Open-access Migração de demandas entre as esferas público-privadas sob a ótica das relações de gênero: um estudo com enfermeiras e enfermeiros

Migración de demandas entre las esferas público-privada bajo la óptica de las relaciones de género: un estudio con enfermeras y enfermeros

Resumos

A atenuação dos limites público-privado, típica da contemporaneidade, favorece a migração de demandas entre as esferas profissional e doméstica, denominada permeabilidade trabalho-casa. Este estudo busca analisar a permeabilidade, sob a perspectiva de gênero, a partir de entrevistas individuais com 42 enfermeiros (18 homens e 24 mulheres), com base na confrontação com a imagem de seu respectivo uso do tempo por uma semana. A ocupação de cargos gerenciais se mostrou ligada à maior demanda no campo profissional, dificultando a conciliação com a vida familiar. A permeabilidade entre o trabalho e a casa, mais comum entre as mulheres, reforça desigualdades nas relações de poder, gerando tensões que afetam a vida laboral e a familiar, bem como a interação entre elas. A abordagem dualista na análise das esferas pública e privada é criticada.

Relações de gênero; Enfermeiras; Enfermeiros; Trabalho


La atenuación de los límites público-privado, típica de la contemporaneidad, favorece la migración de demandas entre las esferas profesional y doméstica, denominada permeabilidad trabajo-casa. El objetivo de este estudio es analizar la permeabilidad, bajo la perspectiva de género, a partir de entrevistas individuales con 42 enfermeros (18 hombres y 24 mujeres), con base en la confrontación con la imagen de su respectivo uso del tiempo durante una semana. La ocupación de cargos de gerencia mostró estar vinculada a una mayor demanda en el campo profesional, dificultando la conciliación con la vida familiar. La permeabilidad entre el trabajo y la casa, más común entre las mujeres, refuerza desigualdades en las relaciones de poder, generando tensiones que afectan la vida laboral y familiar, así como la interacción entre ellas. Se critica el abordaje dualista en el análisis de las esferas pública y privada.

Relaciones de género; Enfermeras; Enfermeros; Trabajo


The attenuation of the public-private limits, typical of contemporaneity, favors the migration of demands between the professional and domestic spheres, called work-home permeability. This study seeks to analyze the permeability from a gender perspective, based on individual interviews with 42 nurses (18 men and 24 women), confronting them with the image of their respective use of time during a week. Having management positions was linked to greater demands in the professional field, making it difficult to reconcile with family life. The permeability between work and home, more common among women, reinforces inequality in the power relations, generating tensions that affect the work and family life, as well as the interaction between them. The dualistic approach in the analysis of the public and private spheres is criticized.

Gender relations; Nurses; Work


Introdução

O trabalho contemporâneo se caracteriza por mudanças substanciais, em especial no que concerne à menor regulamentação do emprego e à massiva entrada das mulheres no mercado de trabalho, com consequente alteração nas relações de gênero que tem como modelo o homem como provedor da família1. Em meio ao avanço das tecnologias de comunicação, este cenário dá lugar a uma maior inter-relação entre os espaços público e privado2, também referida na literatura como uma atenuação entre os limites (ou fronteiras) entre as esferas pública e privada3. Trata-se, nas palavras de Genin4, de um transbordamento do trabalho sobre a vida pessoal ou vice-versa. Assim, se a Revolução Industrial favoreceu a nítida separação entre as esferas do trabalho e da casa quanto a regras, padrões de pensamento e atuação5, a vida contemporânea assiste à maior interação entre o trabalho e a família como domínios que se influenciam mutuamente4.

O tempo, visto como construção social que organiza a vida em sociedade6, é crucial na análise das relações entre o trabalho e a família. Neste contexto, cabe considerá-lo sob uma perspectiva política, já que o tempo é “[...] sujeito ao controle, à posse, à troca, à negociação e a interesses divergentes e conflitos”7 (p. 15). Assim, os estudos com base na técnica de uso do tempo partem da concepção de que a distribuição do tempo em relação às diversas atividades da vida é uma via de acesso a valores e visão de mundo dos grupos sociais8. Por exemplo, alterações nos modos de distribuição do tempo em relação aos espaços público e privado informariam eventuais mudanças na divisão sexual do trabalho – concepção que associa a esfera privada/doméstica ao gênero feminino, enquanto o mundo público/profissional se vincula ao gênero masculino9. As estatísticas oficiais do uso do tempo apontam para um aumento modesto da participação masculina no trabalho doméstico em face do aumento da inserção das mulheres no mercado de trabalho10. No contexto brasileiro, Aguiar11 aponta a manutenção das desigualdades nas atribuições de gênero. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios de 2005 revelam uma situação alarmante quanto à jornada total de trabalho no que se refere à extensão e à desigualdade entre homens e mulheres12. O estudo de Souza e Guedes13 revela que as mulheres gastam, no mínimo, doze horas a mais que os homens em afazeres domésticos, indicando que “o adensamento das mulheres nas fronteiras públicas não é acompanhado de uma revisão dos limites das responsabilidades femininas”13 (p. 123). Trata-se, portanto, de interpretar a distribuição do tempo como reveladora de um sistema desigual de poder entre homens e mulheres14.

As técnicas de uso do tempo têm se mostrado essenciais na elaboração da agenda de políticas públicas e sua interface com as questões de gênero como, por exemplo, a demanda por maior disponibilização de serviços que remetem à esfera social e de cuidados em face da sobrecarga das mulheres, entre outros8. Em que pese seu papel para o diagnóstico das desigualdades de gênero, algumas deficiências da técnica impedem o aprofundamento das análises. Um destes problemas se refere à alocação exclusiva do tempo a uma dada atividade, ou seja, considera-se que a cada momento, uma atividade é realizada em um dado local. Com relação à interface entre o trabalho profissional e a vida familiar, considera-se que as atividades são realizadas “ou” no ambiente profissional “ou” no ambiente doméstico. Assim, não há como contemplar a chamada “permeabilidade” na interface público-privado, que corresponde a situações em que ao ocupar uma esfera (por exemplo, o espaço doméstico), a pessoa se sente demandada em termos de atenção e disponibilidade por situações de outra esfera, como o trabalho profissional15. Este fenômeno é descrito por Genin1 como “porosidade dos tempos”, em referência às interferências entre as temporalidades pessoais e profissionais.

Nesta linha de pensamento, o presente estudo se associa às críticas da literatura quanto às deficiências das técnicas do uso do tempo na apreensão de aspectos sutis da vivência do tempo, sensíveis às desigualdades de gênero16, tais como: a combinação de várias atividades ao mesmo tempo e a fragmentação das atividades17. Tais críticas têm inspirado adaptações no uso da técnica no sentido de permitir lidar com alguns destes problemas. Por exemplo, em uma análise sobre a experiência de homens e mulheres em relação ao lazer, Bittman e Wacjman14 analisaram um banco de dados que continha informação de alta qualidade sobre atividades simultâneas e situações que expressavam cuidados e a responsabilidade em relação à família. Outra inovação nesta área se refere ao uso de abordagens qualitativas sobre a vivência do tempo, como a proposta por Morehead18 de registrar a experiência de mães em relação ao trabalho e à vida familiar.

No presente estudo, partimos da demanda por uma abordagem qualitativa voltada para a experiência de homens e mulheres em relação à migração de demandas entre as esferas pública e privada. O artigo visa analisar a interface público-privada em enfermeiros e enfermeiras, com foco na migração de demandas da vida profissional para o ambiente doméstico e vice-versa. Trata-se de uma categoria profissional em que os desafios na gestão dos tempos são evidentes, já que a prática profissional envolve jornadas extensas nos hospitais (frequentemente de 12 horas) e o acúmulo de vínculos, além de plantões noturnos e, nos fins de semana, em um grupo majoritariamente feminino19.

Métodos

A investigação empírica foi realizada em um hospital localizado na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, entre janeiro e fevereiro de 2012. O estudo contou com a participação de 42 enfermeiras/enfermeiros (24 mulheres e 18 homens), selecionadas(os) a partir de um total de 93. Foram feitos contatos individuais com as(os) enfermeiras(os) durante a jornada de trabalho. O primeiro contato visava apresentar os objetivos da pesquisa e o instrumento de coleta de dados no sentido de ressaltar a importância de sua adesão e participação. No caso de aceitação, o(a) enfermeiro(a) assinava o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e era informado(a) sobre o passo a passo de sua participação.

O estudo se baseou em Pesquisas de “Usos do Tempo”, que buscam avaliar a distribuição de tempos e os diferentes modos de cada um organizar as diversas atividades realizadas cotidianamente11,20-22. Embasados nesse referencial, desenvolveu-se um dispositivo composto de duas etapas23,24. A primeira, com base em um instrumento que buscou registrar os tempos e atividades realizadas no cotidiano (Caderneta de Atividades), foi associada a uma etapa de cunho qualitativo com base em reflexões sobre as relações vivenciadas entre a esfera pública e a privada, com o enfoque da permeabilidade15.

Esta primeira etapa do trabalho de campo se deu pelo registro dos tempos na Caderneta de Atividades, na qual os(as) enfermeiros(as) assinalavam o horário de início e término de cada atividade ao longo de sete dias, por meio de linhas horizontais, num quadro de horários referente às 24 horas do dia, como descrito na Figura 1.

Figura 1
Caderneta de atividades - registro diário do tempo.

Os enfermeiros e enfermeiras foram orientados(as) sobre a possibilidade de assinalarem mais de uma atividade ocorrida simultaneamente, por meio do registro em mais de uma linha horizontal, sem a distinção entre atividade principal e secundária.

A segunda etapa, compondo o dispositivo, se deu por intermédio da realização de entrevistas de autoconfrontação25, possibilitando, aos participantes, momentos de confrontação com o compilado do próprio tempo23,24. Esta etapa se iniciava com a apresentação de uma imagem elaborada pelo pesquisador de campo, a partir dos registros da caderneta. Denominada de “mapa de horários”, a imagem descrevia, por meio de cores, a distribuição das atividades ao longo de uma semana.

Foram incluídos(as) os/as enfermeiros/as que aceitaram preencher a caderneta de atividades até o tempo acordado para entrevista, aqueles(as) com mais de um vínculo empregatício, com cargos de gerência, com filhos pequenos ou idosos na família. E foram excluídos(as) aqueles(as) que haviam cursado apenas a graduação, que moravam sozinhos, que não tinham filhos no domicílio e que não haviam preenchido a caderneta de atividades no período acordado.

Para o diálogo, utilizou-se um roteiro com questões abertas que remetiam: às informações relativas aos registros dos tempos, à integração das dimensões público-privada, às tensões relativas às duas esferas, com destaque para as contradições entre o uso do tempo para si e para os outros. Assim, eram provocadas reflexões sobre os episódios ocorridos durante o tempo de trabalho no hospital que migravam para a vida privada, e acontecimentos do âmbito doméstico que invadiam o tempo das/dos participantes quando se encontravam trabalhando no hospital.

Com a intenção de atender as recomendações quanto aos preceitos éticos relativos a pesquisas com seres humanos, o estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública - Fiocruz (Parecer nº 205/2011).

As entrevistas foram analisadas por meio da técnica de análise temática, cuja finalidade perpassa a obtenção de informações que possam exteriorizar as impressões das pessoas sobre certa temática26. Para analisar o conteúdo temático das falas das/dos participantes, além de ser utilizada a categoria permeabilidade, esse estudo também encontra ancoragem teórica na teoria de gênero, cujo foco está direcionado às construções sócio-histórico-culturais, levando-se em conta as relações de poder no cotidiano9.

Resultados e análises

Para efeito das análises, o material empírico é trabalhado no presente artigo segundo o sentido das migrações das demandas: do trabalho para a casa, da casa para o trabalho.

Demandas que migram do trabalho para a casa

Muitas situações de migração de eventos da esfera pública para a vida privada se referem a profissionais que exercem atividades de gerência de pessoas ou administração de áreas ou setores (direção, supervisão ou coordenação).

Nesse contexto, chama atenção a fala de um enfermeiro ao apontar a mudança de hábitos no fim de semana a partir do momento em que assumiu uma chefia:

“ia pra casa e desligava os celulares pra não ter que receber nada do trabalho no sábado e domingo [...] agora estou deixando o celular ligado... estou me reeducando... até porque tenho um celular institucional [...] mas acho que isso é uma situação inconveniente...” (enfermeiro 4)

Em uma análise sobre a privacidade, Bauman27 comenta sobre o uso de telefones celulares associando-os à acessibilidade e disponibilidade constantes. Para ele, tal disponibilidade tem sido utilizada para dividir o espaço público em áreas de conectividade e de não conectividade. Se, por um lado, todos podem estar sempre disponíveis, por outro, o indivíduo se torna disponível para um grupo selecionado de pessoas. Assim, segundo o mesmo autor, “tornar-se disponível é uma ferramenta da construção de redes: de unificação e separação, de entrar em contato e ficar fora de contato” 27 (p. 45).

Destaca-se na fala anterior, do enfermeiro 4, o movimento ocorrido, que vai de uma “política de isolamento”, seguida da menção à “reeducação”, concluindo pela “inconveniência” da atual situação. Tal inconveniência aparece na entrevista de outro enfermeiro, ao expressar que:

“às vezes, final de semana telefone toca [...] isso gera pra você uma tensão [...] até porque a pessoa espera uma resposta e às vezes você não consegue essa resposta de imediato. Mas na verdade gera um desconforto... você acaba envolvendo dois blocos diferentes que não estariam no contexto...” (enfermeiro 17)

Identifica-se, literalmente, o desconforto associado a “dois blocos diferentes”, interpretados aqui como o trabalho remunerado e a vida fora deste trabalho. A menção a “dois blocos diferentes que não estariam no contexto” remete ao chamado “conflito trabalho-família”, o qual, com base no conceito de papel social, define o conflito como fruto de pressões dos papéis profissionais que dificultariam a participação em papéis na família e vice-versa28.

A ocupação de cargos de liderança e gestão tem sido vista como fator que contribui para aumentar as exigências relacionadas ao trabalho, dificultando a conciliação entre trabalho remunerado e demais atividades do cotidiano29,30. Por exemplo, ser contatado por uma funcionária da equipe num momento considerado como privado gera tensões no cotidiano que se desdobram para além do âmbito do trabalho. A necessidade de atendê-la via contato telefônico implica encontrar soluções para o problema, além de tomar decisões, negociar compensações e mediar possíveis conflitos futuros. Ainda que seja “apenas” um acordo para acomodação de escala de trabalho, como aparece na fala anterior (enfermeiro 17), a frequência e as circunstâncias em que esses acontecimentos se desdobram podem desencadear desencontros, desgastes, tensões e conflitos de interesses. Nesta mesma linha, outra enfermeira alega que “faz parte do trabalho da coordenação, mas ao mesmo tempo isso me agride profundamente...” (enfermeira 26).

Neste contexto, cabe destacar o “direito à desconexão”, garantido aos trabalhadores na França a partir de 1º de janeiro de 2017, quando entrou em vigor uma lei que obriga as organizações com mais de cinquenta trabalhadores a iniciarem negociações para definirem os direitos dos trabalhadores de ignorarem os seus smartphones31. De acordo com o jornal inglês The Guardian32, alguns grandes grupos, como a Volkswagen e a Daimler na Alemanha, já tomaram medidas para limitar as mensagens fora de horário para reduzir o esgotamento (burnout) entre os trabalhadores. Segundo texto da BBC inglesa33, esta lei tem respaldo no reconhecimento de que os estilos de vida calcados na disponibilidade constante de comunicação podem ser um risco à saúde pública. Revisões sobre o tema corroboram os efeitos nocivos de conflitos, na interface trabalho-família, à saúde e à vida social34-36.

A vinculação do exercício de cargos de chefia à total disponibilidade se confirma por meio de narrativas que abordam decisões tomadas ao longo da vida profissional no sentido de restringir ou evitar essas invasões, como a narrativa de duas enfermeiras:

“não sou chefia de lugar nenhum, então não tenho esse tipo de demanda... raras exceções no sentido de um colega pedir plantão...” (enfermeira 25)

“não assumo cargo de chefia, é porque vai cobrar de mim... é porque nos momentos em que eu esteja com minha família tenho que estar apta a resolver problemas do trabalho... e não quero isso [...] por isso que chefia não me sobe a cabeça.” (enfermeira 54)

Diante deste contexto, identificam-se falas sobre a decisão de não assumir cargos de gestão. Esse posicionamento dá margem para se refletir que a demanda por “total disponibilidade”, também descrita por Genin1 em relação a gerentes no Canadá, leva muitos profissionais a deixarem de assumir posições de destaque ou de acúmulo de poder inerentes à ocupação desses espaços no âmbito profissional.

Em relação às demandas associadas ao exercício da gerência, há situações de envolvimento com o trabalho que ultrapassam as questões geradas pela instituição por meio de movimentos em que, estando fora do espaço institucional, a pessoa aciona o hospital. Esse é o caso, por exemplo, de uma enfermeira que comenta sobre: “um telefonema que eu faço quando chego em casa, trato de checar uma decisão que eu tomei [...] de manhã eu ligo pra algumas pessoas [...] ligo pra cá e converso com o colega...” (enfermeira 53).

Nesta mesma linha, a enfermeira 61 apresenta um movimento de naturalização e estranhamento em relação à vinculação com o trabalho profissional quando no espaço doméstico. Ela se admira por não se sentir “aborrecida, ou chateada de alguma forma [...] é estranho, mas eu sinto uma necessidade de estar inteirada do que está acontecendo, de estar ligada lá no trabalho”. Para a enfermeira, esta é uma posição que gera conflitos e tensões tornando-se: “uma das maiores razões de desavença entre eu e meu marido [...] dou o telefone para o paciente... coisa louca... mamãe implica demais da conta [...] meu lado de ajudar as pessoas [...] solidariedade... não deixa de ser trabalho... mas atropela nosso momento...” (enfermeira 61).

Desta forma, ainda que as enfermeiras exteriorizem tensões, conflitos e desconfortos, identifica-se uma prevalência de discursos sugerindo que a forma de se relacionar com o trabalho profissional implica a necessidade de levá-lo para o ambiente doméstico, o que sugere uma maior aproximação entre as esferas pública e privada.

Se há um perfil geral de permeabilidade associado às funções de gestão no hospital, por outro lado, os discursos femininos apontam aspectos peculiares ligados a um estilo de gerência exercido como uma “forma de cuidado” – seja do trabalho ou de seus subordinados. A necessidade de estar inteirada do trabalho quando em casa (enfermeira 61) exemplifica esse aspecto do exercício da respectiva função. Assim, se, de maneira geral, a permeabilidade público-privada se mostra fortemente associada à função de gestor(a), ela se expressa de forma diferenciada no grupo estudado, observando-se situações em que as mulheres parecem estender a “função feminina” de cuidado ao próprio ato de gerir o trabalho profissional. Em consonância, um estudo que reflete sobre a enfermagem (profissão historicamente feminina), sinaliza que as relações entre as esferas produtivas e reprodutivas, que se interpenetram consolidando as experiências, sobretudo as femininas, estão relacionadas com a definição da situação (tempo, espaço, qualidade) do trabalho feminino37.

Situações que migram do hospital para o âmbito da vida privada são menos comuns entre os que realizam atividades diretamente na assistência em setores de internação e ambulatórios. Questões ligadas ao trabalho podem demandar a(o) profissional em casa diante da necessidade de trocar plantões ou checar pendências de plantões anteriores. Assim, podem-se observar graus diferenciados de permeabilidade público-privada, que incluem desde falas que apontam negações ou a escolha deliberada de não atender ao telefone, a dificuldade em dizer “não” a um(a) colega, quanto a solicitação de troca de plantões, até a necessidade de atender telefonemas em tempo integral. Como fruto desta permeabilidade, por vezes se observa uma forte imbricação do trabalho no tempo da vida privada, como expresso na fala de uma entrevistada que se refere ao hospital como sua própria casa: “aqui, minha primeira casa, sou o quebra galho... já teve vezes de estar em casa e ligarem... tenho uma dificuldade muito grande de dizer não... até para colegas [...] isso já deu discórdia dentro de casa... briga...” (enfermeira 60).

A este respeito, diferentes estratégias são utilizadas pelos trabalhadores em face da negociação das demandas, como discute Nippert-Eng38, com base em extenso estudo qualitativo. A autora se refere às diversas maneiras de justapor a casa e o trabalho como uma linha contínua entre situações de total integração, em que a casa e o trabalho são vistos como uma mesma categoria de existência social, até a total segmentação. Neste caso, o indivíduo constrói um limite mental claro e impenetrável que impede migrações entre uma esfera e outra.

Migrações do âmbito privado para o hospital

Com relação às enfermeiras, a permeabilidade privado-pública frequentemente se revelou no presente estudo por meio da atitude de entrar em contato com os espaços privados quando se encontravam no ambiente institucional, como expresso a seguir: “durante minha permanência no trabalho eu resolvo meus problemas em casa... tenho que ligar para minha secretária... para o colégio das crianças [...] tenho uma certa dependência... mesmo no horário de trabalho.” (enfermeira 5).

Esta fala exemplifica a mulher cuidadora da família, característica que vemos introjetada na construção das relações sociais de gênero39, já que não se refere apenas a demandas que veem do meio doméstico, mas também da própria enfermeira em relação à casa. Segundo Bila Sorj40, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2005 mostram que o exercício do trabalho no espaço público não exime as mulheres de lidarem com as exigências do espaço doméstico, o que, inclusive, reforça as desigualdades de gênero no mercado. Neste contexto, o avanço das tecnologias de comunicação, em especial os telefones celulares, parece favorecer a disponibilização ininterrupta das mulheres para as demandas ligadas ao âmbito familiar, permitindo o que a enfermeira 18 descreveu como “falta de” cerimônia, ao se referir à filha que a aciona durante o trabalho. Como observa Epstein41, os telefones celulares tornam os limites do trabalho permeáveis e promovem um maior trânsito dos lugares sociais, casa-trabalho, no tempo e no espaço.

Já os enfermeiros aqui analisados parecem ser menos acionados pela família. Com relação ao movimento de contatar o meio doméstico, parecem evitar serem incomodados durante os plantões, como pode ser observado:

“a minha esposa já sabe que ela não pode me ligar, por isso que eu ligo... ela evita ao máximo ligar pra mim no horário de trabalho... sabe que me interrompe...” (enfermeiro 30)

“sinto falta na verdade, às vezes de manter esse contato... no meu horário de trabalho sinto falta de contato externo... contato familiar... de saber como as coisas estão andando nesse período que você está preso [...] te deixa mais tranquilo...” (enfermeiro 41).

Quando procurados pela sua rede de convívio social, demonstram a tentativa de preservar mais o tempo pessoal, manifestando maior controle sobre o momento em que saem do processo de trabalho e atendem o tempo pessoal. Assim, observa-se que os enfermeiros exercem uma maior delimitação dos tempos e espaços institucionais e privados. Dessa forma, indiretamente, colocam uma barreira entre a vida privada e a institucional, evitando conflitos.

Um aspecto importante quanto à permeabilidade privado-pública se refere ao papel como referência profissional do grupo estudado para as pessoas de sua rede social, isto é, a solicitação de “favores” que remetem ao exercício profissional, por familiares, amigos e vizinhos, caracterizando demandas formadas a partir de vínculo afetivo. A fala que se segue retrata essa situação: “às vezes me sinto bem sobrecarregada... hoje eu já colhi sangue do meu pai... você fica sendo da área de saúde... [...] você acaba sendo referencial... e às vezes o referencial... fica sendo, digamos... sugada...” (enfermeira 9)

Tanto enfermeiras quanto os enfermeiros referem “incômodo e insatisfação” quando são frequentes os eventos privados que migram para o tempo e espaço institucional. Essa relação expressa quanto as situações do âmbito privado reforçam a presença de conflitos, angústias, inquietações e sobrecarga, sobretudo para as mulheres. Os comentários de duas enfermeiras exemplificam esta situação:

“lá é agendado, sai um paciente entra outro [...] aí eu não posso parar... e ele (companheiro) fica secundário [...] estou vivendo atualmente um draminha pessoal em casa por isso... muitas reclamações...” (enfermeira 61)

“a gente está na vida para ajudar as pessoas [...] às vezes sobrecarrega... fico um pouco irritada... dependendo da situação até quebra seu ritmo de trabalho... parar pra resolver uma questão externa... acaba atrapalhando...” (enfermeira 13)

Além das demandas de filhos e idosos, ser “referência profissional” para a solicitação de “favores” – relativos a medicações, realização de curativos ou procedimentos em domicílio, ao atendimento de intercorrências que impliquem o uso dos serviços do hospital ou ainda à escuta profissional, orientações e pareceres – pode gerar, para as enfermeiras, mais tensão e sobrecarga do que para os enfermeiros, pois se ampliam as chances de serem acionadas em tempo integral.

De maneira geral, as enfermeiras demonstraram maior aproximação do que os enfermeiros em relação à dinâmica contínua da vida privada tanto no que concerne a contatar a casa, quanto a ser contatada pela família enquanto está no trabalho. A maior vinculação das mulheres à esfera doméstica remete às análises realizadas por Bittman e Wajcman14 em relação ao tempo livre (após excluir o tempo dedicado ao trabalho remunerado e não remunerado) em dez países. Ao analisarem o uso do tempo considerando as atividades simultâneas, as autoras observaram que, embora a duração do tempo livre fosse semelhante entre homens e mulheres, estas vivenciavam maior pressão do tempo, em função da fragmentação do lazer em episódios curtos, dada a constante interrupção associada ao trabalho doméstico não remunerado. Nesta mesma linha, Mattingly e Bianchi42 observaram diferenças de gênero marcantes na qualidade do tempo livre, dada a contaminação deste por atividades ligadas ao ambiente doméstico, em amostra representativa da população norte-americana.

Desta forma, investigar o sentido das migrações entre as esferas profissional e doméstica, a partir da fala de enfermeiros e enfermeiras, contribui para esclarecer alguns aspectos da subjetividade da vivência do tempo que não são visíveis por meio da técnica de uso do tempo utilizado de forma estrita. Embora diversos estudos investiguem o tempo total de trabalho de homens e mulheres no ambiente doméstico40, inclusive de enfermeiras43, as facetas mais sutis experienciadas em relação à natureza e qualidade do tempo demandam aportes qualitativos.

Considerações finais

A permeabilidade entre os âmbitos profissional e da casa, mais comumente observada entre as mulheres, remete à crítica de Morehead18 em relação à inadequação da abordagem dualística na análise das esferas pública e privada. Em entrevistas com enfermeiras que são mães e trabalham em um hospital, a autora discute as inúmeras experiências de ligação entre o público e o privado, mostrando quanto a trabalhadora é mãe enquanto trabalha no hospital, assim como trabalha profissionalmente enquanto exerce as funções de mãe em casa. Essa crítica nos orienta a enfatizar o esforço em superar a clássica divisão esfera pública e privada, que as considera estanques, a partir de dispositivos metodológicos que aprofundem a visibilidade das permeabilidades.

Ao considerar que o uso do tempo é atravessado e tensionado pelas novas tecnologias de comunicação, o que se expressa na lei francesa de desconexão33, o material empírico nos lembra as palavras de Bryson44: "Nossa relação com o tempo nas sociedades contemporâneas não é nem ‘natural’, nem justa. Pelo contrário, o tempo é usado, valorizado e compreendido de tal maneira que ele reflete e sustenta desigualdades econômicas, sociais e políticas" (p. 110).

A análise dos eventos de migração encontra eco nos escritos de Elias45, ao destacar que as pessoas se relacionam através das chamadas “redes de dependência funcional”. Esta abordagem contribui para analisar, nesse âmbito, as relações dos entrevistados com seus pares a partir da invasão de demandas que ultrapassam as fronteiras das interfaces “público-privada” e “privado-pública”. Assim, pode-se caracterizar relações de dependências recíprocas, nas quais estão em jogo conflitos, desigualdades e tentativas de equilíbrio de poder, cujo processo remete à teoria das configurações de interdependências elaborada por Elias46. Como observam Sirianni e Negrey47 e Hirata e Kergoat39, relações de poder e desigualdade conformam as experiências de homens e mulheres em relação ao tempo do trabalho no mercado e no âmbito doméstico, assim como a interação entre estas duas esferas. Neste sentido, a permeabilidade entre os espaços público e privado, mais comum entre as mulheres, reflete a manutenção da assimetria de gênero.

Agradecimentos

Às enfermeiras e aos enfermeiros que, anonimamente, disponibilizaram o próprio tempo para participarem desta pesquisa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Abr 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    21 Ago 2017
  • Aceito
    06 Ago 2018
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