RESUMO
As principais doenças fúngicas que acometem a cultura do arroz na região Sul do Brasil são a brusone e a mancha parda, responsáveis por perdas significativas de produtividade e qualidade de grãos. Com o objetivo de disponibilizar alternativas de controle químico para essas doenças, foram avaliados, durante três safras agrícolas, dez tratamentos fungicidas, aplicados nos estádios R2 (emborrachamento) e R4 (pleno florescimento). Para o controle da mancha parda, os tratamentos ciproconazol + picoxistrobina, epoxiconazol + cresoxim-metílico, tebuconazol + trifloxistrobina e triciclazol + tebuconazol foram os mais consistentes nos três anos avaliados. Para o controle da brusone, a mistura triciclazol + tebuconazol e o tratamento somente com triciclazol resultaram na menor incidência da doença, combinada com rendimento de grãos estatisticamente superior aos outros tratamentos. A mistura de triciclazol + tebuconazol apresentou a melhor combinação entre eficiência de controle de ambas as doenças e rendimento de grãos.
Palavras-chave
Fungicidas;
Pyricularia oryzae
;
Bipolaris oryzae
ABSTRACT
The major fungal diseases affecting the rice crop in southern Brazil are blast and brown spot, responsible for significant yield and grain quality losses. With the aim of providing chemical control alternatives for these diseases, ten fungicide treatments were evaluated during three crop seasons through spraying in R2 (booting) and R4 (flowering) stages. For brown spot control, cyproconazole + picoxystrobin, epoxiconazole + kresoxim-methyl, tebuconazole + trifloxystrobin, and tricyclazole + tebuconazole were the most consistent treatments over the three evaluated years. For rice blast control, the mixture tricyclazole + tebuconazole, as well as tricyclazole alone, resulted in the lowest disease incidence and in statistically superior grain yield, compared to the remaining treatments. Tricyclazole + tebuconazole best combined efficient control of both diseases and grain yield.
Keywords
Fungicides;
Pyricularia oryzae
;
Bipolaris oryzae
O Brasil produz anualmente 11,2 milhões de toneladas de arroz, o que tem atendido a demanda da população brasileira que é de 10,8 milhões de toneladas (88 Conab. Companhia Nacional de Abastecimento. Série histórica das safras. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-histori-ca-das-safras>. Acesso em: 15 abr. 2021.
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). Apesar de autossuficiente na produção deste cereal, o país vem enfrentando uma redução drástica na área plantada, que passou de 5,99 milhões de hectares em 1976, para 1,66 milhão de hectares na safra 2019/2020 (88 Conab. Companhia Nacional de Abastecimento. Série histórica das safras. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-histori-ca-das-safras>. Acesso em: 15 abr. 2021.
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).
A ocorrência de problemas fitossanitários tem contribuído para uma menor produtividade e redução na qualidade dos grãos colhidos. Entre as principais doenças que acometem a cultura do arroz estão a brusone, causada pelo fungo Pyricularia oryzae Cav. (Tel. Magnoporthe oryzae (Herb.) Couch & Kohn) e a mancha parda, causada por Bipolaris oryzae (Haan) Shoe. (Tel. Cochliobolus miyabeanus (Ito & Kur.) Dastur). A brusone é a doença mais severa da cultura, podendo ocorrer desde a fase de plântula até a maturação, sendo responsável por cerca de 30% das perdas de produção de grãos de arroz em todo o mundo (2222 Nalley, L.; Tsiboe, F.; Durant-Morat, A.; Shew, A.; Thoma, G. 2016. Economic and environmental impact of rice blast pathogen (Magnaporthe oryzae). PLoS ONE, San Francisco, v.11, n.12, e0167295, 2016.). A mancha parda ocorre principalmente nas folhas e panículas, sendo os maiores danos provocados pela infecção das panículas, cujas perdas de produtividade podem chegar a 52%, além de ser uma das principais causas de perdas durante o beneficiamento (33 Barnwal M.K.; Kotasthane, A.S.; Magculia, N.J.; Mukherjee; P.K.; Savary, S.; Singh, H.B.; Singh, U.S.; Sparks, A.H.; Variar, M.; Zaidi, N.W. A review on crop losses, epidemiology and disease management of rice brown spot to identify research priorities and knowledge gaps. European Journal of Plant Pathology, Dordrecht v.136, n.3, p.443-445, 2013.).
O controle da brusone do arroz pode ser realizado de forma eficaz por meio da resistência genética, sendo conhecidos pelo menos 118 genes de resistência (1616 Kalia, S.; Rathour, R. Current status on mapping of genes for resistance to leaf- and neck-blast disease in rice. 3 Biotech, Berlin, v.9, n.6, 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1007/s13205-019-1738-0>. Acesso em: 16 abr. 2021.
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, 2626 Wang, B.H.; Daniel, J.E.; Wang, Z.H. The arms race between Magnaporthe oryzae and rice: diversity and interaction of Avr and R genes. Journal of Integrative Agriculture, Beijing, v.16, n.12, p. 2746-2760, 2017.). Entretanto, devido a elevada variabilidade genética do patógeno, a resistência de novos cultivares é suplantada cerca de 3-4 anos após o seu lançamento (99 D’avila, L.S.; Lehner, M.S.; Filippi, M.C.; Scheuermann, K.K.; Del Ponte, E. M. Genetic structure and mating type analysis of the Pyricularia oryzae population causing widespread epidemics in southern Brazil. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.41, p.297-305, 2016.). O controle genético da mancha parda é ainda mais difícil, pois grande parte dos genes de resistência conhecidos são de efeito quantitativo (2121 Mizobuchi, R.; Fukuoka, S.; Tsushima, S.; Yano, M.; Sato, H. QTLs for resistance to major rice diseases exacerbated by global warming: brown spot, bacterial seedling rot, and bacterial grain rot. Rice, New York, v.9, n.23, 2016. Disponível em: <https://doi.org/10.1186/s12284-016-0095-4>. Acesso em: 16 abr. 2021.
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). Por essas razões, o controle de ambas as doenças é realizado principalmente por meio de controle químico, cuja eficácia é dependente da época de aplicação, tecnologia de aplicação adotada e dos fungicidas utilizados (55 Bayer, T.; Costa, I.F.D.; Lenz, G.; Zemolin, C.; Marques, L.N; Stefanelo, M.S. Equipamentos de pulverização aérea e taxas de aplicação de fungicida na cultura do arroz irrigado. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.15, n.2, p.192-198, 2011., 2424 Scheuermann, K. K.; Eberhardt, D.S. Avaliação de fungicidas para controle da brusone de panícula na cultura do arroz irrigado. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages v.10, n.1, p.23-28, 2011.). Os fungicidas empregados na cultura do arroz são, em sua maioria, sítio-específicos, pertencendo principalmente aos grupos químicos dos triazóis, estrobilurinas e benzotiazó is. Fungicidas pertencentes aos dois primeiros grupos, apresentam diferenças significativas de eficiência de controle, tanto para brusone, quanto para mancha parda (1717 Kongcharoen, N.; Kaewsalong, N.; Dethoup, T. Efficacy of fungicides in controlling rice blast and dirty panicle diseases in Thailand. Scientific Reports, London, v.10:16233, 2020. Disponível em: < https://doi.org/10.1038/s41598-020-73222-w>. Acesso em: 16 abr. 2021.
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, 2525 Singh, H.S.; Kaushik, S.S.; Manendra S.C.; Negi, R.S. Efficacy of Different Fungicides against Rice Blast caused by Pyricularia oryzae (Cav.) under Field Condition in Satna District of Madhya Pradesh. International Journal of Current Microbiology and Applied Sciences, Kancheepuram, v.8, n.6, p.63-69, 2019.). Em função disso, predomina atualmente o emprego de formulações que utilizam misturas de triazóis e estrobilurinas. Apesar de eficazes, fungicidas sítio-específicos são conhecidos por estimularem o aparecimento de populações resistentes dos patógenos-alvo (1212 Deising, H. B.; Reimann, S.; Pascholati, S. F. Mechanisms and significance of fungicide resistance. Brazilian Journal of Microbiology, Rio de Janeiro, v.39, n.2, p.286-295, 2008.). Em arroz, casos de resistência a fungicidas são descritos para vários grupos químicos, como é o caso da resistência de P. oryzae a azoxistrobina, em função de mutações no sítio Qo do citocromo b (22 Avila-Adame, C.; Köller, W. Characterization of spontaneous mutants of Magnaporthe grisea expressing stable resistance to the Qo-inhibiting fungicide azoxystrobin. Current Genetetics, New York, v.42, n.6, p.332-338, 2003., 1313 Fahad, S.; Nie, L.; Khan, F.A.; Chen, Y.; Hussain, S.; Wu, C.; Xiong, D.; Jing, W.; Saud, S.; Khan, F.A; Li, Y.; Wu, W.; Khan, F.; Hassan, S.; Manan, A.; Jan, A.; Huang, J. Disease resistance in rice and the role of molecule breeding in protecting rice crops against diseases. Biotechnology Letters, Dordrecht, v.36, n.7, p.1407-1720, 2014.). Para minimizar os problemas de resistência, o FRAC recomenda realizar a rotação de moléculas fungicidas, ou mesmo a mistura de moléculas, que não possibilite o aparecimento de resistência cruzada. No caso de misturas, essas devem controlar de forma mais eficiente as populações do patógeno, quando comparadas aos princípios ativos empregados de forma isolada (1414 FRAC. Fungicide Resistance Action Committee. FRAC recommendations for fungicide mixtures. designed to delay resistance evolution. FRAC, 2010. Disponível em: <https://www.frac.info/docs/default-source/ publications/frac-recommendations-for-fungicide-mixtures/frac-recom-mendations-for-fungicide-mixtures---january-2010.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2021.
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).
No presente trabalho, foi avaliada a eficiência de controle da brusone e mancha parda, por meio do emprego de tratamentos fungicidas pertencentes a quatro grupos químicos diferentes, incluindo suas misturas, e o impacto do controle dessas doenças sobre a produtividade e qualidade de grãos.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no campo experimental da Epagri/Itajaí-SC, (26º57’09.1’’S; 48º45’50.3”W) nos períodos correspondentes as safras 2016/17, 2018/19 e 2019/20. Foi empregado o delineamento de blocos casualizados, com quatro repetições, sendo utilizadas parcelas de 2 x 5m, com espaçamento entre parcelas de 1,5m. A área experimental foi conduzida em sistema pré-germinado, sendo empregada a cultivar de arroz SCS117 CL na safra 2016/17 e SCS121 CL nas safras 2018/19 e 2019/20, com densidade de semeadura de 120 kg ha-1. Os tratamentos fungicidas foram aplicados no estádio R2 (emborrachamento) e R4 (pleno florescimento), utilizando-se pulverizador costal propelido com CO2, equipado com pontas de pulverização Micron 110DB02 (Tabela 1). Os bicos foram acoplados em uma barra de 2m, com espaçamento de 0,5m entre bicos, de modo a se obter uma vazão de 200L ha-1.
Tratamentos fungicidas avaliados para controle de brusone e mancha parda na cultura do arroz irrigado. Itajaí/SC, safras 2016/17, 2018/19 e 2019/20
As avaliações de controle da mancha parda foram realizadas por meio de contagens semanais do número de lesões na folha bandeira em 15 folhas/parcela, de forma aleatória e não destrutiva, durante quadro semanas, iniciando 7 dias após a primeira aplicação. As avaliações da incidência de brusone no campo, foram realizadas no estádio R8 (grão farináceo duro), utilizando escala de notas padronizadas internacionalmente pelo IRRI (1515 International Rice Research Institute (IRRI). Standard evaluation system for rice (SES). Los Banos: IRRI, 2002. 56p. Disponível em: (http://www. knowledgebank.irri.org/images/docs/rice-standard-evaluation-system.pdf). Acesso em: 15 abr. 2021.
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). Dentro da amplitude de cada nota, considerou-se o valor médio de panículas sintomáticas para a determinação da incidência de panículas com brusone em cada parcela.
Com o arroz em ponto de colheita, foi colhida uma área de 0,5 x 0,5m de cada parcela, a partir da qual fez-se a contagem do número de panículas com brusone e também a esterilidade de grãos. Foram consideradas panículas doentes, aquelas com sintomas cobrindo o primeiro ou segundo nó basal. Para a determinação da esterilidade, essas panículas foram debulhadas manualmente e os grãos obtidos submetidos a uma corrente de ar, para separar as espiguetas vazias dos grãos cheios. Para determinação dos componentes de rendimento, foi colhida uma área de 4,25 m2 de cada parcela, sendo a umidade dos grãos ajustada para 13%. O rendimento de grãos inteiros, incidência de grãos gessados e percentual de arroz beneficiado a partir do arroz em casca (renda), foram determinados em classificador (Selgron Image S, Blumenau-SC) (1919 Marschalek, R.; Silva, M.C.; Santos, S.B.; Manke, J.R.; Bieging, C.; Porto, G.; Wickert, E.; Andrade, A. Image - Rice Grain Scanner: a three-dimensional fully automated assessment of grain size and quality traits. Crop Breeding and Applied Biotechnology, Viçosa, v.17, n.1, p.89-97, 2017.), utilizando-se 50g de cada amostra. A incidência da mancha parda foi integralizada como área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD): AACPD = Σ [((y1 + y2)/2)*(t2-t1)], em que y1 e y2 são duas avaliações consecutivas realizadas nos tempos t1 e t2, respectivamente.
A análise dos dados foi realizada com o ambiente R (2323 R Core Team. R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, 2020, Vienna, Austria. Disponível em: <https://www.R-project.org/>. Acesso em: 16 abr. 2021.
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), utilizando-se também o pacote ‘agricolae’ (2020 Mendiburu, F. agricolae: Statistical Procedures for Agricultural Research. R package version 1.2-8. Uni: Lima, 2017. Disponível em: https:// CRAN.R-project.org/package=agricolae. Acesso em: 16 abr. 2021.
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). Por não atenderem às pressuposições da análise de variância, os dados foram submetidos ao teste não paramétrico de Kruskal-Wallis para comparações múltiplas, utilizando-se o critério de Fisher como teste ‘post hoc’.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As avaliações semanais da incidência de mancha parda na folha bandeira, permitiram estabelecer as curvas de progresso da doença, em reposta a cada tratamento (Figura 1). Na safra 2016/17, no momento da primeira aplicação, já havia uma alta incidência da doença, não permitindo o estabelecimento das curvas de progresso para sete dos tratamentos testados. A análise das curvas de progresso, juntamente com a AACPD nos três anos, mostra que os tratamentos com triciclazol e casugamicina, não controlaram a mancha parda (Figura 1, Tabela 2). No caso do triciclazol, esse resultado já era esperado, pois se trata de um produto empregado especificamente para o controle da brusone do arroz (1818 Kurahash, Y. Melanin biosynthesis inhibitors (MBIs) for control of rice blast. Pesticide Outlook, Cambridge, v.12, p.32-35, 2001.). Entre os tratamentos que resultaram em uma menor AACPD e por consequência uma melhor eficiência de controle, estão as misturas de triazóis com estrobilurinas, com destaque para os tratamentos ciproconazol + picoxistrobina, epoxiconazol + cresoxim-metílico, tebuconazol + trifloxistrobina e também a mistura triciclazol + tebuconazol (benzotiazol + triazol). Misturas evolvendo triazóis e estrobilurinas reduziram a incidência de mancha parda, além de promover um aumento significativo na produtividade de grãos de arroz também no Paraguai (44 Barúa, M.; Quintana, L.; Ortiz, A. Chemical control of rice brown spot (Bipolaris oryzae) in Paraguay. Tropical Plant Research, Kanpur, v.6, n.1, p.148-151, 2019.). Castell-Miller et al. (66 Castell-Miller, C.; Schlatter, D.; Samac, D.A. Efficiency and profitability of fungicides in controlling Bipolaris diseases and enhancing grain yield in cultivated wild rice (Zizania palustris). Crop Protection, Guildford, v.141, p.105-455, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1016Zj.cro-pro.2020.105455>. Acesso em: 15 abr. 2021.
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) obtiveram resultados semelhantes no controle de Bipolaris spp. em arroz selvagem (Zizania palustris), utilizando combinações de propiconazol com azoxistrobina. No caso das estrobilurinas, seu efeito é citado não unicamente devido a ação direta da molécula fungicida sobre B. oryzae, mas também alterando a fisiologia da planta, e até mesmo modulando a resposta de resistência da planta de arroz (1010 Debona, D.; Nascimento, K.J.T.; Gomes, G.J.O.; Aucique-Perez, C.E; Rodrigues, F.A. Physiological changes promoted by a strobilurin fungicide in the rice-Bipolaris oryzae interaction. Pesticide. Pesticide Biochemistry and Physiology, New York v.130, p.8-16, 2016.). Debona et al. (1111 Debona, D., Fortunato, A.A.; Araújo, L.; Rodrigues, A.L.C.; Rodrigues, F. A. Rice defense responses to Bipolaris oryzae mediated by a strobilurin fungicide. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.43, p.389-401, 2018.) demonstraram uma maior atividade de β-1,3-glucanase, peroxidase, polifenol oxidase e lipoxigenase em plantas de arroz submetidas a aplicação de azoxistrobina.
Curvas de progresso da mancha parda do arroz em resposta a aplicação de tratamentos fungicidas. >Itajaí/SC, safras 2016/17, 2018/19 e 2019/20. As aplicações foram realizadas nos estádios R2 (emborrachamento) e R4 (florescimento). A: Testemunha; B: triciclazol; C: tebuconazol; D: >triciclazol + tebuconazol; E : azoxistrobina; F: difenoconazol; G: azoxistrobina + difenoconazol; H: tebuconazol + trifloxistrobina; I : epoxiconazol + cresoxim-metílico; J: Casugamicina; K: ciproconazol + picoxistrobina.
Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), estimada para a mancha parda do arroz (B. oryzae), em resposta a aplicação de tratamentos fungicidas. Itajaí/SC, safras 2016/17, 2018/19 e 2019/20
A avaliação de mancha parda considerou apenas a incidência da doença na folha bandeira, por permitir uma avaliação específica do controle. A incidência da mancha parda nos grãos ocorre frequentemente associada a outras doenças fúngicas que também mancham grãos, o que dificulta a avaliação, razão pela qual muitos trabalhos avaliam o impacto dos tratamentos fungicidas na redução de manchas nos grãos (1717 Kongcharoen, N.; Kaewsalong, N.; Dethoup, T. Efficacy of fungicides in controlling rice blast and dirty panicle diseases in Thailand. Scientific Reports, London, v.10:16233, 2020. Disponível em: < https://doi.org/10.1038/s41598-020-73222-w>. Acesso em: 16 abr. 2021.
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).
As avaliações de brusone de panículas mostraram uma incidência média da doença de 45% no estádio R8 e de 51,9% no momento da colheita (Tabela 3). Observou-se que em ambas as avaliações, os tratamentos envolvendo a mistura em tanque de triciclazol + tebuconazol, triciclazol aplicado sozinho e tebuconazol + trifloxistrobina, foram os que proporcionaram maior redução na incidência de brusone. Esses tratamentos resultaram também em uma maior produtividade, sendo que os dois primeiros promoveram ainda o aumento na quantidade de arroz beneficiado. Tanto a brusone, quanto a mancha parda, tem potencial de impactar nos componentes de rendimento mensurados. Entretanto, o tratamento com triciclazol isoladamente, ineficaz contra mancha parda, resultou em ganhos nos componentes de rendimento de forma equivalente ao obtido com a mistura triciclazol + tebuconazol. Isso sugere que as variações nos componentes de rendimento observadas foram devidas principalmente a ocorrência de brusone (Tabela 3). Ahmadikhah & Khosravi (11 Ahmadikhah, A.; Khosravi, V. Rice grain quality as affected by blast-causing agent (Pyricularia oryzae) along with a molecular analysis of blast resistance at “Pi5” and “Pi-ta” loci. Australian Journal of Crop Science, Lismore, v.12, n.6, p.870-877, 2018.) demonstraram que a brusone provoca uma redução significativa na qualidade dos grãos, quando comparado ao arroz produzido com o emprego de fungicidas ou utilizando-se cultivares resistentes. Os dados apresentados mostraram que a brusone, além de apresentar um elevado potencial destrutivo durante o cultivo do arroz, pode provocar também perdas durante o beneficiamento dos grãos. Ao se avaliar de forma conjunta a eficácia dos tratamentos, verificou-se que a mistura de triciclazol + tebuconazol foi a que apresentou a melhor combinação entre eficiência de controle de ambas as doenças e rendimento de grãos.
Valores médios de incidência de brusone nas panículas e de componentes de rendimento obtidos em resposta a aplicação de tratamentos fungicidas em arroz irrigado. Itajaí/SC, safras 2016/17, 2018/19 e 2019/20.
O fungicida triciclazol apresenta um longo histórico de uso na cultura do arroz para o controle de brusone. Apesar de serem raros os casos de aparecimento de resistência a esse fungicida (77 Chunyan, H.; Mei, G.; Shiji, S.; Hua, L. Tolerance of Rice Blast to Tri-cyclazole in Heilongjiang Province. Chinese Journal of Rice Science, Hangzhou, v.13, n.1, p.49-50, 1999.), o seu uso intensivo e continuado, aumenta o risco de seleção de populações de P. oryzae resistentes. Nesse sentido, o uso combinado de fungicidas, além de aumentar o espectro de controle, minimiza o risco de resistência (1414 FRAC. Fungicide Resistance Action Committee. FRAC recommendations for fungicide mixtures. designed to delay resistance evolution. FRAC, 2010. Disponível em: <https://www.frac.info/docs/default-source/ publications/frac-recommendations-for-fungicide-mixtures/frac-recom-mendations-for-fungicide-mixtures---january-2010.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2021.
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). Vale ressaltar que, alguns dos fungicidas testados, como difenoconazol, ciproconazol + picoxistrobina e epoxiconazol + cresoxim-metílico, apresentam um intervalo de segurança superior a quarenta dias, o que deve ser observado em aplicações a partir do florescimento. Por fim, estratégias de manejo precisam ser associadas ao controle químico, visando minimizar a predisposição da cultura à ocorrência de doenças, o que irá impactar em uma menor dependência do uso de fungicidas.
AGRADECIMENTOS
Aos assistentes de pesquisa Geovani Porto e Samuel Batista dos Santos pelo apoio na condução dos experimentos no campo, processamento das amostras e tabulação dos dados.
REFERÊNCIAS
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1Ahmadikhah, A.; Khosravi, V. Rice grain quality as affected by blast-causing agent (Pyricularia oryzae) along with a molecular analysis of blast resistance at “Pi5” and “Pi-ta” loci. Australian Journal of Crop Science, Lismore, v.12, n.6, p.870-877, 2018.
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2Avila-Adame, C.; Köller, W. Characterization of spontaneous mutants of Magnaporthe grisea expressing stable resistance to the Qo-inhibiting fungicide azoxystrobin. Current Genetetics, New York, v.42, n.6, p.332-338, 2003.
-
3Barnwal M.K.; Kotasthane, A.S.; Magculia, N.J.; Mukherjee; P.K.; Savary, S.; Singh, H.B.; Singh, U.S.; Sparks, A.H.; Variar, M.; Zaidi, N.W. A review on crop losses, epidemiology and disease management of rice brown spot to identify research priorities and knowledge gaps. European Journal of Plant Pathology, Dordrecht v.136, n.3, p.443-445, 2013.
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4Barúa, M.; Quintana, L.; Ortiz, A. Chemical control of rice brown spot (Bipolaris oryzae) in Paraguay. Tropical Plant Research, Kanpur, v.6, n.1, p.148-151, 2019.
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5Bayer, T.; Costa, I.F.D.; Lenz, G.; Zemolin, C.; Marques, L.N; Stefanelo, M.S. Equipamentos de pulverização aérea e taxas de aplicação de fungicida na cultura do arroz irrigado. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.15, n.2, p.192-198, 2011.
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6Castell-Miller, C.; Schlatter, D.; Samac, D.A. Efficiency and profitability of fungicides in controlling Bipolaris diseases and enhancing grain yield in cultivated wild rice (Zizania palustris) Crop Protection, Guildford, v.141, p.105-455, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.1016Zj.cro-pro.2020.105455>. Acesso em: 15 abr. 2021.
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7Chunyan, H.; Mei, G.; Shiji, S.; Hua, L. Tolerance of Rice Blast to Tri-cyclazole in Heilongjiang Province. Chinese Journal of Rice Science, Hangzhou, v.13, n.1, p.49-50, 1999.
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8Conab. Companhia Nacional de Abastecimento. Série histórica das safras Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-histori-ca-das-safras>. Acesso em: 15 abr. 2021.
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9D’avila, L.S.; Lehner, M.S.; Filippi, M.C.; Scheuermann, K.K.; Del Ponte, E. M. Genetic structure and mating type analysis of the Pyricularia oryzae population causing widespread epidemics in southern Brazil. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.41, p.297-305, 2016.
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10Debona, D.; Nascimento, K.J.T.; Gomes, G.J.O.; Aucique-Perez, C.E; Rodrigues, F.A. Physiological changes promoted by a strobilurin fungicide in the rice-Bipolaris oryzae interaction. Pesticide. Pesticide Biochemistry and Physiology, New York v.130, p.8-16, 2016.
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11Debona, D., Fortunato, A.A.; Araújo, L.; Rodrigues, A.L.C.; Rodrigues, F. A. Rice defense responses to Bipolaris oryzae mediated by a strobilurin fungicide. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.43, p.389-401, 2018.
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12Deising, H. B.; Reimann, S.; Pascholati, S. F. Mechanisms and significance of fungicide resistance. Brazilian Journal of Microbiology, Rio de Janeiro, v.39, n.2, p.286-295, 2008.
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13Fahad, S.; Nie, L.; Khan, F.A.; Chen, Y.; Hussain, S.; Wu, C.; Xiong, D.; Jing, W.; Saud, S.; Khan, F.A; Li, Y.; Wu, W.; Khan, F.; Hassan, S.; Manan, A.; Jan, A.; Huang, J. Disease resistance in rice and the role of molecule breeding in protecting rice crops against diseases. Biotechnology Letters, Dordrecht, v.36, n.7, p.1407-1720, 2014.
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14FRAC. Fungicide Resistance Action Committee. FRAC recommendations for fungicide mixtures. designed to delay resistance evolution. FRAC, 2010. Disponível em: <https://www.frac.info/docs/default-source/ publications/frac-recommendations-for-fungicide-mixtures/frac-recom-mendations-for-fungicide-mixtures---january-2010.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2021.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
03 Dez 2021 -
Data do Fascículo
Jul-Sep 2021
Histórico
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Recebido
26 Abr 2021 -
Aceito
22 Jun 2021