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Adaptação transcultural do Instrumento de Rastreio para a Disfonia (IRD-Br) para o Português Europeu (PE)

RESUMO

Objetivo

Realizar a adaptação transcultural do Instrumento de Rastreio para a Disfonia (IRD-Br) para o Português Europeu (PE).

Métodos

Foi realizada a adaptação transcultural do IRD-Br para o PE de acordo com as seguintes etapas: tradução, retrotradução, análise de um comitê de especialistas e pré-teste. Na etapa de pré-teste, participaram 30 indivíduos disfônicos com idades entre os 18 e 87 anos, sendo 24 do sexo feminino e 6 do sexo masculino.

Resultados

Foi necessária a inserção de um enunciado na versão em PE do instrumento. Houve divergência na retrotradução do título, sendo resolvida na análise do comitê de especialistas. Um item apresentou divergência na tradução e na retrotradução, sendo definida a versão final na análise do comitê de especialistas. Um item e a chave de resposta apresentaram consenso em todas as etapas. No pré-teste, todos os itens receberam 100% de respostas sim ou não, e nenhum recebeu resposta não aplicável.

Conclusão

A adaptação do IRD-Br para o PE foi bem sucedida. A versão para o português europeu do instrumento foi denominada de Instrumento de Rastreio para a Disfonia em português europeu - IRD-PT.

Descritores:
Autoteste; Disfonia; Fonoaudiologia; Inquéritos e Questionários; Triagem; Voz

ABSTRACT

Purpose

To perform a cross-cultural adaptation of the Brazilian Dysphonia Screening Tool (DST-Br) for European Portuguese (EP).

Methods

The cross-cultural adaptation of the DST-Br for EP was carried out in four stages: translation, back-translation, expert committee review, and pre-testing. The pre-testing involved 30 dysphonic individuals (24 women and 6 men) aged between 18 and 87 years old.

Results

An additional statement was required in the EP version of the instrument. Disagreement in the back-translation of the title was resolved through an expert committee review. One item presented discrepancies in the translation and back-translation, with the final version determined through an expert committee review. One item and the answer key reached a consensus in all stages. During pre-testing, all items received 100% "yes" or "no" responses, and none were marked as "not applicable".

Conclusion

The cross-cultural adaptation of DST-Br for use in EP was successfully carried out. The European Portuguese version of the instrument was named the Instrumento de Rastreio para a Disfonia em português europeu (IRD-PT) / Dysphonia Screening Tool in European Portuguese.

Keywords:
Self-Assessment; Dysphonia; Speech Language and Hearing Sciences; Surveys and Questionnaires; Triage; Voice

INTRODUÇÃO

A disfonia afeta cerca de um terço da população mundial em algum momento da sua vida. Ela é caracterizada por uma mudança na qualidade, pitch, loudness ou esforço vocal, e pode impactar na comunicação e na qualidade de vida dos indivíduos(11 Azevedo SR, Santos M, Sousa F, Freitas S, Coutinho MB, Sousa CA, et al. Validation of Portuguese Version of the Voice Handicap Index-10. J Voice. 2023;37(1):140.e7-11. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.10.019.
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,22 Putnoki DS, Hara F, Oliveira G, Behlau M. Qualidade de vida em voz: o impacto de uma disfonia de acordo com gênero, idade e uso vocal profissional. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2010;15(4):485-90. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342010000400003.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342010...
).

A mensuração da percepção dos próprios indivíduos acerca dos sintomas, desconfortos e das consequências da disfonia na sua qualidade de vida é geralmente realizada por questionários de autoavaliação vocal(33 Capucho C, Escada PA, Silva JM. Auto-avaliação da voz cantada. Estado da arte e investigações necessárias. Revista Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-facial. 2011;49(2):91-100. https://doi.org/10.34631/sporl.163.
https://doi.org/10.34631/sporl.163...
). Esses instrumentos permitem mensurar a percepção do sujeito, o que não pode ser obtido por outro tipo de avaliação(44 Tutya AS, Zambon F, Oliveira G, Behlau M. Comparação dos escores dos protocolos QVV, IDV e PPAV em professores. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(3):273-81. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-80342011000300007.
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).

Muitos questionários foram criados com o objetivo de avaliar a autopercepção do sujeito acerca do quadro clínico e do impacto da disfonia(55 Behlau M, Zambon F, Moreti F, Oliveira G, Couto EB. Voice self-assessment protocols: different trends among organic and behavioral dysphonias. J Voice. 2017;31(1):112-27. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2016.03.014.
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), entre eles: Índice de Desvantagem Vocal reduzido - IDV-10 (Voice Handicap Index-10) traduzido e validado para o Português Europeu (PE)(11 Azevedo SR, Santos M, Sousa F, Freitas S, Coutinho MB, Sousa CA, et al. Validation of Portuguese Version of the Voice Handicap Index-10. J Voice. 2023;37(1):140.e7-11. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.10.019.
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) e a Escala de Sintomas Vocais (ESV) traduzida e adaptada para o PE - VoiSS (Escala de Sintomas de Voz)(66 Santos A. VoiSS - Escala de Sintomas de Voz [Internet]. 2012. Contributo para a tradução e adaptação cultural da “VoiSS - Vocal Symptom Scale” para o português europeu. [citado em 2023 Abr 8]. Disponível em:https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3211/22/Anexo%2015%20VoiSS%20pt%20portugu%c3%aas.pdf
https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/...
). Esses são instrumentos com elevada acurácia e alto valor científico e clínico. Esses instrumentos possuem pontos de corte que auxiliam na diferenciação de indivíduos com ou sem disfonia, no entanto não foram desenvolvidos para esse objetivo, o de rastrear distúrbios da voz.

A fim de suprir a necessidade de ter um instrumento para rastrear a disfonia, em 2020 foi elaborado o Instrumento de Rastreio para a Disfonia (IRD-Br)(77 Oliveira P, Neto EAL, Lopes L, Behlau M, Lima H, Almeida AA. Brazilian Dysphonia Screening Tool (Br-DST): an instrument based on voice self-assessment items. J Voice. 2020;37(2):297.E15-E24. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.052.
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) em português brasileiro, nomeado como Brazilian Dysphonia Screening Tool (Br-DST) em inglês. O IRD-Br é um instrumento simples e de boa acurácia, composto por dois itens que são facilmente percebidos pelos indivíduos, e que foram extraídos de dois instrumentos clássicos de autoavaliação vocal, o IDV e a ESV. O IRD-Br usa apenas os itens "Minha voz é rouca?" e "Sinto que tenho que fazer força para a minha voz sair?" para identificar indivíduos com alta probabilidade de apresentar disfonia, e encaminhá-los para uma avaliação multidimensional da voz confirmatória(77 Oliveira P, Neto EAL, Lopes L, Behlau M, Lima H, Almeida AA. Brazilian Dysphonia Screening Tool (Br-DST): an instrument based on voice self-assessment items. J Voice. 2020;37(2):297.E15-E24. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.052.
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).

Porém, não há uma versão do instrumento disponível em PE, bem como, de nenhum outro instrumento de triagem ou rastreio de distúrbios vocais. Dessa forma, vê-se a necessidade de adaptar transculturalmente o IRD-Br para o PE para auxiliar o clínico na identificação do risco de disfonia na população portuguesa de uma forma fácil, rápida e precisa.

Assim, o objetivo do estudo foi realizar a adaptação transcultural do IRD-Br para o PE.

MÉTODOS

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté (parecer número 5.162.826). Todos os sujeitos foram esclarecidos sobre a pesquisa e assinalaram o aceite voluntário de participação na pesquisa na plataforma google forms. A pesquisa seguiu as normas de Resolução CNS 466/12.

A tradução e adaptação do IRD-BR para PE foi realizada de acordo com os critérios propostos pelo COnsensus-based Standards for the selection of health Measurement Instruments (COSMIN)(88 Lidwine BM, Cecilia P, Donald LP, Jordi A, Lex MB, Henrica V, et al. COSMIN methodology for systematic reviews of Patient-Reported Outcome Measeures (PROMs). Qual Life Res. 2018;27(5):1147-57. http://dx.doi.org/10.1007/s11136-018-1798-3.
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). O IRD-Br contém dois itens: (1º) "Eu sinto que tenho que fazer força para a minha voz sair" do IDV-10 e (2º) "A minha voz é rouca?" da ESV. Apesar de ambos os itens terem a sua versão em PE nos respectivos instrumentos originais que o compuseram, optou-se por traduzir o instrumento na totalidade (nome, itens e chave de resposta).

As etapas de tradução, retrotradução e análise do comitê estão especificadas abaixo:

  1. Tradução: Foram realizadas por dois tradutores, um terapeuta da Fala e um não terapeuta da fala, nativos do PE e fluentes em Português brasileiro (PB). Ambos traduziram as informações de forma independente.

  2. Consenso: Os autores realizaram um consenso entre as duas traduções do título, dos itens e da chave de resposta.

  3. Retrotradução: A versão de consenso foi submetida à retrotradução para o PB, por dois tradutores (um fonoaudiólogo e outro não fonoaudiólogo) brasileiros fluentes em PE, com o objetivo de perceber se houve alguma alteração relevante no conteúdo original.

  4. Análise do comitê: O título, os dois itens e a chave de respostas passaram por uma análise de um comitê de Fonoaudiólogos/Terapeutas da Fala não participantes nas etapas anteriores. O comitê foi constituído por um metodologista, um fonoaudiólogo e três Terapeutas da Fala. A análise feita pelo comitê de especialistas levou em conta a equivalência semântica, conceitual, idiomática, experiencial, cultural e operacional(99 Guillemin F, Bombardier C, Beaton D. Cross-cultural adaptation of health-related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol. 1993;46(12):1417-32. http://dx.doi.org/10.1016/0895-4356(93)90142-N.
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    ) nas divergências encontradas na tradução e retrotradução.

  5. Pré-teste: A versão final do instrumento passou pela etapa de pré-teste com a aplicação em indivíduos disfônicos portugueses falantes nativos do PE. Os participantes do pré-teste foram recrutados através de convite para participar da pesquisa enviados a Terapeutas da Fala (Fonoaudiólogos) em Portugal. Nesse convite constavam os critérios de seleção e o link para participação. Os Terapeutas de Fala foram convidados a repassar o convite aos seus pacientes que preenchiam os critérios de elegibilidade da pesquisa. Os critérios de inclusão foram: idade superior a 18 anos, ser nativo de Portugal e ter diagnóstico médico otorrinolaringológico de disfonia. Foram excluídos indivíduos com problemas neurológicos, cognitivos e/ou psiquiátricos que inviabilizassem a compreensão dos instrumentos de pesquisa. Os participantes que aceitaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) no formulário on-line, foram encaminhados para um link que era composto por duas telas. Na primeira, responderam cinco questões que envolviam: nome, idade, sexo, profissão e diagnóstico médico otorrinolaringológico. A segunda tela continha o instrumento, com o enunciado e os dois itens de pesquisa. Foi adicionada a opção "não aplicável" à chave de resposta. Os participantes foram orientados a selecionar essa opção para os itens que estivessem inadequados para a sua cultura. A amostra final foi constituída por 30 indivíduos disfônicos com idades entre 18 e 87 anos, média de 50 anos e sete meses (DP: 18,55), sendo 24 do sexo feminino (80%) e seis do sexo masculino (20%).

Todas as etapas foram realizadas de forma online. Para o pré-teste foi utilizada a plataforma Google Forms.

ANÁLISE DE DADOS

Os dados foram analisados de forma descritiva e inferencial utilizando-se o software SPSS 25.0. Foi considerado um nível de significância de 5% para as análises inferenciais.

Na análise descritiva das variáveis quantitativas foram calculadas as medidas de tendência central (média e mediana), variabilidade (desvio-padrão) e posição (mínimo, máximo, primeiro e terceiro quartis). Na análise descritiva das variáveis qualitativas foram calculadas a frequência absoluta e a frequência relativa percentual.

A comparação da proporção de duas categorias de uma variável qualitativa nominal foi realizada por meio do Teste Binominal de uma amostra, adotando-se a proporção de referência de 0,5. Para a comparação de múltiplas categorias de uma variável qualitativa nominal utilizou-se como referência a proporção da categoria de maior proporção.

RESULTADOS

A proposta de enunciado para o IRD-PT teve como base os enunciados dos dois instrumentos (IDV-10(11 Azevedo SR, Santos M, Sousa F, Freitas S, Coutinho MB, Sousa CA, et al. Validation of Portuguese Version of the Voice Handicap Index-10. J Voice. 2023;37(1):140.e7-11. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.10.019.
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), VoiSS(66 Santos A. VoiSS - Escala de Sintomas de Voz [Internet]. 2012. Contributo para a tradução e adaptação cultural da “VoiSS - Vocal Symptom Scale” para o português europeu. [citado em 2023 Abr 8]. Disponível em:https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3211/22/Anexo%2015%20VoiSS%20pt%20portugu%c3%aas.pdf
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)) utilizados para a criação da versão original do IRD-Br. O IRD-Br não possui enunciado formal para introduzir os dois itens que compõem o instrumento. O Quadro 1 apresenta os resultados obtidos para o enunciado do IRD-PT.

Quadro 1
Resultados obtidos para o enunciado do IRD-PT

Os resultados obtidos na fase de tradução, retrotradução e análise do comitê estão especificadas no Quadro 2.

Quadro 2
Descrição das etapas de tradução, retrotradução e consenso

Os participantes apresentaram disfonia funcional (n=11; 36,67%), organofuncional (n=9; 30%) e orgânica (n=10; 33,33%), com diagnóstico médico otorrinolaringológico. A Tabela 1 mostra que nenhum participante respondeu não aplicável para os itens do instrumento. Para o item “sinto que tenho de fazer força para a minha voz sair”, 46,67% dos participantes responderam não e 53,33% responderam sim. Já para o item “a minha voz é rouca”, 20% dos participantes responderam não e 80% responderam sim.

Tabela 1
Proporção de respostas nos itens do instrumento

DISCUSSÃO

A adaptação transcultural visa a adequação dos itens de um instrumento para a sua aplicabilidade em uma população de outro idioma ou cultura. Ela permite que as possíveis diferenças socioculturais entre as culturas e os idiomas sejam resolvidas, não sendo uma mera tradução literal do instrumento original, possibilitando o seu uso em um formato adequado aos indivíduos da cultura-alvo(1010 Zambon F, Moreti F, Nanjundeswaran C, Behlau M. Cross-cultural adaptation of the Brazilian version of the Vocal Fatigue Index - VFI. CoDAS. 2017;29(2):e20150261. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20172015261.
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). Somente após a adaptação transcultural o instrumento pode ser utilizado em uma segunda língua e cultura.

A tradução do IRD-Br para o PE não apresentou divergências de conteúdo. Na chave de resposta não houve divergência ou necessidade de ajuste. Com relação ao título, houve concordância na tradução, porém, na retrotradução surgiram duas possibilidades: “questionário para a triagem” ou “instrumento de rastreio”. Optou-se por manter o termo instrumento pela conceituação e pelo formato de uso do IRD. O conceito “questionário” é mais limitado que o conceito de “instrumento". Questionário é um instrumento de coleta de dados, que contém uma série ordenada de perguntas. Já instrumento, é o que será utilizado no desenvolvimento do estudo para a obtenção de dados(1111 Barroso, AR. Instrumentos de pesquisa científica qualitativa: vantagens, limitações, fidedignidade e confiabilidade. EFDeportes.com, Revista Digital. 2012;172(17):1.), podendo ter formas específicas de análise que respaldem uma tomada de decisão.

O IRD-Br não busca somente a obtenção de dados, mas também oferece uma fórmula para a tomada de decisão do clínico consoante a resposta obtida pelo indivíduo investigado. Entende-se que ele não seja somente um questionário para obtenção de informações isoladas.

Elegeu-se o conceito de "rastreio" em detrimento de "triagem", visto que rastreio envolve a detecção simples, econômica e rápida de uma provável doença ou lesão em qualquer indivíduo, seguido por um encaminhamento para diagnóstico de confirmação e tratamento. A triagem, por sua vez, identifica indivíduos afetados por uma doença ou distúrbio em uma população, a fim de direcioná-los para procedimentos diagnósticos mais completos(77 Oliveira P, Neto EAL, Lopes L, Behlau M, Lima H, Almeida AA. Brazilian Dysphonia Screening Tool (Br-DST): an instrument based on voice self-assessment items. J Voice. 2020;37(2):297.E15-E24. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2020.12.052.
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). Perante tais definições, o conceito de "rastreio" foi escolhido pelo comitê de especialistas, pois está de acordo com a proposta do IRD-Br, que é a de detetar de forma simples, econômica e rápida indivíduos disfônicos e encaminhá-los para diagnóstico de confirmação e tratamento.

Com relação aos itens, na etapa de consenso da tradução e da retrotradução utilizou-se como premissa a simplificação. A simplificação sintática é uma prática da psicolinguística apoiada em evidências de que determinadas características gramaticais podem impor maiores ou menores dificuldades para a compreensão de um texto(1212 Siddharthan A. A survey of research on text simplification. ITL Int J Appl Linguist. 2014;165(2):259-98. http://dx.doi.org/10.1075/itl.165.2.06sid.
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). Nesse sentido, a simplificação parte de diferentes estratégias destinadas a diminuir a complexidade estrutural do texto, sem modificar o conteúdo da informação original, ou seja, o seu significado, o que permite atingir de modo mais amplo, indivíduos de diversos níveis socioeconômicos e culturais. Com base nisso, o primeiro item apresentou divergência na tradução, sendo definida a tradução como: “Sinto que tenho de fazer força para a minha voz sair”. Houve divergência também na retrotradução, por isso na análise do comitê de especialistas ele foi modificado para “Sinto que faço força para a minha voz sair”, tornando o item mais simples e de clara interpretação. O segundo item não sofreu alteração em nenhuma das etapas, mantendo a mesma versão desde a etapa de tradução. Houve mudança em relação a versão em português brasileiro apenas pela inserção do artigo “a” desde a primeira etapa, para a sentença se tornar mais clara no PE.

O instrumento original não tem enunciado formal para introduzir as questões que o compõem. Porém, sentiu-se a necessidade de colocar um enunciado no instrumento, principalmente pela questão da aplicabilidade online, para tornar mais clara a intenção do instrumento, e trazer instruções de preenchimento para a população. Considerando os dois instrumentos (IDV-10; VoiSS) que têm por base a criação do instrumento em questão, optou-se por elaborar o enunciado baseando-se na versão em PE desses instrumentos. Foram elaboradas quatro opções de enunciado, dos quais os autores escolheram a opção: “Responda aos dois itens abaixo, considerando a sua voz atualmente”.

A opção “não aplicável” não foi assinalada pelos participantes no pré-teste. Os resultados obtidos nessa fase são considerados excelentes, pois os 30 participantes responderam afirmativamente ou negativamente aos dois itens estudados, ou seja, eles compreenderam os itens e responderam com opções da chave de resposta do próprio instrumento. Isso mostra que a adaptação do instrumento para o PE resultou em uma versão de fácil compreensão à população portuguesa.

A adaptação transcultural é a primeira etapa para a validação de instrumentos, pois todo o restante do processo é realizado a partir dela(1010 Zambon F, Moreti F, Nanjundeswaran C, Behlau M. Cross-cultural adaptation of the Brazilian version of the Vocal Fatigue Index - VFI. CoDAS. 2017;29(2):e20150261. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20172015261.
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). Com a conclusão do processo de adaptação transcultural para o PE, torna-se necessário o desenvolvimento de uma pesquisa de validação do IRD-PT, a fim de demonstrar as propriedades psicométricas de validade, confiabilidade e acurácia da versão portuguesa, e possibilitar o uso confiável em pesquisas e na prática clínica(1313 Aaronson N, Alonso J, Burnam A, Lohr KN, Patrick DL, Perrin E, et al. Assessing health status and quality-of-life instruments: attributes and review criteria. Qual Life Res. 2002;11(3):193-205. http://dx.doi.org/10.1023/A:1015291021312.
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).

CONCLUSÃO

A tradução e adaptação do IRD-Br para a população portuguesa foi bem sucedida. A versão em português europeu do IRD-Br foi denominada Instrumento de Rastreio para a Disfonia em português europeu - IRD-PT (Anexo 1).

Anexo 1. INSTRUMENTO DE RASTREIO PARA A DISFONIA - IRDPT

Responda aos dois itens abaixo, considerando a sua voz atualmente

1) Sinto que tenho de fazer força para a minha voz sair ( ) Sim ( ) Não
2) A minha voz é rouca ( ) Sim ( ) Não
  • Trabalho realizado no Centro de Estudos da Voz - CEV - São Paulo (SP), Brasil.
  • Fonte de financiamento: nada a declarar.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    08 Abr 2023
  • Aceito
    07 Ago 2023
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