Resumos
O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de tratamentos térmicos no aumento do potencial de frigoconservação de nêsperas 'Fukuhara' e os efeitos desses tratamentos na qualidade e nas propriedades físico-químicas e bioquímicas dos frutos. Os tratamentos de condicionamento térmico foram: armazenamento a 1ºC durante 60 dias (controle); armazenamento a 5ºC durante 60 dias (padrão); armazenamento a 5ºC, durante 7 dias, e 1ºC durante 53 dias; armazenamento a 10ºC, durante 7 dias, e 1ºC durante 53 dias; aquecimento intermitente, em ciclos de 6 dias a 1ºC + 1 dia a 15ºC, durante 60 dias; condicionamento dos frutos a 37ºC, durante 3 horas, e a 1ºC durante 60 dias; e condicionamento dos frutos a 37ºC, durante 6 horas, e a 1ºC durante 60 dias. Os frutos foram mantidos a 85-90% de umidade relativa, durante todo o armazenamento. Foram determinados: firmeza da polpa, índice de escurecimento, acidez titulável, pH, teor de sólidos solúveis, teor de ácido ascórbico, teor de compostos fenólicos, atividade das enzimas fenilalanina amônia-liase (PAL), polifenoloxidase (PPO) e peroxidase (POD) após 15, 30, 45 e 60 dias de armazenamento. Houve correlação entre firmeza de polpa e atividade de POD, após 60 dias de armazenamento refrigerado. O aquecimento intermitente e o aquecimento a 37ºC, durante 3 horas, foram eficientes no controle do escurecimento interno. Os tratamentos térmicos não evitaram o enrijecimento de polpa. Tratamentos térmicos aumentam o potencial de armazenamento de nêsperas sem alterar as características físico-químicas dos frutos.
Eriobotrya japonica; atividade enzimática; compostos fenólicos; condicionamento térmico; escurecimento enzimático; firmeza de polpa
The objective of this work was to evaluate the efficiency of heat treatments on the potential improvement of the cold-storage of 'Fukuhara' loquat, and the effects of these treatments on the quality and on physicochemical and biochemical properties of fruits. The treatments applied were: storage at 1ºC for 60 days (control); storage at 5ºC for 60 days (standard); storage at 5ºC for 7 days, and at 1ºC for 53 days; storage at 10ºC for 7 days, and at 1ºC for 53 days; intermittent heat, in cycles of 6 days at 1ºC + 1 day at 15ºC, for 60 days; fruit conditioning at 37ºC for 3 hours, and at 1ºC for 60 days; and fruit conditioning at 37ºC for 6 hours, and at 1ºC for 60 days. The fruits were kept at 85-90% relative humidity, over the whole storage. The following parameters were determined: pulp firmness, incidence of internal browning, titrable acidity, pH, content of soluble solids, ascorbic acid and phenolic compounds, activity of phenylalanine ammonia-lyase (PAL), polyphenol oxidase (PPO) and peroxidase (POD), in evaluations after 15, 30, 45 and 60 days of storage. There was a correlation between firmness level and POD activity, after 60 days of cold storage. Intermittent heat and at 37ºC for 3 hours were efficient in controling internal browning in fruit pulp. Heat treatments did not prevent the increase of pulp firmness. Heat treatments increase cold-storage potential of loquat without changing fruit physicochemical properties.
Eriobotrya japonica; enzymatic activity; phenolic compounds; temperature conditioning; internal browning; pulp firmness
FITOTECNIA
Aumento do potencial de armazenamento refrigerado de nêsperas 'Fukuhara' com o uso de tratamento térmico
Potential increasing in the cold-storage of 'Fukuhara' loquat using heat treatments
Fernando Kazuhiro Edagi; Ivan Sestari; Fabiana Fumi Sasaki; Susana Maria Cabral; Juliano Meneghini; Ricardo Alfredo Kluge
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Departamento de Ciências Biológicas, Avenida Pádua Dias, nº 11, Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba, SP. E-mail: fedagi@agrofresh.com, isestari@esalq.usp.br, fsasaki@esalq.usp.br, susymcabral@gmail.com, meneghini87@hotmail.com, rakluge@esalq.usp.br
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de tratamentos térmicos no aumento do potencial de frigoconservação de nêsperas 'Fukuhara' e os efeitos desses tratamentos na qualidade e nas propriedades físico-químicas e bioquímicas dos frutos. Os tratamentos de condicionamento térmico foram: armazenamento a 1ºC durante 60 dias (controle); armazenamento a 5ºC durante 60 dias (padrão); armazenamento a 5ºC, durante 7 dias, e 1ºC durante 53 dias; armazenamento a 10ºC, durante 7 dias, e 1ºC durante 53 dias; aquecimento intermitente, em ciclos de 6 dias a 1ºC + 1 dia a 15ºC, durante 60 dias; condicionamento dos frutos a 37ºC, durante 3 horas, e a 1ºC durante 60 dias; e condicionamento dos frutos a 37ºC, durante 6 horas, e a 1ºC durante 60 dias. Os frutos foram mantidos a 85-90% de umidade relativa, durante todo o armazenamento. Foram determinados: firmeza da polpa, índice de escurecimento, acidez titulável, pH, teor de sólidos solúveis, teor de ácido ascórbico, teor de compostos fenólicos, atividade das enzimas fenilalanina amônia-liase (PAL), polifenoloxidase (PPO) e peroxidase (POD) após 15, 30, 45 e 60 dias de armazenamento. Houve correlação entre firmeza de polpa e atividade de POD, após 60 dias de armazenamento refrigerado. O aquecimento intermitente e o aquecimento a 37ºC, durante 3 horas, foram eficientes no controle do escurecimento interno. Os tratamentos térmicos não evitaram o enrijecimento de polpa. Tratamentos térmicos aumentam o potencial de armazenamento de nêsperas sem alterar as características físico-químicas dos frutos.
Termos para indexação:Eriobotrya japonica, atividade enzimática, compostos fenólicos, condicionamento térmico, escurecimento enzimático, firmeza de polpa.
ABSTRACT
The objective of this work was to evaluate the efficiency of heat treatments on the potential improvement of the cold-storage of 'Fukuhara' loquat, and the effects of these treatments on the quality and on physicochemical and biochemical properties of fruits. The treatments applied were: storage at 1ºC for 60 days (control); storage at 5ºC for 60 days (standard); storage at 5ºC for 7 days, and at 1ºC for 53 days; storage at 10ºC for 7 days, and at 1ºC for 53 days; intermittent heat, in cycles of 6 days at 1ºC + 1 day at 15ºC, for 60 days; fruit conditioning at 37ºC for 3 hours, and at 1ºC for 60 days; and fruit conditioning at 37ºC for 6 hours, and at 1ºC for 60 days. The fruits were kept at 85-90% relative humidity, over the whole storage. The following parameters were determined: pulp firmness, incidence of internal browning, titrable acidity, pH, content of soluble solids, ascorbic acid and phenolic compounds, activity of phenylalanine ammonia-lyase (PAL), polyphenol oxidase (PPO) and peroxidase (POD), in evaluations after 15, 30, 45 and 60 days of storage. There was a correlation between firmness level and POD activity, after 60 days of cold storage. Intermittent heat and at 37ºC for 3 hours were efficient in controling internal browning in fruit pulp. Heat treatments did not prevent the increase of pulp firmness. Heat treatments increase cold-storage potential of loquat without changing fruit physicochemical properties.
Index terms:Eriobotrya japonica, enzymatic activity, phenolic compounds, temperature conditioning, internal browning, pulp firmness.
Introdução
A nêspera [Eriobotrya japonica (Thurn.) Lindl.] apresenta alto valor comercial e curto período de vida pós-colheita, em razão de perda de água por transpiração, elevada taxa de respiração, alta suscetibilidade a podridão, rápida perda das qualidades nutricionais e sensibilidade dos frutos a baixas temperaturas de armazenamento (Brackmann et al., 2004)
Em geral, o método mais utilizado para prolongar o armazenamento de frutas é a refrigeração. As condições de refrigeração recomendadas para nêsperas são: temperatura entre 0 e 5ºC; umidade relativa entre 90 e 95%; e período de armazenamento de até 60 dias, a depender da cultivar (Ding et al., 1998b, 2006; Kader, 2009). Períodos longos de refrigeração, ou a temperaturas muito baixas, ocasionam prejuízos na qualidade dos frutos, em razão da incidência de danos causados pelo frio. Os sintomas de danos pelo frio em nêsperas são o escurecimento da polpa, a perda da suculência, a lignificação de tecidos e o aumento de firmeza (Cai et al., 2006a; Ding et al., 1998a, 2002a; Brackmann et al., 2004), o que torna difícil o armazenamento de nêsperas por longos períodos.
Os danos pelo frio decorrem da atividade de enzimas específicas, responsáveis pela formação de compostos fenólicos e pelo escurecimento destes compostos, tal como a enzima fenilalanina amônia-liase (PAL, EC 4.3.1.24), que é a principal enzima do metabolismo secundário e pode participar, juntamente com outras, na formação "de novo" de lignina, bem como de outros compostos fenólicos (Ding et al., 2002b). Além da PAL, a enzima peroxidase (POD, EC 1.11.1.7) também participa do processo de lignificação (Imberty et al., 1985; Zheng et al., 2000). A POD e a polifenoloxidase (PPO, EC 1.10.3.1) participam também da oxidação de compostos fenólicos, o que pode levar ao escurecimento dos tecidos.
Em razão dos problemas encontrados durante o armazenamento refrigerado, é necessário o desenvolvimento de técnicas que os reduzam e que contribuam para o prolongamento do período de armazenamento e comercialização de nêsperas. Os tratamentos químicos, potencialmente prejudiciais ao homem e ao ambiente, estão sendo cada vez menos utilizados. Assim, tratamentos físicos e alternativos estão sendo pesquisados em várias frutas e podem representar mudança nos tratamentos pós colheita, além de ter boa receptividade entre os produtores e consumidores. Entre esses tratamentos, destacam-se os térmicos, como o condicionamento térmico e o aquecimento intermitente, com ar ou água quente, com diferentes métodos de aplicação. Esses tratamentos vêm sendo utilizados para aumentar a resistência dos frutos à baixa temperatura e de aumentar o benefício da refrigeração (Kluge et al., 2006). O efeito dos tratamentos térmicos na conservação refrigerada de nêsperas, no entanto, tem sido pouco estudado. Cai et al. (2006a) verificaram que o condicionamento dos frutos a 5ºC, durante 6 dias antes do armazenamento a 0ºC, reduz significativamente a incidência de danos por frio em nêsperas 'Luoyangqing', em comparação às armazenadas diretamente a 0ºC.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência dos tratamentos térmicos aplicados em nêsperas 'Fukuhara' na redução de danos pelo frio e prolongamento do período de conservação, bem como os efeitos desses tratamentos sobre as características fisico-químicas e bioquímicas dos frutos.
Material e Métodos
Frutos da cultivar 'Fukuhara' de nespereira foram colhidos em região produtora, no Município de Mogi das Cruzes, SP, e levados para o Laboratório de Fisiologia e Bioquímica Pós-Colheita do Departamento de Ciências Biológicas, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba, SP. Os frutos foram selecionados quanto ao tamanho, ponto de maturação e ausência de doenças e danos mecânicos. Após obter-se um grupo homogêneo, os frutos foram divididos em sete lotes, acondicionados em embalagens de tereftalato de polietileno (PET) e embalados com filme de policloreto de vinila (PVC) com espessura de 14 m, para posterior aplicação dos tratamentos.
Os tratamentos aplicados foram: armazenamento a 1ºC, durante 60 dias (controle); armazenamento a 5ºC, durante 60 dias (padrão); condicionamento térmico 1 - armazenamento a 5ºC durante 7 dias, e 1ºC durante 53 dias; condicionamento térmico 2 - armazenamento a 10ºC durante 7 dias, e 1ºC durante 53 dias; aquecimento intermitente - ciclos de 6 dias a 1ºC + 1 dia a 15ºC, durante 60 dias; aquecimento 1 - condicionamento dos frutos a 37ºC durante 3 horas, e 1ºC durante 60 dias; aquecimento 2 - condicionamento dos frutos a 37ºC durante 6 horas, e 1ºC durante 60 dias. Os frutos foram armazenados a 85-90% de umidade relativa, durante todo o período de armazenamento.
Esses tratamentos foram escolhidos com base em pré-testes. As análises foram realizadas após 15, 30, 45 e 60 dias de armazenamento. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 7x4 (sete tratamentos e quatro tempos de armazenamento). Foram utilizadas quatro repetições de 12 frutos por tratamento. Foram avaliados os parâmetros: firmeza da polpa, índice de escurecimento, acidez titulável, pH, teor de sólidos solúveis, teor de ácido ascórbico, teor de compostos fenólicos, e atividade das enzimas fenilalanina amônia-liase, polifenoloxidase e peroxidase (POD), após 15, 30, 45 e 60 dias de armazenamento.
A firmeza da polpa foi determinada com um penetrômetro manual, com ponteira plana de 5 mm de diâmetro. Foram efetuadas duas leituras por fruto, em lados opostos da região equatorial, após a remoção de uma pequena parte da casca. Os resultados foram expressos em newtons. Quanto ao índice de escurecimento interno, conforme a área da superfície afetada, os frutos foram classificados em cinco categorias: 0, 0%; 1, <5%; 2, 5-25%; 3, 25-50%; e 4, >50%. Calculou-se o índice de escurecimento da polpa, por meio da fórmula recomendada por Cai et al. (2006b): Índice = (Σ notas x número de frutos afetados)/(4 x total de frutos da amostra). Os frutos foram considerados não aptos à comercialização, quando atingiram valores superiores a 0,4 de índice ou quando foram atribuídas as notas 3 ou 4 (Cai et al., 2006b).
Para a determinação da acidez titulável, 10 g da amostra triturada foram colocados em 90 mL de água destilada. Foi efetuada a titulação potenciométrica com NaOH 0,1N até pH 8,10, e os resultados foram expressos em percentagem (Carvalho et al., 1990). O pH foi determinado com auxílio de ph-metro de bancada (Tecnal). O teor de sólidos solúveis foi determinado em refratômetro digital (Atago), com os resultados expressos em ºBrix. O teor de ácido ascórbico foi determinado por titulação, por meio da redução do indicador 2,6-diclorofenol indolfenol-sódio (DCFI) pelo ácido ascórbico. Foram pesados 10 g da amostra e colocados em tubos de Erlenmeyer com 50 mL de solução de ácido oxálico. A titulação foi efetuada até atingir a coloração rosada persistente por 15 s. Os resultados foram expressos em miligramas de ácido ascórbico por 100 g de polpa (Carvalho et al., 1990).
O teor de compostos fenólicos foi determinado de acordo com Singleton & Rossi (1965). A extração foi realizada em álcool metílico a 80%, e os extratos foram diluídos na proporção de 1 mL de extrato para 10 mL de água destilada. Foi adicionado 1 mL de reagente de Folin-Ciocalteu a 200 µL de extrato. Após 8 min do início da reação, foram adicionados 800 µL de Na2CO3 a 7,5%, e a mistura foi agitada em vortex. As amostras foram mantidas no escuro por duas horas, e a leitura foi realizada em espectrofotômetro a 765 nm de comprimento de onda. A quantidade de fenóis foi calculada pelo equivalente ácido gálico, por meio da comparação com curva padrão, preparada com ácido gálico, em que concentrações variaram de 0 a 500 µg por 100 mL. Os resultados foram expressos em miligramas por grama de polpa.
As atividades enzimáticas de PAL, PPO, e POD foram determinadas pelo método de Cai et al. (2006a). Para a extração de PAL, 2 g de polpa macerada foram adicionados a 8 mL de tampão borato 0,2 mol L-1; a amostra foi centrifugada por 20 min a 4ºC, em 10.000 g, e filtrada em lã de vidro para formar o extrato. Adicionou-se, então, 1 mL de tampão borato 0,2 mol L-1 a 1 mL de extrato. Em seguida, as amostras foram colocadas em banho-maria a 36ºC, durante 5 min. Foi adicionado 1 mL de fenilalanina (100 mmol L-1), e os tubos foram incubados em banho-maria a 36ºC, durante 1 hora. Foi adicionado 0,1 mL de HCl 6N para parar a reação. A leitura foi realizada em espectrofotômetro, no comprimento de onda de 290 nm. Para extração de PPO e POD, a polpa do fruto foi macerada em nitrogênio líquido. Em 2 g de polpa macerada, foram adicionados 8 mL de tampão fosfato de sódio (0,1 mol L-1, pH 6) a 4ºC, centrifugados a 10.000 g durante 15 min. Para mensurar a atividade de PPO, foi adicionado 0,5 mL de solução de pirocatecol (100 mmol L-1) a 1,5 mL de extrato e 1 mL de tampão fosfato de sódio. Após 2 min a 25ºC, as leituras foram realizadas em espectrofotômetro, em comprimento de onda de 410 nm. Na quantificação da atividade de POD, foi adicionado 0,5 mL de solução a 1 mL do extrato, que continha 20 mmol L-1 de peróxido de hidrogênio e tampão fosfato (0,2 mol L-1 e pH 6,7), além de 0,5 mL de solução com 4 mmol L-1 de aminoantipirina e 10 mmol L-1 de pirocatecol. A solução foi incubada em banho-maria a 30ºC, durante 5 min. A reação enzimática foi interrompida com 2 mL de álcool etílico. A leitura foi realizada em espectrofotômetro, em comprimento de onda de 505 nm. A atividade das três enzimas foi expressa em unidades (U) por grama de polpa, em que 1 U corresponde ao aumento de 0,01 na absorbância por minuto.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância, e a diferença mínima significativa foi calculada (p<0,05). Diferenças entre dois tratamentos maiores que a soma de dois erros-padrão foram consideradas significativas.
Resultados e Discussão
O índice de escurecimento da polpa foi afetado pelos tratamentos, e a incidência foi maior no controle em relação ao padrão (5ºC) e aos tratamentos térmicos, principalmente a partir dos 45 dias de armazenamento (Tabela 1). O escurecimento da polpa é um dos sintomas de dano por frio em nêsperas (Cai et al., 2006b), que ocorre quando os frutos são armazenados à temperatura abaixo da mínima de segurança, por longos períodos (Kluge et al., 2001). Frutos tratados com aquecimento intermitente mantiveram baixos índices de escurecimento da polpa, especialmente após 60 dias de armazenamento. O benefício do aquecimento intermitente está no fato de a interrupção das baixas temperatura e a exposição a temperaturas mais altas impedirem a alteração irreversível das membranas celulares, o que promove maior resistência dos tecidos ao frio subsequentemente ao tratamento (Kluge et al., 1996, 2006). Essa maior resistência pode estar relacionada à manutenção da estrutura, à permeabilidade das membranas e ao incremento na atividade de sistemas antioxidantes, que auxiliam na remoção de substâncias tóxicas acumuladas durante o período de exposição à baixa temperatura (Wang et al., 2003; Kluge et al., 2006; Yahia et al., 2007).
Os tratamentos com aquecimento rápido e armazenamento prévio a 5 e 10ºC também resultaram em redução na incidência de escurecimento da polpa, o que promoveu maior proteção aos frutos do que o tratamento controle, principalmente até os 45 dias de armazenamento. Esses tipos de tratamentos estimulam os mecanismos de defesa, antes de os frutos serem submetidos ao frio, o que estabelece uma resistência cruzada, com as respostas decorrentes da exposição a temperaturas moderadas ou altas permanecendo atuantes durante a exposição a temperaturas mais baixas (Wang et al., 2003; Kluge et al., 2006). Os principais mecanismos de defesa envolvidos no estabelecimento de maior resistência de frutos tratados termicamente, incluem o estímulo à biossíntese de poliaminas (Mirdehghan et al., 2007) e o estímulo ao aumento da expressão de enzimas antioxidativas (Yahia et al., 2007) e de proteínas de choque térmico (Wang et al., 2004).
Com o aumento da incidência de escurecimento da polpa, esperava-se aumento na atividade da PPO e uma diminuição no teor de compostos fenólicos, o que não foi observado (Tabela 1).
A PPO, além da forma ativa presente no citossol, apresenta formas latentes, presentes tanto no citossol quanto em plastídios, isoladas do restante da célula (Sellés-Marchart et al., 2006). A manutenção dessa enzima na forma latente ou a não descompartimentalização dos plastídios, durante o armazenamento refrigerado, pode ter causado a oscilação da atividade de PPO nesse experimento. O estresse causado aos frutos, em razão do armazenamento refrigerado, pode ter ativado o metabolismo secundário das células, que é uma das rotas formadoras de compostos fenólicos (Ding et al., 2001), o que explica o incremento no teor de fenóis totais, presentes nos frutos de nêspera ao longo do armazenamento (Tabela 1).
O teor de sólidos solúveis apresentou pouca oscilação durante o armazenamento (Tabela 1), o que é típico de frutos não climatéricos (Zhang et al., 1990). Os valores de pH aumentaram durante o armazenamento refrigerado, e a acidez titulável consequentemente diminuiu, o que pode ser explicado pela redução no teor de ácidos orgânicos. O teor de ácido ascórbico não apresentou grande variação nas avaliações durante a refrigeração. As diferenças entre os tratamentos não ultrapassaram o limite de dois erros-padrão e, portanto, durante os 60 dias de armazenamento não foi observado efeito significativo dos condicionamentos térmicos sobre as características físico-químicas de nêsperas.
Durante o armazenamento refrigerado, foi observado aumento na firmeza da polpa em todos os tratamentos (Tabela 1), causado pela lignificação do tecido (Zheng et al., 2000), catalisada principalmente pelas enzimas fenilalanina amônia-liase (PAL) e peroxidase (POD). O aumento da firmeza da polpa foi observado após 30 dias de armazenamento a 1ºC. Entretanto, aos 15 dias de refrigeração, ocorreu um aumento de atividade da PAL. Esse aumento na atividade de PAL pode ser consequência do aumento na produção de monômeros de lignina (Boudet, 2000). Em reação catalizada pela POD, os monômeros de lignina são polimerizados, aderem à parede celular e causam o enrijecimento da polpa (İpekçi et al., 1999).
Alguns autores caracterizam o enrijecimento da polpa como um sintoma da senescência do fruto, ao invés de dano por frio (Cai et al., 2006c). Tal afirmação pode ser reforçada pelos resultados deste trabalho, pois, após 60 dias de armazenamento, foi possível observar correlação 0,924 entre a atividade de POD com os valores de firmeza da polpa (Tabela 1). A POD, além de estar relacionada à polimerização de monômeros de lignina, é uma enzima sinalizadora de senescência (Cano et al., 1995; Singh & Dwivedi, 2008).
Conclusões
1. O aquecimento intermitente e o aquecimento a 37ºC durante três horas diminuem o escurecimento interno de polpa.
2. Os tratamentos térmicos não são eficientes no controle do enrijecimento de polpa em nêsperas 'Fukuhara'.
3. Tratamentos térmicos aumentam o potencial de armazenamento de nêsperas sem alteração nas características físico-químicas das frutas.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo apoio financeiro e concessão de bolsa; à Associação Frutícola do Alto Tietê, pela doação dos frutos para os experimentos.
Recebido em 5 de junho de 2009 e aprovado em 29 de setembro de 2009
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
06 Jan 2010 -
Data do Fascículo
Out 2009
Histórico
-
Aceito
29 Set 2009 -
Recebido
05 Jun 2009