Resumo
OBJETIVO
Produzir uma reflexão sobre a capacidade do diagrama V de integrar os conhecimentos teóricos-conceituais e metodológicos obtidos de sistemas, modelos e teorias complexas e não explicitamente identificáveis.
MÉTODOS
Estudo de reflexão com característica analítica.
RESULTADOS
Apresenta-se o diagrama V como um instrumento capaz de garantir uma análise integrada entre conhecimentos do domínio teórico-conceitual (visão de mundo e filosofia, teorias, princípios, constructos e conceitos) e a análise ou produção de conhecimentos metodológicos (registros de dados, transformações, asserções de conhecimento e asserções de valor). São usados exemplos relacionados ao Sistema Único de Saúde e atenção em Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas.
CONCLUSÕES
O diagrama V é um instrumento capaz de produzir uma análise integrada dos conhecimentos contidos em produções ligadas a modelos e teorias complexas e não explicitamente identificáveis como um modelo, teoria ou referencial teórico aplicando procedimentos dedutivos e indutivos.
Palavras-chave:
Modelos teóricos; Conhecimento; Pesquisa em enfermagem.
Resumen
OBJETIVO
Producir una reflexión sobre la capacidad del diagrama V de integrar los conocimientos teóricos-conceptuales y metodológicos obtenidos en los sistemas, modelos complejos y teorías que no se identifica de forma explícita.
MÉTODOS
Estudio de la reflexión con características analíticas.
RESULTADOS
Muestra el diagrama V como una herramienta para asegurar un análisis integrado de los conocimientos del dominio teórico y conceptual (visión del mundo y la filosofía, las teorías, principios, conceptos y construcciones) y el análisis de la producción de conocimientos metodológicos (registros de datos, transformaciones, afirmaciones de conocimiento y afirmaciones de valor). Utilizan ejemplos de el Sistema Único de Salud y atención en el Centro de Atención Psicosocial Alcohol y Drogas.
CONCLUSIONES
El diagrama V es un instrumento capaz de producir un análisis integrado de los conocimientos contenidos en las producciones relacionadas con complejos modelos y teorías, que no se identifican explícitamente como un modelo, teoría o marco teórico aplicando procedimientos deductivos e inductivos.
Palabras clave:
Modelos teóricos; Conocimiento; Investigacíon en enfermería.
Abstract
OBJECTIVE
To produce a reflection on the ability of the V diagram to integrate theoretical, conceptual, and methodological knowledge obtained from complex, non-explicitly identifiable systems, models, and theories.
METHODS
Reflection study with an analytical characteristic.
RESULTS
The V Diagram is presented as an instrument that can ensure an integrated analysis between theoretical and conceptual knowledge (worldview and philosophy, theories, principles, constructs, and concepts), and the analysis or production of methodological knowledge (data records, transformations, knowledge assertions, and value assertions). Examples are related to the Unified Health System (SUS), and care in Psychosocial Care Centers for Alcohol and Drugs.
CONCLUSIONS
V diagram is an instrument capable of producing an integrated analysis of the knowledge contained in productions linked to complex and non-explicitly identifiable models and theories as a theoretical model, theory or framework applying deductive and inductive procedures.
Keywords:
Models, theoretical; Knowledge; Nursing research
Introdução
É comum se associar o termo pesquisa exclusivamente a fatos e métodos. A dimensão dos fatos é útil, mas, não é suficiente para o desenvolvimento do conhecimento. A teoria tem a função de colocar os fatos e observações isoladas em inter-relações significantes(1:212).
A pesquisa em enfermagem é utilizada para criar e testar teorias sobre as experiências relacionadas a saúde de seres humanos em seus ambientes e sobre as ações e processos que os enfermeiros utilizam na prática, seguindo procedimento sistemático de investigação22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009.. Assim, a finalidade precípua da pesquisa em enfermagem, quiçá da pesquisa em saúde, seria a de produzir e de testar teorias22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009..
Parte-se da premissa de que usualmente as pesquisas seriam feitas para testar teorias (pela dedução) ou gerar teorias (pela indução). Assim, um nexo entre teoria e pesquisa seria estabelecido como condição essencial ao avanço do conhecimento. O termo usualmente frisa que outras pesquisas não possuem conexões teóricas (pesquisas isoladas das teorias)11. Chinn PL, Kramer MK. Knowledge development in nursing: theory and process. Elsevier Health Sciences; 2014.,33. McKenna H. Nursing theories and models. New York: Routledge; 2006., não se voltando a desenvolver, estender, examinar ou validar uma teoria11. Chinn PL, Kramer MK. Knowledge development in nursing: theory and process. Elsevier Health Sciences; 2014.. Mas a existência dessa condição mencionada para o último tipo de pesquisa é questionável.
As afirmativas da interdependência entre teoria e pesquisa fazem sentido apenas quando postas nas seguintes condições: conceito de teoria tem de ser amplo e deve haver estrito alinhamento entre teoria e dados empíricos ou evidências. Assim, a teoria é o agrupamento de proposições clara e logicamente inter-relacionadas para explicar fenômenos razoavelmente gerais, algumas dessas proposições são empiricamente falseáveis44. Breton E, Leeuw E. Theories of the policy process in health promotion research: a review. Health Promot Int. 2011;26(1):82-90. doi: http://dx.doi.org/10.1093/heapro/daq051.
http://dx.doi.org/10.1093/heapro/daq051...
. Um conjunto de conceitos relativamente concretos e específicos estão contidos na teoria, e por proposições (não relacionais) são descritos ou definidos. Incorpora proposições que estabelecem associações relativamente concretas e específicas entre dois ou mais conceitos22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009.. A teoria também é uma evidência frente a concepção de que a evidência é o que serve como prova22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009.. Mesmo que isto soe incomum diante da hegemonia empirista e supostamente ateórica da pesquisa em saúde, a evidência só é entendida como tal a partir de uma organização de conhecimentos que permite reconhecê-la como um traço da realidade. Desse modo na saúde baseada em evidência, a evidência deve ser aquilo que se deriva tanto da pesquisa quantitativa como da qualitativa55. Campos GWS, Onocko-Campos RT, Del Barrio LR. [Policies and practices in mental health: the evidence in question]. Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(10):2797-2805. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013001000002. Portugese.
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013...
e deve ter uma relação inextricável com a teoria(6).
A dimensão teórica sempre está na pesquisa, podendo se afirmar que não há pesquisa sem teoria(s)77. Harriss C. Why research without theory is not research: a reply to Seymour, Crook and Rooke. Constr Manag Econ. 1998 Jan;16(1):113-6. ou que a pesquisa empírica sem teoria é cega(8:774-5). Por outro lado, é vazia a teoria sem intenção de produzir a conexão com a pesquisa(8:774-5).
Tendo que é vital conectar teoria-pesquisa, mas também que nem sempre essa conexão é fácil ou discernível, surge a pergunta: como analisar de forma integrada os conhecimentos teóricos-conceituais e metodológicos de produções ligadas a sistemas complexos?
O presente artigo tem como objetivo produzir uma reflexão sobre a capacidade do diagrama V de integrar os conhecimentos teóricos-conceituais e metodológicos obtidos de sistemas, modelos e teorias complexas e não explicitamente identificáveis.
Ilustra-se o uso do diagrama V com exemplos do Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS) e a atenção nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), notadamente um sistema complexo com referencial teórico não comumente explicitado.
O diagrama V: conceitos e finalidades
O diagrama V foi concebido para se reconhecer a complexidade e a simplicidade básica do processo de construção do conhecimento. Deriva da teoria educacional de Gowin elaborada para encontrar sentido nos eventos educacionais99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005. e da aprendizagem significativa1010. Silva CC, Oliveira AKS, Egry EY, Lima Neto EA, Anjos UU, Silva ATMC. Constructing a Gowin’s V diagram to analyze academic work in nursing. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(3):709-13. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420130000300026.
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342013...
-1111. Sousa ATO, Formiga NS, Oliveira SHS, Costa MML, Soares MJGO. Using the theory of meaningful learning in nursing education. Rev Bras Enferm 2015;68(4):713-22. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680420i.
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015...
.
Os diagramas V são usados para iniciar, conduzir e finalizar pesquisas científicas e avaliar documentos, programas ou trabalhos99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005.. Tendo um formato em “V”, o diagrama dispõe à esquerda elementos teóricos-conceituais e á direita elementos metodológicos (Figura 1).
A interação entre os lados do diagrama é recíproca e incentivada pela produção de uma pergunta foco ou pergunta de pesquisa (centro do V). O diagrama reconhece a centralidade de conceitos e proposições na estrutura do conhecimento99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005., assim, a teórico-conceitual torna-se indissociável e integrado ao campo empírico da pesquisa científica.
É premissa do diagrama o fato dos pesquisadores traçarem perguntas de pesquisa e interpretarem dados influenciados por visões conceituais, filosofias, teorias e perspectivas teóricas99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005.. Desse modo, o diagrama V afastaria a noção inadequada da prática baseada em evidência como uma “ditadura dos fatos” e de que esses falariam por si mesmos. A própria descrição de um fenômeno como aspecto da realidade com o objetivo de produzir uma definição1212. Kim HS. The nature of theoretical thinking in nursing. 3rd ed. Danvers: Springer Publishing Company; 2010. já representa um empreendimento intelectual relacionado a uma ou mais teorias.
As três finalidades dos diagramas são: planejar um projeto de pesquisa, analisar um artigo ou documento, ou funcionar como uma ferramenta de ensino e aprendizado99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005..
A integração de conhecimentos do diagrama V e ilustração de uso
De início, se define os tipos de conhecimentos a se acessar ou analisar. Para o filósofo Charles Peirce os métodos de conhecer22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009. são: tenacidade, autoridade, a priori, teoria.
A tenacidade ou tradição refere-se ao conhecimento das opiniões pessoais que são persistentes, as que pessoas creem ser verdade pois sempre as conheceram como verdadeiras22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009.. O desafio ao lidar com conhecimentos da tenacidade é que as tradições estão dispersas em saberes que em muito não dão espaço a opiniões contraditórias, não oferecendo elementos para que se decida qual seria o melhor posicionamento em opiniões conflitantes22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009..
A autoridade refere-se ao método de conhecer relacionado a fontes altamente respeitáveis, como livros, artigos, opiniões de peritos, leis, regras, normas, diretrizes22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009.. O conhecimento produzido por fontes de autoridade se baseiam em conhecimentos sujeitos a imprecisões e mudanças que são características da mudança social e do avanço científico.
O conhecimento a priori , intuição ou senso comum relaciona-se a verdade que seria óbvia, com natureza auto evidente, sendo muitas vezes produzido da tentativa e erro ou de experiências clínicas não sistematizadas22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009.. Se produz nas interações e experiências cotidianas.
Por fim, a teoria (ciência) é o melhor método para obter evidência, sendo mais autocorretivo e confiável. A confiabilidade apoia-se na sistematização e na exigência de se considerar alternativas. O cientista não deve supor estar tão certo de seus resultados. A pesquisa produz teoria apenas como melhor evidência disponível na atualidade22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009..
Assim, uma análise teorizante do SUS pode exigir os quatro métodos de conhecer, tornando o diagrama V a melhor escolha frente a outras metodologias. Por exemplo: os princípios do SUS são verdades pela tradição; leis, portarias, normativas, protocolos e manuais dispõem conhecimentos de autoridade; na assistência à saúde emergem conhecimentos a priori de senso comum; e os conhecimentos teóricos estão em múltiplas dimensões e fontes no SUS como os principais elementos que o sustentam como um modelo.
Por exemplo, a revisão integrativa enfrentaria limites com os quatro métodos de conhecer. Ela pode incorporar estudos experimentais e não experimentais; combinar literatura teórica e empírica; ser usada com conceitos, revisar teorias e evidências e analisar questões metodológicas1313. Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. J Adv Nurs 2005;52(5):546-53. doi: http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2648.2005.03621.x
http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2648.20...
. Porém, para uma análise do SUS nos moldes propostos, a revisão integrativa, mesmo com seu valor metodológico, seria limitada pelo critério de qualidade dos dados ao ter de lidar com conhecimentos de autoridade, a priori e da tradição. Ao contrário, a arquitetura integrativa de domínios teórico-conceitual e metodológico do “V” e sua intenção de abordar a complexidade pode requerer e aceitar a inclusão dos métodos de conhecer.
A aplicação propriamente dita do diagrama V começa pela seleção do evento. Evento é algo que tenha acontecido, está ocorrendo ou poderá ocorrer, podendo ser produzido pela ação humana ou não99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005.. O evento também pode ser entendido como fato ou fenômeno. É o objeto de investigação do que se deseja apreender e construir conhecimentos. No âmbito do SUS há uma infinidade de eventos como por exemplo: atenção à saúde, o cuidado de enfermagem, participação popular, controle social, aplicação de um protocolo específico de atenção, dentre outros. Para a ilustração deste artigo, o evento será o atendimento ao usuário no CAPS AD.
Delineado o evento, parte-se para a definição da questão de pesquisa ou questão foco que deve ter compatibilidade com o evento (objeto de investigação). Ela poderia ser: Como se dá o atendimento de enfermagem ao usuário no CAPS AD considerando as características do SUS?
Os critérios de definição e recorte da pergunta seguem os das demais perguntas de pesquisa e se voltam tanto a incentivar o espírito inquisidor do cientista quanto ampliar a sua visão do evento, podendo aumentar a precisão e clareza do evento a ser investigado99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005..
Partindo do lado esquerdo do V analisa-se a visão de mundo que orienta a investigação da questão de pesquisa. No diagrama V, a visão de mundo e a filosofia são apresentadas em separado. Porém, os termos podem ser usados com a mesma semântica de expressar as crenças, visões e perspectivas. Na enfermagem é comum se observar a junção22. Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009..
A filosofia do SUS, articulada a visão da seguridade social, requer abordagem orientada pela filosofia contemporânea da pós-modernidade, que caracteriza-se por aceitar o pluralismo de ideias; reconhece múltiplos modos de conhecer e interpretar a realidade; e incorpora a relevância da análise contextual, política e estrutural nas investigações científicas1414. McEwen M, Wills EM. Theoretical basis for nursing. 4th ed. Philadelphia: LWW; 2014..
O próximo elemento no V é a teoria, ou seja, um conhecimento organizado sistematicamente, um sistema de suposições, de princípios aceitos e de regras e procedimentos estando voltada a analisar, predizer e explicar fenômenos ou eventos99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005..
No SUS existem diversas teorias que guardam relação com o sistema em si, com usuários, profissionais, tecnologias e recursos. Em uma compreensão mais abrangente a própria conexão e organização dos conceitos do SUS poderia formar uma teoria.
Diante do risco de dispersão se propõe identificar, analisar e refletir as teorias a partir das filosofias do SUS e orientando-se para o evento. Por exemplo, a Lei 8.080 do Sistema Único de Saúde1515. Presidência da República (BR). Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências [Internet]. Brasília; 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei...
fornece uma base [filosófica e modelar] para se depreender suposições e princípios que facilitam a localização de teoria(s) imersa(s) nos documentos do SUS.
Os princípios são afirmações escritas sobre a regularidade de eventos, sendo abstraídos e derivados de posições estabelecidas a priori sobre a regularidade presente nos eventos99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005.. Combinam posições de conhecimento e valores99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005.. No SUS estão no artigo 7º da Lei 8.0801515. Presidência da República (BR). Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências [Internet]. Brasília; 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei...
.
Os constructos são criações conceituais que ligam os conceitos, e não especificam regularidade nos eventos, sendo ideias que não possuem um significado operacional99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005.. São conceitos mais complexos e usualmente elaborado por teóricos ou filósofos(14:27). No âmbito do SUS e no CAPS AD, são exemplos de constructo: a humanização e a singularidade. As teorias de enfermagem, especialmente as grandes teorias, possuem constructos passíveis de alinhamento semântico com os do sistema de saúde como um todo.
Os conceitos são as ideias referente aos fenômenos99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005. ou componentes de um fenômeno necessários ao seu entendimento(14:27). São adotados para nomear coisas, eventos, ideias e outras realidades1212. Kim HS. The nature of theoretical thinking in nursing. 3rd ed. Danvers: Springer Publishing Company; 2010.. São essenciais às teorias atuando como os blocos da estrutura.
A seleção de conceitos depende do evento. Para o atendimento de enfermagem ao usuário no CAPS AD, os conceitos correlatos e harmônicos com ele e com os demais elementos teórico-conceituais, são: contratualidade, vínculo, lateralidade e projeto terapêutico singular.
O avanço pelo caminho metodológico (a direita) dar-se-á de baixo para cima com raciocínio indutivo, sendo também orientado do que emergiu do domínio teórico-conceitual.
O primeiro elemento do domínio metodológico são os registros. São todos os dados de instrumentais que monitoram ou de técnicas de estudo do evento. No CAPS AD os registros podem ser construídos em um Projeto Terapêutico Singular e no processo de enfermagem.
As transformações são os julgamentos dos registros e, portanto, representam aquilo que se pensa ou postula sobre o evento. Elas produzem novas definições a partir do conhecimento do evento, resignificando os dados registrados, coletando novos dados e pensamentos. As transformações podem variar de um parágrafo até um paradigma99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005..
As asserções de conhecimento são as respostas a questão foco. Assim há que se retornar aos conceitos, evento, registros, transformações99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005. (e aos demais elementos do domínio teórico-conceitual). Um exemplo seria: A atenção ao usuário no CAPS AD deve ser orientada pela visão sistêmica e complexa, respeitando os princípios de integralidade e equidade e almejando a criação e manutenção do vínculo.
Por fim, as asserções de valor abordam a contribuição das asserções de conhecimento ou são afirmativas do campo dos valores. Elas negam o pensamento de alguns cientistas de que as asserções de valor não teriam lugar na ciência99. Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005.. Um exemplo mais geral: a ação multidisciplinar no CAPS AD atinge a sua máxima utilidade quando claramente orientada por filosofias, teorias, princípios, constructos e conceitos contidos no Sistema Único de Saúde. No campo da enfermagem, uma afirmação de valor poderia postular que “o atendimento pela enfermagem incorpora o reconhecimento da profissão como corresponsável pela garantia da participação de comunidade no sistema de saúde”.
Conclusão
Conclui-se que o diagrama V, usando de procedimentos dedutivos e indutivos, é capaz de produzir uma análise integrada dos conhecimentos contidos em produções ligadas a modelos e teorias complexas não explicitamente identificáveis. Funciona como ferramenta para o “desempacotamento” de teorias implícitas, como no modelo do SUS, com isso garantindo a análise e compreensão da produção do conhecimento como a resultante da interação entre o domínio teórico conceitual e o metodológico do conhecimento.
Por sua natureza de integração, o diagrama V pode subsidiar a pesquisa de enfermagem com base em teorias e modelos teóricos disciplinares. O limite do presente estudo está na ausência de verificação experimental da proposta.
Referências
-
1Chinn PL, Kramer MK. Knowledge development in nursing: theory and process. Elsevier Health Sciences; 2014.
-
2Fawcett J, Garity J. Evaluating research for evidence-based nursing practice. Philadelphia: F.A. Davis; 2009.
-
3McKenna H. Nursing theories and models. New York: Routledge; 2006.
-
4Breton E, Leeuw E. Theories of the policy process in health promotion research: a review. Health Promot Int. 2011;26(1):82-90. doi: http://dx.doi.org/10.1093/heapro/daq051
» http://dx.doi.org/10.1093/heapro/daq051 -
5Campos GWS, Onocko-Campos RT, Del Barrio LR. [Policies and practices in mental health: the evidence in question]. Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(10):2797-2805. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013001000002 Portugese.
» http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013001000002 -
6Fawcett J, Watson J, Neuman B, Walker PH, Fitzpatrick JJ. On nursing theories and evidence. J Nurs Scholarsh. 2001;33(2):115-9.
-
7Harriss C. Why research without theory is not research: a reply to Seymour, Crook and Rooke. Constr Manag Econ. 1998 Jan;16(1):113-6.
-
8Bourdieu P. Vive la Crise!: for heterodoxy in social science. Theory Soc. 1988;17(5):773-87.
-
9Gowin B, Alvarez M. The art of educating with V diagrams. 1st ed. New York: Cambridge University Press; 2005.
-
10Silva CC, Oliveira AKS, Egry EY, Lima Neto EA, Anjos UU, Silva ATMC. Constructing a Gowin’s V diagram to analyze academic work in nursing. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(3):709-13. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420130000300026
» http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420130000300026 -
11Sousa ATO, Formiga NS, Oliveira SHS, Costa MML, Soares MJGO. Using the theory of meaningful learning in nursing education. Rev Bras Enferm 2015;68(4):713-22. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680420i
» http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680420i -
12Kim HS. The nature of theoretical thinking in nursing. 3rd ed. Danvers: Springer Publishing Company; 2010.
-
13Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. J Adv Nurs 2005;52(5):546-53. doi: http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2648.2005.03621.x
» http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2648.2005.03621.x -
14McEwen M, Wills EM. Theoretical basis for nursing. 4th ed. Philadelphia: LWW; 2014.
-
15Presidência da República (BR). Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências [Internet]. Brasília; 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm
» http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
02 Jul 2018 -
Data do Fascículo
2018
Histórico
-
Recebido
20 Jan 2017 -
Aceito
19 Set 2017