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Resistência de genótipos de araçazeiros a Meloidogyne enterolobii

Cattley guava genotypes resistance to Meloidogyne enterolobii

RESUMO:

Este trabalho teve por objetivo avaliar a resistência de genótipos de P. cattleyanum a M. enterolobii. O experimento foi conduzido em DIC, com seis tratamentos, constituídospor cinco genótipos de P. cattleyanum, pela goiabeira 'Paluma' (testemunha) e oito repetições constituídas por clones desses genótipos. A classificação quanto à resistência foi determinada de acordo com o fator de reprodução (FR), avaliado aos 135 dias após inoculação com o nematoide. Os genótipos de P. cattleyanum avaliados foram resistentes a M. enterolobii com FR iguais ou inferiores a 0,2.

Palavras-chave:
Psidium guajava; Psidium catteyanum; propagação clonal; miniestaquia; declínio da goiabeira

ABSTRACT:

This research aimed to evaluate genotypes of P. cattleyanum by resistance to M. enterolobii. The experiment was conducted in a completely randomized design with six treatments, consisting of five genotypes of P. cattleyanum and guava 'Paluma' (control) and eight replicates. Genotypes classification for resistance was determined by the reproduction factor (RF), evaluated at 135 days after inoculation with the nematode. Genotypes of P. cattleyanum were considered as resistant once reproduction factors evaluated had less than or equal to 0.2.

Key words:
Psidium guajava; Psidium catteyanum; clonal propagation; minicutting; root-knotnematode; guava decline

A goiabeira é afetada por uma doença complexa que envolve dois agentes, o fitonematoide Meloidogyne enterolobii e o fungo Fusarium solani (Mart.) Sacc. Ambos, associados, causam o declínio da goiabeira, levando à expressão de sintomas como apodrecimento progressivo do sistema radicular, queima dos bordos e bronzeamento das folhas, amarelecimento, queda das folhas e morte da planta (GOMESet al., 2011GOMES, V.M. et al. Guava decline: a complex disease involving Meloidogyne mayaguensis and Fusarium solani. Journal of Phytopathology, v.158, p.45-50, 2011.Disponível em: <Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1439-0434.2010.01711.x/pdf >. Acesso em: 19 set. 2013. doi: 10.1111/j.1439-0434.2010.01711.
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).

Em áreas contaminadas, torna-se imprescindível o uso de genótipos resistentes a M. enterolobii, pois o nematoide é o agente predisponente à doença. No Brasil, ainda não foi constatada resistência a M. enterolobii em cultivar em comerciais de P. guajava. A resistência a M. enterolobii foi encontrada em araçazeiros da espécie Psidium cattleyanum (Sabine) por CARNEIRO et al. (2007CARNEIRO, R.M.D.G. et al. Resistance to Meloidogyne mayaguensis in Psidium spp. Accessions and their grafting compatibility with P. guajava cv. 'Paluma'. Fitopatologia Brasileira, v.32, p.281-284, 2007. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/fb/v32n4/01.pdf >. Acesso em: 19 set. 2013. doi: 10.1590/S0100-41582007000400001.
http://www.scielo.br/pdf/fb/v32n4/01.pdf...
), ALMEIDA et al. (2009ALMEIDA, E.J. de et al. Resistência de goiabeiras e araçazeiros a Meloidogyne mayaguensis. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.44, p.421-423, 2009. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pab/v44n4/a14v44n4.pdf >. Acesso em: 18 set. 2013. doi: 10.1590/S0100-204X2009000400014.
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) e MIRANDA et al. (2012MIRANDA, G.B. et al. Avaliação de acessos de Psidium spp. quanto à resistência a Meloidogyne enterolobii. Bragantia, v.71, p.52-58, 2012. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/brag/v71n1/aop1126.pdf >. Acesso em: 19 set. 2013. doi: 10.1590/S0006-87052012005000001.
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). Entretanto, em P. cattleyanum tanto a resistência quanto a susceptibilidade foram igualmente encontradas, dependendo do acesso avaliado (MIRANDA et al. 2012MIRANDA, G.B. et al. Avaliação de acessos de Psidium spp. quanto à resistência a Meloidogyne enterolobii. Bragantia, v.71, p.52-58, 2012. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/brag/v71n1/aop1126.pdf >. Acesso em: 19 set. 2013. doi: 10.1590/S0006-87052012005000001.
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). Este trabalho teve por objetivo avaliar a resistência de genótipos de P. cattleyanum a M. enterolobii.

Os araçazeiros utilizados foram provenientes de propagação seminífera de dois acessos de P. cattleyanum (115 e 117), cujos meio irmãos foram considerados resistentes a M. enterolobii por MIRANDA et al. (2012MIRANDA, G.B. et al. Avaliação de acessos de Psidium spp. quanto à resistência a Meloidogyne enterolobii. Bragantia, v.71, p.52-58, 2012. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/brag/v71n1/aop1126.pdf >. Acesso em: 19 set. 2013. doi: 10.1590/S0006-87052012005000001.
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). O acesso 115 foi proveniente de arborização pública em Campos dos Goytacazes-RJ e o acesso 117 proveniente da restinga de São João da Barra-RJ. Mudas obtidas por propagação seminífera desses acessos foram transplantadas e cultivadas em sistemas de minitouceiras, em vasos plásticos de 5 litros, preenchidos com substrato comercial composto por casca de Pinus. As miniestacas foram produzidas e cada genótipo foi clonado de acordo com metodologia descrita por ALTOÉ et al. (2011ALTOÉ, J.A. et al. Propagação de araçazeiro e goiabeira via miniestaquia de material juvenil. Bragantia, v.70, p.312-318, 2011. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/brag/v70n2/09.pdf >. Acesso em: 19 set. 2013. doi: 10.1590/S0006-87052011000200009.
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). Após enraizamento das miniestacas e aclimatização dos clones, estes foram transplantados para vasos plásticos de 5L, preenchidos por uma mistura de areia de rio lavada, terra e esterco (2:1:1). Na avaliação da resistência, foram utilizadas mudas em estádio variando de 8 a 12 pares de folhas desenvolvidas.

O experimento foi conduzido em DIC, com seis tratamentos, constituídos pelos cinco genótipos de P. catleyanum, pela goiabeira 'Paluma' (testemunha) e oito repetições constituídas por clones desses genótipos.

Como fonte de inóculo, utilizou-se um isolado puro de M. enterolobii, identificado pela técnica eletroforese de isoenzimas, com revelação do fenótipo M2 para a isoenzima esterase, com duas bandas principais (RM:0,70 e 0,90) e duas bandas menos intensas (Rm: 0,75, 0,95). Esse fenótipo foi caracterizado anteriormente por CARNEIRO et al. (2000CARNEIRO, R.M.D.G. et al. Enzyme phenotype of Meloidogyne spp. populations. Nematology, v.2, n.6, p:645-654, 2000. Disponível em: <Disponível em: http://booksandjournals.brillonline.com/content/journals/10.1163/156854100509510 >. Acesso em: 07 jul. 2015.
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; 2001CARNEIRO, R.M.D.G.; ALMEIDA M.R.A.Técnica de eletroforese usada no estudo de enzimas dos nematoides de galhas para identificação de espécies., Nematologia Brasileira v.25, n.1, p.35-44, 2001. Disponível em: <Disponível em: http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20251/35-44%20gr.pdf >. Acesso em: 07 jul. 2015.
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) como típico de M. enterolobii.

Esse isolado, mantido em tomateiros em casa de vegetação, foi obtido em um plantio comercial em São João da Barra (RJ) (lat. 21o41'22"S; long. 41o3'20"W). Para o preparo do inóculo, empregou-se metodologia proposta por COTTER et al.(2003COTTER, H.V.T. et al. Multiple egg harvests from Meloidogyne-infested tomato root systems. Journal of Nematology, v.35, p.331, 2003. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000051&pid=S0006-8705201200010000900005&lng=en >. Acesso em: 19 set. 2013.
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). Cada muda recebeu 10mL de suspensão aquosa com 1000 ovos + J2, distribuídos em quatro furos em torno do colo. Aos 135 dias após a inoculação, quantificou-se o número de ovos e juvenis de segundo estádio (J2), de acordo com metodologia proposta por BURLA et al. (2010BURLA, R.S. et al. Comparação entre níveis de inóculo, épocas de avaliação e variáveis para seleção de Psidium spp. visando à resistência a Meloidogyne enterolobii. Nematologia Brasileira, v.34, p.82-90, 2010. Disponível em: <Disponível em: http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%20342/82-90%20co.pdf >. Acesso em: 19 set. 2013.
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). A suspensão de ovos e J2 obtida de cada planta foi homogeneizada e três alíquotas de 1mL foram utilizadas para contagem em lâminas de Peters. Avaliou-se também a massa fresca da parte aérea, a massa fresca do sistema radicular e o volume das raízes, determinado pelo deslocamento de água em uma proveta graduada, após imersão do sistema radicular.

Os dados foram submetidos a análises de variâncias e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Duncan a 5% de probabilidade. A classificação final dos genótipos quanto à resistência ao nematoide baseou-se no fator de reprodução (FR= Pf/1000) sensuOOSTENBRINK (1966OOSTENBRINK, M. Major characteristics of the relation between nematodes and plants. Mededelingen Van De Landbouwhogeschool, v. 66, p.1-46, 1966. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000069&pid=S0006-870520120001000090014&lng=em >. Acesso em: 19 set. 2013.
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): FR<1= resistente e FR>1 = susceptível.

Os genótipos de P. cattleyanum avaliados neste trabalho foram considerados resistentes a M. enterolobii, com FR inferior a 1 (Tabela 1). MIRANDA et al. (2012MIRANDA, G.B. et al. Avaliação de acessos de Psidium spp. quanto à resistência a Meloidogyne enterolobii. Bragantia, v.71, p.52-58, 2012. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/brag/v71n1/aop1126.pdf >. Acesso em: 19 set. 2013. doi: 10.1590/S0006-87052012005000001.
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), ao avaliarem plantas de origem seminífera dos acessos 115 e 117, encontraram FR variando de 0,1 a 0,9 e 0 a 1,8, respectivamente. A susceptibilidade da goiabeira a M. enterolobii atestou a viabilidade da inoculação. A goiabeira avaliada foi obtida, também, por origem clonal, demonstrando variabilidade entre clones superior a 50% do valor médio.

Tabela 1
População final (Pf), fator de reprodução (FR) e classificação de acessos do gênero Psidium quanto à resistência a M. enterolobii, sendo as plantas avaliadas clones dos acessos 115 (U2 a U11) e 117 (C117), respectivamente.

A maior massa da parte aérea, massa e volume do sistema radicular foram verificados na goiabeira 'Paluma' (Tabela 2). Entre os araçazeiros, os genótipos U14 e C117 foram inferiores na produção de massa e volume do sistema radicular. Da mesma forma, a massa da parte aérea da goiabeira também foi superior àquelas observadas nos clones de P. cattleyanum, confirmando o maior vigor da goiabeira. CARNEIRO et al. (2007CARNEIRO, R.M.D.G. et al. Resistance to Meloidogyne mayaguensis in Psidium spp. Accessions and their grafting compatibility with P. guajava cv. 'Paluma'. Fitopatologia Brasileira, v.32, p.281-284, 2007. Disponível em: <Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/fb/v32n4/01.pdf >. Acesso em: 19 set. 2013. doi: 10.1590/S0100-41582007000400001.
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), ao avaliarem a resistência de diferentes acessos a M. enterolobii, observaram maior massa de raízes em mudas seminíferas da goiabeira 'Paluma', em relação aos araçazeiros (P. friedrichsthalianium e P. cattleyanum). No trabalho citado, foram avaliadas mudas entre 15 a 20 cm de altura, que foram inoculadas e avaliadas após oito meses. Os autores verificaram massa do sistema radicular da goiabeira com cerca de 27g e dos acessos de P. cattleyanum 'Red Araçá', 'Leodor' e 'Yacy' com 15, 7 e 7,1g, respectivamente.

Tabela 2
Massa da parte aérea, do sistema radicular e volume radicular de genótipos de P. cattleyanum e da goiabeira 'Paluma', inoculados com M. enterolobii

Os genótipos de P. cattleyanum avaliados tiveram fatores de reprodução iguais ou inferiores a 0,2 e foram considerados resistentes a M. enterolobii.

REFERÊNCIAS:

  • 1
    CR-2014-0488.R2

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar 2016

Histórico

  • Recebido
    01 Abr 2014
  • Aceito
    05 Ago 2015
  • Revisado
    30 Set 2015
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