Resumos
Corrige-se e comenta-se resultado obtido em artigo publicado nesta revista sobre a atração entre carga elétrica e folha dielétrica – Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002). O caso de folhas condutoras também é discutido.
força eletrostática; carga elétrica; folha dielétrica
Results of an article published in this journal, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002), concerning the attraction between a charge and a dielectric foil are corrected and commented. The case of a conducting foil is also discussed.
electrostatic force; electric charge; dielectric foil
Introdução
No artigo “Carga em presença de folha dielétrica e a atração entre elas” [1[1] G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002).], usou-se o método das imagens para se obter a solução do problema eletrostático.Na Fig. 1 mostra-se a disposição entre elas, sendo h a distância da carga q ao plano médio da folha, de espessura s. (e não à superfície da folha como na Ref. [1[1] G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002).]). Na Fig. 2 mostram-se as cargas e dipolos imagens – com orientações convencionadas –, para as três regiões de continuidade do campo elétrico, com a notação em que as grandezas com linha estão abaixo da folha e os sub-índices designam a região a que se aplicam. A região I é aquela onde está colocada a carga q, a região II a do interior da folha, e a III é a livre, abaixo da folha. Para a região I usou-se, além da carga q, carga q″ simetricamente a q, (que resultou nula, e será ignorada aqui), e dipolo m′I em III, simulando a reação da folha. Para a região II, usou-se carga qii e dipolo mii na posição de q e carga q′II e dipolo m′II na posição simétrica, abaixo da folha. Finalmente, para a região III, carga q e dipolo mIII na posição de q. Impôs-se a seguir a continuidade do potencial e da componente normal do deslocamento elétrico nas interfaces da folha, sendo k a constante dielétrica da folha. Os termos referentes às cargas foram desenvolvidas até a ordem de s, obtendo-se na Ref. [1[1] G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002).], para as grandezas m′I, qII, mII, q′II, m′II e mIII, as equações Eqs. (25) a (28), com sua solução nas Eqs. (24) e (29), com a particularidade de fazer a força de atração finita para h tendendo a infinito (Eqs. (30) e (31) da Ref. [1[1] G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002).]). Porem, os momentos de dipolo resultantes não coincidiram com aqueles induzidos da solução de Smythe [2[2] W.R. Smythe, Static and Dynamic Electricity (McGraw Hill Book Co., New York, 1950), chap. 5.] para blocos dielétricos no limite em que suas espessuras se tornam desprezíveis em relação à distância da carga à folha. Mas neste caso, a força tende para infinito para k → ∞, para distâncias finitas, fato este fisicamente inaceitável, O artigo termina confessando não saber a razão da discrepância e implicitamente promovendo a solução obtida pelo método das imagens como a correta (porque finita).
Presentemente retomamos o problema e verificamos que a Eq. (26) do sistema na Ref. [1[1] G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002).] apresentava erro e o sistema a ser resolvido tornou-se então
com a confirmação dos valores das cargas, qII = q(k + 1)/2k, q′II = q(k − 1)/2 e qIII = q. Do sistema corrigido acima, resultaram os momentos de dipolo e dos quais mIII em especial coincide com aquele advindo do tratamento de Smythe [2[2] W.R. Smythe, Static and Dynamic Electricity (McGraw Hill Book Co., New York, 1950), chap. 5.], Eq. (33) na Ref. [1[1] G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002).]. Note-se que os dipolos na Fig. 2 devem ser revertidos e se anulam para k = 1. Com o valor de m′I negativo, obtém-se a força de atração F entre a carga e a folha, em vez do valor na Eq. (30) na Ref. [1[1] G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002).]. 2.Discutindo a aparente divergência da força de atração para k → ∞
E. Durand [3[3] E. Durand, Életrostatique (Masson Éditeurs, Paris, 1966), v. 3, p. 233.] no seu tratamento do mesmo problema, carga indutora-bloco dielétrico, dá explicitamente o valor do potencial, V′1, na região I. Com os símbolos das Figs. 1–2, em coordenadas cilíndricas, ρ e z, com origem no ponto simétrico de q (onde foi colocadoq′I) e exclusive da ação direta de q, esse potencial é dado por
em que J0 é a função de Bessel de ordem 0, e β = (k − 1)/(k + 1). Devemos recorrer ao tratamento analítico (de Durand ou Smythe) para avaliar a região de validade dos momentos de dipolo obtidos, em relação aos parâmetros do problema, em especial ao da constante dielétrica k, permitindo saber a aproximação com que foram calculados. Para simplificar, notemos logo que para o cálculo da força necessitamos apenas do potencial em pontos do eixo, o que nos permite impor ρ = 0 e assim J0(0) = 1 no integrando da Eq. (1). Façamos além disso a mudança de notaçãoCom isto, temos para V′1
Notemos ainda que a força e os momentos de dipolo calculados derivam da aproximação senhMS ≅ MS na Eq. (5) e e−2MS ≅ 1 e, por conseguinte, uma melhor aproximação seria e−2MS ≅ 1−2MS. Nesse caso temos
que depois das integrações pode ser escrito como em série alternada, com o primeiro termo correspondendo.ao do dipolo , Eq. (1), já calculado. Se nos restringimos a este termo de dipolo, o erro incorrido será da ordem do segundo termo, como propriedade das séries inteiras em (1/z) decrescentes alternadas. Assim, o momento de dipolo será representativo se for muito maior que o segundo, em z = 2h, posição da carga q, ou seja, e que para folhas finas e situações usuais em folhas de polímeros (espessuras da ordem de dezenas de micra e cargas a centímetros de distância), pequenos valores de β (ou k próximo a 1) satisfazem confortavelmente esta relação, mas não para valores β’s próximos de 1, isto é, para altas constantes dielétricas,.resolvendo-se assim o problema da divergência para os momentos de dipolo na Eq. (1).Por outro lado, obtém-se para β → 1 (folhas condutoras), diretamente da Eq. (2), que a reação da folha vem de uma carga −q colocada especularmente em relação á superfície mais próxima da folha (h − s/2 na Fig. 1), independentemente de sua espessura.
Agradecimentos
Agradecemos ao Prof. José Alberto Giacometti pela ajuda na preparação desta Nota e ao Luiz Nunes de Oliveira pelas muitas discussões proveitosas sobre o assunto, ajudas ambas, inestimáveis.
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Nota do EditorLamentamos registrar o falecimento do autor, ocorrido em São Carlos, no último dia 10 de janeiro. O professor Guilherme F. Leal Ferreira era um colaborador atuante da RBEF.
Referências
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[1]G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de Física 24, 285 (2002).
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[2]W.R. Smythe, Static and Dynamic Electricity (McGraw Hill Book Co., New York, 1950), chap. 5.
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[3]E. Durand, Életrostatique (Masson Éditeurs, Paris, 1966), v. 3, p. 233.
Figures
Carga q à distância h do ponto O do plano médio da folha dielétrica de constante k e espessura s (<< h). Pe P′’são pontos na superfície da folha para aplicação das condições de contorno. I, II e III são as regiões contínuas do potencial e campo elétrico onde agem cargas e dipolos convenientemente dispostos, como na Fig. 2.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
30 Mar 2015 -
Data do Fascículo
Jan-Mar 2015
Histórico
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Recebido
03 Set 2014 -
Aceito
16 Set 2014