RESUMO
Objetivo:
identificar a prevalência e fatores associados à violência no namoro entre adolescentes escolares.
Método:
estudo quantitativo, descritivo, transversal, realizado em uma escola pública estadual, no Recife, Pernambuco, em agosto de 2018, com 270 adolescentes, entre 12 e 9 anos, do ensino fundamental e médio. Aplicou-se formulário com questões sobre a caracterização dos adolescentes e vivência de relações no namoro, como também o Inventário de Conflitos nos Relacionamentos Íntimos de Adolescentes. Utilizou-se o teste Qui-quadrado de Pearson ou o teste exato de Fisher para análise estatística.
Resultados:
as prevalências de vitimização física, sexual e psicológica foram 31,9%, 36,4% e 81,8%, respectivamente. Identificou-se associação entre a filiação religiosa (p=0,002), orientação sexual dos participantes (p=0,027), escolaridade dos pais (p=0,015) e a vitimização física no namoro.
Conclusão:
aspectos individuais e contextuais relacionados à violência no namoro entre adolescentes implicam na necessidade do envolvimento da enfermeira escolar em intervenções intersetoriais e interdisciplinares em saúde.
Palavras-chave:
Adolescente; Violência por parceiro íntimo; Serviços de enfermagem escolar
ABSTRACT
Objective
Identify the prevalence and factors associated with dating violence among school adolescents.
Method
Quantitative, descriptive, cross-sectional study, conducted in a state public school in Recife, Pernambuco, in August 2018, with 270 adolescents, aged between 12 and 19 years, from middle and high school. A form was applied with questions about the characterization of the adolescents, the experience of dating relationships, and the Conflict in Adolescent Dating Relationships Inventory. Pearson’s chi-square test or Fisher’s exact test was used for statistical analysis.
Results
The prevalence of physical, sexual, and psychological victimization was 31.9%, 36.4% and 81.8%, respectively. An association was identified between religious affiliation (p = 0.002), sexual orientation of the participants (p = 0.027), and parents’ education (p = 0.015) and physical victimization during dating.
Conclusion
Individual and contextual aspects related to dating violence among adolescents imply the need for the involvement of the school nurse in intersectoral and interdisciplinary health interventions.
Keywords
Adolescent; Intimate partner violence; School nursing.
RESUMEN
Objetivo
Identificar prevalencia y factores asociados a la violencia en el noviazgo entre adolescentes escolares.
Método
Estudio cuantitativo, descriptivo, transversal, realizado en una escuela pública estatal, en Recife, Pernambuco, en agosto de 2018, con 270 adolescentes, con edades comprendidas entre 12 y 19 años, de primaria y secundaria. Se aplicó un formulario con preguntas sobre la caracterización de los adolescentes, la experiencia de las relaciones amorosas y el Inventario de conflictos en las relaciones íntimas de los adolescentes. Para el análisis estadístico se utilizó la prueba de chi-cuadrado de Pearson o la prueba exacta de Fisher.
Resultados
La prevalencia de victimización física, sexual y psicológica fue de 31,9%; 36,4% y 81,8%, respectivamente. Se identificó una asociación entre afiliación religiosa (p = 0,002), orientación sexual de los participantes (p = 0,027) y educación de los padres (p = 0,015) con la victimización física durante el noviazgo.
Conclusión
Los aspectos individuales y contextuales relacionados con la violencia en el noviazgo entre adolescentes implican la necesidad de la participación de la enfermera escolar en intervenciones de salud intersectoriales e interdisciplinarias.
Palabras clave
Adolescente; Violencia de pareja; Servicios de enfermería escolar.
INTRODUÇÃO
A violência no namoro entre adolescentes, tema recente na literatura científica, é definida como um comportamento de dominação, controle ou restrição à autonomia do parceiro/namorado. Pode manifestar-se por meio de abusos físicos, sexuais, psíquicos, verbais, relacionais, morais e até mesmo simbólicos, que possam provocar sofrimento, dano ou até a morte das vítimas1Pérez-Marco A, Soares P, Davó-Blanes MC, Vives-Cases C. Identifying types of dating violence and protective factors among adolescents in spain: A qualitative analysis of lights4violence materials. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(7):2443. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph17072443
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. Há uma manifestação global no intuito de entender os fatores que influenciam o comportamento violento nas relações de namoro entre os adolescentes, combater esse tipo de violência e destacar a necessidade de abordar precocemente intervenções que venham romper com a naturalização do fenômeno e promover relações mais saudáveis2Kidman R, Kohler HP. Emerging partner violence among young adolescents in a low-income country: perpetration, victimization and adversity. PLoS One. 2020;15(3):e0230085. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0230085
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,3Hossain M, Sultana A, Fan Q, Ping M, Purohit N. Prevalence and determinants of dating violence: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses. SocArXiv Preprint. 2020. doi: https://doi.org/10.31235/osf.io/n6hsk
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.
Uma meta-análise com mais de 100 estudos encontrou uma diversidade de taxas de prevalência de violência nas relações de namoro, com percentual máximo de 61% para os abusos físicos e 54% para os abusos sexuais4Wincentak K, Connolly J, Card N. Teen dating violence: a meta-analytic review of prevalence rates. Psychol Violence. 2017;7(2):224-41. doi: https://doi.org/10.1037/a0040194
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. Outro estudo de revisão igualmente identificou taxas elevadas de violência psicológica com prevalência de até 97% entre adolescentes e jovens adultos3Hossain M, Sultana A, Fan Q, Ping M, Purohit N. Prevalence and determinants of dating violence: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses. SocArXiv Preprint. 2020. doi: https://doi.org/10.31235/osf.io/n6hsk
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. A violência no namoro, assim como outras formas de violência por parceiro íntimo, está presente em todas as classes sociais e etnias, independente de orientação sexual, e sofre influência de fatores culturais, sociais, familiares e individuais dos adolescentes, com destaque as iniquidades de gênero, viver em ambiente legitimador da violência e/ou sexista, ter sofrido violência na infância ou ter vivido violência doméstica5Gracia-Leiva M, Puente-Martínez A, Ubillos-Landa S, Páez-Rovira D. Dating violence (DV): a systematic meta-analysis review. An Psicol. 2019;35(2):300-13. doi: https://doi.org/10.6018/analesps.35.2.333101
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Para maior entendimento da violência nas relações de namoro, emerge um embasamento teórico na concepção ecológica, que compreende esse fenômeno a partir de um olhar ampliado e que envolve fatores de risco individuais, relacionais, comunitários e sociais. São exemplos das condições que influenciam essa problemática as atitudes, crenças e comportamentos sociais de cada indivíduo, a exemplo das construções sociais de masculinidade e feminilidade e as normas de gênero que favorecem a violência nas relações afetivas. Outros fatores abrangem o contexto de inserção do adolescente e de suas relações interpessoais, como a família, comunidade, os aspectos culturais, políticos e econômicos que podem validar a violência entre os pares como algo natural na sociedade6Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Proteger e cuidar da saúde dos adolescentes atenção básica Internet. 2. ed. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2018 2021 Jun 4 . Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica_2ed.pdf
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,7Miller E, Jones KA, McCauley HL. Updates on adolescent dating and sexual violence prevention and intervention. Curr Opin Pediatr. 2018;30(4):466-71. doi: https://doi.org/10.1097/MOP.0000000000000637
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Entre os impactos desencadeados pela violência no namoro, aos adolescentes, relatam-se distúrbios psíquicos, como depressão, pânico, transtornos alimentares; consumo nocivo de substâncias psicoativas; prejuízos ao rendimento escolar/desenvolvimento cognitivo e o absenteísmo escolar. A exposição a essa forma de abuso interpessoal também amplia o risco para aquisição de infecções sexualmente transmissíveis, gravidez não planejada e abortamento1Pérez-Marco A, Soares P, Davó-Blanes MC, Vives-Cases C. Identifying types of dating violence and protective factors among adolescents in spain: A qualitative analysis of lights4violence materials. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(7):2443. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph17072443
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,3Hossain M, Sultana A, Fan Q, Ping M, Purohit N. Prevalence and determinants of dating violence: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses. SocArXiv Preprint. 2020. doi: https://doi.org/10.31235/osf.io/n6hsk
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,4Wincentak K, Connolly J, Card N. Teen dating violence: a meta-analytic review of prevalence rates. Psychol Violence. 2017;7(2):224-41. doi: https://doi.org/10.1037/a0040194
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, configurando o fenômeno como um obstáculo importante ao desenvolvimento integral dos adolescentes, vítimas e perpetradores, visto que apresenta consequências em curto e longo prazo.
Por sua magnitude a violência no namoro é caracterizada como um problema de saúde pública e de interesse científico, uma vez que os danos causados ao crescimento e desenvolvimento dos adolescentes, vítimas e/ou perpetradores, em curto ou longo prazo, interferem no seu projeto de vida futura e causam ônus aos serviços de saúde e seguridade social2Kidman R, Kohler HP. Emerging partner violence among young adolescents in a low-income country: perpetration, victimization and adversity. PLoS One. 2020;15(3):e0230085. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0230085
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,4Wincentak K, Connolly J, Card N. Teen dating violence: a meta-analytic review of prevalence rates. Psychol Violence. 2017;7(2):224-41. doi: https://doi.org/10.1037/a0040194
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,8Jennings WG, Okeem C, Piquero AR, Sellers CS, Theobald D, Farrington DP. Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: evidence from a systematic review. Aggress Violent Behav. 2017;33:107-25. doi: http://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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. Portanto, estudar os fatores relacionados ao fenômeno pode ajudar na efetivação de projetos e programas, principalmente no contexto escolar, visando às estratégias para seu enfrentamento5Gracia-Leiva M, Puente-Martínez A, Ubillos-Landa S, Páez-Rovira D. Dating violence (DV): a systematic meta-analysis review. An Psicol. 2019;35(2):300-13. doi: https://doi.org/10.6018/analesps.35.2.333101
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Cabe ressaltar a importância da escola como arena promotora na construção de conhecimentos, competências e habilidades para o exercício da cidadania e estabelecimento de relações sociais ancoradas na cultura de paz6Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Proteger e cuidar da saúde dos adolescentes atenção básica Internet. 2. ed. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2018 2021 Jun 4 . Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica_2ed.pdf
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,7Miller E, Jones KA, McCauley HL. Updates on adolescent dating and sexual violence prevention and intervention. Curr Opin Pediatr. 2018;30(4):466-71. doi: https://doi.org/10.1097/MOP.0000000000000637
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. Evidências apontam a necessidade de considerar a escola como lócus de intensa socialização e vivência dos primeiros relacionamentos afetivos, por exemplo, as relações de namoro, que podem ser marcadas pela violência9Mori FMLV, Edquen SB, Espinoza ZEL, Salazar RS. Competencies of the nurse in educational institutions: a look from educational managers. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e2017-0152. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.2017-0152
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,10Exner-Cortens D, Baker E, Craig W. The national prevalence of adolescent dating violence in Canada. J Adolesc Heal. 2021;69(3):495-502. doi: https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2021.01.032
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. Emerge o entendimento desse cenário como profícuo para que as enfermeiras escolares desenvolvam ações intersetoriais com os profissionais da educação9Mori FMLV, Edquen SB, Espinoza ZEL, Salazar RS. Competencies of the nurse in educational institutions: a look from educational managers. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e2017-0152. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2018.2017-0152
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visando à elucidação dos fatores que influenciam o fenômeno para a elaboração coletiva de estratégias que promovam atitudes não violentas nas relações de conflitos1Pérez-Marco A, Soares P, Davó-Blanes MC, Vives-Cases C. Identifying types of dating violence and protective factors among adolescents in spain: A qualitative analysis of lights4violence materials. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(7):2443. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph17072443
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,7Miller E, Jones KA, McCauley HL. Updates on adolescent dating and sexual violence prevention and intervention. Curr Opin Pediatr. 2018;30(4):466-71. doi: https://doi.org/10.1097/MOP.0000000000000637
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,8Jennings WG, Okeem C, Piquero AR, Sellers CS, Theobald D, Farrington DP. Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: evidence from a systematic review. Aggress Violent Behav. 2017;33:107-25. doi: http://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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. Tal premissa conduz à formulação da seguinte pergunta de pesquisa: qual a prevalência e os fatores associados à violência no namoro entre adolescentes escolares de escola pública? Destarte, o objetivo deste estudo foi identificar a prevalência e fatores associados à violência no namoro entre adolescentes escolares.
MÉTODO
Estudo quantitativo, descritivo de corte transversal, que utilizou as diretrizes para estudos observacionais do Strengthening the Reporting of Observational Syudies (STROBE), desenvolvido em uma escola pública que está inserida em uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) na região norte do Recife. O educandário é gerenciado pela Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco e matriculou cerca de 1300 estudantes no ano de 2018, distribuídos entre o ensino fundamental II, ensino médio e educação de jovens e adultos. Quanto à infraestrutura, a escola dispõe de 46 professores, 13 salas de aula, biblioteca, sala de informática, refeitório e quadra não coberta.
A população foi composta pelos estudantes matriculados no 8º e 9º anos do ensino fundamental II e no 1º ano do ensino médio, em 2018, com 140, 121 e 135 estudantes, respectivamente, totalizando uma população de 396 adolescentes. A amostra foi do tipo não probabilística e intencional, composta por adolescentes que frequentam o 8º e 9º anos do ensino fundamental II e o 1º ano do ensino médio, em 2018.
Incluíram-se adolescentes matriculados, que frequentavam as aulas, com idade entre 12 e 19 anos. A determinação quanto à faixa etária considerou ser nesse período da vida que acontecem as primeiras relações de namoro, cada vez mais precoces, concorrendo para as situações de vulnerabilidade10Exner-Cortens D, Baker E, Craig W. The national prevalence of adolescent dating violence in Canada. J Adolesc Heal. 2021;69(3):495-502. doi: https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2021.01.032
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. O critério de exclusão foi a presença de alguma deficiência física ou intelectual que limitasse o autopreenchimento do instrumento de coleta de dados, entretanto não foram identificadas tais situações. Perdas ocorreram devido a afastamento por doença, abandono escolar e solicitação de transferência.
A coleta de dados ocorreu em agosto de 2018 mediante a aplicação de um formulário estruturado e autoaplicável, nas salas de aula do educandário, após o consentimento do adolescente e representante legal. O instrumento de coleta de dados foi composto por questões referentes à caracterização dos participantes (idade, sexo, religião, renda familiar, escolaridade do pai e da mãe e orientação sexual do adolescente), à vivência de relações de namoro (status e tempo de relacionamento, frequência de conflitos entre o casal), além do Conflict in Adolescent Dating Relationships Inventory (CADRI) (11Wolfe DA, Scott K, Reitzel-Jaffe D, Wekerle C, Grasley C, Straatman AL. Development and validation of the conflict in adolescent dating relationships inventory. Psychol Assess. 2001;13(2):277-93. doi: https://doi.org/10.1037/1040-3590.13.2.277
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O CADRI é uma escala tipo likert que contém 70 questões, organizadas em duas dimensões, com 35 itens cada, que avaliam duas dimensões relacionadas à violência física, sexual e psicológica nas relações de namoro: 1. Perpetração ou não perpetração da violência pelo respondente por meio da utilização de estratégias de resolução de conflitos abusivas ou não abusivas; 2. Vitimização ou não vitimização do respondente a partir das estratégias de resolução de conflitos abusivas ou não abusivas adotadas pelo(a) namorado(a) ou pessoa com quem se relaciona11Wolfe DA, Scott K, Reitzel-Jaffe D, Wekerle C, Grasley C, Straatman AL. Development and validation of the conflict in adolescent dating relationships inventory. Psychol Assess. 2001;13(2):277-93. doi: https://doi.org/10.1037/1040-3590.13.2.277
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. O alfa de Cronbach do CADRI para a população-alvo deste estudo foi igual a 0,789 para violência perpetrada e 0,765 para violência sofrida.
Para caracterização dos participantes, realizaram-se as frequências relativas e absolutas das variáveis qualitativas e, para as variáveis quantitativas, utilizaram-se médias e medianas e desvios-padrão para indicar a variabilidade dos dados. O teste Qui-quadrado de Pearson ou o teste exato de Fisher foi utilizado para a comparação da vitimização e perpetração com as variáveis qualitativas dicotômicas (como sexo). O nível de significância assumido foi de 5%.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco sob o CAAE n° 86910218.8.0000.5208 e parecer 2.581.545, obedecendo à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que regulamenta a pesquisa com seres humanos no Brasil.
RESULTADOS
Responderam à pesquisa 270 adolescentes que cursavam o 8º ano (37,8%) e 9º anos (31,1%) do ensino fundamental II e 1º ano (31,1%) do ensino médio do educandário participante do estudo. A idade dos estudantes variou entre 12 e 19 anos, com média de 14,9 anos (DP=1,3). Houve predomínio do sexo feminino (53,5%), adolescentes pardos (42,6%) e negros (30,7); 57,8% eram adeptos a uma religião, com maioria composta por evangélicos/protestantes (82,4%) e católicos (16,5%).
Sobre o perfil socioeconômico, verificaram-se a escolaridade do pai e mãe e a renda familiar. A maior parte dos adolescentes, 26,3%, não soube informar a escolaridade do pai/responsável; outros 20,7% afirmaram que o pai/responsável havia cursado o ensino fundamental incompleto, seguido de ensino médio completo (17,4%). Quanto à escolaridade materna, 25,2% dos participantes responderam que a mãe ou substituta não havia concluído o ensino fundamental, seguido do ensino médio completo (21,9%). A renda familiar média foi de até 1 salário mínimo para 51,9% dos adolescentes e 50,7% responderam que sua/seu responsável recebia o benefício do Programa Social Bolsa Família.
Em relação às relações de namoro, 225 (83,3%) adolescentes responderam que já haviam ficado ou namorado e 42,7% estavam vivenciando o relacionamento no momento da coleta de dados. Houve predomínio de envolvimentos com duração inferior a 1 mês (48,0%), seguido de 1 mês a 11 meses (28,9%).
Dentre os 225 participantes que responderam ao CADRI, 213 e 210 adolescentes preencheram as subescalas relacionadas às dimensões de vitimização e de perpetração da violência física no namoro, respectivamente. Destes, 31,9% (68/213) foram vítimas desse tipo de abuso e 37,6% (79/210) se autodeclararam perpetradores. No que se refere à violência sexual, houve completude de 214 e 211 formulários, respectivamente, para vitimização e perpetração. Constatou-se que 36,4% (78/214) foram envolvidos na condição de vítimas e 30,8% (65/211) como perpetradores dessa forma de violência. Quanto à violência psicológica, 81,8% (166/203) foram categorizados como vítimas e 86,2% (175/203) como perpetradores.
Na Tabela 1, observa-se a distribuição da violência física, sexual e psicológica segundo as características sociodemográficas dos adolescentes. A média de idade dos participantes que sofreram abusos físicos, sexuais e psicológicos nas relações de namoro foi, respectivamente, 15 anos, 15 anos e 15,1 anos. O sexo masculino apresentou maior percentual de vitimização física (52,9%), enquanto o sexo feminino sofreu mais agressões sexuais (52,5%) e psicológicas (55,4%).
Identificou-se associação (p=0,002) entre a filiação religiosa dos participantes e a vitimização física nas relações de namoro (Tabela1). Os adolescentes com alguma filiação religiosa foram maioria (66,7%) entre os que não haviam sofrido abusos físicos praticados por seus(suas) namorados(as), enquanto o maior percentual de vítimas (56,3%) foi observado entre aqueles que não possuíam religião. Também se observou maior percentual de participantes religiosos entre os adolescentes não vitimizados por abusos sexuais (61,8%) e psicológicos (67,6%) em suas relações de namoro. Não se evidenciou associação estatística entre a renda familiar e a vitimização física, sexual e psicológica dos adolescentes em suas relações de namoro, sendo identificado maior percentual de vítimas entre os participantes com renda familiar de até 1 salário mínimo, quando comparados com o grupo que apresentava renda superior a 1 salário mínimo (Tabela 1).
A escolaridade do pai esteve associada (p=0,015) à vitimização física dos adolescentes nas relações de namoro (Tabela 1). Identificou-se maior percentual de participantes não expostos a abusos físicos quando o pai havia concluído o ensino fundamental (36,7%), seguido do ensino fundamental incompleto (34,7%). Houve maior percentual de adolescentes vítimas da violência física quando a escolaridade do pai foi equivalente ao ensino médio completo ou mais (45,8%). Em relação à violência sexual e psicológica, constatou-se maior ocorrência de adolescentes não expostos e expostos a ambas as formas de abusos quando a escolaridade do pai foi até o ensino fundamental incompleto.
No que tange à escolaridade materna (Tabela 1), observaram-se taxas mais elevadas de adolescentes que informaram não ter sofrido violência física e sexual, respectivamente, entre aqueles cuja mãe tinha concluído o ensino médio (34,5%) e com ensino fundamental incompleto (41,1%). Houve maior ocorrência de vítimas de abusos físicos e sexuais, respectivamente, quando a escolaridade materna foi o ensino fundamental incompleto (41,1%) e o ensino médio completo ou mais (36,6%). No tocante à violência psicológica (p=0,018), evidenciou-se maior prevalência de adolescentes não vitimizados quando a mãe havia concluído o ensino médio (53,6%) e maior percentual de vítimas quando a escolaridade materna correspondeu ao ensino fundamental incompleto (37,0%).
A orientação sexual dos participantes esteve associada (p=0,027) com a vitimização física, destacando-se o predomínio absoluto dos adolescentes heterossexuais entre os não vitimizados e os autodeclarados vítimas desses abusos. Chama atenção que o percentual de adolescentes bissexuais vítimas de violência física (17,6%) é mais que o dobro daqueles não expostos a essa forma de abuso (7,6%) nas relações de namoro (Tabela 1).
Na Tabela 2, pode ser verificada a perpetração da violência física, sexual e psicológica nas relações de namoro, segundo as características sociodemográficas dos adolescentes. A idade média observada entre os perpetradores foi de 14,8 anos para os abusos físicos, 15,2 anos para os sexuais e 15,0 anos para a prática da violência psicológica. O sexo esteve associado à perpetração da violência física entre os namorados (p=0,001), com prevalência de adolescentes do sexo masculino (58,8%) como não perpetradores e de participantes do sexo feminino (73,4%) na condição de perpetradoras. No que se refere à violência sexual e psicológica, identificou-se maior percentual de não perpetradores entre as meninas (58,1% e 56,3%, respectivamente). Como perpetradores de abusos sexuais houve maior percentual entre os meninos (51,2%) e as meninas perpetraram mais atos de violência psicológica (54,9%).
Quando avaliada a filiação religiosa dos adolescentes e a perpetração da violência nas relações de namoro (Tabela 2), identificou-se maior percentual de não perpetradores e de perpetradores entre os participantes que possuíam religião para as três formas de violência investigadas neste estudo. No tocante à renda familiar, houve prevalência (p=0,002) de não perpetradores (50,4%) e de perpetradores (73,2%) entre os adolescentes com renda familiar de até 1 salário mínimo, assim como para a violência sexual (55,1%) e psicológica (60,4%).
Sobre a escolaridade paterna e a perpetração da violência nas relações de namoro (Tabela 2), perceberam-se similaridade percentual com a não perpetração da violência física pelos adolescentes e maior percentual de perpetradores desse tipo de abuso quando os pais não haviam concluído o ensino fundamental (43,4%). Quanto à violência sexual, os participantes cujo pai tinha até o ensino fundamental incompleto obtiveram maior percentual (40,7%) entre os não perpetradores e, quando o pai concluiu o ensino médio, houve maior percentual de adolescentes na condição de perpetradores (40,0%). Em relação à violência psicológica, houve maior percentual de pais com até o ensino fundamental incompleto entre os adolescentes não perpetradores (40,9%) e os perpetradores (36,4%).
No que tange à escolaridade materna e à perpetração da violência pelos adolescentes (Tabela 2), evidenciou-se prevalência (p=0,040) de adolescentes não perpetradores de abusos sexuais quando a escolaridade da mãe foi até o ensino fundamental incompleto (44,4%) e de perpetradores (40,6%) quando a mãe havia concluído o ensino médio ou mais. No tocante à violência física e psicológica, observou-se, respectivamente, maior percentual de não perpetradores quando a escolaridade da mãe foi ensino médio completo ou mais (38,6%; 45,8%) e de perpetradores entre os participantes cuja mãe não havia concluído o ensino fundamental (44,6%; 36,7%).
Quando analisada a relação entre a orientação sexual e a perpetração da violência no namoro pelos adolescentes (Tabela 2), houve prevalência (p=0,015) de heterossexuais como não perpetradores (93,2%) e perpetradores (82,3%) da violência física. Entre os bissexuais, o percentual de perpetradores dos abusos físicos foi o dobro do encontrado entre os não perpetradores. Os heterossexuais também foram maioria entre os não perpetradores e perpetradores da violência sexual e psicológica.
Na Tabela 3, identifica-se a vitimização e perpetração da violência física, sexual e psicológica de adolescentes segundo o perfil do relacionamento. Quando investigado o status do relacionamento, houve maior percentual de adolescentes que já haviam terminado o namoro entre os não vitimizados pela violência física (55,9%), sexual (56,0%) e psicológica (70,3%). A relação de namoro também estava encerrada para a maioria das vítimas de violência física (56,7%), sexual (57,1%) e psicológica (54,0).
Houve diferença estatisticamente significante (p=0,011) para a violência física no namoro quando associada ao status do relacionamento, com prevalência de não perpetradores (62,3%) entre os participantes que já haviam terminado o relacionamento e de perpetradores (55,8%) entre aqueles que permaneciam com o namorado ou namorada. Quando analisada a violência sexual e psicológica, constatou-se que tanto entre os adolescentes não perpetradores quanto entre os perpetradores desses abusos houve maior percentual de relacionamentos já finalizados (Tabela 3).
Em relação à duração do relacionamento (Tabela 3), verificou-se que as relações de curta duração, com até 1 mês, apresentaram elevado percentual entre os participantes não vitimizados, assim como entre os vitimizados, respectivamente, pelo abuso físico (51,1% e 50,8%), sexual (53,8% e 45,5%) e psicológico (63,9%) e 45,7%). O maior percentual de adolescentes não perpetradores e de perpetradores de violência física, sexual e psicológica foi identificado nos relacionamentos com até 1 mês de duração, para as três formas de violências estudadas.
Quando analisada a frequência dos conflitos entre o casal (Tabela 3), tanto entre os adolescentes não vitimizados quanto entre os vitimizados, respectivamente, por abusos físicos (78,9%; 66,2%), sexuais (82,8%; 61,0%, p=0,002) e psicológicos (87,5%; 72,4%), identificou-se a ocorrência de poucos conflitos. No que tange à perpetração da violência pelos participantes, observou-se prevalência (p=0,005) de adolescentes não perpetradores (82,3%) e perpetradores (62,8%) de abusos físicos nos relacionamentos em que os conflitos ocorriam poucas vezes. Também houve maior percentual de não perpetradores e perpetradores de abusos sexuais e psicológicos nos relacionamentos com poucos conflitos.
DISCUSSÃO
A caracterização dos adolescentes contribuiu na identificação de suas vulnerabilidades individuais, relacionais, comunitárias e sociais que integram o modelo ecológico para compreensão da violência nas relações de namoro. Nesse sentido, é oportuno considerar a multiplicidade de fatores que influenciam a problemática e inferir que os abusos presentes na dinâmica do namoro entre adolescentes não se limitam à história do casal, e sim à biografia dos indivíduos e do contexto social em que estes estão inseridos4Wincentak K, Connolly J, Card N. Teen dating violence: a meta-analytic review of prevalence rates. Psychol Violence. 2017;7(2):224-41. doi: https://doi.org/10.1037/a0040194
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O elevado percentual de participantes do sexo feminino, pardos e negros, com baixa renda e pouca escolaridade dos pais/mães são fatores que concorrem para maior risco de vitimização e perpetração da violência nos seus relacionamentos de namoro(10). Além disso, mais da metade dos adolescentes referiu que seu responsável legal recebia benefício social, confirmando a condição de pobreza e vulnerabilidade econômica de suas famílias. Segundo Vanderley e cols (2020Vanderley ICS, Vanderley MAS, Santana ADS, Scorsolini-Comin F, BrandãoNeto W, Monteiro EMLM. Factors related to the resilience of adolescents in contexts of social vulnerability: integrative review. Enferm Glob. 2020;19(3):59. doi: https://doi.org/10.6018/eglobal.411311
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) 12Vanderley ICS, Vanderley MAS, Santana ADS, Scorsolini-Comin F, BrandãoNeto W, Monteiro EMLM. Factors related to the resilience of adolescents in contexts of social vulnerability: integrative review. Enferm Glob. 2020;19(3):59. doi: https://doi.org/10.6018/eglobal.411311
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, a inserção de adolescentes em ambientes socioeconomicamente desfavoráveis pode interferir no processo de desenvolvimento da resiliência e favorecer a adoção de comportamentos de risco à saúde.
A maioria dos participantes (83,3%) deste estudo já havia vivenciado relações de namoro, sendo a média de idade encontrada igual a 14,9 anos. A prematuridade com que essas relações acontecem pode influenciar diretamente na construção de comportamentos adversos à saúde sexual, física e psíquica desses indivíduos, de modo a ampliar os riscos de vitimização dos adolescentes1Pérez-Marco A, Soares P, Davó-Blanes MC, Vives-Cases C. Identifying types of dating violence and protective factors among adolescents in spain: A qualitative analysis of lights4violence materials. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(7):2443. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph17072443
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,6Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Proteger e cuidar da saúde dos adolescentes atenção básica Internet. 2. ed. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2018 2021 Jun 4 . Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica_2ed.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
. Estudo recente sobre a prevalência de violência no namoro entre adolescentes do Canadá10Exner-Cortens D, Baker E, Craig W. The national prevalence of adolescent dating violence in Canada. J Adolesc Heal. 2021;69(3):495-502. doi: https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2021.01.032
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identificou que o risco para perpetração de abusos físicos e psicológicos por adolescentes é mais elevado após os 16 e 17 anos, respectivamente. Essa evidência leva a inferir sobre a possibilidade do aumento dessa prevalência, na amostra da atual pesquisa, com o passar dos anos.
Vale destacar que as meninas representaram maioria na condição de perpetradoras e os meninos como vítimas da violência física nas relações de namoro. Em dissonância com os achados deste estudo, algumas investigações ao longo do tempo tinham concluído que as mulheres eram majoritariamente vítimas5Gracia-Leiva M, Puente-Martínez A, Ubillos-Landa S, Páez-Rovira D. Dating violence (DV): a systematic meta-analysis review. An Psicol. 2019;35(2):300-13. doi: https://doi.org/10.6018/analesps.35.2.333101
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,8Jennings WG, Okeem C, Piquero AR, Sellers CS, Theobald D, Farrington DP. Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: evidence from a systematic review. Aggress Violent Behav. 2017;33:107-25. doi: http://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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. Cabe ainda ressaltar outros estudos em que foi observada uma bidirecionalidade da violência provocada por parceiro íntimo, ao revelar taxas de vitimização e perpetração simétricas de violência física entre homens e mulheres adultos, jovens13Bates EA. Current controversies within intimate partner violence: overlooking bidirectional violence. J Fam Violence. 2016;31(8):937-40. doi: http://doi.org/10.1007/s10896-016-9862-7
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e adolescentes14Barreira AK, de Lima MLC, Bigras M, Njaine K, Assis SG. Directionality of physical and psychological dating violence among adolescents in Recife, Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(1):217-28. doi: https://doi.org/10.1590/1415-790X201400010017ENG
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. Diante dos achados contra intuitivos quanto ao protagonismo feminino na perpetração da violência no namoro, cabe entre as reflexões ser considerada a postura destas em reconhecer a materialização de atitudes violentas em relação ao parceiro, diante da naturalização do fenômeno na sociedade.
Ao investigar a violência nas relações de namoro de adolescentes, estudos2Kidman R, Kohler HP. Emerging partner violence among young adolescents in a low-income country: perpetration, victimization and adversity. PLoS One. 2020;15(3):e0230085. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0230085
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,8Jennings WG, Okeem C, Piquero AR, Sellers CS, Theobald D, Farrington DP. Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: evidence from a systematic review. Aggress Violent Behav. 2017;33:107-25. doi: http://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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verificaram resultados que corroboram com a atual pesquisa, ao apresentar maior percentual de meninas assumindo a condição de perpetradoras de abusos físicos e psicológicos. A maior participação de adolescentes do sexo feminino na condição de perpetradoras e de meninos como vítimas da violência física no namoro foi relatada em estudo na capital Pernambucana 14Barreira AK, de Lima MLC, Bigras M, Njaine K, Assis SG. Directionality of physical and psychological dating violence among adolescents in Recife, Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(1):217-28. doi: https://doi.org/10.1590/1415-790X201400010017ENG
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. Entretanto, faz-se necessário prudência na comparação entre as taxas de prevalência entre os estudos, uma vez que diferenças nas medidas e amostras podem impactar as estimativas de prevalência 4Wincentak K, Connolly J, Card N. Teen dating violence: a meta-analytic review of prevalence rates. Psychol Violence. 2017;7(2):224-41. doi: https://doi.org/10.1037/a0040194
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,8Jennings WG, Okeem C, Piquero AR, Sellers CS, Theobald D, Farrington DP. Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: evidence from a systematic review. Aggress Violent Behav. 2017;33:107-25. doi: http://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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, além da influência cultural e contextual 8Jennings WG, Okeem C, Piquero AR, Sellers CS, Theobald D, Farrington DP. Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: evidence from a systematic review. Aggress Violent Behav. 2017;33:107-25. doi: http://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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.
Em relação à violência sexual, destaca-se o elevado percentual de vitimização e perpetração entre os participantes de ambos os sexos, com discreta superioridade do sexo feminino na condição de vítimas e do sexo masculino na condição de perpetradores. Esses achados corroboram com estudos realizados em diversos países, que indicaram maior prevalência de vitimização e perpetração de violência sexual entre as meninas em comparação aos meninos 3Hossain M, Sultana A, Fan Q, Ping M, Purohit N. Prevalence and determinants of dating violence: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses. SocArXiv Preprint. 2020. doi: https://doi.org/10.31235/osf.io/n6hsk
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,7Miller E, Jones KA, McCauley HL. Updates on adolescent dating and sexual violence prevention and intervention. Curr Opin Pediatr. 2018;30(4):466-71. doi: https://doi.org/10.1097/MOP.0000000000000637
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O elevado percentual de vítimas e perpetradores da violência psicológica entre adolescentes do sexo feminino vem denunciar uma situação de naturalização do fenômeno. Reitera-se o estudo internacional3Hossain M, Sultana A, Fan Q, Ping M, Purohit N. Prevalence and determinants of dating violence: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses. SocArXiv Preprint. 2020. doi: https://doi.org/10.31235/osf.io/n6hsk
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, em que foram evidenciadas taxas mais elevadas de envolvimento das meninas com a violência psicológica no namoro. A violência psicológica é a forma de abuso com maior ocorrência entre os adolescentes, entretanto a de mais difícil detecção, praticada por meio de situações como ciúme, chantagem, comportamento de controle, ameaças, entre outros 1Pérez-Marco A, Soares P, Davó-Blanes MC, Vives-Cases C. Identifying types of dating violence and protective factors among adolescents in spain: A qualitative analysis of lights4violence materials. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(7):2443. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph17072443
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A maior proteção para vitimização física, evidenciada entre os adolescentes filiados a uma religião, assim como a maior taxa de vitimização entre os não religiosos, motiva a reflexão sobre o papel social e comunitário da religião no enfrentamento da violência no namoro na adolescência. Essa ideia se fortalece quando se observa, embora sem diferença estatística significante, a maior participação dos adolescentes com alguma religião na condição de vítimas e perpetradores da violência sexual e psicológica. Em diálogo com a literatura, ressalta-se que pessoas religiosas, especialmente as mulheres, muitas vezes, podem ter receio de revelar que são vítimas de abusos nas relações afetivas em virtude das crenças que fortalecem a submissão feminina e sua exposição a situações de violência provocada por parceiro íntimo(15Simonič B. The power of women’s faith in coping with intimate partner violence: systematic literature review. J Relig Health. 2021;60(6):4278-95. doi: https://doi.org/110.1007/s10943-021-01222-9
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Estudo sobre as experiências de vítimas de violência provocada por parceiro íntimo revelou que os líderes religiosos consideram o problema como uma questão de fórum particular dos casais e que impõe limites à atuação dos mesmos 16Gezinski LB, Gonzalez-Pons KM, Rogers MM. “Praying does not stop his fist from hitting my face”: religion and intimate partner violence from the perspective of survivors and service providers. J Fam Issues. 2019;1-21. doi: https://doi.org/10.1177/0192513X19830140
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, limitando as possibilidades de romper com o ciclo de violência que marcam as relações entre os pares afetivos. O entendimento social de que a violência entre os pares afetivos é algo comum e aceitável repercute na população adolescente com a propagação do fenômeno em todas as classes sociais 4Wincentak K, Connolly J, Card N. Teen dating violence: a meta-analytic review of prevalence rates. Psychol Violence. 2017;7(2):224-41. doi: https://doi.org/10.1037/a0040194
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, destacando-se nesta pesquisa o maior percentual de vítimas e perpetradores de abusos físicos, sexuais e psicológicos entre os participantes com renda familiar de até 1 salário mínimo.
Embora a literatura destaque a necessidade de mais estudos primários sobre o perfil econômico e a violência entre namorados na adolescência2Kidman R, Kohler HP. Emerging partner violence among young adolescents in a low-income country: perpetration, victimization and adversity. PLoS One. 2020;15(3):e0230085. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0230085
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,3Hossain M, Sultana A, Fan Q, Ping M, Purohit N. Prevalence and determinants of dating violence: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses. SocArXiv Preprint. 2020. doi: https://doi.org/10.31235/osf.io/n6hsk
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, três meta-análises sobre prevalência de violência no namoro entre adolescentes 3Hossain M, Sultana A, Fan Q, Ping M, Purohit N. Prevalence and determinants of dating violence: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses. SocArXiv Preprint. 2020. doi: https://doi.org/10.31235/osf.io/n6hsk
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,4Wincentak K, Connolly J, Card N. Teen dating violence: a meta-analytic review of prevalence rates. Psychol Violence. 2017;7(2):224-41. doi: https://doi.org/10.1037/a0040194
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,8Jennings WG, Okeem C, Piquero AR, Sellers CS, Theobald D, Farrington DP. Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: evidence from a systematic review. Aggress Violent Behav. 2017;33:107-25. doi: http://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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identificaram a relação entre maiores níveis de pobreza com a maior vitimização e perpetração da violência no namoro. Tal condição socioeconômica amplia as vulnerabilidades sociais, em virtude do menor acesso à educação de qualidade, e a maior exposição às múltiplas violências por ausência de suporte social, familiar e comunitário no combate e prevenção desse problema.
A família é o primeiro contato social do indivíduo, contribuindo diretamente na formação das crenças e na forma como os adolescentes se relacionam socialmente. Neste estudo, observou-se elevado percentual de pais e mães com o ensino fundamental e médio incompletos. Houve associação entre a vitimização física e psicológica, respectivamente, com a maior escolaridade paterna (ensino médio completo ou mais) e menor escolaridade materna (ensino fundamental incompleto). Pesquisa realizada com adolescentes afro-americanos evidenciou que cuidadores com maior escolaridade e mais esclarecidos sobre as consequências da violência no namoro estimulavam o desenvolvimento de atitudes positivas, relações de namoro saudáveis e baixa aceitação da violência 17Ritchwood TD, Dave G, Carthron DL, Isler MR, Blumenthal C, Wynn M, et al. Adolescents and parental caregivers as lay health advisers in a community-based risk reduction intervention for youth: baseline data from Teach One, Reach One. AIDS Care. 2016;28(4):537-42. doi: https://doi.org/10.1080/09540121.2015.1112348
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Dessa forma, adolescentes que têm acesso à educação de qualidade no âmbito familiar são mais preparados para identificar e combater atitudes violentas em seus relacionamentos. Ademais, a baixa escolaridade está intimamente relacionada com a renda familiar, concorrendo para o menor acesso a conhecimento sobre a violência no namoro e a resolução não violenta de conflitos.
Os resultados evidenciaram que os adolescentes heterossexuais se destacaram como vítimas e perpetradores da violência nas relações de namoro. Entretanto, entre os participantes bissexuais, houve elevado percentual de vítimas e perpetradores da violência física, quando comparados aos participantes que não haviam relatado envolvimento com essa forma de abuso. Adolescentes de minorias sexuais, particularmente jovens bissexuais, apresentam risco elevado de envolvimento com a violência física e sexual 18Caputi TL, Shover CL, Watson RJ. Physical and sexual violence among gay, lesbian, bisexual, and questioning adolescents. JAMA Pediatr. 2020;174(8):791-3. doi: https://doi.org/10.1001/jamapediatrics.2019.6291
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,19Nydegger LA, Blanco L, Nathan Marti C, Kreitzberg D, Quinn K. Evaluation of sexual minority identity as a moderator of the association between intimate partner violence and suicidal ideation and attempts among a national sample of youth. PLoS One. 2020;15(8):e0236880. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0236880
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Uma consideração importante é que as minorias sexuais suportam uma carga de agressividade mais intensa que outros indivíduos da sociedade 10Exner-Cortens D, Baker E, Craig W. The national prevalence of adolescent dating violence in Canada. J Adolesc Heal. 2021;69(3):495-502. doi: https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2021.01.032
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e internalizam sentimento de rejeição e negatividade sobre si, diante de atitudes preconceituosas, transformando essa carga emocional negativa em gatilhos para a construção de relações futuras regadas à violência, reproduzindo no parceiro todo o sofrimento vivido no contexto particular 19Nydegger LA, Blanco L, Nathan Marti C, Kreitzberg D, Quinn K. Evaluation of sexual minority identity as a moderator of the association between intimate partner violence and suicidal ideation and attempts among a national sample of youth. PLoS One. 2020;15(8):e0236880. doi: http://doi.org/10.1371/journal.pone.0236880
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) e assim perpetuando um processo cíclico de tal injúria.
O status do relacionamento apresentou associação com a perpetração de violência física pelos participantes do estudo. A maioria dos adolescentes que não cometeram abusos físicos contra seus(suas) namorados(as) já havia terminado o relacionamento, enquanto que os perpetradores permaneciam no relacionamento. Pesquisa qualitativa realizada com adolescentes de ambos os sexos, no interior de São Paulo, revelou que o tempo de relacionamento se configurou um elemento motivador da violência no namoro, na concepção dos participantes 20Campeiz AB, Carlos DM, Campeiz AF, da Silva JL, Freitas LA, Ferriani M das GC. Violence in intimate relationships from the point of view of adolescents: perspectives of the complexity paradigm. Rev Esc Enferm USP. 2020;54:e03575. doi: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2018029003575
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Faz-se importante destacar que os relacionamentos com curta duração, com até 1 mês, foram maioria tanto entre os adolescentes não envolvidos quanto entre os envolvidos na condição de vítimas e perpetradores da violência física, sexual e psicológica. A média etária de 14,9 anos encontrada neste estudo demonstra uma precocidade no envolvimento dos adolescentes e se configura como um fator de risco para a ocorrência de abusos físicos, sexuais e psicológicos nas relações de namoro 5Gracia-Leiva M, Puente-Martínez A, Ubillos-Landa S, Páez-Rovira D. Dating violence (DV): a systematic meta-analysis review. An Psicol. 2019;35(2):300-13. doi: https://doi.org/10.6018/analesps.35.2.333101
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. Além disso, a presença da violência em relacionamentos de namoro de adolescentes, com curta duração, converge com a compreensão do modelo ecológico, ao valorizar os fatores individuais, relacionais e contextuais como integrantes do processo de naturalização da problemática na sociedade 3Hossain M, Sultana A, Fan Q, Ping M, Purohit N. Prevalence and determinants of dating violence: an umbrella review of systematic reviews and meta-analyses. SocArXiv Preprint. 2020. doi: https://doi.org/10.31235/osf.io/n6hsk
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No que se refere à frequência dos conflitos no relacionamento, neste estudo, esta esteve associada à vitimização sexual e à perpetração da violência física entre os adolescentes. De maneira que a maioria dos adolescentes envolvidos na condição de vítimas de agressões sexuais ou de perpetradores de abusos físicos considerou que os conflitos ocorreram poucas vezes nos seus relacionamentos. Devido ao convívio no cotidiano com situações de violência na sociedade, os adolescentes podem considerar comportamentos abusivos em seus relacionamentos como atos de amor, reafirmando a cristalização e invisibilização da díade afeto-agressão da problemática 20Campeiz AB, Carlos DM, Campeiz AF, da Silva JL, Freitas LA, Ferriani M das GC. Violence in intimate relationships from the point of view of adolescents: perspectives of the complexity paradigm. Rev Esc Enferm USP. 2020;54:e03575. doi: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2018029003575
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A complexidade do fenômeno ao envolver os adolescentes em relações afetivas violentas concorre para anunciar uma corresponsabilização e mobilização social em estratégias participativas no enfrentamento 1Pérez-Marco A, Soares P, Davó-Blanes MC, Vives-Cases C. Identifying types of dating violence and protective factors among adolescents in spain: A qualitative analysis of lights4violence materials. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(7):2443. doi: https://doi.org/10.3390/ijerph17072443
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,7Miller E, Jones KA, McCauley HL. Updates on adolescent dating and sexual violence prevention and intervention. Curr Opin Pediatr. 2018;30(4):466-71. doi: https://doi.org/10.1097/MOP.0000000000000637
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,8Jennings WG, Okeem C, Piquero AR, Sellers CS, Theobald D, Farrington DP. Dating and intimate partner violence among young persons ages 15-30: evidence from a systematic review. Aggress Violent Behav. 2017;33:107-25. doi: http://doi.org/10.1016/j.avb.2017.01.007
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. Destaca-se o papel da escola em constituir uma arena dialógica e legítima de reflexões críticas, com inclusão das famílias, sobre os modos de relacionar-se e interagir, contribuindo para o fortalecimento de atitudes de respeito e cuidado mútuo e sentimentos altruísticos como elementos inerentes ao desenvolvimento humano integral e cidadão.
CONCLUSÕES
O estudo permitiu observar uma elevada prevalência de violência no namoro entre adolescentes. Tais resultados despertam a reflexão sobre a naturalização desse fenômeno, sua invisibilidade como um processo de ruptura da dignidade humana e o fortalecimento do ciclo de violência por parceiro íntimo com acometimento da população adolescente.
Ao considerar o modelo ecológico entre os fatores associados à violência no namoro, cabe considerar os aspectos individuais e contextuais/comunitários que possibilitam ao enfermeiro escolar a construção pactuada e intersetorial de intervenções em saúde. As propostas educativas em saúde com os adolescentes requerem um investimento na valorização do protagonismo dos mesmos e na criação de ambientes de acolhimento favoráveis à aprendizagem de relações dialógicas e empáticas nas relações no namoro.
Ao apreciar o status do relacionamento, evidenciou-se prevalência de perpetração da violência física entre os adolescentes que permaneciam juntos. Em relação à frequência dos conflitos no namoro, houve associação de vitimização sexual e perpetração da violência física entre os adolescentes, que relataram a ocorrência de poucos conflitos entre o casal.
Constituiu limitação do estudo a composição da população pertencer a uma única escola pública, restringindo a amplitude na generalização dos achados. Outras limitações estão relacionadas ao instrumento autopreenchido e que foi respondido por apenas um dos pares afetivos, condição que pode favorecer os adolescentes quanto à escolha de respostas socialmente aceitas. O recorte do estudo também não permitiu investigar a coocorência da violência no namoro entre os participantes, o que suscita a realização de estudos complementares em virtude da complexidade do fenômeno.
Funding/Acknowledgment:
National Council for Scientific and Technological Development (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). CNPq Process: 129925/2019-5
REFERENCES
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
01 Ago 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
-
Recebido
06 Jun 2021 -
Aceito
10 Ago 2021