RESUMO
Objetivo:
Analisar evidências de validade de conteúdo e processos de resposta de um banco de itens para mensuração da vulnerabilidade à inatividade física de adultos.
Método:
Estudo metodológico, com 13 especialistas e 46 representantes da população-alvo. Calculou-se o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) e teste binomial; os dados obtidos pela validade baseada nos processos de respostas foram coletados mediante entrevistas.
Resultados:
Dos 105 itens construídos, 16 foram excluídos (IVC<0,78); 89 itens apresentaram concordância <80% nos critérios psicométricos, sendo modificados. Dos 101 itens que permaneceram (IVC>0,78), 34 foram alterados e 4 eliminados após avaliação das evidências dos processos de resposta. Ao final, permaneceram 97 itens, com IVC global de 0,92, organizados em duas dimensões: Sujeito (IVC=0,91) e Social (IVC=0,94).
Conclusão:
Os itens apresentaram parâmetros e evidências de validade adequados; e podem subsidiar a construção de instrumentos que consideram a vulnerabilidade do sujeito e social na compreensão da inatividade física.
Descritores:
Vulnerabilidade em Saúde; Comportamento Sedentário; Adulto; Psicometria; Estudos de Validação
ABSTRACT
Objective:
To analyze content validity evidence and response processes of a bank of items for measuring vulnerability to physical inactivity in adults.
Method:
Methodological study, with 13 specialists and 46 representatives of the target population. The Content Validity Index (CVI) and binomial test were calculated; data obtained through validity based on response processes were collected through interviews.
Results:
Of the 105 constructed items, 16 were excluded (CVI<0.78); 89 items showed agreement <80% in the psychometric criteria, being modified. Of the 101 items that remained (CVI>0.78), 34 were changed and 4 were deleted after evaluating the evidence of response processes. In the end, 97 items remained, with a global CVI of 0.92, organized into two dimensions: Subject (CVI=0.91) and Social (CVI=0.94).
Conclusion:
The items presented adequate parameters and evidence of validity; and can subsidize the construction of instruments that consider the subject’s and social vulnerability in understanding physical inactivity.
Descriptors:
Health Vulnerability; Sedentary Behavior; Adult; Psychometrics; Validation Study
RESUMEN
Objetivo:
Analizar evidencias de validez de contenido y procesos de respuesta de un banco de ítems para medición de vulnerabilidad al sedentarismo de adultos.
Método:
Estudio metodológico, con 13 especialistas y 46 representantes de la población objetivo. Calculado Índice de Validez de Contenido (IVC) y prueba binomial; datos obtenidos por validez basada en procesos de respuestas recolectados mediante entrevistas.
Resultados:
De los 105 ítems construidos, 16 fueron excluidos (IVC<0,78); 89 ítems presentaron concordancia <80% en los criterios psicométricos, siendo modificados. De los 101 ítems que permanecieron (IVC>0,78), 34 fueron alterados y 4 eliminados pos evaluación de evidencias de procesos de respuesta. Al fin, permanecieron 97 ítems, con IVC global de 0,92, organizados en dos dimensiones: Sujeto (IVC=0,91) y Social (IVC=0,94).
Conclusión:
Los ítems presentaron parámetros y evidencias de validez adecuados; y pueden subsidiar la construcción de instrumentos que consideran la vulnerabilidad del sujeto y social en la comprensión del sedentarismo.
Descriptores:
Vulnerabilidad en Salud; Conducta Sedentaria; Adulto; Psicometría; Estudio de Validación
INTRODUÇÃO
Um dos elementos de saúde imprescindível para o desenvolvimento saudável e qualidade de vida das pessoas é a atividade física(11 Salvo D, Garcia L, Reis RS, Stankov I, Goel R, Schipperijn J, et al. Physical activity promotion and the United Nations sustainable development goals: building synergies to maximize impact. J Phys Activity Health. 2021;1(aop):1-18. https://doi.org/10.1123/jpah.2021-0413
https://doi.org/10.1123/jpah.2021-0413...
), contudo constata-se a elevada prevalência de inatividade física, aqui definida como a condição de não atender às recomendações de atividade física de intensidade moderada a vigorosa(22 Sallis JF, Bull F, Guthold R, Heath GW, Inoue S, Kelly P, et al. Progress in physical activity over the Olympic quadrennium. Lancet. 2016;388(10051):1325-36. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30581-5
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30...
, 33 Silva DRPD, Werneck AO, Malta DC, Souza Júnior PRBD, Azevedo LO, Barros MBDA, et al. Mudanças na prevalência de inatividade física e comportamento sedentário durante a pandemia da COVID-19: um inquérito com 39.693 adultos brasileiros. Cad Saúde Pública. 2021;37. https://doi.org/10.1590/0102-311X00221920
https://doi.org/10.1590/0102-311X0022192...
). Em razão de seu impacto individual e social(44 Kohl 3rd HW, Craig CL, Lambert EV, Inoue S, Alkandari JR, Leetongin G, et al. The pandemic of physical inactivity: global action for public health. Lancet. 2012;9838(380). https://doi.org/10.1016/S0140-6736(12)60898-8
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(12)60...
, 55 World Health Organization (WHO). Guidelines on physical activity and sedentary behaviour: at a glance [Internet]. 2020 [cited 2021 Feb 11]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240015128
https://www.who.int/publications/i/item/...
), esforços têm sido empregados para inserir a prática regular de atividades físicas no cotidiano das pessoas no mundo(66 World Health Organization (WHO). Global action plan on physical activity 2018–2030: more active people for a healthier world[Internet]. 2018 [cited 2019 Jul 23]. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272721/WHO-NMH-PND-18.5-por.pdf?ua=1
https://apps.who.int/iris/bitstream/hand...
) e no Brasil(77 Ministério da Saúde (BR). Guia de Atividade Física para a População Brasileira Brasília: Ministério da Saúde; 2021.).
Sem desconsiderar aspectos individuais, como crenças, afetos e sentimentos, as desigualdades sociais têm sido apontadas como fortes influenciadoras da adesão à prática de atividade física, especialmente no lazer. Alguns grupos menos privilegiados social e economicamente tendem a ficar em notável desvantagem quanto às possibilidades e opções de prática regular de atividades físicas(88 Knuth AG, Antunes PC. Práticas corporais, atividades físicas demarcadas como privilégio e não escolha: análise à luz das desigualdades brasileiras. Saúde Soc. 2021;30:e200363. https://doi.org/10.1590/S0104-12902021200363
https://doi.org/10.1590/S0104-1290202120...
, 99 Crochemore-Silva I, Knuth AG, Wendt A, Nunes B P, Hallal PC, Santos, L P, et al. Prática de atividade física em meio à pandemia da COVID-19: estudo de base populacional em cidade do Sul do Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 2020;25:4249-58. https://doi.org/10.1590/1413-812320202511.29072020
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251...
). Assim, analisar os principais fatores de vulnerabilidade que contribuem para o desfecho “inatividade física” é meio promissor para o planejamento e implementação de estratégias de promoção da atividade física para saúde de populações diversas(1010 Oviedo RAM, Czeresnia D. O conceito de vulnerabilidade e seu caráter biossocial. Interface Comun Saúde Educ. 2015;19(53):237-50. https://doi.org/10.1590/1807-57622014.0436
https://doi.org/10.1590/1807-57622014.04...
, 1111 Florêncio R, Moreira T. Modelo de vulnerabilidade em saúde: esclarecimento conceitual na perspectiva do sujeito-social. Acta Paul Enferm. 2021;34(3). https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO00353
https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO0...
).
A abordagem da vulnerabilidade tem sido utilizada para descobrir de que maneira a interação entre aspectos individuais e dinâmicas culturais e sociais pode aumentar a suscetibilidade das pessoas a danos, ameaças ou perigos(1010 Oviedo RAM, Czeresnia D. O conceito de vulnerabilidade e seu caráter biossocial. Interface Comun Saúde Educ. 2015;19(53):237-50. https://doi.org/10.1590/1807-57622014.0436
https://doi.org/10.1590/1807-57622014.04...
). Nesse sentido, a vulnerabilidade à inatividade física é compreendida como condição gerada por meio da interação entre elementos de múltiplas relações dinâmicas do sujeito em seu contexto social, o que produz maior precariedade e exposição a fatores desfavorecedores da atividade física para saúde, sem meios de enfrentamento(1212 Pereira DS, Florêncio, RS, Barbosa Filho VC, Moreira TMM. Vulnerabilidade à Inatividade Física: validação de conteúdo dos marcadores para adultos. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02076. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR020766
https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR...
).
A Dimensão Sujeito da vulnerabilidade à inatividade física evidencia o quanto aspectos pessoais podem aumentar as chances de inatividade física, compreendido aqui o sujeito como produtor e como produto das relações de poder existentes na sociedade. A Dimensão Social reflete a compreensão da inatividade física com base nos múltiplos elementos coletivos e contextuais desse sujeito(1111 Florêncio R, Moreira T. Modelo de vulnerabilidade em saúde: esclarecimento conceitual na perspectiva do sujeito-social. Acta Paul Enferm. 2021;34(3). https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO00353
https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO0...
, 1212 Pereira DS, Florêncio, RS, Barbosa Filho VC, Moreira TMM. Vulnerabilidade à Inatividade Física: validação de conteúdo dos marcadores para adultos. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02076. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR020766
https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR...
).
Atualmente existem instrumentos de medida que avaliam aspectos da (in)atividade física, como o nível de atividade física(1313 Lima MFCD, Lopes PRNR, Silva RG, Faria RCD, Amorim PRDS, Marins JCB. Questionários para avaliação do nível de atividade física habitual em adolescentes brasileiros: uma revisão sistemática. Rev Bras Ciênc Esporte. 2019;41(3):233-40. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2018.03.019
https://doi.org/10.1016/j.rbce.2018.03.0...
, 1414 Matsudo S, Araújo T, Marsudo V, Andrade D, Andrade E, Braggion G. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Rev Bras Ativ Fís Saúde[Internet]. 2001[cited 2022 Aug 19];6(2):5-18 Available from: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-314655
https://pesquisa.bvsalud.org/portal/reso...
) e percepção de barreiras para a prática(1515 Martins MO, Petroski EL. Mensuração da percepção de barreiras para a prática de atividades físicas: uma proposta de instrumento. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum [Internet]. 2000[cited 2022 Aug 19];2(1). Available from: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-477349
https://pesquisa.bvsalud.org/portal/reso...
), entretanto não compreendem esse construto na sua inteireza e complexidade. A maioria avalia apenas alguns elementos na perspectiva individual, sem considerar as subjetividades e a problematização das iniquidades em saúde que envolvem alguns grupos populacionais. Assim, ainda há necessidade de instrumentos, com evidências de validade, que viabilizem dados suficientes e confiáveis para compreensão de atributos contemporâneos, individuais, coletivos e contextuais, de forma articulada — por exemplo, aqueles compreendidos na perspectiva das vulnerabilidades do sujeito e social.
Dessa perspectiva, um banco de itens, ou seja, um conjunto de questões avaliativas, com evidências de validade de seu conteúdo por especialistas e abordagem de aspectos de vulnerabilidade no contexto da inatividade física, possibilita o desenvolvimento de instrumentos de medida, os quais auxiliam na compreensão do nível de suscetibilidade à inatividade física e na identificação de fatores pessoais e sociais influenciadores desse desfecho. Com esses resultados, podem ser propostas estratégias de intervenção em saúde específicas, conforme a necessidade identificada.
OBJETIVO
Analisar evidências de validade de conteúdo e processos de resposta de um banco de itens para mensuração da vulnerabilidade à inatividade física de adultos.
MÉTODOS
Aspectos éticos
Este estudo foi aprovado por Comitê de Ética da Universidade Estadual do Ceará e desenvolvido conforme os preceitos éticos contidos na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil(1616 Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução nº 466/2012: Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos [Internet]. 2012 [cited 2019 Mar 24] Available from: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/...
). O Consentimento Livre e Esclarecido foi obtido de todos os indivíduos envolvidos no estudo, de forma escrita (população-alvo) e on-line (especialistas).
Desenho, período e local do estudo
Estudo metodológico, fundamentado no primeiro dos três polos da psicometria para desenvolvimento e validação de instrumentos (teórico, empírico e analítico)(1717 Pasquali L. Instrumentação psicológica-fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010.). Refere-se, portanto, ao polo teórico, que contempla as fases de construção e evidências de validade de conteúdo e processos de resposta: 1) construção do banco de itens com base nas definições constitutivas e operacionais do construto estudado; 2) busca de fontes de evidências de validade do conteúdo dos itens segundo especialistas; 3) processos de resposta.
A validação de conteúdo deu-se em ambiente virtual, abrangendo sete estados do Brasil. A validade baseada nos processos de resposta aconteceu em setembro de 2021, na cidade de Juazeiro do Norte, localizada na área central da Região Metropolitana do Cariri, no sul do estado do Ceará.
População ou amostra; critérios de inclusão e exclusão
Para a etapa da validação de conteúdo, foram convidados 25 especialistas(1717 Pasquali L. Instrumentação psicológica-fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010.), com formação acadêmica, atuação profissional e produção científica e condizentes com a temática estudada, além de conhecimento sobre estudos metodológicos. Para a fase de evidências baseadas nos processos de resposta, considerou-se a população-alvo deste estudo, a saber, adultos, com idade entre 18 a 59 anos, conforme apontado em políticas públicas de promoção da atividade física no âmbito nacional(77 Ministério da Saúde (BR). Guia de Atividade Física para a População Brasileira Brasília: Ministério da Saúde; 2021.). Dessa forma, selecionou-se amostra representante de todos os estratos dessa população: 46 adultos, de ambos os sexos, residentes no local de coleta há pelo menos seis meses. Excluíram-se adultos institucionalizados, incapazes de se comunicar e que desistiram de participar da pesquisa.
Protocolo do estudo
A definição do construto “Vulnerabilidade à Inatividade Física” e a elucidação de sua dimensionalidade, elementos constitutivos, bem como definições constitutivas e operacionais dos seus marcadores deram-se mediante revisão de literatura, reflexão crítica dos autores e evidências de validade de seu conteúdo por especialistas(1212 Pereira DS, Florêncio, RS, Barbosa Filho VC, Moreira TMM. Vulnerabilidade à Inatividade Física: validação de conteúdo dos marcadores para adultos. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02076. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR020766
https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR...
). Para definição dos comportamentos e atitudes pelos quais tal construto se expressa, foi elaborado um banco de itens, apoiando-se em critérios psicométricos recomendados por Pasquali(1717 Pasquali L. Instrumentação psicológica-fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010.): relevância, precisão, objetividade, simplicidade, clareza, variedade, modalidade, tipicidade, credibilidade, amplitude e equilíbrio.
Na validação de conteúdo, utilizaram-se os seguintes critérios para seleção de especialistas: formação acadêmica, conhecimento sobre estudos metodológicos, produção científica e atuação profissional. A seleção ocorreu por meio de consulta à Plataforma Lattes e banco de dados nacional da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e os especialistas foram contatados e convidados a participar do estudo por e-mail, cabendo também indicação de outros profissionais com perfil semelhante.
Após aceitação, enviou-se e-mail com Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), instrumento de avaliação elaborado pela autora e instruções de preenchimento. Optou-se por desenvolver esse instrumento por causa da quantidade e especificidade dos itens a serem avaliados e dos critérios psicométricos estabelecidos. Trata-se de uma planilha criada no programa Microsoft Excel®, com os itens e critérios considerados na avaliação, além de espaços para inclusão de possíveis sugestões do especialista.
Os 25 especialistas convidados tiveram de 15 a 20 dias para julgar a relevância e a pertinência dos itens com relação ao construto estudado. Essa avaliação se voltou à objetividade, simplicidade, clareza, precisão e relevância dos itens, analisados em escala ordinal de quatro pontos: 1) não indicativo; 2) pouco indicativo; 3) indicativo; 4) muito indicativo. Em seguida, analisaram-se os dados mediante o cálculo do Índice de Validade de Conteúdo (IVC) e a concordância sobre os critérios psicométricos(1717 Pasquali L. Instrumentação psicológica-fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010.).
Em seguida, buscou-se analisar a compreensão dos itens para todos os segmentos da população para a qual foram desenvolvidos. Dessa forma, procedeu-se aos processos de respostas, como evidência que reúne argumentos denotando as consistências entre as respostas e os processos para os quais são estabelecidas as tarefas propostas(1818 Cunha NB, Santos AAA, Oliveira KL. Validity evidence based on response process in the Cloze test. Fractal Rev Psicol. 2018;30(3):330-7. https://doi.org/10.22409/1984-0292/v30i3/5817
https://doi.org/10.22409/1984-0292/v30i3...
). O conjunto de itens foi aplicado no mês de setembro de 2021, em pessoas dos estratos mais baixos aos mais altos de escolaridade (considerando anos de estudo e série) da população-alvo.
Os 46 adultos foram selecionados de modo aleatório e convidados a participar da pesquisa de maneira voluntária. Os itens foram avaliados quanto à compreensibilidade de palavras, termos, significado e formato. A avaliação dos itens nos processos de resposta foi feita na forma de entrevista individual, e a pesquisadora observou a reação dos participantes a cada um dos itens, identificando dificuldades e fragilidades. Cada sugestão dada sobre a eliminação de item ou melhor forma de sua apresentação foi registrada por escrito para posterior análise e alteração.
Ressalta-se que informações sociais (idade, gênero, cidade/estado), acadêmicas (escolaridade, formação) e profissionais (exerce atividade remunerada, tempo de profissão, local de trabalho) foram coletadas dos especialistas e público-alvo.
A fim de complementar a análise, investigaram-se evidências baseadas nos processos de resposta, para compreender como as pessoas interpretavam e interagiam com os itens e, assim, identificar a possibilidade de o instrumento ser aceito e utilizado como ferramenta de apoio para tomada de decisão.
Análise dos resultados e estatística
Para análise dos dados, foi calculado o IVC pela fórmula: número de respostas “3” e “4” dividido pelo número total de respostas(1919 Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. Porto Alegre: Artmed; 2011.). Aquelas que receberam pontuação 1 ou 2 foram revisadas ou eliminadas. Considerou-se como excelente o IVC dos itens > 0,80 e média de IVC total e global > 0,90. As variáveis foram categorizadas para realização do teste exato de distribuição binomial para pequenas amostras, considerando nível de significância de 5% e proporção de 0,80 de concordância para estimar confiabilidade estatística dos IVCs.
Os critérios psicométricos foram avaliados pela concordância mínima de 80% entre especialistas (Tabela 1), além de aspectos culturais e relativos da validade de conteúdo(2020 Cohen RJ, Swerdlik ME, Sturman ED. Testagem e Avaliação Psicológica: introdução a testes e medidas. São Paulo: Editora AMGH; 2014., 2121 Pasquali L. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Editora Vozes; 2017.).
Quanto às evidências baseadas nos processos de respostas, cada item foi lido pela pesquisadora durante as entrevistas, para que os participantes informassem o seu entendimento do que foi perguntado e, assim, prosseguissem com a resposta e possíveis sugestões. Foi feito o registro por escrito de todas as sugestões dadas pelos participantes sobre a eliminação ou melhor forma de apresentação dos itens. Em caso de dúvidas recorrentes, o item foi reformulado ou eliminado(1717 Pasquali L. Instrumentação psicológica-fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010.).
RESULTADOS
A construção dos itens considerou os critérios pré-definidos e resultou em 105 no total (56 da Dimensão Sujeito e 49 da Dimensão Social). Para validação de conteúdo deles, foram convidados 25 especialistas. Destes, 20 aceitaram participar do estudo, e 13 retornaram o instrumento respondido no tempo solicitado. Os 13 especialistas que se configuraram como juízes eram profissionais da área da saúde com atuação profissional comprovada, incluindo profissionais de educação física e enfermeiros; pesquisadores com publicações sobre a temática; e provenientes de sete estados brasileiros (Ceará, Pernambuco, Amazonas, Piauí, Bahia, Rio de Janeiro e Santa Catarina).
Ao todo, 16 itens foram excluídos por não serem considerados representativos do traço latente estudado, obtendo IVC < 0,78. Dos 89 itens que permaneceram, aqueles com concordância entre especialistas ≤ 80% nos critérios psicométricos foram modificados. Tais modificações incluíram a substituição de termos e palavras para conferir maior clareza e simplicidade. Para garantir maior objetividade, precisão e relevância, houve também a aglutinação de itens para formar um só, e a separação de itens, para formar mais de um, resultando no total de 101 ao final do processo.
Tem-se como exemplo o item 1 (Dimensão Sujeito), que foi alterado de “Sua idade está incluída em qual faixa etária?”; dos itens 26 e 27 (Dimensão Sujeito), que foram modificados de “O quanto você se sente capaz de fazer exercícios na presença de sensações físicas desfavoráveis, como cansaço, dores ou desconforto?”; e do item 29 (Dimensão Social), modificado de “No bairro onde você mora e nas imediações, existe pouca disponibilidade de serviços públicos (unidades/postos de saúde, correios, delegacia, aeroporto)?” e “No bairro onde você mora e nas imediações, existem poucos estabelecimentos que prestam à comunidade, serviços essenciais e não essenciais (centros comerciais, mercados, bancos, restaurantes, farmácia, templos religiosos, centros de beleza, escolas e similares)?”.
Conforme Quadros 1 2, após essas análises, permaneceram 101 itens, com 84 modificados em razão do julgamento dos critérios psicométricos. Destes, 50 itens foram enquadrados na Dimensão Sujeito; e 51, na Dimensão Social. A análise do teste binomial mostra que nenhum dos itens apresentou discordâncias significantes entre os juízes. O IVC total foi 0,91 na dimensão sujeito; e 0,94, na dimensão social. Já o IVC global, que considera todo o conjunto de perguntas, foi de 0,92.
Os 101 itens que tiveram seu conteúdo validado pelos especialistas foram direcionados para a validade baseada nos processos de resposta. Essa fase contou com a participação de 46 adultos, com média de idade de 37,32 (+ 10,05) anos; e idade mínima e máxima de 18 e 58 anos, respectivamente. Participaram pessoas de todos os estratos de escolaridade: 7 (15,2%) eram apenas alfabetizadas; 7 (15,2%) tinham apenas o ensino fundamental; 15 (32,6%), o ensino médio; 10 (21,7%), o ensino superior; e 7 (15,2%), a pós-graduação.
Incluíram-se pessoas com profissões/ocupações diversas, como professores, advogados, enfermeiros, agentes de saúde, trabalhadores do comércio, estudantes, diaristas, agricultores, pintores, motoristas, cuidadores de idosos e crianças, além de pessoas em situação de desemprego. Ao todo, a maioria era do sexo feminino (58,7%), de cor parda (56,5%), solteira (43,5%), tinha renda de até um salário mínimo (60,9%) e praticava atividade física no lazer (56,5%).
A avaliação dos itens baseados nos processos de resposta, na forma de entrevista individual, revelou que 35 deles necessitavam de alterações para se tornarem mais compreensíveis, especialmente para os estratos mais baixos da população (Quadro 3). Em alguns itens, foram feitas poucas alterações de palavras ou termos (7, 21, 22, 23, 27, 34, 37, 44, 46 – Dimensão Sujeito; 1, 4, 5, 6, 20, 26, 27, 30, 31, 32 – Dimensão Social); em outros, a estrutura da pergunta foi alterada (6, 9, 10, 41, 42 – Dimensão Sujeito; 18, 23, 25, 47, 48, 49 – Dimensão Social).
Itens da avaliação da vulnerabilidade à inatividade física alterados após avaliação dos processos de resposta: Dimensão Sujeito e Social
Além disso, alguns itens tiveram de ser eliminados pela inadequação e falta de compreensibilidade da população, mesmo após alguns ajustes e explicações (50 – Dimensão Sujeito; 36 – Dimensão Social) ou por terem sido considerados redundantes diante do conjunto dos itens (38 – Dimensão Sujeito; 33 Dimensão Social).
Acho que essas duas perguntas [38 e 39] se referem à mesma coisa. Porque ter uma lesão grave já é uma experiência negativa. Poderia deixar só a 39, porque ela já inclui todas as possibilidades. (Pessoa 39)
Você pergunta se minha casa fica perto desses locais [33], mas já perguntou antes se no meu bairro tinha praça, parque, academia, quadra [30, 31, 32] […] Eu acho que é a mesma resposta, porque, se tem no meu bairro, então é perto da minha casa. (Pessoa 32)
Estrutura malconservada [36], depende das pessoas, né? Tem época que sim, tem época que não. Depende muito [...] Tem coisa bonita e tem coisa feia [...] E essa arquitetura, o que é? São aqueles prédios altos? (Pessoa 03)
Não entendi o que seriam essas dificuldades de aprendizagem. [50] Aprender o quê? (Pessoa 08)
Algumas pessoas podem não compreender o significado do termo [50]. Além disso, essa pergunta não é capaz de indicar a presença de uma diminuição da cognição ou deficiência intelectual. (Pessoa 45)
De modo geral, o conjunto de itens apresenta questões importantes para compreender as vulnerabilidades relacionadas à inatividade física. Algumas bem estabelecidas na literatura e outras ainda não, mas que precisam de visibilidade. (Pessoa 42)
Ao final, todo o processo resultou na permanência de 97 itens (com 48 na Dimensão Sujeito e 49 na Dimensão Social), com evidências de validação de conteúdo e baseadas nos processos de respostas. Portanto, estes foram considerados válidos para a representação do traço latente estudado.
DISCUSSÃO
O presente estudo apresenta um banco com 97 itens para mensuração da vulnerabilidade à inatividade física de adultos, organizados em duas dimensões (Sujeito e Social), com parâmetros e evidências de validade adequados.
De modo geral, o processo de validação é um julgamento sobre a congruência entre o traço latente e sua representação física. Refere-se a uma medida baseada na avaliação dos assuntos e do conteúdo abordado em cada item de um instrumento(2020 Cohen RJ, Swerdlik ME, Sturman ED. Testagem e Avaliação Psicológica: introdução a testes e medidas. São Paulo: Editora AMGH; 2014.). Este, quando devidamente desenvolvido, pode influenciar decisões sobre cuidado, intervenções e políticas. Para tanto, vale-se da literatura pertinente, da experiência do pesquisador, opinião de especialistas na área, análise de conteúdo, estado da arte e características do contexto(2222 Schlindwein-zanini R, Cruz RM. Psicometria e Neuropsicologia: interrelações na construção e adaptação de instrumentos de medida. Psicol Argumento. 2019;36(91):49-69. https://doi.org/10.7213/psicolargum.36.91.AO04
https://doi.org/10.7213/psicolargum.36.9...
).
A construção desses itens avaliados baseou-se na reflexão teórica sobre questões de vulnerabilidades e iniquidades em saúde e na elucidação da dimensionalidade e dos elementos constitutivos da vulnerabilidade à inatividade física(1212 Pereira DS, Florêncio, RS, Barbosa Filho VC, Moreira TMM. Vulnerabilidade à Inatividade Física: validação de conteúdo dos marcadores para adultos. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02076. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR020766
https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR...
). Tais reflexões foram ancoradas em evidências de estudos nacionais e internacionais, obtidas por meio de uma revisão de escopo acerca de fatores intervenientes na inatividade física, cujo protocolo encontra-se registrado em plataforma aberta(2323 Pereira DS, Mattos SM, Azevedo SGV, Florêncio RS, Moreira TMM. Preditores de inatividade física em adultos: scoping review. OSF. 2021. https://doi.org/10.17605/OSF.IO/KSA98
https://doi.org/10.17605/OSF.IO/KSA98...
). Esse processo foi complementado pelos saberes de especialistas atuantes em diferentes regiões, para assegurar a abrangência de aspectos e linguagem que considerem a diversidade cultural brasileira. Estes avaliaram a representatividade do traço latente estudado e produziram evidências de validade de seu conteúdo.
Nesse processo, alguns itens foram excluídos por não terem obtido consenso entre os especialistas no que se refere a sua representatividade no traço latente. Quanto ao julgamento dos critérios psicométricos, a maioria dos itens que permaneceram sofreu alterações para atender aos critérios a que foram submetidos (objetividade, simplicidade, clareza, precisão, relevância).
Notou-se o reflexo do paradigma comportamental, pois grande parte dos itens validados se refere a aspectos individuais, que tocam fatores biológicos, psicológicos e cognitivos. Contudo, emergiu também uma compreensão social do fenômeno, pois alguns itens sobre o contexto econômico, político e ambiental também foram validados.
Esse fato vincula-se às discussões que centralizam novos contextos de pensamentos apoiados em paradigmas sociais presentes na conjuntura atual. Muito se tem discutido acerca da influência das desigualdades sociais na adesão às práticas corporais e atividades físicas, em cujo cenário alguns grupos populacionais estão em notável desvantagem(88 Knuth AG, Antunes PC. Práticas corporais, atividades físicas demarcadas como privilégio e não escolha: análise à luz das desigualdades brasileiras. Saúde Soc. 2021;30:e200363. https://doi.org/10.1590/S0104-12902021200363
https://doi.org/10.1590/S0104-1290202120...
). Tais desigualdades se estabelecem em vários indicadores de saúde, principalmente quando surgem inovações em ações de promoção de atividades físicas de lazer, as quais tendem a alcançar os mais privilegiados social e economicamente(99 Crochemore-Silva I, Knuth AG, Wendt A, Nunes B P, Hallal PC, Santos, L P, et al. Prática de atividade física em meio à pandemia da COVID-19: estudo de base populacional em cidade do Sul do Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 2020;25:4249-58. https://doi.org/10.1590/1413-812320202511.29072020
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251...
).
Vários são os fatores que influenciam a inatividade física, como idade, sexo, raça/cor(2424 Gichu M, Asiki G, Juma P, Kibachio J, Kyobutungi C, Ogola E. Prevalence and predictors of physical inactivity levels among Kenyan adults (18–69 years): an analysis of STEPS survey 2015. BMC Public Health. 2018;18(3):1-7. https://doi.org/10.1186/s12889-018-6059-4
https://doi.org/10.1186/s12889-018-6059-...
), ambiente físico, apoio social, situação física(2525 Vieira VR, Silva JVP. Barreiras à prática de atividades físicas no lazer de brasileiros: revisão sistematizada. Pensar Prát. 2019;22. https://doi.org/10.5216/rpp.v22.54448
https://doi.org/10.5216/rpp.v22.54448...
), motivação pessoal(2626 Martin CG, Pomares ML, Muratore CM, Apoloni S, Avila PJ, Rodriguez M. Level of Physical Activity and Perceived Barriers to Exercise in Adults with Type 2 Diabetes in Argentina. Diabetes. 2019;68(Suppl-1):2268-PUB. https://doi.org/10.2337/db19-2268-PUB
https://doi.org/10.2337/db19-2268-PUB...
), comportamentos de risco(2727 Monteiro LZ, Oliveira DMSD, Parente MVSS, Silva EDO, Varela AR. Perfil alimentar e inatividade física em mulheres universitárias na cidade de Brasília. Esc Anna Nery. 2021;25. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0484
https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-20...
), além fatores como imigração(2828 Salas XR, Raine K, Vallianatos H, Spence JC. Socio-cultural determinants of physical activity among Latin American immigrant women in Alberta, Canada. J Int Migrat Integrat. 2015;17(4):1231-50. https://doi.org/10.1007/s12134-015-0460-y
https://doi.org/10.1007/s12134-015-0460-...
), cultura(2929 Ironside A, Ferguson LJ, Katapally TR, Foulds HJ. Cultural connectedness as a determinant of physical activity among Indigenous adults in Saskatchewan. App Physiol, Nutrit Metabol. 2020;45(9):937-47. https://doi.org/10.1139/apnm-2019-0793
https://doi.org/10.1139/apnm-2019-0793...
), violência e uso abusivo de álcool(3030 Zhang J, O’Leary A, Jemmott III JB, Icard LD, Rutledge SE. Syndemic conditions predict lower levels of physical activity among African American men who have sex with men: a prospective survey study. PLoS One. 2019;14(3):e0213439. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0213439
https://doi.org/10.1371/journal.pone.021...
), situação de trabalho e isolamento social(33 Silva DRPD, Werneck AO, Malta DC, Souza Júnior PRBD, Azevedo LO, Barros MBDA, et al. Mudanças na prevalência de inatividade física e comportamento sedentário durante a pandemia da COVID-19: um inquérito com 39.693 adultos brasileiros. Cad Saúde Pública. 2021;37. https://doi.org/10.1590/0102-311X00221920
https://doi.org/10.1590/0102-311X0022192...
).
Diante dessas evidências, os itens apresentados contemplam uma gama dessas variáveis e podem ser compreendidos em formato bidimensional (Sujeito e Social), ao se reconhecer o caráter dinâmico e inter-relacional dos elementos constituintes da vulnerabilidade do sujeito e da vulnerabilidade social. A Dimensão Sujeito se refere aos elementos formados com base em relações intersubjetivas, em que pesa a liberdade do tensionamento entre o saber e o poder, a qual possibilita a recriação de si. A Dimensão Social se refere ao que pressupõem os distintos meios de interação do sujeito com os outros, baseando-se no cenário em que é possível o reconhecimento e a expressão do ser(1111 Florêncio R, Moreira T. Modelo de vulnerabilidade em saúde: esclarecimento conceitual na perspectiva do sujeito-social. Acta Paul Enferm. 2021;34(3). https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO00353
https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO0...
).
Dentre as várias abordagens existentes(3131 Enang I, Murray J, Dougall N, Wooff A, Heyman I, Aston E. Defining and assessing vulnerability within law enforcement and public health organisations: a scoping review. Health Just. 2019;7(1):1-13. https://doi.org/10.1186/s40352-019-0083-z
https://doi.org/10.1186/s40352-019-0083-...
, 3232 Padoveze MC, Juskevicius LF, Santos TRd, Nichiata LI, Ciosak SI, Bertolozzi MR. The concept of vulnerability applied to Healthcare-associated Infections. Rev Bras Enferm. 2019;72:299-303. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0584
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
), a análise da vulnerabilidade se refere ao modo pelo qual os aspectos individuais interagem com dinâmicas culturais e sociais para produzir condições que aumentam as chances de concretização de ameaças e perigos(1010 Oviedo RAM, Czeresnia D. O conceito de vulnerabilidade e seu caráter biossocial. Interface Comun Saúde Educ. 2015;19(53):237-50. https://doi.org/10.1590/1807-57622014.0436
https://doi.org/10.1590/1807-57622014.04...
). Ao considerar o impacto negativo da inatividade física na saúde das populações(44 Kohl 3rd HW, Craig CL, Lambert EV, Inoue S, Alkandari JR, Leetongin G, et al. The pandemic of physical inactivity: global action for public health. Lancet. 2012;9838(380). https://doi.org/10.1016/S0140-6736(12)60898-8
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(12)60...
, 55 World Health Organization (WHO). Guidelines on physical activity and sedentary behaviour: at a glance [Internet]. 2020 [cited 2021 Feb 11]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240015128
https://www.who.int/publications/i/item/...
), pretende-se compreender como a conexão entre os diversos aspectos pessoais e contextuais pode aumentar as chances de inatividade física em nível individual e coletivo.
Diante da complexidade de interações envolvendo a inatividade física, é preciso que, além de aspectos comportamentais, sejam considerados também aspectos de vulnerabilidade, porquanto se reconhece que determinadas condições individuais, ambientais e sociais desfavoráveis, aliadas à fragilidade no enfrentamento dessas dificuldades, limitam as escolhas das pessoas e as tornam mais suscetíveis à inatividade física(1212 Pereira DS, Florêncio, RS, Barbosa Filho VC, Moreira TMM. Vulnerabilidade à Inatividade Física: validação de conteúdo dos marcadores para adultos. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02076. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR020766
https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR...
).
Tais condições de vulnerabilidade precisam ser consideradas na avaliação da situação das populações para o efetivo planejamento e desenvolvimento de ações de enfrentamento da inatividade física. Isso se aplica, especialmente, às estratégias multiprofissionais desenvolvidas nos serviços de saúde, para populações com ou sem doenças crônicas não transmissíveis(3333 Piza TFDT, Hodniki PP, Santos SAD, Torquato MTDCG, Calixto AAS, Garcia RAC, Teixeira CRDS. Atividade física de lazer de pessoas com e sem doenças crônicas não transmissíveis. Rev Bras Enferm. 2020;73. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0615
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0...
). Além disso, tais elementos auxiliam na melhor compreensibilidade, revisão, aplicação e aprimoramento do diagnóstico de enfermagem “Estilo de Vida Sedentário”, incluído na North American Nursing Diagnosis Association, em 2004(3434 North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2021-2023. 12. ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2021.).
As evidências de validade baseadas nos processos de resposta puderam assegurar a compreensibilidade dos itens para os estratos mais baixos da população e evitar linguagem inadequada. Dos itens alterados, a maioria passou por substituição de palavras ou termos. Alguns tiveram sua estrutura modificada para apresentar uma ideia com expressões mais simples e inequívocas.
Apesar de ajustes e explicações, alguns itens tiveram de ser eliminados nessa fase. Conforme evidenciado nas falas dos participantes, a falta de compreensibilidade dos estratos mais baixos deu-se pelo desconhecimento de conceitos e aspectos complexos, como “arquitetura” e “aprendizagem”. Todavia, não houve prejuízos no conteúdo do item, pois tais aspectos foram avaliados de forma generalista em outros itens do conjunto, sem comprometer o critério de amplitude. O mesmo ocorreu com os itens considerados redundantes perante o conjunto deles, ou seja, com aqueles que tinham aspectos já contemplados em outros itens. De modo geral, as alterações realizadas foram essenciais para evitar vieses de medida e para tornar o conjunto de itens claro e de fácil entendimento, sem prejuízos das equivalências idiomáticas, culturais e semânticas.
Salienta-se que todo esse processo avaliativo perpassa o desenvolvimento de instrumentos de medida válidos e confiáveis. Instrumentos validados são importantes não apenas para avaliação em saúde, mas para a pesquisa científica e prática profissional nas mais distintas áreas de conhecimento. Nesse sentido, os estudos de validação auxiliam o pesquisador e profissional na escolha da melhor ferramenta que assegure a qualidade dos resultados obtidos(3535 Souza AC, Alexandre NMC, Guirardello EB. Psychometric properties in instruments evaluation of reliability and validity. Epidemiol Serv Saúde. 2017;26(3):649-59. https://doi.org/10.5123/S1679-49742017000300022
https://doi.org/10.5123/S1679-4974201700...
).
Limitações do estudo
Este estudo apresenta como limitação a análise generalizada dos resultados, ocasionada pelo elevado número de itens e especificidade dos critérios psicométricos avaliados.
Contribuições para a Área
Os aspectos abordados neste estudo, além de auxiliarem no aprimoramento do diagnóstico de enfermagem “Estilo de Vida Sedentário”, servem de base para estudos que objetivem a construção de instrumentos de medida validados, os quais podem fornecer indicadores importantes para o cuidado de pacientes conforme suas necessidades. Além disso, o presente trabalho pode instrumentalizar o profissional de educação física, o enfermeiro e os demais profissionais da saúde, em abordagem multiprofissional, no planejamento de intervenções de promoção da atividade física para a saúde de populações em diversos contextos.
CONCLUSÃO
Ao compreender a inatividade física como impeditiva ao desenvolvimento saudável de pessoas e populações, a vulnerabilidade à inatividade física envolve aspectos que repercutem negativamente nas dimensões biológica, física, social e emocional da vida humana. A melhor compreensão do fenômeno requer desenvolvimento de sua mensuração.
Os itens apresentados possuem parâmetros adequados de validade e aparência e podem subsidiar a construção de instrumentos avaliativos, que consideram a vulnerabilidade do sujeito e a vulnerabilidade social. Ressalta-se que este estudo se refere às etapas iniciais do processo de construção de um instrumento de medida e que ainda é necessário efetuar análises adicionais para utilização segura de um instrumento no diagnóstico da população, possibilitando a elaboração de estratégias de enfrentamento da inatividade física.
AGRADECIMENTO
As autoras agradecem à população-alvo e aos especialistas que participaram como juízes em cada etapa deste estudo.
REFERENCES
-
1Salvo D, Garcia L, Reis RS, Stankov I, Goel R, Schipperijn J, et al. Physical activity promotion and the United Nations sustainable development goals: building synergies to maximize impact. J Phys Activity Health. 2021;1(aop):1-18. https://doi.org/10.1123/jpah.2021-0413
» https://doi.org/10.1123/jpah.2021-0413 -
2Sallis JF, Bull F, Guthold R, Heath GW, Inoue S, Kelly P, et al. Progress in physical activity over the Olympic quadrennium. Lancet. 2016;388(10051):1325-36. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30581-5
» https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30581-5 -
3Silva DRPD, Werneck AO, Malta DC, Souza Júnior PRBD, Azevedo LO, Barros MBDA, et al. Mudanças na prevalência de inatividade física e comportamento sedentário durante a pandemia da COVID-19: um inquérito com 39.693 adultos brasileiros. Cad Saúde Pública. 2021;37. https://doi.org/10.1590/0102-311X00221920
» https://doi.org/10.1590/0102-311X00221920 -
4Kohl 3rd HW, Craig CL, Lambert EV, Inoue S, Alkandari JR, Leetongin G, et al. The pandemic of physical inactivity: global action for public health. Lancet. 2012;9838(380). https://doi.org/10.1016/S0140-6736(12)60898-8
» https://doi.org/10.1016/S0140-6736(12)60898-8 -
5World Health Organization (WHO). Guidelines on physical activity and sedentary behaviour: at a glance [Internet]. 2020 [cited 2021 Feb 11]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240015128
» https://www.who.int/publications/i/item/9789240015128 -
6World Health Organization (WHO). Global action plan on physical activity 2018–2030: more active people for a healthier world[Internet]. 2018 [cited 2019 Jul 23]. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272721/WHO-NMH-PND-18.5-por.pdf?ua=1
» https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272721/WHO-NMH-PND-18.5-por.pdf?ua=1 -
7Ministério da Saúde (BR). Guia de Atividade Física para a População Brasileira Brasília: Ministério da Saúde; 2021.
-
8Knuth AG, Antunes PC. Práticas corporais, atividades físicas demarcadas como privilégio e não escolha: análise à luz das desigualdades brasileiras. Saúde Soc. 2021;30:e200363. https://doi.org/10.1590/S0104-12902021200363
» https://doi.org/10.1590/S0104-12902021200363 -
9Crochemore-Silva I, Knuth AG, Wendt A, Nunes B P, Hallal PC, Santos, L P, et al. Prática de atividade física em meio à pandemia da COVID-19: estudo de base populacional em cidade do Sul do Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 2020;25:4249-58. https://doi.org/10.1590/1413-812320202511.29072020
» https://doi.org/10.1590/1413-812320202511.29072020 -
10Oviedo RAM, Czeresnia D. O conceito de vulnerabilidade e seu caráter biossocial. Interface Comun Saúde Educ. 2015;19(53):237-50. https://doi.org/10.1590/1807-57622014.0436
» https://doi.org/10.1590/1807-57622014.0436 -
11Florêncio R, Moreira T. Modelo de vulnerabilidade em saúde: esclarecimento conceitual na perspectiva do sujeito-social. Acta Paul Enferm. 2021;34(3). https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO00353
» https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO00353 -
12Pereira DS, Florêncio, RS, Barbosa Filho VC, Moreira TMM. Vulnerabilidade à Inatividade Física: validação de conteúdo dos marcadores para adultos. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02076. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR020766
» https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR020766 -
13Lima MFCD, Lopes PRNR, Silva RG, Faria RCD, Amorim PRDS, Marins JCB. Questionários para avaliação do nível de atividade física habitual em adolescentes brasileiros: uma revisão sistemática. Rev Bras Ciênc Esporte. 2019;41(3):233-40. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2018.03.019
» https://doi.org/10.1016/j.rbce.2018.03.019 -
14Matsudo S, Araújo T, Marsudo V, Andrade D, Andrade E, Braggion G. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Rev Bras Ativ Fís Saúde[Internet]. 2001[cited 2022 Aug 19];6(2):5-18 Available from: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-314655
» https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-314655 -
15Martins MO, Petroski EL. Mensuração da percepção de barreiras para a prática de atividades físicas: uma proposta de instrumento. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum [Internet]. 2000[cited 2022 Aug 19];2(1). Available from: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-477349
» https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-477349 -
16Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução nº 466/2012: Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos [Internet]. 2012 [cited 2019 Mar 24] Available from: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
» http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf -
17Pasquali L. Instrumentação psicológica-fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010.
-
18Cunha NB, Santos AAA, Oliveira KL. Validity evidence based on response process in the Cloze test. Fractal Rev Psicol. 2018;30(3):330-7. https://doi.org/10.22409/1984-0292/v30i3/5817
» https://doi.org/10.22409/1984-0292/v30i3/5817 -
19Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. Porto Alegre: Artmed; 2011.
-
20Cohen RJ, Swerdlik ME, Sturman ED. Testagem e Avaliação Psicológica: introdução a testes e medidas. São Paulo: Editora AMGH; 2014.
-
21Pasquali L. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Editora Vozes; 2017.
-
22Schlindwein-zanini R, Cruz RM. Psicometria e Neuropsicologia: interrelações na construção e adaptação de instrumentos de medida. Psicol Argumento. 2019;36(91):49-69. https://doi.org/10.7213/psicolargum.36.91.AO04
» https://doi.org/10.7213/psicolargum.36.91.AO04 -
23Pereira DS, Mattos SM, Azevedo SGV, Florêncio RS, Moreira TMM. Preditores de inatividade física em adultos: scoping review. OSF. 2021. https://doi.org/10.17605/OSF.IO/KSA98
» https://doi.org/10.17605/OSF.IO/KSA98 -
24Gichu M, Asiki G, Juma P, Kibachio J, Kyobutungi C, Ogola E. Prevalence and predictors of physical inactivity levels among Kenyan adults (18–69 years): an analysis of STEPS survey 2015. BMC Public Health. 2018;18(3):1-7. https://doi.org/10.1186/s12889-018-6059-4
» https://doi.org/10.1186/s12889-018-6059-4 -
25Vieira VR, Silva JVP. Barreiras à prática de atividades físicas no lazer de brasileiros: revisão sistematizada. Pensar Prát. 2019;22. https://doi.org/10.5216/rpp.v22.54448
» https://doi.org/10.5216/rpp.v22.54448 -
26Martin CG, Pomares ML, Muratore CM, Apoloni S, Avila PJ, Rodriguez M. Level of Physical Activity and Perceived Barriers to Exercise in Adults with Type 2 Diabetes in Argentina. Diabetes. 2019;68(Suppl-1):2268-PUB. https://doi.org/10.2337/db19-2268-PUB
» https://doi.org/10.2337/db19-2268-PUB -
27Monteiro LZ, Oliveira DMSD, Parente MVSS, Silva EDO, Varela AR. Perfil alimentar e inatividade física em mulheres universitárias na cidade de Brasília. Esc Anna Nery. 2021;25. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0484
» https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0484 -
28Salas XR, Raine K, Vallianatos H, Spence JC. Socio-cultural determinants of physical activity among Latin American immigrant women in Alberta, Canada. J Int Migrat Integrat. 2015;17(4):1231-50. https://doi.org/10.1007/s12134-015-0460-y
» https://doi.org/10.1007/s12134-015-0460-y -
29Ironside A, Ferguson LJ, Katapally TR, Foulds HJ. Cultural connectedness as a determinant of physical activity among Indigenous adults in Saskatchewan. App Physiol, Nutrit Metabol. 2020;45(9):937-47. https://doi.org/10.1139/apnm-2019-0793
» https://doi.org/10.1139/apnm-2019-0793 -
30Zhang J, O’Leary A, Jemmott III JB, Icard LD, Rutledge SE. Syndemic conditions predict lower levels of physical activity among African American men who have sex with men: a prospective survey study. PLoS One. 2019;14(3):e0213439. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0213439
» https://doi.org/10.1371/journal.pone.0213439 -
31Enang I, Murray J, Dougall N, Wooff A, Heyman I, Aston E. Defining and assessing vulnerability within law enforcement and public health organisations: a scoping review. Health Just. 2019;7(1):1-13. https://doi.org/10.1186/s40352-019-0083-z
» https://doi.org/10.1186/s40352-019-0083-z -
32Padoveze MC, Juskevicius LF, Santos TRd, Nichiata LI, Ciosak SI, Bertolozzi MR. The concept of vulnerability applied to Healthcare-associated Infections. Rev Bras Enferm. 2019;72:299-303. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0584
» https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0584 -
33Piza TFDT, Hodniki PP, Santos SAD, Torquato MTDCG, Calixto AAS, Garcia RAC, Teixeira CRDS. Atividade física de lazer de pessoas com e sem doenças crônicas não transmissíveis. Rev Bras Enferm. 2020;73. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0615
» https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0615 -
34North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2021-2023. 12. ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2021.
-
35Souza AC, Alexandre NMC, Guirardello EB. Psychometric properties in instruments evaluation of reliability and validity. Epidemiol Serv Saúde. 2017;26(3):649-59. https://doi.org/10.5123/S1679-49742017000300022
» https://doi.org/10.5123/S1679-49742017000300022
Editado por
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Nov 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
21 Out 2022 -
Aceito
17 Maio 2023