Influência do zinco na incidência de doenças do cafeeiro

Zinc influence on coffee diseases

CIÊNCIAS AGRÁRIAS

Influência do zinco na incidência de doenças do cafeeiro

Zinc influence on coffee diseases

Vicente Luiz de Carvalho^I; Rodrigo Luz da Cunha^II; Paulo Tácito Gontijo Guimarães^II; Jõao Paulo Felicori Carvalho^III

^IEngenheiro Agrônomo, Mestre – Centro Tecnológico do Sul de Minas/CTSM – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais/Epamig – Cx.P. 176 37200-000 – Lavras, MG – [e-mail]

^IIEngenheiros Agrônomos, Doutores – Centro Tecnológico do Sul de Minas/CTSM – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais/Epamig – Cx.P. 176 – 37200-000 – Lavras, MG – [e-mail], [e-mail]

^IIIGraduando em Agronomia – Departamento de Engenharia/DEG – Universidade Federal de Lavras/UFLA – Cx.P. 3037 – 37200-000 – Lavras, MG – [e-mail]

RESUMO

Em cafeeiros, poucos estudos foram feitos relacionando aumento ou diminuição da resistência das plantas às doenças, com alteração dos níveis de nutrientes utilizados. Com este trabalho, objetivou-se estudar os efeitos do sulfato de zinco aplicado isoladamente, e associado com fungicidas e cloreto de potássio sobre a ferrugem, cercosporiose e manchas foliares do cafeeiro. O trabalho foi desenvolvido em uma lavoura de café em produção, onde foram testados oxicloreto de cobre, tebuconazole, sulfato de zinco + cloreto de potássio e sulfato de zinco e nas subparcelas foram realizadas diferentes concentrações de sulfato de zinco: ausência, 0,3 %, 0,6 % e 1,2 %. Verificou-se que os tratamentos com oxicloreto de cobre e tebuconazole reduziram a incidência e severidade de ferrugem, a incidência de cercosporiose, de manchas foliares (phoma e ascochyta) e a desfolha, independente das concentrações de sulfato de zinco utilizadas. Concentrações de sulfato de zinco na faixa de 0,6 % – 0,75 % apresentaram menor severidade da ferrugem e o aumento nas concentrações de sulfato de zinco aumentou a incidência de cercosporiose, manchas foliares e a desfolha dos cafeeiros.

Termos para indexação: Café, nutrição, zinco, doenças e desfolha.

ABSTRACT

The are few studies have been done related to the increase or decrease of disease resistance in coffee plants, with alteration from plant nutrient levels. The ain of this work was to verify the effect of zinc sulfate, applied either alone or in association with fungicides, and the effect of potassium chloride on coffee leaf rust, brown-eyes and leaf stains in coffee plants. Copper oxichloride, tebuconazole, sulfate of zinc + potassium chloride and sulfate of zinc were applied on plots and concentrations of zinc sulfate (0,0 %, 0,3 %, 0,6 % and 1,2 %) were applied on sub plot. Treatments with copper and tebuconazole reduced the incidence and severity of rust, the incidence of brown-eyes and stains leaf (phoma and ascochyta) and the defoliate independent of the zinc sulfate concentrations. Concentration of zinc sulfate varying from 0,6 % to 0,75 % shawed less rust severity. As the concentration of zinc sulfate increased, the severity of brown-eyes disease, leaf stains (phoma and ascochyta) and coffee defoliate tree also increased.

Index terms: Coffee, nutrition , zinc, diseases and defoliate.

INTRODUÇÃO

A nutrição mineral do hospedeiro pode afetar a sua susceptibilidade à doenças de diversas maneiras, influenciando nas reservas de alimentos disponíveis ao patógeno e causando variações nos seus mecanismos bioquímicos de defesa (KRUGNER, 1978).

Em uma situação de desequilíbrio nutricional, a planta fica geralmente muito mais vulnerável à doença. Elementos minerais estão envolvidos nos mecanismos de aumento ou diminuição da susceptibilidade (AGRIOS, 1969; COUCH & BLOOM, 1960; HUBER & WATSON, 1974; PRETTY, 1982).

O zinco é um dos principais micronutrientes da nutrição do cafeeiro, pois participa em vários processos metabólicos da planta, além de contribuir para diminuir ou intensificar a incidência de algumas doenças. Segundo Huber (1981) o zinco diminui a incidência de Puccinia spp. e aumenta a incidência de Ustilago tritici, Puccinia recôndita e Puccinia spp. na cultura do trigo. Arroz cultivado em solo deficiente em zinco pode favorecer o aumento da incidência de Xanthomonas campestris pv. oryzae. Em outro estudo, algodão cultivado em solo com aplicação de 100 ppm de zinco mostrou resistência ao Fusarium oxysporium f.spp. vasinfectum. Borges-Peres et al. (1991) demonstraram a eficiência da aplicação do zinco no controle do mal-do-panamá (Fusarium oxysporum f. sp. cubense (E.F. Smith) Sn. & Hansen) em bananeiras nas Ilhas Canárias. O elemento zinco é essencial ao crescimento, esporulação e virulência de Fusarium oxysporium f.spp. lycopersici.

Em cafeeiros, poucos estudos foram feitos relacionando o aumento ou diminuição da resistência das plantas às doenças, com alteração dos níveis de zinco das folhas. Carvalho et al. (2002) concluíram que houve uma tendência de maior incidência da cercosporiose (Cercospora coffeicola Berk & Cooke) do cafeeiro, nos tratamentos associados à aplicação de zinco. Trabalho realizado por Subramaniam (1966), sobre o requerimento nutricional da Cercospora coffeicola em meio de cultura contendo diferentes concentrações de zinco, concluiu-se que houve um crescimento do peso seco micelial e grande esporulação no meio contendo 0,1 a 0,2 mg/l de zinco, porém, não houve crescimento na ausência de zinco. Houve uma tendência de diminuir o crescimento micelial em meios contendo concentrações entre 0,3 a 0,5 mg/l.

Entre as principais doenças do cafeeiro, que demandam controle sistemático, encontram - se a ferrugem e a cercosporiose que podem causar prejuízos tanto na produção como na qualidade final do produto. A ferrugem, causada pelo fungo Hemileia vastatrix Berk & Br., acarreta acentuada desfolha da planta. Alguns trabalhos têm demonstrado que o grau de infecção do cafeeiro causado pela ferrugem está diretamente relacionado com o nível de produção (CARVALHO, 1991; MIGUEL et al., 1977). A cercosporiose infecta folhas e frutos ocasionando desfolha e, nos frutos, maturação precoce e queda prematura, aumentando o número de grãos chochos (CHALFOUN, 1997).

A mancha de phoma (Phoma sp.) e a mancha de ascochyta (Ascochyta coffea) são doenças denominadas secundárias, mas vêm apresentando problemas em várias lavouras do sul do estado de Minas Gerais devido à altas incidências, principalmente em locais onde ocorrem chuvas contínuas e temperaturas baixas (CARVALHO & CHALFOUN, 1998).

O controle químico dessas doenças é indispensável em alguns casos, no entanto aumenta os custos de produção e o uso indiscriminado de fungicidas pode causar sérios danos ao meio ambiente e ao homem. Como medida preventiva, dentro do manejo integrado de doenças, recomenda-se fazer adubações equilibradas nas lavouras como forma de aumentar a resistência das plantas às doenças, sendo esta uma alternativa sustentável, pois contribui para a preservação do ambiente e da saúde humana através do menor uso de fungicidas.

Aqui, objetivou-se estudar os efeitos de diferentes concentrações de sulfato de zinco aplicado isoladamente, e associado com fungicidas e ao cloreto de potássio sobre a ferrugem, cercosporiose, manchas foliares do cafeeiro e desfolha.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no município de Nepomuceno, Mina Gerais, utilizando a cultivar Mundo Novo IAC 379-19, com 12 anos de idade, cultivada no espaçamento 3,70 m x 1,00 m e carga pendente média.

O delineamento foi de blocos ao acaso, com 16 tratamentos no esquema fatorial 4x4, em parcela subdividida com três repetições, 21 plantas por parcela com cinco úteis. Nas parcelas foram utilizados os seguintes tratamentos: Oxicloreto de cobre (três kilograma por hectare), tebuconazole (um litro por hectare), sulfato de zinco + cloreto de potássio (0,3 %) e sulfato de zinco. Nas subparcelas foram utilizadas diferentes concentrações de sulfato de zinco: ausência, 0,3 %, 0,6 % e 1,2 %.

As pulverizações foram realizadas com pulverizador costal motorizado, utilizando 560 litros de calda por hectare, com início a partir de dezembro de 2003. Os tratamentos com oxicloreto de cobre, sulfato de zinco e sulfato de zinco em mistura com cloreto de potássio foram fornecidos em quatro aplicações, a partir de janeiro, com intervalo de 30 dias, enquanto que o tratamento com o fungicida tebuconazole foi realizado em duas aplicações, em janeiro e março, com intervalo de 60 dias. Os tratos culturais foram feitos de acordo com as tecnologias recomendadas para cultura.

Foram avaliadas a incidência e severidade da ferrugem em folhas coletadas do 3º ou 4º par, no terço médio, nos dois lados das plantas úteis, totalizando 50 folhas por parcela. As coletas foram feitas mensalmente, a partir de janeiro até julho de 2004.

A incidência da cercosporiose foi avaliada coletando-se 10 folhas do 3º par, em toda a planta, nos dois lados das plantas úteis, totalizando 50 folhas por parcela. As coletas foram realizadas mensalmente, a partir de janeiro até maio de 2004.

As folhas coletadas para avaliação da ferrugem e da cercosporiose foram levadas para o Laboratório de Fitopatologia do EcoCentro/EPAMIG – Lavras – MG., onde foram avaliadas e registradas a porcentagem de folhas com pústulas esporuladas de ferrugem (incidência) e o número médio de pústulas por folha (severidade) e a porcentagem de folhas com cercosporiose (incidência).

A avaliação da incidência de Phoma e Ascochyta foi realizada nos meses de maio, junho e julho de 2004. Para a avaliação foram coletadas mensalmente 50 folhas, do primeiro par (folhas com tamanho acima de 3 cm) ou segundo par, em toda a planta e nos dois lados da parcela útil. As folhas com presença de manchas foram levadas para o Laboratório de Fitopatologia do EcoCentro/EPAMIG – Lavras - MG e examinadas ao microscópio esterioscópico e ao microscópio ótico para a observação de suas estruturas morfológicas. Foram registrados o número de folhas com manchas de phoma e ascochyta, os quais foram convertidos em porcentagem de incidência. A partir das avaliações da intensidade das doenças foi obtida a área abaixo da curva de progresso de cada doença de acordo com a equação proposta por Campbell & Madden (1990).

Em que: AACPD = área abaixo da curva de progresso da doença; y_i = proporção da doença na i-ésima observação; t_i = tempo em dias na i-ésima observação e n = número total de observações.

A porcentagem de desfolha foi avaliada em todas as parcelas após a colheita, em agosto de 2004, tomando-se quatro ramos produtivos por planta, registrando-se o número de pares de folhas que se desprenderam no intervalo entre 10 internódios, a partir do meristema apical para a base.

Os dados das avaliações realizadas foram submetidos a uma análise de variância. No caso de significância do efeito de tratamentos e suas interações, os dados foram submetidos ao teste de média de Scott-Knott e para as subparcelas, concentrações de sulfato de zinco, análise de regressão de acordo com Ferreira (2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve efeito dos tratamentos dos diferentes sobre a incidência e severidade das doenças avaliadas e da desfolha do cafeeiro. Foi verificado, também, efeito de concentrações de sulfato de zinco sobre a área abaixo da curva de progresso da severidade de ferrugem (AACPSF), da incidência da cercosporiose (AACPIC), da incidência de manchas foliares (AACPIMF) e desfolha. Não houve efeito da interação entre os fatores tratamentos x concentração de sulfato de zinco. Estes resultados demonstraram que os tratamentos empregados afetaram a curva de progresso da doença, alterando o patossistema e as demais características avaliadas.

Na Tabela 1 é apresentada a comparação dos tratamentos entre os valores médios da área abaixo da curva de progresso da incidência e severidade da ferrugem (AACPIF e AACPSF), da incidência da cercosporiose (AACPIC), da incidência de manchas foliares (AACPIMF) e desfolha. Os tratamentos com os fungicidas, oxicloreto de cobre e tebuconazole, independente das concentrações de sulfato de zinco, foram mais eficientes no controle das doenças avaliadas e preservaram melhor o enfolhamento do cafeeiro, quando comparados aos tratamentos que receberam apenas sulfato de zinco + cloreto de potássio e sulfato de zinco, apresentando nos meses de maior incidência de ferrugem, junho e julho, os seguintes valores médios: 1,9 %, 13,5 %, 27,8 e 38,2 % respectivamente para os tratamentos oxicloreto de cobre, tebuconazole, sulfato de zinco + cloreto de potássio e sulfato de zinco. Com relação à cercosporiose, foi verificada maior incidência da doença nos meses de maio e junho, destacando-se o tratamento com oxicloreto de cobre com menor incidência, cujos valores médios observados foram: 2,0 %, 4,5 %, 7,7 % e 9,4 % respectivamente, para os mesmos tratamentos citados acima.

Quanto à desfolha, o tratamento com cobre, também independente das concentrações de sulfato de zinco, reduziu significativamente a perda de folhas em relação aos demais tratamentos. Estes resultados demonstram os benefícios do fungicida cúprico na preservação do enfolhamento da lavoura e na redução da ocorrência das doenças como ocorreu neste ano de avaliação, concordando com Carvalho (1991), Chalfoun (1997) e Miguel et al. (1977). Nesta situação de carga pendente média, no controle de doenças e na preservação do enfolhamento, o fungicida cúprico apresenta-se como uma opção mais adequada em relação ao tebuconazole.

Na Figura 1, observa-se a representação gráfica e equação de regressão referentes à concentração de sulfato de zinco sobre a área abaixo da curva de progresso da severidade da ferrugem (AACPSF) e incidência da cercosporiose (AACPIC). Verifica-se efeito quadrático para concentrações de sulfato de zinco sobre a severidade da ferrugem, com decréscimo da severidade da doença na faixa correspondente a 0,6% a 0,75% de concentração de sulfato de zinco e aumento da severidade da doença tanto nas menores como nas maiores concentrações de sulfato de zinco. Com relação às concentrações de sulfato de zinco e área abaixo da curva de incidência da cercosporiose houve efeito linear e positivo, em que a elevação da concentração de sulfato de zinco aumentou a incidência da doença. Esses resultados assemelham-se aos obtidos por Carvalho et al. (2002), que encontraram uma tendência de aumento da incidência da cercosporiose com a aplicação de zinco. Assemelham-se também ao trabalho realizado por Subramaniam (1966) em que não houve crescimento do peso seco micelial e esporulação na ausência de zinco, em meio de cultura e grande esporulação com doses intermediárias desse micro-elemento. Na Figura 2, observa-se a representação gráfica e equação de regressão referentes à concentração de sulfato de zinco sobre a área abaixo da curva de progresso da incidência de manchas foliares (AACPIMF) e desfolha. Observou-se efeito linear e positivo no qual o aumento na concentrações de sulfato de zinco favoreceu a incidência de manchas foliares de phoma e ascochyta as quais podem ter contribuído para acentuar a desfolha dos cafeeiros. Nenhum trabalho foi encontrado relacionando a aplicação de zinco com o aumento ou diminuição das manchas de phoma e ascochyta. No entanto, Huber (1981) relata que o zinco pode aumentar a resistência das plantas, bem como a severidade de certas doenças, como ocorreu nesse trabalho com as manchas foliares do cafeeiro.

CONCLUSÕES

Independente das concentrações de sulfato de zinco, os fungicidas oxicloreto de cobre e tebuconazole reduziram a ocorrência das principais doenças e a desfolha dos cafeeiros.

A severidade da ferrugem foi menor, na faixa de concentração de 0,6 % a 0,75 % de sulfato de zinco.

Maiores concentrações de sulfato de zinco, aumentaram a incidência de cercosporiose, manchas foliares e a desfolha dos cafeeiros.

(Recebido em 21 de dezembro de 2005 e aprovado em 8 de fevereiro de 2007)

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  07 Jul 2008
• Data do Fascículo
  Jun 2008

Histórico

• Recebido
  21 Dez 2005
• Aceito
  08 Fev 2007