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Temperatura e substrato para germinação de sementes de flor-de-maio (Schlumbergera truncata (Haw.) Moran)

Temperature and substrate for germination of Christmas Cactus (Schlumbergera truncata (Haw.) Moran)

Resumos

Schlumbergera truncata é uma cactácea de hábito epífito conhecida popularmente como flor-de-maio ou flor-deseda. É uma planta ornamental, cultivada em vasos e muito apreciada pela beleza de suas flores. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da temperatura e do substrato na germinação de sementes de S. truncata. Os substratos utilizados no experimento foram: papel mata-borrão, areia de granulação média, casca de arroz carbonizada e bagaço de cana triturado, e as temperaturas avaliadas foram 20, 25 e 30 ºC. As variáveis analisadas foram: porcentagem de germinação, índice de velocidade de germinação e tempo médio de germinação. As maiores porcentagens de germinação ocorreram em 20 e 25 ºC em papel, areia e casca de arroz carbonizada. Na casca de arroz carbonizada, observaramse os maiores valores de índice de velocidade de germinação e os menores valores de tempo médio de germinação. Concluiu-se que a temperatura de 20 ºC e o substrato casca de arroz carbonizada foram mais adequados para a germinação de sementes de S. truncata e que o bagaço de cana não foi adequado como substrato para a germinação da espécie.

Cactaceae; planta ornamental; teste de germinação


Schlumbergera truncata is a cacti of epiphytic habit known popularly as Christmas Cactus, Thanksgiving Cactus or Crab Cactus, Zygocactus. It is an ornamental plant cultivated in vases and highly appreciated for the beauty of their flowers. The objective of this work was to evaluate the effect of temperature and of substrate on seed germination of S. truncata. The substrates used in the experiment included: blotting paper, sand of medium granulation, charred rice peel and triturated cane pulp. The tested temperatures were 20, 25 and 30ºC. The analyzed variables were: germination percentage, index of germination speed and average germination time. The highest germination percentages were recorded at 20ºC and 25ºC for paper, sand and charred rice peel. Charred rice peel showed the highest index of germination speed and the lowest average germination time. In conclusion, temperature at 20ºC and the substrate charred rice peel showed the best results for seed germination of S. truncata and cane pulp was not a suitable substrate for the germination of the species.

Cactaceae; germination test; ornamental plants


PRODUÇÃO, FISIOLOGIA E TECNOLOGIA DE SEMENTES

Temperatura e substrato para germinação de sementes de flor-de-maio (Schlumbergera truncata (Haw.) Moran)

Temperature and substrate for germination of Christmas Cactus (Schlumbergera truncata (Haw.) Moran)

Alessandro Borini LoneI; Gilberto Rostirolla Batista de SouzaII; Karen Sinéia de OliveiraIII; Lucia Assari Sadayo TakahashiIV; Ricardo Tadeu de FariaV

IBiólogo, Mestre. Doutorando em Agronomia, Departamento de Agronomia, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Caixa Postal 6001, 86051-990, Londrina, Paraná (PR), Brasil. alone_bio@yahoo.com.br

IIEngenheiro-Agrônomo. Mestrando em Fitotecnia, Departamento de Agronomia, UEL, Caixa Postal 6001, 86051-990, Londrina, PR. gilberto.rostirolla@gmail.com

IIIGraduanda em Agronomia. UEL, Caixa Postal 6001, 86051-990, Londrina, PR. karynkimberly@hotmail.com

IVEngenheira-Agrônoma, Doutora. Departamento de Agronomia, UEL, Caixa Postal 6001, 86051-990, Londrina, PR. sadayo@eu.br

VEngenheiro-Agrônomo, Doutor. UEL, Caixa Postal 6001, 86051-990, Londrina, PR. faria@uel.br

RESUMO

Schlumbergera truncata é uma cactácea de hábito epífito conhecida popularmente como flor-de-maio ou flor-deseda. É uma planta ornamental, cultivada em vasos e muito apreciada pela beleza de suas flores. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da temperatura e do substrato na germinação de sementes de S. truncata. Os substratos utilizados no experimento foram: papel mata-borrão, areia de granulação média, casca de arroz carbonizada e bagaço de cana triturado, e as temperaturas avaliadas foram 20, 25 e 30 ºC. As variáveis analisadas foram: porcentagem de germinação, índice de velocidade de germinação e tempo médio de germinação. As maiores porcentagens de germinação ocorreram em 20 e 25 ºC em papel, areia e casca de arroz carbonizada. Na casca de arroz carbonizada, observaramse os maiores valores de índice de velocidade de germinação e os menores valores de tempo médio de germinação. Concluiu-se que a temperatura de 20 ºC e o substrato casca de arroz carbonizada foram mais adequados para a germinação de sementes de S. truncata e que o bagaço de cana não foi adequado como substrato para a germinação da espécie.

Palavras-chave: Cactaceae, planta ornamental, teste de germinação.

ABSTRACT

Schlumbergera truncata is a cacti of epiphytic habit known popularly as Christmas Cactus, Thanksgiving Cactus or Crab Cactus, Zygocactus. It is an ornamental plant cultivated in vases and highly appreciated for the beauty of their flowers. The objective of this work was to evaluate the effect of temperature and of substrate on seed germination of S. truncata. The substrates used in the experiment included: blotting paper, sand of medium granulation, charred rice peel and triturated cane pulp. The tested temperatures were 20, 25 and 30ºC. The analyzed variables were: germination percentage, index of germination speed and average germination time. The highest germination percentages were recorded at 20ºC and 25ºC for paper, sand and charred rice peel. Charred rice peel showed the highest index of germination speed and the lowest average germination time. In conclusion, temperature at 20ºC and the substrate charred rice peel showed the best results for seed germination of S. truncata and cane pulp was not a suitable substrate for the germination of the species.

Key words: Cactaceae, germination test, ornamental plants.

INTRODUÇÃO

As espécies do gênero Schlumbergera ocorrem nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. É conhecido popularmente como flor-demaio ou flor-de-seda. Trata-se de cactáceas de hábito epífito com filocládios achatados e dentados (Paula & Ribeiro, 2004).

A espécie Schlumbergera truncata (Haw.) Moran apresenta filocládios suculentos, pendentes e sem espinhos, e pode atingir de 30 a 60 cm de altura e flores que se concentram na extremidade dos filocládios. É uma planta ornamental, cultivada em vasos e muito apreciada pela beleza de suas flores (Lorenzi & Souza, 2001). A espécie apresenta autoincompatibilidade e, por isso, sua polinização é, obrigatoriamente, cruzada (Boyle, 1996; Salla & Figueiredo, 2004).

As sementes de diferentes espécies apresentam comportamento germinativo variável para a temperatura, o que pode fornecer informações de interesse biológico e ecológico (Labouriau, 1983). Em diversos trabalhos foi verificado que a temperatura ótima para germinação de semente de cactos é, normalmente, em torno de 25 ºC (Nobel, 1988; Rojas-Aréchiga & Vázquez-Yanes, 2000; Lone et al., 2007), variando de 15 ºC para o cacto colunar Oreocereus trolii (Zimmer 1969, citado por De La Barrera & Nobel, 2003) a 33 ºC para Pereskia aculeata (Dau & Labouriau, 1974), um cacto com folhas e porte primitivo.

Estudos sobre a influência da temperatura na germinação das sementes são essenciais para entender os aspectos ecofisiológicos e bioquímicos desse processo (Labouriau, 1983; Bewley & Black, 1994). Seus efeitos podem ser avaliados a partir de mudanças ocasionadas na porcentagem, velocidade e frequência relativa de germinação ao longo do tempo de incubação (Labouriau & Pacheco, 1978).

Os substratos também apresentam grande influência nos testes de germinação, pois fatores como aeração, estrutura, capacidade de retenção de água e grau de infestação por patógenos podem variar de um substrato para outro, favorecendo ou prejudicando a germinação das sementes (Popinigis, 1985). Na escolha do substrato, devem ser considerados o tamanho da semente, sua exigência em relação à umidade, sensibilidade ou não à luz e a facilidade que esse oferece para o desenvolvimento e a avaliação das plântulas (Figliolia et al., 1993).

Dentre os substratos mais utilizados e prescritos em Brasil (1992) estão: o papel, a areia e o solo; entretanto, podem ser encontrados no mercado substratos alternativos que já estão sendo utilizados em testes e pesquisas na área florestal, como o pó-de-coco (Pacheco et al., 2006), a casca de arroz carbonizada (Stringheta et al., 2005) e a vermiculita (Silva & Aguiar, 2004; Lopes & Pereira, 2005; Hirano & Possamai, 2008). Outro substrato que vem sendo empregado para a germinação de sementes e produção de mudas de hortaliças, frutíferas e florestais é o bagaço de cana, carbonizado ou não (Biasi et al., 1995; Toledo et al., 1997; Cunha et al., 2005).

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da temperatura e do substrato na germinação de sementes de S. truncata.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas no teste de germinação sementes de S. truncata, da variedade vermelha, provenientes de frutos colhidos no período de maio a junho de 2008, em coleções particulares da região de Londrina, Paraná. As sementes foram retiradas dos frutos, lavadas em água corrente e secas à sombra sobre folhas de papel-filtro por 48h, para posterior homogeneização e armazenamento em câmara fria (6 - 9 ºC e 75% U.R.), em embalagem de polietileno, até a instalação do teste que ocorreu após 15 dias.

Os substratos utilizados no experimento foram: papel mata-borrão, areia de granulação média, casca de arroz carbonizada (CAC) e bagaço de cana triturado. Os substratos, à exceção do papel, foram postos para secar em estufa com ventilação forçada a 65 ºC por 24 h. Após a secagem, foram acondicionados em caixas de plástico transparente com tampa (11x11x3,5 cm) até a metade do volume da caixa, e para o papel, foi usado uma folha por caixa.

O papel foi umedecido com água destilada na quantidade de 2,5 vezes a massa do papel não hidratado. Os demais substratos foram umedecidos a 60% da capacidade máxima de retenção de água. Após o umedecimento, foram colocadas 50 sementes por caixa e mantidas em germinadores com temperaturas de 20, 25 e 30 ºC em sala de crescimento com iluminação de 1.200 lux e fotoperíodo de 10 h.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com arranjo experimental do teste de germinação constituindo em esquema fatorial de 3 x 4, composto de três temperaturas e quatro substratos, com quatro repetições por tratamento e 50 sementes por repetição.

A avaliação do teste de germinação foi feita diariamente durante 30 dias, e foram consideradas germinadas as sementes que apresentaram emissão do hipocótilo. As variáveis avaliadas foram: porcentagem de germinação, índice de velocidade de germinação (IVG), que foi calculado de acordo com a fórmula de Maguirre (1962) descrita no trabalho de Nakagawa (1994), e tempo médio de germinação (dias), calculado segundo Lima et al. (2006).

Os valores de porcentagem de germinação foram transformados em arco seno (x/100)0,5 para sua normalização e, assim como para os demais valores, submetidos à análise de variância, e as médias, comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entre as temperaturas, as maiores porcentagens de germinação ocorreram em 20 e 25 ºC em papel, areia e CAC, e na casca de arroz as porcentagens não apresentaram diferenças estatísticas entre 25 e 30 ºC. Para o bagaço de cana, a maior porcentagem foi observada em 20 ºC (Tabela 1).

Esse resultado está de acordo com Bachthaler (1990), que obteve elevada germinação (100%) de sementes de S. truncata em temperaturas entre 20 e 25 ºC utilizando areia como substrato. No entanto, Simão et al. (2007) verificaram que a temperatura ótima para a germinação do cacto epífito Hylocereus setaceus (Salm-Dyck) Ralf Bauer está entre 25 e 30 ºC.

Foi verificado em diversos trabalhos que a temperatura ótima para germinação de semente de cactos é, normalmente, em torno de 25 ºC (Nobel, 1988; Rojas-Aréchiga & Vázquez-Yanes, 2000; Lone et al., 2007).

Andrade et al. (2008) em seu trabalho com germinação de sementes do cacto pitaya (Hylocereus undatus (Haw.) Britton & Rose) em diferentes substratos, obtiveram bons resultados em papel, porém não ocorreu o mesmo com o substrato areia. No entanto, Lone et al. (2007), trabalhando com germinação de sementes de Melocactus bahiensis (Britton & Rose) Luetzelb., obtiveram bons resultados utilizando areia como substrato na germinação. A areia também foi o substrato padrão para a germinação de diversas espécies de cactos utilizados por Cavalcanti & Resende (2007).

Pelos resultados, observa-se que as porcentagens de germinação a 20 ºC e 25 ºC no substrato bagaço de cana (33 e 5%, respectivamente) foram inferiores em relação àquelas observadas nos demais substratos. Em 30 ºC, as sementes em bagaço de cana e papel apresentaram os menores valores de porcentagem de germinação em relação àquelas em areia e CAC (Tabela 1).

Biasi et al. (1995) também obtiveram baixa porcentagem de germinação de maracujá amarelo utilizando bagaço de cana como substrato. No entanto, o mesmo mostrou bons resultados quando misturado com turfa na proporção de 1:1 (v.v-1).

De acordo com a Figura 1A, a temperatura de 20 ºC apresentou o melhor resultado para porcentagem média acumulada de germinação (74%), seguida do resultado obtido a 25 ºC (65%). O início da germinação das sementes nessas temperaturas ocorreu no quinto dia, e na temperatura de 30ºC, a partir do sétimo dia. A estabilização da germinação ocorreu após o 21 dias para a temperatura de 20º C, 22 dias para 25º C e após o 26 dias para 30ºC.


Em relação aos substratos, a Figura 1B mostra que a CAC apresentou o melhor resultado para a porcentagem média acumulada de germinação (86%) em relação aos demais. Observa-se também que a cana teve resultado inferior em relação aos demais substratos (32%). O início da germinação em CAC ocorreu a partir do quinto dia, a partir do sexto dia em areia, sétimo em papel e oitavo em cana. A estabilização da germinação ocorreu aos 23 dias para CAC, 23 para papel e cana e 24 em areia.

Leal et al. (2007) obtiveram início de germinação das sementes de quatro variedades de flor-de-maio, em diferentes substratos, no quinto dia após a semeadura, porém em condições de casa de vegetação, e Lone et al. (2009), trabalhando com germinação de sementes de duas espécies de cactos epífitos (Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. e Rhipsalis pilocarpa Loefgr.), também obtiveram os melhores resultados em CAC.

Na CAC, foram observados os maiores valores de índice de velocidade de germinação (IVG) em relação aos demais substratos nas três temperaturas testadas. Os menores valores de IVG foram observados no bagaço de cana nas três temperaturas testadas. Não houve diferença nos valores de IVG entre papel e areia a 20 ºC; no entanto, nas temperaturas de 25 a 30 ºC a areia apresentou maiores valores de IVG em relação ao papel (Tabela 1).

As sementes em CAC apresentaram os menores valores de tempo médio de germinação (7,05 e 6,27 dias) em relação aos demais substratos nas temperaturas de 20 e 25 ºC. Em 30 ºC, a germinação em casca de arroz não apresentou diferença estatística em relação aos outros substratos (Tabela 1).

Além dos resultados obtidos, a CAC mostrou ser eficiente para o teste de germinação por ser leve, facilitando o manuseio, ter coloração escura (preta), que serve de contraste, facilitando a verificação da germinação das sementes, pois as plântulas apresentam coloração verdeclara; e por não ter sido constatado o surgimento de contaminações por microrganismos. Klein et al. (2002) afirmaram que a CAC melhora a disponibilidade de água e a porosidade de aeração, auxiliando o processo germinativo.

A 20 ºC os substratos papel, areia e bagaço de cana não apresentaram diferença estatística entre si no tempo médio de germinação. A 25 ºC o bagaço de cana teve o maior valor de tempo médio de germinação (16,58 dias), caracterizando germinação mais tardia. No entanto, a 30 ºC o bagaço de cana apresentou tempo médio de germinação inferior ao papel e à areia (11 dias) (Tabela 1).

Os substratos papel, areia e CAC apresentaram elevação dos valores do tempo médio de germinação a 30 ºC em relação as temperaturas de 20 e 25 ºC (Tabela 1). Relação contrária foi observada por Lone et al. (2007) em Melocactus bahiensis, no qual os valores de tempo médio de germinação tiveram decréscimo conforme o aumento da temperatura de 20 para 30 ºC.

Durante o teste de germinação observou-se escurecimento do bagaço de cana seguido do aparecimento de cheiro forte, possivelmente ocasionado por microrganismos que podem ter interferido de modo negativo na germinação das sementes.

CONCLUSÕES

A casca de arroz carbonizada foi o substrato mais indicado para germinação de sementes de Schlumbergera truncata.

A temperatura de 20 ºC foi a mais adequada para sua germinação.

Recebido para publicação em junho de 2009 e aprovado em abril de 2010

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Mar 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2010

Histórico

  • Aceito
    Abr 2010
  • Recebido
    Jun 2009
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