Resumo
Na sequência de anteriores tentativas de integrar o bullying e a homofobia na adolescência, a presente investigação visou estender o estudo ao cyberbullying e abordar o fenómeno no contexto Português. Assim, foi pedido a 688 estudantes da Universidade do Porto que recordassem as suas experiências de cyberbullying e de Comunicação de Teor Homofóbico (CTH) durante a adolescência. Os resultados revelaram que 67% da amostra foram alvo e 34% agente de pelo menos uma ocorrência de cyberbullying. Foram ainda identificadas 44 vítimas frequentes e 10 perpetradores/as frequentes. A CTH é frequente (45%) particularmente com amigos/as (34%), mas também com desconhecidos/as (23%). Confirmando as nossas hipóteses, foram encontradas correlações significativas entre as frequências de comportamentos de cyberbullying e de CTH, como vítima ou como perpetrador. Os resultados sugerem, pois, que há a necessidade, ao nível da intervenção no bullying e cyberbullying adolescente, de confrontar diretamente a sua componente homofóbica.
Palavras-chave:
Cyberbullying; homofobia; adolescência
Resumen
En la secuencia de anteriores tentativas de integrar el bullying y a la homofobia en la adolescencia, la presente investigación tuvo por objetivo comprender el estudio al cyberbullying y abordar el fenómeno en el contexto portugués. Así, se solicitó a 688 estudiantes de la Universidad de Porto, que recordasen a sus experiencias de cyberbullying y de Comunicación de Contenido Homofóbico (CTH) durante la adolescencia. Los resultados apuntaron que el 67% del muestreo fueran objeto y el 34 % agente de por lo menos una incidencia de cyberbullying. Aún se identificaron 44 víctimas frecuentes y 10 perpetradores/as frecuentes. La CTH es frecuente (e l45%) particularmente con amigos/as (el 34%), pero también con desconocidos/as (el 23%). Confirmando nuestras hipótesis, se encontraron correlaciones significativas entre las frecuencias de comportamientos de cyberbullying y de CTH, como víctima o como perpetrador. Los resultados sugieren, pues que hay necesidad, a nivel de la intervención en el bullying y cyberbullying adolescente, de confrontar directamente a su componente homofóbica.
Palabras clave:
Cyberbullying; homofobia; adolescencia
Abstract
Following previous attempts to integrate bullying and homophobia in adolescence, this research aimed to extend the study to cyberbullying and address the phenomenon in the Portuguese context. Thus, 688 students from the University of Porto were asked to recall their experiences of cyberbullying and homophobic content communication (CTH) during adolescence. The results revealed that 67% of the sample had targeted, and 34% agent, of at least one occurrence of cyberbullying. We also identified 44 frequent victims and 10 frequent perpetrators. CTH is frequent (45%), particularly with friends (34%), but also with strangers (23%). Confirming our hypotheses, significant correlations had found between the frequencies of cyberbullying and CTH behaviors, as a victim or as a perpetrator. The results therefore suggest that there is a need, at the level of intervention in adolescent bullying and cyberbullying, to confront directly its homophobic component.
Keywords:
Cyberbullying; homophobia; adolescence
Introdução
A evolução das tecnologias de informação e de comunicação (TIC) e a sua utilização crescente pela população, em geral, levou a que estas assumissem um papel de relevo cada vez maior na sociedade contemporânea e, em especial, nas interações que estabelecemos no nosso quotidiano (Matos, Pessoa, Amado, & Jäger, 2011Matos, A.; Pessoa, T.; Amado, J.; Jäger, T. (2011). Agir contra o cyberbullying: Manual de formação. Literacia, Media e Cidadania, 183-196. Recuperado de http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/lmc/article/view/463/434
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). Encontramos as percentagens mais elevadas de utilizadores da Internet para efeitos de comunicação interpessoal na faixa etária dos 16-24 anos, sendo que 90% deles/as a utilizam para envio de mensagens em chats, blogues ou redes sociais, e 95% para comunicar através do correio eletrónico - o e-mail (Matos et al., 2011Matos, A.; Pessoa, T.; Amado, J.; Jäger, T. (2011). Agir contra o cyberbullying: Manual de formação. Literacia, Media e Cidadania, 183-196. Recuperado de http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/lmc/article/view/463/434
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).
Contudo, da mesma forma que propiciam formas facilitadas de comunicação, informação e divulgação do conhecimento, as TIC criaram um novo espaço para a manifestação de atitudes preconceituosas e violentas - o espaço virtual - dando lugar ao cyberbullying (Buelga, Cava, & Musitu, 2010Buelga, S.; Cava, M.; Musitu, G. (2010). Cyberbullying: Victimización entre adolescentes a través del teléfono móvil y de Internet. Psicothema, 22, 784-789. Recuperado de http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=72715515039
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=72...
; Kowalski & Limber, 2007Kowalski, R.; Limber, S. (2007). Electronic bullying among middle school students. Journal of Adolescent Health, 41, S22-S30. doi: 10.1016/j.jadohealth.2007.08.017
https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.200...
; Maidel, 2009Maidel, S. (2009). Cyberbullying: Um novo risco advindo das tecnologias digitais. Revista Electrónica de Investigación y Docencia (REID), 2. Recuperado de http://revistaselectronicas.ujaen.es/index.php/reid/article/view/1158
http://revistaselectronicas.ujaen.es/ind...
; Matos et al., 2011Matos, A.; Pessoa, T.; Amado, J.; Jäger, T. (2011). Agir contra o cyberbullying: Manual de formação. Literacia, Media e Cidadania, 183-196. Recuperado de http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/lmc/article/view/463/434
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; Wanzinack & Reis, 2015Wanzinack, C.; Reis, C. (2015). Cyberbullying e violência na rede: Relações entre poder e desenvolvimento no litoral do Paraná. In XXXVIII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Rio de Janeiro, Brasil. Recuperado dehttp://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-2414-1.pdf
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). O cyberbullying pode assim ser definido como um comportamento intencional, agressivo e repetido, através da utilização de variados dispositivos eletrónicos que permitem estabelecer contacto com outrém, e em que existe uma relação desigual de poder agravada pelo facto de muitas vezes a vítima não saber quem a está a agredir/violentar (Belsey, 2005Belsey, B. (2005). Cyberbullying: An emerging threat to the “always on” generation. Recuperado de http://www.inukshuk.com/pdf/Cyberbullying_Presentation_Description.pdf
http://www.inukshuk.com/pdf/Cyberbullyin...
; Olweus, 1993Olweus, D. (1993). Bullying at school. Oxford & Cambridge: Blackwell., 1994Olweus, D. (1994). Bullying at school: basic facts and effects of a school based intervention program. Journal of Child Psychology and Psychiatry and Allied Disciplines, 35(7), 1171-1190. doi: 10.1111/j.1469-7610.1994.tb01229.x
https://doi.org/10.1111/j.1469-7610.1994...
; Rodrigues, Grave, Oliveira, & Nogueira, 2015Rodrigues, L.; Grave, R.; Oliveira, J.; Nogueira, C. (2015). Estudiosobre bullying homofóbico en Portugal con recurso al Analisis de Correspondencias Multiples (ACM). Revista Latinoamericana de Psicología, 48, 191-201. doi: 10.1016/j.rlp.2016.04.001
https://doi.org/10.1016/j.rlp.2016.04.00...
; Smith, Mahdavi, Carvalho, & Tippet, 2006Smith, P. K.; Mahdavi, J.; Carvalho, M.; Tippett, N. (2006). An investigation into cyberbullying, its forms, awareness and impact, and the relationship between age and gender in cyberbullying. Research Brief No. RBX03-06. London: DfES. Recuperado dehttp://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20130323025443/https://www.education.gov.uk/publications/eOrderingDownload/RBX03-06.pdf
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). Concretamente, o fenómeno traduz-se pela publicação ou envio de material prejudicial, ou por outros tipos de agressão, utilizando a Internet ou outras tecnologias digitais. Tal prática é facilitada pela diversidade de meios proporcionados pelas TIC: e-mails, grupos de discussão, mensagens de texto/digitais (Willard, 2005Willard, N. (2005). Cyberbullying and Cyberthreats. OSDSF Nacional Conference. Washington Recuperado de http://bcloud.marinschools.org/SafeSchools/Documents/BP-CyberBandT.pdf.
http://bcloud.marinschools.org/SafeSchoo...
), blogs, salas de chats, mensagens instantâneas (Pescitelli, 2013Pescitelli, A. (2013). My Space or yours? Homophobic and transphobic bullying in cyberspace, Tese de Doutoramento. Simon Fraser University, Canadá. Recuperado de http://summit.sfu.ca/item/13577
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; Willard, 2005Willard, N. (2005). Cyberbullying and Cyberthreats. OSDSF Nacional Conference. Washington Recuperado de http://bcloud.marinschools.org/SafeSchools/Documents/BP-CyberBandT.pdf.
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), redes sociais, sites de crítica de cinema, sites de partilha de vídeos ou jogos online (Pescitelli, 2013Pescitelli, A. (2013). My Space or yours? Homophobic and transphobic bullying in cyberspace, Tese de Doutoramento. Simon Fraser University, Canadá. Recuperado de http://summit.sfu.ca/item/13577
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). Independentemente do tipo de canal utilizado para a prática das agressões, todas elas têm um grande impacto psicológico, emocional, e mesmo físico, não só nos indivíduos envolvidos como nas suas famílias (Matos et al., 2011Matos, A.; Pessoa, T.; Amado, J.; Jäger, T. (2011). Agir contra o cyberbullying: Manual de formação. Literacia, Media e Cidadania, 183-196. Recuperado de http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/lmc/article/view/463/434
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).
O cyberbullying apresenta alguns aspetos característicos como a possibilidade de anonimato do/a agressor/a, através da utilização de pseudónimos ou nomes falsos, aumentando assim o desequilíbrio de poder (Buelga & Pons, 2012Buelga, S.; Pons, J. (2012). Agresiones entre adolescentes a través del teléfono móvil y de Internet. Psychosocial Intervention, 21, 91-101. doi: 10.5093/in2012v21n1a2
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; Pereira, 2015Pereira, F. (2015). Ciberassédio na adolescência: Prevalência(s), reações à vitimação e mediação parental. Tese de Doutoramento em Psicologia Aplicada. Universidade do Minho, Braga.). Proporciona ainda a possibilidade de exceder as barreiras de tempo e espaço, dificultando a escapatória da vítima e aumentando a sua perceção de vulnerabilidade (Kowalski & Limber, 2007Kowalski, R.; Limber, S. (2007). Electronic bullying among middle school students. Journal of Adolescent Health, 41, S22-S30. doi: 10.1016/j.jadohealth.2007.08.017
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; Maidel, 2009Maidel, S. (2009). Cyberbullying: Um novo risco advindo das tecnologias digitais. Revista Electrónica de Investigación y Docencia (REID), 2. Recuperado de http://revistaselectronicas.ujaen.es/index.php/reid/article/view/1158
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; Matos et al., 2011Matos, A.; Pessoa, T.; Amado, J.; Jäger, T. (2011). Agir contra o cyberbullying: Manual de formação. Literacia, Media e Cidadania, 183-196. Recuperado de http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/lmc/article/view/463/434
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).
Podendo o cyberbullying assumir diversas formas, Willard (2005Willard, N. (2005). Cyberbullying and Cyberthreats. OSDSF Nacional Conference. Washington Recuperado de http://bcloud.marinschools.org/SafeSchools/Documents/BP-CyberBandT.pdf.
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) propôs seis categorias comportamentais: o Assédio, que consiste no envio repetido de mensagens ofensivas, o Cyberstalking (ou Perseguição), baseado no envio repetido de ameaças ou mensagens altamente intimidantes, a Difamação, que consiste no envio ou publicação de declarações falsas ou cruéis, a Personificação (ou Usurpação da Identidade) referente ao roubo de identidade da vítima com o intuito de denegrir a imagem da mesma, a Violação da Intimidade, que ocorre quando o/a agressor/a publica ou envia a outros material que contém informação privada sobre a vítima, e a Exclusão intencional da vítima de um grupo online, ostracizando-a.
Em Portugal, Coelho, Sousa, Marchante, Brás e Romão (2016Coelho, V. A.; Sousa, V.; Marchante, M.; Brás, P.; Romão, A. (2016). Bullying and cyberbullying in Portugal: Validation of a questionnaire and analysis of prevalence. School Psychology International, 37, 223-239. doi: 10.1177/0143034315626609
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) estudaram esse fenómeno junto de 1.039 alunos/as do 6º ao 8º ano no distrito de Lisboa, verificando que 4% dos meninos e 7% das meninas registaram terem sido vítimas de mensagens ameaçadoras pela Internet ou pelo telemóvel pelo menos uma vez, no ano lectivo transacto. Note-se que estas percentagens estão em contradição com as de estudos feitos noutros países onde foram encontradas maiores percentagens de meninos do que meninas, quer entre as vítimas, quer entre os/as agressores/as (p.e., Bosworth, Espelage, & Simon, 1999Bosworth, K.; Espelage, D. L.; Simon, T. R. (1999). Factors associated with bullying behavior in middle school students. The Journal of Early Adolescence, 19, 341 - 362. doi: 10.1177/0272431699019003003
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; Crick & Bigbee, 1998Crick, N. R.; Bigbee, M. A. (1998). Relational and overt forms of peer victimization: A multiinformant approach. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 66, 337-347. doi: 10.1037/0022-006X.66.2.337
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; Pellegrini & Long, 2002Pellegrini, A. D.; Long, J. (2002). A longitudinal study of bullying, dominance, and victimization during the transition from primary to secondary school. British Journal of Developmental Psychology, 20, 259-280. doi: 10.1348/026151002166442
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).
Também em Portugal, procurando investigar os motivos subjacentes ao cyberbullying entre os adolescentes, Caetano e colaboradores/as (2017Caetano, A. P.; Amado, J.; Martins, M. J. D.; Simão, A. M. V.; Freire, I.; Pessôa, M. T. R. (2017). Cyberbullying: motives of aggression from the perspective of Young Portuguese. Educação & Sociedade, 38, 1017-1034. doi: 10.1590/ES0101-73302017139852
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) verificaram que a maioria dos agressores invocou motivos hedonísticos (brincadeira ou fuga ao tédio), não gostar do alvo, ou vingança pessoal. Já a maioria das vítimas atribuía os mesmos atos à imaturidade, ciúmes, ou necessidade de se sentir superior dos agressores.
Homofobia na Adolescência. A discriminação de que indivíduos com orientação sexual e identidade de género não normativa (LGBT - lésbicas, gays, bissexuais e transgénero) são alvo, por vezes, referida globalmente como “homofobia”, assume geralmente a forma de violência simbólica contra pessoas não heterossexuais e/ou transgénero, relacionada com a linguagem, embora possa manifestar-se também pela agressão física (Dantas & Neto, 2015Dantas, M.; N Neto, A. (2015). O discurso homofóbico nas redes sociais da internet: Uma análise no Facebook “Rio sem Homofobia-Grupo Público”. Cadernos do Tempo Presente, 19. Recuperado dehttp://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/DiscursoHomofobico.pdf
http://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/...
). Basicamente, essas pessoas são consideradas como seres desviantes e colocadas numa posição de inferioridade por não se apresentarem em conformidade com a heteronormatividade e/ou das normas de género socialmente estabelecidas e culturalmente predominantes (Dantas & Neto, 2015Dantas, M.; N Neto, A. (2015). O discurso homofóbico nas redes sociais da internet: Uma análise no Facebook “Rio sem Homofobia-Grupo Público”. Cadernos do Tempo Presente, 19. Recuperado dehttp://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/DiscursoHomofobico.pdf
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).
Como vários/as autores/as notaram, há uma ligação estreita entre a homofobia e o heterossexismo enquanto crença na superioridade da heterossexualidade relativamente a todas as outras formas de sexualidade (p.e., Dantas & Neto, 2015Dantas, M.; N Neto, A. (2015). O discurso homofóbico nas redes sociais da internet: Uma análise no Facebook “Rio sem Homofobia-Grupo Público”. Cadernos do Tempo Presente, 19. Recuperado dehttp://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/DiscursoHomofobico.pdf
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; Epstein, 1997Epstein, D. (1997). Boyz'Own Stories: Masculinities and sexualities in schools [1]. Gender and Education, 9, 105-116. doi: 10.1080/09540259721484
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). A atitude hostil perante pessoas identificadas como lésbicas,gays ou bissexuais (LGB) fiscaliza a expressão das posições e das relações entre sexos/géneros, reforçando as versões tradicionais de masculinidade hegemónica e feminilidade (Epstein, 1997Epstein, D. (1997). Boyz'Own Stories: Masculinities and sexualities in schools [1]. Gender and Education, 9, 105-116. doi: 10.1080/09540259721484
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). Assim, a homofobia pode constar de um ódio generalizado dirigido não só às pessoas LGB mas também àquelas que pelo seu comportamento podem ameaçar a validade dos padrões tradicionais de género ou sobre aqueles/as percebidos/as como tal (Dantas & Neto, 2015Dantas, M.; N Neto, A. (2015). O discurso homofóbico nas redes sociais da internet: Uma análise no Facebook “Rio sem Homofobia-Grupo Público”. Cadernos do Tempo Presente, 19. Recuperado dehttp://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/DiscursoHomofobico.pdf
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). De facto, o bullying homofóbico é também exercido sobre pessoas que se identificam como heterossexuais ou que não se identificaram com nenhuma orientação sexual (Rodrigues et al., 2015Rodrigues, L.; Grave, R.; Oliveira, J.; Nogueira, C. (2015). Estudiosobre bullying homofóbico en Portugal con recurso al Analisis de Correspondencias Multiples (ACM). Revista Latinoamericana de Psicología, 48, 191-201. doi: 10.1016/j.rlp.2016.04.001
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).
Todos os indivíduos que resistem à conformidade com as identidades de género convencionais sofrem represálias, sendo estas, geralmente, mais árduas para o sexo masculino (Epstein, 1997Epstein, D. (1997). Boyz'Own Stories: Masculinities and sexualities in schools [1]. Gender and Education, 9, 105-116. doi: 10.1080/09540259721484
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). Um exemplo dessas é o genderbashing: uma prática discriminatória comum, baseada em ataques ou insultos em função do género ou expressão de género (Costa, Pereira, Oliveira, & Nogueira, 2010Oliveira, J. M.; Pereira, M.; Costa, C. G.; Nogueira, C. (2010). Pessoas LGBT: Identidades e discriminação. In Nogueira,C.; Oliveira, J. M. (Eds.), Estudo sobre a discriminação em função da orientação sexual e da identidade de género (pp.149-210). Lisboa: CIG.). De facto, o que motiva o bullying homofóbico é a homofobia, mesmo que esta seja exercida contra pessoas que não se identificam como LGBT, mas que são percebidas como rompendo com a heteronorma (Rodrigues et al., 2015Rodrigues, L.; Grave, R.; Oliveira, J.; Nogueira, C. (2015). Estudiosobre bullying homofóbico en Portugal con recurso al Analisis de Correspondencias Multiples (ACM). Revista Latinoamericana de Psicología, 48, 191-201. doi: 10.1016/j.rlp.2016.04.001
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).
Segundo Epstein (1997Epstein, D. (1997). Boyz'Own Stories: Masculinities and sexualities in schools [1]. Gender and Education, 9, 105-116. doi: 10.1080/09540259721484
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), frequentemente, a homofobia direcionada a rapazes que não se enquadram no papel masculino heteronormativo pretende focar a semelhança verificada relativamente ao papel de género feminino. Dito de outra forma, enquanto a assimilação por parte de uma rapariga de características tipicamente masculinas não provoca normalmente reações negativas evidentes, a exibição de características tradicionalmente femininas por um rapaz é, geralmente, vista como mais ofensiva dos estatutos de género. Desta forma, podemos concluir que a homofobia é utilizada de forma a controlar não só a sexualidade, como também a posições relativas dos dois géneros na sociedade.
O contexto escolar é um dos locais onde essa discriminação é mais observada (António, Pinto, Pereira, Farcas, & Moleiro, 2012António, R.; Pinto, T.; Pereira, C.; Farcas, D.; Moleiro, C. (2012). Bullying homofóbico no contexto escolar em Portugal. Psicologia, 26, 17-32. Recuperado de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492012000100002
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?scri...
). Para muitos/as jovens LG, ou que não se apresentam em conformidade com as normas de género, a rotina diária escolar está repleta de episódios de assédio e vitimação (António et al., 2012; Rodrigues et al., 2015Rodrigues, L.; Grave, R.; Oliveira, J.; Nogueira, C. (2015). Estudiosobre bullying homofóbico en Portugal con recurso al Analisis de Correspondencias Multiples (ACM). Revista Latinoamericana de Psicología, 48, 191-201. doi: 10.1016/j.rlp.2016.04.001
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).
Cyberbullying e Homofobia. O ciberespaço não é um contexto isolado, devendo ser encarada como uma expansão do real (Lima, 2009Lima, A. S. (2009). Da cultura da mídia à cibercultura: as representações do eu nas tramas do ciberespaço. In III
Encontro de Pesquisa em Comunicação e Cidadania. Goiânia, Brasil.). Assim, a vivência das diferentes identidades sexuais verifica-se também nos espaços virtuais. Os espaços de pertença online têm-se tornado cada vez mais importantes como meios de atenuação do estigma social vivido pelas pessoas LGBT e como espaços de apoio mútuo, possibilitando assim uma vivência menos conflituosa da sua orientação sexual (Blumenfeld & Cooper, 2010Blumenfeld, W.; Cooper, R. (2010). LGBT and allied youth responses to cyberbullying: Policy implications. The International Journal of Critical Pedagogy, 3(1), 112.; Dantas & Neto, 2015Dantas, M.; N Neto, A. (2015). O discurso homofóbico nas redes sociais da internet: Uma análise no Facebook “Rio sem Homofobia-Grupo Público”. Cadernos do Tempo Presente, 19. Recuperado dehttp://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/DiscursoHomofobico.pdf
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). Contudo, embora possam assumir um importante papel na atenuação do estigma contra as pessoas LGBT, possibilitando uma vivência menos conflituosa da sua orientação sexual através de sites e forums específicos, as novas tecnologias de informação permitiram também o deslocamento dos discursos e práticas homofóbicas para o espaço virtual, de forma cada vez mais regular e agressiva (Wanzinack & Reis, 2015Wanzinack, C.; Reis, C. (2015). Cyberbullying e violência na rede: Relações entre poder e desenvolvimento no litoral do Paraná. In XXXVIII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Rio de Janeiro, Brasil. Recuperado dehttp://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-2414-1.pdf
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). Assim, a homofobia marca presença na comunidade virtual, que se assume como uma das instâncias de controlo da aparência corporal e da expressão da sexualidade, tomando proporções cada vez mais agressivas e constantes nas redes sociais (Dantas & Neto, 2015Dantas, M.; N Neto, A. (2015). O discurso homofóbico nas redes sociais da internet: Uma análise no Facebook “Rio sem Homofobia-Grupo Público”. Cadernos do Tempo Presente, 19. Recuperado dehttp://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/DiscursoHomofobico.pdf
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; Wanzinack & Reis, 2015Wanzinack, C.; Reis, C. (2015). Cyberbullying e violência na rede: Relações entre poder e desenvolvimento no litoral do Paraná. In XXXVIII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Rio de Janeiro, Brasil. Recuperado dehttp://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-2414-1.pdf
http://portalintercom.org.br/anais/nacio...
).
Por exemplo, Varjas, Meyers, Kiperman e Howard (2012)Varjas, K.; Meyers, J.; Kiperman, S.; Howard, A. (2013). Technology hurts? Lesbian, gay, and bisexual youth perspectives of technology and cyberbullying. Journal of School Violence, 12, 27-44.doi: 10.1080/15388220.2012.731665
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verificaram que 61% dos/as participantes do seu estudo apontaram a orientação sexual como um motivo frequente da ciber-vitimização.Das suas observações, Wiederhold (2014Wiederhold, B. (2014). Cyberbullying and LGBTQ youth: A deadly combination. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, 17, 569-570. doi: 10.1089/cyber.2014.1521
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) concluiu que os/as jovens que se identificam como LG ou que questionam a sua identidade sexual são, talvez, o grupo mais afetado pelo cyberbullying. Assim, além de vítimas de agressão direta (vitimação primária; Pescitelli, 2013Pescitelli, A. (2013). My Space or yours? Homophobic and transphobic bullying in cyberspace, Tese de Doutoramento. Simon Fraser University, Canadá. Recuperado de http://summit.sfu.ca/item/13577
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), estas pessoas são constantemente expostas a comunicação de teor homofóbico, dirigida a terceiros (vitimação secundária).
De forma a analisar a relação entre o bullying face-a-face e a comunicação homofóbica, Poteat e Espelage (2005Poteat, V.; Espelage, D. (2005). Exploring the relation between bullying and homophobic verbal content: The Homophobic Content Agent Target (HCAT) Scale. Violence and Victims, 20, 141-150. doi: 10.1891/vivi.2005.20.5.513
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) realizaram um estudo com cerca de 200 alunos/as do 8º ano de uma escola dos EUA. Os/as autores/as constataram uma prevalência bastante elevada no uso de termos homofóbicos na sua amostra. Verificaram que 43% dos meninos e 29% das meninas registaram ter recebido pelo menos uma comunicação homofóbica de um/a amigo/a na semana anterior; quando se referiam a emissores/as desconhecidos/as, as percentagens desciam para 26% e 21%, respectivamente. As frequências relativas à emissão de comunicação homofóbica foram idênticas às da recepção, ou seja, a troca de insultos de teor homofóbico entre amigos/as foi registada por quase metade dos inquiridos do sexo masculino e por cerca de 1/3 do sexo feminino. As correlações com as medidas de bullying foram significativas, entre r =.58 e r =.68, incluindo meninos emeninas, no papel do/a agressor/a ou de vítima, confirmando a hipótese de que o bullying face-a-face comporta frequentemente uma considerável componente homofóbica.
Os/as jovens LG, ou percepcionados/as como tal, registam um número superior de problemas de saúde (em especial, de saúde mental) associados ao bullying homofóbico (Russell, Ryan, Toomey, Diaz, & Sanchez, 2011Russell, S.; Ryan, C.; Toomey, R.; Diaz, R.; Sanchez, J. (2011). Lesbian, gay, bisexual, and transgender adolescent school victimization: Implications for young adult health and adjustment. Journal of School Health, 81, 223-230. doi: 10.1111/j.1746-1561.2011.00583.x
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), tais como, dor emocional e psicológica, baixa autoestima, altos níveis de ansiedade (Hinduja & Patchin, 2011Hinduja, S.; Patchin, J. W. (2011). Cyberbullying and Sexual Orientation. Cyberbullying Research Center. Recuperado de http://www.cyberbullying.us
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), isolamento, tristeza, solidão (António et al., 2012António, R.; Pinto, T.; Pereira, C.; Farcas, D.; Moleiro, C. (2012). Bullying homofóbico no contexto escolar em Portugal. Psicologia, 26, 17-32. Recuperado de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492012000100002
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?scri...
), comportamentos sexuais de risco, depressão, ideação suicida (Oliveira, Pereira, Costa, & Nogueira, 2010Costa, C.; Pereira, M.; Oliveira, J.; Nogueira, C. (2010). Imagens sociais das pessoas LGBT. Estudo sobre a discriminação em função da orientação sexual e da identidade de gênero. Lisboa: Comissão para a Igualdade de Género.; Russell et al., 2011Russell, S.; Ryan, C.; Toomey, R.; Diaz, R.; Sanchez, J. (2011). Lesbian, gay, bisexual, and transgender adolescent school victimization: Implications for young adult health and adjustment. Journal of School Health, 81, 223-230. doi: 10.1111/j.1746-1561.2011.00583.x
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) ou mesmo tentativa de suicídio (Walker, 2015Walker, C. (2015). An analysis of cyberbullying among sexual minority university students.Journal of Higher Education Theory and Practice, 15, 44-50. Recuperado de http://www.na-businesspress.com/JHETP/WalkerC_Web15_7_.pdf
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), baixa participação e rendimento escolar (Hinduja & Patchin, 2011Hinduja, S.; Patchin, J. W. (2011). Cyberbullying and Sexual Orientation. Cyberbullying Research Center. Recuperado de http://www.cyberbullying.us
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; Walker, 2015Walker, C. (2015). An analysis of cyberbullying among sexual minority university students.Journal of Higher Education Theory and Practice, 15, 44-50. Recuperado de http://www.na-businesspress.com/JHETP/WalkerC_Web15_7_.pdf
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). Wanizack e Reis (2015)Walker, C. (2015). An analysis of cyberbullying among sexual minority university students.Journal of Higher Education Theory and Practice, 15, 44-50. Recuperado de http://www.na-businesspress.com/JHETP/WalkerC_Web15_7_.pdf
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, num estudo com cerca de 1000 estudantes do 5º ao 9º ano, revelaram que cerca de 5% dos/as participantes reportaram terem sofrido consequências negativas derivadas de agressões sofridas nos meios virtuais, na maioria de vezes, relacionadas com a orientação sexual não heterossexual.
Estudo Empírico
Objectivos da Investigação e Hipóteses
A presente investigação pretende avaliar o papel das atitudes homofóbicas e, concretamente, da comunicação de teor homofóbico (CTH) no cyberbullying. Para tal, analisam-se algumas das suas características, nomeadamente, prevalência, tipos de emissores/as e de receptores/as, as TIC preferidas, e os níveis de impacto percebido nas diversas áreas de vida dos/as intervenientes. Quisemos ainda analisar possíveis diferenças entre sexos nas frequências desses comportamentos, dado tratar-se da variável sociodemográfica mais relevante na ocorrência deste fenómeno.
Em termos de hipóteses gerais do estudo, prevemos que, consistentemente com os resultados de Poteat e Espelage (2005Poteat, V.; Espelage, D. (2005). Exploring the relation between bullying and homophobic verbal content: The Homophobic Content Agent Target (HCAT) Scale. Violence and Victims, 20, 141-150. doi: 10.1891/vivi.2005.20.5.513
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) obtidos com adolescentes americanos/as, exista uma relação significativa entre o cyberbullying e a comunicação de teor homofóbico (H1). Tendo em conta a literatura revista acima, prevemos que os meninos sejam vítimas e agressores mais frequentes do que as meninas, quer dos comportamentos associados ao cyberbullying (H2; Bosworth, Espelage, & Simon, 1999Bosworth, K.; Espelage, D. L.; Simon, T. R. (1999). Factors associated with bullying behavior in middle school students. The Journal of Early Adolescence, 19, 341 - 362. doi: 10.1177/0272431699019003003
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; Crick & Bigbee, 1998Crick, N. R.; Bigbee, M. A. (1998). Relational and overt forms of peer victimization: A multiinformant approach. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 66, 337-347. doi: 10.1037/0022-006X.66.2.337
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; Pellegrini & Long, 2002Pellegrini, A. D.; Long, J. (2002). A longitudinal study of bullying, dominance, and victimization during the transition from primary to secondary school. British Journal of Developmental Psychology, 20, 259-280. doi: 10.1348/026151002166442
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), quer da comunicação homofóbica (H3; p.e., Epstein, 2001Epstein, D. (1997). Boyz'Own Stories: Masculinities and sexualities in schools [1]. Gender and Education, 9, 105-116. doi: 10.1080/09540259721484
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). Também segundo a literatura revista (p. e., Poteat & Espelage, 2005Poteat, V.; Espelage, D. (2005). Exploring the relation between bullying and homophobic verbal content: The Homophobic Content Agent Target (HCAT) Scale. Violence and Victims, 20, 141-150. doi: 10.1891/vivi.2005.20.5.513
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; Rodrigues et al., 2015Rodrigues, L.; Grave, R.; Oliveira, J.; Nogueira, C. (2015). Estudiosobre bullying homofóbico en Portugal con recurso al Analisis de Correspondencias Multiples (ACM). Revista Latinoamericana de Psicología, 48, 191-201. doi: 10.1016/j.rlp.2016.04.001
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), a comunicação homofóbica é dirigida não só a pessoas percepcionadas como LG, mas também àquelas que não são percecionadas como tal. Assim, a nossa hipótese é que não haverá diferenças de ocorrência na comunicação homofóbica dirigidaaos dois tipos de receptores (H4). Prevemos ainda que a recepção de comunicação homofóbica tenha um impacto significativo na vida dos sujeitos, nomeadamente nas esferas social (passando pelo isolamento social), psicológica (por exemplo, níveis superiores de depressão e ansiedade), escolar (tais como, ter receio de ir à escola ou piorar os resultados académicos), e familiar e que os/as emissores/as sofram também consequências nestas esferas, sendo este impacto, no entanto, menor que o das vítimas (H5; p. e., Wanzinack & Reis, 2015Wanzinack, C.; Reis, C. (2015). Cyberbullying e violência na rede: Relações entre poder e desenvolvimento no litoral do Paraná. In XXXVIII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Rio de Janeiro, Brasil. Recuperado dehttp://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-2414-1.pdf
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).
Método
Participantes
A amostra final deste estudo foi constituída por 688 estudantes da Universidade do Porto sendo os cursos mais representados, Psicologia (30% dos respondentes), Medicina (13%), Letras (13%), Ciências (11%), e Economia (9%) - os restantes nove cursos apresentam frequências abaixo de 5%. A idade média da amostra foi de 22 anos, DP = 5, sendo que 26% dos respondentes frequentavam o 1º ano do respectivo curso. Embora o questionário tenha sido enviado indiscriminadamente para todos/as os/as estudantes da Universidade do Porto (ver procedimento abaixo), houve muito mais adesão por parte de estudantes do sexo feminino, 522, do que do sexo masculino, 166 (apenas 24% da amostra total). Como proposta explicativa desta diferença podemos referir o facto de haver maior percentagem de mulheres do que de homens a frequentar o ensino superior em Portugal. Além disso, fazendo uma análise por sexo dos cursos mais representativos do estudo, podemos referir que também são cursos mais frequentados por mulheres (Pordata, 2017Pordata (2017). Alunos matriculados no ensino superior: total e por sexo. Recuperado de https://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+no+ensino+superior+total+e+por+sexo-1048
https://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+m...
).
Instrumentos utilizados
O questionário utilizado começava por itens relativos aos dados sociodemográficos dos/as participantesequestões destinadas a medir as frequências de vitimação e perpetração de comportamentos de cyberbullying, as frequências de recepção e emissão de comunicação homofóbica, entre outros.
Por falta de um instrumento validado para a população portuguesa que avaliasse diretamente o cyberbullying, elaborámos sete questões retrospetivas que mediam a frequência de vitimação/ perpetração de comportamentos característicos do cyberbullying a partir da classificação de Willard (2005Willard, N. (2005). Cyberbullying and Cyberthreats. OSDSF Nacional Conference. Washington Recuperado de http://bcloud.marinschools.org/SafeSchools/Documents/BP-CyberBandT.pdf.
http://bcloud.marinschools.org/SafeSchoo...
). Era questionado ao/à respondente que registasse a frequência com que tinha passado, durante a infância e/ou adolescência, por experiências como, enviar mensagens insultuosas, ordinárias ou ameaçadoras, espalhar um boato sobre a pessoa, usar dados ou fotografias da vítima para se fazer passar pela mesma, publicar um segredo da vítima ou uma fotografia intíma. Esses atos correspondem de forma geral, aos tipos de Willard (2005) de Assédio, Perseguição, Difamação, Usurpação da identidade, e Violação da Intimidade, respectivamente. Os itens eram respondidos em escalas ordinais de “Nunca”, “Apenas uma vez”, “Ocasionalmente” e “Frequentemente”. Nos itens relativos à vitimação, era questionada a frequência com que tinha sofrido essas agressões e nos itens relativos à perpetração, a frequência com que as tinha realizado.
A análise factorial dos 14 itens (ACP com rotação Varimax; KMO = .81) reteve três factores explicando 48% da variância total, confirmou que os itens de vitimação (20% de variância explicada) se distinguiam dos de perpetração (17%) com excepção dos itens “Divulgar segredo”, “Usurpação de identidade” e “Divulgar fotografia íntima” na perspectiva da vítima, que saturaram num 3º factor (11%). A agregação destes três itens num factor separado pode ter sido devida à sua menor frequência relativamente aos outros itens de vitimação, como pode ser observado naTabela 1. Tanto os quatro itens do primeiro factor (de vitimação) como os sete do segundo (de perpetração), apresentaram valores de consistência interna aceitáveis, Alfa de Cronbach = .76 e .71, respectivamente, tendo por isso procedido à sua agregação nas respectivas sub-escalas.
Para as questões sobre a comunicação de teor homofóbico, utilizámos a Homophobic Content Agent Target Scale (Poteat & Espelage, 2005Poteat, V.; Espelage, D. (2005). Exploring the relation between bullying and homophobic verbal content: The Homophobic Content Agent Target (HCAT) Scale. Violence and Victims, 20, 141-150. doi: 10.1891/vivi.2005.20.5.513
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), tendo sido previamente solicitada autorização aos/às autores/as para a sua utilização e adaptação. A escala está dividida em 2 subescalas, de perpetrador (Agent) e de vítima (Target), com 5 itens cada, nos quais se pede ao/à participante que registe se, nas suas interações sociais da semana anterior, usou, ou foi alvo de expressões, como, “fufa”, “bicha/bichona”, “sapatona”, ou “paneleiro”, relativamente aum/a amigo/a, alguém que não conhecia muito bem, etc. (ver itens na Tabela 1). A Homophobic Content Agent Target Scale foi adaptada ao nosso estudo, alterando-se o foco para a infância e/ou adolescência e as opções de resposta para “Nunca”, “Uma única vez”, “Ocasionalmente” e “Frequentemente”.
Tal como no estudo original, realizámos uma análise factorial aos itens (ACP com rotação Varimax; KMO = .78), tendo obtido três factores explicando 73% da variância total. O primeiro factor agregava os itens relativos à perspectiva da vítima, excepto Amigo (31% da variância), o segundo factor agregava os itens na perspectiva do agressor, excepto Amigo e Não-LG, (23%), e o terceiro factor (19%) agregava os restantes itens. A agregação dos itens relativos a emissor/receptor Amigo, poderá ter sido devida à sua frequência, muito mais elevada que as dos restantes emissores/receptores. A consistência interna de ambas as sub-escalas (relativas aos dois primeiros factores), Alfas de Cronbach = .89 e .79, respectivamente, foi idêntica à obtida nas sub-escalas originais, ambas com Alfas de Cronbach = .85 (cf. Poteat & Espelage, 2005Poteat, V.; Espelage, D. (2005). Exploring the relation between bullying and homophobic verbal content: The Homophobic Content Agent Target (HCAT) Scale. Violence and Victims, 20, 141-150. doi: 10.1891/vivi.2005.20.5.513
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). De salientar que nestas sub-escalas não foram agregadas as frequências relativas a Amigo dada não só a sua saturação noutro factor como, presumivelmente, o uso de epítetos homofóbicos não compreende, nesse caso, a agressividade inerente à comunicação com os restantes emissores/receptores.
Um outro grupo de questões media a frequência de utilização de mensagens de texto, redes sociais, chamadas, chats e e-mails, para perpetrar cyberbullying homofóbico. As escalas de respostas eram também “Nunca”, “Apenas uma vez”, “Ocasionalmente” e “Frequentemente”. A ACP realizada (KMO = .85) reteve três factores explicando 73% da variância. No primeiro factor (32%) saturaram os itens relativos à vitimação, excepto Email, e no segundo, os items relativos à perpetração excepto Email (28%); o terceiro factor (13%) agregou os dois items Email. A consistência interna de ambas as sub-escalas (relativas aos dois primeiros factores), como vítima e como perpetrador, foi boa, Alfas de Cronbach = .90 e 85, respectivamente.
Finalmente, inserimos questões que mediam as percepções dos/as respondentes sobre o impacto do cyberbullying homofóbico sofrido ou perpetrado nas esferas familiar, social, escolar e psicológica do/a respondente, respondidas em escalas de “Não afetou”, “Afetou um pouco”, “Afetou muito” e “Afetou muitíssimo”. A ACP realizada (KMO = .78) reteve dois factores explicando 75% da variância e a rotação Varimax subsequente distinguiu rigorosamente os itens relativos à vitimação (38%) dos itens relativos à perpetração (37%). A consistência interna das duas sub-escalas(relativas aos dois factores obtidos) foi excelente, Alfas de Cronbach = .89 e .90, respectivamente, para vítimação e perpetração.
Procedimento
De forma a recolher o maior número de dados possível, o questionário foi introduzido na plataforma online Google Forms e enviado aos/àsestudantes da Universidade do Porto, com recurso à plataforma de correio eletrónico webmail, com uma breve explicação do âmbito do questionário. O link foi ainda publicado na rede social Facebook, de forma a divulgar amplamente o questionário. Uma vez que o contexto da investigação foi online, e no que respeita aos procedimentos éticos de recolha de informação, o consentimento informado foi integrado no questionário, informando ainda que a participação no estudo era voluntária, não trazendo qualquer custo ou prejuízo para o/a participante, e que todas as respostas permaneceriam anónimas. Todos os esclarecimentos foram prestados através da plataforma webmail. Importa referir também que o plano do estudo foi previamente submetido à Comissão de Ética da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).
Resultados
Começámos por analisar as frequências relativas das respostas às questões uma a uma (Tabela 1). De seguida, analisámos as médias das escalas de Cyberbullying, da Homophobic Content Agent Target Scale, das TIC utilizadas para a comunicação homofóbica e dos danos percebidos, comparando-as entre meninos e meninas, para a vitimação e para a perpetração separadamente (utilizando t-tests). Finalmente, visando o objectivo principal do estudo, analisámos as relações entre as frequências de cyberbullying e da comunicação de teor homofóbico (utilizando o coeficiente de correlação de Pearson).
Análises Descritivas e Diferenças por Sexo
Vitimação e Perpetração de Cyberbullying. ATabela 1 exibe as respostas às questões das diversas escalas, nomeadamente, as percentagens de respondentes que registaram alguma ocorrência, ou seja, que marcaram, “Apenas uma vez”, “Ocasionalmente” ou “Frequentemente” (colunas da esquerda). Podemos verificar que quase metade dos/as inquiridos/as recebeu pelo menos uma mensagem insultuosa e uma mensagem ordinária, e que cerca de 1/3 foi, pelo menos uma vez, vítima de um boato difamador difundido através de um meio TIC. No total, isto é, tendo em conta todas as suas formas, 67% terá sido alvo de cyberbullying. Já o número de respondentes que registaram terem perpetrado agressões é bastante menor que os/as que registaram terem sofrido as mesmas: no total, apenas 34% confessam ter perpetrado, pelo menos uma vez, alguma forma de cyberbullying.
Dado que a presente investigação tinha como objectivo analisar o fenómeno do cyberbullying e este, por definição, envolve a repetição das agressões, interessava-nos identificar a percentagem de participantes que registaram ter sido vítimas ou perpetradores frequentes destes comportamentos, ou seja, que registaram “Frequentemente”. Estas frequências, absolutas (f) e relativas (%), podem ser observadas nas colunas da direita daTabela 1. A contagem dos casos que registaram “Frequentemente” em pelo menos uma das formas de cyberbullying, permitiu-nos constatar a existência de 44 vítimas graves de cyberbullying, correspondendo a 6% da amostra total, sendo 28 do sexo feminino e 16 do sexo masculino. As 28 meninas da subamostra correspondem a 6% da amostra total feminina, e os 16 meninos correspondem a 10% da amostra total masculina, confirmando assim a nossa hipótese (H2) que os meninos são mais vítimas que as meninas, (2 = 3.84, p =.05. Dada a menor frequência geral de comportamentos perpetrados, é compreensível que tenhamos identificado apenas 10 participantes que reportaram terem sido perpetradores/as frequentes de pelo menos um tipo de cyberbullying, correspondendo a 2% da amostra total. Destes 10 cyberbullies, 8 eram meninos e 2 eram meninas.
Frequências por níveis de ocorrência (pelo menos uma vez e frequentemente) e por papel na ocorrência (vítima ou agressor). Amostra total, n = 688.
Recepção e Emissão de Comunicação de Teor Homofóbico
Comunicação de Teor Homofóbico (CTH). Quanto à recepção/emissão de comunicação de teor homofóbico, a Tabela 1 mostra que os/as emissores mais comuns são amigos/as dos/as receptores/as(34%), e vice-versa (15%). No entanto, a CTH dirigida a desconhecidos/as ou alguém de quem não se gosta, ocorre também em cerca de ¼ da amostra, quer como vítimas, quer como agressores. No total, ou seja, tendo em conta todos os tipos de emissores/receptores, 45% da amostra foi receptor e 61% foi emissor de comunicação de teor homofóbico, sendo que 17% foi receptor frequente e 14% foi emissor frequente.
Ao contrário do que prevíamos (H4), a percentagem de respondentes que registou que o/a agressor/a pensava que ele/a era LG, é mais baixa do que a percentagem que registou que o/a agressor/a não pensava que ele fosse LG, Z de Wilcoxon = 3.98, p<.001. A comunicação de teor homofóbico parece assim ser tão vulgarizada na adolescência que não é requesitoque os alvos sejam percebidos como LG.
TIC utilizadas na CTH. Ainda na Tabela 1, constata-se que asTIC são amplamente utilizadas para transmissão deCTH, sendo os chats e as mensagens de texto (sms) os meios de eleição (17 e 15%) e o email o meio menos utilizado (3%). Observou-se também que cerca 21% da amostra total recebeu pelo menos uma mensagem de teor homofóbico através de uma TIC.
Impacto Percebido da Comunicação de Teor Homofóbico. Finalmente, analisámos o impacto percebido da comunicação de teor homofóbico em diversas esferas da vida dos sujeitos (Tabela 2). Verifica-se que, tal como previsto, o impacto negativo da CTH é maior nos receptores do que nos emissores. Cerca de 1/3 dos receptores de CTH registaram ter-se sentido afetado ao nível, social, escolar e psicológico, enquanto cerca de 1/5 dos emissores registaram ter sentido o mesmo. Confirma-se, assim, a nossa hipótese (H5) de que as experiências de recepção de CHT têm efeitos bastante mais adversos do que as experiências de emissão.
Percentagens das respostas a Impacto percebido da CTH por papel na ocorrência (como vítima e como agressor)
A Tabela 2 mostra ainda que 45 dos receptores de CTH (16% de todos os receptores), registou ter sido muito ou mutíssimo afetado psicologicamente pela CTH. Tal acontece apenas a 14 dos emissores (7% de todos os emissores). Existem também elevadas percentagens de receptores muito ou mutíssimo afetados ao nível escolar e social, 10 e 14% de todos os receptores. O impacto percebido é menor ao nível familiar, seja para emissores seja para receptores, o que sugere que estas ocorrências de CTH não são relatadas no seio da família. Mesmo assim, 6% dos receptores (18 respondentes) registam ter sido muito afectados ao nível familiar.
Diferenças por Sexo dos/as Respondentes. Para testar a significância estatísticas das diferenças por sexo dos/as respondentes, recorremos às escalas construídas para cada uma das variáveis em questão. Na Tabela 3 é possível observar as médias obtidas pelos/as respondentes dos dois sexos, assim como o teste às respectivas diferenças. Podemos constatar que os respondentes do sexo masculino apresentam frequências em média mais elevadas em todas as variáveis, excepto no cyberbullying em que os dois sexos apresentam frequências médias idênticas, invalidando, assim, a nossa hipótese H2 para a amostra total. A diferença maior é na recepção de CTH seguida da utilização de TICs para a CTH. Estes resultados confirmam a nossa hipótese H3.
Relação entre Cyberbullying e CTH
Para analisar as relações entre as variáveis, realizámos correlações de Pearson com as quatro escalas, Cyberbullying, CTH, Meios TIC e Impacto Percebido do CTH, para a Vitimação e para a Perpetração. Como se pode verificar na Tabela 4, no que diz respeito à vitimização (quadrante superior esquerdo), a frequência de cyberbullying está significativamente correlacionada com a frequência de recepção de CTH (r = .26, p < .01) e esta com a utilização de TICs para esse efeito (r = .51, p < .01). A intensidade do Impacto percebido também se encontra significativamente correlacionada quer com o cyberbullying quer com a CTH - quanto mais frequentes, maior o impacto percebido nas diversas esferas da vida do/a respondente. Na perpetração, a correlação entre a frequência de cyberbullying com a frequência de recepção de CTH é ainda mais elevada, r = .38, p < .01 (quadrante inferior direito). No seu conjunto, esses resultados confirmam a nossa hipótese principal (H1), ao indicar que o cyberbullying comporta uma forte componente homofóbica, sendo que os seus agentes utilizam frequentemente a linguagem homofóbica para agredir e assediar os seus alvos.
Discussão e Conclusão
Esta investigação propôs-se estudar e caracterizar, retrospetivamente, o cyberbullying na adolescência e as suas relações com a homofobia em estudantes universitários. Para tal, foram avaliadas as frequências de comportamentos associados, a relação dos/as participantes com os/as agressores/as e com os alvos desses comportamentos, os meios utilizados para realizar as agressões e o impacto percebido destas experiências em diversas esferas da vida dos/asrespondentes.
Como referido na metodologia, dado tratar-se da evocação deacontecimentos passados, foram utilizadas escalas de resposta com intervalos amplos à semelhança de estudos que mediram evocações de bullying em adultos/as (Goodboy, Martin, & Goldman, 2016Goodboy, A. K.; Martin, M.; Goldman, Z. (2016). Students’ experiences of bullying in high school and their adjustment and motivation during the first semester of college. Western Journal of Communication, 80, 60-78. doi: 10.1080/10570314.2015.1078494
https://doi.org/10.1080/10570314.2015.10...
; Schäfer et al., 2004Schäfer, M.; Korn, S.; Smith, P. K.; Hunter, S. C.; Mora-Merchán, J. A.; Singer, M. M.; Van der Meulen, K. (2004). Lonely in the crowd: Recollections of bullying. British Journal of Developmental Psychology, 22, 379-394. doi: 10.1348/0261510041552756
https://doi.org/10.1348/0261510041552756...
). Por essas razões, a comparação dos presentes resultados com os de estudos anteriores (obtidos junto dos/as próprios/as adolescentes, referindo-se a períodos temporalmente mais próximos, como na semana passada, e usando escalas mais pormenorizadas) só pode ser feita em termos aproximados. No entanto, o rigor das evocações dos acontecimentos, depois de decorridos vários anos, não pode nem deve ser posto em causa, especialmente quando se trata de acontecimentos traumáticos como as agressões entre pares, como já foi afirmado (ex., Brewin, Andrews, & Gotlib, 1993Brewin, C. R.; Andrews, B.; Gotlib, I. H. (1993). Psychopathology and early experience: a reappraisal of retrospective reports. Psychological Bulletin, 113, 82-98. doi: 10.1037/0033-2909.113.1.82
https://doi.org/10.1037/0033-2909.113.1....
; Rivers, 2001Rivers, I. (2001). Retrospective reports of school bullying: Stability of recall and its implications for research. British Journal of Developmental Psychology, 19, 129-141. doi: 10.1348/026151001166001
https://doi.org/10.1348/026151001166001...
; Rubin, 2002Rubin, D. C. (2002). Autobiographical memory across the lifespan. In Graf, P.; Ohta, N. (Eds.), Lifespan development of human memory (pp. 159-184). Cambridge, MA: MIT Press.).
Ao analisar as frequências do cyberbullying na nossa amostra, verificámos que 67% da nossa amostra registaram ter sido vítimas, pelo menos uma vez e que34% registaram ter perpetrado, pelo menos uma vez, alguma agressão deste tipo. Os elevados números da vitimação mostram que o cyberbullying marca a sua presença na vida da maioria dos/as adolescentes (cerca de 2/3 da amostra). Contudo, dado que um/a agressor/a pode ter várias vítimas, é ainda mais reveladora a percentagem de perpetradores/as assumidos/as (cerca de 1/3 da amostra). Obviamente, a percentagem de vítimas frequentes é, não obstante muito elevada em termos absolutos, muito menor - 6%. Esse é um número a ter em conta, para efeitos de futura intervenção nesse fenómeno, principalmente, quando se verifica que 16% deles/as assumiram ter sido muito afectado/a a nível psicológico, e 14% a nível social. A percentagem de perpetradores/as frequentes foi mais baixa - 2%. As percentagens de vítimas e perpetradores frequentes confirmam números anteriores sendo idênticas às obtidas por Coelho e colaboradores/as (2016Coelho, V. A.; Sousa, V.; Marchante, M.; Brás, P.; Romão, A. (2016). Bullying and cyberbullying in Portugal: Validation of a questionnaire and analysis of prevalence. School Psychology International, 37, 223-239. doi: 10.1177/0143034315626609
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), junto de jovens do ensino fundamental: 5%reportaram ter sido vítimas e 3% ter sido agressores/as durante o ano anterior ao inquérito.
A nossa hipótese de que os meninos seriam mais frequentemente vítimas de cyberbullying do que as meninas, não foi verificada na amostra total. Contudo, quando delimitámos as nossas análises às vítimas frequentes, as diferenças entre as percentagens de meninos e meninas incluídas, emergiram. Podemos por isso dizer que meninos e meninas foram alvo de ciberagressões ocasionais em igual medida, mas os meninos são mais propensos a serem vítimas frequentes do que as meninas. Os presentes resultados confirmaram ainda a hipótese relativa às diferenças entre sexos dos/as agressores/as, a qual previa uma maior frequência entre os meninos: de facto, os meninos reportaram mais frequentemente do que as meninas ter perpetrado alguma forma de cyberbullying.
Em suma, no que diz respeito às diferenças entre sexos, encontrámos um perfil de perpetrador/a predominantemente masculino e um perfil de vítima misto (embora, nos casos mais extremos, seja predominantemente masculino). Esses resultados são globalmente consistentes com a evidência empírica anterior. De facto, no que diz respeito aos/às agressores/as, o perfil masculino encontrado é consistente com os resultados do recente estudo sobre cyberbullying de Coelho e colaboradores/as (2016Coelho, V. A.; Sousa, V.; Marchante, M.; Brás, P.; Romão, A. (2016). Bullying and cyberbullying in Portugal: Validation of a questionnaire and analysis of prevalence. School Psychology International, 37, 223-239. doi: 10.1177/0143034315626609
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) realizado em Portugal. Os meninos apresentam níveis mais elevados de perpetração do que as meninas, em diversas outras regiões (ex., EUA e Itália: Poteat & Espelage, 2005Poteat, V.; Espelage, D. (2005). Exploring the relation between bullying and homophobic verbal content: The Homophobic Content Agent Target (HCAT) Scale. Violence and Victims, 20, 141-150. doi: 10.1891/vivi.2005.20.5.513
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; Prati, 2012Prati, G. (2012). Development and psychometric properties of the homophobic bullying scale. Educational and Psychological Measurement, 72, 649-664. doi:10.1177/0013164412440169
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), podendo esta regularidade ser devida às características que lhes são estereotipicamente atribuídas de maior agressividade e proatividade na maioria das sociedades. No que diz respeito à vitimação, os estudos anteriores apresentaram resultados contraditórios. Por exemplo, embora diversos estudos acerca de bullying homofóbico tenham verificado que o sexo masculino é mais frequentemente alvo desta conduta agressiva (p. e., António et al., 2012António, R.; Pinto, T.; Pereira, C.; Farcas, D.; Moleiro, C. (2012). Bullying homofóbico no contexto escolar em Portugal. Psicologia, 26, 17-32. Recuperado de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492012000100002
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; Crick & Bigbee, 1998Crick, N. R.; Bigbee, M. A. (1998). Relational and overt forms of peer victimization: A multiinformant approach. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 66, 337-347. doi: 10.1037/0022-006X.66.2.337
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; Pellegrini & Long, 2002Pellegrini, A. D.; Long, J. (2002). A longitudinal study of bullying, dominance, and victimization during the transition from primary to secondary school. British Journal of Developmental Psychology, 20, 259-280. doi: 10.1348/026151002166442
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; Russell et al., 2011Russell, S.; Ryan, C.; Toomey, R.; Diaz, R.; Sanchez, J. (2011). Lesbian, gay, bisexual, and transgender adolescent school victimization: Implications for young adult health and adjustment. Journal of School Health, 81, 223-230. doi: 10.1111/j.1746-1561.2011.00583.x
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), no recente estudo de Coelho e colaboradores/as (2016), verificou-se que as meninas eram o grupo mais frequente de vitimação por cyberbullying (ver também Schäfer et al., 2004Schäfer, M.; Korn, S.; Smith, P. K.; Hunter, S. C.; Mora-Merchán, J. A.; Singer, M. M.; Van der Meulen, K. (2004). Lonely in the crowd: Recollections of bullying. British Journal of Developmental Psychology, 22, 379-394. doi: 10.1348/0261510041552756
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). Podemos assim inferir que a diferença entre sexos na vitimição de cyberbullying dependerá de factores que não foram ainda identificados, como as normas relativas às relações entre os sexos/géneros prevalentes nas sociedades ou nas próprias escolas em análise.
Previmos igualmente que o cyberbullying com conteúdo homofóbico fosse mais frequentemente dirigido a pessoas percecionadas como LGB do que a pessoas não percecionadas como tal. Esta hipótese não foi confirmada, dado que os/as participantes percecionados como sendo LGB foram ainda menos frequentemente o alvo destas agressões, comparativamente aos/às participantes percecionadas como não sendo LGB. Esses resultados não são conformes aos resultados de Poteat e Espelage (2005Poteat, V.; Espelage, D. (2005). Exploring the relation between bullying and homophobic verbal content: The Homophobic Content Agent Target (HCAT) Scale. Violence and Victims, 20, 141-150. doi: 10.1891/vivi.2005.20.5.513
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), que não encontraram diferenças entre as respostas aos dois items. De facto, a não confirmação da hipótese pode ser devida a uma limitação do próprio instrumento. Ou seja, dado que a orientação sexual não-normativa tem sido considerada menos legítima, e como tal tem sido alvo de discriminação, é expectável que a percentagem de violência contra LGB e contra aqueles/as que são percebidos como tal, seja maior. Nesse sentido, não podemos afirmar que os resultados da nossa amostra contradizem vários estudos anteriores que verificaram que os/as jovens LGB (António et al., 2012António, R.; Pinto, T.; Pereira, C.; Farcas, D.; Moleiro, C. (2012). Bullying homofóbico no contexto escolar em Portugal. Psicologia, 26, 17-32. Recuperado de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492012000100002
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?scri...
; Wiederhold, 2014Wiederhold, B. (2014). Cyberbullying and LGBTQ youth: A deadly combination. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, 17, 569-570. doi: 10.1089/cyber.2014.1521
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) ou aqueles/as percebidos/as como tal (Rodrigues et al., 2015Rodrigues, L.; Grave, R.; Oliveira, J.; Nogueira, C. (2015). Estudiosobre bullying homofóbico en Portugal con recurso al Analisis de Correspondencias Multiples (ACM). Revista Latinoamericana de Psicología, 48, 191-201. doi: 10.1016/j.rlp.2016.04.001
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) são mais alvo de bullying e cyberbullying homofóbico do que os/as restantes jovens.
Os nossos resultados confirmaram ainda as consequências negativas que a comunicação de teor homofóbico acarreta nos/as seus/suas intervenientes, consistente com problemas emocionais e psicológicos, a baixa auto-estima, os níveis elevados de ansiedade, o decréscimo da participação escolar, o insucesso escolar e a tentativa de suicídio verificadas em estudos anteriores (Hinduja & Patchin, 2011Hinduja, S.; Patchin, J. W. (2011). Cyberbullying and Sexual Orientation. Cyberbullying Research Center. Recuperado de http://www.cyberbullying.us
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; Walker, 2015Walker, C. (2015). An analysis of cyberbullying among sexual minority university students.Journal of Higher Education Theory and Practice, 15, 44-50. Recuperado de http://www.na-businesspress.com/JHETP/WalkerC_Web15_7_.pdf
http://www.na-businesspress.com/JHETP/Wa...
). Cerca de 1/3 dos receptores de comunicação de teor homofóbico registou ter sido afetada ao nível social e psicológico e cerca de 15% registou ter sido muito afetada. Estes resultados mostram mais uma vez ser crucial intervir neste fenómeno.
Finalmente, e consistindo no objectivo principal do estudo, confirmámos resultados anteriores, como os de Poteat e Espelage (2005Poteat, V.; Espelage, D. (2005). Exploring the relation between bullying and homophobic verbal content: The Homophobic Content Agent Target (HCAT) Scale. Violence and Victims, 20, 141-150. doi: 10.1891/vivi.2005.20.5.513
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) sobre a existência de uma forte componente homofóbica no Cyberbullying. Os nossos resultados indicam que as ciberagressões entre pares se concretizam frequentemente através de comunicações de conteúdo homofóbico. Dado que o seu intuito é agredir o alvo, tais comunicações sinalizam a existência de atitudes fortemente preconceituosas contra os indivíduos com orientações sexuais não-normativas. São sintomáticas de sentimentos negativos desenvolvidos durante todo o processo de socialização e acalentados com o intuito de preservar um sistema social baseado na predominância da heterossexualidade, condenando todos/as aqueles/as que se desviam da heteronormatividade. Embora muitas vezes não sejam dirigidos a indivíduos reconhecidos como LGB, o seu objectivo é sempre a afirmação da superioridade da heterossexualidade sobre as outras orientações sexuais e a inferiorização dos indivíduos que apresentam estas últimas.
Finalmente, salientaremos algumas das limitações do estudo. Embora seja retrospetivo, como já focámos acima, as memórias de acontecimentos traumáticos como esses são geralmente consideradas bastante rigorosas e válidas, não devendo por isso, esta característica ser considerada uma limitação (Rivers, 2001Rivers, I. (2001). Retrospective reports of school bullying: Stability of recall and its implications for research. British Journal of Developmental Psychology, 19, 129-141. doi: 10.1348/026151001166001
https://doi.org/10.1348/026151001166001...
; Rubin, 2002Rubin, D. C. (2002). Autobiographical memory across the lifespan. In Graf, P.; Ohta, N. (Eds.), Lifespan development of human memory (pp. 159-184). Cambridge, MA: MIT Press.). Contudo, é de recordar, que se tratam das experiências de uma população específica: jovens que continuaram os seus estudos na Universidade. Se a amostra fosse mais diversificada, os dados obtidos poderiam divergir dos agora apresentados. Assim, o potencial de generalização dos presentes resultados à população adolescente portuguesa fica reduzido.
Pensamos que o presente estudo, pela exploração e caracterização que faz das relações entre o cyberbullying e a utilização de linguagem homofóbica entre os/as adolescentes, poderá contribuir para o desenvolvimento de modelos de intervenção e prevenção tendo em vista a redução das atitudes e comportamentos heterosexistas nos/as futuros/as adultos/as, e promover a sua convivência positiva com a diversidade sexual e de género, nas famílias, nas escolas, no trabalho e no espaço público.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
9 Dez 2019 -
Data do Fascículo
Dez 2019
Histórico
-
Recebido
24 Abr 2018 -
Aceito
12 Set 2018