Resumos
Em experimentos de campo desenvolvidos durante quatro anos com o cultivar IAC 20 de algodoeiro, em um latossolo roxo distrófico e ácido de Guaíra (SP), estudou-se o efeito de duas aplicações de calcário (0,6; 1,8 e 3,0 t/ha/ciclo) e de gesso (0, 2, 4 e 6 t/ha/ciclo), durante dois ciclos sucessivos de cultivo, de dois anos cada um. Análises periódicas de terra indicaram que a ação do calcário sobre a acidez foi maior na camada superfícial, nas duas oportunidades, enquanto o gesso aprofundou gradativamente sua ação até à camada de 40-60 cm, lixiviando bases e aumentando a porcentagem de saturação por bases em subsuperfície. Por incrementar a produtividade do algodoeiro e as concentrações foliares de S, Ca e mesmo de Mg, admitiu-se que a gessagem tenha promovido o aprofundamento de raízes das plantas, em especial quando associada à calagem em dose máxima. O efeito residual desses produtos sobre a produtividade foi baixo na primeira aplicação, enquanto se destacou na reaplicação, principalmente o calcário. Com o tempo, o uso do gesso concorreu para diminuir a concentração foliar de Mg e, em especial, a de K.
calagem; gessagem; rendimento de algodão; análises de solo e foliar
Field trials with cotton cultivar IAC-20 were conducted during four years on an acid distrophic Dusky Red Latosol from Guaíra, State of São Paulo, Brazil. The experiments and the treatments were randomized complete blocks with split-plots, with 0.6, 1.8 and 3.0 t/ha of limestone in the plots and 0, 2, 4 and 6 t/ha of phosphogypsum in the subplots incorporated in the soil in the first year and reapplied after two years. The results of successive soil analysis indicated that the action of limestone was more evident in the plow layer, whereas gypsum was more effective in the subsoil at a 40-60 cm depth, due to leaching of bases through the soil profile promoted by sulphate ion. The increase of leaf contents of S, Ca and Mg promoted by the phosphogypsum was considered also good as a evidence of enhanced root development in the subsoil of these treatments. The residual effect of both limestone and gypsum was low after the first application, but considerably higher after reapplication, especially for limestone. Along the time, the use of gypsum caused a decrease of Mg and especially K leaf contents.
limestone; gypsum; cotton yield; soil and foliar analyses
EFEITOS DO CALCÁRIO E DO GESSO NAS CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO E NA CULTURA DO ALGODÃO (1 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. )
NELSON MACHADO DA SILVA (2 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. ,5 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. ), BERNARDO VAN RAIJ(3 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. ,5 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. ), LUIZ HENRIQUE DE CARVALHO (2 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. ,5 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. ), ONDINO CLEANTE BATAGLIA(3 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. ,5 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. ) e JULIO ISAO KONDO(4 (1 ) Trabalho apresentado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Porto Alegre (RS), em julho de 1991. Realizado com recursos do Convênio EMBRAPA/PETROFERTIL. Recebido para publicação em 22 de abril e aceito em 30 de setembro de 1997. )
RESUMO
Em experimentos de campo desenvolvidos durante quatro anos com o cultivar IAC 20 de algodoeiro, em um latossolo roxo distrófico e ácido de Guaíra (SP), estudou-se o efeito de duas aplicações de calcário (0,6; 1,8 e 3,0 t/ha/ciclo) e de gesso (0, 2, 4 e 6 t/ha/ciclo), durante dois ciclos sucessivos de cultivo, de dois anos cada um. Análises periódicas de terra indicaram que a ação do calcário sobre a acidez foi maior na camada superfícial, nas duas oportunidades, enquanto o gesso aprofundou gradativamente sua ação até à camada de 40-60 cm, lixiviando bases e aumentando a porcentagem de saturação por bases em subsuperfície. Por incrementar a produtividade do algodoeiro e as concentrações foliares de S, Ca e mesmo de Mg, admitiu-se que a gessagem tenha promovido o aprofundamento de raízes das plantas, em especial quando associada à calagem em dose máxima. O efeito residual desses produtos sobre a produtividade foi baixo na primeira aplicação, enquanto se destacou na reaplicação, principalmente o calcário. Com o tempo, o uso do gesso concorreu para diminuir a concentração foliar de Mg e, em especial, a de K.
Termos de indexação: calagem, gessagem, rendimento de algodão, análises de solo e foliar.
ABSTRACT
EFFECT OF LIMESTONE AND PHOSPHOGYPSUM ON COTTON
Field trials with cotton cultivar IAC-20 were conducted during four years on an acid distrophic Dusky Red Latosol from Guaíra, State of São Paulo, Brazil. The experiments and the treatments were randomized complete blocks with split-plots, with 0.6, 1.8 and 3.0 t/ha of limestone in the plots and 0, 2, 4 and 6 t/ha of phosphogypsum in the subplots incorporated in the soil in the first year and reapplied after two years. The results of successive soil analysis indicated that the action of limestone was more evident in the plow layer, whereas gypsum was more effective in the subsoil at a 40-60 cm depth, due to leaching of bases through the soil profile promoted by sulphate ion. The increase of leaf contents of S, Ca and Mg promoted by the phosphogypsum was considered also good as a evidence of enhanced root development in the subsoil of these treatments. The residual effect of both limestone and gypsum was low after the first application, but considerably higher after reapplication, especially for limestone. Along the time, the use of gypsum caused a decrease of Mg and especially K leaf contents.
Index terms: limestone, gypsum, cotton yield, soil and foliar analyses.
1. INTRODUÇÃO
Desde o trabalho de Ritchey et al. (1980), revelando o efeito do gesso em reduzir a acidez do subsolo em um latossolo vermelho-escuro, permitindo maior aprofundamento das raízes do milho, seu uso tem despertado interesse no Brasil. Por se tratar de um sal solúvel, sua penetração no perfil ocorre com as águas de percolação, embora haja certa permanência do insumo logo abaixo da camada arável (Ritchey et al. 1980; Sumner et al., 1986, e Farina & Channon, 1988).
A atividade do alumínio na solução do solo tem sido o principal parâmetro associado, de modo negativo, ao crescimento radicular, conforme trabalhos com algodão e café (Pavan & Bingham, 1982, Adams & Lund, 1986). Tem-se demonstrado que o gesso pode reduzir a atividade do alumínio em solução (Alva et al., 1986, e Cameron et al., 1986). Também, em conseqüência de seu uso, constataram-se, em análises do perfil do solo, aumentos nos teores de Ca e nos valores do pH, assim como diminuição no H + Al (Sumner et al., 1986; Chaves et al., 1988, e Farina & Channon, 1988), com conseqüente proliferação de raízes no subsolo e maior aproveitamento de água e de nutrientes pelas plantas (Ritchey et al.,1980; Sousa & Ritchey, 1986; Farina & Channon, 1988, e Shainberg et al., 1989). Por outro lado, o gesso pode provocar lixiviação de magnésio e de potássio das camadas mais superficiais do solo, expondo as plantas a eventuais deficiências (Ritchey et al., 1980; Farina & Channon, 1988; Shainberg et al., 1989, e Alva & Gascho, 1991).
Na cultura do algodão, respostas positivas a gesso têm sido atribuídas mais freqüentemente à nutrição de enxofre e cálcio, quer quando usado como tal na adubação de plantio (Freitas et al., 1960; McClung et al., 1961; Mikkelsen et al., 1963, e Palermo, 1989), quer como componente do superfosfato simples (Silva et al., 1979, 1981, 1987a, b). Dados mais recentes já relacionam a percolação do S-SO4 proveniente do gesso, contido no superfosfato simples, com a redução da acidez do subsolo e conseqüente melhoria geral do algodoeiro, em ensaio de longa duração (Silva et al., 1992). Raij et al. (1994), por sua vez, observaram que, para soja, o efeito do calcário predominou na camada arável de um latossolo roxo, enquanto o gesso afetou mais o subsolo.
Neste trabalho, estudou-se a aplicação combinada de calcário e gesso sobre as características químicas do solo e sobre a resposta do algodoeiro.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A partir de 1986, desenvolveu-se, por quatro anos, um experimento de campo visando avaliar os efeitos da aplicação de calcário e de gesso no algodoeiro cultivado em um latossolo roxo distrófico de Guaíra (SP). A camada arável desse solo apresentava as seguintes características: 4,3 de pH em CaCl2; 28 g/dm3 de M.O.; 2,5, 12, 6 e 45 mmolc/dm3, respectivamente, de K, Ca, Mg e H + Al, e 32% de saturação por bases (V).
O delineamento experimental foi de blocos ao acaso em esquema de parcelas subdivididas, com quatro repetições. O calcário foi aplicado a lanço nas parcelas, cerca de quarenta dias antes da primeira semeação, nas doses de 0,6; 1,8 e 3,0 t/ha, visando elevar o valor de V para faixas de 35-40, 50-55 e 60-65% respectivamente. Na ocasião, o gesso foi distribuído a lanço nas subparcelas, nas doses de 0, 2, 4 e 6 t/ha. Após dois cultivos sucessivos, o calcário e o gesso foram reaplicados nas dosagens anteriores. Na fase inicial, usou-se calcário dolomítico com 29,4% de CaO, 19,5% de MgO e PN = 101%, enquanto, na segunda aplicação, o corretivo apresentava 24,0% de CaO, 14,0% de MgO e PN = 67%.
A mistura de adubos utilizada nos dois primeiros plantios foi formulada com sulfato de amônio, superfosfato simples e cloreto de potássio em quantidades que forneceram 10, 80, 80 e 60 kg/ha de N, P2O5, K2O e S respectivamente; em cobertura, aplicaram-se 50 kg/ha de N por ano, na forma de uréia. Na fase posterior, a adubação potássica foi aumentada para 100 kg/ha de K2O e, a cobertura, para 60 kg/ha de N, por ano.
Antes da primeira aplicação de calcário e gesso, o solo foi arado e gradeado na forma tradicional, sendo os produtos incorporados pela passagem da enxada rotativa. Para que o algodoeiro pudesse ser semeado sempre na mesma gleba, os vértices do ensaio foram devidamente fixados. Visando evitar o arrastamento superficial dos insumos, efetuaram-se os subseqüentes preparos do solo com a enxada rotativa e, quando necessário, com a passagem prévia de um escarificador.
Utilizou-se o cultivar IAC 20 e, após desbaste, deixaram-se seis a sete plantas por metro.
Periodicamente, coletaram-se amostras de solo nas entrelinhas do algodoeiro, para fins de análises químicas (Raij et al., 1987). Na primeira fase, a amostragem alcançou a camada de 40-60 cm de profundidade, e, posteriormente, chegou até a 80 cm. A coleta anual de folhas visando a análises químicas (Bataglia et al., 1983) e a colheita de algodão em caroço foram executadas nas duas linhas úteis da parcela experimental, que continha quatro linhas de 5 m de comprimento, espaçadas de 0,8 m. Procedeu-se à análise da variância dos dados dos diversos parâmetros levantados .
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Análise de solo
Quatro meses após a primeira aplicação de calcário (dezembro/86), já se percebia sua ação na camada superficial (Quadro 1). Com efeito, enquanto, com a calagem, ocorriam sensíveis aumentos no Mg (F = 25,47**), Ca (F = 5,63**) e V% (F = 59,73**), diminuía, linearmente, o valor do H + Al (F = 107,07**) da análise química.
Trabalhando em solos semelhantes, porém com calcários menos reativos (PRNT de 52 a 55%), Silva et al. (1980, 1984) observaram efeito mais lento da calagem. No presente caso, a maior eficiência do corretivo utilizado (PN = 101%) pode explicar a rápida ação. Também o gesso foi responsável por importantes modificações: proporcionou destacados aumentos no teor de Ca (F = 103,73**) e, quando em mistura com a mais alta dose de calcário, elevou o Mg até 67% e diminuiu o valor do H+Al até 26%. Assim, as mais altas correções esperadas para a saturação por bases (V = 60-65%) praticamente só foram alcançadas com as maiores doses dos produtos, nesse início de estudo.
Durante a fase de maturação do algodão (março/87), sete meses depois da aplicação inicial, permanecia visível a ação superficial da calagem no aumento do Ca (F = 23,52**), Mg (F = 98,00**) e V% (F = 51,14**), e na diminuição do H + Al (F = 26,09**) (Quadro 1). Na média, no entanto, decresciam os teores de Ca e Mg, refletindo, talvez, um efeito mais transitório da calagem que aquele observado por Silva et al. (1980, 1984). Mais uma vez, parece ter concorrido a ação do gesso que, nessa oportunidade, demonstrou provocar acentuada lixiviação de bases, conforme dados correspondentes às doses extremas dos produtos (Figura 1).
Movimentação de nutrientes e saturação por bases no perfil do solo em função das doses extremas de gesso e de calcário, determinadas sete meses após a primeira aplicação dos produtos (março/87)
Enquanto os teores de Mg (F = 72,12**) e de K (F = 11,98**) da camada arável diminuíam com a gessagem - Quadro 1 e Figura 1 - em profundidade, aumentavam os teores de Ca, Mg e K proporcionalmente às quantidades lixiviadas de S-SO4. Ainda na referida figura, pode-se notar, também, que a percolação para a camada 20-40 cm, do K e do Mg, em especial, foi proporcionalmente menor quando em mistura do gesso com a maior dose de calcário.
Em conseqüência da lixiviação de bases, ocorreu nas parcelas gessadas uma elevação nos valores do V% das análises subsuperficiais, principalmente da camada 20-40 cm (Figura 1). Melhoria semelhante do perfil do solo foi relatada por Ritchey et al. (1980), Quaggio et al. (1982) e Pavan et al. (1984). O efeito da calagem na correção do subsolo, por sua vez, foi menos acentuado, conforme valores médios da saturação por bases (V%), expostos na figura 1.
Ainda em março de 1987, fez-se análise de alumínio trocável. Em função das médias da testemunha sem calcário - Quadro 2 - nota-se que o solo em es-tudo é pobre no elemento, além de apresentar baixos valores de saturação por alumínio, até à profundidade amostrada, de 40-60 cm. A despeito disso, o gesso concorreu para diminuir o valor da saturação por alumínio na camada 20-40 cm (F = 14,90**), enquanto o calcário provocou diminuição do teor de Al (F = 36,09**) e do valor de m (F = 43,46**), na camada superficial.
Decorridos 24 meses do início do estudo (agosto/88), permaneciam praticamente inalterados os efeitos da calagem e da gessagem nas análises superficiais do solo (Quadro 1). Entretanto, como continuavam caindo as concentrações das bases, decidiu-se repetir as operações, nessa ocasião. Após 5 meses da reaplicação dos produtos (janeiro/89), ou seja, durante o pleno desenvolvimento do algodoeiro no terceiro plantio sucessivo, fez-se nova amostragem de solo. Nas últimas colunas do quadro 1, pode-se observar que a ação do calcário e do gesso, na camada arável, manteve-se semelhante à da primeira fase. A calagem continuou proporcionando significativos aumentos nos teores de Ca (F = 5,88**), Mg (F = 183,69**) e no V% (F = 35,32**), além de diminuição no H + Al (F = 33,31**). Prosseguiu a ação positiva da gessagem sobre o Ca (F = 60,98**) e o V% (F = 13,34**), e, negativa, no teor de Mg (F = 68,19**) e de H + Al (F = 5,00**), enquanto os maiores valores do V% se associaram, mais uma vez, à combinação de calcário e gesso nas doses maiores. Nessa oportunidade, a coleta de amostras de terra se estendeu à profundidade de 80 cm. Dados obtidos nas doses extremas dos produtos encontram-se na figura 2.
Movimentação de nutrientes e saturação por bases no perfil do solo em função das doses extremas de gesso e de calcário, determinadas cinco meses após a segunda aplicação dos produtos (janeiro/89)
Pode-se notar, em relação à primeira fase, que houve sensível deslocamento do S-SO4 para camada mais profunda (40-60cm), o que comprova a tendência de distribuição uniforme do nutriente, com o tempo, no perfil do solo (Raij, 1988). Entretanto, é visível, também, que o gesso permaneceu em proporção maior logo abaixo da superfície (Ritchey et al., 1980; Farina & Channon, 1988, e Sumner et al., 1986).
O movimento em forma de pulso, característico da lixiviação provocada pela gessagem (Quaggio et al., 1982), por sua vez, ficou bem nítido para o Mg. Assim, de franco efeito negativo na camada superficial (Quadro 1 e Figura 2), o gesso propiciou um aumento gradativo do Mg até à profundidade de 40-60 cm, seguido de repentina diminuição em seu teor (Figura 2). Desde o trabalho pioneiro de Reeve & Sumner (1972), muitos autores comentam a possibilidade de percolação desse nutriente em função da gessagem, conforme Raij (1988). Nesse aspecto, deve-se ressaltar, ainda, que a lixiviação, no presente caso, foi proporcionalmente menor quando se aplicou gesso misturado à maior dose de calcário, como ocorreu na primeira fase.
Quanto ao cálcio, a nova gessagem continuou concorrendo não só para aumentar sua concentração na superfície, como, também, para proporcionar uma uniforme lixiviação (Figura 2). Em conseqüência das percolações, a saturação por bases (V%) detectada nas primeiras camadas subsuperficiais (20-40 e 40-60 cm), nos tratamentos com gesso, subiu para cerca de 50%, índice superior ao considerado adequado por Silva et al. (1995), trabalhando em condições semelhantes.
A melhoria nas condições de subsuperfície, devida à calagem, embora ainda bem inferior à da gessagem, ganhou destaque com a reaplicação do calcário. Com efeito, após a segunda operação, ocorreu certa percolação do Ca e do Mg até à profundidade de 40-60 cm, com conseqüentes aumentos do V% (Figura 2). Silva et al. (1995), trabalhando em solo semelhante, também observaram lixiviação de bases com a reaplicação de calcário, confirmando resultados obtidos por Silva et al. (1987b).
3.2. Análise foliar
O efeito da calagem sobre as concentrações foliares de Ca e de Mg, no primeiro cultivo de algodão (Quadro 3), não acompanhou precisamente os aumentos detectados nas análises de solo. Aliás, influência significativa só ocorreu para Mg no segundo ano de estudo, com aumentos até de 11% (F = 16,38**) e no quarto ano, quando, após a reaplicação, seu teor foliar cresceu até 22% (F = 60,00**).
Silva et al. (1980, 1984 e 1987b), utilizando doses bem espaçadas de calcário em solos pobres em bases, constataram resultados mais expressivos. Os teores iniciais indicados para as parcelas testemunhas, nos referidos trabalhos, de 17 a 20 g/kg de Ca e de 4,7 a 5,6 g/kg de Mg, são, de certa forma, inferiores aos aqui observados: 31 e 7,4 g/kg, respectivamente, de Ca e de Mg, para o mais baixo nível de calcário (Quadro 3).
O efeito positivo do gesso foi bem mais destacado, a começar pela concentração de enxofre. Nas duas oportunidades em que o nutriente foi avaliado (Quadro 3), ocorreram aumentos no S-foliar de 79% (F = 118,67**) no primeiro cultivo e de 57%, no subseqüente (F = 65,61**), condizentes com o enriquecimento do solo em S-SO4, sobretudo em subsuperfície (Figura 1). A despeito dessas diferenças, não se detectaram sintomas de deficiência de enxofre, como os descritos por Silva et al. (1987a) para esse tipo de solo. Deve-se ressaltar que, mesmo nas parcelas sem gesso, a concentração foliar se manteve ao redor de 3,8 g/kg de S, em decorrência, talvez, da aplicação de 60 kg/ha do nutriente, no adubo de plantio.
Por sua vez, a concentração de Ca aumentou com a gessagem até 24% (F = 23,03**) no primeiro ano, 12% (F = 9,87**) no segundo e 26% (F = 22,99**) no último (Quadro 3). Embora não contenha Mg, o gesso proporcionou aumento em seu teor foliar, no primeiro ano, até 12% (F = 5,32**).
Conforme discutido no capítulo anterior, a lixiviação de bases, provocada pelo uso do gesso, estabeleceu, nas camadas subsuperficiais, expressiva diferença entre esse produto e o calcário, em termos de correção de acidez e de disponibilidade de S, Mg e Ca (Figuras 1 e 2). Tendo em vista a relação apontada entre a gessagem e os teores foliares desses nutrientes, é de supor que o algodoeiro tenha desenvolvido suas raízes mais profundamente nas parcelas com subsolo corrigido, em conseqüência dessa operação.
Embora desde o primeiro ano a gessagem tenha concorrido para a lixiviação do Mg e do K (Figuras 1 e 2), apenas no último cultivo (1989/90) influenciou negativa e significativamente a concentração foliar de K (F = 4,90*). À semelhança do que ocorreu com o enxofre, não foi constatado sintoma algum de deficiência de potássio, como os descritos por Silva et al. (1995) para esse tipo de solo, mesmo nas parcelas onde o K caiu para 15,2 g/kg. Registre-se, também, a não-ocorrência de deficiência de magnésio mesmo quando a concentração esteve ao redor de 5,0 g/kg de Mg. (Quadro 3).
3.3. Produção de algodão com caroço
No primeiro ano de estudo (1986/87), o aumento médio de produção pelo uso de calcário (F = 28,79**) oscilou entre 5 e 8%, enquanto esteve entre 10 e 16% aquele proporcionado pelo gesso (F = 19,88**) (Quadro 4).
Conforme discutido, a calagem mostrou-se eficiente em relação à correção inicial da acidez do solo em superfície (Quadro 1), sem, contudo, ter ocasionado variação nos resultados de análise foliar (Quadro 3). A gessagem, por sua vez, concorreu para aumentar sensivelmente os teores de S, Ca e Mg do limbo foliar (Quadro 3). Como provocou também pronta lixiviação de nutrientes, estabelecendo diferenças sensíveis entre essas práticas, em termos de concentração de Ca, Mg, K, S e V% em camadas subsuperficiais (Figura 2), admite-se que o algodoeiro tenha explorado melhor o subsolo nas parcelas com gesso e, em conseqüência, aumentado a sua produtividade.
Ainda no quadro 4, nota-se que a ação do gesso sobre a produção, no primeiro ano, foi mais destacada quando em mistura com doses altas de calcário. Assim, na calagem máxima, obtiveram-se aumentos de 16, 24 e 26%, respectivamente, devidos às doses de 2, 4 e 6 t/ha do produto, condizentes com os mais altos valores do V% (57, 61 e 59), observados na camada arável do solo durante o pleno desenvolvimento das plantas (Quadro 1). Silva et al. (1995) já indicavam a faixa de 60% de saturação por bases na camada de 0-20 cm do solo, como suficiente para boa produtividade de algodão.
No segundo ano (1987/88), o rendimento mostrou-se pouco influenciado pelos tratamentos, denotando baixo efeito residual mesmo do calcário (Quadro 4). Quaggio et al. (1982) já consideravam a lixi-viação de bases como a principal causa do pouco efeito residual da calagem. No entanto, Silva et al. (1980, 1984), trabalhando com corretivo de granulometria inferior, em ensaio de longa duração, constataram uma correção de acidez do solo mais lenta e um persistente efeito positivo sobre a produção das plantas durante os sucessivos cultivos.
Após a reaplicação dos produtos (1988/89), ficou bem evidenciada tanto a ação do calcário quanto a do gesso (Quadro 4). Assim, nota-se que a calagem propiciou acréscimos médios de produção entre 16 e 19% (F = 3,96), enquanto variavam de 13 a 20% os correspondentes à gessagem (F = 14,89**). As maiores alterações ocorreram, mais uma vez, com a combinação dos produtos, sendo os aumentos, na dose máxima de calcário, de 8,33 e 34%, devidos, respectivamente, às doses de 2, 4 e 6 t/ha de gesso. Nessa fase, demonstrando maior efeito residual, tanto a calagem (F = 42,89**) quanto à gessagem (F = 10,30**) incrementaram significativamente a produtividade no ano posterior à aplicação (1989/90). Gesso associado à máxima calagem, mais uma vez, destacou-se, com acréscimos de 26, 35 e 38%, devidos à reaplicação, respectivamente, das doses 2, 4 e 6 t/ha (Quadro 4). Essa reação favorável das plantas deve estar refletindo, novamente, um aprofundamento do sistema radicular, tendo em vista a surpreendente melhoria do perfil do solo, em termos de correção da acidez, observado em especial nessa segunda fase (Figura 2). Os resultados confirmam as conclusões de Raij et al. (1994) para soja.
Silva et al. (1987b, 1995), com a repetição da calagem em ensaios de longa duração, também observaram estreita relação entre a produção de algodão e a correção da acidez subsuperficial do solo. A importância do Ca do subsolo, no desenvolvimento das raízes do algodoeiro, já havia sido demonstrada em trabalhos clássicos de Rios & Pearson (1964), Howard & Adams (1965) e Adams & Moore (1983). Ritchey et al. (1980), Sousa & Ritchey (1986) e Farina & Channon (1988), por sua vez, apontam para maior possibilidade de aproveitamento de água e de nutrientes das camadas mais profundas, pelas plantas, quando o perfil do solo está adequadamente corrigido.
4. CONCLUSÕES
Dos dois ciclos de aplicação de calcário e de gesso, em ensaio de campo desenvolvido com o algodoeiro, em um latossolo roxo distrófico e ácido, conclui-se:
1. O efeito inicial da calagem sobre a acidez permaneceu restrito à superfície do solo, enquanto o da gessagem se aprofundou até a camada de 20-40 cm, sobretudo quando associada à maior dose de calcário.
2. A reação das plantas à primeira aplicação dos produtos, em termos de rendimento de algodão, foi maior à gessagem do que à calagem; no entanto, o efeito residual das duas práticas mostrou-se baixo no segundo ano de cultivo.
3. Por ter proporcionado gradativa percolação de enxofre e de bases e, simultaneamente, aumentos significativos nos teores foliares de S, Ca e Mg, bem como nos dados de produtividade, admitiu-se que o gesso tenha promovido o aprofundamento de raízes, em conseqüência das melhoria subsuperficial do solo.
4. Com a nova aplicação, o calcário prosseguiu corrigindo mais destacadamente a superfície, enquanto o gesso aprofundou sua influência até a camada de 40-60cm, em especial quando associado à maior dose do corretivo.
5. Em ação sobre a produtividade do algodoeiro, as práticas se igualaram nessa segunda fase, quer em efeito imediato, quer residual, sendo os melhores resultados obtidos com a aplicação combinada dos produtos, mais uma vez.
6. A lixiviação de nutrientes devida ao gesso foi proporcionalmente maior na dose mais baixa de calcário.
7. Com os cultivos, o gesso concorreu para uma gradativa diminuição dos teores foliares de Mg e, em especial, de K. Não se detectou, no entanto, sintoma algum de deficiência de K, Mg e S mesmo quando os índices de análise foliar caíram para teores de 15,2, 5,0 e 3,8 g/kg respectivamente.
(2) Seção de Algodão, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP).
(3) Seção de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, IAC.
(4) Seção de Tecnologia de Fibras, IAC.
(5) Com bolsa de produtividade científica do CNPq.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
16 Jun 1999 -
Data do Fascículo
1997
Histórico
-
Aceito
30 Set 1997 -
Recebido
22 Abr 1997