Open-access Intervenção fonoaudiológica na prevenção de quedas no envelhecimento

RESUMO

Objetivo  Verificar a eficácia de uma intervenção fonoaudiológica para diminuição do risco de quedas.

Método  Estudo exploratório e de intervenção em que 148 voluntários socialmente ativos, de ambos os sexos, com média de 68,6(±6,5) anos foram avaliados pelo Dynamic Gait Index (DGI)–Brazilian brief e o Timed Up and Go (TUG). Todos os voluntários, com e sem risco para quedas, foram convidados para o programa de intervenção realizado em cinco semanas consecutivas, com duração de 50 minutos baseados nos exercícios de Cawthorne e Cooksey. Destes, 72 com 68,1(±6,5) anos, com e sem riscos para quedas, que participaram de, pelos menos, três encontros foram reavaliados. Foram utilizados o teste de Wilcoxon, Qui-quadrado, Spearman e Matriz de Correlação, com p≤5,0%.

Resultados  Inicialmente, 37(25,0%) e 106(71,6%) dos voluntários apresentaram, respectivamente, riscos para quedas no DGI–Brazilian brief e no TUG. Verificou-se correlação negativa do DGI-Brazilian brief (p=0,034) e positiva com o TUG (p=0,0071) com a idade e entre os dois instrumentos (p=0,00000016). Na comparação dos dados iniciais e finais de 72 voluntários averiguou-se correlação positiva no DGI-Brazilian brief e TUG no teste do Qui-quadrado e de Wilkoxon. Foi observado melhor desempenho nestes testes após a intervenção.

Conclusão  A intervenção foi eficaz, uma vez que diminuiu o risco para quedas e melhorou o desempenho da marcha e equilíbrio funcional e dinâmico.

Descritores  Acidentes por Quedas; Prevenção Primária; Envelhecimento Saudável; Idoso; Equilíbrio Postural

ABSTRACT

Purpose  to verify the effectiveness of a Speech Therapy intervention program to decrease the risk of falls in elderly people.

Methods  Exploratory and intervention study where upon 148 volunteers from community, both genders, with an average of 68.6(± 6.5) years were submitted to the Dynamic Gait Index (DGI)- Brazilian brief and the Timed Up and Go (TUG). Volunteers with or without potential risk for falling were invited to participate in a 50-minutes long intervention program carried out for five consecutive weeks, based on Cawthorne and Cooksey exercises. Seventy-two volunteers 68.1(±6.5) years presented in at least three meeting, were reassessed. The results were analyzed by Wilcoxon, Chi-square, Spearman and Correlation Matrix tests, with p≤5.0%.

Results  Thirty-seven (25.0%) and 106 (71.6%) participants presented, respectively, risks for falls in the DGI–Brazilian brief and TUG. There was negative correlation between the DGI-Brazilian brief (p=0.034) and positive with the TUG (p=0.0071) with age and both instruments (p=0.00000016). Through the comparison the initial and final data a positive correlation was found for the DGI-Brazilian brief and for TUG in the Chi-square test and by Wilcoxon’s. Better performance was observed in both tests after the intervention.

Conclusion  The intervention was effective in decreasing the risk for falls and improving gait performance, and functional and dynamic balance.

Keywords  Accidental Falls; Primary Prevention; Healthy Aging; Aging; Postural Balance

INTRODUÇÃO

À medida que a população brasileira envelhece aumenta-se o risco do aparecimento de comorbidades como os eventos de quedas que impactam negativamente na qualidade de vida. A relação do risco de um idoso socialmente ativo cair é de um entre três quando sua idade for superior a 65 anos, e de um entre dois, quando superior a 80 anos(1-3). Fatores como idade, polifarmacoterapia, pertencer ao sexo feminino, dependência econômica e depressão estão fortemente associados com quedas na população idosa(4), e portanto, destaca-se a necessidade da identificação daqueles que apresentam quaisquer riscos para quedas(5).

Existem vários instrumentos que, além de identificar os idosos com potencial riscos para quedas, avaliam a marcha, o equilíbrio funcional e dinâmico. O Dynamic Gait Index (DGI) e o Timed Up and Go (TUG) são os melhores exemplos deste tipo de testes. São de fácil aplicabilidade, alta sensibilidade e especificidade, porque identificam de 30,0 a 70,0% dos idosos com riscos futuros para quedas(2,3,6-8). As evidências atuais sugerem que a avaliação da marcha está em consonância com a identificação de fragilidade que, por sua vez, está fortemente associada com riscos para quedas(8,9).

Alguns estudos reforçam a importância da redução do risco de quedas, por meio de programas de prevenção e de promoção da saúde na senescência(4,10,11). Um estudo nacional(12) descreveu um programa de prevenção em quedas em idosos, com resultados significantes, salientou que o fonoaudiólogo pode atuar neste setor, porém, há muito poucas comprovações científicas.

As evidências baseadas em revisões com metaaanálise são promissoras(13,14), e apontam que programas baseados em exercícios ou combinação de fatores (multifatoriais) reduzem as quedas entre 19,0 a 34,0%, e as quedas recorrentes em até 24,0%. Diante da necessidade de avaliação e prevenção de eventos de quedas no contingente populacional que mais cresce, o presente estudo teve como objetivo verificar a eficácia de uma intervenção para diminuição do risco de quedas em idosos socialmente ativos.

MÉTODO

A amostra de conveniência foi constituída por 148 voluntários socialmente ativos de quatro municípios do interior do estado de Sergipe, com idade igual ou superior a 60 anos e de ambos os sexos. Este estudo exploratório e de intervenção, foi aprovado pelo comitê de ética da instituição sob o número CAAE 0197.0.107.000-10.

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido seguindo os preceitos da resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. A partir do contato e aprovação da unidade de assistência à saúde dos idosos de cada município, foi desenvolvido em três fases entre os períodos de janeiro a dezembro de 2019 com duração de cerca de dois meses em cada município.

Fase 1): coleta de dados sociodemográficos e avaliação por meio dos testes Dynamic Gait Index (DGI) – Brazilian brief (15) e Timed Up and Go Test (TUG)(16).O DGI-Brazilian brief é considerado um importante instrumento para a avaliação do equilíbrio e marcha de idosos e permite o estudo da marcha em diferentes contextos sensoriais como mudanças na velocidade da marcha, movimentos horizontais e verticais da cabeça, giro sobre seu próprio eixo corporal, subir e descer escadas. A pontuação máxima é de 15 pontos e o valor igual ou abaixo de 11 pontos prediz risco para quedas. Cada voluntário foi submetido a uma avaliação por meio da escala ordinal que consiste em quatro categorias e foi pontuado de acordo com o seu desempenho em cada tarefa: 3=marcha normal, 2=comprometimento leve, 1=comprometimento moderado e 0=comprometimento grave.

O TUG(16) é um protocolo que tem o objetivo de avaliar a mobilidade funcional e o equilíbrio do indivíduo a partir da cronometragem de tempo dispendido na execução da tarefa de se levantar e caminhar um percurso de 6 metros a partir da posição sentada. O baixo risco de quedas e a mobilidade funcional ocorre quando o tempo utilizado é inferior a 10 segundos, considerado médio entre 10 e 20 segundos e alto risco acima de 20 segundos.

Fase 2) Todos os idosos avaliados, sobretudo aqueles que foram identificados com risco para quedas, em pelo menos um dos protocolos de avaliação, foram convidados a participar do processo de intervenção. Esta fase durou cinco semanas consecutivas em sessões com duração de aproximadamente 50 minutos e foi baseado no protocolo de Cawthorne e Cooksey(17) (Quadro 1), adaptado para este estudo. As atividades realizadas com dois grupos, de no máximo, 30 participantes foram monitorados por cinco alunos bolsistas de iniciação científica do curso de graduação em Fonoaudiologia para assegurar a integridade física de todos os voluntários. Nesta etapa, estima-se que entre 25 a 60 voluntários estiveram presentes em cada encontro. A frequência foi computada em planilha, e aqueles que estiveram presentes em, pelo menos, 50,0% das sessões passaram para a Fase 3 do estudo.

Quadro 1
Descrição dos exercícios adaptados de Cawthorne e Cooksey e frequência de execução

Durante a execução do estudo, evidenciou-se que a não aderência ao programa, desistências, faltas consecutivas, eventos de quedas, agravos de saúde e compromissos familiares contribuíram para a exclusão uma parte da amostra avaliada na Fase 1(n=76).

Não ocorreu nenhum tipo de orientação em relação à execução de exercícios em domicílio, mas dúvidas foram dirimidas e outras orientações sobre o risco de quedas foram fornecidas informalmente durante o desenvolvimento do programa.

Fase 3) Reavaliação com os testes Dynamic Gait Index (DGI) – Brazilian brief (15) e Timed Up and Go Test (TUG)(16) utilizados na Fase 1. Os dados iniciais e finais foram tabulados e estatisticamente analisados. Foi considerada a variável dependente os resultados nos inventários adotados (antes e depois), e como variável independente a idade. A variável sexo, não foi incluída porque a casuística do estudo foi de conveniência, com predominância do sexo feminino. Foi utilizado o programa Soft R Project: 3.12 para apresentação das descritivas e das figuras em box plot e para a aplicação do teste de Wilcoxon, do Qui-quadrado, de Spearman e Matriz de Correlação com valor de rs (correlação fraca, moderada e forte) e p igual ou inferior a 5,0%.

RESULTADOS

A amostra, de conveniência, foi constituída por 148 voluntários, sendo 129(87,2%) do sexo feminino e 19(12,8%) do masculino. A faixa etária variou de 60 a 84 com média de 68,6(±6,5) anos e a frequência foi de 0,65(±1,29) quedas no último ano.

Na Tabela 1 apresentamos os resultados da avaliação do DGI-Brazilian brief e TUG por sexo.

Tabela 1
Pontuação média, mediana e desvio padrão da aplicação do Dynamic Gait IndexBrazilian brief e Timed Up and Go de 148 voluntários por sexo

Dentre os voluntários, 37(25,0%) apresentaram pontuações dentro do risco para quedas no DGI – Brazilian brief e 93(62,8%) com tempo de execução aumentado no TUG. A distribuição de pontuação ou tempo de execução foi similar quando comparados por sexo. Dessa maneira, não ocorreu associação dessa variável com os dois protocolos, confirmados pelo teste de Wilkoxon. Os resultados obtidos foram p=0,960 para DGI-Brazilian brief e p=0,087 para o TUG.

Na Figura 1 apresenta-se a Matriz de Correlação desenvolvida antes da intervenção na qual verifica-se que a idade se correlacionou significativamente com as medidas de risco. Foi negativa no DGI-Brazilian brief (rs=0,24; p=0,034), e positiva no TUG (rs=0,28; p=0,0071). Assim, a correlação foi fraca, mas significante em ambas as análises.

Figura 1
Teste de Matriz de Correlação para verificação de associação do Dynamic Gait IndexBrazilian brief e Timed Up and Go Test com as variáveis idade e quedas antes da intervenção

Ainda, foi possível constatar a correlação negativa (rs=0,41; p=0,00000016) entre os resultados iniciais dos dois protocolos utilizados e, segundo o teste de Spearman a correlação foi moderada e significante. Destacou-se alguns resultados na Figura 1 com um X, para salientar que não ocorreu correlação entre os resultados do Dynamic Gait IndexBrazilian brief e Timed Up and Go e idade com a variável eventos de quedas.

Para a segunda fase do estudo foram convidados todos os participantes e 72 (48,6%) deles, (63(90,4%) do sexo feminino e 9(9,6%) do masculino), com e sem riscos para quedas, estiveram presentes em, pelos menos, três entre as cinco sessões, foram reavaliados e seus dados analisados na Fase 3. A média de idade foi 68,1(±6,5) anos e o auto relato foi de 0,59 (±1,12) quedas no último ano. Na fase de avaliação, 57(79,2%) apresentaram alteração no TUG e 20(27,4%) no DGI-Brazilian brief e o mesmo percentual em ambos os protocolos. Na fase de reavaliação 18(25,0%) apresentaram alteração no TUG e 4(5,6%) DGI- Brazilian brief e o mesmo percentual em ambos os protocolos.

A análise estatística apontou a inexistência de correlação entre idade e relato de quedas com os resultados do DGI–Brazilian brief e Timed Up and Go na comparação dos dados iniciais e finais à intervenção.

Na Tabela 2 demonstra-se a distribuição do número absoluto de voluntários nas conjunções dentro do padrão normal ou alterado segundo as notas de corte do DGI -Brazilian brief e TUG.

Tabela 2
Distribuição absoluta dos resultados de voluntários para as condições padrão normal e alterado segundo as notas de cortes para Dynamic Gait Index -Brazilian brief e TUG (n=72)

Nota-se que o para o DGI–Brazilian brief, a situação dos voluntários dentro do padrão normal passou de 52 para 68 ao final da intervenção. O Teste Qui-quadrado indicou a associação entre intervenção e condição, visto que houve uma diminuição significativa na proporção de indivíduos alterados (p=0,0015). Quando comparado o desempenho total dos voluntários no DGI–Brazilian brief, constatou-se uma variação na situação inicial dentro do padrão normal, que passou de 12,6(±1,81) para 14,07(±1,55) pontos, ao término da intervenção.

Abaixo, a Figura 2 apresenta o box plot em que se observa a mudança de valores médios e faixa de variação nas condições antes e depois da intervenção para o DGI–Brazilian brief.

Figura 2
Box-Plot com os valores máximo e mínimos e média no teste Dynamic Gait Index (DGI) – Brazilian brief nos períodos antes e depois da intervenção de 72 voluntários

Na análise dos resultados do DGI-Brazilian brief nas condições antes e após intervenção, o Teste de Wilcoxon indicou associação positiva, mostra que ocorreu um aumento na pontuação após a intervenção (p=0,000000019).

No TUG, nota-se que os voluntários classificados como dentro do padrão normal passaram de 15 para 54 em número absoluto, o que revelou uma associação nas condições antes e após a intervenção. Na aplicação do teste do Qui-quadrado verificou-se uma diminuição significativa na proporção de indivíduos alterados (p=0,000029). Dessa maneira, ocorreu mudança no tempo de execução do teste da conjunção inicial de 12,47(±4,05) para 9,5(±2,29) segundos na final, que comprova melhora no equilíbrio dinâmico, e como consequência, redução no risco para quedas.

Abaixo, a Figura 3 apresenta o box plot em que se demonstra os valores médios e faixa de variação nas condições antes e depois da intervenção para o TUG.

Figura 3
Box-Plot com os valores máximo e mínimos e média no teste Timed Up and Go nos períodos antes e depois da intervenção de 72 voluntários

Para o TUG, o teste de Wilcoxon pareado comprovou diferença no TUG antes e após intervenção entre os pacientes (p=0,0000000095). Assim houve evolução na situação funcional e diminuição do risco de quedas.

O Teste de Correlação de Spearman entre o Dynamic Gait Index -Brazilian brief e TUG na fase inicial e após a intervenção mostrou respectivamente rs=-0,340; p=0,0034 e rs=-0,348; p=0,0027, ou seja, foi negativa, moderada e significante.

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos no presente estudo mostraram que a intervenção fonoaudiológica diminuiu o risco de quedas e melhorou o desempenho da marcha e do equilíbrio funcional e dinâmico, evidenciado pelo aumento de pontuação no DGI-Brazilian brief e diminuição do tempo na execução do TUG,

A análise por distribuição percentual simples verificou que o sexo feminino relatou quase duas vezes mais quedas que o masculino. Mesmo com a maioria dos voluntários sendo do sexo feminino, a análise estatística não apontou correlação entre os eventos de quedas e o sexo. Estudos anteriores identificaram uma maior tendência de o sexo feminino apresentar perda de massa óssea, susceptibilidade aos transtornos mentais, risco de desgaste físico e vulnerável para a Síndrome de Fragilidade que potencializam os eventos de quedas(4,5,18-22). Outro estudo verificou que em população com predomínio do sexo feminino, 46,7% relataram queda no último ano(23), e este dado foi superior quando comparado aos resultados do nosso estudo.

Nesta pesquisa, o desempenho dos voluntários nos dois protocolos de avaliação foi similar entre os sexos, tanto na média, quanto no desvio padrão (Tabela1), o que foi discordante de estudos que mostraram que o sexo feminino tem pior desempenho nas avaliações qualitativas que apontam riscos de queda(4,5).

Por outro lado, as evidências atuais sugerem que a idade é um fator predisponente para queda, pois acomete todos os sistemas responsáveis pela integração de informações sensoriais que mantém o equilíbrio corporal humano(5,8,19). Dessa forma, foi possível observar a ocorrência de relação da idade com os dois protocolos conforme descrito na Figura 1, que demonstrou que à medida que a idade aumentou, a pontuação no DGI-Brazilian brief diminuiu e se dispendeu maior tempo de execução no TUG. Estes resultados estão em consonância com estudos anteriores(4-6,12) que comprovaram a relação destes testes com a idade e que um em cada três idosos da comunidade com idade igual ou superior a 65 anos e um em cada dois naqueles com idade superior a 80 anos teriam pelo menos uma queda por ano(3,13,14). Soma-se a estes fatos, que 30,0% dos idosos que haviam caído uma vez, cairão novamente(19). A idade se relacionaria com fatores psicológicos como depressão ou ansiedade e causaria pior desempenho nas avaliações e potencializaria os eventos de quedas. Estudos mostram que, ainda, representaria 40,0% dos casos de mortes por queda acidental da própria altura(3.23).

Por meio da análise do DGI-Brazilian brief, verifica-se que os resultados estiveram em consonância com estudos recentes(4,15,21) que apontaram que de 30,0 a 40,0% dos idosos apresentam alteração do equilíbrio funcional medido por este protocolo e que ainda, destacaram a possibilidade dos idosos mais longevos possuírem maior risco para cair. A associação do relato de quedas pregressas com o DGI-Brazilian brief foi inexistente neste estudo, o que discordou de estudos que comprovaram que idosos que caíram apresentam alteração de equilíbrio funcional e da marcha(4,21). Esse achado pode ser justificado pela dificuldade e/ou imprecisão de respostas sobre o auto relato de quedas pregressas, além da amostra ser composta por voluntários socialmente ativos.

Quanto ao desempenho no Timed Up and Go, os resultados obtidos estiveram de acordo com outros estudos(4,8,15,21) que revelaram alteração de equilíbrio dinâmico entre 60,0 a 80,0% em idosos da comunidade, sendo que este percentual pode superar 90,0% quando avaliados idosos institucionalizados(24). Pesquisas apontaram a relação de maior tempo dispendido no teste, sugestivo de comprometimento do equilíbrio dinâmico, com o relato de quedas e idade(4,15). Os achados apresentados não evidenciaram associação com o relato de quedas pregressas, porém, os idosos mais longevos apresentaram maior prevalência para quedas, o que foi observado em outros estudos(4,15,21).

Apesar do fraco desempenho do DGI-Brazilian brief para indicar riscos de quedas na população atendida, verifica-se que quando agregado ao TUG, um percentual importante desta amostra foi identificado e, incluído no programa interventivo. Apesar da fraca, mas significante correlação entre os dois testes, outros estudos(4,12) ressaltaram a importância da utilização de mais de um instrumento para avaliação do risco de um idoso cair . Destaca-se, ainda, o uso do TUG como ferramenta de rastreamento para identificar precocemente a Síndrome da Fragilidade, para possibilitar o planejamento de intervenções, e prevenção do declínio funcional(6) uma vez que este pode estar associado positivamente com vulnerabilidade(24).

Apesar dos limites de análise de resultados dos testes e variáveis estudadas, salienta-se que um único fator causal não seja capaz de predizer eventos de quedas porque existem outros que correlacionam entre si ou com outras, além da idade ou gênero como apontam outras referências(5,6,18,20,21).

Conforme apresentado na Tabela 2, o desempenho nos dois testes no período pré e pós intervenção, foi modificado. No DGI ocorreu um aumento na pontuação final, atingido em alguns casos o teto máximo e no TUG, a diminuição do tempo dispendido para a realização do teste, que demonstrou que ocorreu melhora na condição funcional e, portanto, diminuição do risco para quedas, o que indicou que o programa de prevenção de quedas foi eficaz.

As correlações significantes encontradas entre o desempenho anterior e posterior ao programa de intervenção corroboraram com os resultados de ensaios clínicos de outras pesquisas(4,12,15,25) que concluíram a eficácia dos exercícios de Cawthorne e Cooksey na prevenção de quedas em idosos. A utilização de outros recursos como exercícios multissensoriais, programa de fortalecimento de membros inferiores, tai Chi e dança, também, foram relatados(2,9,26-29) como estratégias para melhorar o equilíbrio funcional, a mobilidade e a marcha, sendo assim, bons mecanismos a serem explorados para ações que objetivam um envelhecimento saudável.

Destaca-se que as ações que incluam a prática de exercícios podem ser efetivas na assessoramento em saúde na vida de idosos com o intuito de reduzir os custos de serviços assistenciais e de saúde, e pode ser a melhor maneira de evitar quedas(30). Na impossibilidade deste estudo se caracterizar como um ensaio clínico não randomizado, ele se destaca por descrever um programa que pode ser abarcado na prática de atenção aos cuidados da saúde do idoso, sendo inovador nesse sentido. A análise promissora dos resultados apresentados reforça a proposta da utilização de instrumentos simples de avaliação e de intervenção, de acordo com o princípio de que, para evitar a recorrência de quedas, devem ser implementados programas comunitários de prevenção, visto que existem vários fatores de riscos para quedas podem ser modificáveis(5).

A adoção de recursos de avaliação, de exercícios de simples execução e programa de fácil implantação, aqui sugeridos, convergem com o pensamento que a diminuição e futuras quedas e melhoria do equilíbrio decorrem da possibilidade destes exercícios fornecerem subsídios para que novos rearranjos das informações sensoriais periféricas se organizem para a construção de novos padrões de manutenção do equilíbrio corporal(25).

Neste estudo de intervenção foi possível observar melhora dos resultados na reavaliação com os mesmos protocolos iniciais, o que demonstrou que a promoção e prevenção de quedas contribuíram para a mudança de condições e redução do risco de quedas nos idosos avaliados(4,16,25). Neste sentido, frente ao crescente aumento da população de idosos com maior susceptibilidade para riscos de queda(1,4-6,9,15), as ações multidisciplinares, incluindo a Fonoaudiologia, devem maximizar a qualidade de vida do idoso(5,10,11).

CONCLUSÃO

Foi possível concluir que a intervenção foi eficaz, uma vez que diminuiu o risco para quedas e melhorou o desempenho da marcha e equilíbrio funcional e dinâmico.

AGRADECIMENTOS

CNPQ – Bolsa de Iniciação Científica.

  • Trabalho realizado na Universidade Federal de Sergipe, Aracaju (SE), Brasil.
  • Fonte de financiamento: nada a declarar.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    18 Set 2020
  • Aceito
    30 Nov 2020
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