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Ensino de leitura

Teaching how to read

RESENHA

Ensino de leitura1

Teaching how to read

Geraldina Porto Witter

Universidade Camilo Castelo Branco, Pró-Reitoria de Pós-Graduação. R. Carolina Fonseca, 584, 08230-230, Itaquera, SP, Brasil

O conhecimento sobre leitura e leitores levou ao desenvolvimento de novas estratégias e tecnologias. Um dos aspectos importantes é a orientação para aproveitar ao máximo um texto, o que é tratado pelos autores. Karen D. Wood é doutora pela University of Georgia e docente da University of North Carolina; Dianne Lapp e James Flood são doutores e professores na San Diego State University e Bruce Taylor doutorou-se e leciona na University of North Carolina. Apresentam ampla experiência como docentes e pesquisadores envolvidos na busca de melhor formação para os leitores.

O livro compreende apresentação, prefácio, sete partes nas quais estão distribuídos 23 capítulos, apêndice e índice de conteúdo e de autores. A apresentação é de Richard T. Vacca, ex-presidente da International Reading Association e professor emérito da Kent State University. O prefácio é de responsabilidade dos autores, que começam por destacar o crescimento da necessidade de criação de estratégias de orientação de leitura nos tempos atuais para todas as disciplinas. Além dos professores, o livro serve a pesquisadores, à medida que fornece no apêndice instrumentos e estratégias que, note-se, requerem adaptação para a realidade brasileira.

Na parte 1, que compreende dois capítulos, apresentam-se guias de estratégias para alunos de 9ª série de ensino fundamental. O primeiro capítulo faz uma breve recuperação da história do uso destes guias, considerações sobre o presente e o que pode ser esperado no futuro. O capítulo seguinte destaca a importância dos guias de estratégias, especialmente no mundo de informações no qual professores e alunos hoje vivem. A maneira tradicional de uso de guias resultou, em geral, em experiências negativas, pois muitas vezes os alunos respondiam a estes instrumentos sozinhos, em casa, sem a participação ativa de professores e colegas. Os professores precisam saber selecionar os guias de acordo com as características e necessidades do estudante e modelar o seu uso.

Na parte 2 são abordados os guias colaborativos, criados para estimular a discussão e a interação em grupos (díades ou grupos pequenos). Compreende três capítulos, cada um deles enfocando um tipo de guia. O capítulo 3 trata do guia colaborativo de ver-ouvir, aplicável em todos os níveis de ensino e que se mostrou particularmente eficaz no ensino de ciências, línguas, estudos sociais e artes clássicas. É uma estrutura que orienta para observar e ouvir tomando notas, deixando a leitura para um momento posterior. O capítulo 4 enfoca um guia passível de uso em todos os níveis de ensino, o guia de leitura interativa, muito útil no ensino de leitura, linguagem, línguas, matemática, estudos sociais e artes. Pode ser usado individualmente, em pequenos grupos ou aplicado com toda a classe, e também auxilia no diagnóstico de alunos especiais. O último capítulo trata de um guia que não serve para crianças pequenas nem dos primeiros anos do ensino fundamental; nos demais aplica-se bem: trata-se do guia para discussão no ensino recíproco, que visa incentivar o aluno a aplicar as estratégias de compreensão (de texto ou outras atividades) para que se envolva nas discussões ou diálogos de classe.

A parte 3 trata dos guias de pensamento e compreende cinco capítulos. O capítulo 6 apresenta o guia de esboço crítico, que orienta o aluno a ir da leitura emocional para a fatual, o que torna o aluno um leitor crítico e não apenas intérprete do significado pretendido pelo autor. Trata-se de guia utilizável no final do ensino fundamental e nos anos subsequentes, e que tem se mostrado eficiente no ensino de leitura, escrita, estudos sociais e artes. O capítulo seguinte trata do guia de pesquisa e aplica-se aos mesmos níveis de ensino do anterior, incluindo também as ciências. Os passos previstos para este tipo de guia são: definir o tema ou assunto; levantar o conhecimento anteriormente disponível e fazer um plano de leitura; ler o material pesquisado e resumir. O capítulo 8 trata do guia de aprendizagem a partir do texto, recomendável para todos os níveis de ensino em que os alunos se envolvam com a leitura textual no desenvolvimento de trabalhos que ocupem a classe toda ou que sejam individualizados, em qualquer área de conhecimento. Seus passos são: ler o texto selecionado, categorizar as informações em níveis (literal, inferencial, avaliativo-generalizável), separar do nível literal o que veio propriamente do texto original daquilo que foi importado, construir inferências a partir do material lido de forma consciente e fazer uma análise do que foi realizado em termos de avaliação e de generalização.

Segue-se o Capítulo 9, que traz o guia de escolha múltipla, também só aplicável após os primeiros anos do ensino fundamental e que abrange todas as áreas do conhecimento. De modo geral é similar ao anterior, diferindo apenas pelo uso de escolhas de alternativas de resposta. O último capítulo desta parte objetiva ver as diferentes perspectivas de um evento: trata-se do guia de ponto de vista, que também serve para todos os alunos a partir do ensino primário e que trabalha todas as áreas do saber, esteja este expresso em textos, objetos ou figuras. Para cada caso, questões específicas que gerem perspectivas diferentes devem ser respondidas e depois discutidas em classe.

Os temas tratados na parte 4 permitem aos professores estimular o desenvolvimento cognitivo de seus alunos, tendo por título guias de declaração ou de informação, e atendem da pré-escola à universidade, servindo a todas as áreas de conhecimento. Esta parte constitui-se de três capítulos: o capítulo 11 trata do guia de antecipação que, em geral, apresenta declarações com as quais os alunos devem dizer se concordam ou não, antes e depois da leitura do texto; o capítulo 12 apresenta o guia de antecipação ampliada, mais sofisticado que o anterior; o último capítulo desta parte enfoca o guia de revisão da reação, que permite compreender as reações cognitivas.

Os dois capítulos da parte 5 agrupam os guias manipulativos; estes constituem ferramentas tridimensionais que auxiliam na organização e na atribuição de um sentido à informação de vários conteúdos. O capítulo 14 apresenta o guia de folders, para alunos a partir do final do ensino fundamental, mas há pouca pesquisa sobre sua eficiência. O capítulo seguinte é dedicado ao origami, um instrumento também pouco pesquisado, mas que pode servir a todos os níveis educacionais.

Conhecer os vários formatos e estruturas de textos facilita a compreensão da leitura. Para ajudar os alunos, foram criados os guias de estrutura textual (parte 6), apresentados em três capítulos, sendo o primeiro deles dedicado à estratégia analógica, aplicável em qualquer nível educacional e área de conteúdo. É particularmente útil para a aprendizagem de novos vocábulos em áreas não familiares. Nas mesmas circunstâncias é apresentado o guia de conceitos, que ajuda na categorização conceitual da informação (Capítulo 17). De forma igualmente abrangente, o guia padrão (capítulo 18) implica fazer um exame para determinar o padrão prevalecente no texto escolhido. Em seguida, orientam-se os alunos sobre o padrão do texto, pede-se que sigam o guia para analisá-lo e para apresentar os resultados para discussão em classe.

A parte 7 trata dos guias sobre processos de leitura, que orientam os alunos para empregar e desenvolver estratégias e habilidades metacognitivas. O glossário é um guia para desenvolvimento da compreensão do texto, indicado desde o final do ensino fundamental até o final do secundário, já que na universidade não se espera que o aluno precise deste tipo de guia. Ressalta-se que na realidade brasileira ele pode ser necessário mesmo em nível universitário. O guia orienta a tomar nota nas margens do texto e a organizar glossários de vários tipos. No capítulo 20 é apresentado o guia de processo, também previsto para ser usado nos mesmos níveis escolares para textos de qualquer conteúdo; este guia identifica habilidades de compreensão. Para os mesmos níveis de alunos e todas as matérias, o capítulo 21 sugere o mapeamento do roteiro de leitura, muito apreciado pelos alunos e de grande eficiência. O guia de atividade com o livro-texto é produto de pesquisas e fornece um conjunto de códigos estratégicos para o desenvolvimento de atividades específicas envolvendo a matéria lida.

A última parte é composta por um único capítulo e trata de transcender à necessidade do apoio dos guias para se tornar um leitor independente, que deve ser a meta da formação. Isto pede um guia de desenvolvimento do estudante, que implica trabalho individual ou, raramente, trabalho em duplas. É de grande utilidade no trabalho com os chamados leitores com problemas e com os relutantes.

O livro é enriquecido com várias fichas de registro e de checagem que correspondem a vários guias e para as quais há o consentimento prévio da reprodução, o que facilita também a pesquisa. Há, finalmente, um índice de conteúdo e de autores para consultas específicas.

A bibliografia é atual e pertinente. Trata-se de livro prático de orientação didática para os professores de todos os níveis escolares, que podem encontrar nele formas de melhorar seu desempenho docente e conseguir fazer de seus alunos melhores leitores.

Recebido em: 4/6/2008

Aprovado em: 29/9/2008

  • 1 Wood, K. D., Lapp, D., Flood, J., & Taylor, D. B. (2008). Guiding readers through text: strategy guides for new times. Newark, Del.: IRA.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Nov 2009
  • Data do Fascículo
    Set 2009
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