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Manutenção dos padrões alimentares da infância à adolescência

Mantenimiento de los patrones alimenticios de la infancia a la adolescencia

Resumos

OBJETIVO: Revisar a literatura científica sobre a continuidade dos padrões alimentares da infância à adolescência. MÉTODOS: Foram realizadas buscas nas bases de dados MEDLINE/PubMed, Lilacs e SciELO utilizando os seguintes termos: "tracking", "dietary patterns" e "childhood/adolescence" e sinônimos. Foram encontrados 45 resumos e, após aplicação dos critérios de inclusão, 13 artigos foram incluídos. A continuidade do padrão foi avaliada por três principais análises estatísticas: coeficientes de correlação (Pearson ou Spearman), coeficiente kappa e análise de probabilidades. RESULTADOS: A continuidade do padrão alimentar foi de fraca a moderada entre os períodos infância-infância e infância-adolescência. Parece não haver continuidade na adolescência. CONCLUSÕES: Os padrões alimentares da infância podem persistir até a adolescência, embora no transcorrer da adolescência possam ser alterados ou descontinuados.

Criança; Adolescente; Hábitos Alimentares; Preferências Alimentares; Educação Alimentar e Nutricional; Revisão


OBJETIVO: Revisar la literatura científica sobre la continuidad de los patrones alimenticios de la infancia a la adolescencia. MÉTODOS: Se realizaron búsquedas en las bases de datos MEDLINE/PubMed, Lilacs y SciELO utilizando los siguientes términos: "tracking", "dietary patterns" y "childhood/adolescente" y sinónimos. Se encontraron 45 resúmenes y posterior a la aplicación de los criterios de inclusión, 13 artículos fueron adjuntados. La continuidad del patrón fue evaluada por tres principales análisis estadísticos: coeficientes de correlación (Pearson o Spearman), coeficiente kappa y análisis de probabilidades. RESULTADOS: La continuidad del patrón alimenticio fue débil a moderada entre los períodos infancia-infancia e infancia-adolescencia. Parece no haber continuidad en la adolescencia. CONCLUSIONES: Los patrones alimenticios de la infancia pueden persistir hasta la adolescencia, a pesar de no transcurrir de la adolescencia pueden ser alterados o descontinuados.

Niño; Adolescente; Hábitos Alimenticios; Preferencias Alimentarias; Educación Alimentaria y Nutricional; Revisión


OBJECTIVE: To review the scientific literature on the tracking of dietary patterns from childhood to adolescence. METHODS: A search of the MEDLINE/PubMed, Lilacs and SciELO databases was performed, using the following key words: "tracking", "dietary patterns" and "childhood/adolescence" and their respective synonyms. A total of 45 abstracts were found and, after the inclusion criteria were applied, 13 articles were included. The tracking of dietary patterns was assessed by three main statistical analyses: (Pearson or Spearman) correlation coefficients, kappa coefficient and probability analysis. RESULTS: The tracking of dietary patterns ranged from weak to moderate between the childhood-childhood and childhood-adolescence periods. During adolescence, there appears to be no tracking. CONCLUSIONS: Dietary patterns in childhood may continue until adolescence, although such patterns may be changed or discontinued throughout adolescence.

Child; Adolescent; Food Habits; Food Preferences; Food and Nutrition; Education; Review


Manutenção dos padrões alimentares da infância à adolescência

Mantenimiento de los patrones alimenticios de la infancia a la adolescencia

Samanta Winck MadrugaI; Cora Luiza Pavin AraújoI; Andréa Dâmaso BertoldiI; Marilda Borges NeutzlingII

IPrograma de Pós-Graduação em Epidemiologia. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS, Brasil

IIDepartamento de Medicina Social. Faculdade de Medicina. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil

Correspondência | Correspondence Correspondência | Correspondence: Samanta Winck Madruga R. Novo Hamburgo, 1053 Laranjal 96090-470 Pelotas, RS, Brasil E-mail: samantamadruga@gmail.com

RESUMO

OBJETIVO: Revisar a literatura científica sobre a continuidade dos padrões alimentares da infância à adolescência.

MÉTODOS: Foram realizadas buscas nas bases de dados MEDLINE/PubMed, Lilacs e SciELO utilizando os seguintes termos: "tracking", "dietary patterns" e "childhood/adolescence" e sinônimos. Foram encontrados 45 resumos e, após aplicação dos critérios de inclusão, 13 artigos foram incluídos. A continuidade do padrão foi avaliada por três principais análises estatísticas: coeficientes de correlação (Pearson ou Spearman), coeficiente kappa e análise de probabilidades.

RESULTADOS: A continuidade do padrão alimentar foi de fraca a moderada entre os períodos infância-infância e infância-adolescência. Parece não haver continuidade na adolescência.

CONCLUSÕES: Os padrões alimentares da infância podem persistir até a adolescência, embora no transcorrer da adolescência possam ser alterados ou descontinuados.

Descritores: Criança. Adolescente. Hábitos Alimentares. Preferências Alimentares. Educação Alimentar e Nutricional. Revisão.

RESUMEN

OBJETIVO: Revisar la literatura científica sobre la continuidad de los patrones alimenticios de la infancia a la adolescencia.

MÉTODOS: Se realizaron búsquedas en las bases de datos MEDLINE/PubMed, Lilacs y SciELO utilizando los siguientes términos: "tracking", "dietary patterns" y "childhood/adolescente" y sinónimos. Se encontraron 45 resúmenes y posterior a la aplicación de los criterios de inclusión, 13 artículos fueron adjuntados. La continuidad del patrón fue evaluada por tres principales análisis estadísticos: coeficientes de correlación (Pearson o Spearman), coeficiente kappa y análisis de probabilidades.

RESULTADOS: La continuidad del patrón alimenticio fue débil a moderada entre los períodos infancia-infancia e infancia-adolescencia. Parece no haber continuidad en la adolescencia.

CONCLUSIONES: Los patrones alimenticios de la infancia pueden persistir hasta la adolescencia, a pesar de no transcurrir de la adolescencia pueden ser alterados o descontinuados.

Descriptores: Niño. Adolescente. Hábitos Alimenticios. Preferencias Alimentarias. Educación Alimentaria y Nutricional. Revisión.

INTRODUÇÃO

O mundo presencia a transição demográfica, epidemiológica e nutricional.1 As mudanças nos padrões globais de fontes alimentares, formas de processamento e distribuição levam ao predomínio de alimentos e bebidas altamente processados.14 As consequências da mudança na frequência de ingestão e no preparo de alimentos e bebidas são o desequilíbrio geral de consumo energético e o aumento da prevalência de obesidade. Essas mudanças surgiram em países de maior renda e hoje atingem bilhões de indivíduos.14

Doenças cardiovasculares, em sua maioria, associadas ao excesso de peso, estão entre as primeiras causas de morte na população adulta brasileira.23 Cerca de 1/5 dos adolescentes brasileiros têm excesso de peso, segundo a pesquisa de orçamentos familiares de 2008.ª a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro; 2010.

Alimentação adequada e atividade física regular são comprovadamente fatores protetores contra o excesso de peso e doenças crônicas.23 A manutenção de hábitos alimentares saudáveis desde a infância e ao longo da vida é um dos requisitos para uma vida saudável. Estudos mostram baixa continuidade ou tracking de padrões alimentares ao longo da vida. Em epidemiologia, o termo tracking é definido como a estabilidade de uma dada variável ao longo de um período.6,21Tracking dietético representa a manutenção de hábitos alimentares, ingestão de nutrientes ou consumo alimentar ao longo do tempo. A continuidade de tais hábitos pode ser entendida como um comportamento positivo ou negativo, dependendo do hábito alimentar. Estudos identificam variação negativa nos padrões quando há mudança de um padrão alimentar considerado saudável para outro de menor qualidade nutricional.12 Há ampla diversidade de métodos para avaliação de tracking na literatura.4,7,11,13

O percentual de indivíduos que mantêm seu padrão alimentar positivo ou negativo ao longo da infância (zero a nove anos) e adolescência (dez a 19 anos) é variável de acordo com o grupo populacional.

Hábitos alimentares, saudáveis ou não, adquiridos e consolidados na adolescência, possuem forte potencial de perpetuação na vida adulta.9,10 Entretanto, entre a infância e a adolescência, não há posição clara acerca do tracking dos hábitos ou padrões alimentares. Essa avaliação é importante, considerando que, se os padrões alimentares realmente forem estáveis da infância à adolescência, medidas de incentivo ao consumo de uma alimentação saudável deveriam priorizar a infância, desde os primeiros anos de vida, para que hábitos alimentares saudáveis sejam adquiridos e mantidos ao longo do ciclo vital.

O objetivo do presente estudo foi revisar a literatura científica sobre a continuidade ou tracking dos padrões alimentares da infância à adolescência.

MÉTODOS

Revisão da literatura científica com busca nas bases de dados MEDLINE/PubMed, Lilacs e SciELO. Foram também realizadas buscas a partir das referências bibliográficas dos artigos localizados.

Os critérios para a inclusão dos artigos foram: delineamento longitudinal com análise do tracking a partir de dados primários, período de acompanhamento superior a um ano e publicação até julho de 2010. Foram incluídos estudos independentemente da realização de análise ajustada para fatores de confusão.

Os critérios de exclusão foram: indivíduos doentes; avaliações em animais; faixa etária de 20 anos ou mais; avaliação de tendências temporais de consumo alimentar sem análise de continuidade/estabilidade dos padrões alimentares; delineamentos diferentes de coorte observacional; artigos de revisão, teses e dissertações; problemas metodológicos importantes, como número excessivo de perdas/recusas no acompanhamento sem apresentação de sua análise.

A busca foi realizada a partir de uma sintaxe nas palavras do título e resumo (limites de busca): tracking, change, continuing, stability, para encontrar artigos que avaliaram a continuidade, juntamente com o grupo nutrient intake, dietary patterns, dietary intake, diet, a fim de buscar os padrões alimentares; e childhood, infants, adolescence, adolescent, para explicitar a faixa etária. Além das palavras utilizadas nos grupos foram acrescentados outros sinônimos. A sintaxe respondeu à busca por artigos que continham em seu título ou resumo pelo menos uma palavra de cada um dos grupos.

Nas bases de dados Lilacs e SciELO, esses termos foram utilizados sozinhos e de forma combinada, uma vez que não existe a opção de inserir sintaxe.

RESULTADOS

Foram identificados 4.441 títulos. Desses, 4.396 foram excluídos a partir da leitura dos títulos com base nos critérios de inclusão e exclusão. Foram lidos 45 resumos e 15 artigos foram selecionados. Dentre eles, três foram excluídos pelo elevado número de perdas do estudo e pela ausência de análise, e um foi acrescentado a partir das referências bibliográficas por trabalhar com o termo food group intake, totalizando 13 artigos (Figura).


Três principais tipos de análises estatísticas foram identificados na avaliação do tracking: coeficientes de correlação (Pearson ou Spearman), coeficiente de kappa e análise de probabilidades (Tabela 1).

Seis estudos avaliaram o tracking na infância, dos quais cinco realizaram análise de correlação, um, análise de concordância pelo coeficiente de kappa, dois, o teste t pareado e quatro realizaram análises de probabilidade para avaliar a continuidade do padrão alimentar identificado no início do acompanhamento. Um artigo foi citado mais de uma vez devido à realização de mais de um tipo de análise (Tabela 2).

Os cinco artigos que realizaram análise de correlação mostraram-se consistentes e apresentaram coeficientes iguais ou superiores a 0,40, independentemente do padrão alimentar avaliado e do período entre as avaliações.

Um estudo utilizou o coeficiente de kappa e encontrou três padrões alimentares extraídos por análise de componentes principais, chamados de "saudável", "tradicional" e "processado". Utilizou também o teste t pareado para avaliar a diferença entre as médias dos escores dos padrões entre os períodos. Outro estudo utilizou o teste t e encontrou diferenças estatisticamente significativas entre as médias de consumo do ano um ao ano três, exceto para gordura poli-insaturada. Os demais testes foram utilizados para estimar a proporção de crianças que permaneceram nos percentis de consumo nos períodos avaliados.

Os estudos que avaliaram o tracking no período da infância detectaram tracking moderado nessa fase e razoável estabilidade dos hábitos dietéticos nas coortes de crianças. Todos apresentaram coeficientes de correlação indicativos de existência da continuidade dos padrões alimentares e a maioria apresentou percentuais acima de 50% de crianças que permaneceram nos mesmos percentis de consumo em determinado período.

Três estudos avaliaram a continuidade dos padrões alimentares na adolescência e um deles avaliou o tracking a partir de apenas um teste (coeficiente de kappa). Os outros dois estudos utilizaram a análise de correlação e análise de probabilidade e/ou coeficiente de kappa.

Os resultados por correlação mostraram coeficientes entre 0,3 e 0,6 (fraco a moderado) em ambos os estudos que realizaram esse tipo de avaliação (Tabela 3).

Dois estudos avaliaram a continuidade do consumo alimentar utilizando o coeficiente de kappa e um fez também análise de correlação, obtendo resultados semelhantes nas duas avaliações; ambos os testes mostraram tracking fraco. Dentre aqueles que realizaram análises de probabilidades, os resultados do primeiro estudo da Tabela 3 mostrou ausência de tracking, em seis anos de acompanhamento. Entretanto, no estudo de Li & Wang7 cerca de 40% dos adolescentes permaneceram no mesmo quartil de consumo dos nutrientes avaliados.

Quatro estudos avaliaram o tracking entre a infância e adolescência (Tabela 4). Os três estudos que utilizaram o teste de correlação apresentaram resultados semelhantes. Os autores interpretaram os valores dos coeficientes como fracos a moderados (0,18 < r < 0,68) nos distintos períodos de avaliação: três, seis e 15 anos de seguimento.

Os dois estudos que utilizaram o coeficiente de kappa para avaliação da presença de tracking do consumo de nutrientes encontraram coeficientes condizentes com tracking fraco (k < 0,38).

DISCUSSÃO

Os resultados apontam para a presença de tracking fraco a moderado nos três períodos. Entretanto, tais resultados provêm de diferentes abordagens estatísticas.

Em relação às análises estatísticas utilizadas para a avaliação do tracking (análise de correlação de Pearson e/ou Spearman, coeficiente de kappa e análise de probabilidades) pontos relevantes devem ser considerados. Na avaliação feita por correlação, o consumo é analisado em valores numéricos contínuos, em gramas ou proporção por calorias, entre duas avaliações. O tracking perfeito seria identificado pelo coeficiente de correlação igual a um. Assim, a quantidade do alimento ou do nutriente ingerida na primeira avaliação deveria ser igual ou se alterar proporcionalmente na mesma direção para todos os indivíduos. Os estudos que utilizaram esse tipo de análise adotaram a classificação: ausência de tracking (r < 0,2), tracking fraco (0,2 < r < 0,4) e tracking moderado (r > 0,4).

O coeficiente de kappa avalia a concordância do consumo alimentar (geralmente dividido em percentis) entre dois ou mais períodos de seguimento. O valor do coeficiente de kappa exclui a concordância que seria esperada ao acaso. Esse método foi utilizado por cinco7,13,15,17,22 entre os 13 estudos desta revisão e mostrou tracking fraco, independentemente do período avaliado.

A análise de probabilidades avalia a manutenção do consumo alimentar em uma posição ou posto após determinado período. Nessa avaliação, são considerados os indivíduos classificados nos percentis superiores ou inferiores na avaliação inicial.

Os resultados na infância apontam para tracking moderado, sugerindo a continuidade do consumo ao longo dessa faixa etária. Isso porque a alimentação da criança é fortemente monitorada e definida pela família, principalmente a compra e o preparo dos alimentos.16,18

Os resultados encontrados na infância foram consistentes, considerando a magnitude dos coeficientes e a probabilidade de os indivíduos permanecerem no mesmo percentil de consumo ao longo do tempo. Os estudos mostraram a presença da continuidade do consumo entre dois e seis anos de acompanhamento. Na análise por correlação, os coeficientes variaram entre 0,40 e 0,60 (continuidade moderada).

A mesma consistência não é observada na adolescência. Um dos estudos4 não mostrou continuidade do consumo para os nutrientes avaliados. Outro, realizado na Irlanda do Norte,17 mostrou tracking fraco a regular a partir do coeficiente de kappa e um terceiro7 mostrou evidência de tracking a partir das análises realizadas (correlação, kappa e probabilidades), embora suas avaliações tenham sido realizadas com intervalo de um ano. Assim, os resultados apontam tracking de consumo alimentar fraco para períodos iguais ou inferiores a três anos entre as avaliações. Possivelmente, esse seja o período em que a diversificação da alimentação esteja mais presente.

A continuidade dos padrões alimentares da infância à adolescência, avaliada por análise de correlação em três estudos, mostrou tracking fraco a moderado. Para esse tipo de análise, o período entre as avaliações não foi determinante, uma vez que os coeficientes encontrados nos três estudos foram similares, mesmo entre períodos bastante distintos como dois, cinco e 14 anos entre as avaliações.

A partir do coeficiente de kappa, dois estudos mostraram tracking fraco e apenas um deles, com diferente análise, mostrou a descontinuidade dos padrões alimentares. Os resultados encontrados são consistentes com estudo de Wang et al (2003),22 que destaca maiores percentuais de continuidade entre os que estão nos percentis extremos. Como exemplo, aqueles que estão no tercil superior de consumo de um padrão de frutas e vegetais possuem maior probabilidade de se manterem nesse patamar de consumo do que aqueles indivíduos que no início do período estavam classificados em percentis intermediários.

Houve diferenças no tamanho das amostras. Os estudos tiveram em média 200 a 400 indivíduos, três continham amostras inferiores a 100 crianças/adolescentes e uma grande coorte inglesa avaliou quase 6.200 crianças. Entretanto, considera-se que a representatividade das coortes foi mantida mesmo com amostras menores, pois estudos que não apresentaram avaliação de perdas (quando excessivas) não foram incluídos. O presente estudo não pretendia descrever ou comparar os padrões de alimentação propriamente ditos, nem tampouco diagnosticar problemas nutricionais, mas analisar se indivíduos caracterizados por um padrão alimentar, independentemente se positivo ou negativo, permaneceram com esse padrão em anos subsequentes.

O tempo de acompanhamento variou entre os estudos e provavelmente influenciou nos resultados. O mais forte tracking apareceu entre os desfechos avaliados no menor período.

Diferenças substanciais foram observadas na forma de análise do consumo alimentar. Foram incluídos os estudos que avaliaram desde o consumo de micronutrientes específicos até a avaliação de padrões alimentares produzidos por análise fatorial (baseada em grupos de alimentos). Para a avaliação da continuidade ou estabilidade do consumo, em todos os casos a avaliação foi realizada com a mesma metodologia entre os diferentes pontos do tempo.

A definição dos desfechos, em sua maioria, partiu da avaliação do consumo alimentar por métodos quantitativos e os inquéritos alimentares de registro diário de alimentos e recordatório de 24 horas foram os mais utilizados. O inquérito de frequência de consumo alimentar foi utilizado em dois estudos que avaliaram o consumo alimentar por análise fatorial, identificando padrões alimentares e trabalhando com escores (percentis) de consumo das suas populações. A estabilidade do consumo de micronutrientes foi encontrada em poucos estudos.3,4,8,17,19,20,24 Assim, a maioria das evidências de tracking na literatura baseia-se no consumo de macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) da dieta.

Os hábitos alimentares na infância são considerados estáveis, assim como da infância para a adolescência. Entretanto, parece haver maior variabilidade dos padrões alimentares na adolescência, o que deve ser visto com cautela, considerando o reduzido número de estudos avaliados. Os achados sugerem que os padrões alimentares da infância persistem até a adolescência, embora possam ser alterados ou descontinuados na adolescência.

O hábito alimentar desenvolvido na infância é importante, pois é nessa primeira fase que ocorre a introdução alimentar que pode determinar os padrões alimentares em anos subsequentes. A formação do paladar das crianças possui componente genético e ambiental/social, que pode influenciar precocemente o padrão de alimentação que a criança irá reproduzir no transcorrer dos anos.2

O estabelecimento de hábitos alimentares saudáveis deve ser estimulado precocemente na vida do indivíduo. Hábitos alimentares podem mudar substancialmente durante o crescimento, mas o registro e a importância do primeiro aprendizado e algumas formas sociais aprendidas permanecem ao longo do ciclo vital.

Recebido: 2/6/2011

Aprovado: 30/10/2011

Trabalho baseado na tese de doutorado de Madruga SW apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas em 2010.

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

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    Samanta Winck Madruga
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    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro; 2010.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Fev 2012
    • Data do Fascículo
      Abr 2012

    Histórico

    • Recebido
      02 Jun 2011
    • Aceito
      30 Out 2011
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