Resumo
Este texto examina a recepção do pensamento nietzschiano por Marcel Proust. Para isso, demonstra-se o cenário de recepção do pensamento nietzschiano na França e como Proust nele estava inserido. Verificamos que Proust teve uma formação filosófica aprofundada. No entanto, demonstra-se aqui que, embora, supostamente, a única obra de Nietzsche lida atentamente por Proust tenha sido o Caso Wagner, o filósofo alemão teve uma importante influência em seus romances. Conclui-se que, mesmo com as divergências de Proust em relação a Nietzsche, ambos os autores concordam que a literatura dá sentido à existência, ajuda a viver e permite aceder à verdadeira vida.
Palavras-chave: Nietzsche; Proust; Recepção
Abstract
This text examines the reception of Nietzschean thought by Marcel Proust. To this end, the reception scenario of Nietzschean thought in France is demonstrated, and how Proust was situated within it. We confirm that Proust had a profound philosophical background. However, it is shown here that, although supposedly the only work by Nietzsche carefully read by Proust was The Case of Wagner, the German philosopher had a significant influence on his novels. It is concluded that, despite Proust's divergences from Nietzsche, both authors agree that literature gives meaning to existence, helps in living, and allows access to true life.
Keywords: Nietzsche; Proust; Reception
“Na França, ninguém o conhece”, escreve Teodor de Wyzewa em 1891 1. Três anos depois, Henri Albert constata no Mercure de France que o nome de Nietzsche é célebre na França, embora sua obra ainda permaneça muito pouco conhecida. Em 1895, na pesquisa do Mercure de France sobre as relações franco-alemãs, Nietzsche é citado quatro vezes. Seu nome aparece vinte e três vezes em uma enquete análoga em 1902. Gide afirma que, desde 1898, a influência de Nietzsche precedeu, na França, a aparição de sua obra traduzida.2
Essas linhas de Geneviève Bianquis resumem a cronologia do início da recepção francesa de Nietzsche. Entre 18933, data da publicação da tradução de Cas Wagner. Un problème musical por Daniel Halévy e Robert Dreyfus nas Éditions Albert Schulz, e, na mesma editora, de À travers l'œuvre de Nietzsche. Extraits de tous ses ouvrages, de Paul Lauterbach e Adrien Wagnon, e 1898, data da publicação de Ainsi parlait Zarathoustra, traduzido por Henri Albert, e de Par-delà le Bien et le Mal, traduzido por L. Weiscopf e Georges Art, nas Éditions du Mercure de France, o nome de Nietzsche atingiu uma notoriedade considerável na França.
A estrela de Nietzsche ascende no horizonte dos intelectuais franceses à medida que a de Wagner declina. A publicação da tradução de Cas Wagner em 1892-1893 é sentida como uma provocação pelos wagnerianos. “O espírito de Nietzsche se mostra aí em toda sua feiura moral4", escreve Willy no L'Écho de Paris. Mas Édouard Dujardin, que dirigiu a Revue wagnérienne (1885-1888), constata desde 1903: "Wagner fascinou o final do século passado [...] Hoje, o espetáculo é outro [...]. O espírito alemão [...] acaba por negar a si mesmo ao produzir o grande homem que, alemão, representa a pura tradição francesa clássica; eu quero falar de Nietzsche." 5
É nesse contexto que se situa a recepção proustiana de Nietzsche.
Excelentes especialistas consideraram que as poucas ocorrências do nome de Nietzsche em À la recherche du temps perdu, nos ensaios e na correspondência de Proust testemunhavam um conhecimento apenas de segunda mão, parcial e exíguo do autor de Assim falava Zaratustra, revelando um tipo de superficialidade em relação à filosofia em geral6. Nós defendemos a tese oposta: Proust recebeu uma formação filosófica aprofundada, do curso de filosofia de Alphonse Darlu, no liceu Condorcet em 1888-18897, a seus estudos na Sorbonne, levados até a Licenciatura em Filosofia, obtida em março de 1895. Amigo de Daniel Halévy, seu condiscípulo no liceu Condorcet, Proust participou da aventura editorial da revista Le Banquet, que foi um dos primeiros focos do nietzschianismo francês. Em Em busca do tempo perdido, ele concebe um “romance filosófico [que] sente a necessidade de se desenvolver fora da filosofia” e no qual “os sistemas filosóficos afloram em vez de ocorrerem, e sem serem claramente designados, como alusões culturais”, de sorte que se pode qualificá-lo de “grande costureiro do tecido filosófico, capaz de ligar todos os sistemas e todas as doutrinas”8. E Nietzsche é um dos fios que compõem o tecido romanesco de Proust.
Em Jean Santeuil, Alphonse Darlu está representado pelas características de M. Beulier, e Proust descreve “os sentimentos dos alunos muito dotados para a literatura, que imaginam a filosofia por meio dela [...] e recebem o choque do raciocínio abstrato, muitas vezes desprovido de estilo, do filósofo”9. O jovem Proust percebeu a unidade profunda tanto da literatura quanto da filosofia e a diferença essencial entre elas. As reflexões do romancista sobre o tempo e a memória, sobre o sentimento subjetivo de continuidade e de identidade, sobre a arte, sobre a amizade e o amor serão firmadas sobre uma sólida cultura filosófica. Mas Proust se emancipará de toda obediência teórica, e sua cultura filosófica será posta inteiramente a serviço da criação literária. Em busca do tempo perdido pode ser considerado um romance filosófico, mas, nesse romance, “a verdadeira filosofia se encontra onde nenhum pensador é nomeado”, enquanto “a menção de diversos filósofos tem um papel anedótico”10. A dificuldade de um estudo sobre Proust e Nietzsche se deve ao fato de que ele não pode se limitar a elencar, nos textos proustianos, as alusões explícitas a Nietzsche, que são frequentemente colocadas na boca de personagens e que apenas expressam um ou outro tema do nietzschianismo francês da Belle Époque. Nada exclui que, em Proust, o pensamento de Nietzsche esteja presente nas passagens em que o nome de Nietzsche não é mencionado.
No fim de 1893, Proust inicia uma licenciatura em filosofia na Sorbonne. Ele segue os cursos de Émile Boutroux, excelente conhecedor de Platão e Aristóteles, de Descartes e Leibniz, o curso de Paul Janet sobre “Unidade e diversidade do eu” e também as aulas do filósofo da arte Gabriel Séailles. Sua cultura filosófica não se limita a essa bagagem escolar e universitária. É necessário juntar a ela seu interesse por Schelling, Schopenhauer e Gabriel Tarde, e suas relações pessoais com Paul Desjardins, um discípulo de Jules Lagneau, e, sobretudo, com Henri Bergson11. No momento da publicação de Do lado de Swann, em 13 de novembro de 1913, Proust declara a um jornalista do Temps: “Meu livro seria talvez uma sequência de ‘romances do inconsciente’: eu não teria nenhuma vergonha em dizer ‘romances bergsonianos’, se eu acreditasse nisso, pois em toda época acontece de a literatura se esforçar para se ligar - tardiamente, naturalmente - à filosofia dominante”12.
Lembremos que, durante a primeira época de sua recepção na França, Nietzsche de modo algum fazia parte da “filosofia dominante”, pois, considerado um espírito excessivamente irracionalista e imoralista, ele foi mantido à distância pela maioria dos filósofos que lecionavam no ensino médio e superior. Inicialmente, o nietzschianismo alastrou-se nos círculos literários. Alphonse Darlu, em um artigo de 1899, intitulado “Classificação das ideias morais do tempo presente”, explica, por exemplo, que Nietzsche “percebeu a condição essencial, posso dizer metafísica, do princípio anárquico. Ele não tem verdade nem bem em si. É sobre o niilismo intelectual e moral que ele erigiu sua extravagante doutrina”13.
Na Revue de métaphysique et de morale, fundada em 1893, não havia temas sobre Nietzsche antes do necrológio publicado em suplemento ao número de setembro de 1900. Essa homenagem póstuma é, em realidade, muito crítica:
Ele tinha desenvolvido, com o mais absoluto rigor lógico, essa filosofia do ilógico, esse irracionalismo, que foi uma das inspirações principais do século XIX. Não há verdade; e o que se chama de verdade é apenas associações provisoriamente úteis, instrumentos de nosso instinto, que, enganado pela ilusão racionalista, cometeu por demasiado tempo o erro de estabelecer tanto absolutos quanto ideias platônicas. […] Encontramos esse irracionalismo da moda […] entre os teóricos do imoralismo, como Nietzsche; poder-se-ia invocar a incerteza das consequências da doutrina para demonstrar sua insuficiência e indeterminação14.
Em janeiro de 1901, a Revue de métaphysique et de morale confia a um principiante, Charles Le Verrier (aluno da École Normale Supérieure, que será aprovado na agrégation de philosophie em 1904), uma apresentação mais aprofundada do pensamento de Nietzsche, e o artigo começa por essas palavras: “Em nenhum sentido se pode dizer que ele professa a filosofia: ele não ocupou nenhuma cadeira e pouco se importava em construir um sistema”15.
Ora, os principais fundadores dessa revista, Xavier Léon, Élie Halévy, Léon Brunschvicg16, encontravam-se no liceu Condorcet no início dos anos 1880 e seguiam o ensinamento do neo-kantiano Alphonse Darlu. Foi Darlu quem redigiu a introdução (anônima) do primeiro número da Revue de métaphysique et de morale. Pode-se, portanto, dizer que Proust fez seus estudos de filosofia em um meio intelectual hostil a Nietzsche. Mas, é a outros conhecidos que Proust deve sua primeira descoberta do autor de O caso Wagner.
Marcel Proust era muito próximo da vanguarda do nietzschianismo parisiense: a revista Le Banquet, da qual foi cofundador no início do ano de 1892, e na qual ele publicou vários textos, dedicou nesse mesmo ano vários artigos a Nietzsche, escritos por Robert Dreyfus, Fernand Gregh e Daniel Halévy, seus antigos condiscípulos no liceu Condorcet. Em novembro de 1891, Daniel Halévy fala de Nietzsche pela primeira vez para Emmy de Némethy17. Para traduzir Le Cas Wagner. Un problème musical com Robert Dreyfus, ele aprende alemão e recebe ajuda de seus amigos, em particular de seu primo René Berthelot, aluno da École Normale Supérieure e agrégé de filosofia em 1892, que mais tarde se dedicará a um estudo sobre Nietzsche18.
No número 2 de Le Banquet, de abril de 1892, Daniel Halévy e Fernand Gregh publicam “Frédéric Nietzsche”, artigo seguido da tradução de extratos de Para além de bem e mal. No mesmo número dessa revista, figuram duas contribuições de Marcel Proust: “Études” e “Un livre contre l'élégance. Sens dessus dessous”. Proust certamente leu o artigo de D. Halévy e F. Gregh sobre Nietzsche, do qual temos algumas passagens:
Vida - eis de fato a palavra da filosofia de Nietzsche. Longe de ser pessimista, ele é o filósofo da confiança, da saúde, da alegria. Sem dúvida, ele começou sendo o “mais furioso” dos schopenhauerianos, mas ele não tardou em se libertar do pensamento do mestre para ascender ao otimismo mais naturalista. Nietzsche é o fermento da vida; todas as filosofias que negam a vida, do pessimismo místico dos cristãos ao socialismo contemporâneo, todas as doutrinas que temem a dureza da vida, para as quais a individualidade não é nada por ela mesma, e que, a pretexto de protegê-la, aniquilam-na dentro de um Deus misericordioso ou de uma democracia autoritária - ele as odeia. […] Moral budista, moral cristã, moral kantiana, fundadas na moral do mestre de sua juventude, Schopenhauer, são três morais da decadência; elas suprimem toda razão de viver ao negar o valor da vida; elas conduzem direto ao suicídio. […] Vamos ser jovens e orgulhosos novamente, como os nobres helenos “tão confiantes diante da natureza”, sobretudo como os velhos germanos, os mais magníficos dos bárbaros. Para darmos um sentido à vida, vivamo-la com todas as nossas forças. A moral mística, essa moral de escravos que renasce a cada decadência, inspira na arte obras antinaturais, mórbidas, “neuróticas” como Nietzsche gostava de repetir. Há uma estética da decadência, nascida das morais decadentes, e que é necessário combater também. Essa estética é a de Wagner. […] Toda relação social é um constrangimento; para viver, é necessário viver sozinho; a solitude é a grande virtude. E ninguém mais do que ele viveu sua doutrina em uma solitude confiante19.
O n. 3 de Le Banquet, de maio de 1892, contém uma resenha de Robert Dreyfus sobre a edição de 1889 de Crepúsculo dos ídolos, “La Philosophie du Marteau. Le Crépuscule des faux dieux”, na qual lemos: “Nietzsche não discute, ele afirma; ele não argumenta, ele extravasa. [...] Ele repete as coisas à saciedade, e seus leitores acabam tendo convicção [foi]. Como ele junta à originalidade de sua doutrina e ao furor de sua convicção o espírito de Henri Heine e a eloquência de Schopenhauer, essa abundância não é nada penosa, nem essa convicção é desagradável”20. R. Dreyfus interpreta em seus termos “O problema de Sócrates”:
A ironia socrática é um símbolo democrático, uma forma de furor popular. […] Ele se apresenta como um salvador. Acreditaram nisso. O libertador era um tirano. Ele engendrou Platão, o Cristo. Sócrates foi um erro. Toda moral de aperfeiçoamento é um erro, inclusive a moral cristã. O dever de dominar os instintos: - fórmula para a decadência; enquanto a vida cresce, a própria felicidade é um instinto21.
No fim de sua resenha, R. Dreyfus cita algumas considerações de Nietzsche extraídas de “Incursões de um extemporâneo”, § 1-4, sobre seus “impossíveis”: Sêneca, Dante, Victor Hugo, George Sand, Michelet, os Goncourt, Zola, e em seguida, Renan, Sainte-Beuve e a De imitatione Christi de Thomas à Kempis. O veredito muito severo de Nietzsche deve ter chamado a atenção do futuro autor de Contre Sainte-Beuve.
Em Le Banquet, n. 4, de junho de 1892, o título “Varia” está, em grande parte, dedicado a Nietzsche. Enfim, Le Banquet, n. 6, de novembro de 1892, publica “Frédéric Nietzsche et Peter Gast” de Robert Dreyfus. No mesmo número consta um artigo de Marcel Proust, “Études”. O artigo de Robert Dreyfus contém algumas fórmulas impactantes: “Nietzsche recusou violentamente as doutrinas democráticas”; “O único meio de sacudir o coração de povos inteiros é a guerra”; “Um romancista francês, segundo o Sr. Peter Gast, teria o capricho de fazer nascer o Além-do-homem na Alsácia e o faria reconquistar a Lorena e a Alsácia para a França”22. R. Dreyfus aponta na conclusão: “A terminologia de Nietzsche e certo jargão impreciso ainda invadem imperceptivelmente a nossa literatura. [...] Não é de se temer que a paixão nietzschiana [...] torne-se muito facilmente uma moda, como foi o entusiasmo por Tolstói e, sobretudo, o entusiasmo por Ibsen?”23.
Essa visão geral dos pontos de vista sobre Nietzsche, expressos em Le Banquet, sugere a hipótese segundo a qual o entusiasmo de R. Dreyfus, F. Gregh e D. Halévy por Nietzsche não atenua, aos olhos de Proust, o julgamento severo de Alphonse Darlu e de seus brilhantes discípulos filósofos, mas, ao contrário, o corrobora. Le Banquet, primeiro foco do nietzschianismo parisiense, deu a Proust uma antologia de fórmulas e de citações paradoxais e provocantes que não o levaram a considerar Nietzsche um filósofo digno desse nome, mas, antes, colocá-lo entre os ensaístas da moda, encantadores e surpreendentes, mas difíceis de se levar a sério.
É provável que Proust não tenha ido, a propósito de Nietzsche, além das informações trazidas pela tradução de O caso Wagner, pelos artigos publicados em Le Banquet e, posteriormente, pelos trabalhos lhe enviados por Daniel Halévy. Não há nada que permita afirmar que ele tenha se preocupado em ler os muitos volumes das Œuvres de Nietzsche publicadas pelo Mercure de France a partir de 1898.
Quanto ao ataque de Nietzsche contra Parsifal, em O Caso Wagner, ele certamente não foi suficiente para afastar Proust da música de Wagner, que ele admirava profundamente. A revelação da salvação pela escrita, suscitada pelas lembranças involuntárias em O tempo recuperado, é uma “‘iluminação à la Parsifal’, anota Proust em uma primeira versão de seu romance, quando a execução de um ato de Parsifal transporta o narrador à última manhã com a princesa de Guermantes”24.
A provocante declaração de Nietzsche no prefácio de O caso Wagner: “Eu louvo Bizet em detrimento de Wagner”, seguida, no primeiro capítulo, de frases tais como “Toda vez que eu ouvia Carmen, parecia que eu era mais filósofo, melhor filósofo, do que costume. [...] Bizet me torna fecundo. O Belo sempre me torna fecundo”,25 deve ter passado por uma piada pouco convincente aos olhos de Proust, que tinha laços de amizade com o filho do compositor, Jacques Bizet, seu colega no liceu Condorcet, e com a mãe, Geneviève Straus, nascida Halévy, viúva de Georges Bizet. Mesmo se ele tivesse toda a disposição para reconhecer os méritos de Bizet, Proust achava difícil conceber que se preferia Carmen a Parsifal26. Em A prisioneira, o narrador afirma:
Eu tive que admirar o mestre de Bayreuth sem nenhum dos escrúpulos daqueles a quem, como a Nietzsche, o dever dita fugir, na arte como na vida, da beleza que os tenta, daqueles que se afastam de Tristão por negarem Parsifal e, por ascetismo espiritual, de mortificação em mortificação, atingem, seguindo o mais sangrento dos caminhos da cruz, a elevação até o puro conhecimento e a adoração perfeita do Postillon de Longjumeau27.
Essa passagem foi diretamente inspirada por uma crônica de Paul Souday em Le Temps de 22 de outubro de 1915, que censurava um autor que, em um artigo da Revue hebdomadaire, escreveu que preferia Le Postillon de Longjumeau do que Os mestres cantores de Nuremberg28. Além do espanto suscitado pelo fato de alguém poder rejeitar o mestre de Bayreuth a ponto de colocar a ópera cômica de Adolphe Adam acima de uma obra prima de Wagner, há a estupefação dos primeiros leitores de O caso Wagner, traduzido por Dreyfus e Halévy, que descobriram que Nietzsche tinha Carmen como uma composição preferível a Parsifal.
“Proust, na disputa que ocupou toda a segunda metade do século XIX, entre os fanáticos da obra como totalidade [orgânica] e os partidários da fragmentação, [...] permanece fiel ao wagnerianismo, contra Nietzsche”29. Em O caso Wagner, o único livro de Nietzsche que podemos supor que Proust teria lido com atenção, no momento da publicação da tradução de Dreyfus et Halévy, Nietzsche se inspirou nos Ensaios de psicologia contemporânea (Essais de psychologie contemporaine) de Paul Bourget para definir o “estilo decadente” que ele via incutido em Wagner.
Qual é a característica de toda decadência literária? É o fato que a vida não reside mais no todo. A palavra torna-se soberana e se emancipa da página, - a frase se excede e obscurece o sentido da página, - a página toma vida em detrimento do todo, - o todo não é mais um todo. Eis o símbolo de todo estilo da décadence: a cada vez, anarquia dos átomos, desagregação.30
A posição diametralmente oposta era defendida por Gabriel Séailles, um dos mestres de Marcel Proust, em Ensaio sobre o gênio na arte (Essai sur le génie dans l'art), publicado em 1883, o mesmo ano do primeiro volume dos Ensaios de psicologia contemporânea de Bourget: “Cada sílaba tem seu caráter como sua personalidade e existe apenas pela palavra que a compreende; cada palavra tem seu valor e não é nada por si mesma, ela está inserida na proposição que se insere na frase. A frase é um todo, mas à maneira do órgão no corpo animado. O estilo é uma forma viva na qual os seres vivos se encapsulam ao infinito”31.
O esforço de Proust teria consistido em lutar contra o risco de fragmentação do grande conjunto de Em busca do tempo perdido. “Quanto a esse livro”, escreveu a René Blum em 1913, “é um todo muito composto, embora de uma composição tão complexa que eu temo que ninguém a perceba e que ele apareça como uma série de fragmentos. É bem o contrário”32. É por isso que a obra de Wagner assume, aos olhos de Proust, o valor de um paradigma estético. Uma página após a evocação burlesca de Le postillon de Longjumeau, Proust, por meio de sua descrição da gênese das obras primas wagnerianas, expressa sua própria ambição estética, sua esperança de construtor de Em busca:
Wagner, tirando da gaveta uma peça deliciosa para apresentá-la como tema retrospectivamente necessário em uma obra na qual não havia pensado quando a compôs, depois de ter composto uma primeira ópera mitológica, depois uma segunda, depois outras mais, e de repente percebendo que acabara de fazer uma Tetralogia, deve ter experimentado um pouco da mesma euforia que Balzac, quando este, lançando sobre suas obras um olhar, ao mesmo tempo, de um estrangeiro e de um pai, encontrando neste último a pureza de Rafael, no outro a simplicidade do Evangelho, percebeu subitamente, projetando sobre elas uma iluminação retrospectiva, que elas seriam mais belas reunidas em um ciclo no qual as mesmas personagens aparecessem novamente e acrescenta a essa obra, nessa união, uma pincelada, a última e a mais sublime. Unidade ulterior, não artificial33.
O gênio wagneriano da grande forma cinzelada em cada um de seus detalhes e formando, entretanto, uma totalidade orgânica representa, para Proust, um modelo ideal. Ora, isso seria uma outra dimensão do antiwagnerianismo de Nietzsche em O caso Wagner: a repugnância do sentimento oceânico de fusão mística em uma melodia infinita e a preferência dada à “linha concisa”,34tomada de Mérimée e de Bizet. Forma longa contra forma curta, aspiração à construção de uma catedral romanesca contra o gosto da concisão e a rejeição da repetição-variação: nessa contenda dos modernos do início do século XX, Proust permanece fiel à estética wagneriana e reticente em face da tendência aforismática da arte contemporânea, a qual foi definida, em uma variante da passagem de Sodoma e Gomorra citada anteriormente, neste termos: “Após ter esgotado tudo o que a arte havia trazido de novo em Mestres cantores ou Tristão, nos quais uma ideia só é abandonada depois de escavada a fundo pelo artista, mostrada em suas últimas consequências ao ouvinte, ia-se de modo inverso, aquele que se contenta de indicar um traço justo, mas breve. Como na bolsa de valores”35.
Após 1892, Marcel Proust não parava de receber artigos e livros sobre Nietzsche, de ouvir falar a favor e contra o autor de Zaratustra, de vê-lo citado nos contextos mais diversos. Se Nietzsche é tratado em Em busca do tempo perdido, é porque ele estava no ar do tempo e todo espírito moderno deveria conhecê-lo. Em À sombra das meninas em flor, temos jovens médicos que admiram a segurança do diagnóstico do chefe de clínica Cottard, embora preferissem “relacionamento com chefes mais cultos, mais artistas, com os quais pudessem falar de Nietzsche, de Wagner”36. Nietzsche é o autor da moda que todos devem conhecer, ao menos de nome, e cujas citações, introduzidas em meio às conversas, são o máximo do chique. No pastiche feito por Proust dos poemas que Mallarmé gostava de compor para os carteiros encarregados das entregas, aparece "a Viúva" (“la Veuve”) (Proust chama assim Madeleine Lemaire, uma das modelos de Mme Verdurin), domiciliada na Rue Monceau, 31:
Carteiro se não for bobo Na rua - sim!, diria Beaunier - Monceau Não tenho dúvidas que encontras Lendo Sainte-Beuve Ou Nietche [sic], no 31, a Viúva37Mais adiante, sabemos que Saint-Loup:
tinha estima e curiosidade apenas pelas coisas do espírito, sobretudo pelas manifestações modernistas da literatura e da arte que pareciam muito ridículas à sua tia; ele estava imbuído, por outro lado, do que ela chamava de declamações socialistas, cheio do mais profundo desprezo por sua casta e passava horas estudando Nietzsche e Proudhon. Era um desses “intelectuais” prontos à admiração, que se encerram em um livro, preocupados apenas com o pensamento.38
Aqui, Robert de Saint-Loup assemelha-se a Daniel Halévy, também seduzido pelas ideias socialistas, por Proudhon39 e por Nietzsche, e intelectual engajado no caso Dreyfus.
O narrador tem muito pouco simpatia por essa maneira modernista de ver as coisas: “Fiquei com raiva que Robert de Saint-Loup, ao invés de se contentar em ser o filho de seu pai, ao invés de ser capaz de me guiar através do romance antiquado que tinha sido a sua existência, arrogou-se o amor de Nietzsche e de Proudhon”40.
Durante a guerra, Cottard e Saint-Loup assumem posições opostas acerca de Nietzsche. Charlus zomba de Cottard nestes termos: “Quer se trate do maior alemão, de Nietzsche, de Goete, ouvirá Cottard dizer: ‘com a habitual falta de psicologia que caracteriza a raça teutônica’”41. Ao contrário, Saint-Loup “não teve medo de aludir a uma página de Romain Rolland, ou mesmo de Nietzsche, com aquela independência de quem está na frente e não tem o medo de pronunciar um nome alemão como aqueles que estão na retaguarda”42.
Em janeiro de 1900, Proust evoca Nietzsche em seu necrológio de John Ruskin: “Ruskin morreu. Nietzsche está louco, Tolstói e Ibsen parecem estar no fim de suas carreiras; a Europa perde, um após o outro, seus grandes ‘diretores de consciência’”43. Alguns dias mais tarde, no segundo necrológio dedicado a Ruskin, ele escreveu: “Ruskin morreu após ter, diz-se, sofrido de algo como uma doença mental; pois é uma característica de nosso tempo que seus ‘sábios’ tenham sido todos mais ou menos loucos, de Auguste Comte a Nietzsche, e (para não dizer de Tolstói, que é apenas singular) a Ruskin”44.
É ainda à loucura de Nietzsche que Proust faz alusão em sua carta de 1904 a Anna de Noailles, que era uma nietzschiana convicta e tinha posto uma citação de Nietzsche como epígrafe de seu romance A nova esperança (La Nouvelle Espérance)45 de 1903. “Realmente, parece-me que todos aqueles que foram demasiado sobre-humanos [surhumains], que cometeram o crime de Prometeu ou de Nabucodonosor, devem acabar por comer capim como Nietche [sic], ou por se estupidificar em uma religião às avessas como Comte”46, escreveu Proust a Anna de Noailles.
Em janeiro de 1904, em uma resenha publicada em alemão de um ensaio sobre John Ruskin, Proust anota, acerca de uma página de Ruskin, “que ela era apenas a discussão de um pensamento de Goethe, citado por Carlyle a Emerson”: “Ainda assim, Wilhelm Meister não é […] toda a natureza; ele seria no máximo toda a humanidade. ‘Humano, demasiado humano’, seríamos tentados a repetir diante desse livro admirável, sem nos preocupar, aliás, de dar a essas palavras insolentes e sublimes o sentido que elas mantêm no livro e as tornaram famosas”47.
Não são somente as ideias de Nietzsche que chamam a atenção de Proust, mas também sua instabilidade psicológica, seu comportamento emotivo e frequentemente desajeitado em sociedade, o contraste entre sua gentileza na vida cotidiana e sua agressividade de polemista; em suma, chamam a sua atenção mais a personagem e seu comportamento emotivo que o filósofo Nietzsche, cujas ideias Proust não tem mais tempo nem o desejo de examinar. Quando ele considera o homem Nietzsche e não mais o pensador de Humano, demasiado humano, Proust tem o mesmo sentimento de uma espécie de decepção que tem diante de um monumento que sua imaginação havia exaltado. No capítulo intitulado “Padoue”, o qual na nova edição dos Ensaios de Proust chama-se Dossiê do “Contra Sainte-Beuve” (Dossier du “Contre Sainte-Beuve”), o narrador confronta a imagem que ele havia feito das obras e dos monumentos mais célebres com a realidade de sua experiência vivida no curso de uma viagem à Itália. “De repente o Campanile, os Túmulos de Scaliger, a Catedral de Chartres me aparecem, como de repente Nietzsche nos aparece como um homem, como um homem talvez inferior a Barrès, não mais como obras sublimes com um valor infinito, um ar dilatado, mas como pedras como as outras que um falso prestígio isolou”48.
Em 1909, Proust recebe A vida de Friedrich Nietzsche (La Vie de Frédéric Nietzsche), publicada por Daniel Halévy na Calmann-Lévy. Em seu agradecimento, ele escreve a D. Halévy: “Eu comecei um trabalho terrivelmente longo, sobretudo para minhas débeis forças e meu curto futuro, e não posso acrescentar-lhe nem mesmo o cansaço de uma carta um pouco longa. Mas também não consigo parar de te ler”49. Nessa biografia, Proust reteve sua atenção na reação horrorizada de Nietzsche às notícias de Paris que anunciavam, durante a Comuna, o incêndio de vários monumentos parisienses. Combinada com as informações retiradas de um outro artigo biográfico escrito por Daniel Halévy, “Mademoiselle de Meysenbug et Frédéric Nietzsche”, publicado em Le Journal des débats de 18 agosto de 1909, essa passagem da Vida de Friedrich Nietzsche inspirou as reflexões do narrador, em O caminho de Guermantes (Le Côté de Guermantes), sobre o débil valor intelectual da amizade, da fidelidade e da mentira.
Eu disse50 […] o que eu penso da amizade: a saber, que ela é tão pequena que me é difícil compreender que homens com algum gênio, e, por exemplo, um Nietzsche, tiveram a ingenuidade de lhe atribuir um certo valor intelectual e, consequentemente, de recusar amizades às quais não estivesse presente a estima intelectual. Sim, sempre me surpreendeu ver que um homem, que tinha uma tal sinceridade consigo mesmo a ponto de se desapegar, por escrúpulo de consciência, da música de Wagner, tenha imaginado que a verdade possa se realizar neste modo de expressão por natureza confuso e inadequado que são, em geral, as ações e, em particular, as amizades, e que possa haver algum significado no fato de deixar seu trabalho para ir ver um amigo e chorar com ele ao ouvir a falsa notícia do incêndio do Louvre51.
Para ir mais longe na reflexão sobre a relação entre Proust e Nietzsche, sem se limitar a dados históricos e à análise filológica do corpus proustiano, seria necessário explorar a possibilidade de iluminar o tema nietzschiano do eterno retorno à luz de Em busca do tempo perdido.
A vida do narrador de Proust não tem nenhuma necessidade de corresponder, e não corresponde, ao ideal particular de Nietzsche. Mas o enquadramento proporcionado por esse romance, que relata o que, apesar dos seus defeitos, até graças a eles, torna-se uma vida perfeita - e aparece como tal -, e que retorna eternamente sobre ele mesmo, é o melhor modelo que se pode encontrar do eterno retorno52.
Esse é o sentido que se pode dar à escrita autobiográfica e autoficcional de Proust: aquele da realização da máxima “torna-te o que tu és!” (Zaratustra, IV 1).
Nessa perspectiva, a questão das relações entre a literatura e a filosofia, mas também aquela da justa definição da noção de Leben, vida, são postas em termos novos. Nietzsche e Proust se encontram na convicção que a literatura - entendida como filosofia literária ou como ficção romanesca - não somente ajuda a viver, mas dá sentido à existência e permite aceder à verdadeira vida. Tanto um quanto outro “estão sempre apoiados nos modelos artísticos e literários para compreender o mundo”53 - e podemos acrescentar: para se compreenderem e se encontrarem a si próprios. Poder-se-ia, então, considerar que Proust não sacrificou sua vida à sua obra literária, mas sentiu que sua vida tinha valor apenas como uma obra literária. Ele teria seguido, sem ter consciência disso, o preceito de Nietzsche: “Nós queremos ser os poetas de nossa vida”54.
Referências
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- NECTOUX, J.-M. Miroirs de Vinteuil: portrait de l'artiste en mélomane. In: TADIÉ, Jean-Yves; CALLU, Florence (org.). Marcel Proust: l'écriture et les arts. Paris: Gallimard, 1999. p. 43-53.
- NEHAMAS, Alexandre. Nietzsche: la vie comme littérature. Trad. Véronique Béghain. Paris: Puf, 1994.
- NIETZSCHE, Friedrich. Humain, trop humain. Trad. A.-M. Desrousseaux. [S.I]: Mercure de France, 1899.
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- RIDER, Jacques Le. Proust et Nietzsche. In: Revue D’études Proustiennes, [s. l], p. 209-234, 2017.
- ROZZONI, Claudio. Marcel Proust: portrait d⠹un jeune écrivain en philosophe,. Paris: Classiques Garnier , 2016.
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- VERRIER, Le. Nietzsche: revue de métaphysique et de morale. In: Revue de Métaphysique Et de Morale, [s. l], p. 70-99, 1901.
- WYZEWA, Teodor de. Frédéric Nietzsche, le dernier métaphysicien. In: Revue Bleue, [s. l], n. 19, p. 586-592, 7 nov. 1891
-
1
Wyzewa, 1981, p.586.
-
2
Bianquis, 1929, p. 10ss.
-
3
Le Cas Wagner apareceu em dezembro de 1892; o livro está datado de 1893.
-
4
L'Ouvreuse de Willy, Rythmes et rimes (cronicas publicadas em L'Écho de Paris), p. 15ss.
-
5
"Enquête sur l'influence allemande. M. Édouard Dujardin", Mercure de France, t. 45, n. 157, janvier 1903, p. 94-95, citação: p. 95.
-
6
Essa conclusão aparece, por exemplo, em Duncan Large, Nietzsche and Proust. A Comparative Study, Oxford: Clarendon Press (Oxford Modern Languages and Literature Monographs), 2001. Para um balanço da pesquisa, cf. Jacques Le Rider, "Proust et Nietzsche", Revue d’études proustiennes, n° 5, 2017 - 1, "La Bibliothèque mentale de Marcel Proust", p. 209-234.
-
7
Tadié, 1996, p. 104-112.
-
8
Fraisse, 2013, p. 1238, 1241 e 1246. Cf. Luc Fraisse, op. cit., p. 137-151.
-
9
Tadié, op. cit., p. 106.
-
10
(Fraisse, op.cit., contracapa).
- 11
-
12
"Swann expliqué par Proust", entrevista de Marcel Proust por Élie-Joseph Blois, em Le Temps de 13 de novembro de 1913, in M. Proust, 1971, p. 557-559, citação: p. 558.
-
13
Darlu, 1899, p. 289-296, citação: p. 292ss.
-
14
"Nécrologie. Friedrich Nietzsche (1844-1900)", Revue de métaphysique et de morale, 8e année, septembre 1900, Supplément, reproduzido em fac-similé ibid., p. 43.
-
15
Ch. Le Verrier, 1901, p. 70-99; citação: p. 70.
-
16
Xavier Léon foi aluno de Alphonse Darlu dois anos antes de Marcel Proust; Élie Halévy é o irmão mais velho do colega e amigo de Proust Daniel Halévy; Léon Brunschvicg e Proust, mais novo dois anos, se conheciam bem.
-
17
Emmy de Némethy (Jean de Néthy) publica um artigo intituado "Nietzsche Zarathustra" na Revue blanche, II, n° 7, avril 1892, p. 206-212. Cf. Georges Liébert, "Daniel Halévy et Nietzsche", in Entre le théâtre et l'histoire. La famille Halévy (1760-1960), sous la dir. d'Henri Loyrette, Paris, Fayard-Réunion des musées nationaux, 1996, p. 302-311. Essa obra está ligada à exposição do Museu d'Orsay, 25 de março a 23 de junho de 1996.
-
18
R. Berthelot, Le Pragmatisme chez Nietzsche et chez Poincaré, vol. 1 de Un romantisme utilitaire, étude sur le mouvement pragmatiste, Paris, F. Alcan, 1911 (os volumes 2 e 3 são dedicados a Bergson e a William James).
-
19
D. Halévy e F. Gregh, 1892, p. 33-35.
-
20
R. Dreyfus, 1892, p. 65-74, citação: p. 66.
-
21
Ibid., p. 70.
-
22
R. Dreyfus, 1892, p. 161-167, citações: p. 162ss.
-
23
Ibid. p. 167.
-
24
J.-M. Nectoux, "Miroirs de Vinteuil. Portrait de l'artiste en mélomane". In: Jean-Yves Tadié, Florence Callu (orgs), Marcel Proust. L'écriture et les arts. Paris: Gallimard - BNF - RMN, 1999, p. 43-53, citação: p. 51 (J.-M. Nectoux se refere ao Cahier 57). Obra publicada em ocasião da exposição na BNF (9 de novembro de 1999 a 6 de fevereiro de 2000). A cena da audição de Parsifal na manhã em Guermantes foi deslocada para o sarau de Verdurin em A prisioneira.
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25
F. Nietzsche, Le Cas Wagner, trad. Daniel Halévy e Robert Dreyfus, revisão de J. Le Rider, in Friedrich Nietzsche, Œuvres, Jean Lacoste e J. Le Rider (eds.), Paris: Robert Laffont (Bouquins), 1993, vol. 2, p. 899, 901 et 902; Kritische Studienausgabe (=KSA), éd. G. Colli et M. Montinari, Berlin, dtv/de Gruyter, 1999, vol. 6, p. 11, p. 13 e p. 14.
-
26
Já na primeira publicação de sua tradução de O caso Wagner, Dreyfus e Halévy (Daniel Halévy era primo de Jacques Bizet) tinham acrescentado uma nota de rodapé para se interrogar sobre a frase de Nietzsche que eles traduziram por "A música de Bizet me parece perfeita" ["La musique de Bizet m'apparaît parfaite"]: "A obra e o músico são bem escolhidos por serem opostos, como um novo ideal, à obra de arte wagneriana. Que Bizet seja um excelente músico, cuja vida breve forneceu as mais altas promessas, é certo; mas Carmen não pode ser a obra prima de Bizet" (La Société nouvelle, janvier-février 1892, loc. cit., p. 119).
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27
M. Proust, 1988 (= RTP III), p. 665.
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28
RTP III, p. 1733, nota 3 remetendo à p. 665.
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29
A. Compagnon, 1989, p. 19ss.
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30
F. Nietzsche, Le Cas Wagner, in Nietzsche, Œuvres, op. cit., p. 911. KSA, vol. 6, p. 27. Nessa passagem, Nietzsche toma quase palavra por palavra uma frase do capítulo sobre Baudelaire no primeiro volume de Ensaios de psicologia contemporânea (1883) de Paul Bourget.
-
31
G. Séailles, 1883 (deuxième édition, Félix Alcan, 1897), p. 244.
-
32
M. Proust, 1991, p. 82.
-
33
La Prisonnière, RTP III, p. 666 sq.
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34
F. Nietzsche, Le Cas Wagner, in Nietzsche, Œuvres, op. cit., p. 902.
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35
RTP III, p. 1462 ("adendo faltando no manuscrito e pertencente ao restante").
-
36
M. Proust, 1987 (= RTP I), p. 425.
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37
M. Proust, 2022, p. 631.
-
38
M. Proust,, 1988 (=RTP II), p. 92.
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39
S. Laurent, op. cit., p. 65ss, especifica que foi no final de 1889 que D. Halévy, então em retórica, começou a ler Proudhon. Ele publicará mais tarde La Vie de Proudhon, Paris: Stock, Delamain et Boutelleau, 1948. Em Halévy, a ligação entre socialismo e nietzschianismo é paradoxal, pois ele apresenta o pensamento político de Nietzsche como hierárquico, aristocrático e antidemocrático.
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40
RTP II, p. 92.
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41
Le Temps retrouvé, RTP IV, p. 358.
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42
RTP IV, p. 333ss.
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43
M. Proust, 1971, p. 439 ; Essais, p. 311.
-
44
M. Proust, 1900, p. 443 ; Essais, p. 211.
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45
"Ó, minha alma, eu te dei o direito de dizer ‘não’ como a tempestade, e de dizer ‘sim’ como diz ‘sim’ o céu aberto", página de rosto de Condessa Mathieu de Noailles, 1903.
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46
M. Proust, op. cit., p. 34.
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47
Id. Essais, p. 324ss. Nietzsche, Humain, trop humain, trad. A.-M. Desrousseaux, foi publicada em 1899 nas edições do Mercure de France.
-
48
Ibid., p. 971.
-
49
M. Proust, 1992, p. 125 (carta n. 42 de fim de outubro de 1909).
-
50
Dans À l'ombre des jeunes filles en fleurs, RTP II, p. 95ss et p. 262ss.
-
51
RTP II, p. 688ss. O amigo de Nietzsche ao qual Proust faz alusão é Jacob Burckhardt.
-
52
Alexandre Nehamas, Nietzsche, la vie comme littérature, trad. Véronique Béghain, Paris, PUF, 1994 (Nietzsche. Life as Literature, Harvard UP, 1985), p. 215.
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53
Ibid., p. 248.
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54
F. Nietzsche, Le Gai savoir, Livre IV, § 299.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Jul 2024 -
Data do Fascículo
May-Aug 2024
Histórico
-
Recebido
18 Ago 2023 -
Aceito
23 Out 2023