Acessibilidade / Reportar erro

Controle da dor e dispneia de pacientes com câncer no serviço de urgência: resultados da intervenção de enfermagem

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

Delinear linhas orientadoras de boa prática no controle da dor e dispneia, de pacientes com doença oncológica em serviço de urgência.

CONTEÚDO:

Pergunta PI[C]O, com recurso à EBSCO (Medline with Full Text, CINAHL, Plus with Full Text, British Nursing Index), retrospectivamente de setembro de 2009 até 2014 e guidelines emanadas por entidades de referência: Oncology Nursing Society (2011), National Comprehensive Cancer Network (2011; 2014) e Cancer Care Ontario (2010), dos quais resultou um total de 15 artigos. A primeira etapa para um controle adequado de sintomas é uma apreciação sistematizada. O tratamento farmacológico da dor deve-se reger pela escada analgésica modificada da Organização Mundial da Saúde, com inclusão da titulação, equianalgesia, rotatividade de opioides, vias de administração, condições dolorosas de difícil tratamento e controle de efeitos adversos. A oxigenoterapia e ventilação não invasiva são modalidades de controle de algumas situações de dispneia, onde a utilização de diuréticos, broncodilatadores, corticoides, benzodiazepínicos e opioides fortes são estratégias eficazes. As medidas não farmacológicas: apoio psicoemocional, hipnose, aconselhamento/treino/instrução, adesão terapêutica, musicoterapia, massagem, técnicas de relaxamento, apoio telefónico, reeducação funcional e respiratória aumentam igualmente os ganhos em saúde.

CONCLUSÃO:

O controle da dor oncológica e dispneia exigem uma abordagem compreensiva e multimodal. Implicações para a prática de Enfermagem: linhas orientadoras de boa prática, desenvolvidas com base na evidência científica podem suportar uma tomada de decisão clínica com maior qualidade, segurança e efetividade

Descritores:
Dispneia; Dor oncológica; Intervenções de enfermagem; Serviço de urgência

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

To outline best practices guidelines to control pain and dyspnea of cancer patients in an urgency setting.

CONTENTS:

PI[C]O question, with resource to EBSCO (Medline with Full Text, CINAHL, Plus with Full Text, British Nursing Index), retrospectively from September 2009 to 2014 and guidelines issued by reference entities: Oncology Nursing Society (2011), National Comprehensive Cancer Network (2011; 2014) and Cancer Care Ontario (2010), with a total of 15 articles. The first stage for adequate symptoms control is systematized evaluation. Pharmacological pain control should comply with the modified analgesic ladder of the World Health Organization, including titration, equianalgesia, opioid rotation, administration route, difficult to control painful conditions and adverse effects control. Oxygen therapy and noninvasive ventilation are control modalities of some situations of dyspnea, where the use of diuretics, bronchodilators, steroids, benzodiazepines and strong opioids are effective strategies. Non-pharmacological measures: psycho-emotional support, hypnosis, counseling/training/instruction, therapeutic adherence, music therapy, massage, relaxation techniques, telephone support, functional and respiratory reeducation equally improve health gains.

CONCLUSION:

Cancer pain and dyspnea control require comprehensive and multimodal approach. Implications for nursing practice: best practice guidelines developed based on scientific evidence may support clinical decision-making with better quality, safety and effectiveness.

Keywords:
Cancer pain; Dyspnea; Nursing interventions; Urgency service

INTRODUÇÃO

Globalmente, todos os anos surgirão mais 14 milhões de novos casos de pessoas com câncer e a expectativa é que triplique em 2030, como resultado também da sobrevida11 World health Organization. Global battle against cancer won´t be won with treatment alone effective prevention measures urgently needed to prevent cancer crises. London: International Agency of Research on Cancer. 2014. Os sobreviventes continuam a experimentar significativas limitações, comparativamente com todos aqueles sem história de câncer22 Zucca AC, Boyes AW, Linden W, Girgis A. All's well that ends well? Quality of life and physical symptoms clusters in long-term cancer survivors across cancer types. J Pain Symptom Manage. 2012;43(4):720-31.. A presença de sintomas persiste permanentemente, derivada dos efeitos adversos diretos da neoplasia, do tratamento, da exacerbação e/ou do surgimento de novos, associados à recidiva ou segundo câncer33 Brant JM, Beck S, Dudley WN, Cobb, P, Pepper G, Miaskowski C. Symptom trajectories in posttreatment cancer survivors. Cancer Nurs. 2011;31(1):67-77..

O hospital, particularmente, o serviço de urgência, continua a ser um dos sistemas de suporte mais utilizado44 Massa E. Análise da necessidade de recurso ao serviço de urgência de doentes oncológicos em cuidados paliativos. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Mestrado Integrado em Medicina. Lisboa. 2010.. Os sintomas têm sido estudados separadamente, todavia investigações recentes suportam a necessidade de uma visão integrativa. A dor, a dispneia, a fadiga, o estresse emocional surge em simultâneo e são interdependentes. Desse modo, advém a designação de cluster sintomas, quando dois ou mais sintomas apresentam uma inter-relação entre si, tendo em conta que podem partilhar a mesma etiologia e produzir efeito cumulativo no funcionamento da pessoa55 Cleeland C, Sloan J. Assessing the symptoms of cancer using patient-reported outcomes (ASCPRO): searching for standards. J Pain Symptom Manage. 2010;39(6):1077-85.. A dor assume particular ênfase ao ser um item presente em todas as múltiplas escalas de avaliação de sintomas, bem como é o motivo mais frequente de recurso ao serviço de urgência, assim como a evidência sugere que também predomina um inadequado controle analgésico nesse contexto66 Bharkta HC, Marco CA. Pain management: association with patient satisfaction among emergency department patients. J Emerg Med. 2014;46(4):456-64.. A incidência da dor no início do trajeto da doença está estimada em 50% e é incrementada para aproximadamente 75% em estágios avançados, o que significa que o sobrevivente não a vivencia apenas como resultado imediato do tratamento55 Cleeland C, Sloan J. Assessing the symptoms of cancer using patient-reported outcomes (ASCPRO): searching for standards. J Pain Symptom Manage. 2010;39(6):1077-85.. Numa fase avançada da doença a dispneia é um dos sintomas que assume particular relevância, surge frequentemente associada à dor (cerca de 45%), representado um cluster sintomas indutor de maior ansiedade e fadiga responsável pela procura de cuidados de saúde, pelo que é fundamental um sério investimento no seu controle33 Brant JM, Beck S, Dudley WN, Cobb, P, Pepper G, Miaskowski C. Symptom trajectories in posttreatment cancer survivors. Cancer Nurs. 2011;31(1):67-77.

4 Massa E. Análise da necessidade de recurso ao serviço de urgência de doentes oncológicos em cuidados paliativos. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Mestrado Integrado em Medicina. Lisboa. 2010.

5 Cleeland C, Sloan J. Assessing the symptoms of cancer using patient-reported outcomes (ASCPRO): searching for standards. J Pain Symptom Manage. 2010;39(6):1077-85.
-66 Bharkta HC, Marco CA. Pain management: association with patient satisfaction among emergency department patients. J Emerg Med. 2014;46(4):456-64.. Nesse sentido, pretende-se enunciar quais as linhas orientadoras de boa prática de enfermagem no controle da dor e dispneia, de paciente com doença oncológica, no serviço de urgência.

ESTRATÉGIA DE PESQUISA

Como ponto de partida foi formulada a seguinte questão de partida, em formato PI[C]O: Quais as linhas orientadoras de boa prática (Intervention) no controle da dor e dispneia (Outcomes) em pacientes com doença oncológica (Population) no serviço de urgência (Setting)? A base de dados eletrônica utilizada incidiu sobre a EBSCO (Medline with Full TEXT, CINAHL, Plus with Full Text, British Nursing Index), onde os descritores foram pesquisados com a seguinte ordem: [guideline OR practice guideline OR evidence based practice OR randomized controlled trial] AND [symptoms control OR dyspnea OR tachypnea OR cheyne-stokes respiration OR respiratory sounds OR chronic pain OR cancer pain OR breakthrough pain] AND [oncology nursing OR emergency care OR acute care OR palliative care]. Os descritores foram procurados, retrospectivamente de setembro de 2009 até 2014, resultando em um total de 12 artigos. Nos critérios de inclusão englobam-se ainda as guidelines emanadas por entidades de referência na problemática: Oncology Nursing Society (2011), National Comprehensive Cancer Network (2014) e Cancer Care Ontario (2010). Nos critérios de exclusão inseriram-se todos os artigos com metodologia pouco clara, repetidos em ambas as bases de dados (n=3), idade inferior a 18 anos e com data anterior a 2009. No total, obteve-se um total de 15 artigos, como se esquematiza na figura 1.

Figura 1
Processo de pesquisa e seleção de artigos, no período de 2009/01/01 a 2014/10/09

Optou-se por seguir os critérios aprovados pela Agency of Healthcare Research and Quality (AHRQ), expressos em National Guideline Clearinghouse, com foco igualmente na oncologia77 Heidenreich A, Bastian P, Bellmunt J, Bolla M, Joniau S, Mason M, et al. Guidelines on prostate cancer. Netherlands: Eur Assoc Urol. 2013.. Paralelamente, atende ao raciocínio do National Comprehensive Cancer Network88 National Comprehensive Cancer Network. NCCN clinical practice guidelines in oncology: adult cancer pain. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2014., em que para uma segura e consistente aplicação nos contextos clínicos, somente são aceitáveis níveis de evidência considerados de elevada qualidade, ou seja, até 2ª, discriminados na tabela 1.

Tabela 1
Níveis de evidência adaptados77 Heidenreich A, Bastian P, Bellmunt J, Bolla M, Joniau S, Mason M, et al. Guidelines on prostate cancer. Netherlands: Eur Assoc Urol. 2013.

RESULTADOS

Primeiramente, apresentam-se os resultados referentes à dor oncológica, subdivididos em avaliação inicial, tratamento farmacológico e não farmacológico, vias de administração e controle de efeitos adversos, onde se inserem também as recomendações encontradas quanto à formação dos enfermeiros, conforme demonstra a tabela 2.

Tabela 2
Linhas orientadoras de boa prática no controle da dor, da pessoa com doença oncológica

Paralelamente, no que concerne ao controle da dispneia, a boa prática inicia-se, de igual modo, em uma apreciação inicial estruturada, que permite averiguar a necessidade de realização de oxigenoterapia ou ventilação não invasiva, assim como quais as estratégias farmacológicas e não farmacológicas mais adequadas, como se explicita na tabela 3.

Tabela 3
Linhas orientadoras de boa prática no controle da dispneia, da pessoa com doença oncológica

Deste modo, é possível inferir que, apesar de a dor oncológica e dispneia apresentarem uma estreita relação, exigem uma abordagem específica e diferenciada, com potencial sinérgico.

DISCUSSÃO

A apreciação da dor é considerada a primeira etapa para um controle eficaz da dor, que inclui instrumentos de auto e heteroavaliação que possibilitam uma dimensão mais mensurável, onde o discurso da pessoa é o gold standard na colheita de dados. As caraterísticas da dor, a sua influência no estado psicoemocional, nas atividades de vida diária, a existência de outras comorbidades e/ou comportamentos aditivos, a realização de tratamentos oncológicos prévios ou atuais, os dados analíticos e de imagem relacionados com a etiologia da dor são aspectos considerados fundamentais em uma análise compreensiva da pessoa com dor oncológica88 National Comprehensive Cancer Network. NCCN clinical practice guidelines in oncology: adult cancer pain. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2014.

9 Ripamonti CI, Santini D, Maranzano E, Berti M, Roila F. Management of cancer pain: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2012;23(Suppl7):vii139-54.

10 Yamaguchi T, Shima Y, Morita T, Hosoya M, Matoba M. Clinical guidelines for pharmacological management of cancer pain: the Japonese Society of Palliative Medicine recommendations. Jpn J Clin Oncol. 2013;43(9):896-909.
-1111 Wengström Y, Geerling J, Rustøen T. European Oncology Nursing Society breakthrough cancer pain guidelines. Eur J Oncol Nurs. 2014;18(2):127-31..

São vários estudos que propõem a seleção de um regime analgésico para a gestão da dor oncológica baseado na intensidade, descrita na escada analgésica modificada da OMS, que frisa a via oral como a preferencial, esquemas regulares de prescrição e hora fixa para controle da dor. As doses de resgate devem ser adicionadas em episódios de dor intensa, que se manifestem apesar das doses regulares. As diretrizes salientam a importância de abordar o estresse psicossocial, a intervenção paliativa e as estratégias não farmacológicas, sendo estes últimos os aspetos menos valorizados nos artigos encontrados99 Ripamonti CI, Santini D, Maranzano E, Berti M, Roila F. Management of cancer pain: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2012;23(Suppl7):vii139-54.,1010 Yamaguchi T, Shima Y, Morita T, Hosoya M, Matoba M. Clinical guidelines for pharmacological management of cancer pain: the Japonese Society of Palliative Medicine recommendations. Jpn J Clin Oncol. 2013;43(9):896-909.,1212 Vallerand AH, Musto S, Polomano RC. Nursing's role in cancer pain management. Curr Pain Headache Rep. 2011;15(4):250-62.. Ripamonti et al.99 Ripamonti CI, Santini D, Maranzano E, Berti M, Roila F. Management of cancer pain: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2012;23(Suppl7):vii139-54. alertam para existência de estudos aleatorizados controlados (RCT) que revelam que a morfina em baixas doses na dor ligeira a moderada é mais eficaz e tem menos efeitos adversos, quando comparada com a utilização de tramadol.

Os opioides possuem diferentes propriedades farmacocinéticas, como a velocidade em atravessar a barreira biológica, a difusão passiva e ativa, sendo ainda sujeitos ao polimorfismo genético do indivíduo. O sucesso da rotatividade está aproximadamente calculado em mais de 50%1414 Dale O, Moksnes K, Kaasa S. European Palliative Care Research Collaborative pain guidelines: opioid switching to improve analgesia or reduce side effects. A systematic review. Palliat Med. 2010;25(5):494-503., pelo que é considerada uma técnica útil no controle da dor, que deve atender aos princípios de dose equianalgésica1010 Yamaguchi T, Shima Y, Morita T, Hosoya M, Matoba M. Clinical guidelines for pharmacological management of cancer pain: the Japonese Society of Palliative Medicine recommendations. Jpn J Clin Oncol. 2013;43(9):896-909.,1111 Wengström Y, Geerling J, Rustøen T. European Oncology Nursing Society breakthrough cancer pain guidelines. Eur J Oncol Nurs. 2014;18(2):127-31.,1313 Caraceni A, Hanks G, Kaasa S, Bennett MI, Brunelli C, Cherny N, et al. Use of opioid analgesic in the treatment of cancer pain: evidence-based recommendations from the EAPC. Lancet Oncol. 2012;13(2):58-68..

As dores neuropáticas, ósseas, viscerais e breaktrough são condições de difícil controle, onde está recomendada a associação de adjuvantes88 National Comprehensive Cancer Network. NCCN clinical practice guidelines in oncology: adult cancer pain. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2014.

9 Ripamonti CI, Santini D, Maranzano E, Berti M, Roila F. Management of cancer pain: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2012;23(Suppl7):vii139-54.
-1010 Yamaguchi T, Shima Y, Morita T, Hosoya M, Matoba M. Clinical guidelines for pharmacological management of cancer pain: the Japonese Society of Palliative Medicine recommendations. Jpn J Clin Oncol. 2013;43(9):896-909.,1313 Caraceni A, Hanks G, Kaasa S, Bennett MI, Brunelli C, Cherny N, et al. Use of opioid analgesic in the treatment of cancer pain: evidence-based recommendations from the EAPC. Lancet Oncol. 2012;13(2):58-68.. A dor breaktrough possui prevalência oscilante entre 19 e 95%, com impacto significativo na qualidade de vida, sendo uma condição dolorosa de difícil controle. Paralelamente, é reconhecida a importância de enfermeiros especialistas em oncologia para incrementar o sucesso das intervenções farmacológicas, nomeadamente por meio de uma bateria de perguntas para estabelecer a diferenciação entre a dor breaktrough e dor basal não controlada, na apreciação inicial88 National Comprehensive Cancer Network. NCCN clinical practice guidelines in oncology: adult cancer pain. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2014.,1111 Wengström Y, Geerling J, Rustøen T. European Oncology Nursing Society breakthrough cancer pain guidelines. Eur J Oncol Nurs. 2014;18(2):127-31..

No controle de efeitos adversos, o risco de depressão respiratória induzida por opioides é o mais temido pelos profissionais de saúde. Jarzyna et al.1515 Jarzyna D, Jungquist CR, Pasero C, Willens JS, Nisbet A, Oakes L, et al. American Society For Pain Management Nursing guidelines on monitoring for opioid-induced sedation and respiratory depression. Pain Manag Nurs. 2011;12(3):118-45. recomendam regular vigilância do estado de consciência da pessoa, atendendo aos fatores de risco individuais, iatrogênicos e fármaco-sinérgicos. Os distúrbios gastrintestinais são os efeitos adversos mais frequentes e exigem uma abordagem multimodal88 National Comprehensive Cancer Network. NCCN clinical practice guidelines in oncology: adult cancer pain. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2014.,99 Ripamonti CI, Santini D, Maranzano E, Berti M, Roila F. Management of cancer pain: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2012;23(Suppl7):vii139-54..

No que se refere às estratégias não farmacológicas, os cuidados de enfermagem centrados na pessoa, que privilegiem a individualização e inclusão de pessoa significativa, aumentam os resultados em saúde. Intervenções direcionadas para o aconselhamento, educação para a autogestão, treino/ instrução, follow-up telefónico, educação para a saúde e gestão de caso, com interligação com outros profissionais de saúde e serviços de saúde incrementam a adesão terapêutica e satisfação com os cuidados88 National Comprehensive Cancer Network. NCCN clinical practice guidelines in oncology: adult cancer pain. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2014.,99 Ripamonti CI, Santini D, Maranzano E, Berti M, Roila F. Management of cancer pain: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2012;23(Suppl7):vii139-54.,1111 Wengström Y, Geerling J, Rustøen T. European Oncology Nursing Society breakthrough cancer pain guidelines. Eur J Oncol Nurs. 2014;18(2):127-31.,1212 Vallerand AH, Musto S, Polomano RC. Nursing's role in cancer pain management. Curr Pain Headache Rep. 2011;15(4):250-62.,1515 Jarzyna D, Jungquist CR, Pasero C, Willens JS, Nisbet A, Oakes L, et al. American Society For Pain Management Nursing guidelines on monitoring for opioid-induced sedation and respiratory depression. Pain Manag Nurs. 2011;12(3):118-45.. A massagem terapêutica, aplicação de quente e/ou frio, posicionamento, hipnose, a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e musicoterapia são consideradas medidas que potenciam o regime farmacológico88 National Comprehensive Cancer Network. NCCN clinical practice guidelines in oncology: adult cancer pain. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2014.,1212 Vallerand AH, Musto S, Polomano RC. Nursing's role in cancer pain management. Curr Pain Headache Rep. 2011;15(4):250-62..

No que concerne à dor oncológica, a implementação de auditoria e devolução de feedback de registos escritos, em um grupo de 46 enfermeiras, possibilitou aumentar a notificação de efeitos secundários (2-83%), uso de instrumentos de mensuração da dor (22-75%) e a utilização de estratégias de educação/treino para o autocuidado, incluindo cuidadores (0-47%)1616 Choi M, Kim HS, Chung SK, Ahn MJ, Yoo JY, Park OS, et al. Evidence-based practice for pain management for cancer patients in na acute care setting. Int J Nurs Pract. 2014;20(1):60-9..

Na avaliação da dispneia, a literatura sugere a utilização do acrônimo O, P, Q, R, S, T, U e V1717 Raymond V, Bak K, Kiteley C, Martelli-Reid L, Poling M, Cameron A, et al. Symptom management guide-to-practice: dyspnea. Canada: Cancer Care Ontario. 2010.. Relativamente aos instrumentos a incluir na sua apreciação, recomenda-se a Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton (Edmonton System Assessment Scale), HADS, Índice de Dispneia Modificado (MDI) e a validação para a realidade portuguesa da Numerical Rating Scale (NRS) for breathlessness, Modified Borg e Chronic Respiratory Questionnaire1717 Raymond V, Bak K, Kiteley C, Martelli-Reid L, Poling M, Cameron A, et al. Symptom management guide-to-practice: dyspnea. Canada: Cancer Care Ontario. 2010.. A etiologia da dispneia deve ser cuidadosamente investigada, para determinar a necessidade de outras técnicas complementares para o seu alívio1818 National Comprehensive Cancer Network. NCCN guidelines palliative care. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2011..

LeBlanc e Abernethy1919 LeBlanc T, Abernethy A. Building the palliative care evidence base: lessons from a randomized controlled trial of oxygen vs. room air for refractory dyspnea. J Natl Compr Canc Netw. 2014;12(7):989-92. desenvolveram um estudo com 239 pessoas com dispneia refratária, em cuidados paliativos, com PaO2>55mmHg, PCO2<50mmHg e hemoglobina≥10g/L sobre as vantagens de administrar ou não administrar oxigênio, durante 7 dias, concluindo que não existe diferença estatisticamente significativa. Os efeitos adversos aumentaram no grupo submetido a oxigenoterapia, nomeadamente a xerostomia, irritação da mucosa nasal e epistaxis. A utilização de ventilação não invasiva em situações reversíveis, oxigenoterapia nas situações de hipoxemia, broncodilatadores, corticoides, benzodiazepínicos, clorpromazina e diuréticos são medidas de controle, com eficácia testada1717 Raymond V, Bak K, Kiteley C, Martelli-Reid L, Poling M, Cameron A, et al. Symptom management guide-to-practice: dyspnea. Canada: Cancer Care Ontario. 2010.

18 National Comprehensive Cancer Network. NCCN guidelines palliative care. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2011.

19 LeBlanc T, Abernethy A. Building the palliative care evidence base: lessons from a randomized controlled trial of oxygen vs. room air for refractory dyspnea. J Natl Compr Canc Netw. 2014;12(7):989-92.
-2020 Oncology Nursing Society. Putting evidence into pratice: Dyspnea. Pittsburgh: Oncology Nursing Society. 2012..

No controle da dispneia a utilização de opioides fortes é uma medida a considerar, em que a dose recomendada varia de acordo com a intensidade e esquema analgésico prévio, com ou sem opioides1717 Raymond V, Bak K, Kiteley C, Martelli-Reid L, Poling M, Cameron A, et al. Symptom management guide-to-practice: dyspnea. Canada: Cancer Care Ontario. 2010.. Não se encontra recomendada na literatura a administração de opioides ou de outro tipo de fármacos por nebulização, no tratamento da dispneia1818 National Comprehensive Cancer Network. NCCN guidelines palliative care. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2011.,2020 Oncology Nursing Society. Putting evidence into pratice: Dyspnea. Pittsburgh: Oncology Nursing Society. 2012.. As estratégias não farmacológicas vocacionadas para reabilitação funcional e respiratória, aplicação de frio, adoção de estilos de vida saudáveis, educação para a auto-gestão / aconselhamento, apoio psicoemocional e exercícios de relaxamento/ visualização no controle da ansiedade e a referenciação para outros profissionais de saúde/ serviços permitem um melhor controle da dispneia1717 Raymond V, Bak K, Kiteley C, Martelli-Reid L, Poling M, Cameron A, et al. Symptom management guide-to-practice: dyspnea. Canada: Cancer Care Ontario. 2010.

18 National Comprehensive Cancer Network. NCCN guidelines palliative care. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2011.

19 LeBlanc T, Abernethy A. Building the palliative care evidence base: lessons from a randomized controlled trial of oxygen vs. room air for refractory dyspnea. J Natl Compr Canc Netw. 2014;12(7):989-92.

20 Oncology Nursing Society. Putting evidence into pratice: Dyspnea. Pittsburgh: Oncology Nursing Society. 2012.
-2121 Farquhar MC, Prevost AT, McCrone P, Higginson IJ, Gray J, Brafman-Kennedy B, et al. Study protocol: Phase III single-blinded fast-track pragmatic randomised controlled trial of a complex intervention for breathlessness in advanced disease. Trials. 2011;12:130..

CONCLUSÃO

A eficácia do regime farmacológico e/ou controle de efeitos adversos pode ser potencializada pela utilização, em simultâneo, de técnicas não farmacológicas, que contribuem para a redução da intensidade da dor basal e controle das exacerbações, aumentam o conforto, bem-estar, reduzem o nível de ansiedade, dor e dispneia, que são resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem2222 Doran D. Preface. In Doran D. (eds). Nursing-sensitive outcomes: state of the science. (pp. vii-ix). Suudbury, MA: Jones and Bartlett. 2003.. Concomitantemente, a manifestação de um sintoma raramente ocorre de forma isolada, pelo que tanto a avaliação, como o tratamento demandam uma abordagem compreensiva e multimodal. Dado que a combinação de dois ou mais sintomas vivenciados em simultâneo, pode conduzir a níveis elevados de estresse, que quando subvalorizados ou subtratados, predispõem ao surgimento do burden symptoms. Nesse sentido, a literatura recomenda a existência de linhas orientadoras de boa prática para o controle sintomático, desenvolvidas com base na evidência científica, para uma tomada de decisão mais sustentada, onde o enfermeiro incorpora os resultados da investigação na sua prática1111 Wengström Y, Geerling J, Rustøen T. European Oncology Nursing Society breakthrough cancer pain guidelines. Eur J Oncol Nurs. 2014;18(2):127-31.,1212 Vallerand AH, Musto S, Polomano RC. Nursing's role in cancer pain management. Curr Pain Headache Rep. 2011;15(4):250-62..

  • Fontes de fomento: não há.

REFERENCES

  • 1
    World health Organization. Global battle against cancer won´t be won with treatment alone effective prevention measures urgently needed to prevent cancer crises. London: International Agency of Research on Cancer. 2014
  • 2
    Zucca AC, Boyes AW, Linden W, Girgis A. All's well that ends well? Quality of life and physical symptoms clusters in long-term cancer survivors across cancer types. J Pain Symptom Manage. 2012;43(4):720-31.
  • 3
    Brant JM, Beck S, Dudley WN, Cobb, P, Pepper G, Miaskowski C. Symptom trajectories in posttreatment cancer survivors. Cancer Nurs. 2011;31(1):67-77.
  • 4
    Massa E. Análise da necessidade de recurso ao serviço de urgência de doentes oncológicos em cuidados paliativos. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Mestrado Integrado em Medicina. Lisboa. 2010.
  • 5
    Cleeland C, Sloan J. Assessing the symptoms of cancer using patient-reported outcomes (ASCPRO): searching for standards. J Pain Symptom Manage. 2010;39(6):1077-85.
  • 6
    Bharkta HC, Marco CA. Pain management: association with patient satisfaction among emergency department patients. J Emerg Med. 2014;46(4):456-64.
  • 7
    Heidenreich A, Bastian P, Bellmunt J, Bolla M, Joniau S, Mason M, et al. Guidelines on prostate cancer. Netherlands: Eur Assoc Urol. 2013.
  • 8
    National Comprehensive Cancer Network. NCCN clinical practice guidelines in oncology: adult cancer pain. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2014.
  • 9
    Ripamonti CI, Santini D, Maranzano E, Berti M, Roila F. Management of cancer pain: ESMO Clinical Practice Guidelines. Ann Oncol. 2012;23(Suppl7):vii139-54.
  • 10
    Yamaguchi T, Shima Y, Morita T, Hosoya M, Matoba M. Clinical guidelines for pharmacological management of cancer pain: the Japonese Society of Palliative Medicine recommendations. Jpn J Clin Oncol. 2013;43(9):896-909.
  • 11
    Wengström Y, Geerling J, Rustøen T. European Oncology Nursing Society breakthrough cancer pain guidelines. Eur J Oncol Nurs. 2014;18(2):127-31.
  • 12
    Vallerand AH, Musto S, Polomano RC. Nursing's role in cancer pain management. Curr Pain Headache Rep. 2011;15(4):250-62.
  • 13
    Caraceni A, Hanks G, Kaasa S, Bennett MI, Brunelli C, Cherny N, et al. Use of opioid analgesic in the treatment of cancer pain: evidence-based recommendations from the EAPC. Lancet Oncol. 2012;13(2):58-68.
  • 14
    Dale O, Moksnes K, Kaasa S. European Palliative Care Research Collaborative pain guidelines: opioid switching to improve analgesia or reduce side effects. A systematic review. Palliat Med. 2010;25(5):494-503.
  • 15
    Jarzyna D, Jungquist CR, Pasero C, Willens JS, Nisbet A, Oakes L, et al. American Society For Pain Management Nursing guidelines on monitoring for opioid-induced sedation and respiratory depression. Pain Manag Nurs. 2011;12(3):118-45.
  • 16
    Choi M, Kim HS, Chung SK, Ahn MJ, Yoo JY, Park OS, et al. Evidence-based practice for pain management for cancer patients in na acute care setting. Int J Nurs Pract. 2014;20(1):60-9.
  • 17
    Raymond V, Bak K, Kiteley C, Martelli-Reid L, Poling M, Cameron A, et al. Symptom management guide-to-practice: dyspnea. Canada: Cancer Care Ontario. 2010.
  • 18
    National Comprehensive Cancer Network. NCCN guidelines palliative care. Washington: National Comprehensive Cancer Network. 2011.
  • 19
    LeBlanc T, Abernethy A. Building the palliative care evidence base: lessons from a randomized controlled trial of oxygen vs. room air for refractory dyspnea. J Natl Compr Canc Netw. 2014;12(7):989-92.
  • 20
    Oncology Nursing Society. Putting evidence into pratice: Dyspnea. Pittsburgh: Oncology Nursing Society. 2012.
  • 21
    Farquhar MC, Prevost AT, McCrone P, Higginson IJ, Gray J, Brafman-Kennedy B, et al. Study protocol: Phase III single-blinded fast-track pragmatic randomised controlled trial of a complex intervention for breathlessness in advanced disease. Trials. 2011;12:130.
  • 22
    Doran D. Preface. In Doran D. (eds). Nursing-sensitive outcomes: state of the science. (pp. vii-ix). Suudbury, MA: Jones and Bartlett. 2003.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    30 Out 2016
  • Aceito
    27 Mar 2017
Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 937 cj 2, 04014-012 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 5904 3959, Fax: (55 11) 5904 2881 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: dor@dor.org.br