Resumos
Os frutos de Cordia sellowiana Cham. e Cordia myxa L. utilizados como emolientes demulcentes, béquicos e expectorantes foram estudados morfológico-anatomicamente, visando sua caracterização farmacognóstica. Foram fornecidos subsídios à identificação destes órgãos vegetais no estado natural e quando transformados em droga. A abordagem fitoquímica realizada permitiu por em evidência a presença de alcalóides, flavonóides, taninos e mucilagens. Em decorrência da presença de mucilagens, foi determinado o índice de intumescência dos frutos.
Cordia sellowiana; Cordia myxa; caracterização farmacognóstica
The fruits of Cordia sellowiana Cham. and Cordia myxa L. utilized like emollients, demulcents, antitussive and expectorants have been morphological and anatomically studied aiming the pharmacognostic diagnosis. Subsides have been offered to the identification of the vegetable organs in nature and as crude drug. Phytochemical screening detected the presence of alkaloids, flavonoids, tannins and mucilages. Due to the existence of mucilages the intumescence index of the fruits has been determined.
Cordia sellowiana; Cordia myxa; pharmacognostic characterization
ARTIGO
Caracterização farmacognóstica dos frutos de Cordia sellowiana Cham. e de Cordia myxa L. (Boraginaceae Jussieu)
Pharmacognostic diagnosis of fruits of Cordia sellowiana Cham. and Cordia myxa L. (Boraginaceae Jusssieu)
Isabel Cristina Ercolini BarrosoI; Fernando de OliveiraI, II,* * E-mail: olifern@uol.com.br
IFundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista, Faculdade de Ciências Biológicas, 12929-600 Braganca Paulista-SP, Brasil
IIFaculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, Av. Lineu Prestes, 580, 05508-900 São Paulo-SP, Brasil
RESUMO
Os frutos de Cordia sellowiana Cham. e Cordia myxa L. utilizados como emolientes demulcentes, béquicos e expectorantes foram estudados morfológico-anatomicamente, visando sua caracterização farmacognóstica. Foram fornecidos subsídios à identificação destes órgãos vegetais no estado natural e quando transformados em droga. A abordagem fitoquímica realizada permitiu por em evidência a presença de alcalóides, flavonóides, taninos e mucilagens. Em decorrência da presença de mucilagens, foi determinado o índice de intumescência dos frutos.
Unitermos: Cordia sellowiana, Cordia myxa, caracterização farmacognóstica.
ABSTRACT
The fruits of Cordia sellowiana Cham. and Cordia myxa L. utilized like emollients, demulcents, antitussive and expectorants have been morphological and anatomically studied aiming the pharmacognostic diagnosis. Subsides have been offered to the identification of the vegetable organs in nature and as crude drug. Phytochemical screening detected the presence of alkaloids, flavonoids, tannins and mucilages. Due to the existence of mucilages the intumescence index of the fruits has been determined.
Keywords: Cordia sellowiana, Cordia myxa, pharmacognostic characterization.
INTRODUÇÃO
C. sellowiana e C. myxa pertencem a família Boraginaceae Jussieu difundida especialmente nos trópicos e nas regiões temperadas do mundo. Segundo Barroso (1986), no Brasil a família esta representada por poucos gêneros com espécies indígenas. Os gêneros Cordia L., Borago L., Pulmonária L., Heliotropium L. e Symphytum L., são importantes por incluírem espécies medicinais (Saito, 1984; Agra et al., 2007; 2008).
Cordia é mencionada por Pio Correa (1952), por ser produtor de substâncias empregadas como medicamentos e por inúmeras de suas espécies apresentarem usos medicinais. Saito (1984), estudando Cordia ecalyculata Vell, espécie medicinal cujas folhas transformadas em droga são comercializadas sob o nome de chá-de-bugre e de porangaba, aponta inúmeras outras espécies do gênero como úteis no tratamento de enfermidades Saito & Oliveira (1986) efetuaram a morfodiagnose da droga elaborada com as folhas dessa espécie e Saito et al. (1985) indicaram nela a presença de alantoina.
Cordia verbenaceae A.DC conhecida como erva balieira e por salicina empregada como antiinflamatória e como anti-reumática, tem merecido a atenção de diversos pesquisadores (Akisue et al., 1983; Lins et al., 1990; Sertie et al., 1988; 1990; Biavatti et al., 2007), são autores que estudaram esta espécie vegetal sobre características diferentes ligadas ao seu uso medicinal.
Ercolini Barroso (2002) menciona o uso dos frutos de C. myxa L., como adstringente, antihelmíntico, demulcente, diurético e expectorante. Segundo esta mesma autora os frutos de C. sellowiana tem propriedades semelhantes à espécie anteriormente citada. Os frutos dessas duas espécies, principalmente em função do seu conteúdo em mucilagens, são utilizados na elaboração de xaropes com propriedades, demulcente, expectorante e béquica. Estes frutos são ainda empregados como alimento tanto de humanos como de animais. Destarte os de C. myxa são consumidos in natura quando maduros e em forma de conserva, convenientemente condimentada, quando ainda verdes.
Já os frutos de C. sellowiana são encontrados à venda, como medicinais, em mercados e em bancas de raizeiros ao Sul de Minas Gerais, no Circuito-das-Águas. São vendidos maduros in natura, ou após processo de secagem, sendo conhecidos como mata fome, juretê, capitão-do-mato (Pio Correa, 1952), chá-de-bugre, louro-mole, louro, catuteiro branco, capitão-do-campo (Lorenzi, 2000).
Este trabalho tem como objetivo contribuir para o melhor conhecimento dos frutos das duas espécies utilizadas por suas propriedades medicinais e édulas, fornecendo dados que permitam efetuar sua caracterização farmacognóstica.
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos destinados ao estudo tiveram origem em populações das espécies localizadas nas seguintes cidades:
C. sellowiana: coletados na cidade de Vargem (SP) em altitude entre 800 a 900 m a 22º 55'11"S e 46º 24'42"W e em Rio Claro Campus da UNESP a aproximadamente 650 m de altitude e 22º 22'36"S e 47º 28'30"W. Exicatas deste material acha-se depositado no herbário da UNESP de Rio Claro sob a seguinte especificação HRCB 32.789 coletor Ercolini Barroso s/n.
C. myxa: coletada em Rio Claro (SP) em altitude de aproximadamente 650m a 22º 22'36"S e 47º 28'30"W, onde diversos exemplares desta espécie são cultivados. Exemplar vivo, existente no horto do departamento de botânica de Rio Claro identificado por comparação com exsicata depositada no herbário do Instituto de Botânica de São Paulo. SP. 7390.
Morfologia externa dos frutos: Os estudos organográficos das duas espécies foram realizados, utilizando-se materiais frescos, recém coletados levados ao laboratório em sacos plásticos e examinados no máximo após quatro horas de colheita. As características morfológicas dos frutos maduros foram obtidas a partir de 50 unidades de cada uma das espécies provenientes se seis indivíduos. Para a determinação do diâmetro dos frutos foi utilizado um paquímetro e para determinação do peso, balança analítica. Em todos os casos foram determinados a media e o desvio padrão.
Morfologia interna ou anatomia: frutos em diversos estágios de desenvolvimento foram estudados, sendo executados cortes transversais e longitudinais. Os cortes foram corados com safrablau com azul de toluidina 0,05% em tampão acetato pH 4,7 ou por dupla coloração pelo Azul de Astra safranina (Roeser, 1972). As fotomicrografias foram obtidas em microscópio Carl Zeiss modelo MC-100 usando-se filme colorido ASA 50.
Reações genéricas de identificação de classes de substâncias: Estes ensaios foram realizados com os frutos inteiros desenvolvidos e submetidos à secagem e a seguir moídos transformando-os em pó semi fino segundo Farmacopéia Brasileira. Foram efetuados testes para a verificação da presença das seguintes classes de substâncias: alcalóides, antraderivados, saponinas, flavonóides, taninos, esteróides e triterpenóides, cumarinas, óleos essenciais e mucilagens. Estes testes seguiram as especificações de Costa (1972) e Xorge, (1973). As mucilagens foram ainda avaliadas através do índice de intumescência segundo Costa, (1972).
RESULTADOS
Cordia sellowiana
Os frutos (Figs.1 a 5) são providos de epicarpo membranáceo, mesocarpo suculento e mucilaginoso e endocarpo pétreo. Quando plenamente desenvolvidos possuem forma elipsóide ligeiramente assimétrica (Fig.3) e são providos de vestígios de estilete (Figs.11, 14 e 17 ) localizados em uma pequena reentrância. Apresentam, quando maduros coloração que varia do amarelo ao acastanhado e são glabros e luzidios. O cálice é persistente (Fig.3) e permanece aderido ao fruto durante todo o seu desenvolvimento. As sépalas apresentam-se recobertas por indumento puberulento (Figs.11,14 e 17 ). As figuras 11 a 19 possibilitam a observação dos vestígios do estilete, do estigma, do cálice persistente e da semente em frutos inteiros e em secção transversais e longitudinais.
Os frutos de C. sellowiana são do tipo drupóide nuculâneo. Medem 1,67 cm ± 0,184 cm de diâmetro e pesam 3,9 g ±, 1,08 g, variando respectivamente: diâmetro entre 1,2 cm e 2,05 cm.
Durante o seu desenvolvimento, o eixo determinado pelo ponto de inserção do estilete e o local de fixação do pedúnculo sofrem inclinação de cerca de 35º.
O endocarpo do fruto apresenta-se firmemente aderido ao tegumento da semente constituindo o pirénio. Este conjunto apresenta forma arredondada achatada em relação ao seu eixo maior. O endocarpo é provido de rugosidade e de duas projeções apicais (Fig. 20 e 21), sendo uma delas bem mais evidentes. A figura 22 mostra a semente germinando através de fenda longitudinal.
Cordia myxa
Os frutos (Fig. 6 a 10) apresentam forma globosa e simétrica, são providos de vestígio de estilete localizados no ápice em uma ligeira reentrância. Apresentam quando maduros (Fig. 8) coloração que variam do amarelo pálido ao alaranjado. São providos de epicarpo membranáceo, mesocarpo suculento e mucilaginoso e endocarpo pétreo. O cálice é persistente e permanece aderido ao fruto durante todo seu desenvolvimento (Fig. 6, 7 e 8).
As figuras 6 a 8 representam o fruto em diversos estágio de seu desenvolvimento inteiro e em secções transversal e longitudinal. As figuras 23 a 31 mostram frutos em diversos estágios de desenvolvimento inteiros e em secções transversais e longitudinais.
Os frutos de C. myxa quando maduros apresentam diâmetro médio de 1,43 cm ± 0,06 cm variando entre 1,63 cm e 2,34 cm considerando-se um universo amostral de 50 frutos.
O peso da matéria fresca corresponde ao valor médio 1,80 g ± 0,32 g com um mínimo de 1,04 g e um máximo de 2,54 g.
O endocarpo pétreo contendo a semente aderida a ele - pirênio - possui forma globosa e elíptica e apresenta duas reentrâncias uma em cada pólo (Figs. 32 e 33). Sua superfície é de coloração brancacente e nitidamente rugosa.
As figuras 9 e 10 mostram um corte longitudinal e transversal do fruto evidenciando bem, em seu interior, o endocarpo pétreo aderido a semente. As figuras 6 a 8 mostram um conjunto de frutos onde é possível observar o cálice persistente em forma de taça. As figuras 32 e 33 mostram a superfície rugosa do endocarpo pétreo provido de duas reentrâncias em sua extremidade. A figura 32 mostra ainda a linha que delimita a região por onde ocorre a geminação da semente.
Anatomia dos frutos
Cordia sellowiana
Secções transversais do ovário no inicio da diferenciação em fruto mostram estrutura tetralocular pelo desenvolvimento de tabique placentário (Figs. 34 e 35).
A epiderme externa (Fig. 36 ex) da folha carpelar é constituída por uma fileira de células de contorno retangular alongadas no sentido anticlinal. Esta fileira de células é recoberta por cutícula (Fig. 35 ct) fina e quando observada em secções paradérmicas apresentam contorno poligonal. Raros estômatos anomocíticos podem ser observados nesta região.
O parênquima fundamental é bem desenvolvido, sendo constituído por células isodiamétricas que deixam entre si espaços intercelulares do tipo meato. A região mais interna, em cada uma das duas folhas carpelares, envolve feixes vasculares colaterais (Fig. 35 fv) delicados entre os quais um se destaca pelo tamanho em relação aos outros, coincidindo ser o feixe vascular de maior calibre aquele localizado na região mais espessa da parede ovariana. O centro da estrutura é ocupado por um feixe vascular de maior calibre ladeado por outros de menor calibre. A epiderme interna da folha capelar é constituída por uma fileira de células de contorno retangular alongadas no sentido periclinal. (Fig. 35 ei)
Com o desenvolvimento do fruto algumas modificações vão se processando. No exocarpo de alguns frutos pode-se notar a presença de lenticelas (Fig. 40 le.). A região do mesocarpo vai ampliandose em decorrência de divisões celulares que ocorrem tanto no sentido periclinal como anticlinal (Fig. 40). As células localizadas mais externamente, nesta região, assumem o aspecto achatado. Outras localizadas um pouco mais internamente sofrem espessamento de lignina. As células do mesocarpo tratadas pelo Sudan IV adquirem coloração alaranjada indicando material lipofilo (Fig. 37)
Dos quatro lóculos ovarianos, três geralmente atrofiam terminando um só por se desenvolver, contendo no seu interior uma semente proveniente de óvulo anátropo.
As células do mesocarpo, situadas próximas ao endocarpo, adquirem tamanho bem maior que o das células localizadas mais externamente. As paredes celulares são finas, seu conteúdo intumesce em presença de água e coram-se intensamente pelo azul de metileno (Figs. 38, 39 e 40 cm, mi). As camadas celulares localizadas mais internamente em relação a esta última camada, possuem tamanho menor, associam-se ao endocarpo e sofrem conjuntamente um processo de lignificação envolvendo a semente e aderindo-se a ela (Fig. 40 en).
Assim, o fruto em desenvolvimento, ainda verde e medindo cerca de 1,0 cm, apresenta epicarpo fino, liso e glabro. O mesocarpo pode ser dividido em duas regiões, uma mais externa e outra mais interna. O mesocarpo externo (Fig. 49 me) é constituído de cerca de 25 camadas celulares separadas do mesocarpo interno por uma faixa celular provida de células achatadas distribuídas por aproximadamente 12 fileiras celulares e que envolvem feixes vasculares. O mesocarpo interno (Fig. 40 mi) é constituído de 12 - 15 camadas de células grandes que se coram intensamente pelo azul de metileno. Seguem-se cerca de 12 camadas celulares menores adjacentes ao endocarpo e que sofrem processo de lignificação conjuntamente com esta região (Fig. 40 en)
O fruto plenamente desenvolvido caracterizase por apresentar grande quantidade de células mucilaginosas, algumas células de paredes lignificadas na região do mesocarpo externo e diversas camadas de células com paredes lignificadas localizadas junto ao endocarpo que também é pétreo e que envolve a semente. Bolsas contendo areia cristalina podem ser observadas na região do mesocarpo.
Cordia myxa
Secções transversais do ovário, no inicio de sua diferenciação em fruto, revelam estrutura bicarpelar, tetralocular, pelo desenvolvimento de tabique placentário (Figs. 41 e 42). O óvulo é anátropo e unitegumentado.
A epiderme externa da folha carpelar (Fig. 43 ex) apresentam-se constituída por celular de contorno retangular alongadas no sentido anticlinal. Esta epiderme é recoberta por cutícula fina. Quando vista em seção paradérmica apresenta contorno poligonal e incluem estômatos do tipo anomocítico.
O parênquima fundamental é bem desenvolvido sendo formado por células isodiamétricas que deixam entre si espaços celulares do tipo meato. Bolsas contendo areia cristalina podem ser observadas principalmente na região mais interna do parênquima fundamental, próximas aos feixes vasculares de posição central.
O parênquima fundamental pode ser dividido em duas regiões. A mais externa é constituída por células de tamanho maior, com paredes um pouco mais espessadas e que se coram mais intensamente pelo azul de toluidina. A região mais interna apresenta células menores, de paredes mais finas e menos coradas pelo referido corante. A região central da estrutura possui um feixe vascular de tamanho maior ladeado por quatro outros menores, formando um conjunto cruciforme (Fig. 42).
A epiderme interna da folha carpelar que envolve os lóculos (Figs. 42 e 46 ei) é formada por uma fileira de células de contorno retangular e alongadas no sentido periclinal.
Com o desenvolvimento do fruto algumas modificações vão ocorrendo. Assim, em frutos com 6 a 8 mm de diâmetro as células da epiderme externa, principalmente em sua parede basal e tangencial externa, sofrem espessamento delicado que não se cora pela floroglucina clorídrica e se cora pouco pelo Sudan III. Raros estômatos podem ser observados nessa região (Fig. 43 es). A região do endocarpo vai ampliando-se em decorrência de divisões celulares tanto no sentido periclinal como no sentido anticlinal. As células do mesocarpo situadas mais externamente assumem aspecto achatado. O parênquima externo engloba, neste estágio, uma série braquiesclereides isolados ou agrupados (Figs. 43, 44 e 49 cp), que se coram intensamente em vermelho cereja pelo reativo de floroglucina clorídrica.
Nota-se, também, a presença de grande número de feixes de fibras. Na região mediana do mesocarpo observa-se a presença de feixes vasculares delicados acompanhados de fibras de lúmen largo e paredes pouco espessadas (Fig. 47 fv). A região do mesocarpo interior aos feixes vasculares, é constituída de células maiores que as outras e que intumescem na presença de água e se coram mais intensamente pela solução de azul de metileno (Fig. 45 cm). As células da epiderme interna e as células do mesocarpo interior adjacente a elas se dividem em vários sentidos originando o endocarpo pétreo (Fig. 46 cd).
Testes de intumescência para mucilagens
Os ensaios destinados a evidenciar a presença de mucilagem bem como sua correspondente caracterização forneceram os seguintes resultados, expressos nas Tabelas 1 e 2.
Reações de identificação da presença de classe de substâncias
A Tabela 3 mostra as reações genéricas indicativas de classes de substâncias presentes nos frutos de Cordia sellowiana Cham. e Cordia myxa L
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
De acordo com Fahn (1978), a separação do pericarpo em três camadas distintas serve para facilitar a descrição anatômica, sem, entretanto representarem tecidos separados do ponto de vista de sua origem. Este tipo de procedimento é utilizado por Oliveira & Akisue (1991) na caracterização microscópica de drogas constituídas por frutos ou que contenham frutos na sua constituição.
Roth (1977), Spujt (1994) e Barroso et al. (1999) denominam de drupóide ao fruto que apresenta pericarpo nitidamente diferenciado em seu exo-meso e endocarpo. Neste tipo de fruto o exocarpo ou epicarpo funciona como uma camada protetora do fruto, o mesocarpo comumente tem consistência carnosa e o endocarpo pétreo ou percaminoso pode ter textura coriacea, ou lenhosa, com camadas esclerificadas que protegem a semente.
Os frutos tanto de C. sellowiana como de C. myxa de acordo com Barroso (1999) são drupóides nuculânicos. Cortes transversais dos frutos em diversos estágios de desenvolvimento mostraram a presença inicial de quatro lóculos (Figs. 34 e 43) que por aborto resultam em único lóculo no interior do qual se desenvolve uma única semente, raramente duas envoltas pelo endocarpo pétreo em estruturas plenamente desenvolvidas.
Tantos frutos de C. sellowiana como os frutos de C. myxa são globosos de epicarpo liso e luzidio quando frescos e enrugado quando transformados em droga. Nas duas espécies o cálice é persistente. Em C. myxa o cálice apresenta forma de taça e em C. sellowiana é campanulado e pentadenteado o que permite diferenciação desses dois frutos. Os vestígios de estilete e de estigma estão presentes nos dois tipos de frutos. Em C. sellowiana, durante o desenvolvimento, o eixo localizado entre o pedúnculo floral e a região estigmática sofre rotação de cerca de 45º no que difere de C. myxa.
C. sellowiana como C. myxa apresentaram o pericarpo diferenciado em exo, meso e endocarpo. O exocarpo é constituído por uma só camada de células e o mesocarpo apresenta duas regiões distintas: uma região próxima ao exocarpo e a outra próxima ao endocarpo. A diferença entre estas duas regiões consiste no tamanho das células e nas substâncias produzidas especificamente. Fato semelhante foi observado por Saito (1984) para C. ecalyculata. O mesocarpo de C. sellowiana assim como o de C. myxa apresentou crescimento em espessura por diferentes tipos de divisões celulares, fenômeno frequentemente observado para as drupas estudadas por Roth (1977).
Portanto, o crescimento e a forma dos frutos de C.sellowiana e de C. myxa deve-se provavelmente, a divisões celulares que ocorrem em todas as direções. Entretanto é possível observar o aparecimento de uma região mais interna do mesocarpo com intensas divisões periclinais em relação ao eixo maior dos frutos, consistindo ao que parece num meristema ventral, fato este melhor observado em C. sellowiana. Uma outra região de intensa atividade de divisões periclinais é a que se forma na epiderme interna do ovário e que, mais tarde, dará origem ao endocarpo pétreo.
Frutos ainda imaturos de C. sellowiana com cerca de 0,9 cm, apresentaram lenticelas esparsas, originadas da atividade de um "felogênio" que produz súber em direção ao exterior. Fato semelhante foi relatado por Mourão (1997) para Vismia guianensis no fruto jovem. Mauseth apud Mourão (1997) afirmou que o aparecimento de lenticelas pode ou não estar associado com o desenvolvimento de uma periderme. A ausência desta diferenciação está geralmente relacionada a um início de atividade mitótica do parênquima situado abaixo de um ou mais estômatos. Se os estômatos são raros, então as lenticelas originam-se pela atividade de "felogênios" espalhados que surgem a partir de células epidérmicas. Acredita-se que estas lenticelas, observadas nos frutos de C. sellowiana, estejam associadas a atividades mitóticas no parênquima abaixo dos estômatos.
Os frutos de C. sellowiana e C. myxa são bastante semelhantes entre si. Como características importantes na diagnose das drogas à presença de células mucilaginosas bem evidenciadas pelo azul de metileno na região do mesocarpo interior. Esta característica esta presente nas duas espécies.
A presença de idioblastos contendo areia cristalina localizada principalmente nas proximidades dos feixes vasculares corresponde à característica igualmente presente nas duas espécies.
C. myxa se diferencia de C. sellowiana no que diz respeito a estrutura anatômica do mesocarpo pela presença de esclereides, de lúmen largo localizados, principalmente, na região próxima ao epicarpo. Estes braquiesclereides são bem evidenciados pela floroglucina clorídrica.
As mucilagens são polissacarídeos acídicos que aparecem como constituintes normais das células, as quais, quando ricas neste tipo de conteúdo, são denominadas de células mucilaginosas (Capasso et al. 2000). Este tipo de substância é freqüente em tegumentos de sementes e em pericarpos. Uma das características destas substâncias é intumescer em presença de água. Outra é a de absorver intensamente a solução de azul de metileno. Estas duas características, com freqüência são empregadas para detectar sua presença bem como para estimar a quantidade dela presente em órgão vegetais.
A presença de mucilagens é característica importante na identificação dos frutos tanto de C. sellowiana como de C. myxa. O conteúdo de mucilagem é maior em C. myxa que em C. sellowiana avaliada pelo índice de intumescência.
As mucilagens apresentam atividade emoliente estando provavelmente relacionadas com as propriedades béquicas e expectorantes dos frutos das duas espécies. Os conteúdos mucilaginosos permitem elaboração com eles, de xaropes com propriedades expectorantes e ao mesmo tempo demulcentes.
Com referência a substâncias do metabolismo secundário a presença de alcalóides nos frutos constituem características importantes que podem ser empregados como auxiliares na identificação da droga. A natureza química dos alcalóides presentes não é conhecida, ainda, constituindo assunto a ser investigado. A toxidade aguda também ainda não foi estudada correspondendo a outro assunto interessante a ser pesquisado. Sabe-se, entretanto, que os frutos maduros das duas espécies costumam ser forrageados intensamente pela megafauna. Os frutos de ambas as espécies costumam ser consumidos por humanos, o que pode ser evidência da sua baixa ou não toxidade.
Outra classe de substâncias importantes e presentes no metabolismo secundário de C. sellowiana e de C. myxa são os flavonóides, ou seja, derivados do esqueleto da fenilbenzopirona. Esta classe de substâncias apresenta grande influência em alelopatia, estando frequentemente ligada a fenômenos de estabelecimento de plântulas em ambientes diversos. Os flavonóides na sua grande maioria são compostos fenólicos que reagem com o cloreto férrico, originando cor azul escura ou negra. São substâncias que por seu caráter fenólico apresentam frequentemente atividade bactericida (Kuklinski, 2000; Capasso et al. 2000).
Atribui-se ainda aos flavonóides uma serie de atividades tais como atividade antiinflamatória, analgésica, antioxidante, antivaricosa e como co-fator de vitamina C.
Os frutos de C. sellowiana como os de C. myxa reagiram positivamente para taninos.
Dos testes efetuados para detectar a presença desta classe de substância a verificação do sabor adstringente merece consideração especial. Sem duvida alguma, este teste biológico parecer ser aquele que serve como melhor indicativo dos taninos. Em contato com a boca os taninos precipitam proteínas da mucosa bucal e induzem vaso constrição sentida como um aperto na boca ou como sensação semelhante à de banana verde na boca. Os taninos são compostos de natureza fenólica polimérica que são capazes de transformar pele em couro, em outras palavras ligam-se de forma irreversível a proteínas.
Tanto C. sellowiana como C. myxa apresentaram reações negativas para a presença de glicósidos saponínicos, glicósidos cardiotônicos, óleos essenciais, cumarinas, antraderivados, esteróides e triterpenóides.
Received 5 November 2008; Accepted 27 November 2008
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
01 Set 2009 -
Data do Fascículo
Jun 2009
Histórico
-
Aceito
27 Nov 2008 -
Recebido
05 Nov 2008