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As ressonâncias da loucura materna nos processos de subjetivação de uma filha

Resonances of maternal madness in the subjectivation processes of a daughter

Résonances de la folie maternelle dans la subjectivation d’une fille

Las resonancias de la locura materna en los procesos de subjetivación de una hija

Resumo

Este artigo aborda as ressonâncias da loucura materna na subjetivação de uma filha a partir de um estudo de caso. Trabalhou-se com história de vida e foi realizado um diálogo com os processos de subjetivação e práticas de cuidado de si. A análise temática organizou os resultados a partir das seguintes categorias: as ressonâncias da loucura materna nos processos de subjetivação; o cuidado de si como horizonte transformador nos processos de subjetivação; o trabalho de subjetivar um legado transgeracional e a elaboração da mãe como referência de maternidade. Entre os resultados, destacam-se: a presença de afetos ambivalentes, a inconstância da presença física e da disponibilidade psíquica maternas e o desenvolvimento, por parte da entrevistada, de práticas de cuidado destinadas a si e a ao outro. Uma trajetória marcada por violência, questões de raça, gênero e classe, dificuldades sociais e econômicas que intensificaram a condição de sofrimento psíquico.

Palavras-chave:
loucura; parentalidade; filhos; modos de subjetivação

Abstract

This article approaches the resonances of maternal madness in the subjectivation of a daughter from a case study. We worked with life history and a dialogue was carried out with the subjectivation processes and self-care practices. Narrative interviews were thematically analyzed to organize the results: the resonances of maternal madness in the subjectivation processes; the self-care as a transforming horizon in the subjectivation processes; the work of subjectifying a transgenerational legacy; and the elaboration of the mother as a reference of motherhood. Among the results, the following stand out: the presence of ambivalent affections; the inconsistency of the maternal physical presence and psychic availability; and the development, on the part of the interviewee, of care practices aimed at herself and at the other. A trajectory marked by violence, issues of race, gender and class, social and economic difficulties that intensified the condition of psychic suffering.

Keywords:
madness; parenting; children; subjectivity modes

Résumé

Cet article aborde les résonances de la folie maternelle dans la subjectivation d’une fille avec une étude de cas. Nous avons travaillé avec l’histoire de la vie et un dialogue a été mené avec les processus de subjectivation et les pratiques d’autosoins. Des entretiens narratifs ont été analysés de façon thématique pour organiser les résultats : les résonances de la folie maternelle dans les processus de subjectivation ; l’autosoins comme horizon transformant dans les processus de subjectivation ; le travail de subjectivation d’un héritage transgénérationnel et l’élaboration de la mère comme référence de la maternité. Parmi les résultats, ressortent : la présence d’affections ambivalentes, l’incohérence de la présence physique et de la disponibilité psychique maternelle et le développement, de la part de l’enquêtée, de pratiques de soins visant soi-même et l’autre. Une trajectoire marquée par des violences, des questions de race, de genre et de classe, des difficultés sociales et économiques qui ont intensifié l’état de souffrance psychique.

Mots-clés :
folie; parentalité; enfants; modes de subjectivation

Resumen

Este artículo trata de las resonancias de la locura materna en la subjetivación de una hija mediante un estudio de caso. Se trabajó con la historia de vida y se dialogó con los procesos de subjetivación y prácticas de cuidado de sí. Se realizaron entrevistas narrativas de forma temática para organizar los resultados: las resonancias de la locura materna en los procesos de subjetivación; el cuidado de sí como horizonte transformador en los procesos de subjetivación; el trabajo de subjetivación de un legado transgeneracional y la elaboración de la madre como referente de la maternidad. Entre los resultados se destacan: la presencia de afectos ambivalentes, la inconsistencia de la presencia física materna y disponibilidad psíquica, y el desarrollo por parte de la entrevistada de prácticas de cuidado dirigidas a sí misma y al otro. Una trayectoria que estuvo marcada por cuestiones de raza, género y clase, dificultades sociales y económicas, y violencias que intensificaron la condición de sufrimiento psíquico.

Palabras clave:
locura; paternidad; hijos; modos de subjetivación

Neste artigo, buscamos compreender quais as ressonâncias do sofrimento psíquico de uma mãe considerada socialmente como “louca” sobre os processos de subjetivação de sua filha, a partir da análise de sua história de vida. Nosso intuito é possibilitar uma reflexão sobre a realidade vivenciada por essa filha, observando o que se produziu a partir do encontro com a loucura da mãe e quais forças movimentam sua história de vida diante de tal experiência.

Para tanto, partimos da perspectiva foucaultiana, em que o fenômeno da loucura é descrito enquanto uma categoria social (Foucault, 2017bFoucault, M. (2017b). História da loucura: na idade clássica (11a. ed.). São Paulo: Perspectiva.): no momento em que surge na sociedade, o discurso psiquiátrico constrói a figura do louco como alguém sem razão, arregimentando motivos para que esses sujeitos sejam excluídos do campo social. Como nosso estudo versa sobre as mães marcadas pelo estigma da loucura, nos detivemos nessa condição historicamente atribuída às mulheres, de serem reconhecidas enquanto “loucas”.

Os estudos encontrados na literatura abordam a experiência dos filhos com a loucura parental a partir de três perspectivas: a primeira compreende a exposição à loucura dos pais como um fator de risco para o desenvolvimento das crianças e para o possível surgimento de um transtorno mental1 1 A partir de uma escolha ética e política, utilizaremos a expressão “sofrimento psíquico” em substituição a “doença mental” e “transtorno mental”. As expressões “transtorno mental” e “doença mental” só serão mencionadas para contextualizar determinada época ou quando citadas pelos autores nos estudos. (Gutt, 2013Gutt, E. K. (2013). Crianças e adolescentes em risco para esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar: um estudo comparativo [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo]. Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-12022014-144051/pt-br.php
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; Terzian, Andreoli, Oliveira, Mari, & McGrath, 2007Terzian, A. C. C., Andreoli, S. B., Oliveira, L. M., Mari, J.J., & McGrath, J. (2007). A cross-sectional study to investigate current social adjustment of offspring of patients with schizophrenia. European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, 257(4), 230-236. doi: 10.1007/s00406-007-0714-6
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; Van Loon, Van de Ven, Van Doesum, Hosman, & Witteman, 2017Van Loon, L. M. A., Van de Ven, M. O. M., Van Doesum, K. T. M., Hosman, C. M. H., & Witteman, C. L. M. (2017). Parentification, stress, and problem behavior of adolescents who have a parent with mental health problems. Family Process, 56(1), 141-153. doi: 10.1111/famp.12165
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); a segunda perspectiva, representada por autores como Vivanco e Grandón (2016Vivanco, G., & Grandón, P. (2016). Experiencias de haber crecido con un padre/madre con trastorno mental severo (TMS). Revista Chilena de Neuro-Psiquiatría, 54(3), 176-186. doi: 10.4067/S0717-92272016000300002
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) e Barbosa e Jucá (2017Barbosa, A. S., & Jucá, V. J. S. (2017). Maternidade e loucura: questões jurídicas em torno do poder familiar. Mental, 11(20), 243-260.), aborda o tema a partir do direito dos pais de exercer a parentalidade e envolve estudos que discutem, além do poder familiar do ponto de vista legal, a necessidade de cuidado do laço de filiação; por fim, a terceira perspectiva é constituída pelos poucos estudos que pensam nas potencialidades do laço. Os autores que agregamos na última perspectiva procuram se distanciar de visões deterministas, presentes naqueles para quem o desenvolvimento de crianças com pais loucos estaria sempre comprometido. (Carvalho, 2019Carvalho, B. C. B. (2019). Maternidade e filialidade para mães em sofrimento psíquico e suas filhas: entre as delicadezas da experiência pessoal e os recursos de proteção social [Tese de doutorado, Universidade Federal da Bahia]. Repositório Institucional da UFBA. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30490
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; Cid, Matsukura, & Silva, 2012Cid, M. F. B., Matsukura, T. S., & Silva, M. D. P. (2012). Transtorno mental materno e desenvolvimento infantil: percepções sobre essa realidade. O Mundo da Saúde, 36(2), 265-275. doi: 10.15343/0104-78092012362265275
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; Murphy, Peters, Wilkes, & Jackson, 2018Murphy, G., Peters, K., Wilkes, L., & Jackson, D. (2018). Adult children of parents with mental illness: parenting journeys. BMC Psychology, 6(37), 1-10. doi: 10.1186/s40359-018-0248-x
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; Patrick, Reupert, & Mclean, 2019Patrick, P. M., Reupert, A. E., & Mclean, L. A. (2019). “We are more than our parents’ mental illness”: narratives from adult children. International Journal of Environmental Research and Public Health, 16(5), 839. doi: 10.3390/ijerph16050839
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).

Desse modo, pretendemos trazer para a discussão como a relação entre mãe e filha ressoa nos processos de subjetivação da segunda, para além dos “riscos” e “prejuízos ao desenvolvimento” apontados. Entendemos ser preciso abrir espaço para que essa filha conte como é para ela estar nesse lugar e como elabora a loucura materna.

A subjetividade é entendida no âmbito deste escrito como os modos de viver, de agir sobre o mundo e de sentir, sendo uma produção contínua e mutável que acontece a partir do movimento de forças que incidem sobre o sujeito na sua relação com o social (Guattari & Rolnik, 2010Guattari, F., & Rolnik, S. (2010). Subjetividade e história. In F. Guattari, & S. Rolnik. Micropolítica: cartografias do desejo (10a. ed., pp. 33-148). Petrópolis, RJ: Vozes.). A subjetivação é aqui pensada como produção.

Assim, diante da incipiente produção acadêmica destinada a compreender a experiência de ser exposto à loucura dos pais na perspectiva dos filhos, nosso objetivo é analisar, a partir de um estudo de caso, quais são as ressonâncias do sofrimento psíquico de uma mãe “louca” sobre os processos de subjetivação de sua filha. Ressonâncias aqui estão sendo pensadas enquanto efeitos sobre a subjetivação, incluindo os atravessamentos de fatores socioculturais. A análise em profundidade de um caso pode ajudar a dirimir algumas generalizações e conclusões que não levam em conta o contexto sociocultural e afetivo das pessoas envolvidas. Neste artigo, portanto, iremos tratar da produção da subjetividade de Maya - nome fictício - a partir de quatro movimentos: em quais aspectos da vida de Maya as ressonâncias do sofrimento materno se fazem mais presentes; em que aspectos de sua vida o cuidado de si provoca deslocamentos; a subjetividade a partir de uma perspectiva da transgeracionalidade; e a ruptura com os discursos instituídos que apostam nos efeitos negativos e problemáticos de se ter uma mãe louca. Argumentamos, ao longo da escrita, que existem diferentes experiências em torno do sofrimento psíquico das mães e que ter uma mãe socialmente tida como louca causa um impacto na história de vida dos filhos; contudo, esse não é um processo homogêneo e predominantemente negativo como afirma a literatura especializada.

Percurso metodológico

Optamos por trabalhar a partir de estudo de caso único, pois essa perspectiva permite uma análise detalhada da história de vida do sujeito (Becker, 1999Becker, H. S. (1999). Métodos de pesquisa em ciências sociais (4ª ed.). São Paulo, SP: Hucitec.). A escolha da interlocutora da pesquisa seguiu alguns critérios de elegibilidade para inclusão no estudo: (1) ser maior de 18 anos; (2) ter uma mãe com um quadro de sofrimento psíquico grave apresentado desde quando a participante da pesquisa se encontrava na primeira infância; (3) aceitar participar da pesquisa; e (4) pertencer a uma classe social menos favorecida. O contato com a participante do estudo se deu por indicação de uma profissional de saúde mental/saúde coletiva, lembrando que a pesquisa não teve vinculação com nenhum serviço. Foram realizados cinco encontros, em lugares escolhidos pela participante, totalizando três entrevistas.

Tivemos a preocupação de trabalhar com um método que não objetificasse a interlocutora do nosso estudo. Assim, optamos por adotar como estratégia metodológica a História de Vida, operando na intersecção do social, do cultural e da singularidade. O relato ultrapassa a realidade de quem conta (Silva, Barros, Nogueira, & Barros, 2007Silva, A. P., Barros, C. R., Nogueira, M. L. M., & Barros, V.A. (2007). “Conte-me sua história”: reflexões sobre o método de História de Vida. Mosaico: Estudos em Psicologia, 1(1), 25-35.), o que se afina bem com a perspectiva das dobras por meio das quais o sujeito se subjetiva (Foucault, 2012Foucault, M. (2012). Ditos e escritos: Vol. V. Ética, sexualidade e política (3a. ed.). Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária.), mas que se constituem nos atravessamentos que são coletivos. A história de vida parte da narrativização do vivido, na medida do que é possível para o sujeito e do que a memória lhe permite lembrar. Importante considerar o caráter ativo da memória nessa reconstrução e, sobretudo, a elaboração e o sentido que o sujeito constrói em torno do vivido. Como afirma Becker (1999Becker, H. S. (1999). Métodos de pesquisa em ciências sociais (4ª ed.). São Paulo, SP: Hucitec.), interessa ao pesquisador, sobretudo, a interpretação do sujeito sobre seu mundo.

Trabalhamos com a entrevista narrativa biográfica como ferramenta para a construção dos dados, bem como utilizamos também o diário de campo. Desse modo, convidamos nossa colaboradora a narrar sua história, com base na seguinte questão disparadora: “Me conte sobre sua história de vida”. A entrevistada tinha conhecimento de nosso interesse prévio em sua relação com a mãe, o que a levou a seguir algumas orientações em seu relato.

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, tendo sido aprovado antes do início de sua execução (CAAE: 20648919.7.0000.5030), em conformidade com as diretrizes éticas inerentes à investigação científica - Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa - envolvendo seres humanos. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi obtido por meio de leitura e assinatura antes do início da abordagem, como forma de garantir o sigilo e anonimato dos dados e o direito à desistência a qualquer momento do estudo.

Na etapa de análise dos dados, o material empírico obtido por meio das entrevistas narrativas biográficas foi analisado a partir da perspectiva da análise temática (Bardin, 1977Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.), considerada pertinente para esta pesquisa por possibilitar um processo gradual de redução do texto. Desse modo, organizamos os trechos recortados da narrativa em categorias elaboradas a partir dos elementos trazidos nas falas de nossa interlocutora.

Entre as temáticas problematizadas nas categorias, elegemos: “Eu vejo o mundo através dos olhos dela”: as ressonâncias da loucura materna nos processos de subjetivação; “Quando eu olhei para mim”: o cuidado de si como horizonte transformador do processo de subjetivação; Subjetivar: um legado transgeracional; e “Ela foi referência pra mim de maternidade”: indo contra os discursos instituídos.

Vinheta biográfica: quem é Maya?

Chamamos nossa colaboradora do estudo de Maya. É uma mulher de 30 anos, negra, moradora de um bairro periférico, atualmente reside sozinha e possui ensino superior em andamento. Maya já trabalhou como cuidadora em uma casa de acolhimento para pessoas em sofrimento psíquico, bem como em um projeto que cuidava de pessoas em situação de rua. O trabalho que desenvolve hoje está voltado para mobilização em comunidades. Em termos de filiação religiosa, segue os mesmos passos da mãe: é praticante do candomblé. Sua mãe tinha um sofrimento psíquico e passou por três episódios de internação, antes do nascimento de Maya. Veio a falecer aos 51 anos, quando Maya tinha 21 anos. A vida de sua mãe foi atravessada por muitas dificuldades financeiras, sendo levada a se prostituir pela própria mãe e para sustentar os filhos. Maya é uma das filhas mais novas, tendo mais duas irmãs e um irmão. Com seu irmão não teve muita convivência. A figura paterna esteve ausente ao longo de sua vida, desde os dois anos de idade, quando o pai saiu de casa, abandonando sua mãe com duas filhas. Sua mãe se casou sete vezes, vivenciando histórias de muita agressão, de toda ordem. Maya relata que sofre crises de ansiedade e de pânico e se encontra em processo de terapia.

Análise e discussão dos resultados

“Eu vejo o mundo através dos olhos dela”: as ressonâncias da loucura materna nos processos de subjetivação

Os processos de subjetivação do sujeito se dão a partir de relações diversas, com especial relevância para a relação familiar, por ser a rede primeira com que o sujeito se depara. Emerge daí o entendimento de que o sofrimento de um membro da família, sobretudo se ocupa um lugar de referência, ressoa no psiquismo dos filhos de modo rizomático,2 2 O rizoma traz a ideia de conexão, de um sistema aberto. O termo foi tomado de empréstimo da botânica, tendo como simbologia as ramificações em todos os sentidos, o que torna o rizoma um sistema de conexões sem meio nem fim, tendo como características a multiplicidade e heterogeneidade (Deleuze & Guattari, 1995). em decorrência da multiplicidade de sentidos que a relação pode tomar por fazer parte de uma teia mais complexa tecida no campo social. Ao convidar a colaboradora do estudo a narrativizar o vivido, ela nos conta:

. . . quando eu fui pra terapia, eu fui pra trabalhar meu pai; só que eu acabei tendo que trabalhar minha mãe. . . . Mas com minha mãe não, que era uma mulher que tava ali presente, mas daqui a pouco tava ausente. Quando não era ausente fisicamente, era ausente, né, psiquicamente, porque ela não tava ali pra dar aquela atenção de mãe, então eu fui pra trabalhar isso, fui pra trabalhar a ausência dela.

Na fala de Maya, percebemos como essa questão da oscilação presença-ausência é um marcador importante na relação com sua mãe: “Então, eu vivi um período assim de muita ausência dessa figura materna. Presença e ausência, presença e ausência”. Ela, como filha, não entendia do que se tratava essa ausência, era difícil compreender as dificuldades desse outro materno. Na fala a seguir, Maya nos diz: “É muito difícil você querer a presença do outro, e não poder ter por causa do problema do transtorno”. É oportuno mencionar que Maya não usou a palavra abandono, ou referiu se sentir abandonada pela mãe; pelo contrário. Ela fala de uma ausência pela condição psíquica e social vivenciada, mas sempre marcando que sua mãe nunca deixou de ocupar, para ela, o lugar de mãe e que estava ali presente como ela podia estar.

Em muitas dessas situações, os filhos podem ficar vulneráveis ou ter que desenvolver habilidades para cuidar de si, dos irmãos e da própria mãe, assumindo o lugar desta quando não se tem uma rede de apoio (Carneiro, Aquino, & Jucá, 2014Carneiro, U. S. S., Aquino, G. C., & Jucá, V. J. S. (2014). Desafios da integralidade na assistência: o itinerário terapêutico de mães com sofrimento psíquico grave. Revista de Psicologia, 5(1), 46-57.; Jesus, Jucá, & Barbosa, 2014Jesus, C. M. S., Jucá, V. J. S., & Barbosa, A. S. (2014). Maternidade, sofrimento psíquico e redes sociais. Revista Epos, 5(2), 191-210.).

Minha infância sempre eu lembro com muita discussão. Não foi uma infância que eu vivi brincando, sabe?! Eu não tive infância na verdade. Não tive. Era sempre com muita briga. . . . Eu não tive momentos de diversão, eram sempre momentos de muita tensão.

Ela nos fala de uma infância tumultuada, cercada por momentos de discussões da mãe com a avó e uma tia, além dos momentos de ausência materna. A necessidade de ter que conviver com a ausência materna, sem recursos para entendê-la, pode ser considerada como uma experiência de desamparo importante no processo de constituição subjetiva de Maya. De acordo com Freud (1895/1950)Freud, S. (1950). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Vol. 1. Projeto para uma psicologia científica. Rio de Janeiro, RJ: Imago., o desamparo se ancora na prematuridade do humano, mas se efetiva para o sujeito na medida em que seu grau de dependência para com o outro se afirma. Desse modo, circunstâncias em que há uma grande inconstância do outro prestativo - como Freud chamava o cuidador primeiro - podem intensificar o sentimento de desamparo.

Maya vivenciou situações de desamparo, intensificadas pela condição de sofrimento psíquico de sua mãe, mas também por ter crescido em um contexto social desfavorável e de muita vulnerabilidade. Assim, em muitos momentos de sua história de vida, Maya é relançada nessas situações. Ela nos relatou, por exemplo, um período em que passou três anos longe da mãe, quando esta descobriu ter diabetes. Nesse momento, doente e sem emprego, precisou deixar os filhos com a bisavó paterna e uma tia. Para Maya, esse foi um dos piores momentos que passou: não queria ficar longe da mãe e ainda sofreu maus tratos por parte da tia. Para ela, mesmo com todas as questões apresentadas por sua mãe, seu desejo era sempre poder estar perto.

Houve momentos em que a família paterna falou em tirar os filhos da mãe, deslegitimando seu lugar materno por meio de desmoralizações em função de seu sofrimento psíquico. Diziam: “Sua mãe é louca”; alegavam que ela não cuidava das crianças. Todavia, nossa colaboradora nos diz: “Mas ela cuidava, da forma dela ela cuidava. E esse cuidado foi muito importante”. Essa é uma atitude recorrente nas narrativas das mulheres e alguns estudos mostram que, em situações em que há um sofrimento psíquico, especialmente na figura materna, existe uma tendência entre pessoas próximas de pensar na retirada/afastamento (Barbosa & Jucá, 2017Barbosa, A. S., & Jucá, V. J. S. (2017). Maternidade e loucura: questões jurídicas em torno do poder familiar. Mental, 11(20), 243-260.; Carteado, 2007Carteado, M. (2007). Ela não pode ser mãe! Quando maternidade e loucura se cruzam. In M. V. O. SILVA (Org.), In-tensa, ex-tensa: a clínica psicossocial das psicoses (pp. 223-227). Salvador, BA: Laboratório de Estudos Vinculares, UFBA.; Carvalho, 2019Carvalho, B. C. B. (2019). Maternidade e filialidade para mães em sofrimento psíquico e suas filhas: entre as delicadezas da experiência pessoal e os recursos de proteção social [Tese de doutorado, Universidade Federal da Bahia]. Repositório Institucional da UFBA. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30490
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).

Os efeitos produzidos na relação pelo desamparo constantemente atualizado na vida de Maya podem também ser entendidos a partir do que Rolnik (1993Rolnik, S. (1993). Pensamento, corpo e devir: uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico. Cadernos de Subjetividade, 1(2), 241-251. doi: 10.2354/cs.v1i2.38134
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) denomina como marcas decorrentes “dos estados vividos em nosso corpo no encontro com outros corpos” (p. 5). Marcas que ressoam e teriam a potencialidade de agenciar processos de subjetivação. As marcas, de acordo com a autora, seriam “memórias invisíveis” daquilo que nos afetou por meio das conexões com o social que nos constitui.

Ora, o que estou chamando de marca são exatamente estes estados inéditos que se produzem em nosso corpo, a partir das composições que vamos vivendo. Cada um destes estados constitui uma diferença que instaura uma abertura para a criação de um novo corpo, o que significa que as marcas são sempre gênese de um devir. (Rolnik, 1993Rolnik, S. (1993). Pensamento, corpo e devir: uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico. Cadernos de Subjetividade, 1(2), 241-251. doi: 10.2354/cs.v1i2.38134
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, p. 2)

Nessa direção, quando ressaltamos o desamparo na vida de Maya, não é por ele se configurar como uma experiência lembrada por ela como traumática, mas por se revelar como aquilo que as ausências maternas, que passaram a ser elaboradas em terapia e surgem no contexto da pesquisa como algo relevante em sua história, provocaram subjetivamente. A ausência desponta, em sua narrativa, como um rastro, uma pista do vivido que suscita uma elaboração a posteriori. Algo, portanto, que ressoa, mas que por si não explica a experiência do devir que, em sua face de potência e abertura, levou Maya ao desenvolvimento de uma sensibilidade por meio da qual o cuidado dirigido ao outro e a si mesma se tornou um elemento central em sua vida.

Maya afirma ver o mundo pelos olhos de sua mãe, mas, ao mesmo tempo em que se reconhece similar à mãe, ela fala sobre seu trabalho para se descolar dessa identificação. Um ponto importante nesse trabalho diz respeito ao separar o sofrimento psíquico apresentado por ela daquilo que concerne à história da mãe:

Por isso que talvez eu tenha essa resistência em ter que tomar remédio, sabe?! Eu tenho uma resistência muito grande. Eu, Maya, hoje, desencadeei uma ansiedade, crise de pânico. . . . Então há certa resistência em ter que tomar remédio e me ver nessa condição. Eu não consigo lidar, falei inclusive isso na terapia. Não sei lidar com isso . . . porque é me colocar nessa mesma condição, sabe?! De mulher com transtorno. . . . Eu consigo aceitar o que era a minha mãe, mas eu me ver nessa condição, eu ainda não sei.

A vida de Maya com a mãe e as irmãs foi marcada por dificuldades sociais e econômicas, violência doméstica e falta de apoio familiar efetivo. Isso aparece de forma veemente em sua fala, em sua posição diante da vida. Sua mãe sofreu diversos episódios de agressão de companheiros, precisou se prostituir para garantir aos filhos o direito de crescer e se alimentar, sem apoio algum. Situações de vulnerabilidade vividas tão desestabilizadoras quanto pode ser o sofrimento psíquico.

Foi minha avó, inclusive, que botou ela pra fazer programa, pra se prostituir. . . . Então… ela foi muito violada o tempo todo, sabe?! Ela foi muito negligenciada a todo instante. E eu acho que qualquer pessoa surtaria, diante de tudo que ela passou, de todo os abusos, de todos os… os maus tratos.

Nesse sentido, é preciso convocar os operadores sociais e políticos que incidem na construção subjetiva (Birman, 2006Birman, J. (2006). Tatuando o desamparo: a juventude na atualidade. In M. R. Cardoso (Org.), Adolescentes (pp. 25-43). São Paulo, SP: Escuta.) para entendermos quais ressonâncias atravessam esses modos de produção de si, agudizando o sofrimento. Compreendemos o sofrimento como não sendo apenas de ordem individual, mas fruto das relações sociais que estabelecemos e de uma sociedade que atua na sua produção.

Acho que nessa busca incessante de querer ser amada, de ser acolhida e ser cuidada, ela acabava se permitindo viver situações que não tinha necessidade. E aí, minha mãe se casou sete vezes, né, ela tinha um companheiro lembro que a, a memória que eu tenho é de um companheiro que ela tinha que bebia muito, bebia muito. E, todas as vezes que ele bebia, ele agredia ela. E aí, eles discutiam, e aquilo pra mim foi traumático.

Diante dos trechos destacados, Maya relata as situações de violência a que via a mãe se submeter e como isso repercutiu no seu modo (medo) de se relacionar. Relações abusivas que atualizam um circuito afetivo. A relação abusiva em que Maya esteve a faz reviver as situações vivenciadas por sua mãe e outras mulheres da família. Uma história coletiva de ciclos de violência que vêm atravessando gerações e produzindo sofrimento e “subjetividades assujeitadas” (Narvaz & Koller, 2006Narvaz, M. G., & Koller, S. H. (2006). Mulheres vítimas de violência doméstica: compreendendo subjetividades assujeitadas. Psico, 37(1), 7-13.).

“Quando eu olhei para mim”: o cuidado de si como horizonte transformador do processo de subjetivação

As falas sobre cuidado sejam de si ou do outro são muito vivas e aparecem com frequência na narrativa de Maya. Desse modo, essa categoria contempla as estratégias encontradas por nossa interlocutora para o acolhimento de si nesse processo de encontro com a condição de sofrimento psíquico de sua mãe. A escolha por um cuidado de si é compreendida por Foucault (2017a)Foucault, M. (2017a). História da sexualidade: Vol. 3. O cuidado de si. (4a. ed.). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra. como um modo de subjetivação e, mais do que isso, como uma postura ética. Trago aqui um fragmento do relato de Maya para entendermos sua busca por cuidado como forma de poder encontrar outras formas de devir.

Como eu falei, eu não vivi o luto do falecimento dela. Talvez por isso ainda seja muito vivo em mim tudo, porque só agora eu comecei a fazer isso. Só agora eu pude me reconectar com ela, sabe… De uma outra forma. Porque eu não queria pensar, eu não queria pensar na dor, na ausência dela. Então, eu fui pra terapia pra tratar disso. Pra tratar a ausência dela. . . . Quando a gente tava perto, era muito bom e tinha uma questão, assim, minha mãe era muito afetuosa, então, era isso, como ela era muito afetuosa, eu queria sempre aquele afeto. E nem sempre ela estava ali. Por causa das crises, ou por causa de questões, né, do trabalho, ou porque ela se mudava e teve que deixar a gente com minha avó, porque ficou doente um período. . . . Quando eu pensei assim “não quero pensar nessa ausência, nessa falta”, eu adoeci também, sabe?!

Maya traz a terapia como um modo de cuidar de si: “Eu fui também pra trabalhar ela e pra trabalhar essa criança magoada, né?! Uma criança que [risos]… Cheia de traumas”. Podemos considerar a prática de cuidado de si como um elemento que teria a potência de ser produtora de um processo de singularização (Guattari & Rolnik, 2010Guattari, F., & Rolnik, S. (2010). Subjetividade e história. In F. Guattari, & S. Rolnik. Micropolítica: cartografias do desejo (10a. ed., pp. 33-148). Petrópolis, RJ: Vozes.), em que o sujeito desenvolve formas de escapar ao que está instituído.

Maya se refere à psicoterapia como uma possibilidade para acolher “sua criança ferida” e como um ponto de virada bastante relevante. Nesse sentido, podemos pensar os espaços de cuidado como espaços também de resistência que podem operar deslocamentos, criações. Maya conta que hoje entende sua mãe e a perdoa pelos momentos de ausência que antes talvez não fossem entendidos, apenas sentidos:

Então… consigo hoje compreender minha mãe, o que foi minha mãe, sabe?! A mulher que ela era, as fragilidades dela, consigo, inclusive, é… Perdoar que é uma coisa que eu venho trabalhando na terapia. Que era perdoar essa ausência e entender que ela não tinha mesmo condições de me dar o que eu precisava.

Maya nos conta que tem na mãe uma referência de cuidado e acolhimento com o outro: “. . . mesmo nesse processo de crise dela, ela conseguia ajudar as pessoas. Ela ajudava muita gente. Ela tirava as pessoas de situação de rua, ela colocava dentro de casa, sabe?!”. Com isso, Maya desenvolve práticas de cuidado que se articulam com o cuidado que ela desenvolve com os outros, pela escolha profissional, pelo trabalho que já exerceu de cuidadora de pessoas em sofrimento psíquico e em situação de vulnerabilidade social. Sua trajetória resultou em um estado de atenção e de disponibilidade dirigido a ela mesma e ao outro, uma ressonância da relação com sua mãe. Sua inserção em outros espaços pode também ter lhe aberto horizontes de criação de estratégias de cuidado como, por exemplo, ambientes de envolvimento político e a religiosidade que aparecem fortes em sua fala. Carvalho (2019Carvalho, B. C. B. (2019). Maternidade e filialidade para mães em sofrimento psíquico e suas filhas: entre as delicadezas da experiência pessoal e os recursos de proteção social [Tese de doutorado, Universidade Federal da Bahia]. Repositório Institucional da UFBA. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30490
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) e Carneiro et al. (2014Carneiro, U. S. S., Aquino, G. C., & Jucá, V. J. S. (2014). Desafios da integralidade na assistência: o itinerário terapêutico de mães com sofrimento psíquico grave. Revista de Psicologia, 5(1), 46-57.) chamam atenção para os espaços de engajamento político-social como espaços que podem ser promotores de cuidado e do estabelecimento de outro olhar para si. Assim, Maya relaciona o cuidado do outro como uma forma de também cuidar de si.

Essa necessidade de cuidar do outro pra me sentir cuidada. Que era o que eu fazia com minha mãe. . . . Eu cuidava dela, a gente ficava tentando acalmar ela, cuidar dela pra que ela não fosse de vez. Pra aí eu me sentir cuidada também.

Essa fala de nossa interlocutora marca como os momentos de crise com a mãe foram vivenciados. Cuidar trazia a possibilidade de ter a mãe por perto. Nos momentos de crise da mãe, Maya revive o sentimento de desamparo.

A única coisa que eu queria mesmo, ela, naquele estado dela, ela poderia tá doente, ela poderia tá tendo as crises dela de, né, os surtos, as crises depressivas dela… eu só queria estar com ela, entende?! Então era muito difícil você ter uma mãe nessa condição.

Em relação a presenciar os momentos de crise, Maya relata que sua reação e das irmãs envolviam o cuidado, o acolhimento, o tentar acalmar, mas também o entristecer-se por ver a mãe em sofrimento. Esses momentos também eram marcados pelo não entendimento do que se passava com a mãe, quando ela dizia ver “bichos” e gritava. Essas filhas assumiram em muitos momentos esse lugar de suporte emocional, corroborando estudos como o de Carvalho (2019Carvalho, B. C. B. (2019). Maternidade e filialidade para mães em sofrimento psíquico e suas filhas: entre as delicadezas da experiência pessoal e os recursos de proteção social [Tese de doutorado, Universidade Federal da Bahia]. Repositório Institucional da UFBA. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30490
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), e Cid et al. (2012Cid, M. F. B., Matsukura, T. S., & Silva, M. D. P. (2012). Transtorno mental materno e desenvolvimento infantil: percepções sobre essa realidade. O Mundo da Saúde, 36(2), 265-275. doi: 10.15343/0104-78092012362265275
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). Quando questionada sobre os momentos de crise, em quais situações elas geralmente se davam, relata que tinha muita relação com a questão do trabalho:

A falta de trabalho enlouquece, né, a falta de perspectiva enlouquece. Mexia emocionalmente com ela, era sempre a questão do trabalho. Tinham as relações, né, mas o trabalho de não ter uma… de não ter como se sustentar, de não ter uma estabilidade financeira era o que, é… desencadeava esses surtos também, entende?!

Aqui o cuidado de si pode ser referência para pensarmos nas possibilidades afetivas criadas pelo sujeito para o enfrentamento do sentimento de desamparo diante da crise. Entre as estratégias utilizadas por Maya, a arte, em especial a música, e a religião/espiritualidade foram lugares de resistência e de cuidado para esses momentos: “Então, a gente rezava. Eu e minha irmã, a gente pegava na mão dela assim, sabe, começava a rezar. Era uma forma de acalmar ela quando ela tava em crise”.

Maya fala que, em sua vida, assim como sua mãe, se negligenciou em alguns momentos. Reconhece a entrega ao outro, sem colocar limites, como prejudicial para sua vida. Maya desenvolveu um quadro com crises de ansiedade, dificuldades para dormir sozinha, sintomas que apareceram, segundo seu relato, após uma relação abusiva vivenciada e os relaciona também à dificuldade de viver o luto da perda de sua mãe. Essa é uma questão ainda desafiadora em sua busca por cuidado.

Sobre a relação abusiva que vivenciou, Maya encontrou estratégias para romper com esse ciclo de violência. Podemos considerar aqui a noção de Foucault (2012Foucault, M. (2012). Ditos e escritos: Vol. V. Ética, sexualidade e política (3a. ed.). Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária.) do cuidado de si como prática de liberdade, em que o autor pontua essas práticas desenvolvidas como uma busca do sujeito por uma elaboração sobre si. A questão a ser posta é: o cuidado de si engendra práticas de liberdade. Nesse processo, o sujeito está enredado por relações de poder, de sujeição e dominação engendradas de forma sociocultural ao gênero pelo patriarcado. Foucault (2012)Foucault, M. (2012). Ditos e escritos: Vol. V. Ética, sexualidade e política (3a. ed.). Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária., ao falar sobre as relações de poder, vai contra o modelo tradicional que entende o poder a partir de aspectos apenas negativos e repressores. O poder envolve movimento, possibilidades de resistência e ruptura ao que é imposto. É relacional e se dá porque há liberdade dos dois lados, caso contrário trata-se de estados de dominação e envolve relações de poder assimétricas. Em seu caráter positivo, portanto, o poder pode criar possibilidades e provocar fissuras nos modos de ser instituídos historicamente. Assim, compreendemos essas práticas de resistência como potencializadoras de novos modos de subjetivação. Não é fácil, mas Maya conseguiu sair. Talvez ela tenha, hoje, mais condições para criar alternativas. O que provavelmente não foi possível para sua mãe e outras mulheres da família que podem ter encontrado poucas opções.

Maya tem um envolvimento e compreensão sobre questões políticas, de gênero, raça, pessoas em situação de vulnerabilidade, o que observamos como tendo uma potencialidade rizomática nos seus processos de subjetivação. Os processos de resistência circunscritos a esses envolvimentos mobilizam o sujeito a um redirecionamento sobre os modos de agir e se relacionar, agenciando processos de produção subjetiva a partir do momento histórico, social, cultural e político e dos jogos de poder presentes em cada contexto.

Portanto, podemos pensar o cuidado de si de Maya passando pela vivência com sua mãe, mas não só. Ela desenvolveu uma consciência e nível de empoderamento a partir das relações sociais, dos espaços em que participa, do posicionamento social e político.

Subjetivar: um legado transgeracional

As dores, desde tempos imemoriais, podem atravessar gerações. Nessa categoria, propomos uma reflexão sobre essa transmissão transgeracional presente muitas vezes em forma de sofrimento psíquico. Nossa colaboradora conta que as mulheres de sua família sempre sofreram algum tipo de transtorno: sua bisavó, sua avó, mãe, ela. Importante falarmos como o sofrimento psíquico pode ser uma marca e um elo de agenciamento de modos de subjetivação nesse ciclo.

Ao nascer e se inserir no mundo, o sujeito não elege a sociedade, a cultura ou a família a que irá pertencer. Ele é lançado em um espaço marcado por um discurso e um modo de vida no qual transitam valores, prescrições, proibições, crenças e ideais, tudo isso oferecido como um alimento que deverá nutri-lo de forma que possa pertencer ao conjunto. O que precede a existência se coloca continuamente nas linhas que tecem as subjetividades. Todavia, o sujeito se torna protagonista da sua história, pois escreve parte dela ou pode reescrevê-la, o que pode significar, em última análise, se recriar. (Almeida & Romagnoli, 2017Almeida, E., & Romagnoli, R. C. (2017). Assim como nossos pais? Conjugalidade: repetição, transformação e criatividade. Psicologia Clínica, 29(2), 229-251., pp. 232-233)

Romagnoli (2004Romagnoli, R. C. (2004). O sintoma da família: excesso, sofrimento e defesa. Interações, 9(18), 41-60.) fala do sintoma que emerge no território familiar como uma produção coletiva, criando um “modo de existência grupal” (Romagnoli, 2006Romagnoli, R. C. (2006). Famílias na rede de saúde mental: um breve estudo esquizoanalítico. Psicologia em Estudo, 11(2), 305-314. doi: 10.1590/S1413-73722006000200009
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): “Essas marcas ganham, por insistência, alguma homogeneização, conquistada pela repetição e comunhão desses elementos heterogêneos entre as subjetividades que integram o grupo” (p. 307). Uma fala de Maya é ilustrativa sobre essa herança:

E é incrível isso, como… é muito surreal. E aí, às vezes, eu fico me questionando, né, porque essas mulheres, as mulheres da família sempre desencadeiam algum tipo de transtorno emocional. Sempre… E sempre muito ligada às relações… às relações abusivas.

As mesmas dores podem acometer pessoas de gerações diferentes, pelos mais variados motivos, e é importante olhar para essa memória de dor para entender os caminhos trilhados pelos que nos antecederam nesse enredo familiar e social. Essa herança é recebida, todavia o sujeito tem a possibilidade de elaborar o que outras gerações eventualmente não puderam fazer e ressignificar, abrindo novos territórios existenciais (Guattari, 1992Guattari, F. (1992). Heterogênese. In F. Guattari. Caosmose: um novo paradigma estético (pp. 11-44). São Paulo, SP: Editora 34.) - espaços construídos a partir das conexões realizadas e que contribuem para criarmos modos de viver inéditos. Do contrário, ele pode se identificar e repetir.

Maya também esteve em uma relação abusiva, uma herança integrante de um sofrimento entendido também como sociopolítico (Rosa, 2015Rosa, M. D. (2015). Psicanálise, política e cultura: a clínica em face da dimensão sócio-política do sofrimento. [Tese de livre docência, Universidade de São Paulo]. Repositório da Produção USP. https://repositorio.usp.br/item/002838390
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). Conviver com a violência desde muito cedo, como foi o caso de Maya e das mulheres da família, pode fazer com que esta seja vivenciada como natural e até esperada dentro das relações conjugais. Assim, a violência e o sofrimento psíquico aparecem como marcas que agenciam o processo de subjetivação dessas mulheres.

Existe uma questão histórica nos modos dos sujeitos produzirem formas de resistência. Foucault (2012Foucault, M. (2012). Ditos e escritos: Vol. V. Ética, sexualidade e política (3a. ed.). Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária.) menciona essas possibilidades, ainda que limitadas, de mulheres historicamente buscarem essa resistência como modo de sair dessas relações de poder engendradas. O autor cita, por exemplo, que as esposas, nas sociedades dos séculos XVIII e XIX, poderiam recusar o sexo, retirar dinheiro dos maridos, enganá-los. A mãe de Maya pode ter se rebelado de outros modos, diferentes dos construídos hoje; ou não, pode ter entrado em relações de assujeitamento. Em alguns momentos Maya se questiona sobre os elementos desencadeadores do sofrimento psíquico em sua mãe, bem como nas mulheres da família. Pensa:

Eu ficava me questionando em alguns momentos porque que desencadeou isso. O quê que desencadeou isso, né?! O quê que desencadeava isso nas mulheres da família, o que é que desencadeou isso na minha mãe… Depois eu entendi, eu acho que era muito mais pela questão de não ter essa referência mesmo, sabe, essa referência materna, esse cuidado, esse acolhimento, não tinha, não tinha isso.

Algo que aparece também na fala de nossa interlocutora é a ausência da figura paterna. Nem ela nem sua mãe conviveram com seus respectivos pais. O de Maya as abandonou quando ela tinha apenas um ano e meio de idade. Ao longo de sua trajetória, nenhuma outra figura masculina assumiu essa função. Diz: “Era mais a figura da mulher mesmo tomando conta de tudo.” Completa:

Eu venho de uma família onde as mulheres não tiveram isso, não tiveram essa relação com os pais, né, essa relação completamente… Isso acaba de algum modo… Até pela cobrança, acho que pela cobrança da sociedade, por tudo, acaba afetando emocionalmente essas mulheres. E eu digo que eu também sou fruto disso, né?! Eu acabei me afetando também, porque não tive essa referência.

Nesse sentido, observamos a ausência/abandono paterno presente também de forma transgeracional na história de vida dessas mulheres. Um problema estrutural e de repetição na realidade brasileira que traz consigo uma marca do abandono, bem como a sobrecarga do cuidado para as mulheres. Maya tentou aproximação com o pai, mas este não quis esse envolvimento e recusou estabelecer um vínculo afetivo.

Se referindo à mãe diz: “Então, quando você não tem referência nem de mãe e nem de pai, é mais complicado, é capaz mesmo da pessoa enlouquecer”. Sua mãe foi criada por uma “mãe de criação” e, como afirmamos, também não teve a figura de seu pai presente. Ao nos aprofundarmos na história de vida da participante, percebemos uma multiplicidade de fatores contribuindo para uma transmissão transgeracional. Essas mulheres da família vivenciaram situações de violência física, psíquica, social, sexual, abandono, rejeição. No caso de nossa interlocutora, as “marcas-ferida” (Rolnik, 1993Rolnik, S. (1993). Pensamento, corpo e devir: uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico. Cadernos de Subjetividade, 1(2), 241-251. doi: 10.2354/cs.v1i2.38134
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) da violência sofrida ou presenciada na infância são difíceis de simbolizar até hoje.

“Ela foi referência pra mim de maternidade”: indo contra os discursos instituídos

O sujeito é atravessado por discursos bem como por relações no campo social que têm influência no seu processo de constituição subjetiva. Pensando nisso, desenvolvemos essa categoria por entendermos que os valores socioculturais, discursos e enunciações moldam nossos modos de existir.

Ser louca, puta, macumbeira, como diz nossa entrevistada sobre como sua mãe era rotulada, são estigmas que podem marcar o processo de subjetivação. Para alguns, ter uma mãe louca, que precisou se prostituir para viver e sofreu estigmas pela sua religião poderia ser vivenciado como negativo, mas, para Maya, é motivo de orgulho: “Ela não tinha vergonha de esconder o que ela era. E eu não tenho vergonha de esconder o que minha mãe foi. E que bom que ela foi isso, sabe?! Minha mãe é referência pra mim, então…”.

Ser filha de sua mãe lhe possibilitou ampliar o olhar diante do mundo. Não foi uma experiência sem sofrimento para Maya, mas trazemos para a cena algo que pouco se fala: sobre as potencialidades que podem advir dessa relação que nem sempre, para todos os filhos, trarão implicações. O sujeito, dentro das suas vivências, pode transformar o que não foi positivo em processo de criação.

Na escola as pessoas diziam que eu era filha da maluca “Sua mãe é maluca”. Primeiro, assim, que ela era do candomblé, né, então as pessoas ou me taxavam como a filha da macumbeira, filha da macumbeira e filha da maluca, entendeu?! “Sua mãe é doida. Sua mãe é macumbeira”. Era assim que falava, então tinha muito… tinha preconceito, sabe?! Mas eu defendia o tempo todo. E eu sentia orgulho também. Eu sentia orgulho, eu sinto orgulho de dizer hoje que eu tive uma mãe que foi garota de programa, sabe?! Eu sinto orgulho de dizer, porque, assim, eu sei qual foi o esforço, eu sei tudo que ela passou, então pra mim não tem problema nenhum dizer que minha mãe foi garota de programa, não tenho problema em dizer que minha mãe tinha esses problemas todos, os transtornos todos psíquicos que ela tinha.

A família, em alguns casos, reforça o estigma. Todavia, é necessário elucidar que o sofrimento psíquico, na grande maioria das vezes, não impede o ato de cuidar de seus filhos (Barbosa & Jucá 2017Barbosa, A. S., & Jucá, V. J. S. (2017). Maternidade e loucura: questões jurídicas em torno do poder familiar. Mental, 11(20), 243-260.; Carteado, 2007Carteado, M. (2007). Ela não pode ser mãe! Quando maternidade e loucura se cruzam. In M. V. O. SILVA (Org.), In-tensa, ex-tensa: a clínica psicossocial das psicoses (pp. 223-227). Salvador, BA: Laboratório de Estudos Vinculares, UFBA.; Carvalho, 2019Carvalho, B. C. B. (2019). Maternidade e filialidade para mães em sofrimento psíquico e suas filhas: entre as delicadezas da experiência pessoal e os recursos de proteção social [Tese de doutorado, Universidade Federal da Bahia]. Repositório Institucional da UFBA. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30490
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). Carvalho (2019)Carvalho, B. C. B. (2019). Maternidade e filialidade para mães em sofrimento psíquico e suas filhas: entre as delicadezas da experiência pessoal e os recursos de proteção social [Tese de doutorado, Universidade Federal da Bahia]. Repositório Institucional da UFBA. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30490
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encontrou, em seu estudo, nos dois casos trabalhados, que essas mulheres conseguiram dentro do possível gerir seu autocuidado e, além de cuidar de seus filhos, também ajudaram a cuidar de seus netos, mesmo em meio à condição de sofrimento psíquico e a todas as dificuldades impostas. Em alguns casos, pode ser importante uma rede de apoio nesses momentos, um cuidado compartilhado, mas verificamos que muitas mulheres não abrem mão dessa maternidade. Maya destaca que, mesmo em meio a todas as ordens erigidas socialmente que diziam que sua mãe não poderia ser mãe, nada a fez desistir desse lugar. Ela nunca deixou de ser referência de maternidade e afeto, apesar de todas as questões sociais e psíquicas. E pontua: “Era a minha mãe, entende?! E ela não deixava de ser mãe por isso. Nunca deixou. . . ”. Acrescenta: “Eu nunca vi minha mãe como louca. Eu nunca enxerguei minha mãe como louca, eu sempre enxerguei minha mãe como mãe”.

A relação de Maya com a figura materna é apresentada na narrativa de nossa interlocutora pela mãe, sua grande referência de maternidade, mas também pela irmã mais velha e pela bisavó. Conta-nos: “eu digo que eu ainda vou escrever sobre isso, sobre essas mulheres da minha vida, as mulheres que eu tenho como referência”. Sua irmã mais velha por vezes assumiu esse lugar de cuidado na infância, adolescência e, também, na vida adulta. Hoje, ela percebe que, de alguma forma, acabou sobrecarregando a irmã e estabelecendo uma relação de maternidade que não era sua função.

Comentários finais

Nossa colaboradora estabeleceu um laço afetivo com sua mãe, que se inscreveu como referência em sua história. História atravessada por afetos ambivalentes. No caso estudado, abriu-se uma brecha para mostrar que, a despeito de todo sofrimento e dificuldades presentes na trajetória de vida dessa filha, produziu-se um sentimento de orgulho pela mãe. O caso mostra a concretude das potencialidades do laço afetivo produzidas nesse (des)encontro entre mãe e filha. Não é uma experiência fácil e sem sofrimento, mas, por meio de modos criativos e de práticas de cuidado de si, essa filha produz, elabora e ressignifica sua história.

A entrevistada apresentou questões que corroboram com a literatura, em alguma medida, no sentido de “filhos de mães loucas” desenvolverem algumas questões de sofrimento psíquico. No entanto, destacamos a necessidade de esses casos serem analisados singularmente, levando em consideração o contexto de tais histórias. Nossa interlocutora não expressou, em nenhum momento, desejo de não ter sua mãe por perto; pelo contrário, a luta foi sempre para poder garantir sua presença.

Na literatura brasileira, existem poucos trabalhos que abordam a temática, mas ainda assim é possível fazermos comparações com tais pesquisas. Entretanto, um número maior de sujeitos poderia ofertar mais detalhes, contextos diferentes e maior diversidade de experiências. Sugerimos, com isso, a necessidade de mais investigações, com um grupo mais ampliado e em diversas localidades, observando também como os marcadores sociais produzem diferença no entendimento dessas histórias de vida.

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  • 1
    A partir de uma escolha ética e política, utilizaremos a expressão “sofrimento psíquico” em substituição a “doença mental” e “transtorno mental”. As expressões “transtorno mental” e “doença mental” só serão mencionadas para contextualizar determinada época ou quando citadas pelos autores nos estudos.
  • 2
    O rizoma traz a ideia de conexão, de um sistema aberto. O termo foi tomado de empréstimo da botânica, tendo como simbologia as ramificações em todos os sentidos, o que torna o rizoma um sistema de conexões sem meio nem fim, tendo como características a multiplicidade e heterogeneidade (Deleuze & Guattari, 1995Deleuze, G., & Guattari, F. (1995). Introdução: rizoma. In: G. Deleuze, & F. Guattari, Mil platôs: Vol. 1. Capitalismo e esquizofrenia (pp. 10-36). Rio de Janeiro, RJ: Editora 34.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Jan 2022
  • Revisado
    24 Set 2022
  • Aceito
    15 Dez 2022
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