Efeito da hialuronidase na sobrevida de retalhos cutâneos em ratas

Hyaluronidase effect on the suvival of skin flaps in female rats

EFEITO DA HIALURONIDASE NA SOBREVIDA DE RETALHOS CUTÂNEOS EM RATAS

Cristhian Enrique Acevedo-Bogado¹

Jorge Bins-Ely ²

Armando José d'Acampora ³

Rodrigo d'Eça Neves⁴

Acevedo-Bogado CE, Bins-Ely J, d'Acampora AJ, Neves RE. Efeito da hialuronidase na sobrevida de retalhos cutâneos em ratas. Acta Cir Bras 2001; 17 (supl. 1):14-16.

RESUMO

O insucesso de retalhos devido a necrose total ou parcial não é um fato isolado. O edema pode ser um fator importante na perda do retalho. A hialuronidase degrada o ácido hialurônico presente no tecido conjuntivo que está envolvido na homeostase da água na matriz extracelular, e pode ser importante na melhora da sobrevida de retalhos. O objetivo do presente estudo foi avaliar a efetividade da hialuronidase na melhora da sobrevida de retalhos cutâneos em ratas. Quarenta e duas ratas Wistar distribuídas em quatro grupos foram incluídas na pesquisa. Praticou-se um retalho randomizado de 7 x 2 cm no dorso do animal. Três grupos receberam tratamento pós-operatório durante quatro dias. O grupo A (n=11) recebeu 100 UI/dia de hialuronidase, o grupo B (n=11) 50 UI/dia de hialuronidase e o grupo C (n=10) água destilada. O grupo D (n=10) não recebeu tratamento. Foi avaliada a área de necrose e submetido a análise estatística. As taxas de necrose no dia 7 foram: no grupo A 38,69% (± 9,26), grupo B 38,20% (± 15,05), grupo C 51,97% (± 8,37) e grupo D 45,90% (± 12,57). Houve diferença estatisticamente significante (p<0,05) entre os grupos A e B quando comparados com o grupo C. Não houve diferença estatisticamente significante dos grupos A e B em comparação com o grupo D. A hialuronidase mostrou-se efetiva quando o fator infiltração estava envolvido, o que sugere um efeito de dissolução do edema como provável mecanismo de melhora da sobrevida em retalhos cutâneos em ratas.

DESCRITORES: Retalhos. Hialuronidase. Ratos. Edema. Necrose

Acevedo-Bogado CE, Bins-Ely J, d'Acampora AJ, Neves RE. Hyaluronidase effect on the suvival of skin flaps in female rats. Acta Cir Bras 2001; 17 (supl. 1):14-16.

SUMMARY

Flap failure related to total or partial necrosis is not a rare event. Flap edema could be an important factor on flap losing. Hyaluronidase breaks down the hyaluronic acid existing in the connective tissue, which is involved on water homeostasis of intercellular ground substance, and may be important on increasing flap survival. The aim of this study was to evaluate the effectiveness of hyaluronidase on improving cutaneuos flap survival in rats. Forty-two Wistar rats divided in four groups were included in this study. It was made a 7 x 2 cm random flap in the dorsal aspect of the animal. Three groups received post-operative treatment during four days. Group A (n=11) received 100 UI per day of hyaluronidase, group B (n=11) 50 UI per day and group C (n=10) received distilled water. Group D (n=10) was not treated. It was evaluated the necrosis area and those data were statistically analyzed. Necrosis rates on 7^th day were 38,69% (±9,26) in the group A, 38,20% (±15,05) in the group B, 51,97% (±8,37) in the group C and 45,90% (±12,57) in the group D. There was found difference with statistical significance (p<0,05) between group A and B when compared with the group C. There was no statistical difference when compared groups A and B with group D. Hyaluronidase was found effective when the infiltration factor was involved and this suggests a spread effect on edema to be the provable mechanism on increasing of the cutaneous flap survival in rats.

SUBJECT HEADINGS: Flap. Hyaluronidase. Rat. Edema. Necrosis

INTRODUÇÃO

É freqüente a utilização de retalhos na prática médica, e muitas vezes com insucesso.Várias são as causas envolvidas na necrose parcial ou total de um retalho cutâneo randomizado. Por exemplo, retalhos muito longos o que dificulta a chegada de nutrientes aos segmentos mais distais do pedículo. A hipoxia resultante deste déficit de suprimento sanguíneo também contribui na produção de metabolitos tóxicos assim como na vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar que também favorece a instalação do edema⁶. O edema freqüentemente tem um papel importante na perda de um retalho. No interstício, o ácido hialurônico é capaz de exercer profundos efeitos na distribuição e movimentação da água, o que lhe concede importância fundamental na sua homeostase^4,7.

A hialuronidase, é uma enzima que degrada o ácido hialurônico^2,3,11 e reduz a viscosidade da substancia de ligação intercelular. Grossman, McGonagle e Dowden⁵, utilizando um modelo de retalho cutâneo experimental em ratas observaram melhoria da área de sobrevivência com o uso de hialuronidase e o dimetil sulfóxido (DMSO) via intraperitoneal e formulou a hipótese de que estas sustâncias exercem seus efeitos diminuindo o edema e ajudando no transporte de sustâncias nutritivas ao retalho durante a fase aguda. Pimentel e Goldenberg⁸ utilizando coelhos, também pesquisaram a hialuronidase que foi injetada diretamente na pele e tecido subcutâneo de longos retalhos com a finalidade de aumentar a permeabilidade do tecido conjuntivo, supondo que isto aumente o fluxo de líquido intersticial para a base do retalho e esperando com isso aumentar a drenagem de metabolitos da extremidade do retalho para áreas mais distantes com vascularização normal para prevenir sua necrose. No seu modelo, PIMENTEL e GOLDENBERG encontraram que a hialuronidase representou um tratamento efetivo para a prevenção da necrose⁸.

O objetivo do presente estudo foi avaliar a efetividade da hialuronidase na melhora da sobrevida de retalhos cutâneos em ratas.

MÉTODOS

Foram utilizadas 42 ratas rattus norvegicus, da linhagem Wistar - EPM - 1, UNIFESP, fêmeas, com idade mínima de 180 (±15%) dias, procedentes do Biotério Central da UFSC.

Os animais foram catalogados e numerados. As 42 ratas foram distribuídas aleatoriamente em 4 (quatro) grupos: Grupo A (n=11), grupo B (n=11), grupo C (n=10) e grupo D (n=10). Os grupos tiveram o tratamento pós-operatório abaixo detalhado: Grupo A: Foram infiltrados 2 ml de hialuronidase 50 UI/ml (total de 100 UI) por dia e no pós-operatório imediato, nas 24, 48 e 72 horas seguintes ao procedimento cirúrgico. Grupo B: Foram infiltrados 2 ml de hialuronidase 25 UI/ml (total de 50 UI) por dia, no pós-operatório imediato e nas 24, 48 e 72 horas seguintes ao procedimento cirúrgico. Grupo C: Foram infiltrados 2 ml de Solvente (água destilada) por dia, no pós-operatório imediato e nas 24, 48 e 72 horas seguintes ao procedimento cirúrgico. Grupo D: O grupo sham, não recebeu infiltração de nenhuma substância. Apenas foi feita a elevação do retalho e sutura.

Os animais foram observados por um período de duas semanas. Foram submetidos a inalação de éter com efeito sedativo e seguido de anestesia geral compentobarbital sódico 3% (Hypnol®) e cloridrato de 2-(2,6-xilidino)-5,6dihidro-4H-1,3 - tiazina (Rompum®) via intraperitoneal. Foi desenhado um retalho cutâneo de 7 cm X 2 cm, na região dorsal direita do rato e elevado com um pedículo caudal, e imediatamente reposicionado no leito e suturado com fios de nylon 6-0 (Figura 1).

Imediatamente após finalizada a cirurgia foi feita infiltração do retalho segundo os grupos descritos acima, que foi repetido nos dias 1, 2 e 3 do pós-operatório.

Um colar cervical retalho de formato cônico, acabamento de chuveiro Lorenzetti^®, duplo foi colocado no animal com a finalidade de evitar a autofagia².

Documentação fotográfica e medição de área comprometida foram realizadas nos dias 0, 1, 2, 3, 5 e 7 e analisados por programa informático IMAGE TOOL^®, .No dia 7, após último levantamento de dados, foi feito o sacrifício do animal. Foi criada uma base de dados em programa Excel^® que foi submetida a análise estatística, utilizando os programas Statística^® e Epi-Info^®.

RESULTADOS

Foram incluídos 42 ratas com peso entre 182 e 294g com uma media total de 251,43g (±20,89); distribuído em 4 grupos: Grupo A (n=11), Grupo B (n=11), Grupo C (n=10) e Grupo D (n=10).

Quando analisada a variável "extensão da área comprometida" no dia 7 que surge da observação clínica, o grupo B apresentou 27,3% de casos ultrapassando 40% de necrose e o grupo C 100%, (Tabela 1), abaixo.

As áreas comprometidas nos grupos foram medidas até o dia 7 e tiveram a distribuição que se mostra na tabela 2, abaixo.

Na figura 2 se expõem as médias de percentagens de necrose nos dias 5 e 7 nos distintos grupos assim como a media total.

Na figura 3 se destacam as percentagens de áreas com necrose nas observações dos dias 5 e 7 dos distintos grupos pesquisados.

Utilizando o teste de Tukey para avaliar as diferenças de médias entre os grupos obteve-se que há diferença significante entre os grupos A e C (p<0,05), e B e C (p<0,05). Tabela 3.

DISCUSSÃO

O tipo de retalho objeto do estudo foi o randomizado, com relação comprimento-largura, suficientemente aumentado para poder avaliar os efeitos de um retorno venoso dificultado.

Estudos anatômicos da irrigação cutânea do dorso da rata evidenciaram um padrão de rede vascular principal com trajeto predominante no sentido transversal^9,10. Desta maneira, o retalho foi desenhado em sentido longitudinal para atravessar transversalmente os pedículos vasculares principais no dorso da rata. O pedículo caudal foi escolhido para criar condições de dificuldade ao retorno venoso o que favoreceria a formação de edema no retalho através do aumento da pressão capilar.

Optamos pela injeção intradérmica⁸ para testar o efeito de intumescência o que simularia um edema local. Incluímos um grupo C que recebeu infiltração com água destilada e um grupo SHAM em que não se realizou infiltração.

A taxa de necrose no dia 7 foi de 38,69% (±9,26) para o grupo A, 38,20% (±15,05) para o grupo B, 51,97% (±8,37) para o grupo C e 45,90% (±12,57) para o grupo D. Temos observado que ainda quando proporcionalmente há um melhor resultado quando comparado os grupos tratados (A e B), em relação aos grupos controle e SHAM (C e D) (Figura 3), esta diferença é estatisticamente significante (P<0,05) apenas entre os grupos A e C, e, B e C, não existindo diferença estatisticamente significante com o grupo D (SHAM) tal como mostra a tabela II. Devido a isto não se pode afirmar que a hialuronidase evita necrose de retalho quando infiltrado no local. Contudo, este resultado iria a favor do efeito protetor da hialuronidase quando esteja instalado edema no retalho, e não como favorecedor de difusão de nutrientes a locais mais distantes do retalho⁵.

Pode-se concluir que, no modelo de retalho randomizado em ratas, a hialuronidase demonstra efetiva melhora da sobrevida de retalhos, quando o fator edema encontra-se envolvido no processo.

Não se pode afirmar que a hialuronidase evita necrose de retalho quando infiltrado no local

A melhora da sobrevida produzida pela hialuronidase sugere um mecanismo de redução do componente edematoso. Contudo, não é possível afirmar que a hialuronidase favorece a difusão de nutrientes dos territórios mais distais do pedículo.

1. Mestrando em Ciências Médicas, UFSC

2. Prof. de Cirurgia Plástica, UFSC

3. Prof. de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental, UFSC

4. Chefe do Núcleo de Cirurgia Plástica - Hospital Universitário, UFSC

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NOTAS

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  24 Out 2002
• Data do Fascículo
  2002