Resumos
A biologia de Diabrotica speciosa (Germar, 1824) foi estudada em câmaras climatizadas, ajustadas para 18, 20, 22, 25, 30 e 32 ºC e fotofase de 14 h. O alimento utilizado para o desenvolvimento larval foram raízes seminais de milho pipoca, previamente tratadas com uma mistura de fungicidas (Thiabendazole: 1.0 g/kg e Captan: 1.5 g/kg). O desenvolvimento das fases de ovo, larva-adulto e ovo-adulto, na faixa de 18 a 32ºC, esteve inversamente correlacionado com a temperatura. Os limiares térmicos inferiores de desenvolvimento foram de 11,1ºC (ovo); 10,9º C (larva-adulto) e 11,04ºC (ovo-adulto). As constantes térmicas da fase de ovo, período larva-adulto e período ovo-adulto foram 119,1, 355,9 e 474,9 graus-dia, respectivamente.
Insecta; vaquinha; temperatura; graus-dias; limites térmicos; constante térmica
The biology of Diabrotica speciosa (Germar, 1824) was studied in incubators at 18, 20, 22, 25, 30 and 32ºC, and 14 h photophase. Seedlings of popcorn, previously treated with a fungicide mixture (Thiabendazole: 1.0 g/kg e Captan: 1.5 g/kg) were used as food for the corn rootworm biological studies. There was an inverse relationship between the life cycle length and the temperature in the range of 18 to 32ºC. The threshold of temperature was similar for all developmental stages of D. speciosa. The threshold of temperature was 11.1ºC for eggs, 10.9ºC for the larval-adult period and 11.04ºC for egg-adult period. Thermal requeriments for eggs, larval-adult and egg-adult periods were 119.1, 355.9, and 474.9 degree-days, respectively.
Insecta; corn rootwom; degree-days; temperature threshold
ECOLOGIA, COMPORTAMENTO E BIONOMIA
Biologia e exigências térmicas de Diabrotica speciosa (Germar) (Coleoptera: Chrysomelidae) em laboratório
Biology and thermal requirements of Diabrotica speciosa (Coleoptera: Chrysomelidae) in the laboratory
José M. MilanezI; José R. P. ParraII
ICentro de Pesquisa para Pequenas Propriedades, EPAGRI, 89801-970, Chapecó, SC
IIDepartamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, ESALQ/USP, Caixa postal 9, 13418-900, Piracicaba, SP
RESUMO
A biologia de Diabrotica speciosa (Germar, 1824) foi estudada em câmaras climatizadas, ajustadas para 18, 20, 22, 25, 30 e 32 ºC e fotofase de 14 h. O alimento utilizado para o desenvolvimento larval foram raízes seminais de milho pipoca, previamente tratadas com uma mistura de fungicidas (Thiabendazole: 1.0 g/kg e Captan: 1.5 g/kg). O desenvolvimento das fases de ovo, larva-adulto e ovo-adulto, na faixa de 18 a 32ºC, esteve inversamente correlacionado com a temperatura. Os limiares térmicos inferiores de desenvolvimento foram de 11,1ºC (ovo); 10,9º C (larva-adulto) e 11,04ºC (ovo-adulto). As constantes térmicas da fase de ovo, período larva-adulto e período ovo-adulto foram 119,1, 355,9 e 474,9 graus-dia, respectivamente.
Palavras-chave: Insecta, vaquinha, temperatura, graus-dias, limites térmicos, constante térmica.
ABSTRACT
The biology of Diabrotica speciosa (Germar, 1824) was studied in incubators at 18, 20, 22, 25, 30 and 32ºC, and 14 h photophase. Seedlings of popcorn, previously treated with a fungicide mixture (Thiabendazole: 1.0 g/kg e Captan: 1.5 g/kg) were used as food for the corn rootworm biological studies. There was an inverse relationship between the life cycle length and the temperature in the range of 18 to 32ºC. The threshold of temperature was similar for all developmental stages of D. speciosa. The threshold of temperature was 11.1ºC for eggs, 10.9ºC for the larval-adult period and 11.04ºC for egg-adult period. Thermal requeriments for eggs, larval-adult and egg-adult periods were 119.1, 355.9, and 474.9 degree-days, respectively.
Key words: Insecta, corn rootwom, degree-days, temperature threshold.
Diabrotica speciosa (Germar), vulgarmente conhecida como "vaquinha", é considerada uma praga polífaga de ampla disseminação nos estados brasileiros e em alguns países da América do Sul (Christensen 1944, Ramallo et al. 1976, Javier & Peralta 1976, Arestegui 1977, Gallo 1978, Gassen 1989) . O gênero Diabrotica contém cerca de 338 espécies, sendo que mais de 300 espécies pertencem ao grupo de origem neotropical fucata, que é multivoltino, caso da espécie D. speciosa (Krysan, 1986).
Em algumas regiões produtoras de milho, principalmente na Região Sul do País, D. speciosa é considerada praga de importância econômica. No entanto, ainda não estão quantificados os prejuízos que causa às nossas lavouras de milho. Nos EUA, Metcalf (1986) estimou em um bilhão de dólares os gastos com inseticidas e as perdas na produção devido ao ataque de Diabrotica spp.
Em nossas condições, a biologia de D. speciosa foi estudada pelos autores Haji (1981), Carvalho & Hohmann (1982) e Silva-Werneck et al. (1995), tendo como hospedeiros preferências para o desenvolvimento larval, batata e milho germinado. Estudos de exigências térmicas, em condições de laboratório, tem sido utilizados no desenvolvimento de modelos matemáticos com graus-dia para o zoneamento agroecológico e a previsão de ocorrência de pragas; caso do bicho-mineiro-do-cafeeiro Perileucoptera coffeella Guérin-Méneville, da mosca branca Bemisia tabaci (Genn.) (em feijoeiro) e dos percevejos-da-soja Nezara viridula (L.), Piezodorus guildini (Westwood) e Euchistus heros (Fabr.) (Parra 1985, Carvalho & Hohmann 1989, Cividanes & Parra 1994, Cividanes & Figueredo, 1997). Jackson & Elliott (1988) verificaram que, em condições de laboratório, os adultos de Diabrotica virgifera virgifera Le Conte, levavam, em média, 434 graus dias para emergirem. Nestas mesmas condições, Woodson & Edelson (1988) constataram que para o desenvolvimento de Diabrotica barberi Smith & Lawrence foram necessários 530,3 graus dia para fêmeas e 519, 8 graus dia para machos.
O objetivo desta pesquisa foi estudar a biologia de D. speciosa e determinar as exigências térmicas para as diferentes fases do seu ciclo biológico, através da constante térmica expressa em graus-dias, fornecendo subsídios para estudos de estimativa do número gerações da praga, nas diferentes regiões produtoras de milho do País.
Material e Métodos
A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Biologia de Insetos do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da ESALQ-USP. Foram realizados dois experimentos em câmaras climatizadas (BOD) reguladas a 18; 20; 22; 25; 30 e 32ºC e fotofase de 14 h.
Experimento 1: Estudou-se o período de incubação dos ovos proveniente de postura realizada em laboratório. Foram utilizados cem ovos divididos em cinco grupos de 20 ovos para cada temperatura, colocados em placas de Petri (6,0 cm de diâmetro x 2,0 cm de altura), forradas com papel filtro mantido úmido, e vedadas com fita adesiva. Os ovos foram desinfectados superficialmente através de imersão em uma solução de hipoclorito de sódio (0,05%), por dois minutos. Diariamente foi acompanhada a eclosão das larvas.
Experimento 2: Estudou-se o período desenvolvimento da fase larval. As larvas tiveram como substrato alimentar raízes seminais de milho pipoca, tratado com uma mistura dos fungicidas Thiabendazole (1,0g/kg) e Captan (1,5 g/kg). As larvas recém-eclodidas foram colocadas em bandejas plásticas (17 x 30 cm) . As bandejas contendo o substrato alimentar receberam 50 larvas cada e foram colocadas em câmaras climatizadas reguladas nas temperaturas citadas. O delineamento foi inteiramente casualizado, sendo os resultados submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
A temperatura base (Tb) (limiar térmico inferior de desenvolvimento) e a constante térmica (K), para fase de ovo, para o período larva-adulto e para o período ovo-adulto, foram calculados pelo método da hipérbole (Haddad & Parra, 1984).
Resultados e Discussão
O período de incubação de ovos de D. speciosa diminuiu conforme a temperatura aumentou de 18 para 32ºC (Tabela 1). As diferenças foram mais evidentes quando as temperaturas tiveram intervalos maiores (18; 25 e 32ºC), ou seja, variaram de 19,6, 8,8 e 5,7 dias, respectivamente. O período de incubação de 8,8 dias, na temperatura de 25ºC, foi próximo daquele obtido por Silva-Werneck et al. (1995) à temperatura de 26 ± 2ºC (8,1 dias) e superior ao obtido por Carvalho & Hohmann (1982), que foi de 6,4 dias em temperatura próxima de 25ºC.
A viabilidade dos ovos foi menor nas temperaturas extremas (18 e 32ºC), embora não tenha diferido estatisticamente da viabilidade nas demais temperaturas estudadas. Na temperatura de 18ºC o longo período embrionário proporcionou o aparecimento de agentes patogênicos, principalmente fungos, mesmo tendo os ovos sido desinfectados externamente no início do experimento. Na faixa de 20 a 25ºC, a viabilidade foi superior aos valores obtidos por Haji (1981) que foi de apenas 29%, em temperatura ambiente, provavelmente devido à baixa concentração de hipoclorito de sódio (0,005%), utilizada no tratamento de ovos de D. speciosa por aquela autora, o que favoreceu o desenvolvimento de patógenos.
O período de desenvolvimento larva-adulto, na faixa de 18 a 32º C, esteve inversamente relacionado com o aumento da temperatura. As viabilidades para temperaturas extremas (18 a 32ºC) foram baixas, mas satisfatórias nas faixas de 20 a 30ºC (Tabela 2). Os resultados estão coerentes com os de Jackson & Elliot (1988) que consideraram a faixa de 21 a 30ºC ótima para o desenvolvimento larval de Diabrotica virgifera Le Conte. A velocidade de desenvolvimento, em função da temperatura, ajustou-se ao modelo linear obtido através da recíproca da equação da hipérbole (Haddad & Parra, 1984). Os valores dos limites térmicos inferiores de desenvolvimento das fases de ovo, larva-adulto e ciclo biológico total (ovo-adulto) foram próximos (Tabela 3; Fig. 1).
O limite térmico inferior (Tb) de desenvolvimento embrionário foi de 11,1 ºC, ficando próximo aos valores de 11,11; 11,10 e 10,50ºC obtidos para ovos de Diabrotica longicornis (Says), D. virgifera e D.v. virgifera, respectivamente, por Chiang & Sisson (1968), Wilde (1971) e Schaafsma et al. (1991), e diferindo do valor 12,7 ºC obtido para ovos de D. v. virgifera por Levine et al. (1992). No entanto, o valor da constante térmica (119,1 GD) obtido para ovos de D. speciosa, foi muito inferior aos 500 graus-dias obtidos para ovos de D. longicornis (Chiang & Sisson, 1968), aos 210 graus dias obtido para ovos de D. v. virgifera (Levine et al. 1992) e aos 258 graus dia obtido para ovos de D. v. virgifera (Schaafsma et al. 1991).
O valor da constante térmica (K) de 474,96 graus dia obtido para D. speciosa (Tabela 3), para o período de ovo-adulto, foi superior ao valor de 434 obtido por Jackson & Ellott (1988) para a espécie D. v. virgifera, que considerou o período compreendido entre larva do 1° ínstar até a emergência de adultos, e inferior aos dados obtidos por Woodson & Edelson (1988) para a espécie D. barberi , que foi de 530,3 graus dia para fêmeas e 519, 8 graus dia para machos. Essas diferenças de exigências térmicas, tanto para a fase de ovo como para o período ovo-adulto, para as espécies acima citadas, existem provavelmente devido ao fato de as espécies referidas ocorrerem em condições climáticas diferentes e ainda por serem, muitas delas, univoltinas e apresentarem diapausa na fase de ovo.
Os resultados alcançados oferecem subsídios importantes para estudos de modelos de simulação e de zoneamento ecológico da praga, onde a temperatura entra como um dos fatores imprescindíveis para a determinação do número de gerações e da previsão de ataques, nas diferentes regiões produtoras de milho do País.
Literatura Citada
Recebido em 25/06/99. Aceito em 02/01/2000.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
04 Maio 2006 -
Data do Fascículo
Mar 2000
Histórico
-
Aceito
02 Jan 2000 -
Recebido
25 Jun 1999