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O pensamento e a obra de Lourenço Filho acerca da literatura infantil e juvenil

The thought and work of Lourenço Filho about children's and youth literature

BERTOLETTI. Estela Natalina Mantovani. . Lourenço Filho e literatura infantil e juvenil. São Paulo: Editora Unesp, 2012. 198

O livro Lourenço Filho e literatura infantil e juvenil, escrito pela professora Estela Bertoletti Natalina Mantovani, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, apresenta o pensamento e a produção escrita do educador Manuel Bergström Lourenço Filho sobre e de literatura infantil e juvenil.

A obra é dividida em seis partes: "Introdução"; "Lourenço Filho e a produção sobre e de literatura infantil e juvenil"; "A produção de Lourenço Filho sobre literatura infantil e juvenil"; "A produção de Lourenço Filho de literatura infantil - a Série Histórias do Tio Damião"; "A produção de Lourenço Filho sobre e de literatura infantil e juvenil: as possíveis relações estabelecidas"; e "Considerações finais".

Na Introdução, a autora coloca que o livro é resultado de sua tese de doutorado e que objetiva "contribuir para a produção de uma história, teoria e crítica específicas da literatura infantil e juvenil, a partir da compreensão da produção de Manuel Bergström Lourenço Filho (1897-1970)" (p. 10), que é vasta e variada e influenciou escritores de sua época.

No intuito de situar o leitor no campo da análise do gênero da literatura infantil e juvenil, a autora explica que tal produção literária e os termos infantil e juvenil devem ser tratados à luz de cada momento histórico-social. Ela esclarece que a literatura infantil e juvenil, no Brasil, teve início entre o final do século 19 e o começo do século 20, "em estreita relação com a escola" (p. 9), por ser lá produzida e criticada ou por razões didáticas e metodológicas.

No primeiro capítulo, a autora traz a história da formação literária de Lourenço Filho. Essa formação teve início com a contação de histórias por seu avô, passou pelas aulas particulares a ele ministradas em casa, depois se deu nas escolas municipal e estadual em que estudou ao longo de sua formação como normalista, no exercício de sua profissão docente no primário e nas escolas normais em que trabalhou, no exercício de cargos públicos que ocupou, na Revista de Educação que fundou, nas consultorias que fez, na luta por uma educação nova, no exercício da presidência da Comissão Nacional de Literatura Infantil e nas revistas e nos jornais em que escreveu sobre questões sociais, pedagógicas e literárias, demonstrando sua preocupação com a leitura, principalmente nas escolas.

Ao longo de sua trajetória estudantil e profissional, Lourenço Filho não só expressou seu pensamento sobre literatura, mas produziu também textos literários para os públicos infantil, juvenil e adulto, alguns deles premiados.

Destaca-se neste capítulo que as ideias de Lourenço Filho, impressas no Manifesto de 1932 junto aos outros 25 signatários do documento, e seus escritos sobre literatura influenciaram os planos de reorganização da educação do governo Getulista. Conforme a autora, o intelectual entendia que "era preciso educar o povo para o progresso social e que o ensino da leitura era um dos elementos da educação popular" (p. 29).

O segundo capítulo versa sobre três artigos, um apêndice de livro, uma entrevista, um discurso e um prefácio de livro, textos escritos por Lourenço Filho sobre a literatura infantil e juvenil. São eles: "Como aperfeiçoar a literatura infantil", de 1943, e sua reelaboração reduzida e publicada sob o título "La literatura en el Brasil", de 1959; "O valor das bibliotecas infantis", de 1948, que trata da história da literatura infantil e deste gênero literário que tem como principal característica "sugerir o belo, entretendo e formando a criança" (p. 88); "Literatura infantil e juvenil", de 1957, faz parte do apêndice da obra História da literatura, de José Marques da Cruz, versão do primeiro artigo anteriormente citado; "Inquéritos sobre livros para crianças", também de 1959, são as respostas de Lourenço Filho a dez perguntas feitas pela revista Leitores e Livros, em 1958, sobre o autor e seu pensamento acerca dos livros e da literatura infantil; "Oração do acadêmico Lourenço Filho", de 1966 - discurso do autor para recepcionar Francisco Marins na Academia Paulista de Letras; "Um livro básico sobre literatura infantil", de 1968, é o título do prefácio feito para o livro Literatura Infantil Brasileira, de Leonardo Arroyo, em que considera a obra como referência na área.

O intuito de Bertoletti ao apresentar estes escritos é o de mostrar como o pensamento de Lourenço Filho sobre a literatura infantil e juvenil, que teve circulação nacional e internacional, é variado, influenciou e influencia o pensamento de estudiosos da área, é inovador por ter apontado a falta de estudos na área em sua época e "o preconceito que se cultivava pela literatura infantil como gênero menor" (p. 95). Também tem o intuito de apresentar a função formadora humanista da literatura infantil; de chamar a atenção para a importância de tal gênero respeitar o desenvolvimento da criança e de ter colaborado para a construção do "estilo de vida" (p. 116) da sociedade industrial da época; de ensinar a escrita deste gênero literário indicando a si mesmo como modelo a ser seguido; de alertar para a função do professor de escolher obras literárias a serem trabalhadas nas escolas, impulsionando o mercado editorial infantil e juvenil a crescer e ser qualificado no País; e evidenciar o papel de vanguarda ocupado por Lourenço Filho na escrita, defesa e divulgação do gênero literatura infantil e juvenil.

O terceiro capítulo trata da série Histórias do Tio Damião, escrita por Lourenço Filho - cujos títulos foram publicados entre 1942 e 1951, sendo reeditados até 1958 (p. 123) -, a fim de: mostrar sua importância na formação de crianças leitoras naquele período, visto a alta tiragem feita pela Editora Melhoramentos; demonstrar sua inovação quanto ao projeto gráfico, que conta com encadernação em brochura e ilustrações coloridas e adequadas ao texto; apresentar os personagens da história e as suas funções educativas e o espaço e tempo em que a história se passa; evidenciar a narrativa e a linguagem utilizadas pelo autor e os núcleos temáticos da série que "podem ser sintetizados em educação e nacionalismo" (p. 151). Para a autora, "a educação, entendida como autocontrole, para civilizar e diferenciar o homem, é valorizada por meio do ensino" (p. 151). O nacionalismo é representado na série pela "exaltação e valorização da natureza, do povo e das regiões brasileiras, para 'abrasileirar' o brasileiro, pois, segundo Lourenço Filho, não se ama aquilo que não se conhece" (p. 152).

Bertoletti ressalta ainda que Lourenço Filho chamou a atenção da sociedade de sua época para a qualidade e o cuidado quanto aos "aspectos gráficos, editoriais e linguísticos" (p. 167) que o gênero literatura infantil e juvenil deveria ter.

No quarto capítulo, a autora reafirma o pioneirismo de Lourenço Filho no tratamento sistematizado da literatura infantil e juvenil, uma vez que ele "esboça uma história, formula uma teoria e expõe princípios para uma crítica específica do gênero" (p. 169). Bertoletti aponta as influências recebidas pelo autor e autodidata Lourenço Filho advindas de autores da literatura nacional, do seu aprendizado estudantil e profissional, do contato que tinha com educadores, estudiosos e intelectuais brasileiros e estrangeiros, de sua visão da relação entre educação e psicologia, da sua militância e crença na Escola Nova como espaço de transformação social.

A autora reforça a importância que Lourenço Filho dava ao papel do educador de moldar a criança por meio de uma educação capaz de respeitar o seu desenvolvimento e de adequá-la à sociedade industrial. A seu ver, no processo educacional, a literatura infantil e juvenil tinha um papel relevante, por isso os educadores deveriam observar a sua qualidade estética, bem como as suas lições morais e mensagens a fim de educar crianças, adolescentes e jovens para a sociedade industrial em que viviam.

Nas considerações finais, Bertoletti coloca que a análise e a compreensão da obra de Lourenço Filho sobre e de literatura infantil e juvenil põe o autor em evidência por "seu pioneirismo, sua influência e sua permanência no tempo" (p. 183), o que aponta para a contribuição do livro aqui resenhado na "produção de uma história, teoria e crítica específicas do gênero no Brasil" (p. 184).

A autora encerra a obra afirmando que espera que novos estudos surjam para que os conhecimentos sobre Lourenço Filho e a literatura infantil e juvenil sejam aprofundados.

O livro Lourenço Filho e literatura infantil e juvenil é, sem dúvida, uma obra relevante por apresentar o pensamento de Lourenço Filho acerca da literatura infantil e juvenil e sua produção nestas áreas, e por provocar a reflexão não apenas em nós educadores, como também em profissionais de diversas áreas, escritores, pais, mães e pessoas interessadas no valor da leitura para a formação ética e humana de crianças, adolescentes e jovens.

No momento histórico em que Lourenço Filho escreveu sobre a literatura infantil e juvenil, ele o fez para ocupar uma lacuna sobre o assunto e para demarcar a importância da literatura na formação cidadã de crianças, adolescentes e jovens de sua época. Porém, hoje a importância de suas reflexões se renova, já que vivemos em um momento em que a tecnologia tem ocupado cada vez mais espaço nas vidas de crianças, adolescentes e jovens, muitas vezes subtraindo-lhes o tempo para a leitura de um livro ou mesmo facilitando os seus acessos a resumos de livros no espaço virtual, o que fragmenta e empobrece a leitura de toda e qualquer obra literária.

Recomenda-se a utilização reflexiva e crítica do livro nos meios acadêmicos, sobretudo nos cursos de graduação em Letras e em Pedagogia por tratar, em linguagem clara e didática, de questões atuais relativas aos benefícios para a aprendizagem, a escrita, o desenvolvimento do senso crítico e da cidadania que a formação do hábito da leitura pode provocar no público infantil e juvenil.

  • BERTOLETTI, Estela Natalina Mantovani. Lourenço Filho e literatura infantil e juvenil. São Paulo: Editora Unesp, 2012. 198 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2015
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