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Avaliação da eficácia de lidocaína e sulfato de magnésio para reduzir os efeitos hemodinâmicos desencadeados pela laringoscopia/intubação

Primeiramente gostaríamos de agradecer à Revista Brasileira de Anestesiologia pela publicação desse estudo, que comparou os efeitos da lidocaína e do sulfato de magnésio e aos pesquisadores pelos esforços na feitura do estudo.

O critério de seleção da população de indivíduos mais a natureza dos estudos prospectivos randômicos e duplo-cegos excluem qualquer questão de viés.

No entanto, identificamos várias limitações relacionadas ao método. Primeiro, um estudo conduzido em centro único com um pequeno número de indivíduos não é representativo de uma população maior. Além disso, de acordo com a análise do poder do estudo, o Grupo L deveria ter no mínimo 25 pacientes para que se pudesse chegar a conclusões precisas sobre a lidocaína – embora a diferença de “um” possa ser considerada irrelevante.

Teria sido útil se os pesquisadores tivessem explicado com mais detalhes a escolha dos métodos de administração das drogas. Pode-se sugerir que uma dose total mais baixa de lidocaína poderia ter atingido os efeitos máximos mais rapidamente com um bolus.11 Weinberg L, Peake B, Tan C, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of lignocaine: a review. World J Anesthesiol. 2015;4:17-29. Available at: http://www.wjgnet.com/2218-6182/full/v4/i2/17.htm [accessed 13.03.17].
http://www.wjgnet.com/2218-6182/full/v4/...
Além disso, ficamos na dúvida se a intenção dos pesquisadores foi a de administrar infusões das drogas do estudo que ainda diminuiriam a pressão arterial seis minutos após intubação traqueal (IT).22 Mendonça FT, de Queiroz LM, Guimarães CC, et al. Effects of lidocaine and magnesium sulfate in attenuating hemodynamic response to tracheal intubation: single-center, prospective, double-blind, randomized study. Braz J Anesthesiol. 2017;67:50-6. Estamos curiosos para saber quanto tempo demorou após a infusão das drogas até que a pressão arterial dos indivíduos voltasse ao normal.

Sabemos que a etnia é um dos principais fatores de risco para a hipertensão arterial. Descobriu-se que as pressões sistólica e diastólica são maiores nos negros do que nos indivíduos de origem europeia.33 Lindhorst J, Alexander N, Blignaut J, et al. Differences in hypertension between blacks and whites: an overview. Cardiovasc J Afr. 2007;18:241-7. Portanto, uma pressão arterial maior no Grupo M pode ser devido ao número maior de participantes com ascendência africana. Os autores não forneceram dados suplementares que indicassem as etnias dos participantes, o que seria útil para avaliar a contribuição da etnia em relação ao efeito causado pela droga na pressão arterial.22 Mendonça FT, de Queiroz LM, Guimarães CC, et al. Effects of lidocaine and magnesium sulfate in attenuating hemodynamic response to tracheal intubation: single-center, prospective, double-blind, randomized study. Braz J Anesthesiol. 2017;67:50-6.

Os autores afirmam que seu estudo “foi feito com pacientes saudáveis”; porém, a tabela 1 do artigo publicado por Mendonça et al. sugere que uma proporção dos participantes tomou diuréticos, bloqueadores do receptor de angiotensina e inibidores da ECA.22 Mendonça FT, de Queiroz LM, Guimarães CC, et al. Effects of lidocaine and magnesium sulfate in attenuating hemodynamic response to tracheal intubation: single-center, prospective, double-blind, randomized study. Braz J Anesthesiol. 2017;67:50-6. Como os autores não fornecem dados suplementares, não está claro se 15 participantes tomavam anti-hipertensivos ou se um número menor tomou várias drogas. Além disso, o artigo não explica por que esses participantes tomavam anti-hipertensivos. Eles podem ter recebido medicação para garantir que apresentassem uma pressão arterial similar pré-cirurgia. No entanto, como a hipertensão está associada à hipertrofia do ventrículo esquerdo, dentre as consequências, é questionável se o estudo foi “feito com pacientes saudáveis”.33 Lindhorst J, Alexander N, Blignaut J, et al. Differences in hypertension between blacks and whites: an overview. Cardiovasc J Afr. 2007;18:241-7. A publicação de material complementar com detalhes sobre a saúde dos pacientes facilitaria uma interpretação precisa dos resultados.22 Mendonça FT, de Queiroz LM, Guimarães CC, et al. Effects of lidocaine and magnesium sulfate in attenuating hemodynamic response to tracheal intubation: single-center, prospective, double-blind, randomized study. Braz J Anesthesiol. 2017;67:50-6.

O título do estudo não deixa claro que o objetivo é comparar a eficácia das duas drogas. Um título que indicasse explicitamente a natureza comparativa do estudo seria mais apropriado.

As várias desvantagens desse estudo incluem a falta de estratificação dos resultados com base na etnia e na saúde dos participantes e explicações abrangentes sobre a escolha dos métodos. Porém, a natureza imparcial do estudo confere crédito aos seus resultados.

References

  • 1
    Weinberg L, Peake B, Tan C, et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of lignocaine: a review. World J Anesthesiol. 2015;4:17-29. Available at: http://www.wjgnet.com/2218-6182/full/v4/i2/17.htm [accessed 13.03.17].
    » http://www.wjgnet.com/2218-6182/full/v4/i2/17.htm
  • 2
    Mendonça FT, de Queiroz LM, Guimarães CC, et al. Effects of lidocaine and magnesium sulfate in attenuating hemodynamic response to tracheal intubation: single-center, prospective, double-blind, randomized study. Braz J Anesthesiol. 2017;67:50-6.
  • 3
    Lindhorst J, Alexander N, Blignaut J, et al. Differences in hypertension between blacks and whites: an overview. Cardiovasc J Afr. 2007;18:241-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2018
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