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Vulnerabilidade e resposta social à pandemia de Covid-19 em territórios metropolitanos de São Paulo e da Baixada Santista, SP, Brasil

Vulnerabilidad y respuesta social a la pandemia de Covid-19 en territorios metropolitanos de São Paulo y de la Región de la Baixada Santista, Estado de São Paulo, Brasil

Resumos

Este artigo analisa a vulnerabilidade e o enfrentamento à pandemia de Covid-19 em 16 territórios metropolitanos de São Paulo e da Baixada Santista (São Paulo, Brasil), objetos de pesquisa participante desenvolvida por estudo de casos múltiplos, sob o referencial teórico da vulnerabilidade e dos direitos humanos, em 2020. As condições socioeconômicas são distintas entre os territórios. A vulnerabilidade à infecção e à doença pelo coronavírus é relacionada a fatores individuais, sociais e programáticos: informações, percepções e possibilidades de proteção; convivência familiar/interpessoal, moradia, trabalho e violência; e acesso a cuidados de saúde e programas sociais. As redes de solidariedade, formadas principalmente por associações comunitárias e movimentos sociais, enfocam superar a fome, gerar renda e acessar direitos. Para a resposta social, é fundamental reconhecer as necessidades específicas, as experiências potentes e a centralidade do caminhar conjunto de sujeitos e coletivos em cada território.

Palavras-chave
Infecções por coronavírus; Vulnerabilidade e saúde; Desigualdade social; Metrópoles; Participação da comunidade


Este artículo analiza la vulnerabilidad y el enfrentamiento a la pandemia de Covid-19 en 16 territorios metropolitanos de São Paulo y de la Región de la Baixada Santista (São Paulo, Brasil), objetos de investigación participante, desarrollada por estudio de casos múltiples, bajo el referencial teórico de la vulnerabilidad y de los derechos humanos, en 2020. Las condiciones socioeconómicas son distintas entre los territorios. La vulnerabilidad a la infección y enfermedad por el coronavirus se relaciona a factores individuales, sociales y programáticos: informaciones, percepciones y posibilidades de protección; convivencia familiar/interpersonal, vivienda, trabajo y violencia; y acceso a cuidados de salud y programas sociales. Las redes de solidaridad, formadas principalmente por asociaciones comunitarias y movimientos sociales, se enfocan en superar el hambre, generar renta y tener acceso a derechos. Para la respuesta social, es fundamental reconocer las necesidades específicas, las experiencias potentes y la centralidad del caminar conjunto de sujetos y colectivos en cada territorio.

Palabras clave
Infecciones por coronavírus; Vulnerabilidad y salud; Desigualdad social; Metrópolis; Participación de la comunidad


This paper analyzes vulnerability and the tackling of the Covid-19 pandemic in 16 metropolitan territories of São Paulo and Baixada Santista (State of São Paulo, Brazil), objects of a participatory research developed in 2020 through a multiple-case study, in light of the theoretical framework of vulnerability and human rights. Socioeconomic conditions are different between territories. Vulnerability to coronavirus infection and disease is related to individual, social and programmatic factors: information, perceptions and possibilities of protection; family/interpersonal coexistence, housing, work and violence; and access to healthcare and social programs. Solidarity networks, formed mainly by community associations and social movements, focus on overcoming hunger, generating income and accessing rights. For the social response, it is essential to recognize specific needs, powerful experiences and the centrality of the joint walk of individuals and collectives in each territory.

Keywords
Coronavirus infections; Health vulnerability; Social inequality; Cities; Community participation


Introdução

A pandemia de Covid-19 expõe ao mundo e ao Brasil iniquidades sociais e problemas de saúde pública – traço comum com crises sanitárias por epidemias na história11 Schwarcz LM, Starling HM. A Bailarina da morte: a gripe espanhola no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras; 2020.. Era previsível que o impacto do coronavírus teria diferenças entre países, cidades e territórios, com condições de vida não apenas distintas, mas desiguais. As desigualdades socioeconômicas não são naturais. Tampouco podem ser atribuídas a indivíduos ou coletivos, culpabilizando-os, produzindo estigmas11 Schwarcz LM, Starling HM. A Bailarina da morte: a gripe espanhola no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras; 2020.,22 Martins JS. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes sociais. 2a ed. Petrópolis: Vozes; 2002. e desresponsabilizando o Estado. A vulnerabilidade relaciona-se às desigualdades, mas não apenas a elas, e diz respeito às chances para adoecer ou para se proteger33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40..

As desigualdades urbanas no enfrentamento da Covid-19 explicitaram as condições de vida dos indivíduos nos territórios populares, com recursos escassos, em comparação aos territórios com habitações adequadas e mais infraestrutura, como hospitais, comércio, empregos, transporte44 Villaça F. Reflexões sobre as cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel; 2012.,55 Nakano AK. Elementos demográficos sobre a densidade urbana da produção imobiliária [tese]. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 2015.. A segregação nos espaços urbanos, projeto de soberania político-econômica na era moderna, decidindo quem pode viver ou deverá morrer66 Mbembe A. Necropolitics. Durham: Duke University Press; 2019., constitui fator explicativo para o negacionismo, a arbitrariedade e a negligência que gerenciam a pandemia no Brasil.

O país foi alvo de política institucional federal para a disseminação do vírus, movida pela retomada da economia, com atos normativos da União, obstrução às respostas dos governos estaduais e municipais, e propaganda contra o Sistema Único de Saúde (SUS)77 Rosa AV, Farias AS, Valentim GDS, Herzog LB. Direitos na pandemia: mapeamento e análise das normas jurídicas de resposta à Covid-19 [Internet]. São Paulo: Conectas; 2020 [citado 2 Fev 2020]. Disponível em: https://www.conectas.org/publicacoes/download/boletim-direitos-na-pandemia-no-2
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, como a veiculação de fake news88 Damasceno L, Dal’Evedove RP. Fake news [Internet]. São Carlos: Informasus; 2020 [citado 2 Fev 2020]. Disponível em: https://www.informasus.ufscar.br/fake-news/
https://www.informasus.ufscar.br/fake-ne...
. A suspensão temporária da necessidade do registro de óbito99 Vendramini E. Os mortos da Covid-19 que a omissão do Estado pode vir a fazer desaparecer. In: Unifesp. Mortos e mortes da Covid-19: saberes, instituições e regulações (São Paulo). Bol CAAF. 2020; 1(1):4-6., por exemplo, expressa como a interface entre as condições sanitárias ocasionadas pela pandemia e o desrespeito aos direitos humanos ocultaram mortes.

A infecção e a doença por Covid-19 constituem um desafio, dada a incipiência das medidas de proteção específica representadas pelas vacinas, a relevância de estratégias populacionais de isolamento e distanciamento social e de prevenção geral baseadas na barreira e na higiene. Tampouco há terapêutica específica e eficaz; no momento, os cuidados são restritos a amenizar os sintomas e prover suporte para a vida.

Este artigo tem como objetivo analisar a vulnerabilidade e os modos de enfrentamento da pandemia de Covid-19 em territórios metropolitanos de São Paulo e da Baixada Santista, objetos da pesquisa Desigualdades e Vulnerabilidades na Epidemia de Covid-19: monitoramento, análise e recomendações1010 Furtado LAC. Pesquisa desigualdades e vulnerabilidades na epidemia de Covid-19: monitoramento, análise e recomendações. São Paulo: Unifesp, Fundação Tide Setubal; 2021. E-book. Disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61363
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, considerando o referencial teórico da vulnerabilidade e dos direitos humanos33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.

13 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.

14 Nichiata LYI, Bertolozzi MR, Gryschek ALPL, Araújo NVDL, Padoveze MC, Ciosak SI, et al. Potencialidade do conceito de vulnerabilidade para a compreensão das doenças transmissíveis. Rev Esc Enferm USP. 2011; 45(2):1769-73.

15 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.

16 Freire P. Educadores de rua: uma abordagem crítica. Bogotá: UNICEF; 1989.

17 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014.

18 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.
-1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019., pela contribuição para a compreensão e a transformação da realidade social. Ao mediar o conhecimento sobre a situação e as experiências de resposta social das populações participantes diante dessa crise, o estudo pode interessar a estudiosos e outras periferias urbanas.

Vulnerabilidade e direitos humanos

A consideração da vulnerabilidade na saúde foi apresentada por Mann, Tarantola e Netter, em 1992, para trabalhar com a epidemia de aids, valendo-se da relação com os movimentos sociais, propondo o deslocamento da identificação de grupos e comportamento de risco para situação de risco, e desse modo colaborando para o enfrentamento do preconceito sobre a doença do “outro”, da culpabilização individual e da negligência de medidas preventivas voltadas a coletivos1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.. Em 1996, os direitos humanos foram incorporados nessa noção1212 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000..

No Brasil, o quadro da vulnerabilidade e dos direitos humanos é analisado principalmente por Ayres e colaboradores33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22. com desdobramentos para políticas e práticas de saúde, incluindo, por exemplo, a atenção a doenças infecciosas1414 Nichiata LYI, Bertolozzi MR, Gryschek ALPL, Araújo NVDL, Padoveze MC, Ciosak SI, et al. Potencialidade do conceito de vulnerabilidade para a compreensão das doenças transmissíveis. Rev Esc Enferm USP. 2011; 45(2):1769-73. e o treinamento de profissionais e ativistas para lidar com diversas vulnerabilidades e violações de direitos1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.. A expressividade no desenvolvimento brasileiro desse referencial possivelmente decorreu de fatores relacionados aos movimentos sociais, à Saúde Coletiva e à Psicologia Social sob perspectivas construcionistas1616 Freire P. Educadores de rua: uma abordagem crítica. Bogotá: UNICEF; 1989..

A vulnerabilidade amplia a compreensão para além das tradicionais abordagens da história natural da doença33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40., que enuncia a tríade agente-hospedeiro-ambiente e lida com a noção de risco – construção da epidemiologia sobre a chance de infecção por meio de associações causais, emprego do método analítico, relacionando com precisão variáveis dependentes e independentes33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.. A vulnerabilidade busca uma síntese que não isole elementos, mas aborde fatores que influem nas vivências, considerando seu caráter não binário, unitário ou estável. Consequentemente, “as pessoas não são vulneráveis, elas estão vulneráveis sempre a algo, em algum grau e forma, e num certo ponto do tempo e do espaço”33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40. (p. 134). Outro aspecto que perpassa a vulnerabilidade é a condição relacional, evitando a vitimização e suscitando a responsabilidade bilateral para a ação transformadora. O conhecimento da vulnerabilidade visa à atuação pragmática, coerente com práticas de saúde pública, como a promoção da saúde e a prevenção de doenças. O resultado esperado é a resposta social33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40..

A vulnerabilidade apresenta três componentes interrelacionados: individual – informações e valores do sujeito; social – condições de vida e relações sociais; e programático – acesso a programas, serviços e insumos33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.
-1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.. São dimensões diferentes de uma realidade: no mesmo contexto, pessoas e grupos podem inventar diferentes estratégias para o viver1717 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014..

Trabalhar, na prática, com a vulnerabilidade demanda compromisso universal e propostas específicas para cada população, buscando os princípios de: efetividade, operacionalidade, progressividade e, principalmente, democratização dos projetos33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22..

Para tanto, os direitos humanos são um marco positivo1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22., contribuindo para a saúde pública1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42. e para a construção da resposta social33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.. Enquanto normativas que regulam deveres e atribuições do Estado e dos cidadãos, e, ainda, reivindicações de grupos sociais específicos1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42., os direitos humanos contribuem para que as análises da vulnerabilidade não recaiam na prescrição e no moralismo, tampouco na relativização, mas orientem ações individuais ou coletivas diante dela.1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.

Entretanto, a estrutura complexa e controversa imposta pelo Ocidente à periferia do capitalismo oferece parâmetros supostamente nobres para a compreensão de direitos individuais e coletivos, ao mesmo tempo que trabalha na produção e na manutenção das iniquidades1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019.. Assim, a desigualdade no acesso aos direitos humanos – direitos fundamentais à vida, saúde e integridade física, especificamente – foi tomada como um pressuposto do estudo, com vistas a conhecer a luta das populações participantes por maneiras de (sobre)viver à ameaça pandêmica e às privações nas cidades.

Metodologia

A pesquisa Desigualdades e Vulnerabilidades na Epidemia de Covid-19: monitoramento, análise e recomendações1010 Furtado LAC. Pesquisa desigualdades e vulnerabilidades na epidemia de Covid-19: monitoramento, análise e recomendações. São Paulo: Unifesp, Fundação Tide Setubal; 2021. E-book. Disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61363
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, realizada entre abril e dezembro de 2020, visou analisar os processos e impactos da pandemia de Covid-19 e as formas de operacionalização de redes de solidariedade, considerando as desigualdades e vulnerabilidades.

Trata-se de pesquisa participante2020 Furtado LAC, Fegadolli C, Chioro A, Nakano AK, Silva CG, Paula L, et al. Caminhos metodológicos de pesquisa participativa que analisa vivências na pandemia de COVID-19 em populações vulneráveis. Saude Debate. 2020; 44(4):306-18., construída por estudo de casos múltiplos2121 Yin RK. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2a ed. Porto Alegre: Bookman; 2001. em 16 territórios urbanos metropolitanos de São Paulo (municípios de São Paulo, Diadema, Guarulhos, Osasco) e da Baixada Santista (município de Santos), estado de São Paulo, Brasil. O Quadro 1 apresenta os territórios e movimentos sociais participantes. Os estudos de casos múltiplos foram escolhidos porque permitem conhecimento em profundidade das experiências com a pandemia dessas populações, característica que pode contribuir para a análise de outras periferias urbanas2020 Furtado LAC, Fegadolli C, Chioro A, Nakano AK, Silva CG, Paula L, et al. Caminhos metodológicos de pesquisa participativa que analisa vivências na pandemia de COVID-19 em populações vulneráveis. Saude Debate. 2020; 44(4):306-18.,2121 Yin RK. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2a ed. Porto Alegre: Bookman; 2001..

Quadro 1
Caracterização dos territórios

O território é um espaço geopolítico onde se concretizam as condições materiais e imateriais de vida2222 Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2006.; não é homogêneo, devido à distribuição desigual de informação, técnica e ciência: existem áreas densas, ou luminosas, e outras quase vazias, opacas2222 Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2006..

Dos territórios estudados, 14 têm condições habitacionais tecnicamente classificadas como aglomerados subnormais2323 Governo de Minas Gerais. Fundação João Pinheiro [Internet]. Belo Horizonte: FJP; 2021 [citado 27 Fev 2021]. Disponível em: http://fjp.mg.gov.br/
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, as comunidades, na expressão dos moradores. Vila Mariana, bairro paulistano reconhecido como de classe média, é composto também por pequenas comunidades em condições vulneráveis. A denominação Luz foi preferida pelos pesquisadores do território em relação à Cracolândia, expressão pejorativa, que justifica ações higienistas e autoritárias, embora o estudo enfoque parte da Luz, o “fluxo” (cenário de trocas e uso de drogas) e suas bordas. Assim, neste manuscrito, os diferentes territórios são referidos como Comunidades, Vila Mariana Classe Média (VMCM) e Luz, respectivamente.

A equipe de pesquisa foi composta por 108 integrantes, incluindo 48 pesquisadores de diferentes disciplinas de seis campi da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e sessenta bolsistas (estudantes de graduação e ensino médio e lideranças/moradores dos territórios). Para a pesquisa participante, consideramos que a possibilidade de produção do conhecimento na relação com os outros e seus modos de vida se dá “em ato, em acontecimento, no encontro”2424 Lima F, Merhy EE. Produção de conhecimento, ciência nômade e máquinas de guerra: devires ambulantes em uma investigação no campo da Saúde Coletiva. In: Merhy EE, Baduy RS, Seixas CT, Almeida DESA, Slomp Júnior H. Avaliação compartilhada do cuidado em saúde: surpreendendo o instituído nas redes. Rio de Janeiro: Hexis; 2016. v. 1, p. 18-21. (p. 20). Por isso, constituímos comissões de acompanhamento de pesquisa (CAP), formadas por pesquisadores da universidade, bolsistas e representantes de movimentos locais2020 Furtado LAC, Fegadolli C, Chioro A, Nakano AK, Silva CG, Paula L, et al. Caminhos metodológicos de pesquisa participativa que analisa vivências na pandemia de COVID-19 em populações vulneráveis. Saude Debate. 2020; 44(4):306-18..

Devido à pandemia, as reuniões de pesquisa foram virtuais. A metodologia demandou a preparação da equipe com a valorização de diferentes saberes e formas de expressão, a entrada nos territórios orientada pelas CAP, respeitando os contextos locais, e a adoção de equipamentos de proteção individual contra Covid-19.

A pesquisa de campo contou com destacada participação de pesquisadores habitantes dos territórios. Atuaram também alunos de graduação, ensino médio e pesquisadores da Unifesp, que frequentaram esses espaços exclusivamente nos momentos de aplicação dos instrumentos e encontros de devolutiva.

Para o conhecimento detalhado de cada caso, os instrumentos de produção de dados incluíram: questionários estruturados, com 80 questões; entrevistas em profundidade não estruturadas individuais e coletivas; observação participante dos procedimentos empíricos, com registro em diário de campo; inquérito de soroprevalência para Covid-19; e inquérito nutricional. O Quadro 2 apresenta uma síntese dos instrumentos de pesquisa.

Quadro 2
Instrumentos de pesquisa sobre vulnerabilidade

Os dados produzidos foram analisados pelo conjunto de pesquisadores em diferentes arranjos: CAP dos territórios, coletivos de cada campi, grupos temáticos e encontros dos movimentos sociais. Neste manuscrito, priorizamos apresentar a análise qualitativa2626 Martins HHTS. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educ Pesqui. 2004; 30(2):289-300., realizada por meio de eixos temáticos1010 Furtado LAC. Pesquisa desigualdades e vulnerabilidades na epidemia de Covid-19: monitoramento, análise e recomendações. São Paulo: Unifesp, Fundação Tide Setubal; 2021. E-book. Disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61363
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: violências, sofrimento mental, uso intensivo de substâncias, acesso a auxílios, redes de solidariedade, vulnerabilidade, risco, moradia, renda, sentido de prevenção e insegurança alimentar.

O compromisso com os sujeitos que participaram da construção dos dados2626 Martins HHTS. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educ Pesqui. 2004; 30(2):289-300. orientou a interlocução sobre o conhecimento, os produtos para o enfrentamento da vulnerabilidade e as recomendações de políticas públicas1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.,1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42., visando à sinergia da resposta social33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.. O encontro de movimentos sociais e redes de solidariedade dos diferentes territórios possibilitou o (re)conhecimento e a potencialização de ações de transformação1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.

16 Freire P. Educadores de rua: uma abordagem crítica. Bogotá: UNICEF; 1989.

17 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014.

18 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.
-1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019., além de momentos de intersubjetividade e reflexão, mediados por literatura, música e arte audiovisual, contribuindo para a análise.

A pesquisa1010 Furtado LAC. Pesquisa desigualdades e vulnerabilidades na epidemia de Covid-19: monitoramento, análise e recomendações. São Paulo: Unifesp, Fundação Tide Setubal; 2021. E-book. Disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61363
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foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa da Unifesp, processo 31165120.7.0000.5505. Os movimentos sociais manifestaram anuência para a participação.

Resultados e discussão

Os resultados serão relatados e analisados com base na vulnerabilidade à pandemia de Covid-19 e em seu enfrentamento nos territórios.

“O mundo é diferente da ponte pra cá”2727 Brown M. Da ponte pra cá. Brasil: Zimbabwe Records; 2002.

As condições de vida das populações são diferentes nos três tipos de territórios2222 Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2006..

Os dados do questionário para caracterização sociodemográfica dos indivíduos da VMCM demonstram maior proporção de brancos e asiáticos se comparados às Comunidades e também à Luz, com maior número de negros e pardos. Na Luz foi frequente a presença de imigrantes latino-americanos indígenas, trabalhadores de oficinas de costura, que transitavam pelo local e apresentaram maior testagem positiva para Covid-19. Na pesquisa, buscou-se atender à estrutura populacional de cada território, com maior média etária na VMCM se comparada às Comunidades e, principalmente, à Luz. A distribuição entre os sexos é um pouco maior de mulheres do que de homens na VMCM e nas Comunidades. Na Luz, houve um predomínio de homens cisgênero e a presença expressiva de mulheres transsexuais. A maior média de escolaridade foi encontrada entre os respondentes da VMCM, seguidos pelos das Comunidades e, por fim, da Luz. Quando o tema é trabalho, passando da VMCM às Comunidades e à Luz, verificamos progressivo aumento do emprego informal e, notadamente, do desemprego. Já o recurso ao auxílio emergencial e aos programas de alimentação foi raro na VMCM em comparação com as Comunidades e a Luz, havendo nesse território mais dificuldades para acessar os benefícios. Assim, encontramos condições de vida mais favoráveis na VMCM se comparadas às das Comunidades e, principalmente, da Luz44 Villaça F. Reflexões sobre as cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel; 2012.,55 Nakano AK. Elementos demográficos sobre a densidade urbana da produção imobiliária [tese]. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 2015.,2727 Brown M. Da ponte pra cá. Brasil: Zimbabwe Records; 2002..

Nas Comunidades, moradias precárias, trabalho informal, desemprego e transporte deficitário caracterizam as condições de vida, agravadas pela pandemia de Covid-19, com redução da renda para 87,3% das 450 pessoas que citaram alteração de sua renda. Essa situação expressa a inclusão perversa22 Martins JS. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes sociais. 2a ed. Petrópolis: Vozes; 2002. nessa sociedade, regida pelo livre mercado, carente de políticas públicas articuladas pelo Estado para atender às demandas populares.

Historicamente, os trabalhadores e as trabalhadoras, por seus próprios meios e organização, constroem suas moradias e procuram a garantia de direitos como infraestrutura, saúde e educação, tendo por mote a “sevirologia” (se virar)2828 Sousa RA. A produção do espaço urbano-periférico: barracos, ocupações e puxadinhos [Internet]. Le Monde Diplomatique. 2020 [citado 27 Fev 2021]. Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-producao-do-espaco-urbano-periferico-barracos-ocupacoes-e-puxadinhos/
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para buscar condições básicas de subsistência em meio às desigualdades sociais e urbanas22 Martins JS. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes sociais. 2a ed. Petrópolis: Vozes; 2002.,44 Villaça F. Reflexões sobre as cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel; 2012.,55 Nakano AK. Elementos demográficos sobre a densidade urbana da produção imobiliária [tese]. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 2015.,1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019.,2727 Brown M. Da ponte pra cá. Brasil: Zimbabwe Records; 2002., com consequências para a saúde33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.,1414 Nichiata LYI, Bertolozzi MR, Gryschek ALPL, Araújo NVDL, Padoveze MC, Ciosak SI, et al. Potencialidade do conceito de vulnerabilidade para a compreensão das doenças transmissíveis. Rev Esc Enferm USP. 2011; 45(2):1769-73.. A concentração de muitas pessoas, por exemplo, impossibilita a realização do isolamento social nos casos de infecção por Covid-19.

Na Zona Leste, atualmente o Jardim Helian é um bairro consolidado e urbanizado, mas que convive com problemas típicos das periferias, como a falta de tratamento de esgoto ou coleta de lixo em algumas áreas. A presença das “casas-ponte”, construídas sobre rios2828 Sousa RA. A produção do espaço urbano-periférico: barracos, ocupações e puxadinhos [Internet]. Le Monde Diplomatique. 2020 [citado 27 Fev 2021]. Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-producao-do-espaco-urbano-periferico-barracos-ocupacoes-e-puxadinhos/
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, representa uma situação de risco para o território que, entretanto, possui uma associação de moradores atuante na luta pela manutenção da Unidade Básica de Saúde (UBS). As vizinhas Vila Miguel Ignácio Curi, com loteamentos da década de 1980, 450 habitações e dois mil habitantes, e Vila da Paz, loteada na década de 1990, com 350 casas e 1.500 pessoas, aproximadamente, foram autoconstruídas2828 Sousa RA. A produção do espaço urbano-periférico: barracos, ocupações e puxadinhos [Internet]. Le Monde Diplomatique. 2020 [citado 27 Fev 2021]. Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-producao-do-espaco-urbano-periferico-barracos-ocupacoes-e-puxadinhos/
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perto da estação Itaquera do metrô, pela disponibilidade de transporte metroferroviário e, anteriormente, rodoviário.

Em Santos, a Alemoa, bairro nascido nos anos 1860 na Zona Noroeste sobre extenso manguezal, atualmente abriga um complexo industrial com pátios e depósitos de contêineres utilizados no transporte de cargas no Porto de Santos. Na parte azul da Vila Alemoa, há 2.382 habitantes e 793 famílias, incluindo a ocorrência das “casas-ponte”2828 Sousa RA. A produção do espaço urbano-periférico: barracos, ocupações e puxadinhos [Internet]. Le Monde Diplomatique. 2020 [citado 27 Fev 2021]. Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-producao-do-espaco-urbano-periferico-barracos-ocupacoes-e-puxadinhos/
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, sendo 88 casas de taipa/madeira e 337 casas com esgoto a céu aberto. O bairro do Saboó localiza-se na entrada do município de Santos, às margens da rodovia Anchieta. No centro do Saboó está localizada a Vila Pantanal, favela com histórico de ocupações iniciado nos anos 1980, sem rede de água ou esgoto. O bairro sofre ainda com enchentes que tiram o pouco que as famílias têm para viver22 Martins JS. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes sociais. 2a ed. Petrópolis: Vozes; 2002..

Heliópolis, maior comunidade paulistana, possui diversidade interna2222 Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2006., com distintas condições de vida e exposições a situações de risco33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.. Por esse motivo, a UNAS adotou uma divisão por sete núcleos para apoio na pandemia. Os diários de campo dos pesquisadores mostram que nos núcleos centrais, as construções eram maiores e consolidadas, as ruas mais largas, havia circulação de carros e muitos serviços. Já em um dos núcleos considerados em maior situação de vulnerabilidade, as casas de alvenaria pequenas se avizinhavam de outras em vielas estreitas, dificultando até mesmo a passagem da luz do sol.

Durante a pandemia, houve aumento da fome nas Comunidades, como apontaram os questionários, com 79% em situação de insegurança alimentar. Na Vila São José, o inquérito nutricional2525 Santos LP, Lindemann IL, Motta JVS, Mintem G, Bender E, Gigante DP. Proposta de versão curta da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Rev Saude Publica: 2014; 48(5):783-9. constatou que 5% das 329 famílias apresentavam fome, 79% vivenciavam preocupação de que pudesse faltar alimento, 62% reportaram ter consumido menor quantidade do que gostariam, 47% encontravam-se em insegurança alimentar e nutricional moderada e grave, e em 18% dos domicílios faltavam alimentos.

O papel das mulheres na reprodução social da vida2929 Brah A. Diferença, diversidade, diferenciação. Cad Pagu. 2006; (26):329-76. foi importante em todas as Comunidades, pois questionários e entrevistas mostraram divisão mais desigual do trabalho para cuidado dos filhos com a pandemia, incluindo a escolarização deles, a manutenção da casa, a organização da alimentação da família, além do trabalho fora do lar.

Em Osasco, os territórios podem ser divididos2222 Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2006. em Morro do Socó, com condições mais vulnerabilizantes, seguido por Jardim Bandeiras, Portal do Oeste e Quitaúna. Os dois primeiros são áreas de invasão não regulamentadas, com habitações precárias, sem coleta de lixo, tratamento de esgoto ou água potável. No Socó há grave risco de deslizamento de terra em caso de chuva – duas crianças morreram soterradas dois anos atrás. A violência urbana e contra mulheres e crianças foi mais percebida no Socó e no Bandeiras. A predominância de chefias de família feminina2929 Brah A. Diferença, diversidade, diferenciação. Cad Pagu. 2006; (26):329-76., com baixa empregabilidade entre os homens por antecedentes criminais, e os relatos de crianças sem ter o que comer foram mais marcantes no Socó. Em Portal do Oeste e Quitaúna as moradias sociais foram conseguidas por meio de parceria com uma organização não governamental internacional e do programa governamental Minha Casa Minha Vida, respectivamente, de modo que as famílias têm casas e mais infraestrutura, apesar de baixa renda.

Entre os dois territórios de Guarulhos, o Residencial Esplanada (Minha Casa Minha Vida), com aproximadamente três mil moradores, é mais vulnerável. Ali, a violência doméstica e a violência de gênero apareceram somente quando questionadas ativamente. Creditamos essa ausência de respostas e, consequentemente, o silêncio a diversos fatores, com destaque para o fato de muitas famílias terem chefia feminina2929 Brah A. Diferença, diversidade, diferenciação. Cad Pagu. 2006; (26):329-76., com número expressivo de mães solo e mulheres cujos companheiros estão presos.

Nas Comunidades, as redes de apoio tiveram protagonismo feminino, principalmente de mulheres negras2929 Brah A. Diferença, diversidade, diferenciação. Cad Pagu. 2006; (26):329-76.. Em Diadema, no Eldorado, mulheres integrantes dos movimentos sociais tiveram participação destacada no enfrentamento da pandemia de Covid-19. Ao perceberem que famílias estavam em dificuldades decorrentes do desemprego, de gastos com cuidado, não recebimento de auxílio emergencial e ausência local do poder público, organizaram-se para ações e articularam redes solidárias para fornecer cestas básicas e de higiene, bem como informações para evitar o coronavírus.

A análise da Vila Mariana mostra a heterogeneidade dentro do bairro2222 Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2006.. As Comunidades participantes – Mário Cardim, Mangueira, Souza Ramos 1 e 2 e Madre Cabrini – são pequenas, escondidas entre casas e prédios de classe média. Uma liderança comunitária entrevistada trouxe a característica de “Big Brother” das comunidades, em que todos sabem e cuidam da vida de todos, promovendo apoio para o enfrentamento da pandemia, por exemplo, mas também controle de hábitos, visando sobretudo evitar a violência policial. Na VMCM não há homogeneidade, com implicações diversas para as possibilidades de proteção durante a pandemia: a maioria dos entrevistados pôde aderir ao teletrabalho, mas muitos experimentaram redução de renda ou perderam o emprego. O tamanho das casas não é um impedimento para o isolamento, mas a solidão apareceu de modo contundente, além da dificuldade de convivência com familiares. Conteúdos como violência ou uso de álcool e drogas foram velados.

A Luz é um território “transitório”, como aponta o diário de campo de um pesquisador local. Há aquele que está no “fluxo” e muita gente que transita por ali para diferentes trabalhos e serviços. A análise de outro diário mostra que, devido ao isolamento social na pandemia, ocorreu limitação da possibilidade de “manguear” e fazer “corres” (na linguagem das ruas, pedir e realizar trabalhos informais, respectivamente) diminuindo o acesso à renda, já insuficiente. Paradoxalmente, durante os primeiros meses da pandemia, o auxílio emergencial representou para algumas pessoas maior renda do que antes. O mesmo ocorreu com a alimentação devido à distribuição de cestas básicas. Entretanto, com o progredir da pandemia, auxílios e doações rarearam1717 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014.. Durante o estudo, alguns participantes da pesquisa estavam dormindo na rua, outros em hotéis sociais e albergues. A violência na Luz é expressiva, tanto a violência contra a mulher, com o significado de uma troca pela proteção nas ruas, como a violência policial/estatal, também intensa, pela gentrificação na “Cracolândia”.

Assim, a análise dos espaços opacos e luminosos2222 Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2006. contribui para estudar as semelhanças e distinções entre as áreas, identificando a vida do dia a dia, a situação de pessoas e grupos populacionais, bem como as possibilidades de proteção, cuidado e solidariedade.

“A gente quer a vida como a vida quer”3030 Antunes A, Fromer M, Britto S. Comida. São Paulo: WEA; 1987.

Os sentidos e as possibilidades da prevenção do coronavírus para as vidas e experiências das pessoas33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1717 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014.,3030 Antunes A, Fromer M, Britto S. Comida. São Paulo: WEA; 1987. também são distintos entre os territórios2222 Santos M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 2006..

A começar, o acesso à informação e, particularmente, sua compreensão e chance de aplicação são desiguais, contribuindo para a vulnerabilidade individual. Na VMCM, apenas 2,7% não entende ou não pode aplicar as informações e medidas de cuidado, versus 29% na Luz e 30,2% nas Comunidades, conforme questionários. A observação mostrou, entretanto, que havia maior distância entre as práticas de proteção referidas e realizadas, como o uso de máscaras, na VMCM em comparação ao das Comunidades e da Luz. Quanto à fonte das informações, foi expressiva a maior confiança dos entrevistados em profissionais de saúde e a desconfiança em governantes, líderes religiosos, mídia e redes sociais, verificadas nos três grupos.

As relações sociais e institucionais – como o casamento, a família, a vida doméstica e o cuidado com a casa, a convivência com amigos, o namoro, os estudos, o trabalho, o lazer, a participação em associações do bairro e a adesão a religiões e igrejas – foram variadas. Entretanto, foi possível perceber maior estímulo para sair de casa, principalmente relacionado ao trabalho, nas Comunidades do que na VMCM, onde, por outro lado, mais pessoas referiram realizar atividades de lazer a sós, apresentando sentimentos de solidão. Foi perceptível ainda que as atividades consideradas essenciais, mas que requeriam sair de casa, como ir ao banco ou acompanhar um familiar para atendimento de saúde, não eram consideradas por muitos como contrárias às medidas de isolamento. Aos poucos, as relações sociais foram acomodadas com hábitos menos restritivos em relação à quarentena3030 Antunes A, Fromer M, Britto S. Comida. São Paulo: WEA; 1987.. Na Luz, foi possível identificar relações de proximidade entre parceiros e amigos do “fluxo” e busca de pontos de apoio, mas também dificuldades de sair do território e ficar em isolamento, em caso de Covid-19, considerando-se que a oferta oficial, os albergues, era percebida como um risco1717 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014. pelo número de pessoas no mesmo quarto.

O acesso a serviços e programas de saúde é decrescente entre a VMCM, as Comunidades e a Luz, apesar de a população deste último território apontar vínculo com uma UBS. Durante a realização do inquérito foi possível observar uma procura pelos testes sorológicos incompatível com as finalidades de estudar soroprevalência, tanto nas Comunidades como na Luz, motivada pela preocupação dos indivíduos com sua saúde. Nesses momentos, os participantes defenderam a ampliação da testagem, considerada direito da população. Ainda assim, com a pandemia, experiências de cuidado (próprias, de conhecidos ou noticiadas pela mídia) aumentaram a percepção positiva sobre o SUS em todos os grupos, em consonância com pesquisa da Rede Nossa São Paulo3131 Rede Nossa São Paulo. Viver em São Paulo: especial pandemia [Internet]. São Paulo; 2020 [citado 27 Fev 2021]. Disponível em: https://www.nossasaopaulo.org.br/2020/05/05/o-que-pensam-os-internautas-paulistanos-sobre-os-impactos-do-coronavirus/
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Assim, a vulnerabilidade programática33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.
-1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22. à infecção1414 Nichiata LYI, Bertolozzi MR, Gryschek ALPL, Araújo NVDL, Padoveze MC, Ciosak SI, et al. Potencialidade do conceito de vulnerabilidade para a compreensão das doenças transmissíveis. Rev Esc Enferm USP. 2011; 45(2):1769-73. pela Covid-19, condicionada pelo acesso a serviços, insumos de proteção e internação, quando necessária, foi muito menor na Vila Mariana e maior nas Comunidades e, principalmente, na Luz.

A vulnerabilidade social33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.
-1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22., por sua vez, é de comparabilidade mais difícil entre os tipos de territórios: por um lado, as Comunidades experimentam relações de maior proximidade e controle, em comparação com o isolamento na VMCM. Por outro, nas Comunidades as relações de trabalho são mais precárias do que na VMCM. Já na Luz, a violência nas relações interpessoais e institucionais tem uma marca importante, incluindo violação dos direitos humanos1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42. pelas forças públicas, como a retirada de documentos e pertences, com impactos para a proteção ao coronavírus e também para o acesso a auxílios1717 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014., entre outros.

A análise do componente individual da vulnerabilidade33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.
-1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22. apontou que as pessoas dos diferentes territórios têm percepções semelhantes quanto à desconfiança nas fontes de informação relacionadas ao governo, talvez uma atitude protetiva perante os riscos representados pela propaganda contra a saúde pública77 Rosa AV, Farias AS, Valentim GDS, Herzog LB. Direitos na pandemia: mapeamento e análise das normas jurídicas de resposta à Covid-19 [Internet]. São Paulo: Conectas; 2020 [citado 2 Fev 2020]. Disponível em: https://www.conectas.org/publicacoes/download/boletim-direitos-na-pandemia-no-2
https://www.conectas.org/publicacoes/dow...
e pelas fake news88 Damasceno L, Dal’Evedove RP. Fake news [Internet]. São Carlos: Informasus; 2020 [citado 2 Fev 2020]. Disponível em: https://www.informasus.ufscar.br/fake-news/
https://www.informasus.ufscar.br/fake-ne...
sistemáticas e institucionais. A maior diferença entre os territórios está em acessar e poder aplicar as informações, em relação aos limites de sentido para suas vidas33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.
-1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.,1717 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014.,3030 Antunes A, Fromer M, Britto S. Comida. São Paulo: WEA; 1987.. Foi possível perceber que, na VMCM, os respondentes filtraram mais as respostas aos pesquisadores, comparativamente às Comunidades e, especialmente, à Luz, onde, na medida em que se despojavam da preocupação com o julgamento do pesquisador, aumentava a relação de vínculo e troca entre os participantes e membros da equipe2424 Lima F, Merhy EE. Produção de conhecimento, ciência nômade e máquinas de guerra: devires ambulantes em uma investigação no campo da Saúde Coletiva. In: Merhy EE, Baduy RS, Seixas CT, Almeida DESA, Slomp Júnior H. Avaliação compartilhada do cuidado em saúde: surpreendendo o instituído nas redes. Rio de Janeiro: Hexis; 2016. v. 1, p. 18-21..

“Tudo que nós tem é nós”3232 Emicida, Ouro Preto F, Fióti E. AmarElo: é tudo pra ontem. Brasil: Netflix, Laboratório Fantasma; 2020.

A pesquisa aconteceu junto das populações estudadas e não desenvolvendo um olhar sobre elas1616 Freire P. Educadores de rua: uma abordagem crítica. Bogotá: UNICEF; 1989.,2424 Lima F, Merhy EE. Produção de conhecimento, ciência nômade e máquinas de guerra: devires ambulantes em uma investigação no campo da Saúde Coletiva. In: Merhy EE, Baduy RS, Seixas CT, Almeida DESA, Slomp Júnior H. Avaliação compartilhada do cuidado em saúde: surpreendendo o instituído nas redes. Rio de Janeiro: Hexis; 2016. v. 1, p. 18-21..

As necessidades urgentes e amplificadas na pandemia, como a diminuição de renda e a insegurança alimentar, demandaram organizações imediatas de redes de apoio, com relevante participação de movimentos sociais organizados e lideranças comunitárias com atuação prévia nos territórios, às quais se somaram novas iniciativas e parcerias motivadas pela crise econômico-sanitária.

Emergiram três tipos de redes de solidariedade: as primárias, constituídas pelo núcleo familiar, relações de amizade e vizinhança; as sociocomunitárias, integradas por organizações múltiplas no território; e as setoriais públicas, formadas por serviços especializados, resultantes da ação do Estado por meio de políticas públicas3333 Gonçalves AS, Guará IMRF. Rede de proteção social na comunidade. São Paulo: NECA; 2010.. Nas Comunidades e na Luz, as redes primárias e sociocomunitárias predominaram. Entre as redes, propiciar o acesso a alimentos foi o objetivo mais comum; em alguns territórios houve a especificidade da busca de geração de renda. É o caso de Osasco, em que esse objetivo contou com o envolvimento da universidade. Na Luz, movimentos sociais e igrejas foram muito atuantes. Na VMCM, alguns entrevistados participaram de ações de apoio, principalmente doações individuais ou promovidas por entidades.

Para os pesquisadores moradores dos territórios, a experiência do estudo possibilitou desvendar as desiguais situações de vulnerabilidade no mesmo espaço, produzindo o deslocamento do olhar, fator relevante para a atitude de quem pesquisa2424 Lima F, Merhy EE. Produção de conhecimento, ciência nômade e máquinas de guerra: devires ambulantes em uma investigação no campo da Saúde Coletiva. In: Merhy EE, Baduy RS, Seixas CT, Almeida DESA, Slomp Júnior H. Avaliação compartilhada do cuidado em saúde: surpreendendo o instituído nas redes. Rio de Janeiro: Hexis; 2016. v. 1, p. 18-21.. A invisibilidade dessas situações foi percebida por eles como fator para a vulnerabilidade33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.
-1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.; já a produção de redes3232 Emicida, Ouro Preto F, Fióti E. AmarElo: é tudo pra ontem. Brasil: Netflix, Laboratório Fantasma; 2020.,3333 Gonçalves AS, Guará IMRF. Rede de proteção social na comunidade. São Paulo: NECA; 2010., como um modo de propiciar transformações33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.,1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.

16 Freire P. Educadores de rua: uma abordagem crítica. Bogotá: UNICEF; 1989.

17 Albuquerque SC. Cuidado em saúde frente às vulnerabilidades: práticas do consultório na rua [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2014.

18 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.
-1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019..

O foco das redes era a garantia da sobrevivência e dos direitos1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.,1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019.,2828 Sousa RA. A produção do espaço urbano-periférico: barracos, ocupações e puxadinhos [Internet]. Le Monde Diplomatique. 2020 [citado 27 Fev 2021]. Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-producao-do-espaco-urbano-periferico-barracos-ocupacoes-e-puxadinhos/
https://diplomatique.org.br/a-producao-d...
,3030 Antunes A, Fromer M, Britto S. Comida. São Paulo: WEA; 1987.,3232 Emicida, Ouro Preto F, Fióti E. AmarElo: é tudo pra ontem. Brasil: Netflix, Laboratório Fantasma; 2020., e poucas apresentavam projetos de longo prazo. O apoio público reduzido levou a uma diminuição progressiva de suas ações ao longo da pandemia, aumentando o medo e a insegurança já agravados pelo fim do auxílio emergencial federal, preocupação salientada pelos participantes.

Realizaram-se três encontros entre os territórios, de setembro a novembro de 2020, com o propósito de apresentar e discutir problemas e ações para o enfrentamento das vulnerabilidades1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22., analisando dificuldades e potências, buscando convergências temáticas e estratégicas1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.. Em cada encontro, a participação foi de aproximadamente 35 pessoas, incluindo representantes de movimentos sociais, estudantes e professores da Unifesp.

Entre os resultados, registraram-se trocas sobre: orientação para acessar o auxílio emergencial; venda de obras de arte para pagamento de aluguel; distribuição de cestas básicas, máscaras e informações sobre prevenção da Covid-19; apoio na construção de projetos comunitários para participação em editais; mobilização para pressionar governantes locais pela redução de tarifa elétrica; organização popular pela moradia; produção e divulgação de dados locais sobre a pandemia; união e fortalecimento das redes de solidariedade nos bairros; acolhimento a mulheres vítimas de violência; apoio psicológico gratuito e assistência social.

Igualmente foram identificados elementos de vulnerabilidade individual e coletiva33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.

13 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.
-1414 Nichiata LYI, Bertolozzi MR, Gryschek ALPL, Araújo NVDL, Padoveze MC, Ciosak SI, et al. Potencialidade do conceito de vulnerabilidade para a compreensão das doenças transmissíveis. Rev Esc Enferm USP. 2011; 45(2):1769-73. para a infecção pela Covid-19 relativos a moradia, emprego e renda, falta de lazer e de políticas públicas para jovens, limite de acesso à internet e as diferentes faces da violência. Abordar essas questões pela voz de quem as vivencia1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.,1616 Freire P. Educadores de rua: uma abordagem crítica. Bogotá: UNICEF; 1989.,1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019.,2424 Lima F, Merhy EE. Produção de conhecimento, ciência nômade e máquinas de guerra: devires ambulantes em uma investigação no campo da Saúde Coletiva. In: Merhy EE, Baduy RS, Seixas CT, Almeida DESA, Slomp Júnior H. Avaliação compartilhada do cuidado em saúde: surpreendendo o instituído nas redes. Rio de Janeiro: Hexis; 2016. v. 1, p. 18-21.,3232 Emicida, Ouro Preto F, Fióti E. AmarElo: é tudo pra ontem. Brasil: Netflix, Laboratório Fantasma; 2020. constituiu caminho para ampliar a compreensão e as condições de enfrentamento da pandemia, visando suporte ou recursos para enfrentamento das vulnerabilidades1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.,1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.,1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.. Buscou-se o fortalecimento de uma rede de solidariedade entre os territórios e a continuidade de sua articulação1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.,1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.,1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019.,3232 Emicida, Ouro Preto F, Fióti E. AmarElo: é tudo pra ontem. Brasil: Netflix, Laboratório Fantasma; 2020..

O esforço realizado no sentido de encurtar distâncias entre os diferentes atores da pesquisa3434 Lacey H. Existe uma distinção relevante entre valores cognitivos e sociais? Sci Stud. 2003; 1(2):121-49. não deriva apenas do engajamento de pessoas que fazem ciência de forma socialmente compromissada, mas da necessidade de compreender aquilo que não pode ser analisado somente nos gabinetes. Portanto, o encontro entre saberes ensejados pela prática científica e por formas de luta pela vida tem como consequência o fomento de espaços interseccionais que conjugam valores sociais e cognitivos3434 Lacey H. Existe uma distinção relevante entre valores cognitivos e sociais? Sci Stud. 2003; 1(2):121-49., contribuindo para a construção de problemas e do conhecimento3535 Stengers I. A proposição cosmopolítica. Rev Inst Estud Bras. 2018; (69):442-64..

Entre os desafios da pesquisa, motivada pelo compromisso social2626 Martins HHTS. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educ Pesqui. 2004; 30(2):289-300. com os participantes, incluiu-se a criação coletiva de um conjunto de produtos1010 Furtado LAC. Pesquisa desigualdades e vulnerabilidades na epidemia de Covid-19: monitoramento, análise e recomendações. São Paulo: Unifesp, Fundação Tide Setubal; 2021. E-book. Disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61363
https://repositorio.unifesp.br/handle/11...
com conteúdos informativos e educativos1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.,1616 Freire P. Educadores de rua: uma abordagem crítica. Bogotá: UNICEF; 1989. para distribuição e compartilhamento nos territórios: a) um folheto-panfleto sobre o uso de máscaras em estabelecimentos que vendem comidas e bebidas; b) quatro edições de cartazes no formato de lambe-lambe, com o tema violência doméstica; c) um vídeo intitulado Estudando na Pandemia, com base em roda de conversa virtual entre jovens estudantes do ensino médio, de diferentes territórios, sobre a experiência com as aulas on-line da rede pública; d) um MegaZine intitulado Territórios – de olhos abertos contra as desigualdades, que exemplifica a consideração de temas escolhidos nos encontros das redes de apoio1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.,1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.,1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.,1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019.,3232 Emicida, Ouro Preto F, Fióti E. AmarElo: é tudo pra ontem. Brasil: Netflix, Laboratório Fantasma; 2020.. Em 12 páginas, de tamanho 15 x 10.5 cm, mesclando texto e história em quadrinhos, o MegaZine aborda: auxílios disponíveis; reabertura de comércio e bares; retorno ao trabalho e uso do transporte público; procedimentos para casos de violência doméstica; estatísticas da pandemia e fontes de informações sobre reintegração de posse e violência estatal. A Figura 1 traz a fotografia da capa.

Figura 1
Fotografia da capa do MegaZine.

Por fim, o estudo produziu formulações coletivas3535 Stengers I. A proposição cosmopolítica. Rev Inst Estud Bras. 2018; (69):442-64. sobre políticas públicas nos temas trabalhados1010 Furtado LAC. Pesquisa desigualdades e vulnerabilidades na epidemia de Covid-19: monitoramento, análise e recomendações. São Paulo: Unifesp, Fundação Tide Setubal; 2021. E-book. Disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61363
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em relação aos direitos humanos1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.,1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019., voltadas ao enfrentamento33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1111 Mann J, Tarantola DJM, Netter T. AIDS in the World. Cambridge: Harvard University Press; 1992.

12 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.
-1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.,1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.,1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.,1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019. da pandemia pela Covid-19 e dirigidas ao poder público. Tais recomendações estão sendo divulgadas pelo grupo de pesquisa e desenvolvidas em cada território com os movimentos sociais1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019. como desdobramento da pesquisa.

Avaliar a efetividade das ações desenvolvidas não é objetivo do presente manuscrito. Outrossim, a adoção dos princípios de democratização e operacionalidade33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22. durante a realização da pesquisa possibilita a nossa consideração de que seus encontros, conhecimentos e produtos propiciaram analisar situações de vulnerabilidade nos territórios e, também, identificar e formular caminhos para seu enfrentamento, referenciados nos direitos humanos e contribuindo, assim, para a resposta social33 Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção em saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-40.,1212 Mann J, Tarantola DJM. AIDS in the World II: global dimensions, social roots, and responses: the global AIDS policy. 2a ed. Oxford: Oxford University Press; 2000.,1313 Ayres JRCM, Paiva V, Buchalla CM. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos – prevenção e promoção da saúde. Curitiba: Juruá; 2012. p. 9-22.,1515 Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de Aids. Rev Saude Publica. 2002; 36(4):4-11.,1818 Gruskin S, Tarantola D. Um panorama sobre saúde e direitos humanos. In: Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM. Vulnerabilidade e direitos humanos. Curitiba: Juruá; 2012. p. 23-42.,1919 Santos B, Martins BS. O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora; 2019..

Conclusões

A pandemia de Covid-19 traz situações de exposição às populações que habitam os territórios urbanos metropolitanos de São Paulo e Santos, articulando os eixos da vulnerabilidade – individual, social e programático –, agravando e revelando a desigualdade. As redes de solidariedade desenvolvidas pelos movimentos sociais e demais atores de cada território são muito potentes em virtude da formulação de propostas e ações, bem como pelo fortalecimento de vínculos. Entretanto, essa atuação depende não apenas do engajamento, mas também de apoios, principalmente do Estado, que estão diminuindo conforme o avanço da pandemia. A atuação dessas redes não significa prescindir da responsabilidade do Estado.

Aliás, os saberes que emergem da articulação de comunidades no enfrentamento à pandemia são centrais para compreender como a sobrevivência é possível perante a (des)articulação do Estado, que inclui por vítima, majoritariamente, a população periférica, esteja ela nos rincões do país ou nos centros das grandes cidades. A ação requer mobilização social e construção de políticas públicas que dialoguem com essa realidade.

Em meio à grave crise sanitária, política, socioeconômica e humanitária que atravessamos, o caminho é tortuoso. Ele requer a identificação de trilhas, o reconhecimento de necessidades específicas para o percurso e o caminhar conjunto de sujeitos e coletivos. O estudo realizado pode contribuir não apenas para as populações participantes, como também para outros territórios metropolitanos, no tempo presente e em momentos futuros da história, ao favorecer a ampliação da compreensão sobre as vulnerabilidades à pandemia de Covid-19 e ao ensejar possibilidades de transformação da realidade por meio do compartilhamento e da análise de experiências de resposta social.

Agradecimentos

Aos movimentos sociais e às redes de apoio dos 16 territórios participantes do estudo. A toda a equipe de pesquisa, composta por 108 pessoas entre professores da Unifesp e bolsistas (alunos de graduação e de ensino médio, moradores e líderes dos territórios).

  • Nasser MA, Calazans MO, Fegadolli C, Oliveira SB, Rodrigues JF, Costa RC, Santos EHM, Zanchetta GM, Furtado LAC. Vulnerabilidade e resposta social à pandemia de Covid-19 em territórios metropolitanos de São Paulo e da Baixada Santista, SP, Brasil. Interface (Botucatu). 2021; 25 (Supl. 1): e210125 https://doi.org/10.1590/interface.210125
  • Financiamento

    Edital Unifesp / Fundação Tide Setubal.

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Editado por

Editora
Rosamaria Giatti Carneiro
Editor associado
Lucas Pereira de Melo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Out 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    04 Mar 2021
  • Aceito
    18 Ago 2021
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