Resumos
Trata-se de um estudo sobre o uso do ensino a distância (EaD) como uma estratégia de ensino na educação permanente em saúde (EPS), que teve como objetivo identificar e analisar os limites e possibilidades do uso da EaD na EPS. Estudo de revisão integrativa. O resultado aponta que a EaD é uma estratégia inovadora possível e potencial para a EPS, facilitando o desenvolvimento da aprendizagem dentro ou fora da instituição de saúde, porém é evidente a escassez de pesquisas na área. As limitações para a realização dos programas estão relacionadas à variável tempo, preparação para lidar com as tecnologias e importância do tutor como facilitador da aprendizagem. Conclui-se que o uso da EaD tem tido uma importante contribuição para o desenvolvimento dos recursos humanos em saúde, seja no processo de formação e/ou no processo contínuo de conhecimento.
Educação em enfermagem; Educação continuada em enfermagem; Educação à distância; Tecnologia da informação e da comunicação
This is a study on the use of distance learning (EaD, in Portuguese) as a teaching strategy in continuing health education (EPS, in Portuguese), which aimed to identify and analyze the limits and posibilities of using EaD in the EPS. Integrative Review Study. The result shows that EaD is an innovative, possible and potential strategy for EPS, facilitating the development of learning within or outside the health institution, although is evident the lack of research in the area. The limitations for the implementation of the programs are related to the time variable, preparation for dealing with the technologies and the importance of the tutor as a facilitator of learning. It concludes that the use of EaD has an important contribution to the development of human resources in health, is in the process of training and/or in the continuous knowledge process.
Nursing education; Continuing education in nursing; Distance education; Information technology and communication
Introdução
As constantes mudanças que vêm ocorrendo no setor saúde mostram a necessidade do desenvolvimento dos profissionais, para a garantia da qualidade da assistência prestada à população. O mundo do trabalho exige cada vez mais dos profissionais o desenvolvimento de uma postura crítico-reflexivo, e, para isso, é necessária a aquisição de conhecimentos e competências técnicas e relacionais, de forma a promover o desenvolvimento profissional e pessoal dos sujeitos.
Torna-se cada vez mais evidente a necessidade de educação no ambiente dos trabalhadores da área da saúde, pois o acelerado crescimento dos espaços de trabalho tem demandado uma atuação profissional pautada no conhecimento e no desenvolvimento de competências e habilidades para tomada de decisões. A educação permanente em saúde é uma ótima ferramenta para suprir a necessidade dos profissionais para o desenvolvimento de uma postura crítico-reflexiva.
Em 2004, o Ministério da Saúde implantou a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), por meio da Portaria GM/MS nº 198. Esta retrata uma proposta de ação estratégica que integra práticas ao cotidiano de forma metodológica, reflexiva e científica. A Educação Permanente em Saúde (EPS) mantém como princípio que o conteúdo a ser estudado deve ser gerado a partir de dúvidas e necessidades de conhecimento emergidas em situações vivenciadas pelos próprios trabalhadores. Tem a intencionalidade de promover mudanças na formação e no desenvolvimento dos profissionais da área da saúde e empreender um trabalho articulado entre as esferas de gestão, os serviços de saúde, as instituições de ensino e os órgãos de controle social11. Brasil. Portaria nº 198/GM/MS, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para formação e do desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Diário Oficial da União 2004; 14 fev..
A PNEPS tem a intencionalidade de promover mudanças na formação e no desenvolvimento dos profissionais da área da saúde e empreender um trabalho articulado entre as esferas de gestão, os serviços de saúde, as instituições de ensino e os órgãos de controle social. Publicada na forma de cadernos facilitadores, a EPS iniciou com a capacitação de profissionais gestores enfermeiros, que tinham a função de exercer a prática educativa dentro do seu plano de gerência com a equipe de saúde no próprio ambiente de trabalho22. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política de Educação e desenvolvimento para o SUS: Caminhos da Educação Permanente em Saúde: Pólos de Educação permanente em Saúde. Brasília: MS; 2004..
A EPS atualmente busca adequar às propostas de capacitação em equipe, onde os programas de capacitação surgiram a partir de suas vivências. Na proposta da educação permanente, a capacitação da equipe, os conteúdos dos cursos e as tecnologias a serem utilizadas devem ser determinados, a partir da observação dos problemas que ocorrem no cotidiano do trabalho e que precisam ser solucionados para que os serviços prestados ganhem qualidade e os usuários fiquem satisfeitos com a atenção prestada33. Brasil. Ministério da Saúde (MS). A educação permanente entra na roda: pólos de educação permanente em saúde: conceitos e caminhos a percorrer. Brasília: MS; 2005..
É inquestionável que a tecnologia evolui a cada dia a um ritmo sem precedentes, atingindo determinadas áreas remotas e de difícil acesso em todo o mundo. No entanto, ainda não tem a capacidade de produzir grandes transformações no desenvolvimento de países mais pobres, que enfrentam vultosos desafios em termos de condições de saúde, emprego e qualidade de vida de sua população. Assim, os profissionais de saúde, nesse contexto, enfrentam grandes desafios, visto que, ao mesmo tempo em que vivenciam as transformações relacionadas às tecnologias, apresentam sua parcela de responsabilidade, objetivando ampliar e edificar o capital intelectual da profissão no desenvolvimento de suas habilidades e competências.
O tema abordado aponta a necessidade de uma reflexão sobre a possibilidade de utilização do ensino à distância (EaD) como um instrumento estratégico nos programas de EPS, com a aplicabilidade de recursos tecnológicos que permitem desenvolver programas mais interativos dentro e fora do serviço. Como proposta de inovar os programas de EPS, surge a inserção das estratégias do ensino diferenciadas. A EaD, na atualidade, tem mostrado grande eficácia para a educação de adultos inseridos no mercado de trabalho, porém na área de saúde ainda é pouco conhecida, sendo esta modalidade muito utilizada nos programas de pós-graduação ou cursos de atualização.
Assim, é importante refletir que as experiências de EaD na saúde, sejam elas complementares ou parte integrante dos currículos de graduação ou pós-graduação, devem ser entendidas como movimentos políticos que promovam a educação para o Sistema Único de Saúde (SUS). Isto implica considerar os limites e as possibilidades contemporâneas para a superação das distâncias culturais, sociais, técnico-científicas, tecnológicas, geográficas e físicas, presentes na sociedade em que vivemos, oferecidas hoje pelas múltiplas formas de educar/educar-se existentes, além da modalidade presencial44. Torrez MNFB. Educação à distância e a formação em saúde: nem tanto, nem tão pouco. Trab Educ Saúde 2005; 3(1):171-186..
A educação a distancia permite atingir um grande número de pessoas e, a partir daí, proporcionar ao profissional a aquisição de conhecimento que permita que o mesmo demonstre capacidade crítico-reflexiva, habilidades e competências para o desenvolvimento de suas funções55. Fullerton JT, Ingle HT. Evaluation Strategies for Midwifery Education Linked to Digital Media and Distance Delivery Technology. J Midwifery Womens Health 2003; 48(6):426-436..
A partir desta concepção, tem-se como problema de pesquisa: Como as estratégias viabilizadas pelo EaD podem contribuir para os programas de EPS? Neste contexto, o estudo apresenta a seguinte questão norteadora: Quais os limites e possibilidades de uso da educação à distância nos programas de EPS?
O estudo tem como objetivo identificar e analisar os limites e possibilidades do uso da EaD na EPS, a partir das publicações existentes.
Método
O presente estudo consiste numa revisão integrativa realizada em março de 2013, que buscou pesquisas publicadas entre o período de 2003 a 2013 nas seguintes bases de dados: Embase, Lilacs e PubMed. Para que se iniciasse o levantamento nestas bases, foram estudados os tesauros de cada uma, a saber: Emtree, Decs, Mesh, respectivamente, e que melhor se adequassem a estratégia PICO, em que a letra "P" representa paciente ou local a ser investigado, "I" refere-se à intervenção, "C" diz respeito à comparação com outros autores, e a letra "O" nos remete aos resultados esperados. Na perspectiva de levantar obras dentro desta estratégia, buscou-se levantar as que respondessem ao problema investigado.
Para a construção da revisão integrativa, percorreram-se seis etapas, descritas a seguir:
- Na primeira etapa se definiram os objetivos do estudo, as palavras-chave e levantou-se a questão ou hipótese da pesquisa: quais os limites e possibilidades de uso da educação à distância nos programas de EPS?
- Na segunda etapa, iniciou-se a busca por tesauros dentro da estratégia PICO, sem êxito. Por esse motivo, a busca foi realizada com a estratégia PIO, retornando artigos apenas na base de dados Embase. Utilizou-se, então, a estratégia PI nas bases de dados Lilacs e PubMed, nas quais se identificaram artigos em modelo de publicação eletrônica. Foram utilizadas, para a seleção, as seguintes palavras-chave: educação em enfermagem, educação continuada em enfermagem, educação à distância, tecnologia da informação e da comunicação. O termo educação permanente não foi utilizado devido o mesmo não estar contemplado como descritor nos vocabulários controlados de descritores em Ciências da Saúde da Biblioteca Virtual em Saúde (DeCS-BVS). Ainda nesta etapa, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: produções científicas com textos completos publicados, disponíveis em português, inglês ou espanhol, que abordem o uso de estratégias de EaD nos programas de EPS, publicadas nos últimos dez anos (2003-2013). Como critérios de exclusão: estudos duplicados, do tipo revisão integrativa, e que não atendessem à questão do estudo.
- A terceira etapa consistiu no momento de seleção dos artigos, onde foi realizada a leitura dos títulos e dos resumos seguindo os critérios de inclusão e exclusão. Posteriormente, foi realizada a construção de um quadro sinóptico formado pelas variáveis: autores, ano de publicação, base de dados, título do estudo, abordagem, tipo de pesquisa e resultados alcançados.
- Na quarta etapa, momento da análise crítica dos estudos incluídos na revisão integrativa, os artigos selecionados foram analisados mediante a leitura dos textos na íntegra, buscando-se delimitar as categorias de análise, de modo a responder aos objetivos da pesquisa. A amostra totalizou sete artigos.
- Na quinta etapa procedeu-se com a interpretação e discussão dos resultados, destacando os trabalhos que trouxeram maior contribuição para responder ao problema de pesquisa; a partir da análise, emergiram duas categorias: (1) - A educação à distância nos programas de EPS e; (2) - educação à distância nos programas de EPS: limites e possibilidades.
- A sexta etapa constitui na apresentação, revisão e síntese sobre o uso da EaD nos programas de EPS.
Resultados
Após a seleção do material, segue-se um quadro sinóptico (Quadro 1) das obras selecionadas, as quais todas se referem a artigos científicos.
Características dos artigos selecionados. Brasil, 2013. Fonte: Adriane das Neves Silva, Ana Gualberto, Elaine Antunes Cortez, Benedito Carlos Cordeiro.
Discussão
Ao analisar o problema da pesquisa e o objeto de estudo contido nos artigos percebeu-se que estudos sobre a utilização das estratégias do ensino à distância nos programas de EPS ainda é pequeno. Este panorama dificulta a compreensão sobre a contribuição das Novas Tecnologias em Informação e Comunicação (NTIC), considerando que a capacitação de recursos humanos no SUS é uma proposta significativa contida na PNEPS, em que a incorporação das tecnologias seria um facilitador para a adesão dos programas.
Quanto à distribuição dos artigos, periódico em que foi publicado e local da publicação, observou-se que grande parte dos estudos foi publicado em periódicos de enfermagem, e que há uma grande preocupação com a integração do ensino com o serviço, o que contribui para a consolidação do SUS, garantindo uma assistência de qualidade através do desenvolvimento dos recursos humanos em enfermagem.
Evidencia-se, ainda, a utilização da pesquisa quantitativa em grande parte dos estudos. Tal fato revela a importância da experimentação para a comparação dos métodos de ensino que vêm sendo utilizados na capacitação, e a grande contribuição dos novos modelos. Pode-se perceber que ao agregar as novas tecnologias aos programas tradicionais de EP obtiveram-se resultados satisfatórios, em que ambos os métodos contribuíram para a apreensão de conhecimento e, consequentemente, para a melhoria da qualidade da assistência.
Após a leitura, classificaram-se os artigos selecionados. De tal modo foram construídos grupos onde emergiram dois eixos temáticos para discussão: A educação à distância nos programas educação permanente em saúde, resultante da análise do VII e; A educação à distância nos programas de educação permanente em saúde: limites e possibilidades, possibilitada pelos artigos I, II, III, IV, V e VI.
A educação à distância nos programas de educação permanente em saúde
Os avanços da sociedade têm exigido que o indivíduo se mantenha constantemente atualizado para desenvolver suas atividades cotidianas, sejam elas pessoais ou laborais. E evidencia-se a grande preocupação com o desenvolvimento de recursos humanos em diversos setores sociais.
Com os processos de mudança que vêm ocorrendo rapidamente nos setores sociais, a saúde passa por momentos de grandes transformações, onde há a necessidade de recursos humanos que correspondam às necessidades e demandas do setor. Nesse sentido, os profissionais são motivados para que participem desse processo de mudança, fazendo com que eles sintam a necessidade da busca pelo conhecimento, vejam sua contribuição e a importância da educação permanente para a consolidação do SUS.
A sociedade atual requer um novo tipo de profissional em todos os setores, essa necessidade se dá pela busca de competências múltiplas, trabalho em equipe, capacidade de aprender e de adaptar-se a situações novas.
Uma forma de garantia da qualidade dos serviços de saúde, tendo em vista profissionais qualificados, é a proposta contida na PNEPS. Esta aponta para a importância em se romper com os modelos tradicionais de ensino que, na maioria das vezes, afasta os profissionais dos programas de treinamento, e salienta que as discussões deveriam partir do cotidiano das organizações33. Brasil. Ministério da Saúde (MS). A educação permanente entra na roda: pólos de educação permanente em saúde: conceitos e caminhos a percorrer. Brasília: MS; 2005.. Acredita-se que a educação permanente seja uma necessidade premente para os profissionais de saúde no desenvolvimento de sua postura crítica, autoavaliação, autoformação, autogestão, promovendo, assim, os ajustes necessários no sentido de trabalhar com interdisciplinaridade, na transmissão de saberes e do saber-fazer in locus continuamente, traduzindo-se, na sua prática, os seus saberes1212. Oliveira MAN. Educação à Distância como estratégia para a educação permanente: possibilidades e desafios. Rev Bras Enferm 2007; 60(5):585-589..
Sendo assim, a EPS deve ser compreendida como aprendizagem-trabalho, ou seja, ela acontece no cotidiano das pessoas e das organizações. Deve ser realizada a partir dos problemas enfrentados na realidade e leva em consideração os conhecimentos e as experiências que as pessoas trazem em suas vidas1212. Oliveira MAN. Educação à Distância como estratégia para a educação permanente: possibilidades e desafios. Rev Bras Enferm 2007; 60(5):585-589..
Com os avanços tecnológicos, podem-se perceber as grandes oportunidades de acesso às informações, em que mesmo em espaços distintos, as pessoas conseguem interagir e adquirir diferentes conhecimentos em tempo real. Nessa conjectura, a incorporação do ensino a distância contribuiria para potencializar os programas de educação permanente e possibilitar, ao mesmo tempo, o desenvolvimento pessoal daqueles que trabalham na saúde o desenvolvimento da instituição33. Brasil. Ministério da Saúde (MS). A educação permanente entra na roda: pólos de educação permanente em saúde: conceitos e caminhos a percorrer. Brasília: MS; 2005., onde o profissional tem a liberdade de escolher como e quando ocorrerá seu aprendizado. Para Paladino, o e-learning proporciona ao sujeito um estudo mais individualizado e adaptado ao ritmo do treinando, proporcionando flexibilidade temporal e transpondo barreiras geográficas, pois o aluno escolhe quando e onde realizar seu treinamento77. Godoy S, Mendes IAC, Hayashida M, Nogueira MS, Alves LMM. In service nursing education delivered by videoconference. J Telemed Telecare 2004; 10(5):303-305..
É importante destacar que ao incorporar o EaD nos programas de EPS se está alcançando um grande número de trabalhadores capacitados e, a partir daí, o desenvolvimento de profissionais com postura crítico-reflexiva, e comprometidos com a qualidade no desenvolvimento das práticas de saúde. Para Faria e David1111. Faria MGA, David HMSL. Telessaúde Brasil Redes. Núcleo Rio de Janeiro: Educação Permanente no trabalho de Enfermeiros da Atenção Básica.J Bras Tele 2010; 1(1):23-24., "a educação permanente das equipes de saúde é necessária para a qualidade de atendimento e também para mudanças nas práticas profissionais".
Educação à distância nos programas de educação permanente em saúde: limites e possibilidades
Esta categoria busca dialogar com os autores acerca dos limites e das possibilidades da educação à distância nos programas de educação permanente em saúde. Na área de saúde, em particular na área de enfermagem, a consolidação das estratégias do ensino à distância ainda é pequena, principalmente por ser esta uma profissão que requer o exercício da prática, como seria a utilização da EaD.
Porém, observa-se a grande preocupação com o desenvolvimento de recursos humanos na saúde, sendo essa modalidade de ensino utilizada nos processos de formação continuada e atualização dos profissionais de enfermagem, eficaz, portanto, quando há interação entre os estudantes55. Fullerton JT, Ingle HT. Evaluation Strategies for Midwifery Education Linked to Digital Media and Distance Delivery Technology. J Midwifery Womens Health 2003; 48(6):426-436..
Com os avanços tecnológicos, podem-se perceber as grandes possibilidades de acesso às informações, e que não obstante à distância e a localização em espaços geográficos distintos, as pessoas conseguem interagir e adquirir diferentes conhecimentos em tempo real. Neste sentido, Ortiz diz que "a EaD pode se constituir como um meio facilitador para a EPS, em virtude do crescimento acelerado do conhecimento e sua divulgação, podendo romper as barreiras da distância e do tempo"1010. Ortiz MCL, Ribeiro RP, Garanhani ML. Educação à distância: uma ferramenta para educação permanente de enfermeiros que trabalham com assistência perioperatória. Cogitare enferm 2008; 13(4):558-565..
A educação à distância, permeada pelo uso das tecnologias da informação e da comunicação, vem proporcionando ao profissional acesso ao conhecimento e promovendo a democratização do saber, não apenas pela sua flexibilidade, mas também por possibilitar a utilização de recursos dentro da própria instituição de trabalho. Godoy aponta que um fator de motivação para aprender com o uso da tecnologia é a possibilidade de não ter que deixar seu local de trabalho ou participar do treinamento em horário diferente do praticado na instituição77. Godoy S, Mendes IAC, Hayashida M, Nogueira MS, Alves LMM. In service nursing education delivered by videoconference. J Telemed Telecare 2004; 10(5):303-305..
Ao considerar as possibilidades de incorporar a EaD nos programas de EPS, deve-se pensar na formação continuada que contribuirá para o acesso ao conhecimento a partir da interatividade entre os profissionais da saúde, facilitando um trabalho coletivo para qualidade das praticas de saúde, além de agregar a flexibilização do tempo e a diminuição de custos que essa modalidade proporciona66. White A, Roberts VW, Brannan J. Returning nurses to the workforce: developing na onlinerefresher course. J Contin Educ Nurs 2003; 34(2):59-63.. Por se tratar de profissionais da saúde, não se podem esquecer as dificuldades temporais para a realização das atividades propostas, tendo em vista o duplo ou triplo vínculo de trabalho praticado. Nesse sentido, a utilização do e-learning permite a otimização e flexibilidade do tempo gasto88. Paladino Y, Peres HHC. E-learning: a comparative study for knowledge apprehension among nurses. Rev Latino-am Enfermagem 2007; 15(3):397-403..
Como limites pode-se destacar que a modalidade exige uma interação entre os participantes em ambientes virtuais de aprendizagem, onde a presença do mediador se faz necessária para a efetividade do programa. Desta forma, Ortiz et al. afirmam que o papel do facilitador on-line é uma realidade que se propaga na mesma velocidade com que surgem novos grupos e formas de interação no ambiente virtual. A presença do tutor na realidade configura-se, portanto, como uma necessidade para um melhor funcionamento e alcance dos objetivos do treinamento, dentro desse cenário1010. Ortiz MCL, Ribeiro RP, Garanhani ML. Educação à distância: uma ferramenta para educação permanente de enfermeiros que trabalham com assistência perioperatória. Cogitare enferm 2008; 13(4):558-565..
Além disso, deve-se considerar que nem todos os profissionais possuem habilidades para a utilização de ferramentas virtuais, de modo que se faz necessária a instrução deles mediante o desenvolvimento de competências para assimilação das novas tecnologias. Para tanto, é premente uma comunicação efetiva com os tutores. Para o alcance dessas competências necessita-se de conhecimento para utilizar as novas tecnologias da informação e comunicação, não apenas como meios de melhorar a eficiência dos sistemas, mas, principalmente, como ferramentas pedagógicas efetivamente a serviço dos profissionais que atuam na saúde1313. Nova C, Alves L. Educação à distância: limites e possibilidades. São Paulo: Futura; 2003..
Entretanto, o ensino à distância deve ser visto como uma possibilidade educacional para o desenvolvimento contínuo de trabalhadores da saúde99. Gill A. E-learning and professional development never too old to learn. Br J Nurs 2007; 16(17):1084-1088., praticado enquanto outra opção se coloca ao trabalhador para sua qualificação. Não pode ser simplesmente encarada enquanto substitutiva do sistema educacional já posto, por mais deficiente que este esteja operando1212. Oliveira MAN. Educação à Distância como estratégia para a educação permanente: possibilidades e desafios. Rev Bras Enferm 2007; 60(5):585-589..
Conclusão
A realização do estudo permitiu vivenciar a grande contribuição do ensino à distância nos programas de EPS, porém os dados mostraram que existem poucos estudos publicados, fazendo-se necessárias maiores reflexões sobre a EaD na área de saúde.
Alguns estudos defendem a inserção das estratégias do ensino a distância nos programas de educação permanente em saúde, pois esse método inovador de ensino mostra a possibilidade de ampliação do saber profissional, facilitando o desenvolvimento da aprendizagem seja dentro ou fora da instituição de saúde. Assim, essa modalidade de ensino e aprendizagem permitirá que, mesmo que não estejam em espaços e tempos não compartilhados, haja troca de experiências que contribuam para a construção do conhecimento.
Neste sentido, o uso das estratégias da educação à distância têm tido uma importante contribuição para o desenvolvimento dos recursos humanos em saúde, seja no processo de formação e/ou no processo contínuo de conhecimento, sendo uma nova perspectiva para os profissionais de enfermagem, desenvolvendo, desta forma, um novo espaço de aprendizagem para a construção do conhecimento.
Referências
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1Brasil. Portaria nº 198/GM/MS, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para formação e do desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Diário Oficial da União 2004; 14 fev.
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2Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política de Educação e desenvolvimento para o SUS: Caminhos da Educação Permanente em Saúde: Pólos de Educação permanente em Saúde. Brasília: MS; 2004.
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3Brasil. Ministério da Saúde (MS). A educação permanente entra na roda: pólos de educação permanente em saúde: conceitos e caminhos a percorrer. Brasília: MS; 2005.
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4Torrez MNFB. Educação à distância e a formação em saúde: nem tanto, nem tão pouco. Trab Educ Saúde 2005; 3(1):171-186.
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5Fullerton JT, Ingle HT. Evaluation Strategies for Midwifery Education Linked to Digital Media and Distance Delivery Technology. J Midwifery Womens Health 2003; 48(6):426-436.
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6White A, Roberts VW, Brannan J. Returning nurses to the workforce: developing na onlinerefresher course. J Contin Educ Nurs 2003; 34(2):59-63.
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7Godoy S, Mendes IAC, Hayashida M, Nogueira MS, Alves LMM. In service nursing education delivered by videoconference. J Telemed Telecare 2004; 10(5):303-305.
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8Paladino Y, Peres HHC. E-learning: a comparative study for knowledge apprehension among nurses. Rev Latino-am Enfermagem 2007; 15(3):397-403.
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9Gill A. E-learning and professional development never too old to learn. Br J Nurs 2007; 16(17):1084-1088.
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10Ortiz MCL, Ribeiro RP, Garanhani ML. Educação à distância: uma ferramenta para educação permanente de enfermeiros que trabalham com assistência perioperatória. Cogitare enferm 2008; 13(4):558-565.
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11Faria MGA, David HMSL. Telessaúde Brasil Redes. Núcleo Rio de Janeiro: Educação Permanente no trabalho de Enfermeiros da Atenção Básica.J Bras Tele 2010; 1(1):23-24.
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12Oliveira MAN. Educação à Distância como estratégia para a educação permanente: possibilidades e desafios. Rev Bras Enferm 2007; 60(5):585-589.
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13Nova C, Alves L. Educação à distância: limites e possibilidades. São Paulo: Futura; 2003.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Abr 2015
Histórico
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Recebido
05 Jun 2013 -
Aceito
15 Out 2013