Resumo
Este estudo busca identificar e analisar os estudos que associam a Psicologia Positiva e seus construtos com os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Foi feita uma revisão integrativa sobre o tema. De 64 resultados encontrados, 13 artigos foram selecionados para descrição e análise. Identificou-se baixa produção científica sobre o tema, ainda que esteja em expansão. Apenas sete estudos tinham como objetivo principal a relação entre a Psicologia Positiva e o uso de substâncias psicoativas, sendo apenas dois experimentais. Evidenciou-se também a concentração de publicações nos EUA e a falta de estudos brasileiros. Os construtos da Psicologia Positiva mais abordados são a felicidade e a espiritualidade, estando associados a um menor uso de substâncias psicoativas. Fica demonstrado o potencial desse campo de estudo para a prevenção e tratamento desses transtornos, sugerindo-se o aumento da produção cientifica.
Palavras-chave:
psicologia positiva; substâncias psicoativas; revisão integrativa
Abstract
Objective: This study aims to identify and analyze studies that associate Positive Psychology and its constructs with disorders related to the use of psychoactive substances. Method: An integrative review on the subject was conducted. Of the 64 results found, 13 articles were selected for description and analysis. Results: Although expanding, a low scientific production on the subject was identified. There were only seven studies focused on the relationship between Positive Psychology and the use of psychoactive substances, and only two were experimental. The concentration of publications in the USA and the lack of Brazilian studies were also evident. The most discussed constructs of Positive Psychology are happiness and spirituality, which are associated with a reduced use of psychoactive substances. Conclusions: This field of study has demonstrated potential for the prevention and treatment of these disorders, suggesting an increase in scientific production.
Keywords:
Positive Psychology; Psychoactive Substances; Integrative Review
Resumen
Objetivo: Este estudio busca identificar y analizar estudios que asocien la Psicología Positiva y sus constructos con trastornos relacionados con el uso de sustancias psicoactivas. Método: Se realizó una revisión integrativa sobre el tema. De 64 resultados encontrados, 13 artículos fueron seleccionados para su descripción y análisis. Resultados: Se identificó una baja producción científica sobre el tema, aunque se encuentra en expansión. Solo siete estudios tuvieron como objetivo principal la relación entre la Psicología Positiva y el uso de sustancias psicoactivas, de los cuales, solo dos fueron experimentales. También fue evidente la concentración de publicaciones en los EE. UU. y la falta de estudios brasileños. Los constructos más discutidos de la Psicología Positiva son la felicidad y la espiritualidad, asociándose a un menor consumo de sustancias psicoactivas. Conclusiones: Se demuestra el potencial de este campo de estudio para la prevención y tratamiento de estos trastornos, sugiriendo un incremento en la producción científica.
Palabras clave:
Psicología Positiva; Sustancias Psicoactivas; Revisión Integrativa
Introdução
Na última década, tem ocorrido um aumento significativo da aplicação da Psicologia Positiva no cenário mundial. Seguindo a tendência internacional, o Brasil tem expandido o emprego da Psicologia Positiva para diferentes áreas da saúde, beneficiando campos já habitados, como a prevenção de adversidades e suporte no manejo de tais questões, como tem despontado na promoção de saúde, autorregulação emocional e enfoques baseados nos construtos positivos (Reppold et al., 2019Reppold, C. T., D’Azevedo, L. S., Tocchetto, B. S., Diaz, G. B., Kato, S. K., & Hutz, C. S. (2019). Avanços da psicologia positiva no Brasil. Psicologia para América Latina, (32), 133-141. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2019000200005&lng=pt&tlng=pt
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). No campo clínico, estudos relacionados à Psicologia Positiva vêm sendo realizados com diferentes intervenções terapêuticas e com variedade de populações, o que cada vez mais tem apontado a importância dos fatores de proteção na adesão e na melhora do tratamento (Machado et al., 2017Machado, F. A., Gurgel, L. G., & Reppold, C. T. (2017). Intervenções em Psicologia Positiva na reabilitação de adultos e idosos: revisão da literatura. Estudos de Psicologia (Campinas), 34, 119-130. https://doi.org/10.1590/198202752017000100012
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).
Novos caminhos também estão sendo estudados no que diz respeito aos transtornos relacionados ao uso de substâncias. Desenvolvimentos recentes têm buscado entender seus fatores de risco e de proteção visando a criação de programas de prevenção do comportamento aditivo (Kempf et al., 2017Kempf, C., Llorca, P. M., Pizon, F., Brousse, G., & Flaudias, V. (2017). What’s new in addiction prevention in young people: A literature review of the last years of research. Frontiers in psychology, 8, 1131. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2017.01131
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). Segundo esses autores, os programas de prevenção baseados na Psicologia Positiva configuram um campo de inovação na área dos comportamentos aditivos que deve ser mais estudado.
Existe, como exposto, uma mudança similar tanto na Psicologia quanto na área de estudo das substâncias psicoativas. Nessas duas áreas, de maneira independente, há o entendimento que o seu estudo estava focado excessivamente na patologia. A partir disso, lança-se mão da Psicologia Positiva para a pesquisa teórica, bem como para intervenções voltadas aos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas (Keyes & Haidt, 2003Keyes, C. L., & Haidt, J. (Eds.). (2003). Flourishing: Positive psychology and the life well-lived (pp. 275-289). American Psychological Association.).
Um exemplo disso é o estudo de Alterman et al. (2010Alterman, A. I., Cacciola, J. S., Dugosh, K. L., Ivey, M. A., & Coviello, D. M. (2010). Measurement of mental health in substance use disorder outpatients. Journal of substance abuse treatment, 39(4), 408-414. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2010.07.002
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), o qual avaliou a integridade psicométrica dos instrumentos que medem os atributos de saúde mental. Comparou-se o grupo controle utilizado nas validações com os resultados de pessoas com transtorno de uso de substâncias. Considerando as medidas que avaliavam esses construtos (otimismo, atitudes de vida, espiritualidade/religiosidade, suporte social, humor positivo, esperança e vitalidade), a pesquisa mostrou que usuários de substâncias psicoativas apresentavam maior espiritualidade, afetos positivos e esperança cognitiva. Porém, tinham menos suporte social e otimismo em relação ao grupo controle.
Uma revisão sistemática sobre a aplicação da Psicologia Positiva em usuários de substâncias incluiu nove estudos (Krentzman, 2013Krentzman, A. R. (2013). Review of the application of positive psychology to substance use, addiction, and recovery research. Psychology of addictive behaviors, 27(1), 151. https://doi.org/10.1037/a0029897
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). O trabalho de 2013 considerou publicações realizadas entre os anos de 2005 e 2010. Além disso, utilizou o termo “Positive Psychology” em combinação com os termos “Alcohol”; “Substance Use”; “Substance Abuse”; “Substance Dependence”; “Addict”; “Drug Abuse”; “Drug”; or “Drug Dependence”. As buscas foram realizadas apenas nas bases de dados PsycINFO e PubMed. Como principais resultados, foram identificados diversidade de público-alvo nos trabalhos, escassez de estudos clínicos experimentais e um conceito muito amplo usado para Psicologia Positiva. Nesse sentido, é discutido pelo autor que, embora se tenha um avanço significativo das pesquisas no campo da Psicologia Positiva, pouco se tem explorado em sua atuação nos transtornos relacionados ao uso de substâncias. Entretanto, é reconhecido pelo mesmo a potencialidade do uso da abordagem positiva em pesquisas que tratem da recuperação de pessoas com transtornos aditivos, assim como a necessidade de ser incentivado o uso da Psicologia Positiva para inovação teórica, com intuito de prevenção e intervenção em transtornos aditivos.
A Psicologia Positiva tem como intuito contribuir para a realização individual, satisfação e felicidade em geral do indivíduo, levando à promoção da saúde e prevenção do sofrimento emocional e patológico (Oliveira et al., 2016Oliveira, C., Nunes, M. F. O., Legal, E. J., & Noronha, A. P. P. (2016). Bem-Estar Subjetivo: estudo de correlação com as Forças de Caráter. Avaliação Psicológica, 15(2), 177-185. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712016000200007&lng=pt&tlng=pt.
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). Em relação aos transtornos por uso de substâncias, é importante investigar a presença e intensidade das forças de caráter, pois podem contribuir para intervenções mais eficazes e para a adesão ao tratamento por parte de indivíduos com esses transtornos. Uma pesquisa realizada por Law e Guo (2012Law, F. M., & Guo, G. J. (2012). Hope and recovery from substance abuse for female drug offenders in Taiwan. International journal of offender therapy and comparative criminology, 56(8), 1258-1282.), por exemplo, demonstrou que um programa de tratamento para abuso de substâncias baseado na esperança, uma das forças de caráter da Psicologia Positiva, contribuiu para aumentar a capacidade de regular e administrar as emoções dos participantes do estudo. Essa mudança, por sua vez, pode levar ao aumento da motivação para perseguir objetivos que tem papel essencial durante o processo de recuperação. Desta forma, a Psicologia Positiva e seus construtos têm se mostrado uma alternativa eficaz no tratamento do uso de substâncias, tornando a pesquisa sobre o assunto relevante e necessária.
Assim, a fim de investigar a produção científica na última década sobre o uso da Psicologia Positiva nos quadros de transtornos aditivos, objetiva-se, por meio do presente trabalho, identificar e analisar as pesquisas no cenário nacional e internacional sobre o tema. Buscando também apresentar o perfil dos estudos que relacionam a Psicologia Positiva e/ou seus construtos com os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas.
Método
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. O estudo foi dividido em quatro etapas: formulação da questão de pesquisa; busca da literatura nas bases de dados; seleção dos resultados; análise dos dados.
A pesquisa foi feita em bases de dados eletrônicas, e a busca e seleção dos artigos ocorreu entre 01 e 30 de novembro de 2020. Os termos de busca foram escolhidos após consulta feita no Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) do portal Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e, também, a partir de termos identificados na literatura. Os termos escolhidos foram “Positive Psychology” e “Substance-related Disorders”, bem como seus equivalentes em língua portuguesa “Psicologia Positiva” e “Transtornos relacionados ao uso de Substâncias”. Dessa forma optou-se por não se focar em nenhuma substância psicoativa específica.
As bases eletrônicas utilizadas foram o Portal PubMed (base de dados MEDLINE); Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); Repositório de Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); PsycINFO; Scientific Eletronic Library Online (SciELO); Portal de Periódicos Eletrônicos da Psicologia (PePSIC); Scopus e Web of Science. Foram consideradas publicações de todos os anos, nos idiomas: português e inglês.
Como critério de inclusão, determinou-se que os estudos deveriam estar na língua inglesa ou portuguesa, teriam que ter sido publicados a partir do ano 2000, e também teria que ser possível o acesso ao texto integral. Além disso, os artigos necessariamente deveriam relacionar a Psicologia Positiva ou seus principais construtos, como, por exemplo: bem-estar subjetivo, gratidão, esperança, otimismo, felicidade, amor, compaixão, apoio social, competência social, e espiritualidade (Machado et al., 2017Machado, F. A., Gurgel, L. G., & Reppold, C. T. (2017). Intervenções em Psicologia Positiva na reabilitação de adultos e idosos: revisão da literatura. Estudos de Psicologia (Campinas), 34, 119-130. https://doi.org/10.1590/198202752017000100012
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; Seligman & Csikszentmihalyi, 2000Seligman, M. E. P., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: An introduction. American Psychologist, 55(1), 5-14. https://doi.org/10.1037/0003-066X.55.1.5
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) com o uso de substâncias psicoativas. Foram excluídos resultados repetidos, artigos de revisões da literatura, de validação de instrumentos e estudos que não apresentavam com clareza a relação entre a Psicologia Positiva ou seus construtos e o uso de substâncias psicoativas.
O processo de seleção dos estudos foi dividido em três momentos: inicialmente foram excluídos os resultados repetidos, com texto integral em idioma diverso dos pré-determinados ou que não possuíam o texto integral do artigo. No segundo momento, a análise foi feita a partir da leitura dos títulos e resumos de todos os resultados. Os resumos que não forneciam informações suficientes em relação aos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados para avaliação da leitura do texto na íntegra. Após a leitura dos textos integrais, foi estabelecida a seleção final de resultados.
Resultados e Discussão
Os resultados encontrados, inicialmente, em cada base de dados, foram: Portal PubMed, 11 resultados; Portal CAPES, 10 resultados; PsycINFO, 9 resultados; Scopus, 14 resultados; Web of Science, 20 resultados. Nas bases de dados LILACS, SciELO e PePSIC não foi encontrado nenhum dado. Em nenhuma das oito bases de dados houve correspondência para os termos pesquisados em língua portuguesa. Todos os estudos obtidos foram encontrados a partir dos descritores em inglês. Os dados iniciais totalizaram 64 estudos.
A partir da avaliação dos resultados iniciais, 28 estudos foram excluídos por estarem duplicados. Um resultado foi excluído por não possuir o texto integral do artigo, um artigo foi excluído por ter sido escrito em Polonês e um estudo foi excluído por se tratar de uma revisão de literatura.
Na segunda fase, após a leitura dos títulos e resumos, cinco artigos foram selecionados por satisfazerem os critérios de inclusão, ou seja, abordavam a relação entre a Psicologia Positiva e seus construtos com o uso de substâncias psicoativas, bem como 14 artigos foram excluídos por não se encaixarem nesses critérios. Outros 14 artigos foram selecionados para etapa de leitura integral do texto, por não possuírem informações suficientes em seus resumos.
Na última etapa de seleção, entre os 14 artigos que foram lidos integralmente, oito estudos foram selecionados por se adequarem aos critérios de inclusão e os 6 restantes foram excluídos por não corresponderem à temática do estudo. Por fim foram selecionados para o presente trabalho um total de 13 estudos, como pode ser observado na Figura 1.
Características dos Estudos
A partir da seleção final, foi feita a caracterização dos estudos. Destaca-se que 10 estudos (77%) eram provenientes dos Estados Unidos, sendo que os três estudos restantes foram realizados em instituições do Canada (Harris et al., 2012Harris, N., Brazeau, J. N., Clarkson, A., Brownlee, K., & Rawana, E. P. (2012). Adolescents’ experiences of a strengths-based treatment program for substance abuse. Journal of Psychoactive Drugs, 44(5), 390-397. https://doi.org/10.1080/02791072.2012.736822
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), Holanda (Bergsma et al., 2011Bergsma, A., Have, M. T., Veenhoven, R., & Graaf, R. D. (2011). Most people with mental disorders are happy: A 3-year follow-up in the Dutch general population. The Journal of Positive Psychology, 6(4), 253-259. https://doi.org/10.1080/17439760.2011.577086
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) e Hong Kong (Li et al., 2015Li, J., Gu, J., Lau, J. T., Chen, H., Mo, P. K., & Tang, M. (2015). Prevalence of depressive symptoms and associated factors among people who inject drugs in China. Drug and alcohol dependence, 151, 228-235. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2015.03.028
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). Em geral, as publicações foram feitas em revistas diversas, sendo o “Journal of Substance Abuse Treatment” a única revista com mais de um resultado, somando dois estudos. Além disso, 46% das revistas são especializadas no campo de estudo do uso de substâncias psicoativas e transtornos relacionados. Em relação aos anos de publicação, o resultado mais antigo encontrado data do ano de 2004 (Kumpfer & Bluth, 2004Kumpfer, K. L., & Bluth, B. (2004). Parent/child transactional processes predictive of resilience or vulnerability to “substance abuse disorders”. Substance use & misuse, 39(5), 671-698. https://doi.org/10.1081/ja-120034011
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) e o mais recente foi publicado no ano de 2020 (Choi et al., 2020Choi, S. H., McClintock, C. H. Y., Lau, E., & Miller, L. (2020). The dynamic universal profiles of spiritual awareness: A latent profile analysis. Religions, 11(6), 288. https://doi.org/10.3390/rel11060288
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). Ressalta-se que 8 estudos (61%) foram publicados entre o ano de 2015 e o ano de 2020. As principais características de identificação dos estudos encontram-se na Tabela 1.
Algumas características gerais dos artigos selecionados também são de importante relevância. Entre elas, a variedade de participantes dos estudos deve ser destacada, sendo a maioria (61%) voltados para a população adulta, enquanto 31% da amostra se debruçou sobre a adolescência e apenas 8% estudaram o período da infância. Além disso outra característica importante se dá a partir do fato que 38% das pesquisas foram direcionadas para a prevenção dos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, enquanto outras 38% focaram seus estudos no momento do tratamento desses transtornos e os 24% restantes se limitaram a levantar características dos usuários de substâncias psicoativas.
Após a etapa de identificação dos estudos, foi feita uma análise de seus métodos, objetivos e principais resultados. Observou-se que alguns estudos não buscavam em seus objetivos principais a relação entre a Psicologia Positiva e o uso de substâncias psicoativas e consequentemente seus principais resultados também não apresentavam essa relação. Porém, em seus objetivos secundários a relação era observada e analisada. A fim de uma melhor análise das características observadas nos estudos que relacionavam a Psicologia Positiva com o uso de substâncias, a Tabela 2 apresenta os delineamentos e objetivos principais dos artigos analisados, bem como os seus principais resultados encontrados.
Estudos que têm como Objetivo Principal a Relação entre a Psicologia Positiva e o Uso de Substâncias Psicoativas
Nesta etapa do presente estudo, segue-se para a análise dos dados coletados, tendo como objetivo descrever de maneira crítica e objetiva o cenário da produção científica encontrada acerca da Psicologia Positiva e dos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Um importante dado levantado mostra que dos 13 artigos selecionados, 7 estudos (53%) tratam da relação entre a Psicologia Positiva e os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas em seu objetivo principal. Entre os quais, destacam-se Harris et al. (2012Harris, N., Brazeau, J. N., Clarkson, A., Brownlee, K., & Rawana, E. P. (2012). Adolescents’ experiences of a strengths-based treatment program for substance abuse. Journal of Psychoactive Drugs, 44(5), 390-397. https://doi.org/10.1080/02791072.2012.736822
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), Hoeppner B. et al. (2019Hoeppner, B. B., Schick, M. R., Carlon, H., & Hoeppner, S. S. (2019). Do self-administered positive psychology exercises work in persons in recovery from problematic substance use? An online randomized survey. Journal of substance abuse treatment, 99, 16-23. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.006
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), Hoeppner S. et al. (2019Hoeppner, S. S., Carlon, H. A., Lambert, A. F., & Hoeppner, B. B. (2019). Is the thought-action repertoire a viable intervention target in substance use populations? General Hospital Psychiatry, 61, 130-135. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2019.06.006
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), Kumpfer e Bluth (2004Kumpfer, K. L., & Bluth, B. (2004). Parent/child transactional processes predictive of resilience or vulnerability to “substance abuse disorders”. Substance use & misuse, 39(5), 671-698. https://doi.org/10.1081/ja-120034011
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), Warren et al. (2016Warren, M. T., Wray-Lake, L., Rote, W. M., & Shubert, J. (2016). Thriving while engaging in risk? Examining trajectories of adaptive functioning, delinquency, and substance use in a nationally representative sample of US adolescents. Developmental psychology, 52(2), 296. https://doi.org/10.1037/a0039922
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).
O estudo desenvolvido por Harris et al. (2012Harris, N., Brazeau, J. N., Clarkson, A., Brownlee, K., & Rawana, E. P. (2012). Adolescents’ experiences of a strengths-based treatment program for substance abuse. Journal of Psychoactive Drugs, 44(5), 390-397. https://doi.org/10.1080/02791072.2012.736822
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) é o único da amostra a desenvolver uma análise temática. Para tanto, a pesquisa buscou explorar o entendimento subjetivo de adolescentes que participam de um programa de tratamento para o uso de substâncias psicoativas baseado no construto de forças de caráter, desenvolvido pela Psicologia Positiva. Destaca-se, entre os resultados, que o incentivo do Programa na identificação das forças e virtudes individuais auxiliou os jovens a superar os momentos mais difíceis do processo de abstinência.
Outros dois resultados que merecem destaque são as pesquisas de Hoeppner B. et al. (2019Hoeppner, B. B., Schick, M. R., Carlon, H., & Hoeppner, S. S. (2019). Do self-administered positive psychology exercises work in persons in recovery from problematic substance use? An online randomized survey. Journal of substance abuse treatment, 99, 16-23. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.006
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) e Hoeppner S. et al. (2019Hoeppner, S. S., Carlon, H. A., Lambert, A. F., & Hoeppner, B. B. (2019). Is the thought-action repertoire a viable intervention target in substance use populations? General Hospital Psychiatry, 61, 130-135. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2019.06.006
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). Apenas esses dois estudos da amostra realizam algum tipo de intervenção, baseada na Psicologia Positiva, visando promover inovações no tratamento dos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. As duas pesquisas utilizam dados do mesmo banco, o qual foi fruto de um questionário online randomizado. Durante a aplicação do questionário, os participantes - pacientes que se encontravam em diferentes estágios do tratamento - foram submetidos a exercícios que visavam estimular a felicidade. Grupos controles também foram utilizados em relação aos grupos experimentais. Os resultados mais importantes encontrados pelas autoras mostram que os exercícios breves de felicidade têm o potencial de aumentar os níveis de felicidade momentânea dos pacientes (Hoeppner B. et al., 2019Hoeppner, B. B., Schick, M. R., Carlon, H., & Hoeppner, S. S. (2019). Do self-administered positive psychology exercises work in persons in recovery from problematic substance use? An online randomized survey. Journal of substance abuse treatment, 99, 16-23. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.006
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), além de ampliar o repertório de pensamento-ação desses pacientes (Hoeppner S. et al., 2019Hoeppner, S. S., Carlon, H. A., Lambert, A. F., & Hoeppner, B. B. (2019). Is the thought-action repertoire a viable intervention target in substance use populations? General Hospital Psychiatry, 61, 130-135. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2019.06.006
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). Em ambos os casos, foi verificado o auxílio desses exercícios para a superação de momentos difíceis do tratamento.
Em relação aos estudos teóricos, foram encontrados na amostra apenas dois resultados (15%), destacando-se o artigo de Kumpfer e Bluth (2004Kumpfer, K. L., & Bluth, B. (2004). Parent/child transactional processes predictive of resilience or vulnerability to “substance abuse disorders”. Substance use & misuse, 39(5), 671-698. https://doi.org/10.1081/ja-120034011
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). Esse é o único trabalho voltado para a prevenção de transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas ainda no período da infância. Os autores discutem o impacto do processo transgeracional sobre a vulnerabilidade para o uso futuro de substâncias psicoativas em filhos de usuários. Além disso, a partir do modelo teórico da resiliência, é proposto a criação de um programa de prevenção que considere tal processo, com o intuito de reduzir esse impacto.
Outra pesquisa que se destaca de maneira importante é a desenvolvida por Warren et al. (2016Warren, M. T., Wray-Lake, L., Rote, W. M., & Shubert, J. (2016). Thriving while engaging in risk? Examining trajectories of adaptive functioning, delinquency, and substance use in a nationally representative sample of US adolescents. Developmental psychology, 52(2), 296. https://doi.org/10.1037/a0039922
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). Esse foi um dos dois estudos longitudinais encontrados entre os artigos selecionados. Os autores acompanharam uma amostra de adolescentes desde a 7ª série do Ensino Fundamental até que estes completassem o Ensino Médio. Abordando a Psicologia Positiva, a partir do construto de funcionamento adaptativo, o estudo foi focado na prevenção de comportamentos delinquentes e do uso de substâncias psicoativas. Um resultado que se destaca aqui é que, enquanto um alto nível de funcionamento adaptativo é um fator protetivo para o uso de substâncias psicoativas no início da adolescência, esse fator protetivo enfraquece durante o percurso desta etapa da vida. Este dado aponta a variabilidade do construto, demonstrando assim a importância deste tipo de delineamento na produção científica sobre o tema.
Estudos que não têm como Objetivo Principal a Relação entre a Psicologia Positiva e o Uso de Substâncias Psicoativas
Os outros seis artigos tratam da relação entre Psicologia Positiva e o uso de substâncias psicoativas apenas em seus objetivos secundários. São abordados construtos de felicidade (Bergsma et al., 2011Bergsma, A., Have, M. T., Veenhoven, R., & Graaf, R. D. (2011). Most people with mental disorders are happy: A 3-year follow-up in the Dutch general population. The Journal of Positive Psychology, 6(4), 253-259. https://doi.org/10.1080/17439760.2011.577086
https://doi.org/10.1080/17439760.2011.57...
), esperança, resiliência e apoio familiar (Li et al., 2015Li, J., Gu, J., Lau, J. T., Chen, H., Mo, P. K., & Tang, M. (2015). Prevalence of depressive symptoms and associated factors among people who inject drugs in China. Drug and alcohol dependence, 151, 228-235. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2015.03.028
https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.201...
), responsabilidade social (Martin et al., 2014Martin, A. M., Benotsch, E. G., Cejka, A., & Luckman, D. (2014). Social responsibility, substance use, and sexual risk behavior in men who have sex with men. Journal of homosexuality, 61(2), 251-269. https://doi.org/10.1080/00918369.2013.839908
https://doi.org/10.1080/00918369.2013.83...
), espiritualidade (Barton & Miller, 2015Barton, Y. A., & Miller, L. (2015). Spirituality and positive psychology go hand in hand: An investigation of multiple empirically derived profiles and related protective benefits. Journal of religion and health, 54(3), 829-843. https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-2
https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-...
; Choi et al., 2020Choi, S. H., McClintock, C. H. Y., Lau, E., & Miller, L. (2020). The dynamic universal profiles of spiritual awareness: A latent profile analysis. Religions, 11(6), 288. https://doi.org/10.3390/rel11060288
https://doi.org/10.3390/rel11060288...
) e forças de caráter (Ma et al., 2008Ma, M., Kibler, J. L., Dollar, K. M., Sly, K., Samuels, D., Benford, M. W., & Wiley, F. (2008). The relationship of character strengths to sexual behaviors and related risks among African American adolescents. International Journal of Behavioral Medicine, 15(4), 319-327. https://doi.org/10.1080/10705500802365573
https://doi.org/10.1080/1070550080236557...
). Ressaltam-se os estudos de Bergsma et al. (2011Bergsma, A., Have, M. T., Veenhoven, R., & Graaf, R. D. (2011). Most people with mental disorders are happy: A 3-year follow-up in the Dutch general population. The Journal of Positive Psychology, 6(4), 253-259. https://doi.org/10.1080/17439760.2011.577086
https://doi.org/10.1080/17439760.2011.57...
), Barton e Miller (2015Barton, Y. A., & Miller, L. (2015). Spirituality and positive psychology go hand in hand: An investigation of multiple empirically derived profiles and related protective benefits. Journal of religion and health, 54(3), 829-843. https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-2
https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-...
) e Choi et al. (2020Choi, S. H., McClintock, C. H. Y., Lau, E., & Miller, L. (2020). The dynamic universal profiles of spiritual awareness: A latent profile analysis. Religions, 11(6), 288. https://doi.org/10.3390/rel11060288
https://doi.org/10.3390/rel11060288...
) pelo número significativo da amostra.
Ademais, é destacada a pesquisa realizada por Choi et al. (2020Choi, S. H., McClintock, C. H. Y., Lau, E., & Miller, L. (2020). The dynamic universal profiles of spiritual awareness: A latent profile analysis. Religions, 11(6), 288. https://doi.org/10.3390/rel11060288
https://doi.org/10.3390/rel11060288...
) pela busca de perfis universais de vivências de espiritualidades em usuários de substâncias psicoativas, distinguindo-se por ter importante caráter multicultural, com uma amostra de n=5.512, dividida entre Índia, China e Estados Unidos. Em seu objetivo principal, o estudo apontou 5 perfis universais de espiritualidade e, a partir disso, em um de seus objetivos secundários, explorou a relação desses perfis com o uso de cannabis e álcool, encontrando importantes resultados, como por exemplo, o fator protetivo do perfil espiritualmente integrado para o uso de ambas as substâncias. Porém, também foi identificado a vulnerabilidade do perfil em emergência espiritual para um maior risco de transtornos relacionados às duas drogas, sendo levantada a hipótese de que a busca por transcendência desse último seja um dos motivos de maiores problemas relacionados às substâncias psicoativas.
Construtos da Psicologia Positiva Abordados
Outro levantamento importante é o leque de construtos da Psicologia Positiva que estão sendo estudados em relação aos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. A felicidade (Bergsma et al., 2011Bergsma, A., Have, M. T., Veenhoven, R., & Graaf, R. D. (2011). Most people with mental disorders are happy: A 3-year follow-up in the Dutch general population. The Journal of Positive Psychology, 6(4), 253-259. https://doi.org/10.1080/17439760.2011.577086
https://doi.org/10.1080/17439760.2011.57...
; Hoeppner B. et al., 2019Hoeppner, B. B., Schick, M. R., Carlon, H., & Hoeppner, S. S. (2019). Do self-administered positive psychology exercises work in persons in recovery from problematic substance use? An online randomized survey. Journal of substance abuse treatment, 99, 16-23. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.006
https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.0...
; Hoeppner S. et al., 2019Hoeppner, S. S., Carlon, H. A., Lambert, A. F., & Hoeppner, B. B. (2019). Is the thought-action repertoire a viable intervention target in substance use populations? General Hospital Psychiatry, 61, 130-135. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2019.06.006
https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2...
) e a espiritualidade (Barton & Miller, 2015Barton, Y. A., & Miller, L. (2015). Spirituality and positive psychology go hand in hand: An investigation of multiple empirically derived profiles and related protective benefits. Journal of religion and health, 54(3), 829-843. https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-2
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; Choi et al., 2020Choi, S. H., McClintock, C. H. Y., Lau, E., & Miller, L. (2020). The dynamic universal profiles of spiritual awareness: A latent profile analysis. Religions, 11(6), 288. https://doi.org/10.3390/rel11060288
https://doi.org/10.3390/rel11060288...
; Galanter, 2007Galanter, M. (2007). Spirituality and recovery in 12-step programs: An empirical model. Journal of substance abuse treatment, 33(3), 265-272. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2007.04.016
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) são os construtos que mais aparecem, ambos em 3 estudos. Forças e virtudes (Harris et al., 2012Harris, N., Brazeau, J. N., Clarkson, A., Brownlee, K., & Rawana, E. P. (2012). Adolescents’ experiences of a strengths-based treatment program for substance abuse. Journal of Psychoactive Drugs, 44(5), 390-397. https://doi.org/10.1080/02791072.2012.736822
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; Pagano et al., 2019Pagano, M. E., Raj, N. M., Rhodes, C., Krentzman, A. R., & Little, M. (2019). Identifying strengths in youths at substance use treatment admission. The American Journal of Drug and Alcohol Abuse, 45(4), 410-420. https://doi.org/10.1080/00952990.2019.1603302
https://doi.org/10.1080/00952990.2019.16...
) e resiliência (Kumpfer & Bluth, 2004Kumpfer, K. L., & Bluth, B. (2004). Parent/child transactional processes predictive of resilience or vulnerability to “substance abuse disorders”. Substance use & misuse, 39(5), 671-698. https://doi.org/10.1081/ja-120034011
https://doi.org/10.1081/ja-120034011...
; Li et al., 2015Li, J., Gu, J., Lau, J. T., Chen, H., Mo, P. K., & Tang, M. (2015). Prevalence of depressive symptoms and associated factors among people who inject drugs in China. Drug and alcohol dependence, 151, 228-235. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2015.03.028
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) são encontrados em 2 trabalhos.
Os demais construtos: repertório de pensamento-ação (Hoeppner S. et al., 2019Hoeppner, S. S., Carlon, H. A., Lambert, A. F., & Hoeppner, B. B. (2019). Is the thought-action repertoire a viable intervention target in substance use populations? General Hospital Psychiatry, 61, 130-135. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2019.06.006
https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2...
), esperança (Li et al., 2015Li, J., Gu, J., Lau, J. T., Chen, H., Mo, P. K., & Tang, M. (2015). Prevalence of depressive symptoms and associated factors among people who inject drugs in China. Drug and alcohol dependence, 151, 228-235. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2015.03.028
https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.201...
), responsabilidade social (Bergsma et al., 2011Bergsma, A., Have, M. T., Veenhoven, R., & Graaf, R. D. (2011). Most people with mental disorders are happy: A 3-year follow-up in the Dutch general population. The Journal of Positive Psychology, 6(4), 253-259. https://doi.org/10.1080/17439760.2011.577086
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), gratidão (Barton & Miller, 2015Barton, Y. A., & Miller, L. (2015). Spirituality and positive psychology go hand in hand: An investigation of multiple empirically derived profiles and related protective benefits. Journal of religion and health, 54(3), 829-843. https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-2
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), otimismo (Barton & Miller, 2015Barton, Y. A., & Miller, L. (2015). Spirituality and positive psychology go hand in hand: An investigation of multiple empirically derived profiles and related protective benefits. Journal of religion and health, 54(3), 829-843. https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-2
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), apoio familiar (Li et al., 2015Li, J., Gu, J., Lau, J. T., Chen, H., Mo, P. K., & Tang, M. (2015). Prevalence of depressive symptoms and associated factors among people who inject drugs in China. Drug and alcohol dependence, 151, 228-235. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2015.03.028
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), forças de caráter (Ma et al., 2008Ma, M., Kibler, J. L., Dollar, K. M., Sly, K., Samuels, D., Benford, M. W., & Wiley, F. (2008). The relationship of character strengths to sexual behaviors and related risks among African American adolescents. International Journal of Behavioral Medicine, 15(4), 319-327. https://doi.org/10.1080/10705500802365573
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) e funcionamento adaptativo (Warren et al., 2016Warren, M. T., Wray-Lake, L., Rote, W. M., & Shubert, J. (2016). Thriving while engaging in risk? Examining trajectories of adaptive functioning, delinquency, and substance use in a nationally representative sample of US adolescents. Developmental psychology, 52(2), 296. https://doi.org/10.1037/a0039922
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) aparecem cada um em apenas um artigo.
Limitações dos Estudos
Uma questão menos favorável dos estudos encontrados é o conceito muito amplo de Psicologia Positiva que aparece por vezes nos artigos. Enquanto muitas pesquisas têm um conceito bem definido e referenciado, como, por exemplo, os estudos de Harris et al. (2012Harris, N., Brazeau, J. N., Clarkson, A., Brownlee, K., & Rawana, E. P. (2012). Adolescents’ experiences of a strengths-based treatment program for substance abuse. Journal of Psychoactive Drugs, 44(5), 390-397. https://doi.org/10.1080/02791072.2012.736822
https://doi.org/10.1080/02791072.2012.73...
), Hoeppner B. et al. (2019Hoeppner, B. B., Schick, M. R., Carlon, H., & Hoeppner, S. S. (2019). Do self-administered positive psychology exercises work in persons in recovery from problematic substance use? An online randomized survey. Journal of substance abuse treatment, 99, 16-23. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.006
https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.0...
), Hoeppner S. et al. (2019Hoeppner, S. S., Carlon, H. A., Lambert, A. F., & Hoeppner, B. B. (2019). Is the thought-action repertoire a viable intervention target in substance use populations? General Hospital Psychiatry, 61, 130-135. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2019.06.006
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), e Barton e Miller (2015Barton, Y. A., & Miller, L. (2015). Spirituality and positive psychology go hand in hand: An investigation of multiple empirically derived profiles and related protective benefits. Journal of religion and health, 54(3), 829-843. https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-2
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), outros estudos apresentam conceitos superficiais do campo, como vemos em Martin et al. (2014Martin, A. M., Benotsch, E. G., Cejka, A., & Luckman, D. (2014). Social responsibility, substance use, and sexual risk behavior in men who have sex with men. Journal of homosexuality, 61(2), 251-269. https://doi.org/10.1080/00918369.2013.839908
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), o qual utiliza apenas o construto da responsabilidade social e no estudo de Li et al. (2015Li, J., Gu, J., Lau, J. T., Chen, H., Mo, P. K., & Tang, M. (2015). Prevalence of depressive symptoms and associated factors among people who inject drugs in China. Drug and alcohol dependence, 151, 228-235. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2015.03.028
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) que desenvolve o tema de maneira bastante breve.
Outro questionamento que se impõe são os contextos, por vezes, bastante restritos que aparecem em alguns estudos da amostra. O estudo teórico de Galanter (2007Galanter, M. (2007). Spirituality and recovery in 12-step programs: An empirical model. Journal of substance abuse treatment, 33(3), 265-272. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2007.04.016
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) limita-se a discorrer sobre o construto da espiritualidade apenas no âmbito do tratamento dos Alcoólicos Anônimos. Também, neste contexto, a pesquisa de Martin et al. (2014Martin, A. M., Benotsch, E. G., Cejka, A., & Luckman, D. (2014). Social responsibility, substance use, and sexual risk behavior in men who have sex with men. Journal of homosexuality, 61(2), 251-269. https://doi.org/10.1080/00918369.2013.839908
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) se mostra bastante restrita ao relacionar a responsabilidade social e comportamento sexual de risco ao uso de substâncias psicoativas de uma maneira pouco aprofundada.
Outra limitação da amostra se dá a partir dos estudos em que a relação entre a Psicologia Positiva e os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas aparece apenas nos objetivos secundários, isso porque, em alguns desses estudos, não há aprofundamento dos dados e a relação é, por vezes, superficial ou apenas citada. Na pesquisa de Ma et al. (2008Ma, M., Kibler, J. L., Dollar, K. M., Sly, K., Samuels, D., Benford, M. W., & Wiley, F. (2008). The relationship of character strengths to sexual behaviors and related risks among African American adolescents. International Journal of Behavioral Medicine, 15(4), 319-327. https://doi.org/10.1080/10705500802365573
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), a relação entre os dois temas aparece apenas em um momento em que se relaciona o construto de amor ao aprendizado à abstinência de drogas, na amostra de adolescentes. Não se investigam, por exemplo, no estudo, outros contextos do uso de substâncias, apenas a abstinência.
Ainda nesse quesito, no estudo de Li et al. (2015Li, J., Gu, J., Lau, J. T., Chen, H., Mo, P. K., & Tang, M. (2015). Prevalence of depressive symptoms and associated factors among people who inject drugs in China. Drug and alcohol dependence, 151, 228-235. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2015.03.028
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), no qual o foco está em explorar a prevalência de sintomas depressivos em usuários de drogas injetáveis, os autores pouco falam nos construtos da resiliência, esperança e apoio familiar que foram propostos nos objetivos secundários. Esses construtos aparecem apenas sendo relacionados a menores escores de depressão na amostra de usuários de drogas injetáveis, sem o devido aprofundamento.
Algumas outras características também mostram limitações da produção científica encontrada sobre o tema. Foram encontrados apenas estudos publicados em língua inglesa, e a grande maioria publicados nos Estados Unidos, sendo 10 artigos (77%) oriundos desse país. Esse fato talvez seja explicado pela Psicologia Positiva ter surgido nos EUA. Por fim, outro atributo dos estudos que chama a atenção é a presença de poucos estudos experimentais, os quais tem grande potencial para trazer inovações ao tratamento dos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, contando apenas com os estudos de Hoeppner B. et al. (2019Hoeppner, B. B., Schick, M. R., Carlon, H., & Hoeppner, S. S. (2019). Do self-administered positive psychology exercises work in persons in recovery from problematic substance use? An online randomized survey. Journal of substance abuse treatment, 99, 16-23. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.006
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) e Hoeppner S. et al. (2019Hoeppner, S. S., Carlon, H. A., Lambert, A. F., & Hoeppner, B. B. (2019). Is the thought-action repertoire a viable intervention target in substance use populations? General Hospital Psychiatry, 61, 130-135. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2019.06.006
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), os quais contabilizam somente 15% dos resultados.
O nosso estudo pode encontrar suas limitações no que tange a busca realizada, por se entender que pesquisas oriundas da área dos transtornos relacionados ao uso de substâncias, por vezes, acabam por investigar os construtos relacionados a Psicologia Positiva sem necessariamente referir-se ao campo. Sugere-se então que pesquisas futuras incluam nas suas buscas aos bancos de dados também os termos referentes aos construtos das Psicologia Positiva. Além disso, não foram utilizados descritores referentes a substâncias psicoativas específicas, o que pode ter levado a não identificação de alguns estudos. Assim, se faz nítida a necessidade de novos estudos empíricos e teóricos que busquem relacionar esses dois importantes campos da Psicologia, visto o grande potencial demonstrado neste estudo para avanços na área.
Apesar dessas limitações, esse presente estudo é importante, pois parece ser o primeiro a abordar esse tema no Brasil e percebe-se, em comparação com o trabalho de Krentzman (2013Krentzman, A. R. (2013). Review of the application of positive psychology to substance use, addiction, and recovery research. Psychology of addictive behaviors, 27(1), 151. https://doi.org/10.1037/a0029897
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), a evolução da produção científica nesse campo nos últimos 8 anos, com um positivo aumento de 44% do total de trabalhos encontrados, destacando-se o crescimento de 57% nas pesquisas empíricas, fato levantado pela autora, como uma das deficiências do campo à época. É notório que separadamente, tanto o campo da Psicologia Positiva, quanto o campo de estudo do uso de substâncias vêm focando seus esforços em características mais positivas dos indivíduos, ao invés do tradicional foco na psicopatologia. Dentro disso, o crescimento das pesquisas relacionando às áreas tem o potencial de gerar importantes frutos para ambos os campos, mas principalmente em gerar forte avanço na prevenção e promoção de saúde mental da população em geral.
Como foi observado, a Psicologia Positiva e seus construtos teóricos podem trazer benefícios a pessoas com transtornos por uso de substâncias psicoativas que são quadros de difícil tratamento e que necessitam de abordagens mais inovadoras. Os poucos estudos encontrados mostram que maiores níveis de construtos, como felicidade e espiritualidade, estão associados com menores usos de substâncias psicoativas, e que a identificação de forças e virtudes e o seu desenvolvimento podem contribuir no tratamento desses transtornos.
Conclusões
O presente estudo buscou explorar a produção científica disponível sobre a relação entre Psicologia Positiva, e/ou seus construtos, com os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. A partir da busca realizada nas bases de dados, e posterior seleção, analisou-se os 13 resultados encontrados na literatura internacional distribuídos nos últimos 16 anos. Os principais construtos identificados foram felicidade e espiritualidade. Além disso, os artigos encontrados trouxeram importantes contribuições para a área, como, por exemplo: o auxílio da identificação de forças de caráter, nos indivíduos, na superação dos momentos mais difíceis do tratamento para o uso de substâncias psicoativas; o potencial da criação de programas de prevenção voltados para a resiliência desde o período da infância; e a importância de construtos como a espiritualidade e o funcionamento adaptativo atuando enquanto fatores protetivos ao uso de substâncias psicoativas. Foi demonstrado assim a importância do estudo da Psicologia Positiva e a capacidade desse campo para atuar tanto na prevenção quanto no tratamento dos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas.
Algumas limitações, na produção científica encontrada, dizem respeito ao número reduzido de estudos experimentais, os quais, se entende, que são de extrema importância para os avanços na prevenção e no tratamento dos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Porém, talvez a maior limitação encontrada esteja relacionada à produção científica no Brasil e em língua portuguesa. Nenhum estudo produzido sobre o tema no Brasil foi encontrado e todos os estudos identificados foram desenvolvidos originalmente em língua inglesa. Demonstra-se assim a defasagem de estudos na área, no cenário científico da Psicologia no Brasil.
Referências
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» https://doi.org/10.1007/s10943-015-0045-2 - Bergsma, A., Have, M. T., Veenhoven, R., & Graaf, R. D. (2011). Most people with mental disorders are happy: A 3-year follow-up in the Dutch general population. The Journal of Positive Psychology, 6(4), 253-259. https://doi.org/10.1080/17439760.2011.577086
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» https://doi.org/10.3390/rel11060288 - Galanter, M. (2007). Spirituality and recovery in 12-step programs: An empirical model. Journal of substance abuse treatment, 33(3), 265-272. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2007.04.016
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» https://doi.org/10.1080/02791072.2012.736822 - Hoeppner, B. B., Schick, M. R., Carlon, H., & Hoeppner, S. S. (2019). Do self-administered positive psychology exercises work in persons in recovery from problematic substance use? An online randomized survey. Journal of substance abuse treatment, 99, 16-23. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2019.01.006
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Out 2023 -
Data do Fascículo
Jul-Sep 2023
Histórico
-
Recebido
19 Ago 2022 -
Revisado
16 Jan 2023 -
Aceito
06 Fev 2023