado normal".23 23 Em 1964, Else recuperou as cartas que escrevera para Marianne que as havia guardado desde 1897. Ela enviou esta carta, que só foi completada em 6 de fevereiro de 1915, para Friedel (agora, no LBI). Else estava ansiosa para levar uma vida calma com seus filhos, agora que a guerra estava ocupando Alfred, que se voluntariara a lutar no front. Mas sua felicidade doméstica foi cruelmente interrompida com a morte totalmente inesperada de Peter, aos oito anos de idade, em 15 de outubro de 1915.24 24 Max Weber, o padrinho de Peter, também sentiu a morte do garoto. A perda foi importante para a reconciliação de Else e Max, em 1917 (após um primeiro reencontro em 1916). Edgar voltou às pressas de Bruxelas.
No início de abril de 1915, Edgar havia começado a trabalhar no escritório de assuntos bancários do governo-geral de Bruxelas. O general von Bissing, governador militar, estava planejando a anexação da Bélgica por iniciativa própria e logo se encontrou em conflito com o Ministério Imperial do Interior que queria manter suas opções abertas.25 25 Sobre as atividades durante e depois da guerra, ver Demm (2009: 86 - 101). A tarefa de Edgar consistia em estudar meios para criar uma posição econômica subserviente da Bélgica em relação à Alemanha. Entre 2 de abril e 27 de julho, ele escreveu doze cartas para Else sobre suas tarefas, viagens e impressões e também respondeu aos seus rela- tos sobre assuntos familiares, especialmente as crianças. As cartas demonstram que ela permaneceu sua confidente em relação a personalidades e questões militares e administrativas. Assim, em 11 de abril, ele descreveu sua tarefa da seguinte maneira: "Estudo as relações financeiras da Bélgica com a economia mundial [...] Isso, é claro, é estritamente confidencial. Analiso também formas de como a moeda alemã poderia vir a substituir a União Monetária Latina". Ele também tentou despertar o interesse de Max Weber para que este se tornasse conselheiro (10 mai. 1915). Na segunda semana de agosto, Weber fez uma breve viagem para Bruxelas, que não o satisfez.26 26 Carta de Weber para Jaffé (Weber, [9 mai. 1915], 2008a: 49) e registros posteriores. A tarefa de Weber teria sido a análise das consequências da implementação da legislação de assistência social alemã para a competitividade no mercado mundial. Ver Mommsen (1974: 216 - s).
Edgar ficou impressionado pelo ânimo dos soldados e oficiais não comissionados, que não odiavam o inimigo, mas se sentiam "totalmente diferentes, como alemães" com um novo senso de identidade nacional (20 abr. 1915). Mas ele não via nenhuma correlação entre essa consciência nacional intensificada e os massacres de milhares de civis belgas. Edgar visitou as ruínas de Dinant, antigamente "uma cidade pitoresca de 7.000 habitantes que lembro bem de uma visita anterior" (24 mai. 1915). Lá, em 23 de agosto de 1914, mais de seiscentos civis, incluindo muitas mulheres e crianças, haviam sido massacrados após a ocupação da cidade, que não oferecera nenhuma resistência.
No outono de 1915, Edgar viu-se insuficientemente ocupado e pediu demissão. Em abril de 1916, fundou com Heinrich von Frauenhofer o Europäische Staats - und Wirtschaftszeitung [Jornal Europeu de Estado e Economia]. Na primeira edição, Edgar publicou uma declaração programática sobre "Der Geist von 1914" [O espírito de 1914], que, no contexto da propaganda de guerra, era oposto ao "espírito de 1789". Apesar de não compartilhar do extremismo da direita, levou em conta o idealismo que tentara explicar para Else em suas primeiras cartas. Ele nunca aceitara seus anos de trabalho no comércio na Inglaterra como sua verdadeira vocação e buscou formas para superar o individualismo e materialismo da era liberal. Repetindo temas comuns à crítica da cultura, defendeu uma "organização orgânica da sociedade" como reação à atomização individualista e os "mecanismos sem espírito" e o "aparato gigantesco" da economia moderna. Considerava, porém, algo positivo a criação de grandes organizações por cartéis, corporações, trustes e também sindicatos e cooperativas de operários. Devido à sua tendência kantiana, exigiu uma "integração estrita" do indivíduo à rede de obrigações sociais. Suas categorias principais eram Herrschaft und Dienst [dominação e serviço]. Defendeu a meritocracia, "a democracia verdadeira", em oposição ao poder majoritário pseudodemocrático. Isso não só garantiria o desenvolvimento harmonioso da personalidade, mas também "nossa posição entre as grandes nações" (Jaffé, 1916Jaffé, Edgar. Der Geist von 1914. Europäische Staats - und Wirtschaftszeitung, 1916, 1, p. 9 - 10.).
Em suas cartas, Edgar também adotou "as ideias de 1914". Acreditava que, uma vez que a guerra, após a esperada saída de cena da Rússia, se transformasse no confronto entre democracia e autoridade prussiana, o atual absurdo da luta demonstraria seu "significado histórico-mundial: uma guerra das ideologias, democracia versus autoridade, a ideia prussiana do estado versus as ideias de 1789" (6 mai. 1915). Um dos aspectos da compreensão de Edgar das "ideias de 1914" era sua convicção de que a classe operária precisava ser integrada à comunidade nacional. Em maio de 1915, enquanto estava em Bruxelas, rapidamente escreveu um ensaio sobre o Staatssozialismus und Gemeinwirtschaft [Socialismo estatal e economia social] para o primeiro volume que reunia autores acadêmicos e sociais democratas pelo bem da solidariedade nacional: "Quero enfatizar o quão importante considero ser a cooperação dos trabalhadores na economia 'militarizada', para que não obtenhamos apenas a metade de uma máquina, mas sim um organismo vivo" (15 mai. 1915).27 27 A contribuição de Jaffé foi publicada sob o título "Die Vertretung der Arbeiterinteressen im neuen Deutschland" [A representação dos interesses de trabalho na nova Alemanha] (Jaffé, 1915). O livro foi publicado em agosto. Entre os outros autores acadêmicos encontravam-se Hermann Oncken, Friedrich Meinecke, Gerhard Anschütz, Ferdinand Tönnies, Ernst Francke e Ernst Troeltsch. Baumgarten e Weber também apoiavam a integração da classe operária, mas Weber em particular teve uma de suas mais duras discussões com Jaffé ao rejeitar a representação "ocupacional" (em vez da representação parlamentar ou algo parecido com ela) e ao se opor à continuação da economia de guerra mesmo em tempos de paz.
Enquanto realmente acreditava que estava dando uma contribuição para encorajar a persistência dos soldados, não lhe passou despercebido o fato de que, após três anos, os regimentos de reserva, que consistiam principalmente de civis mais velhos, estavam exaustos. Como Max Weber, ele acreditava que as chances para uma paz negociada dependiam da firmeza do ânimo na frente e em casa. Nos meados de 1917, e ao contrário de Max Weber, ele ainda acreditava no provável sucesso da campanha irrestrita de submarinos e imaginava que a Inglaterra seria forçada a desistir do bloqueio e arcar com a metade dos custos da guerra, que giravam em torno de 50 a 60 bilhões. Edgar continuou com suas palestras propagandistas até 1918. Quando percebeu que a guerra não podia ser vencida por meios militares, ele começou a explorar canais não oficiais com os Aliados.
Após o fracasso das últimas ofensivas, Edgar observou a desmoralização e desintegração do exército. Ele ainda estava no campo de batalha e não em um lugar longínquo em Berlim, como Alfred, que assumira uma posição assalariada na Receita, em 1916. Suas observações o fizeram radicalizar. Surpreendeu a muitos com sua reviravolta revolucionária.
A volumosa literatura sobre a Revolução Bávara e a contrarrevolução tem dado muito mais atenção às figuras excêntricas que também eram conhecidas: escritores literários e filosóficos como Gustav Landauer, Erich Mühsam, Ernst Toller e Kurt Eisner, do que ao Jaffé "normal". Mas no início de novembro, Jaffé e Eisner agitaram em reuniões de massa em Munique e Jaffé participou do golpe que pôs um fim à monarquia bávara, sem derramamento de sangue. Em 8 de novembro, Eisner apresentou a uma "assembleia legislativa provisória", reunida às pressas no edifício do Landtag [Dieta], a lista dos ministros de seu gabinete, que recrutava membros de grupos políticos radicalmente diferentes. O próprio Eisner assumiu como primeiro-ministro e ministro do Exterior. Jaffé, o único membro acadêmico, ficou encarregado do "mais ingrato" (segundo Eisner), o Ministério das Finanças, e tornou-se Staatsminister der Finanzen. Assim, Eisner e Jaffé, como representantes dos Socialistas Independentes (USPD), se encontravam na minoria. O inimigo mortal de Eisner, Ignaz Auer, líder dos Socialistas Majoritários (SPD), concordou em ser ministro do Interior, mas apenas para expulsar Eisner o mais rápido possível. Os funcionários dos ministérios e os servidores civis em geral não foram substituídos, o que se mostrou uma fatal continuidade. As boas intenções de Eisner e Jaffé rapidamente vieram abaixo. A infeliz tentativa de Eisner de amenizar o armistício e as condições de paz ao assumir, em nome da Alemanha, grande parte da responsabilidade pela guerra, deixou a maioria do público alemão, inclusive Max Weber, totalmente enfurecida. Isso levou ao assassinato de Eisner e ao colapso de Jaffé e à sua morte precoce.
Os interesses domésticos principais, porém, diziam respeito ao papel dos conselhos dos operários (e soldados) e à possibilidade de sua "socialização". Com urgência crescente, ele defendeu a economia social como alternativa tanto para o capitalismo quanto para o comunismo. Devido aos eventos revolucionários, a questão do relacionamento entre os novos parlamentos e os conselhos dos operários e soldados agora era explosiva. Como Eisner, Jaffé não procurou a abolição total do Parlamento, mas exigiu conselhos de operários paralelos, que já existiam em várias formas, e uma representação por grupos vocacionais, que, porém, nunca se tornaram realidade. Esperavam, é claro, que essas instituições prevaleceriam ao longo do tempo. Em 12 de janeiro de 1919, Eisner e Jaffé sofreram uma derrota humilhante nas eleições parlamentares. Os Socialistas Independentes ocuparam o último lugar com apenas 2,5%. Após o assassinato de Eisner, em 21 de fevereiro de 1919, o novo gabinete foi proposto pelo socialista "místico" Gustav Landauer (1870 - 1919) que também foi morto em 2 de maio, antes do Congresso dos Conselhos dos Operários, Camponeses e Soldados Bávaros. Esse congresso reelegeu Jaffé como ministro das Finanças, mas o novo ministério exercia apenas a função de zelador que nem se reunia como corpo. Jaffé não fazia mais parte do ministério que Johannes Hoffmann (SPD) conseguiu estabelecer em 17 de março. Nessa data, ele se demitiu da posição de ministro de Finanças.
Jaffé, porém, continuou suas atividades políticas por mais alguns dias. Em 4 de abril, discursou em uma reunião na Löwenbräu sobre o tema "A universidade dos operários como legado de Kurt Eisner". Dois dias depois, Jaffé foi recomendado para a posição de representante econômico do povo, mas recusou em uma nota à imprensa, em 8 de abril. O novo regime sobreviveu apenas seis dias, antes de ser destituído pelo golpe comunista de 13 de abril que tinha uma base popular ainda menor. No início de maio, Munique foi ocupada por forças da direita que assassinaram mais de 2 mil homens e mulheres.
Em suas notas autobiográficas, Else admite que, após a promulgação da Räterepublik [República Soviética da Baviera] no início de abril, Edgar "se desligou. No último momento, conseguiu fugir com Friedel. Eu fiquei presa acidentalmente e presenciei os dias da República até que Alfred conseguiu tirar-me dali com as duas crianças". Em novembro de 1918, Else reagira ao golpe revolucionário de Eisner primeiro com uma mistura de surpresa e algum grau de admiração por um Edgar exaltado; para Marianne Weber, escreveu uma descrição vívida e inteligente dos seus primeiros dias como ministro e do seu próprio papel não oficial. Max respondeu (15 nov.) cumprimentando-a com "Querida excelência". Três dias antes, ele até brincara que Marianne estava
naturalmente com inveja, já que acredita que sou predestinado a ser pelo menos Reichskanzler (chanceler), e agora dependeremos de seu apoio se quisermos chegar a qualquer lugar [...] Marianne me pede explicitamente que lhe diga o quão injusto é que, de todos "seus" homens, apenas Edgar Jaffé tenha conseguido voar como uma águia.
Else e Max admitiram que Edgar, pelo menos durante algum tempo, havia conquistado a confiança de Eisner e garantido que os servidores civis fossem mantidos e pagos. Max também não considerou Edgar um vira-casaca, como fizeram tantos outros, já que agora a Revolução lhe parecia uma oportunidade para agir em relação a antigas convicções solidárias. Mas não demorou para que Else, Friedel com seus 15 anos e os Weber discordassem cada vez mais de Edgar, e o encorajaram a renunciar.
O próprio Max Weber se encontrava num dilema e enfrentava outro problema. Ele desejava desesperadamente ser chamado pela universidade de Munique a fim de poder estar perto de Else, agora que os dois tinham restaurado seu antigo afeto com muita intensidade. Mas a nomeação dependia, naquele momento, da decisão do Gabinete de Eisner. Em 20 de janeiro, Max ainda estava em dúvida e acreditava ser altamente improvável que Eisner "cairia de amores por ele". Na verdade, o Gabinete já havia decidido em 18 de janeiro, com apenas Jaffé, Frauendorfer e o ministro da Cultura, Hoffmann, dos Democratas Sociais presentes, dar início às negociações com Weber, desrespeitando a proposta da faculdade, que havia colocado Moritz Julius Bonn em primeiro lugar de sua lista; e Max Weber e Gerhart von Schulze-Gävernitz, em segundo. A presença de Jaffé aumentou claramente as chances de Weber, mesmo que não seja possível saber o que ele disse durante aquela reunião ou se havia feito algum acordo preliminar com Hoffmann. Edgar conhecia o desejo de Else.28 28 A nomeação de Weber pelo Ministério da Educação da Baviera (Bayerische Staatsministerium für Kultus und Unterricht) é datada de 6 de abril de 1919. Ela foi efetivada apesar das tentativas dos Räteregierung [Conselhos do Governo] e dos "acadêmicos revolucionários" de fechar as universidades e demitir quase todos os professores, mas encontraram uma resistência determinada. Ver Seligmann (1988: 220 - s).
Após seu fiasco político, Edgar fez um último esforço para se reabilitar, concentrando-se em "sua filosofia". Após escrever mais ou menos cinquenta páginas e lê-las para Else, sofreu um colapso no meio de junho e foi levado da rua Konrade, n. 16, para a clínica Neufriedenheim perto de Munique, em 18 de junho. Para Else aquilo representava uma situação financeira difícil e Max ofereceu seus conselhos. Quando Else e Alfred estavam viajando, Max visitou Edgar em lugar de Else e passou as notícias para ela e sua mãe, a Frau Baronin, que estava tomando conta das crianças. Edgar estava tão deprimido que se recusou a levantar-se da cama. Max achou que estava sofrendo de baixíssima autoestima, mas não acreditava que seu fim estivesse próximo. Inesperadamente, o próprio Weber morreu em 14 de junho de 1920. Edgar sobreviveu a ele por menos de um ano, sucumbindo à pneumonia em 29 de abril de 1921. O funeral foi realizado em 2 de maio.
Ao contrário de seu marido, que demonstrou alguma empatia por Edgar ao visitá-lo no sanatório, mesmo que em grande parte por causa de Else, Marianne não tinha simpatia alguma por Edgar e o condenou em termos morais e políticos. A Else viúva assumiu um tom bem diferente de Marianne e esboçou um obituário apreciativo e compassivo, provavelmente em uma tentativa de responder à má reputação pública de Edgar.
Professor da universidade de Munique e da Handelshochschule. Além de seu trabalho profissional, os anos que ali passou lhe propiciaram muitos estímulos estéticos e artísticos. Sempre conseguiu passar para o ambiente seu senso de beleza e sua sensibilidade inata, apesar da simplicidade e modéstia de seu caráter e de suas necessidades. O tempo foi enriquecido por viagens e excursões, das quais as crianças passaram a participar cada vez mais. Durante a guerra, trabalhou em Bruxelas durante meio ano e participou com grande empenho das palestras organizadas pelos quartéis do exército na frente ocidental para oficiais e soldados. Mas convenceu-se cada vez mais de que outros meios que não a força seriam necessários para pôr um fim à guerra. Essa convicção e os ideais sociais que havia defendido já há algum tempo em seus escritos acadêmicos fizeram com que se interessasse muito pelos desenvolvimentos políticos da Alemanha pós-imperial. Sua vontade de viver foi destruída pela amarga decepção diante do colapso de suas esperanças e de sua fé na possibilidade de que também nas esferas política e pública os relacionamentos de seres humanos poderiam basear-se na gentileza e humanismo puros. Sem sucesso, tentou encontrar nova motivação escrevendo sobre as ideias filosóficas e religiosas com que se ocupara durante toda sua vida. Sucumbiu à severa doença, que começara na primavera de 1919, em 29 de abril [de 1921].
Com 93 anos de idade, Else olhou para trás e escreveu para seu filho Friedel Jeffrey:
Ainda tenho escritos de seu pai. Apesar de sua sábia inteligência e de projetos inspirados como, por exemplo, a compra do Archiv, faltou-lhe vitalidade. Antes de adoecer, tivemos uma conversa afetuosa sobre nossas dificuldades, e por isso me sinto grata (12 set. 1967).
OS PRÓXIMOS CINQUENTA ANOS
Quando Edgar Jaffé, Otto Gross e Max Weber morreram, entre 1920 - 21, Else Jaffé ainda viveria cinquenta anos antes de falecer em seu centésimo ano de vida, em 1973. Durante os meses revolucionários e a longa contrarrevolução, seus filhos Friedel e Marianne - Hans ainda não havia alcançado a adolescência - foram discriminados pelo antissemitismo na escola, e Else viu-se excluí- da da vida dos círculos universitários e da "sociedade" de Munique. Ela estava vivendo as consequências de ter se casado com um judeu, mesmo que convertido, que havia participado de um governo revolucionário e ajudado a derrubar uma monarquia. Sua situação econômica piorou seriamente, já que as ações de Edgar nada mais valiam e a inflação tinha corroído completamente as suas finanças. Nos meados da década de 1920, a estabilidade relativa da República de Weimar permitiu que os filhos estudassem direito (Friedel), física (Hans) e pré-medicina (Marianne). Em 1925, Else voltou para Heidelberg e se mudou para mais perto de Alfred, mas foi só em 1931 que passaram a viver na mesma casa, mesmo que em apartamentos separados. Dois anos depois, aconteceu a catástrofe: Else e seus filhos foram atingidos pela perseguição sistemática dos nazistas. Havia muitos casamentos "mistos" em seu círculo de Heidelberg e além. Os nazistas rapidamente introduziram a categoria de "Mischlinge" ("mestiços") no primeiro e segundo grau e de "cristãos não arianos". Friedel foi demitido de seu emprego como servidor público de alto escalão; Hans ainda conseguira concluir seu doutorado, mas para ele também não existia nenhuma perspectiva de trabalho; e Marianne foi proibida de continuar seus estudos. Mesmo que com o coração apertado, Else deu seu apoio quando Friedel e sua esposa não judia, Marianne Riezler, que haviam se casado a tempo em 1933, emigraram o mais rápido possível para Nova York. O pai de Marianne, Walter, e seu tio, Kurt Riezler, foram demitidos por razões políticas. Hans Jaffé seguiu seu irmão para os Estados Unidos em 1935, e Kurt Riezler, que fora a mão direita do chanceler Bethmann Hollweg, viajou para os Estados Unidos em 1938 com sua esposa Kaethe Liebermann, filha do famoso pintor. Os planos de Marianne Jaffé falharam por causa da relutância de seu marido, Hans von Eckhardt, que havia sido demitido como professor em Heidelberg, em 1933, por razões políticas, e depois impedido de encontrar outro emprego porque era marido de uma Mischling de primeiro grau. Marianne von Eckhardt trabalhou para uma organização de caridade de cristãos "não arianos" e acompanhou dois grandes grupos do Kindertransport [transporte de crianças] para Londres, em 1938 - 39, antes de ser forçada a voltar.
Durante quase quarenta anos, Else manteve uma correspondência transatlântica que cresceu em volume e atingiu o número de várias centenas de cartas em alemão e também em inglês. Ela falava esse idioma fluentemente. Estava determinada a manter a família intimamente unida. Além de muitos detalhes familiares, as cartas do período nazista documentam o crescente fluxo de emigrantes, as partidas e chegadas, em meio a acontecimentos cada vez mais ameaçadores. O círculo em volta de Else, Alfred e Marianne Weber continuou diminuindo, ao mesmo tempo em que o "Heidelberg-do-Hudson" começou a emergir em Nova York.
Após o início da guerra europeia em 1939, Else acrescentou "von Richthofen" às cartas para os olhos da censura, mas nunca desistiu de seu nome Jaffé. A correspondência com os Estados Unidos foi interrompida pela declaração de guerra de Hitler, em dezembro de 1941. Quando pôde ser retomada em 1945, primeiro através de intermediários, Else, sua filha Marianne e seus filhos, como a maioria dos oponentes e vítimas do regime nazista, tiveram que suportar as durezas dos primeiros anos do pós-guerra. Muitas cartas foram gritos de socorro respondidos a tempo com pacotes de mantimentos e outros tipos de ajuda.
Alfred Weber, aos 77 anos de idade, e Hans von Eckhardt, com apenas 55, tornaram-se muito ativos novamente na universidade e no restabelecimento de partidos e governos democráticos. Suas cartas refletem seus sucessos e fracassos. Após expurgações incompletas, a universidade de Heidelberg foi, em parte, "renazificada". Alfred tornou-se uma figura de proa dos movimentos neutralistas que tentavam impedir uma divisão permanente da Alemanha. Isso provocou o confronto direto com as políticas ocidentais e economias liberais de Adenauer e Erhard.
Else compartilhara primeiro da marginalização de Alfred no período nazista e, agora, de sua grande proeminência pós-guerra. Ao mesmo tempo, ela e Friedel, após a morte de Alfred em 1958, concordaram que ela deveria sempre manter uma vida própria, especialmente para seus filhos e netos e, em breve, bisnetos. Quando Alfred morreu, os acontecimentos políticos já o haviam ultrapassado. Sua reputação acadêmica e sua sociologia sintética de valores também entraram em rápido declínio à luz da crescente importância internacional de Max Weber. Durante o famoso e controverso centenário da Sociedade Alemã de Sociologia de Heidelberg, em 1964, Else Jaffé compareceu como convidada de honra com sua amiga íntima e ex-rival, Mina Tobler, em uma reunião simbólica com Max que provavelmente não foi entendida pela maioria dos participantes.29 29 Ver Lepsius (2004: 77 - 89) e também Roth (2006: 377 - 392).
Else manteve um círculo pessoal notável de amigos locais e visitantes proeminentes de todas as partes do mundo, apesar da diminuição constante no número de membros de sua própria geração, devido à idade. Ela continuou a ler vorazmente e a escrever em inglês e alemão, mesmo que em ritmo desacelerado, até muito depois de completar 90 anos. Em seus últimos anos, uma constelação de fatores preparou o fundamento para seu último momento de fama ao lado de sua irmã Frieda Lawrence. D. H. Lawrence e Max Weber alcançaram o auge de suas reputações internacionais, resultando nos grandes projetos da edição completa de suas obras. Ao mesmo tempo, a literatura secundária foi crescendo rapidamente e retratações biográficas das duas figuras tornaram-se populares. Else tinha traduzido obras de seu amigo D. H. Lawrence aos vinte e poucos anos e o livro autobiográfico Not I, but the Wind [Eu não, o vento] de sua irmã, em 1936. Agora, estava sendo procurada cada vez mais por escritores interessados não só nos dois homens, mas também nas mulheres em sua volta. Durante muito tempo, Else havia pensado em negar as cartas e os documentos anteriores a 1920 à posterioridade, e chegou a destruir muitos, mas aos poucos ela foi liberando mais e mais segredos que haviam sido guardados por muito tempo. Em específico, preservou uma coleção altamente seletiva das últimas cartas de Max Weber para ela.30 30 A serem publicadas em Max Weber Gesamtausgabe, II/10, em 2012. Nos últimos meses de sua vida, ela deixou claro que não queria ser esquecida à sombra da fama de sua irmã. Assim, as primeiras cartas sobreviveram junto com as cartas transatlânticas.
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Tradução de Markus A. Hediger
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Este artigo é uma versão abreviada de "Edgar Jaffé and Else Von Richthofen in the Mirror of Newly Found Letters", publicado em Max Weber Studies, 2010, 10/2, p. 151 - 188 (N. E.).
NOTAS
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1
Meu relato se baseia, em grande parte, na correspondência entre Else von Richthofen e Edgar Jaffé, entre 1902 e 1918. Após a morte de Else, em 1973, as cartas passaram para sua filha Marianne von Eckhardt, em Heidelberg, e para seu filho Friedel Jaffé/Jeffrey, que fora forçado a emigrar com seu irmão Hans, em 1933. Por sugestão minha, a correspondência dos Jaffé, somando mais de mil cartas escritas ao longo de um século, foi doada ao Leo Baeck Institute (LBI), em Nova York, no início de 2009, pelo filho de Friedel, Christopher Jeffrey. (Entre as cartas estão algumas de Frieda Lawrence e Ferdinand von Richthofen.) Neste fundo também estão depositadas as notas autobiográficas de Else. A maioria das cartas trocadas entre Marianne e Max Weber se encontram na Bayerische Staatsbibliothek (BSB), Deponat Max Weber-Schäfer, Ana 446. A correspondência de 1902 é especialmente valiosa porque revela em detalhes o desenvolvimento do relacionamento e seu contexto social e acadêmico mais amplo. Ela compreende 29 cartas de Edgar; e 24, de Else. Muitas cartas são respostas diretas, mas há também intervalos notáveis. Estimo que pelo menos metade da correspondência de 1902 foi preservada. As cartas de 1903 a 1905 são todas de Edgar. A situação em 1908 - 09, com suas muitas complicações psicológicas e sexuais, é revelada em duas cartas de Else para sua alma gêmea Frieda Schloffer/Gross. Quanto ao período da guerra, refiro-me aqui principalmente às cartas que Edgar escreveu em Bruxelas e Lorena.
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2
Trata-se de uma variante prussiana de um tipo escola secundária, o Gymnasium, cujo foco era o ensino de humanidades. Diferente deste, cuja matriz era o ensino de grego e latim, o curso do Realgymnasium (que também durava nove anos) baseava-se apenas neste último idioma (N. E.).
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3
Espécie de certificado de conclusão da educação secundária na Alemanha que, antigamente, era ligado ao serviço militar, mas que hoje refere-se ao nível médio em geral (N. E.).
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4
Trata-se do exame de conclusão do ensino secundário na Alemanha, o qual é exigido para o ingresso no ensino superior (N. E.).
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5
Recruta que possuía nível superior (N. E.).
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6
Jaffé logo escreveu um artigo para o jornal de Schmoller, prestigioso em sua área de experiência prática (Jaffé, 1900 ______.Die englische Baumwollindustrie und die Organisation des Exporthandels. Schmollers Jahrbuch für Gesetzgebung, 1900, 24/3, p. 193 - 217.: 193 - 217).
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7
Edgar também contribuiu com o artigo "Die westdeutsche Konfektionsindustrie mit besonderer Berücksichtigung der Heimarbeit" (Jaffé, 1899a ______. Die westdeutsche Konfektionsindustrie mit besonderer Berücksichtigung der Heimarbeit, Schriften des Vereins für Sozialpolitik, 1899a, 86/3, p. 99 - 187.: 99 - 187).
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8
De um rascunho, escrito, provavelmente, durante o último semestre de Else em Berlim, no início de 1900.
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9
Do rascunho do início de 1900.
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10
A palestra foi publicada em Von Richthofen (1902: 14 - 26) ______. Die weibliche Fabrikinspektion. Der Arbeiterfreund, 1902, 40, p. 14 - 26.. Nela, Else descreveu suas tarefas cooperativas, que abrangiam cerca de 60 mil operárias: revisão de regulamentações de local de trabalho, pedidos de construção para padarias, pedidos de permissão para horas extras etc. Finalmente, ela foi encarregada da supervisão da indústria de charutos em que setecentas empresas empregavam 23 mil mulheres ao lado de 11 mil homens (Bocks, p. 90 - 91). Ainda em 1910, Else publicou "Die Frau in der Gewerbeinspektion" (Von Richthofen, 1910: 48 - 69).
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11
26 de junho de 1900, Tufts Collection, #2.
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12
A dissertação foi publicada sob o título Die Arbeitstheilung im englischen Bankwesen [A divisão do trabalho no sistema bancário inglês] (Jaffé, 1902 ______. Die weibliche Fabrikinspektion. Der Arbeiterfreund, 1902, 40, p. 14 - 26.).
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13
A correspondência se encontra na coleção Braun-Vogelstein, do LBI. Agradeço a Peter Ghosh por levar as cartas à minha atenção.
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14
A literatura secundária tende a atribuir o Geleitwort principalmente a Weber, mas Peter Ghosh demonstrou de forma convincente que era principalmente um texto de Sombart, como ele mesmo afirmara em uma carta para Julie Braun-Vogelstein, em 5 de abril de 1927 (Coleção Braun-Vogelstein, LBI). Ver Peter Ghosh (2010: 71 - 100)Ghosh, Peter. Max Weber, Werner Sombart and the Archiv für Sozialwissenschaft: the authorship of the "Geleitwort" (1904). History of European Ideas, 2010, 36, p. 71 - 100..
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15
Ver a carta de Heinrich Herkner para Julie Braun-Vogelstein, Berlim, 7 abr. 1927, em Herkener ([1932] 1967: 327).
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16
Sob o nome de W. E. Burghardt du Bois, publicou "Die Negerfrage in den Vereinigten Staaten", no Archiv (DuBois, 1906DuBois, William Edward Burghardt. Die Negerfrage in den Vereinigten Staaten. Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik, 1906, 22, p. 31 - 79.: 31 - 79). Sobre a relação de Weber com DuBois, ver Scaff (2010)Scaff, Lawrence A. Max Weber in America. Princeton: Princeton University Press, 2010..
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17
Em 13 de setembro de 1907, Weber escreveu sua famosa carta para Else (Weber, 1990Weber, Max. Max Weber Gesamtausgabe. Tübingen: Mohr Siebeck , 1990 (vol. II/5).: 393 - 403). Após ter estudado a fundo a literatura freudiana, ele, em tom altamente sarcástico, rejeitou um manuscrito de Gross que Else havia lhe submetido para o Archiv. Sua argumentação era apurada, mas por trás dela se escondia, segundo o consenso geral, o seu próprio ciúme e amor intensos disfarçados como preocupação pelo bem-estar moral de Else. Ver Schwentker (1988: 661 - 681)Schwentker, Wolfgang. Leidenschaft als Lebensform: Erotik und Moral bei Max Weber und im Kreis von Otto Gross. In: Mommsen, Wolfgang & Schwentker, W. (orgs.). Max Weber und seine Zeitgenossen. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1988, p. 661 - 681. e Roth (2001: 581 - s) ______. Max Webers deutsch-englische Familiengeschichte 1800 - 1950. Tübingen: Mohr Siebeck, 2001..
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18
Peter Gross (1907 - 1946) tornou-se doutor em medicina. Após viver com Else durante um tempo na década de 1920, ele estava ansioso para deixar a Alemanha após 1933 (ver a carta de Else para Friedel, 6 set. 1933). Durante a guerra, conseguiu viajar para Davos, na Suíça, onde morreu de tuberculose em 21 de setembro de 1946.
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19
Apesar de, em sua carta do dia 13 de junho, Else dar a entender para Friedel que teria queimado as cartas que recebera dela, guardou um número significativo. No início da década de 1970, Else as entregou a Martin Green que as depositou na Digital Collections and Archives, da Tufts University, número de coleção MS 008 (Guia para os documentos de Else von Richthofen).
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20
Após apenas dois dias, em 11 de outubro, Max viajou apressadamente para Leipzig para uma reunião da diretoria da nova Soziologische Gesellschaft. Ver Weber (1994: 292) ______. Max Weber Gesamtausgabe. Tübingen: Mohr Siebeck, 1994 (vol. II/6). e Roth (2001: 584 - s) ______. Max Webers deutsch-englische Familiengeschichte 1800 - 1950. Tübingen: Mohr Siebeck, 2001..
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21
Else se lembrou de uma carta que Caroline escrevera para Friedrich Wilhelm Schelling, em março de 1801, pouco antes de se divorciar de Wilhelm Schlegel e de se casar com ele: "A profunda convicção da minha fidelidade interior permitiu que ousadamente me permitisse cometer atos maus. Mas sabia do eterno equilíbrio em meu coração" (Schelling, 1914Schelling, Caroline. Carolines Leben in ihren Briefen. Leipzig: Insel Verlag, 1914.: 242; tradução livre).
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22
Ver o texto anônimo de Marianne Weber, "Erlebnisse der Seele", publicado em fevereiro de 1915 na revista Die Frau (Weber, 1915Weber, Marianne. Erlebnisse der Seele. Die Frau, 1915.), e Roth (2001: 587) ______. Max Webers deutsch-englische Familiengeschichte 1800 - 1950. Tübingen: Mohr Siebeck, 2001..
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23
Em 1964, Else recuperou as cartas que escrevera para Marianne que as havia guardado desde 1897. Ela enviou esta carta, que só foi completada em 6 de fevereiro de 1915, para Friedel (agora, no LBI).
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24
Max Weber, o padrinho de Peter, também sentiu a morte do garoto. A perda foi importante para a reconciliação de Else e Max, em 1917 (após um primeiro reencontro em 1916).
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25
Sobre as atividades durante e depois da guerra, ver Demm (2009: 86 - 101) ______. Eine Sexbombe der Jahrhundertwende: Else Jaffé-von Richthofen und ihre Liebhaber. In: Dehmlow, Raimund et al. (org.). Die Rebellin des Otto Gross. Marburg: Verlag Literaturwissenschaft, 2008, p. 381 - 403..
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26
Carta de Weber para Jaffé (Weber, [9 mai. 1915], 2008a ______. Max Weber Gesamtausgabe. Tübingen: Mohr Siebeck, 2008a (vol. II/9).: 49) e registros posteriores. A tarefa de Weber teria sido a análise das consequências da implementação da legislação de assistência social alemã para a competitividade no mercado mundial. Ver Mommsen (1974: 216 - s)Mommsen, Wolfgang. Max Weber und die deutsche Politik 1890 - 1920. 2.ed. Tübingen: J. C. B. Mohr, 1974..
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27
A contribuição de Jaffé foi publicada sob o título "Die Vertretung der Arbeiterinteressen im neuen Deutschland" [A representação dos interesses de trabalho na nova Alemanha] (Jaffé, 1915 ______. Die Vertretung der Arbeiterinteressen im neuen Deutschland. In: Thimme, Friedrich & Legien, Carl (orgs.). Die Arbeiterschaft im neuen Deutschland. Leipzig: Hirzel, 1915, p. 98 - 114.). O livro foi publicado em agosto. Entre os outros autores acadêmicos encontravam-se Hermann Oncken, Friedrich Meinecke, Gerhard Anschütz, Ferdinand Tönnies, Ernst Francke e Ernst Troeltsch.
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28
A nomeação de Weber pelo Ministério da Educação da Baviera (Bayerische Staatsministerium für Kultus und Unterricht) é datada de 6 de abril de 1919. Ela foi efetivada apesar das tentativas dos Räteregierung [Conselhos do Governo] e dos "acadêmicos revolucionários" de fechar as universidades e demitir quase todos os professores, mas encontraram uma resistência determinada. Ver Seligmann (1988: 220 - s)Seligmann, Michael. Aufstand der Räte: Die erste bayerische Räterepublik vom 7 April 1919. Grafenau-Döffingen: Trotzdem Verlag, 1988..
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29
Ver Lepsius (2004: 77 - 89)Lepsius, M. Rainer. Mina Tobler, die Freundin Max Webers. In: Meurer, Baerbel (org.). Marianne Weber: Beiträge zu Werk und Person. Tübingen: Mohr Siebeck, 2004, p. 77 - 89. e também Roth (2006: 377 - 392) ______. Heidelberg und Montreal: Zur Geschichte des Weberzentenariums 1964. In: Ay, Karl-Ludwig & Borchhardt, Knut. Das Faszinosum Max Weber: Die Geschichte seiner Geltung. Konstanz: UVK Verlag, 2006, p. 377 - 92..
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30
A serem publicadas em Max Weber Gesamtausgabe, II/10, em 2012.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jan-Jun 2011