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Futebol: representações e práticas de escolares do ensino fundamental

Football: representations and practices of students of the elementary school

Resumos

Este estudo buscou caracterizar as práticas e identificar representações sociais de escolares sobre o futebol no âmbito da aulas de Educação Física Escolar. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de tipo etnográfico, que utilizou observação participante e entrevistas semiestruturadas, além de questionário, em uma turma de 29 alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, em uma escola pública na cidade de Bauru - SP. Os resultados indicam que as mídias e a família são os principais elementos que constituem as representações dos alunos sobre o futebol, e que o modo como a prática do futebol é desenvolvida na escola ao mesmo tempo as constrói e realimenta. Concluímos que as representações sociais são um importante meio que orienta as relações dos alunos com o futebol, na medida em que influenciam a orientação e organização das suas condutas. Todavia, isto não torna homogêneas suas condutas e valores, pois os alunos buscam no futebol a satisfação de algo que é também pessoal, como diversão e amizades.

Futebol; Representações sociais; Educação física escolar


This study aimed to characterize the practices and social representations of students about football within the Physical Education classes. This is a qualitative research of ethnographic type, which used participant observation and semi-structured interviews, as well as questionnaires, in a class of 29 students from 6th grade of Elementary Education, in a private school in Bauru City-SP. The results indicate that the media and the family are the main elements that constitute the representations of students about football, and that the way football practice is developed at school simultaneously builds and feed them. We conclude that social representations rule the relationships of students with football, insofar as they guide and organize their behavior. However, this does not make their conduct and values homogenous, because the students seek in football the satisfaction of something that is also personal, as fun and friendship.

Football; Social representations; School physical education


Introdução

O esporte é um importante fenômeno sociocultural contemporâneo, com implicações econômicas, políticas e ideológicas. O futebol é muito presente na cultura brasileira, é a modalidade esportiva mais popular em nosso país, e perpassa o cotidiano de todos nós. DA MATTA1. Da Matta R. O universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke; 1982., por exemplo, afirma que esse esporte expressa a própria sociedade brasileira, sua estrutura e tensões. Como uma das principais manifestações culturais brasileiras, o futebol é constantemente atualizado e ressignificado pelos seus atores2. Daolio J. Futebol, cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados; 2005..

O futebol é também percebido por RINALDI3. Rinaldi W. Futebol: manifestação cultural e ideologização. Rev Educ Fís/UEM. 2000;11:167-72. como meio de transmissão ideológica. Contudo - prossegue o mesmo autor -, não é ideológico em si, adquire uma função ideológica na medida em que é utilizado em um determinado contexto social no sentido de transparecer valores e verdades de uma determinada concepção que se pretende tornar hegemônica.

Na perspectiva da teoria do processo civilizatório formulada por Norbert Elias, conforme REIS e ESCHER4. Reis HHB, Escher TA. Futebol e sociedade. Brasília: Líber; 2006., o futebol representa grupos em tensão controlada, além de ser um dos principais meios de excitação agradável e de identificação coletiva. As pessoas procuram as atividades miméticas, principalmente o esporte, pela excitação agradável provocada pela partida, pela tensão que é concedida por essa atividade.

Segundo DUNNING5. Dunning E. Sport matters: sociological studies of sport, violence and civilization. London: Routledge; 1999., o grande interesse dos espectadores por esse esporte, nos dias de hoje, deve-se à necessidade que povos de todo o mundo têm de atividades de lazer que propiciem um tipo de excitação que não se encontra mais nas sociedades atuais. E o futebol, pela sua configuração especial, propiciaria o atendimento a esta necessidade.

Ao analisar o futebol como fenômeno que se imbrica com a formação ideológica e cultural de certo grupo social, é também possível visualizar sua inevitável ligação ao processo de formação do indivíduo, formação esta que ocorre primariamente na família, mas sobre a qual a instituição escolar também exerce notável influência. Quando o futebol adentra à escola, percebemos a especial responsabilidade das aulas de Educação Física, que costumeiramente o incorpora como conteúdo, sob a forma do futebol de salão (futsal)a a . Esclarecemos que não fizemos distinções específicas entre as várias modalidades de futebol existentes (de campo, de salão, de areia etc.), por assumirmos o pressuposto de que há uma representações social mais genérica do “futebol” na sociedade brasileira, sem distinções rígidas entre as modalidades, em que pese a maior importância econômica e política do futebol “de campo”. . Mas o futebol, pela importância cultural que adquiriu no Brasil, com frequência também está presente em outros tempos e espaços escolares - como o “recreio” e intervalos das aulas -, seja como prática ou nas conversas entre os alunos.

As mídias têm participação fundamental no contexto escolar, por disseminarem valores e sentidos com referência ao esporte, influenciando o entendimento que temos do que é esporte e do que é ser esportista6. Betti M. A janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas: Papirus; 1998.. Particularmente, a “fabricação” dos ídolos esportivos por parte das mídias é um dado importante a ser considerado quando pensamos na formação das crianças e jovens, pois os discursos das mídias põem em destaque qualidades e atributos distintos desses sujeitos, que os configuram como especiais, e que se tornam referências de comportamento. Tal processo de fabricação ocorre em todas as instâncias das mídias7. Pilotto FM. A fabricação dos ídolos esportivos. 23 Reunião Anual da ANPED; 2000; Caxambu, BR. Caxambu: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação; 2000. p.1-17.. Os ídolos esportivos, conforme HELAL et al.8. Helal R, Soares AJ, Lovisolo H. A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria. Rio de Janeiro: Mauad; 2001. têm suas trajetórias de vida narradas de modo a que tornem paradigmas dos desejos sociais. Para SANTOS e MEDEIROS9. Santos DS, Medeiros AGA. Los medios de comunicación y las representaciones sociales del deporte: los atletas como modelos de comportamiento. Pensar Prát. 2009;12:1-15. as representações do atleta como ator social ultrapassam o âmbito esportivo, alcançando o conjunto de valores sociais historicamente construídos que traz intrinsicamente o “ser atleta”.

Dessa forma, adquire importância a investigação das práticas e representações do futebol entre as crianças e jovens, já que esta modalidade esportiva, sobretudo no Brasil, está presente em suas vidas - quer como prática, mais ou menos sistematizada, no contexto escolar ou extraescolar, e como representação simbólica, mediada pelas mídias, pares, família etc.

Nessas direções, alguns estudos podem ser destacados. BUSSO e DAOLIO1010 . Busso GL, Daolio J. O jogo de futebol no contexto escolar e extraescolar: encontro, confronto e atualização. Rev Bras Ciênc Esporte. 2011;33:69-86. constataram, em pesquisa com um grupo de escolares, que os alunos vivenciavam intensamente o futebol fora da escola, e reproduziam essas manifestações no âmbito escolar, concluindo que o futebol de aulas de Educação Física insere-se em uma dinâmica de encontro, confronto e atualização com o futebol extraescolar.

Ademais, também para BUSSO e DAOLIO1010 . Busso GL, Daolio J. O jogo de futebol no contexto escolar e extraescolar: encontro, confronto e atualização. Rev Bras Ciênc Esporte. 2011;33:69-86., a prática dessa modalidade na escola gera certo tipo de “tensão” entre os meninos e as meninas, justificada pela suposta diferença de rendimento entre eles, que se apoia nas crenças sociais e tornam-se senso comum. Lembramos que essa dinâmica tensiva situa-se no contexto mais amplo da constituição do futebol como espaço masculino, que impõe barreiras às mulheres1111 . Goellner SV. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Rev Bras Educ Fís Esporte. 2005;19:143-51.-1212 . Knijnik JD. Femininos e masculinos no futebol brasileiro [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia; 2006..

Já para GASTALDO1313 . Gastaldo E. Futebol e sociabilidade: apontamentos sobre as relações jocosas futebolísticas. Esporte Soc. 2006; 3:1-16. Disponível em: http://www.uff.br/esportesociedade/pdf/es304.pdf.
http://www.uff.br/esportesociedade/pdf/e...
, há forte influência familiar sobre as crianças para que se vinculem a um time de futebol como torcedor, e este se inscreve por sua vez num sistema de classificações, que estabelece aliados e adversários e articular lógica identitárias em âmbito local, regional, nacional e internacional.

Assim, no cenário dessa problematização, são objetivos deste estudo: 1) caracterizar as práticas e identificar as representações de escolares do ensino fundamental sobre o futebol; 2) caracterizar como as aulas de Educação Física, bem como outros tempos/espaços escolares, tomam parte neste processo de práticas e representações.

Para tal, utiliza-se como principal referência a teoria das representações sociais, formulada por MOSCOVICI1414 . Moscovici S. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar; 1978.-1515 . Moscovici S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes; 2003., e continuada por JODELET1616 . Jodelet D. Representações sociais. Petrópolis: Vozes; 2001.-1717 . Jodelet D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: Jodelet D, organizador. As representações sociais. Rio de Janeiro: UERJ; 2001. p.17-40.. A teoria parte da premissa de que em nossas vidas deparamo-nos com diferentes pessoas, dotadas de bagagens culturais, vivências e ideais distintos das nossas, e todos buscamos afirmar nossas singularidades; porém, é preciso levar em conta aqueles que estão ao nosso redor e fazem parte de nosso cotidiano. Há necessidade de estarmos informados sobre o mundo à nossa volta. Além de nos ajustar a ele, precisamos saber como nos comportar, dominá-lo física ou intelectualmente, identificar e resolver os problemas que se apresentam: é por isso que criamos representações1616 . Jodelet D. Representações sociais. Petrópolis: Vozes; 2001..

As representações sociais, conforme JODELET17 17 . Jodelet D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: Jodelet D, organizador. As representações sociais. Rio de Janeiro: UERJ; 2001. p.17-40.constituem um saber socialmente elaborado e partilhado, “com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (p.22). Como uma modalidade de conhecimento prático, as representações sociais funcionam como um sistema de interpretação que rege nossas relações com o mundo e com os outros e, assim, orientam e organizam as condutas e comunicações sociais. Desse modo, as representações, mesmo acessadas a partir do seu conteúdo cognitivo, têm de ser entendidas a partir do seu contexto de produção, ou seja, a partir das funções simbólicas a que servem, e das formas de comunicação pelas quais circulam.

Dois processos correlatos dão origem às representações sociais: a objetivação e ancoragem.

• A objetivação (construção de um objeto) é a passagem de conceitos ou ideias para esquemas ou imagens concretas, os quais, “pela generalidade de seu emprego, se transformam em supostos reflexos do real”1818 . Alves-Mazzotti AJ. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Em Aberto. 1994;14:60-78. (p.63). Nesse processo, o indivíduo recorta e descontextualiza as informações, selecionando elementos que vai representar com base em experiências prévias, depois rearticula tais informações fragmentadas, constituindo então o objeto da representação.

• A ancoragem é “a constituição de uma rede de significações em torno do objeto, relacionando-o a valores e práticas sociais”1818 . Alves-Mazzotti AJ. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Em Aberto. 1994;14:60-78. (p.63). Refere-se à função social das representações (posterior ao processo de objetivação), e permite “compreender a forma como os elementos representados contribuem pra exprimir e constituir as relações sociais”1919 . Cabecinhas R. Representações sociais, relações intergrupais e cognição social. Paidéia. 2004;14:125-37.. Ou seja, a ancoragem permite que o conhecimento se enraíze no social.

Se a objetivação é a construção formal de um conhecimento, a ancoragem é atribuição de sentidos, processo no qual “a hierarquia de valores prevalente na sociedade e em seus diferentes grupos contribui para criar em torno do objeto uma rede de significações na qual ele é inserido e avaliado como fato social”2020 . Alves-Mazzotti AJ. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Rev Múltiplas Leituras. 2008;1:18-43. (p.29).

Ao contemplar a importância da Teoria das Representações nos estudos educacionais, ALVES-MAZZOTTI2020 . Alves-Mazzotti AJ. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Rev Múltiplas Leituras. 2008;1:18-43. afirma que, por estabelecer relações com a linguagem, a ideologia e o imaginário social, e pelo seu papel na orientação de condutas e das práticas sociais, “as representações sociais constituem elementos essenciais à análise dos mecanismos que interferem na eficácia do processo educativo” (p.18).

Segundo ALVES-MAZZOTTI1818 . Alves-Mazzotti AJ. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Em Aberto. 1994;14:60-78. a Teoria das Representações sociais tornou-se relevante para os estudos em educação escolar quando as turmas (“classes”) de alunos passaram a ser vistas como um sistema social interativo, relacionado a um ambiente social mais amplo. Isso porque, prossegue a autora:

a consideração dos grandes sistemas organizados de significações que constituem as representações sociais é útil à compreensão do que se passa em classe durante a interação educativa propriamente dita, tanto do ponto de vista dos objetos do conhecimento a ser ensinado quanto dos mecanismos psicossociais em ação no processo educacional (p.74-5).

Mais ainda, alerta ALVES-MAZZOTTI2020 . Alves-Mazzotti AJ. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Rev Múltiplas Leituras. 2008;1:18-43. cada grupo sociocultural apresenta seu sistema de representações sobre diferentes aspectos da vida. Assim, o conhecimento das representações sociais dos alunos sobre o futebol poderia contribuir para a compreensão dos processos educativos que permeiam a presença dessa modalidade nos espaços-tempos escolares, bem como descentrar os professores das suas próprias representações, chamando atenção para os pontos de vista dos alunos.

Método

Embora também faça uso de dados quantitativos, esta pesquisa caracteriza-se como “qualitativa”. Conforme ALVES-MAZZOTTI2121 . Alves-Mazzotti AJ. O método nas ciências sociais. In: Alves-Mazzotti JA, Gewandsznajder F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2a ed. São Paulo: Pioneira; 1999. p.107-88., a principal característica das pesquisas qualitativas é que seguem a tradição “compreensiva” ou interpretativa, quer dizer, partem do pressuposto de que as pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e valores, e que seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado.

Nesse processo, para WRAGG2222 . Wragg EC. An introduction to classroom observation. 2nd ed. London: Open University Set Book/Routlege; 1999., as pesquisas qualitativas procuram ir além das superfícies dos eventos, buscam determinar significados, muitas vezes ocultos, interpretá-los, explicá-los e analisar o impacto na vida e, no caso da educação, nos ambientes relacionados.

No amplo leque de possibilidades metodológicas das pesquisas qualitativas, buscamos amparo nos princípios da pesquisa de tipo etnográfico, que, segundo ANDRÉ2323 . André MED. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus; 1995., embora não atenda a todas as exigências metodológicas da etnografia clássica, caracteriza-se por um contato direto do pesquisador com a situação pesquisada e o próprio pesquisador é o principal “instrumento” de investigação.

Já a observação participante vincula o pesquisador a uma interação com a situação estudada. Isso caminha junto à vigilância do pesquisador para não impor seus pontos de vista, crenças e preconceitos aos observados. A observação participante e as entrevistas aprofundadas são, assim, os meios mais eficazes para que o pesquisador se aproxime dos sistemas de representação, classificação e organização do universo estudado2424 . André MED. Estudos de caso revelam efeitos socio-pedagógicos de um programa de formação de professores. Rev Lusófana Educ. 2005;6:93-115..

WILKINSON citado por VIANNA2525 . Vianna HM. Pesquisa em educação: a observação. Brasília: Liber Livro; 2007. (Série Pesquisa em Educação, 5) (p.50), apresenta duas vantagens nesse tipo de observação: primeiro, possibilita a entrada em determinados acontecimentos que seriam privativos e aos quais um observador estranho não teria acesso; segundo, permite a observação não apenas de comportamentos, opiniões e sentimentos, além se superar a problemática do efeito do observador.

Desse modo, acreditamos atender ao objetivo central das pesquisas etnográficas, conforme CORSARO2626 . Corsaro W. A entrada no campo, aceitação e natureza da participação, nos estudos etnográficos com as crianças pequenas. Educ Soc. 2005;26:443-64., que é estabelecer o “status” de membro em uma perspectiva ou ponto de vista “de dentro”, o que só é possível realizar após a interação e o conhecimento do cotidiano pesquisado.

Pesquisa de campo

A escola que se constituiu como “locus” da pesquisa foi uma unidade escolar da rede pública, na cidade de Bauru - SP. A partir das informações fornecidas pela escola, escolhemos uma sala 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental, composta por 29 alunos (13 meninos e 16 meninas), com idade entre 10 e 12 anos, cujo programa de Educação Física incluía o futebol de salão como conteúdob b . A Escola e a turma foram escolhidas porque o Plano de Ensino previa o futsal como conteúdo, a Diretora, a Professora de Educação Física e os responsáveis pelos alunos aceitaram participar do estudo; e porque, além disso, foi possível observar, em duas visitas prévias, que o futebol era objeto de comentários entre os alunos, bem como praticado nos intervalos escolares. Considerou-se também que a realização da Copa do Mundo de Futebol, coincidente com parte do período de realização do estudo, estimularia manifestações dos alunos ligadas ao futebol, facilitando a geração de dados. . Nosso contato inicial com a escola também permitiu identificar a prática do futebol no “recreio” e intervalos entre as aulas.

Inicialmente, foi aplicado um questionário contendo sete questões fechadas e uma aberta, com objetivo de identificar gostos, afinidades e práticas de consumo relacionadas ao futebol. A observação participante foi realizada no período de maio a setembro de 2010, totalizando 14 períodos de presença do pesquisador junto à turma, cada um com cerca de três horas. Logo após cada período de observação, fazíamos anotações em um diário de campo. Destacamos que neste período houve a realização da Copa do Mundo de Futebol na Africa do Sul, entre junho e julho de 2010. Na fase final da pesquisa de campo, no mês de outubro, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, registradas em gravador de voz, com uma amostragem intencional de 15 alunos, 12 deles escolhidos segundo critérios de representatividade em termos dos seus respectivos níveis de envolvimento e interesse em relação ao futebol, tais como identificados no processo da observação, e três por sorteio.

Seguindo a descrição supracitada, o presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista - UNESP, campus de Bauru, processo nº 6257/4601/10.

Resultados

Questionários

A TABELA 1 sintetiza, em termos percentuais, os resultados das sete questões que compunham o questionário, comparando meninos e meninas

TABELA 1
Gostos, afinidades e práticas de consumo do escolares, relacionados ao futebol.

Como se vê, o sexo é uma variável importante para determinar o interesse e envolvimento destes escolares com o futebol, marcadamente maiores entre os meninos em quase todos os aspectos que foram objeto das perguntas.

Contudo, destacamos por contraste as questões 5 e 6, que indicaram, por um lado, a participação de 43,8% das meninas na prática do futebol fora da escola, e, por outro, a ausência da prática do futebol nos horários escolares livres entre elas.

Chamamos também atenção para as questões 3 e 7, que envolvem o consumo televisivo relacionado ao futebol, as quais constataram que 58,6% dos alunos (em especial os do sexo masculino) assistem futebol pela TV com certa frequência (“bastante” e “mais ou menos”). Já a assistência televisiva da Copa do Mundo de Futebol, que ocorreu durante a realização desta pesquisa, alcançou todos os alunos, independentemente do sexo, embora cerca de 56% das meninas tenham declarado que assistiram apenas às partidas do Brasil, enquanto 92,3% dos meninos declararam que assistiram também partidas que envolviam outros países, como evidenciam os resultados da questão 7. Dessa forma, reitera-se o raciocínio de Jodelet1616 . Jodelet D. Representações sociais. Petrópolis: Vozes; 2001.-1717 . Jodelet D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: Jodelet D, organizador. As representações sociais. Rio de Janeiro: UERJ; 2001. p.17-40., que considera a comunicação social como condição de possibilidade e de determinação das representações e dos pensamentos sociais.

Quando o futebol adentra às aulas de Educação Física, percebe-se, como apontam os dados da questão 4, que obtém maior adesão entre os meninos: 84,6% declararam gostar bastante da modalidade nas aulas, e nenhum assinalou a alternativa “não gosto”. Já entre as meninas, apenas 12,5% declararam gostar bastante do futebol, e 31,2% afirmaram que não gostam da modalidade nas aulas. A única questão aberta pedia aos alunos que justificassem porque gostam ou não do futebol nas aulas de Educação Física. A resposta mais apresentada pelos meninos foi “porque eu gosto” (n = 9). Quanto às meninas que não gostam do futebol, as justificativas típicas mais frequentes foram:; “Eu acho que futebol é para meninos” (n = 4); “As meninas nunca jogam e os meninos acham que sabem tudo e acabam atrapalhando” (n = 4). Houve, contudo, um número expressivo de meninas (quase 70%) que declararam algum tipo de gosto positivo quanto à presença do futebol nas aulas. Dentre elas, predominaram as justificativas ligadas à motivação intrínseca, tais como: “Apesar de ser menina gosto de me divertir” (n = 4); “O futebol é um esporte bem legal e/ou interessante” (n = 4).

Observação participante

No processo de observação participante o pesquisador, paulatinamente, deslocou-se da função de observador passivo e distante, para uma maior aproximação com os alunos, o que gerou um clima de empatia que facilitou obter aceitação tanto dos alunos como da professora responsável pela turma. Em alguns momentos, por solicitação da professora, o pesquisador participou ativamente, auxiliando nas atividades das aulas, atuando como árbitro de partidas de futebol de salão e como “técnico” no treinamento da equipe que participaria do Campeonato Interclasses da Escola. Tal interação facilitou o diálogo com os alunos, que se tornaram mais receptivos ao pesquisador.

Apresentamos a seguir uma síntese das anotações realizadas nas observações da pesquisa de campo.

Alguns fatos, frequentemente observados, tornaram-se “comuns” nas aulas e cabe destacá-los. A maioria dos alunos (sexo masculino) vestia camisas de clubes de futebol do Brasil e de outros países, ou da seleção brasileira; alguns usavam cortes de cabelo semelhantes aos de jogadores então considerados como “craques”.

Embora o conteúdo programado para o 2º bimestre letivo fosse o voleibol, muitos alunos, utilizavam os pés como recurso, ou mesmo chutavam a bola durante o jogo. Alguns alunos ora ou outra, entre os intervalos das atividades, organizavam-se em “rodas” para jogar voleibol, e novamente observou-se que os meninos utilizavam muitas vezes os pés, fato que era apreciado por algumas meninas, que se empolgavam ao ver lances bonitos. Em outro grupo, dois meninos que faziam o mesmo, foram surpreendidos por uma menina, que em tom de brincadeira disse “... isso não é futebol, vocês não entendem? É para se jogar com as mãos... esses meninos, tudo querem futebol!”. Tais comportamentos dos meninos só cessavam ao comando da professora.

No 3º bimestre letivo a modalidade desenvolvida foi o basquetebol, e notou-se o mesmo comportamento no decorrer das aulas. Mesmo com a bola de diferentes proporção e peso, e sabendo que não tinham autorização da professora, quando fugiam aos seus olhos, os meninos faziam “embaixadinhas” e “firulas” com a bola de basquete. Em certo momento, após um arremesso, um menino saltou em direção a bola, e a segurou gritando “Goleiro!”.

Em vários momentos foi percebida a influência de agentes midiáticos sobre os alunos da 5ª série A. Certo aluno comentou sobre um jogo pela internet que um canal de televisão promove aos telespectadores, no qual podem ser treinadores de um time de futebol, escalando jogadores, baseando-se no desempenho real dos jogadores da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Ao ouvir a conversa outros alunos perguntaram sobre o que se tratava, dizendo que queriam participar. Na semana seguinte, outros quatro alunos haviam se cadastrado e outros manifestaram interesse em participar. Discutiam quais jogadores seriam destaques, compreendiam as performances dos jogadores, a lógica de quem ganharia as partidas, contando com os fatores: melhores colocados no campeonato, jogos dentro e fora de “casa”, bons jogadores mesmo não sendo famosos.

Em todo o processo de observação ficou claro a ação da televisão, internet e outros meios de comunicação, que viabilizam a essas crianças acesso às informações relacionadas ao futebol, as quais condicionam a formação de suas opiniões.

Já o suporte familiar no processo de construção das representações sociais, ficou diluído nos comportamentos dos alunos, e não conseguimos identificar precisamente sua influência, só manifestada por eles quando questionados, por ocasião das entrevistas.

As meninas raramente se manifestaram em termos de gestos relacionados à prática do futebol, mas aparentavam familiaridade com a modalidade em diversos momentos: apreciavam lances bonitos realizados pelos meninos, envolviam-se nas competições e aceitavam a presença do futebol no cotidiano escolar. Em uma das aulas de Basquete, uma menina assim se manifestou ao errar a cesta em um arremesso : “Eu gosto de futebol!”.

Em determinado momento, ao serem indagados pela professora se gostavam de futebol, todos os meninos responderam afirmativamente, o que só ocorreu com duas meninas, as quais, contudo, demonstraram estar cientes sobre a realização da Copa do Mundo de Futebol, que se iniciaria em menos de um mês.

Como dito, o período de pesquisa de campo coincidiu com a realização da Copa do Mundo de Futebol na África do Sul. No primeiro jogo do Brasil na Copa, a influência do evento entre os alunos ficou evidente, pois estes adentraram à escola portando “vuvuzelas”, chapéus e óculos exóticos.

Nesse dia, o que mais chamou atenção foi a inquietação dos alunos na aula: todos os meninos queriam jogar futebol, nenhum queria ser excluído. Durante o jogo, pareciam se dedicar mais, e houve até reclamações da marcação “forte” dos colegas e da arbitragem, o que não era frequente em outras situações. A cada gol os alunos faziam coreografias, repetindo as mesmas comemorações dos ídolos do futebol, independente dos times em que estes atuam.

Iniciaram-se na mesma aula os ensaios para a coreografia que a classe apresentaria no Campeonato Interclasses, que ocorreria em breve. Foi sugerido pela professora que todos participassem, mas logo as meninas tomaram a frente, desde a escolha da música até os movimentos da coreografia. Escolheram a música que foi tema da Copa do Mundo, e logo todos os movimentos coreografados relacionavam-se ao futebol. Com o avançar dos ensaios, as meninas solicitaram que em parte da coreografia os meninos fizessem lances bonitos com a bola.

Também pudemos observar os alunos intensamente envolvidos com o álbum de figurinhas da Copa do Mundo e, nos períodos livres, alunos (meninos e meninas) se ocupavam trocando figurinhas, buscando completar o álbum.

O Campeonato Interclasses incluiu as modalidades futebol de salão (para meninos), voleibol (para meninas), câmbio (equipes mistas) e, para os que não jogaram as modalidades anteriores, xadrez, damas e dança. Contudo, ao serem avisados dessa programação, uma menina perguntou à professora: “E as meninas, não jogam futebol?”, demonstrando apreço pela modalidade.

À medida que se aproximava o início do campeonato, mais repercutiam entre os alunos manifestações referentes às modalidades de que participariam, quem seriam os jogadores titulares das equipes, e como seria a preparação, pois tudo seria de responsabilidade dos alunos. Na preparação para os Jogos a turma foi separada por sexo, pois as meninas precisam de uma maior intervenção da professora para a organização da equipe de voleibol, enquanto os times dos meninos, entre titulares e reservas, já haviam estruturados por eles próprios, de uma maneira rápida e autônoma, o que denotou grande inserção no contexto do futebol, inclusive com grande compreensão das regras e lógica da modalidade.

No campeonato o clima sempre foi muito agradável, arquibancada cheia, os times organizados e contando com “comissão técnica” (formada por alunos). Antes das partidas de voleibol os meninos da 5ª A, desceram da arquibancada para ajudar as meninas da sua turma a fazer o aquecimento, porém em questão de segundos estavam tocando com os pés, fazendo “embaixadinhas” para passar a bola. As meninas pareceram não se importar com a cena com normalidade, e prosseguiram o aquecimento.

Na primeira partida de futebol os meninos compareceram uniformizados, material cedido pelo pai de um deles. Demonstraram muita ansiedade, todos muito tensos e especulando quem jogaria no outro time, quais seriam as dificuldades e o que fariam para vencer. Um aluno, mais confiante, disse ao pesquisador “vou fazer um gol de letra e comemorar para você!”. Logo em seguida combinaram uma coreografia para a comemoração.

Durante as partidas, o goleiro e os jogadores reservas orientavam os companheiros quanto à marcação e posicionamento; o treinador, quando um jogador era substituído, preocupava-se “descansa, bebe água, arruma o cadarço...”, Nos momentos de gol todos corriam e se abraçavam com grande alegria. Quanto às condutas em jogo, não poupavam “carrinhos”, e até mesmo certas malícias, como colocar a mão na bola para ludibriar a marcação do juiz, simular “cavar” pênaltis e fazer faltas mais “duras”. Reclamavam muito com a arbitragem e pediam a maracação de faltas supostamente cometidas pelos adversários.

A equipe da 5ª série A acabou sendo eliminada na semifinal, partida em que, em uma situação inusitada, certo aluno recusou-se a ser substituído, e foi preciso haver intervenção da professora. Embora derrotados, os meninos demonstraram estar satisfeitos com a participação no Interclasses.

Propositalmente, a disputa de 3º e 4º lugares, na qual a 5a série A estava envolvida, não foi observada pelo pesquisador. Ao nos encontrarmos na manhã seguinte, logo os alunos comentaram: “nós ganhamos ontem, por que você não veio?”; “jogamos bem ontem, você perdeu nosso jogo”. Também as meninas procuraram o pesquisador para dizer que “o jogo dos meninos ontem foi muito legal, jogaram muito bem”, embora estivessem mais preocupadas com a apresentação de dança que fariam no dia seguinte, no encerramento do Campeonato Interclasses. Elas conquistaram a 6a colocação, os entristeceu muito. No entanto, logo após veio a boa notícia, pois foram os primeiros colocados na classificação geral do Campeonato Interclasses”. Pudemos presenciar momentos de muita felicidade, choravam de alegria e gritavam “É campeão!”, fato que repercutiu nas aulas seguintes.

Entrevistas

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas no mês de outubro, após o término do Campeonato Interclasses, e buscaram esclarecer junto aos alunos questões que nos colocamos durante as observações, bem como aprofundar os resultados obtidos nos questionários. Foram realizadas com seis meninos que participaram do Campeonato, duas meninas que avaliamos, por meio da observação participante, gostar de futebol e, da mesma forma, foram escolhidas duas que não gostavam de futebol, dois meninos que não participaram do Interclasses e, por fim, mais três alunos, independente do sexo, foram escolhidos por sorteio.

Para a realização das entrevistas utilizamos a sala da diretora, a qual proporcionou um local reservado e tranquilo. O clima de empatia que foi construído ao longo do trabalho de campo entre pesquisador e alunos facilitou a sua realização, pois os alunos estavam motivados para concedê-las. As entrevistas foram registradas em gravador de voz e, em termos gerais, versaram sobre a relação com o esporte, desde a preferência na modalidade e os motivos dessa escolha. Sobre a percepção global acerca do futebol e as relações que são estabelecidas através da prática, incluindo o gosto ou não e os motivos perante o posicionamento, a importância em suas vidas, as emoções vividas nos jogos, o gênero, a ligação com a família, as relações sociais, a caracterização nas aulas de Educação Física e outros tempos livres, a figura do ídolo desportivo, o consumo midiático, a disciplina, os conhecimentos sobre a modalidade e o universo que a envolve.

Uma primeira constatação, óbvia, mas às vezes esquecida, é o fato de que todos os alunos entrevistados (meninos e meninas) torcem por algum clube de futebol (“de campo”), e evidenciam sua paixão por eles. Alguns sabem a escalação completa do seu time, outros a sabem em parte e, de fato, todos conhecem ao menos um jogador profissional.

A forte presença da família no processo de construção das representações sociais está evidenciada nos exemplos a seguir:

Pesquisador: Você é santista... por quê?

Aluno 9: Por causa que... é meu pai... ele ficava falando assim, quando tinha jogo do Santos ele falava: “Pelé, Pelé, Pelé...”

Pesquisador: E por que você torce para o Corinthians?

Aluna 5: Porque a família inteira da minha mãe é Corinthiana!

Além da confirmar o interesse pela Copa do Mundo, as entrevistas também permitiram constatar que os alunos conhecem os campeonatos brasileiros e alguns até emitem opiniões acerca dos motivos de o futebol ser capaz de atrair multidões:

Pesquisador: Por que vai toda aquela gente vai assistir futebol e, por exemplo, um outro esporte ninguém vai? Você imagina, mais ou menos?

Aluna 2: Ah, porque é emocionante, sei lá... ver o nosso time jogar.

A “rivalidade” no ambiente familiar, que envolve a torcida por diferentes tiems de futebol , foi outro aspecto destacado nas falas dos alunos:

Pesquisador: E como que é em dia de jogo?

Aluna 3: Ah, tipo... é uma rivalidade, todo mundo brigando com todo mundo, discutindo para ver que vai ganhar...

Pesquisador: Você torce para o Corinthians, ou só gosta?

Aluna 3: Não... eu torço mesmo!!!

Pesquisador: Então você é corinthiana. Você tem camiseta do Corinthians?

Aluna 5: Não. Meu pai não quer me dar porque ele é Palmeirense.

Pesquisador: E quando tem Palmeiras e Corinthians?

Aluna 5: Aí eu nem assisto para não dar briga!

Pesquisador: Se você comemora um gol do Corinthians...

Aluna 5: Vixi.... meu pai fica doido!

Pesquisador: Tem alguém na sua família que joga futebol também?

Aluno 5: Tem meu pai, que era... quando era criança ele jogava futebol. Ele jogava no gol que nem eu.

Quando questionados sobre o que é futebol, por que gostam da modalidade e qual a importância em suas vidas, os alunos apresentaram motivos específicos e pessoais. Algumas respostas remetem à infância, outras a aspectos afetivos, mas a maior parte dos alunos fez associações ao contexto social e às relações interpessoais, em especial entre os pares:

Pesquisador: Então você gosta de futebol?

Aluno 3: Gosto, é legal. Na chácara da minha igreja, o pessoal joga futebol e eu jogo com eles.

Pesquisador: Por que mais o futebol que outras modalidades?

Aluno 3: Ah, num sei... porque os meninos da minha classe jogam e eu jogo na chácara da minha igreja. Fica todo mundo junto.

Pesquisador: O que é futebol para você?

Aluno 7: Uma alegria, uma diversão, principalmente quando você joga entre amigos, assim... você se diverte muito. Você comemora o gol, você faz muitas coisas interessantes no futebol.

Pesquisador: Qual a importância do futebol na sua vida?

Aluna 3: Ah, o incentivo que a gente dá para o meu irmão... pros meus primos...

Pesquisador: Seu irmão quer ser jogador de futebol?

Aluna 3: Sim.

Como o irmão da Aluna 3, muitos meninos desejam futuramente ser jogadores de futebol. É o que se evidencia nas respostas a seguir:

Pesquisador: Você gostaria de ser jogador de futebol?

Aluno 3: Um dia sim, talvez um dia. Eu vou formar um time com a classe, um dia talvez.

Pesquisador: Você tinha me dito que você tem sonho de ser jogador de futebol...?

Aluno 5: Sim... campo.

Pesquisador: Por que o campo e não o salão?

Aluno 5: Ah, porque o campo tem mais lugares abertos, tem mais pessoas para olhar, e dá mais motivação para jogar.

Pesquisador: O que mais será que tem diferente? Você acha que os jogadores ganham mais ou menos? Isso faz diferença?

Aluno 5: Acho que não faz não, assim... por exemplo, se quisesse fazer uma Copa também.

Pesquisador: Quem você acha que ganha mais, jogador de campo ou de futsal?

Aluno 6: De campo.

Pesquisador: Você pensa no caso em ser jogador de futebol por quê?

Aluno 6: Porque eu gosto de futebol!

Pesquisador: Só por isso?

Aluno 6: É.

Assim, percebe-se que há vários motivos alegados pelos meninos para seus desejos de se tornaram jogadores de futebol: integração social, maior contato com os amigos, e ganhar a vida fazendo algo de que gostam muito, que lhes dá prazer. Tal resultado contrariou nossas expectativas iniciais, de que a possibilidade de ganhar dinheiro e obter fama seriam os motivos primários, conforme se vê em BETTI2727 . Betti M. Violência em campo: dinheiro, mídia e transgressão às regras no futebol espetáculo. Ijuí: Unijuí; 1997.. Mas tais motivos apareceram apenas quando foram induzidos pelas perguntas do pesquisador.

As respostas apresentadas a seguir reforçam a presença da experiência de prazer, diversão, liberdade e emoção (excitação) que o futebol proporciona a esses alunos.

Pesquisador: Por que você gosta de futebol?

Aluno 1: Ah, ver os jogadores... é um prazer também. Eu gosto de jogar, futebol é um prazer para mim.

Pesquisador: O que você mais gosta do interclasses? Quando você chega lá...

Aluno 5: Ah... eu chego lá a barriga começa a esfriar, você pensa que vai morrer de tanta de alegria.

Pesquisador: O que você sente quando joga futebol?

Aluna 4: Ah... eu sinto liberdade.

Contudo, um dos alunos entrevistados possuía um histórico de treinamento (participa de uma “escolinha” de futebol) e grande expectativa em tornar-se jogador de futebol profissional, o que faz contrastar suas respostas com as anteriores:

Pesquisador: Fora da escola você joga em algum lugar?

Aluno 2: Jogo.

Pesquisador: Onde?

Aluno 2: No Foguinho. Jovens talentos. No Triagem.

Pesquisador: Tem muita gente boa de bola?

Aluno 2: Tem. A maioria das pessoas que joga bem vai pra time já. Meu amigo tá na Alemanha jogando.

Pesquisador: Que idade que ele tem?

Aluno 2: 17. Tem um que joga com o time profissional do São Paulo, já. Tá começando a jogar. Tem outro que apareceu até no jornal. O Wagner Ribeiro “pegou ele”, virou empresário de agora. Ganhou patrocínio da Nike e agora tá jogando num time aí.

Pesquisador: Mas você escolheu ir lá por causa disso?

Aluno 2: É. Mas meu pai também conhecia já um pouco.

Há entre os alunos, sem dúvida, a valorização do “ídolo”, do “craque”, conforme constatamos amplamente na observação das aulas, quando suas condutas e verbalizações frequentemente faziam referência aos “craques” do momento. Nas entrevistas, as referências a determinado jogador de um clube paulista foram também muito frequentes, vários alunos afirmaram que gostam dele, apreciam seus dribles, suas jogadas e querem ser como ele, um atacante que se caracteriza pelos dribles, sua velocidade e gols assinalados.

Quando indagado sobre o “drible”, um dos alunos que participou do Campeonato Interclasses respondeu:

Pesquisador: Você gosta de driblar? O que você sente?

Aluno 2: Nada, eu driblo para fazer graça.

Ao serem questionados sobre a necessidade de haver “disciplina” na prática do futebol, a maioria dos alunos respondeu positivamente:

Pesquisador: Você acha que dentro do futebol tem que ter disciplina?

Aluno 3: Isso. Muita disciplina. Para você poder jogar, não ser injusto, tem que ter muita disciplina mesmo.

Pesquisador: Você faria uma falta dura para ganhar um lance, para evitar o gol?

Aluno 6: Ah... na bola, né? Não nele.

Todavia, quando indagados se “cavariam” um pênalti para ganhar um jogo, alguns alunos admitiram esta possibilidade, como nos exemplos que se seguem:

Pesquisador: Você faria uma falta dura, para evitar um gol?

Aluno 4: Não, acho que não é justo.

Pesquisador: Mas você cavaria um pênalti, por exemplo?

Aluno 4: Também, né.

Pesquisador: Cavaria?

Aluno 4: Sim.

Pesquisador: Você cavaria um pênalti para seu time ganhar o jogo?

Aluno 7: Eu cavaria.

Também certa contradição apareceu entre o discurso das entrevistas e prática do futebol que observamos nas aulas, na quais muitas vezes os alunos cometeram faltas e se envolveram em discussões, em função do ambiente e das situações específicas dos jogos, como evidencia o depoimento a seguir:

Pesquisador: Para concluir, o que é futebol para você?

Aluna 6: Quando eu era menor eu não ligava. Eu falava: que graça que tem correr atrás da bola... agora eu acho que é mais,... eu não vou saber explicar. É mais para se divertir, só que a gente perde a cabeça no jogo, não só quem tá jogando como quem está assistindo, aí eu prefiro jogar sem ninguém vendo, sabe? Sem valer nada.

Contradição evidente entre as falas dos meninos e a prática do futebol nas aulas apareceu com relação ao tema do gênero. A maioria dos alunos (inclusive os meninos) afirma que todos podem jogar, independentemente do sexo. Todavia, na prática do futebol, como pudemos observar, os meninos se impõem não dão oportunidades às meninas, não lhes passam a bola, reclamam delas etc. Os depoimentos a seguir exemplificam essa situação:

Pesquisador: Você acha que futebol é esporte de menino, ou menina pode jogar?

Aluno 7: Tanto faz. Porque você viu, né? A Marta joga muito bem, é... tipo. Então não tem essa de esporte de garoto ou de garota.

Pesquisador: O que você acha, por exemplo, de ser considerado um esporte para meninos e não para meninas. Por que isso?

Aluna 2: Acho que não é só de menino. Acho que qualquer um pode jogar.

Pesquisador: Os meninos ajudam ou te atrapalham quando você joga futebol?

Aluna 1: Não é que eles atrapalham, é que eles querem tudo a bola para eles. Aí quando é, tipo assim, que é menino, aí eles pensam, tipo assim, que é menina e que não sabe jogar. Entendeu? Aí eles não passam a bola, eles só passam para menino. Ou eles passam e ficam gritando. Aí quando faz gol, eles começam a reclamar.

Pesquisador: Você acha que futebol é esporte de homem?

Aluno 9: Não.

Pesquisador: Por quê?

Aluno 9: Tem muitas mulheres que têm... é... como fala? Habilidade para jogar e não podem jogar. Que nem a Marta, a Cristiane... se não tivesse o futebol feminino elas não iam jogar.

Questionamos especificamente aqueles alunos que não afirmaram incisivamente que gostavam do futebol, e que demonstraram alguma dúvida ao responder a esta pergunta. A seguir, apresentamos algumas respostas desses casos:

Pesquisador: Porque antes te “enchiam o saco”?

Aluno 3: É, porque uma vez eu fiz gol contra, aí eles me enchiam o saco.

Pesquisador: E por que você não gosta de jogar futebol?

Aluna 6: Ah... eu não consigo ficar com a bola. Todo mundo pega.

Pesquisador: Mas você acha legal jogar futebol ou você não gosta porque você não sabe?

Aluna 6: Eu não gosto porque eu não sei.

O baixo nível relativo de habilidade (conforme avaliado pelos próprios alunos), e a discriminação das meninas por parte dos meninos são os motivos mais importantes para que alguns não gostem de jogar futebol.

A seguir citamos trechos de entrevistas em que meninas aprofundam os motivos pelos quais não gostam do futebol nas aulas de Educação Física:

Pesquisador: Você gosta mais de futebol? Você joga na escola?

Aluna 4: Não, porque eu tenho vergonha.

Pesquisador: Vergonha? Você joga em algum outro lugar?

Aluna 4: Na minha casa e em um campinho que tem perto de casa com minhas colegas.

Pesquisador: Legal. O que você acha do futebol nas aulas de Educação Física?

Aluna 5: Nossa, eu odeio!

Pesquisador: Os meninos atrapalham ou ajudam vocês?

Aluna 5: Nossa, eles só ficam zoando a gente. Eles não ajudam, não ensinam. Eles só zoam.

Pesquisador: Você joga futebol em algum lugar fora daqui?

Aluna 6: Eu jogava na rua, mas agora eu não jogo mais.

Pesquisador: Por quê?

Aluna 6: Ah... o pessoal lá, não joga mais, aí não tem como, mas se fosse para mim... e que eles num contam pontos, essas coisas... é só por diversão, então fica mais fácil para a gente jogar, né? Aqui na escola eles criticam se você fizer algum coisa errada, lá não, porque lá é mais meninas, então fica mais fácil de jogar.

Assim, identificamos que muitas meninas se divertem jogando futebol fora da escola, em grupos nos quais há muita presença feminina. No entanto, nas aulas de Educação Física as meninas não gostam de jogar, pois sentem-se constrangidas com as críticas dos meninos.

Tendo como foco o Campeonato Interclasses, que também pudemos observar durante nosso trabalho de campo, questionamos os alunos quanto aos critérios utilizados para a formação do time da sala, já que eles tiveram autonomia para esta definição, conforme orientação da professora.

Pesquisador: Por que você não jogou no interclasses? Você achou justo?

Aluno 3: Eu achei justo porque eu não sabia jogar ainda.

Pesquisador: E o que você achou do interclasses? Vocês definiram o time nas aulas de Educação Física. Como vocês definiram o time?

Aluno 7: Definimos, tipo assim... primeiro a gente fez um treino, a gente treinava no [nome de outra escola]. Aí, a partir dos treinos, a gente foi vendo quem melhor de adaptava a zagueiro, é... fixo, ala, pivô, goleiro.

Desse modo, os alunos considerados melhores jogadores foram selecionados, com aceitação de toda a classe.

Discussão

Nem sempre faremos afirmações incisivas, e algumas vezes apresentaremos problematizações, já que constatações apresentadas como evidentes na literatura especializada não nos pareceram tão óbvias na interpretação dos nossos dados.

A primeira problematização diz respeito ao papel das mídias (em especial a televisão) na construção do objeto “futebol” para os meninos e meninos com quem interagimos nesta pesquisa. As mídias, ao mesmo tempo, fornecem os elementos para o processo de objetivação do futebol, e participam do processo de ancoragem, ao contribuir para a criação de uma rede de significações que se enraíza socialmente em torno do objeto. Ou seja, longe de constituir passos estanques e definitivos, as mídias permanentemente configuram as representações sociais sobre o futebol, alimentando simultaneamente os processos de objetivação e ancoragem.

Se a televisão, dado sua presença maciça do esporte espetáculo no cotidiano, participa de modo importante na constituição das representações sociais dos alunos sobre o futebol, mas não tem exclusividade nesse processo. Ao mesmo tempo em que os discursos e comportamentos provenientes das mídias se apresentaram de modo evidente nas condutas e verbalizações dos alunos durante as práticas do futebol nas aulas, os dados das entrevistas demonstraram que há outro elemento importante na constituição das representações dos alunos. Tal elemento é a família, o fato de haver a vinculação de pais, irmãos etc., a algum clube de futebol, na condição de torcedores, o que confirma as evidências apresentadas por GASTALDO1313 . Gastaldo E. Futebol e sociabilidade: apontamentos sobre as relações jocosas futebolísticas. Esporte Soc. 2006; 3:1-16. Disponível em: http://www.uff.br/esportesociedade/pdf/es304.pdf.
http://www.uff.br/esportesociedade/pdf/e...
. Essa condição, que desencadeia uma rivalidade amigável entre os membros da família na torcida pelos seus times, parece ser a origem do fato de todos os alunos, inclusive as meninas, terem declarado torcerem por algum clube, demonstrarem afinidade e paixão pelos seus times. As relações familiares potencializadas pelo consumo do futebol espetáculo favorecem a produção de emoções, um sentimento de excitação e prazer.

Possivelmente, tal condição tem o efeito de incentivar o gosto pelo futebol e a busca pela sua prática. Por isso, ao analisar o futebol como fenômeno social e como formação ideológica e cultural de certo grupo sociocultural, é possível visualizar sua ligação ao processo de formação do indivíduo.

A partir de conclusões presentes na literatura especializada, esperávamos encontrar entre os alunos o desejo de ser tornarem jogadores de futebol (profissionais) por causa do dinheiro e da fama, conforme representado insistentemente nas mídias2727 . Betti M. Violência em campo: dinheiro, mídia e transgressão às regras no futebol espetáculo. Ijuí: Unijuí; 1997.. Todavia, o que encontramos a partir das falas dos alunos foi muito mais a admiração pelo “craque”, os jogadores que se destacam pelos dribles e gols consignados. É claro que a construção da idolatria conta com contribuição decisiva das mídias, e com a influência dos pais e amigos, que atribuem valores circunstanciais para os atletas que “jogam bonito”. Tais constatações corroboram HELAL et al.8. Helal R, Soares AJ, Lovisolo H. A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria. Rio de Janeiro: Mauad; 2001., bem como SANTOS e MEDEIROS9. Santos DS, Medeiros AGA. Los medios de comunicación y las representaciones sociales del deporte: los atletas como modelos de comportamiento. Pensar Prát. 2009;12:1-15., que evidenciaram a exaltação, nos discursos midiáticos, da capacidade que têm alguns jogadores e jogadoras de driblar os adversários. Mas o que parece também ser relevante é que o desejo de jogar como os ídolos liga-se intrinsecamente ao prazer que a experiência de jogar futebol proporciona, da qual também toma parte as relações de amizade - jogar com os amigos, compartilhar com eles a diversão que o futebol proporciona é algo valorizado pela maioria dos alunos do sexo masculino, e também presente, embora de modo minoritário, entre as meninas.

Então, parece-nos que a valorização das recompensas extrínsecas das quais se beneficiam os jogadores de futebol bem-sucedidos em suas carreiras profissionais é uma representação dos pesquisadores sobre as representações sociais, quer dizer, não podem ser generalizadas para todos os grupos sociais. Ou, pelo menos, não se aplica ao grupo de escolares aqui em foco.

Mas é preciso atentar para as ambiguidades presentes nas representações dos alunos: o prazer e a diversão acompanham-se da tensão gerada pela competição, o reconhecimento da disciplina necessária para a prática do futebol é desestabilizada pela admissão da violência na busca da vitória. Por fim, problematizamos o tema do gênero no futebol. Também esperávamos encontrar a representação de que “futebol é coisa de homem”, conforme evidências apresentadas por GOELLNER1111 . Goellner SV. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Rev Bras Educ Fís Esporte. 2005;19:143-51. e KNIJNIK1212 . Knijnik JD. Femininos e masculinos no futebol brasileiro [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia; 2006.. Mas quase todos os alunos que se referiram ao tema afirmaram que as meninas também podem jogar futebol. Muitas meninas demonstraram interesse no futebol, tanto na assistência televisiva (embora em menor magnitude que os meninos) como na sua prática. Quando as meninas declararam não gostar de futebol na maior parte das vezes referiam-se ao fato de que quando jogam são menosprezadas e desvalorizadas pelos meninos, que em geral possuem mais habilidades e, portanto, melhor desempenho no jogo. Por isso, para algumas meninas, é preferível o jogo que “não vale nada”, pois são menos pressionadas. Com isso, cria-se um círculo vicioso: por falta de motivação ou oportunidade, as meninas jogam menos, e assim não elevam seus níveis de habilidade e desempenho. Confirma-se assim, ao menos em parte, as conclusões de BUSSO e DAOLIO1010 . Busso GL, Daolio J. O jogo de futebol no contexto escolar e extraescolar: encontro, confronto e atualização. Rev Bras Ciênc Esporte. 2011;33:69-86. sobre as tensões que a prática do futebol na escola cria entre meninos e meninos.

A realização da Copa do Mundo, coincidente com a parte do tempo da nossa pesquisa de campo, permitiu evidenciar como as meninas são igualmente envolvidas pela cultura futebolística brasileira. Entusiasmaram-se também com o Campeonato Interclasses, embora não participando como jogadoras organizaram-se na torcida a favor dos meninos em dia de jogo.

Com relação ao Campeonato Interclasses, não poderíamos deixar de destacar que houve consenso na turma de que os alunos com melhores habilidades e desempenho no futebol que deveriam representar a classe. Novamente, a figura do “craque” parece povoar as representações sociais.

As condutas e avaliação dos alunos com respeito ao Campeonato Interclasses evidenciaram um sistema de significações sobre o esporte ancorado e objetivado nas práticas escolares da Educação Física, compartilhado por professores e alunos, ou, em outras palavras, o modo como a prática do futebol é desenvolvida na escola em questão ao mesmo tempo constrói e realimenta as representações sociais dos alunos.

Tal processo está relacionado ao fato de que os sistemas de representações que os alunos construíram resultam de interações com o ambiente, através de interações com as pessoas de seu entorno e com diversos outras fontes, com destaque para o fato de receberem uma massa considerável de informações e imagens por intermédio das mídias.

Concluímos, então, que nas representações dos alunos sobre o futebol participam os elementos do meio social em que vivem cotidianamente. Imagens e falas midiáticas (supostos reflexos do real), cenas familiares, emoções vividas nos jogos, relações de amizade... Tudo isso toma parte na constituição das representações sociais dos alunos.

Pudemos constatar que de fato as representações sociais são um saber prático que orienta as relações dos alunos com o futebol, na medida em que orientam e organizam as condutas. Todavia, isto não torna homogêneas as condutas e valores. Partindo do prazer e do gosto em praticar futebol, o que nele buscam, os alunos possuem algo de pessoal: alguns buscam diversão e distração; outros, aproximação com os amigos, enfim, o que lhes traz satisfação.

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    . A Escola e a turma foram escolhidas porque o Plano de Ensino previa o futsal como conteúdo, a Diretora, a Professora de Educação Física e os responsáveis pelos alunos aceitaram participar do estudo; e porque, além disso, foi possível observar, em duas visitas prévias, que o futebol era objeto de comentários entre os alunos, bem como praticado nos intervalos escolares. Considerou-se também que a realização da Copa do Mundo de Futebol, coincidente com parte do período de realização do estudo, estimularia manifestações dos alunos ligadas ao futebol, facilitando a geração de dados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    10 Fev 2013
  • Revisado
    12 Set 2013
  • Aceito
    13 Maio 2014
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