Resumos
Henry Mayhew serviu-se de sua profissão, o jornalismo, para registrar o dia a dia da Londres da segunda metade do século XIX de uma forma que até hoje interessa historiadores e cientistas sociais, como obra precursora da pesquisa qualitativa. Este artigo destaca aspectos metodológicos das investigações de Mayhew e analisa dois de seus relatos: sobre o surto de cólera e sobre uma vendedora de rua. Aborda também trabalhos críticos que tomam sua obra como referência.
Henry Mayhew (1812-1887); história social; cólera; vendedora de rua; Londres no século XIX
As a journalist, Henry Mayhew recorded daily life in London in the latter half of the nineteenth century. His approach remains of interest to historians and social scientists today in that it foreshadowed qualitative research. The article highlights methodological aspects of Mayhew's investigations and analyzes two of his reports, one on a cholera outbreak and the other on a female street vendor. It also addresses some analyses that have critiqued his work.
Henry Mayhew (1812-1887); social history; cholera; street vendor; nineteenth-century London
ANÁLISE
Henry Mayhew: jornalista, investigador social e precursor da pesquisa qualitativa* * Este artigo é resultado parcial do Projeto História da Sociologia da Saúde, que conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Bolsa Produtividade (Pesquisador IA). Uma versão inicial foi apresentada no Quarto Congresso Ibero-americano de Pesquisa Qualitativa em Saúde, realizado em Fortaleza (CE), entre 8 e 11 de setembro de 2010.
Everardo Duarte Nunes
Professor da Faculdade de Ciências Médicas/ Universidade Estadual de Campinas. Rua Manoel Soares da Rocha, 320 Residencial Barão do Café, 5 13085-055 - Campinas - SP - Brasil evernunes@uol.com.br
RESUMO
Henry Mayhew serviu-se de sua profissão, o jornalismo, para registrar o dia a dia da Londres da segunda metade do século XIX de uma forma que até hoje interessa historiadores e cientistas sociais, como obra precursora da pesquisa qualitativa. Este artigo destaca aspectos metodológicos das investigações de Mayhew e analisa dois de seus relatos: sobre o surto de cólera e sobre uma vendedora de rua. Aborda também trabalhos críticos que tomam sua obra como referência.
Palavras-chave: Henry Mayhew (1812-1887); história social; cólera; vendedora de rua; Londres no século XIX.
There are, of course, two methods of dealing philosophically with every subject - deductively and inductively.
The deductive method is the mode of using knowledge and the inductive method the mode of 'acquiring it'.
Henry Mayhew (1968, v.4, p.2; grifos do original).
O jornalista Henry Mayhew (1812-1887) sempre esteve atento aos acontecimentos da Londres de seu tempo, a segunda metade do século XIX. Com suas pesquisas e seus relatos, inscreve-se como precursor dos estudos qualitativos, sendo irrelevante o volume de informações quantitativas que levantou. Ao lado disso, a epidemia de cólera e as condições de vida dos trabalhadores e dos pobres de Londres devem-lhe preciosos registros. Sua principal obra, London labour and the London poor1 1 London labour and London poor é composto de quatro volumes, o último (Mayhew, Bini, 1862) com a colaboração de William Tuckniss (Instituições de combate ao vício e crime), Mayhew e Bracebridge Hemyng (Prostitutas), John Bini (Ladrões e vigaristas) e Andrew Halliday (Mendigos). Nesse volume (p.12-27) inclui-se o quadro completo da classificação, elaborada por Mayhew, dos trabalhadores e não trabalhadores da Grã-Bretanha. Alguns contemporâneos do jornalista, como Florence Nightingale, criticaram o quarto volume em virtude do tema de que tratava - a prostituição (ver nota 5). , especialmente dedicada a descrições etnográficas de trabalhadores de rua e pobres londrinos no contexto das transformações industriais e do espaço urbano inglês, foi precedida por relatos publicados no Morning Chronicle.2 2 O Morning Chronicle, que se tornaria um jornal de sucesso, começou a circular em 1769 e encerrou suas atividades em 1862. Dele participaram muitos radicais, e em meio às destacadas figuras que são contemporâneas de Mayhew, estão John Stuart Mill e Charles Dickens.
Ao destacar Mayhew e suas contribuições, não se deve esquecer de contemporâneos seus que se dedicaram aos estudos das condições de vida urbana, muitos deles antecipando-se a suas descrições da pobreza, embora trabalhando de forma diferente o tema. É o caso de Eugène Buret (1810-1842), que exerceu grande influência sobre o pensamento socialista no início dos anos 1840, sendo citado por Marx e Walter Benjamin. Para Vatin (2006, p.70, 84), Buret "popularizou um olhar sobre o pauperismo industrial" e concluiu que industrialização à inglesa e pauperismo são "duas faces de um mesmo estado social".
Outro autor francês que também se destacou foi Louis René Villermé (1782-1863), médico, economista e higienista que produziu diversos trabalhos, entre eles estudos sobre o "estado físico e moral" dos operários das indústrias de algodão, além de ter batalhado contra o trabalho infantil. De importância similar na fase inicial da sociologia empírica é a obra de Fréderic Le Play (1806-1882), extensa investigação desenvolvida "ao longo das duas décadas e meia, nas quais coletou informações e elaborou monografias de famílias de praticamente todas as regiões europeias" (Botelho, 2002, p.519).
Sob muitos aspectos, a obra de Mayhew se diferencia da produzida pela maioria dos autores que do final da primeira metade do século XIX até seu término se dedicaram às questões urbanas e dos trabalhadores, especialmente pela metodologia original que imprimiu à coleta de informações, como veremos neste artigo. Acrescente-se que, após longo período de esquecimento, sua obra voltou a ser estudada, trazendo novas interpretações a suas pesquisas sociais. A partir de diferentes interesses, destacam-se Anne Humpherys (1977) - autora da mais completa biografia de Mayhew - , Edward P. Thompson e Ellen Yeo (1984), Gertrude Himmelfarb (1973), Karel Williams (1981), James Bennet (1981), Olga Maria Trabulo (2002), Bryan S. Green (2002), John Scalan (2007), bem como a introdução de John D. Rosenberg (1968) para a reedição de London labour and the London poor, a de Victor Neuburg (1985), em uma seleção de textos dos quatro volumes da edição de 1865, a de Bertrand Taithe (1996), na reedição da correspondência de Mayhew com seus leitores. Cabe também mencionar o sensível trabalho de Seed (2005), que selecionou cerca de cem relatos de Mayhew transformando-os em poemas, e a revisão de Chris Louttit (2006) sobre quatro recentes livros - new Victorian novels - que se apoiam em Mayhew, como fonte material ou como intertexto.
De modo geral, seus trabalhos se classificam como protossociologia, etnografia, filosofia social ou jornalismo social. O que, entretanto, deve ser observado é sua perspicácia metodológica para a investigação social, lembrando que ele viveu em período que precede o advento da sociologia como ciência, a chamada sociologia clássica, que emerge na França e na Alemanha a partir de 1890. Rocquin (2006, p.3) afirma que, apesar da importância dada a Principles of sociology (1874-1896), do filósofo e sociólogo inglês Herbert Spencer (1820-1903), a sociologia como disciplina acadêmica só apareceu na Inglaterra após 1950, depois de na América, Alemanha e França. Da mesma forma, a etnografia, como aqui trataremos, foi por ele utilizada antes de sua 'oficialização' pela The London Royal Anthropological Society, em 1894.
Este artigo faz uma primeira aproximação com a obra de Mayhew, destacando aspectos metodológicos de suas investigações com base em dois de seus relatos.3 3 Adoto aqui a palavra relato, embora Mayhew e Bini também tenham usado outras para caracterizar a história oral, como statements, experiences, narratives, street-biography e histories (Bennet, 1981, p.271). Há também uma segunda aproximação, com base nos mencionados trabalhos críticos que tomam sua obra como referência. Escolhi um relato sobre o surto de cólera e outro sobre uma vendedora de rua, porque me parecem emblemáticos das preocupações sociais do autor. O primeiro trata de problema frequente para a população londrina e foi estratégico para que Mayhew expusesse, em periódico de grande circulação da época, as péssimas condições de vida de expressiva parte dos moradores de Londres. O segundo destaca o cotidiano dos trabalhadores de rua, ilustrado pelo caso de uma jovem vendedora - cabe lembrar o fato de a população jovem e infantil ter sido destaque na obra de Mayhew, que, em 1851, cunhou a expressão street children.
Personagem, época e obra
Há algum tempo, dizia-se não existirem muitas informações sobre esse personagem londrino que viveu 74 anos, de 1812 a 1887. Só noventa anos depois de sua morte, em 1977, foi publicada o que se considera sua mais completa biografia, escrita por Anne Humpherys.
Mayhew nasceu no mesmo ano em que o movimento ludista, contrário à mecanização decorrente da Revolução Industrial, atingiu o ápice, e durante sua vida acompanhou a trajetória desse processo, do proletariado inglês, dos desempregados e dos vendedores de rua. Tinha dois anos quando Stevenson inventou a locomotiva a vapor e oito quando Londres recebeu a primeira iluminação pública. Acompanhou, também, a aprovação, pelo Parlamento inglês, do direito à livre associação (1824) e da Nova Lei dos Pobres (1834), assim como os movimentos associativos dos trabalhadores, com a fundação da Associação dos Trabalhadores de Londres (1838) - marco do início do movimento cartista, que duraria uma década - e da Associação Internacional dos Trabalhadores de Londres (1864). Viveu durante o período de maior progresso industrial e tecnológico da Inglaterra, da maior expansão colonial e das lutas operárias por melhores condições de vida e trabalho, melhores salários, extinção do trabalho infantil e regulamentação do feminino. Com 25 anos, viu ascender ao trono inglês a rainha Vitória, que reinaria de 1838 a 1901. Na Era Vitoriana Londres tornou-se a maior cidade do mundo, com grande concentração populacional (958.863 habitantes em 1801, 2.362.236 em 1851, 2.803.989 em 1861, 3.254.260 em 1871 e 4.231.431 em 1891), mas com milhares de pessoas vivendo na pobreza e habitando cortiços superpovoados, de péssimas condições sanitárias. Para mostrar sua pujança, a Inglaterra realizou, em 1851, a Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações, primeira exposição internacional da indústria. Mayhew não só foi contemporâneo dessa exposição como escreveu sobre ela e 11 anos depois vivenciaria a Grande Exposição de Londres (Great London Exposition), também chamada de Exposição Internacional de 1862 (International Exhibition of 1862), que reuniu 36 países expondo as conquistas da indústria, da tecnologia e das artes.
Henry Philip Mayhew nasceu em 25 de novembro de 1812, em Londres, onde morreu em 25 de julho de 1887, filho de rica e extensa família. São citados 17 filhos, embora esse número varie nas fontes, sendo ele o quarto na ordem de nascimentos.4 4 Humpherys (1977, p.207) cita distintas fontes que assinalam ora 15, ora dez filhos, mas todas parecem concordar quanto ao número de filhos sobreviventes: sete. Filho de Joshua Dorset Joseph Mayhew, destacado advogado londrino, descrito como teimoso e autocrático, que exigia de seus filhos o tratamento de sir e que permanecessem de pé até que ele os autorizasse sentar (Humpherys, 1977, p.2). Em sua opinião, todos deveriam seguir sua carreira, mas apenas um deles o fez: Alfred, que se tornou solicitador. Thomas, Horace, Henry e August dedicaram-se ao jornalismo; Edward, ao teatro e depois à veterinária; Julius, à arte e fotografia. Em alguns textos, os filhos o retratam como tirano ou desdenham ironicamente sua "respeitabilidade" (p.4).
Mayhew iniciou sua educação na secular Westminster School - que tem suas origens no século XII e por onde passaram, entre outros, John Locke e Jeremy Bentham - , mas não se adaptou a sua disciplina e fugiu da escola. Estava com 15 anos e foi então enviado para a Índia, onde seu irmão trabalhava em um órgão do governo. Ao voltar, um ano depois, tentou a carreira de advogado, sem sucesso. Conta-se que esqueceu de entregar alguns documentos ao Tribunal de Justiça e quase provocou a prisão de seu pai. Em 1831 interessou-se pelo jornalismo de caráter popular e durante oito anos dedicou-se ao Figaro in London e ao The Thief, além de escrever peças de teatro. Viajou a Paris em 1835 fugindo de credores e juntou-se aos amigos Douglas Jerrold e William Thackeray, a chamada primeira geração de boêmios ingleses. Em 1841 associou-se a Mark Lemon e criou o Punch Magazine, no qual reuniu importantes escritores e ilustradores. Seu último artigo nessa revista data de 1845, quando embarcou em nova aventura editorial, o Iron Magazine, que o levou à falência em 1846.
Mayhew casou-se em 1844 com Jane Jerrold, filha de seu amigo e colega no jornalismo Douglas Jerrold, com o qual romperia mais tarde. Durante o casamento ocorreram muitas separações, mas não definitivas, incluindo longas permanências na Alemanha, nos anos 1860, sem a mulher. Há, entretanto, referência de viagem à Alemanha de toda a família - o casal e os dois filhos (Athol e Amy) - , experiência que resultou em livro sobre a vida e os costumes dos alemães e com interessante dedicatória a Jane: "À minha esposa, literalmente minha mão direita a escrevinhar meus ditados" (Taithe, 1996, p.67). Relata-se que, quando Jane morreu em 1880, aos 53 anos, seu marido não estava a seu lado (Neuburg, 1985, p.XV). Os biógrafos apontam que Mayhew era homem de muitas habilidades e ideias, mas de "temperamento instável" (p.XIV).
Antes de se dedicar ao trabalho sobre Londres, seu grande projeto, escreveu com o irmão August algumas novelas de cunho popular, mas voltadas para questões morais e sociais.
Sobre Londres, seus pobres, vendedores de rua e problemas urbanos, Mayhew produziu obra volumosa que apareceu primeiro em jornais e posteriormente em livros. Em 1849 e 1850 publicou, no Morning Chronicle, 82 cartas anunciadas, em 18 de outubro, como o início de uma série de artigos com "uma descrição completa e detalhada da condição moral, intelectual, material e física dos pobres das cidades industriais em toda a Inglaterra" (citado em Thompson, Yeo, 1984, p.22). De 1850 a 1852 publicou 63 números do London labour and the London poor, semanário sobre as pessoas que viviam nas ruas, especialmente comerciantes. Em meados de 1851 incluiu, nos últimos números desse periódico, um trabalho sobre a prostituição, vista como subdivisão dos pobres de Londres (Williams, 1981, p.237). Na coluna "Answers to correspondents" reúne, como escreve Williams, ao lado de correspondência bastante diversificada, o começo de sua formulação de uma teoria de economia política concebida como alternativa à economia política ortodoxa. Além desses trabalhos, foram publicados: Low wages, their causes, consequences and remedies (Mayhew, 1851), o quarto volume de London labour and the London poor, intitulado "The criminal prisons of London and scenes of prison life" (Mayhew, Binny, 1862), sobre prostituição e crime5 5 Florence Nightingale enviou carta aos editores, em 1860 em que agradecia porém declinava o presente, o "volume extra" "que não vi", uma vez que se tratava de assunto que ela lamentava, a 'regulamentação', pela polícia, da prostituição. Em sua opinião, não estava provado que isso levasse à "diminuição das doenças 'do' vício". A carta na íntegra encontra-se em Taithe, 1996, p.63, grifo do original. , uma história sobre os mórmons e um livro sobre filosofia educacional. Em 1851, quando a Inglaterra realizou a Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações (Great Exhibition of the Works of Industry of all Nations), narrou as desventuras de um casal de camponeses e seus filhos que visitam a exposição.6 6 Refiro-me a 1851 or The adventures of Mr. and Mrs. Sandboys and family, who came up to London to enjoy themselves and to see The Great Exhibition (Mayhew, Cruikshank, 1851), analisado em detalhes por Olga Maria Trabulo (2002). Há um lado cômico, mas algumas partes discutem as "virtudes e defeitos da exposição e, mais importante ainda, a atitude das classes mais baixas frente a ela" (Humpherys, 1977, p.13).
Em 1861-1862 apareceu London labour and the London poor em quatro volumes. Segundo Williams (1981, p.238), as "diferentes leituras historiográficas de Mayhew basearam-se em diferentes textos". Lembra, ainda, que esse livro tem sido usado para condenar Mayhew como "jornalista indisciplinado com exagerado gosto por detalhes vívidos". Mas, acrescenta, a leitura das cartas do Morning Chronicle e as "Answers", revelam um autor sério. Ao comparar Morning e London labour, Williams (1981, p.266) assinala: "As biografias já não eram, como no Morning Chronicle, histórias feitas para vender. Eram agora verdadeiras vidas, dramáticos relatos de histórias pessoais, 'aqui apresentadas tal como foram relatadas' [como escreveu Mayhew (1968, p.4)]". Na análise desse livro, Williams (1981, p.265) observa que a tentativa de Mayhew foi a de produzir "uma espécie de etnologia empírica que é diferente de uma etnologia teórica".
De outro lado, Himmelfarb (1973, p.710, 731) critica Mayhew pelo fato de ele ter trabalhado com população limitada numericamente para representar os trabalhadores e pobres de Londres.7 7 Mayhew aponta em seu livro que os street folk somavam aproximadamente cinquenta mil, incluindo homens, mulheres e crianças. Em 1851 o censo mostrou que cerca de 51% da população da Inglaterra e de Gales podia ser classificada como população urbana. Outro ponto refere-se à extensão de sua obra para a compreensão do que propõe o título, pois, sugere a autora, ele não trabalhou com "a cultura da pobreza", mas com "a cultura de um pequeno subgrupo de pobres". Entenda-se que, embora traga abundantes informações quantitativas, Mayhew "apresenta detalhada história de indivíduos essencialmente isolados" (Humpherys, 1977, p.63) e, nesse sentido, seu trabalho e o de Friedrich Engels (1820-1895) são complementares, pois A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, publicado poucos anos antes do livro de Mayhew, apresenta grau de generalização que não se encontra nesse autor (p.63).8 8 A primeira edição de A situação da classe trabalhadora na Inglaterra foi publicada na Alemanha em 1845; as primeiras edições em inglês são de 1887 (americana) e 1891 (inglesa).
O verão de 1849 e o surto de cólera
Em 24 de setembro de 1849, Mayhew publicou no Morning Chronicle o artigo "A visit to the cholera districts of Bermondsey". Era verão, e em três meses Londres foi varrida por surto de cólera que matou mais de 12.800 pessoas. O jornalista inicia o artigo lembrando uma fábula ocidental sobre uma cidade invadida por serpentes venenosas que atacam e matam todas as pessoas que encontram. Em suas palavras: "Os cidadãos, supondo que houvessem sido enviadas pelo céu como castigo por seus pecados, continuaram a orar para que o flagelo fosse afastado até que quase nenhuma casa tivesse sido poupada. Com o passar do tempo, entretanto, conclui a parábola, os olhos das pessoas foram abertos; pois, após tantas preces e jejuns, verificaram que os ovos das serpentes venenosas eram chocados nos montes de sujeira que rodeavam suas próprias casas". A epidemia que grassava na cidade de forma furiosa, prossegue Mayhew, "ensinou-nos que os montões de imundícies e corrupção disseminados pela metrópole são, por assim dizer, os ninhos nauseabundos da peste e outras pestilências".
O relato detalhado, quase literário, lembra que Londres podia ser "mapeada patologicamente", e a morbidade e mortalidade, distribuídas por seu território, com indicação dos locais onde irrompiam o cólera e a tifoide. Escreveu Mayhew (1849, p.4):
Assim como uma estação sucede outra, sucedem-se as doenças nos bairros que podem ser mais literal do que metaforicamente qualificados como os focos da peste de Londres. Se as estações forem favoráveis, e o tifo não trouxer a morte a quase todas as portas, então a influenza e a escarlatina lotarão as casas de trabalho [workhouses] com as famílias dos doentes. Tão previsíveis e regulares são as doenças em suas recorrências que cada epidemia, ao retornar, verão após verão, irrompe nas mesmíssimas ruas em que aparecera nas visitas anteriores, com apenas esta ligeira diferença: se na última visita começou a matar do alto à rua abaixo, desta vez começa embaixo e sai matando rua acima, seguindo certeira a linha das casas.
Ao analisar Bermondsey, menciona a pestilência do cólera na ilha de Jacob - a Jessore de Londres, em referência ao superpovoado distrito de Bangladesh, no qual se suspeita a ocorrência do início da grande pandemia de cólera de 1817. "Aqui se ergue, por assim dizer, a própria capital do cólera, a Jessore de Londres - ilha de Jacob, pedaço de terra ilhado pelo esgoto da comunidade. Poupada pelo incêndio de Londres [1666], as casas e lugares onde se agasalham as pessoas nesse lugar repulsivo não conheceram quase nenhuma melhoria desde aquela época. O lugar está um século atrás até mesmo dos distritos mais pobres e miseráveis que o cercam" (Mayhew, 1849, p.4).
O autor descreve de forma minuciosa as transformações dessa área urbana de Londres, que se converteu em local com águas pútridas e monturos de dejetos com seus odores nauseabundos. Além do ar "literalmente com cheiro de cemitério" viam-se águas "cobertas por uma escuma quase igual a uma teia de aranha, e na qual reluzem as banhas. Nela flutuam grandes massas de ervas verdes apodrecidas, e encostados aos pilares das pontes encontram-se carcaças inchadas de animais mortos, quase estourando com os gases da putrefação".
Mayhew (1849, p.4) retrata uma peculiaridade notável da ilha de Jacob - conhecido por seus pardieiros e celebrizado por Charles Dickens em Oliver Twist, em 1837:
as galerias de madeira e quartos de dormir nos fundos das casas que pendem sobre a escura inundação, construídos sobre estacas, de modo que o lugar tem positivamente o ar de uma rua flamenga, beirando um esgoto em vez de um canal; enquanto as inseguras pontezinhas que se estendem sobre os fossos e conectam pátio com pátio dão-lhe a aparência de uma Veneza das valas, onde canais à frente e atrás das casas tomam o lugar do oceano. ... Por detrás de quase todas as casas que ostentam um pé quadrado (0,09m2 2 O Morning Chronicle, que se tornaria um jornal de sucesso, começou a circular em 1769 e encerrou suas atividades em 1862. Dele participaram muitos radicais, e em meio às destacadas figuras que são contemporâneas de Mayhew, estão John Stuart Mill e Charles Dickens. ) ou dois de passagem - e a maioria não tem nenhuma - encontra-se uma pocilga. Em frente, gingam patos, enquanto galos e galinhas ciscam montes de cinzas. Na verdade, as criaturas que engordam graças aos rejeitos são as únicas coisas vivas que parecem florescer aqui.
Nos moradores observa
que exibem em suas faces a influência venenosa do ar mefítico que respiram. Suas peles são brancas como pergaminho, denunciando a digestão debilitada, a lânguida circulação e a frialdade peculiar a pessoas que padecem de intoxicação crônica, ou então suas bochechas se coram hecticamente, e seus olhos são vidrados, denunciando a febre debilitante e o declínio geral das funções vitais. A constituição marrom terrosa de alguns, e seus olhos encovados, rodeados por auréola escura, mostram que o hidrogênio sulfuroso da atmosfera em que vivem foi absorvido pelo sangue; enquanto outros impressionam pelo olho aquoso com aumento da secreção lacrimal tão peculiar àqueles expostos às exalações de hidrosulfato de amônia (Mayhew, 1849, p.4).
Ao tratar dos gases deletérios, Mayhew (1849, p.4) cita estudos concernentes a sua ação mortal sobre diversas espécies de animais e menciona o fato de que "homens envolvidos na escavação do Túnel Tâmisa sofreram graves padecimentos durante os trabalhos devido à presença desse gás na atmosfera em que foram obrigados a labutar".
Nessa parte do relato, conta que a pessoa que o acompanhava, doutor Martin, informou que uma menina estava morrendo de cólera e recentemente outros tinham sido vítimas da mesma doença.
Toda a área é visitada, e Mayhew vai identificando os casos de cólera, mas também de tifo e febre escarlate, e anota o que diz um informante: "Por detrás da casa havia um esgoto aberto, e as latrinas estavam cheias até o assento". Durante a visita, ouve de uma mulher: "Nem eu nem meus filhos sabemos o que é saúde", continua "Mas o que se pode fazer? Precisamos viver onde está nosso ganha-pão", afirma a senhora, que tentara deixar a casa mas não conseguira, e alude às precárias condições de vida dos que ali moravam, "ganhando às vezes uns 12 shillings por dia para depois ficar semanas sem fazer nada" (Mayhew, 1849, p.4).
Mayhew volta a falar sobre os gases tóxicos: "Um fato, diz um eminente autor em toxicologia, é digno da atenção dos médicos forenses, a saber, que respirar uma atmosfera apenas ligeiramente impregnada de gases que emanam de drenos e esgotos, se persistir por muito tempo, pode afetar seriamente um indivíduo e causar a morte" (Mayhew, 1849, p.4). Retoma o jornalista britânico seu relato sobre como percorreu uma rua de Londres a fim de localizar onde havia começado o surto de cólera.
Percorremos, então, a London Street... No número 1 o cólera aparecera pela primeira vez há dezessete anos e se espalhara com terrível virulência; mas, neste ano, a doença irrompeu do lado oposto e desceu a rua com igual violência. À medida que passávamos pelos fétidos aterros da rede de esgoto, o sol brilhava sobre uma fina camada de água. Sob a luz brilhante, assemelhava-se à cor de chá verde forte e positivamente parecia tão sólida quanto mármore preto à sombra - na verdade, era mais uma lama aquosa do que uma água enlameada; e ainda assim nos asseguravam que aquela era a única água que aqueles infelizes moradores tinham para beber. Enquanto a olhávamos horrorizados, vimos alguns encanamentos da rede de esgoto despejando ali seu imundo conteúdo; vimos toda uma série de privadas, voltadas para o meio da rua e construídas sobre o filete de água; baldes e baldes de imundície ali entornados; e os braços de alguns jovens vagabundos que ali se banhavam pareciam, por força do mero contraste, mármore de Paros. E, ainda assim, enquanto estávamos ali parados, incrédulos diante daquela cena, vimos, em uma das galerias adjacentes, uma menininha abaixar uma lata com o auxílio de uma corda para encher o tonel que jazia a seu lado. Em cada um dos balcões que se projetavam sobre o canal podia-se ver a mesma barrica na qual os moradores depositavam o fétido líquido, a fim de que pudessem, depois de um ou dois dias de descanso, livrá-lo das partículas sólidas de sujeira, poluição e doença. Enquanto a menininha balançava com a maior delicadeza possível sua lata, um tonel de excrementos foi arremessado de uma galeria próxima.9 9 Esse é o único parágrafo cuja tradução, feita por Sérgio Lopes, já foi publicada (Johnson, 2008, p.21-22).
Nesse lugar miserável, fomos levados a uma casa onde uma criança jazia morta pelo cólera. Perguntamos se eles realmente bebiam a água. A resposta foi: eles eram obrigados a beber aquela nojeira, caso não conseguissem mendigar ou roubar um balde cheio de água. Mas falaram com seu senhorio sobre a possibilidade de ser ela distribuída para vocês? "Sim, senhor, e ele diz que fará isso, fará isso, mas nós o conhecemos muito bem e não acreditamos nele". "Ora, senhor", gritou outra mulher que saíra de um quarto adjacente, "ele nem sequer nos dá um pouco de cal, apesar de lhe dizermos que faremos nós mesmos o trabalho; e olhe aqui, senhor", acrescentou ela, "todas as telhas despencaram e a chuva entra a cântaros". Mal havíamos saído da casa, quando um cartaz chamou nossa atenção anunciando que 'esta valiosa propriedade' estava à venda. A partir desse ponto cruzamos uma pequena ponte bamba para Providence-buildings - estreita faixa de terra disposta sobre os esgotos. Aqui, em frente às casas, havia pequenos jardins que uma toalha de mesa cobriria. Ainda assim, a única dália que aqui ergueu sua cabeça redonda e vermelha tornava o lugar mais feliz e reluzente. Jamais uma cor foi tão agradável aos olhos. Tudo que havíamos visto fora tão negro e encardido, e cheirara tanto a barro de adro de igreja que essa pequena porção de beleza parecia mais brilhante e verde que qualquer oásis no deserto. Aqui saiu um rebanho de crianças que se puseram a nos fitar como ovelhas. Uma criança nosso guia destacou do resto. Ela tinha a compleição de couro curtido, e seus olhos brilhantes, vidrados estavam tão afundados na cabeça que pareciam mais luzes brilhando através das órbitas vazias de um crânio do que uma cabeça viva, e seus ossos pareciam prestes a perfurar a fina camada de pele. Disseram-nos que ela tivera cólera duas vezes. Seu pai morrera disso. "Mas ela, senhor", disse uma mulher, dirigindo-se a nós, "não morre. Ah! Se tivesse comida suficiente e fosse criada com menos dureza, estaria morta e enterrada há muito tempo, como muitos outros. E aqui tem outra," acrescentou, empurrando para a frente uma mulher alta e magra, em trajes de um negro enferrujado. "Pois eu vi ela comer até um quarto de um pão numa refeição e não há modo de fazê-la engordar." Dito isso ouviu-se uma gargalhada, mas nas face exangue e nos lábios azuis da mulher vimos que ela, como os demais, definhava sob a influência da atmosfera sepulcral a seu redor (Mayhew, 1849, p.4).
Prosseguindo a visita, Mayhew ouve o relato de cinco casos recentes de cólera. As descrições dos ambientes, das pessoas e de suas reações são minuciosas. Por exemplo, numa das casas o menino que nela morava afirmou não ser conveniente que o jornalista entrasse; em outra, uma mulher mostrou-se satisfeita por encontrar alguém disposto a "simpatizar com seus sofrimentos", visitando-a onde morava havia nove anos, um lugar escuro e sujo, sombrio e sem ventilação - verdadeira pocilga (Mayhew, 1849, p.4).
O autor refere-se à lassidão e debilidade dos corpos doentes, condição física relacionada aos "vapores mefíticos que eles continuamente inalam", atribuindo a isso a força que os levava a procurar "um estímulo antinatural nas tabernas, e de fato os que mantêm esses estabelecimentos públicos da Ilha de Jacob gerem um negócio ainda mais rentável que os próprios senhorios".
E registra:
Não admira então que, sendo a debilidade uma das condições predisponentes do cólera - e mesmo que essas catingas do imundo canal não fossem a causa 'direta' da doença - , a Ilha Jacob seja conhecida como a Jessore da Inglaterra devido às funções digestivas debilitadas, à circulação lânguida, à depressão da mente produzida pela inalação contínua de gases nocivos do canal, junto com a intemperança que induz - às casas frias e úmidas - e, acima de tudo, ao mitigar da sede e à cocção da comida com água saturada de excrementos dos próprios semelhantes (grifos do original) (Mayhew, 1849, p.4).
Esse artigo foi o primeiro alerta que Mayhew lançou acerca do impacto da doença e da necessidade de investigação sobre as condições de vida das classes trabalhadoras na Inglaterra e no País de Gales. A sugestão endereçada ao editor John Douglas Cook foi aceita, e outros três jornalistas, Angus Reach, Charles Mackay e Shirley Borroks, juntaram-se ao projeto, tendo Mayhew se concentrado em Londres, e a equipe em outros lugares da Inglaterra e de Gales. Uma sequência de artigos foi publicada diariamente até 1850.
A vida de uma vendedora de rua
Esse relato é uma das inúmeras descrições de Mayhew sobre o povo da rua de Londres, publicadas no primeiro volume de London labour and London poor, em cujo prefácio Mayhew (1968, s.p.) registrou: "Certamente pode ser considerado curioso sendo a primeira tentativa de publicar a história de um povo pela boca dele próprio - apresentando uma descrição literal de seu trabalho, seus ganhos, suas provações e sofrimentos através de sua própria linguagem 'sem verniz'; e de retratar a condição de seus lares e suas famílias a partir da observação pessoal dos lugares e da comunhão direta com os indivíduos".
Apesar da forte carga empírica que caracteriza sua obra, Mayhew concede espaço às questões mais gerais. Bennet (1981, p.271) anota: "A ordem típica de apresentação, tanto na série do Morning Chronicle como no London Labour, é começar com uma descrição geral de uma ocupação ou lugar, que usualmente inclui o número de pessoas ou itens envolvidos, com frequência apresentados num quadro". Assim, no início da monumental pesquisa sobre os trabalhadores e os pobres, Mayhew escreve sobre as tribos nômades em geral (ele divide a população da terra em nômades, wanderers, e sedentários, settlers) e as tribos nômades da Inglaterra. Por ser a classificação outra característica de seu trabalho, destaco, resumidamente, a que abre o London labour, pois nela encontramos o relato selecionado.
Para o autor, o 'povo da rua' poderia ser definido como "uma grande e variada classe; na verdade, os meios a que recorre para 'apanhar uma migalha', como diz o povo, nas vias públicas (e em muitos casos 'literalmente' não passa disso) são tão variados que a mente logo se frustra em suas tentativas de reduzi-los a uma ordem ou classificação científicas" (Mayhew, 1968, p.3; grifos do original). Em seguida, "organiza o povo" em seis tipos ou gêneros distintos - vendedores, compradores, catadores, artistas, artesãos ou mascates, trabalhadores - e os define detalhadamente. Escolhemos como ilustração dessas categorias a história de uma menina vendedora de maçãs. Mayhew (1968, p.45-47) inicia o relato da seguinte forma:
Eu gostaria de ter obtido uma declaração da menina cujo retrato é dado aqui, mas ela estava com medo de dar qualquer informação sobre os hábitos de seus companheiros, com medo de que a reconhecessem pela gravura e a perseguissem pelas revelações que poderia fazer. Depois de me decepcionar dúzias de vezes, fui forçado a buscar outra vendedora de rua.
Aquela que acabei escolhendo era uma jovem bem desenvolvida de dezoito anos. Ela tinha o hábito de fazer uma mesura a cada pergunta que eu fazia. Trazia o xale escocês amarrado sobre o peito e o gorro de algodão aveludado era esmagado pela cesta que carregava. Parecia terrivelmente confusa sobre onde colocar as mãos: enfiava-as sob o xale em certos momentos, em outros aquecia-as no fogo ou media o comprimento do avental. E quando respondia a uma pergunta, invariavelmente dirigia-se ao fogareiro. Sua voz era rouca de tanto gritar o seu pregão.10 10 Harris (s.d.) escreveu interessante trabalho sobre os 'retalhistas itinerantes' (vendores de rua ou, no interior do país, mascates) antes de 1900. Com exemplos de Mayhew, mostrou que eles não eram desprovidos de habilidades e que muitos conseguiam sucesso em suas atividades de anunciar, vender e comprar; a autora destaca as diferentes formas de apregoar as mercadorias.
Em seu relato, a vendedora conta o seguinte:
Minha mãe esteve nas ruas a vender toda a sua vida. Seu tio ensinou a ela como funciona a praça e ela ensinou a mim. Quando os negócios ficaram ruins ela me disse: "Agora você vai cuidar da banca, e eu vou fazer biscates". O jeito como ela me ensinou a praça era avaliar o peso das cestas de maçãs, e então dizia ela: "Sempre desconte para menos, quase a metade". Sempre gostei demais da vida nas ruas, isso se eu estivesse vendendo. Em geral cuido sozinha de uma banca, mas conheci garotas que andam por aí com as maçãs que me disseram que as cestas pesam tanto que o pescoço dói, e quando a carga é retirada, e como se você tivesse um pescoço duro, e a pessoa sente a cabeça leve como uma pena. As garotas começam a trabalhar muito cedo nesse serviço; os pais mandam elas para as ruas ainda quase bebês. Tem uma menininha, tenho certeza que ela não tem mais que uns sete anos e meio, que fica vendendo agrião perto da minha banca, e minha mãe dizia, "Veja só, como aquela pequena tem de ganhar a vida antes mesmo de saber quanto vale um centavo".
Sobre a sua família, a vendedora fala o seguinte em sua entrevista:
Somos em seis, com o pai e a mãe, oito. O pai costumava fazer biscates estranhos, com canos de gás, nas ruas, e quando faltava trabalho passávamos maus bocados. A mãe sempre gostou de ficar com a gente em casa, e conseguia manter-nos ocupados e longe do mau caminho - ela nos dava uma camisola velha para transformar em aventais para as crianças e coisas assim! Sempre foi boa para a gente, a mãe, e o pai também. Ela sempre gostava de ouvir a gente ler para ela quando estava lavando roupas e coisas assim! E então nós, os maiores, tínhamos de ensinar os menores. Mas quando escasseava o trabalho para o pai, se não havia biscate para a mãe, ela dizia, "Agora vou sair e comprar um alqueire de maçãs", e então ela se virava e conseguia um dinheirinho desse jeito. Imagino que sentada na banca das nove da manhã até as lojas fecharem - umas dez da noite, posso ganhar entre 1 shilling e 6 dimes por dia Tudo depende das maçãs - se são boas ou não - o que a gente ganha. Se estou sem sorte, a mãe diz, "Bem, vou sair amanhã e ver que jeito 'eu' dou"; e se eu me dou bem, ela diz "Olhe só, você é boa nisso; se deu muito bem". Sim, a mãe é muito justa assim. Ah! conheço muitas garotas que vão sofrer se não conseguirem vender bem a mercadoria; mas, graças a Deus, nunca ganho mais do que uma bronca. Meus pais são muito justos comigo.
A vendedora prossegue seu relato acrescentando sua percepção sobre a vida das garotas.
Ousaria dizer que nem dez entre cem moças que vivem com homens já casaram na igreja da Inglaterra. Eu mesma conheço muitas, mas não acho mesmo isso certo. Sou de opinião que as garotas são bobas por se deixarem seduzir, mas, claro, elas não iriam se não gostassem. É por isso que não acho certo. Talvez um homem vá ter uma conversinha com sua garota e depois ele dirá, "Ah! não sou obrigado a continuar com ela!", e vai mandar ela embora: e aí, para onde essa pobre moça vai? Agora, tem uma garota que eu conheço que veio me procurar essa semana mesmo, com o rosto todo inchado, e um olho roxo horrível; e eu perguntei, "Quem fez isso?", e ela disse: "Ora, o Jack" - só isso mesmo; e então ela, falou assim: "Vou denunciar ele amanhã". Bem, ele foi denunciado aquela noite mesmo, mas ela nunca foi depor contra ele, com medo de apanhar mais. Não me parece que esse seja o jeito como as pessoas casadas deviam ser. Ora, se as partes forem casadas, um devia apoiar o outro; e eles não o farão, com certeza, se apenas viverem juntos. Um homem que é casado é obrigado a sustentar a esposa, briguem ou não; e ele diz para si mesmo "Ora, posso muito bem viver feliz desse jeito". Mas se pode largar uma garota assim que cansar dela, ele começa a se desentender com ela e então logo se livra dela.
A vendedora prossegue falando sobre como vê a vida com os homens: "Muitas vezes ouvi os garotos se vangloriarem por ter arruinado as garotas, para todo o mundo, como se fossem os maiores lordes da terra."
Outro tema interessante abordado na entrevista foi religião:
Ontem de noite mesmo, o pai estava falando de religião. Muitas vezes a gente fala sobre religião. O pai me disse que Deus fez o mundo, e eu o ouvi contar sobre o primeiro homem e a primeira mulher, como foram feitos e como viveram - deve ter sido há mais de cem anos - , mas eu não gosto de falar sobre o que eu não sei. O pai me contou também sobre nosso Salvador, como foi pregado na cruz para sofrer por pessoas pobres como nós.
A garota emenda, então, com temas afins: perdoar ou não um inimigo, a forte religiosidade das meninas, a criação do mundo, Deus, pessoas boas e más.
Mayhew (1968, p.46) encerra o relato observando que aquelas declarações podiam parecer "curiosas e extravagantes aos não iniciados", mas eram apresentadas "como foram enunciadas; e foram enunciadas com uma seriedade que provava que a pobre moça encarava aquilo como assunto solene que a obrigava a ser sincera".
Comentários
If I have a model, it's Mayhew.
Terkel (citado em Bennet, 1981, p.11)
O surto de cólera descrito por Mayhew não foi o único que aconteceu em Londres; anterior a ele, sabe-se daquele ocorrido em 1832, com cerca de oitocentas mortes no East End e 32 mil em toda a Grã-Bretanha. Ao apresentar o Diary of a epidemic, Freedland (2003) comenta: "Embora as mortes por cólera nunca se aproximem dos níveis da tuberculose ou disenteria, a doença é particularmente assustadora para os britânicos devido a sua novidade, ao início rápido e aos terríveis sintomas". O surto relatado por Mayhew em 1849 e iniciado um ano antes foi mais devastador do que o anterior, pois vitimou cerca de 53 mil pessoas na Inglaterra e em Gales. No início do surto, John Snow, ao examinar diversos pacientes, verificou que apresentavam problemas digestivos e supôs que teriam ingerido alimentos ou água contaminada; raciocinou, então, que, se as vítimas tivessem absorvido o 'veneno' do cólera do ar contaminado, de acordo com as teorias miasmáticas os sintomas teriam aparecido em seus narizes ou pulmões e não no trato digestivo. Em 1849, publicou o folheto "On the mode of communication of cholera", que entretanto teve pouco efeito sobre seus colegas, a exemplo de Edwin Chadwick.11 11 Edwin Chadwick (1800-1890), reformador inglês, estudou advocacia em Londres, trabalhou na reforma das Poor Laws e com os problemas sanitários. É autor de The sanitary condition of the labouring population of Great Britain (1842), em que relacionou pobreza e insalubridade em uma perspectiva miasmática. Em sua opinião,"todo odor, se for intenso, é doença aguda imediata, e eventualmente pode-se dizer que, ao deprimir o sistema e torná-lo suscetível à ação de outras causas, todo odor é doença" (Chadwick, citado em Victorian London..., s.d.). Mayhew, como muitos outros, pensava que o cólera tinha suas origens na atmosfera, no ar contaminado por matérias em decomposição, e só em 1854, quando nova epidemia causou 10.738 mortes em Londres, John Snow conseguiu provar que a água era o principal agente da propagação do cólera. A descrição feita por Mayhew não deixa dúvidas quanto a sua posição sobre a doença e suas causas, mas também evidencia sua preocupação com a observação direta dos eventos.
Em relação aos relatos sobre os trabalhadores, Neuburg (1985, p.XIX) foi bastante preciso ao afirmar: "O que Mayhew conseguiu foi o mais completo e mais vívido retrato das experiências dos trabalhadores na maior cidade do mundo no século XIX. Em suas páginas muitos deles falam por si mesmos, e escutamos suas esperanças, seus temores, costumes, suas queixas, seus hábitos em suas próprias palavras. Nenhum outro investigador social chegou aos pés dele: em escopo e execução, o trabalho de Mayhew não tem igual". Isso, sem dúvida, repousa em seu 'credo metodológico', pois, segundo Williams (1981, p.240), Mayhew tinha o senso de um "grande filósofo do método: escolha um tema, e o método universal forneceria os procedimentos para se adquirir, organizar e usar o conhecimento". A pretensão de Mayhew era estender os procedimentos das ciências naturais aos fenômenos sociais, por meio da indução e classificação. Embora essa seja a grande força de seu trabalho, foi, de acordo com Williams (1981, p.246), também sua fraqueza, pois "o método duplo [indução e classificação] foi um princípio ativo desorganizador, a espalhar incertezas e indeterminações".
Do ponto de vista que nos interessa, Mayhew conseguiu reunir, em suas investigações, as principais características do método etnográfico: a interação prolongada entre pesquisador e sujeito da pesquisa, e a interação cotidiana do pesquisador no universo do sujeito.
Cabe lembrar que foi apenas em 1874 que a British Association for the Advancement of Science publicou Notes and queries on anthropology (Royal Anthropological Institute..., 1951), fundamental para as pesquisas nessa área de conhecimento. Nele, a antropologia social é definida como a disciplina que "trata do comportamento do homem em situações sociais". E acrescenta-se: "Generalizações sociológicas só podem ser formuladas a partir do estudo cuidadoso das atividades e instituições sociais de povos específicos ou em áreas de cultura definidas" (p.36). Quanto à forma de coletar o material, desperta atenção o fato de que muito antes dessa publicação Mayhew já adotava seus princípios, a exemplo do que afirma a obra: "Para qualquer cultura ou área o material deve ser coletado por observação (1) direta e (2) indireta; os dois métodos devem ser continuamente integrados" (p.36). As Notes registram também que o 'método' do questionário tem utilidade limitada e que uma "observação direta complementada pela interrogação imediata é o curso ideal; é procedimento dos mais satisfatórios começar uma investigação sobre qualquer assunto particular através da observação direta de algum evento, e mergulhar nele por meio de perguntas concernentes a detalhes, variações e eventos similares etc." (p.36).
O trabalho etnográfico de Mayhew recebeu de Bryan Green (2002) minuciosa análise. Recorda esse sociólogo da Universidade de York, em Toronto, que o trabalho de Mayhew é de difícil classificação, mas considerando os três tipos de narrativas dos etnógrafos - realista, confessional e impressionista - aplica ao pesquisador londrino o tipo realista. Nesse sentido "pode ser correlacionado com o suposto primeiro momento, o 'tradicional', na periodização da pesquisa etnográfica feita por Denzin e Lincoln (1994)" (Green, 2002, p.102). Para Denzin e Lincoln, o etnógrafo, como Malinowski, Mead e outros, dedica longo tempo à observação participante e entrevistas em seu trabalho de campo.
Embora não existam informações detalhadas de como Mayhew desenvolvia o trabalho de campo, seus colaboradores relatam que as entrevistas mais importantes eram realizadas por ele e estenografadas pelos auxiliares. Eileen Yeo (1984, p.69, 70), ao comentar as pesquisas publicadas no Morning Chronicle, afirma que "Nesses últimos tempos da sociologia, não surpreende que Mayhew empregasse entrevistadores; surpreendente é o cuidado com que supervisionava o trabalho, assim como sua presença pessoal em cada etapa dele, com um escrúpulo que poderia envergonhar alguns investigadores incomparavelmente bem financiados e equipados dos dias atuais".
Outro ponto lembrado por Yeo (1984, p.71) é que os informantes eram abordados em suas próprias casas, "onde podiam falar mais livremente"; e prossegue afirmando que é possível reconhecer na abordagem de Mayhew o encadeamento de uma entrevista-padrão: salário, condições de emprego, despesas, horas de trabalho etc. O entrevistado era também levado a comparar seu trabalho atual com o do passado, e a comentar questões sobre a habitação. Mayhew não reescrevia com suas palavras a entrevista; sintetizava-as recorrendo às próprias palavras do entrevistado, "num monólogo contínuo que permitia aos leitores ver o mundo através dos olhos dos pobres, e que com frequência eram muito reveladores no tocante a linguagens e valores" (p.71). Esclarece a autora que não se deve entender tal forma de trabalho como um "desejo jornalístico de criar personagens folclóricos e coloridos" (p.72) - alguns criticam o trabalho de Mayhew alegando que, embora se trate de alto jornalismo, ele não foi de análise social, até porque o jornalista "sofria de curiosidade subdisciplinada e de dramaticidade superdesenvolvida" (p.74).
Seguramente, a mais completa análise sobre a 'história oral' adotada por Mayhew deve-se a James Bennet (1981). O autor observa que seu livro Oral history and deliquency encontrava-se quase concluído quando leu a biografia de Mayhew elaborada por Anne Humpherys, e salienta: "Minha contribuição para o estudo de Mayhew é a discussão da delinquência e da história oral com mais detalhes do que havia sido feito em outras partes" (p.285, nota 4). O primeiro capítulo inicia com uma citação de John Rosenberg (1968, p.VI): "Mayhew inventou a história oral um século antes de a expressão ser cunhada". Lembra que "trabalhos posteriores com histórias oral e de vida desenvolveram-se de forma independe de Mayhew", destacando que embora tenham existido usos anteriores da história oral, "o próprio Mayhew não tinha dúvidas de que inventara o que mais tarde seria chamado de história oral" (Bennet, 1981, p.11). Ao indagar-se por que Mayhew incluiu histórias orais em todos os seus trabalhos, Bennet chega às seguintes conclusões: "1. Para expressar sua própria personalidade e seus próprios interesses; 2. Estabelecer comunicação entre as classes sociais; 3. Instruir divertindo; 4. Demonstrar autenticidade de evidências; 5. Provocar vívida impressão no leitor; 6. Despertar emoção e, assim, instigar os leitores à ação" (p.17). Particularmente interessante é a observação desse autor ao afirmar que Mayhew "inseria materiais de história oral em pontos particulares de seus escritos, para ilustrar afirmações que acabara de fazer em termos mais abstratos e talvez para criar um equilíbrio estético entre as vozes humanas e os dados estatísticos, abundantes em seus textos" (p.17).
Não somente na forma de coletar as entrevistas e narrá-las revela-se a originalidade de Mayhew. Foi ele também que utilizou de modo pioneiro a fotografia. London labour and London poor foi ilustrado com xilogravuras executadas a partir de daguerreótipos feitos por Richard Beard (1801-1885). Davenport (1991, p.XVI) relata que as gravuras foram feitas porque não era possível reproduzir os daguerreótipos e destaca que Mayhew e Beard foram criticados por "exagerar a pobreza dos cortiços londrinos" (p.43). Boni e Moreschi (2007) não se referem a Mayhew e Beard como pioneiros da fotoetnografia, citando como precursores John K. Hillers, em 1870, Alice Fletcher, em 1880, e Franz Boas, em 1886. Entre outros, Humpherys (1977, p.70) observa: "O uso por Mayhew de fotografias como a base de um registro social, mesmo antes que pudessem ser reproduzidas como tal na impressão, é um tributo tanto a sua presciência na aplicação da moderna tecnologia à ciência social como a sua preocupação com a rigorosa precisão no trabalho". Afirma ainda a autora que as xilogravuras ostentam "algumas das mais acuradas imagens que temos das efetivas características faciais e de vestimenta das pessoas que labutavam nas ruas de Londres, em meados do século".
Mayhew foi também um dos primeiros a usar técnicas cartográficas, ao elaborar mapas sobre a distribuição do crime e da delinquência em Londres, denominados mapas sociais (Brown, s.d.). Esses 15 mapas foram criticados por alguns estudiosos, pois pouco revelam, especialmente pelo fato de apresentar temas incomuns a época, relacionados à criminalidade, como abusos sexuais e raptos (Smith, Mar. 1985).
Considerações finais
Estabeleço aqui aproximações com dois textos de Mayhew que me parecem bem caracterizar sua obra e parte da literatura que a analisa sob vários ângulos. Sem pretensão de esgotar o tema, mas sim situá-lo no foco da abordagem metodológica, percebe-se que o autor foi original e vislumbrou de forma pioneira questões que hoje se tornaram objetos das ciências sociais. O reconhecimento de seu trabalho tem sido crescente não só por ter ele "dado voz às experiências das pessoas que de outra forma não poderiam ser ouvidas", mas por mostrar, em seu texto, a "sociedade [como] uma presença objetiva, transubjetiva" (Green, 2002, p.132). Como analisa Scalan (2007, p.204), Mayhew revelou, em meio à "ilusão da harmonia", que "as realidades da pobreza" faziam parte da "imperfeição de uma sociedade que era real".
Sem dúvida, dois relatos não bastam para penetrar as inúmeras formas adotadas por Mayhew com o fim de classificar, descrever e interpretar a população de Londres nos meados do século XIX. Trata-se, antes, de exemplos que procuro referenciar na literatura. Ao cruzar referências censitárias, suas entrevistas, documentos oficiais e da polícia, construir mapas, retratar o povo (literalmente) e elaborar narrativas, Mayhew - ainda que muitas vezes de forma assistemática, "abertamente caótica" (Williams, 1981, p.238) e sem claro foco teórico - conseguiu elaborar uma das mais importantes documentações sobre a cidade de Londres, percorrendo suas ruas, sobrevoando-as de balão ou observando-as do alto da catedral de St. Paul.12 12 Mayhew relata sua viagem de balão sobre a cidade na introdução de The criminal prisons of London and scenes of prison life (Mayhew, Bini, 1862) intitulada "A balloon view of London", na qual declara que, embora já tivesse visto "a Grande Metrópole em quase todos os seus aspectos" (p.8) - referindo-se à visita à ilha de Jacob no surto de cólera, às entrevistas com mendigos e ladrões, ao World of London - desejava contemplá-la do alto. Numa tarde de outono, Mayhew sobrevoou sua cidade na companhia do famoso balonista Charles Green (1785-1870).
NOTAS
Recebido para publicação em julho de 2010.
Aprovado para publicação em abril de 2011.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
08 Out 2012 -
Data do Fascículo
Set 2012
Histórico
-
Recebido
Jul 2010 -
Aceito
Abr 2011