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Tra&Co Group (ed.). Translation, interpreting, cognition: The way out of the box. Berlin: Language Science Press, 2021, 193 p.

. Translation, interpreting, cognition: The way out of the box. Berlin: Language Science Press, 2021. 193 p.

O livro Translation, Interpreting and Cognition - The Way Out of the Box se trata de uma coletânea de artigos e que busca incorporar trabalhos que, como cerne de sua pesquisa, debruçam-se sobre os processos cognitivos em tradução e interpretação. A coletânea é de autoria do grupo Tra&CoTra&Co Group (Ed.). Translation, Interpreting, Cognition: The Way out of the Box. Berlin: Language Science Press, 2021, 193 p., que se ocupa de pesquisa sobre a relação entre tradução (e suas modalidades) e cognição. Como consta no prefácio, o grupo organiza conferências internacionais, chamadas de International Congress on Translation, Interpreting and Cognition, e para a elaboração do livro foram escolhidos artigos, apresentados na conferência, que tivessem abordagens de múltiplos métodos e fossem interdisciplinares. Aqui os autores explicitam que escolheram trabalhos com tópicos diversos, tais como: treinamento de futuros profissionais, processamento de linguagem, o papel da tecnologia na prática de tradução/interpretação/legendagem, sobre aspectos de ergonomia e usabilidade e, dentre outros, estudos sobre a carga cognitiva em pós-edição.

Será justamente sobre este último tópico que o capítulo seguinte e primeiro artigo do livro, intitulado Multi-modal estimation of cognitive load in post-editing of machine translation, escrito por Herbig, Pal, Kruger e Genabith, membros do centro de pesquisa alemão de Inteligência artificial, irá tratar sobre.

Nesta pesquisa, os autores analisaram uma ampla gama de medidas fisiológicas, comportamentais, de performance e subjetivas para a estimação da carga cognitiva durante o trabalho de pós-edição de um texto feito através de Tradução Automática (TA). A finalidade desta pesquisa é a sua possível aplicação nas próprias traduções automáticas para que se desenvolva um ambiente tradutório consciente da carga-tradutória do pós-editor, a fim de que assim, possa-se desenvolver estratégias automáticas para suporte ao tradutor durante esta tarefa. O artigo nos traz informações de forma bem direta, explicitando o motivo da pesquisa, assim como o seu aporte teórico em suas primeiras páginas.

Um aspecto interessante sobre o estudo é que, durante a apresentação de seu aporte teórico, somos introduzidos a um percurso de pesquisas em cognição que se valem de diferentes aparatos tecnológicos, para identificar diferentes aspectos da cognição, que se manifestam fisicamente, além disso os autores definem o que é de interesse da pesquisa dos próprios e o que não irão referenciar, explicando os porquês através dos resultados e/ou atualizações dessas pesquisas. Outro ponto deste referencial é que os autores se referem a si mesmos, pois, como dito no artigo posteriormente, os mesmos (ou parte da equipe) realizaram um trabalho similar em 2019. Neste momento não é tão claro que eles estão envolvidos neste outro trabalho. O diferencial dos trabalhos, além da tecnologia utilizada, é que o trabalho antigo tem como voluntários estudantes de mestrado e no mais recente os voluntários são profissionais.

O estudo é muito competente em definir os valores que utilizaram durante a pesquisa para definir os parâmetros de medida dos processos cognitivos, caracterizando-os em aspectos fisiológicos, subjetivos, performáticos e comportamentais, decorrendo, mais adiante no artigo, sobre as combinações das inúmeras variáveis obtidas. Sobre as variáveis, o trabalho busca utilizar o maior grau de tecnologia possível, para a obtenção de diversas variáveis, aqui medem-se variáveis referentes à eye-tracking, pausas, keyboard logging, mouse input, postura, variáveis referentes ao sistema cardíaco e à pele dos participantes, dentre outros. Pela enorme quantidade dessas variáveis, o artigo poderia fazer um bom uso de uma tabela de abreviações, pois é através dessas abreviações que irão se referir a estes dados durante a pesquisa.

Em suma, a pesquisa pode ser considerada um verdadeiro “ Estado da Arte” no que se refere à aplicação de recursos tecnológicos na delimitação de processos de cognição na esfera física, visto que aqui os cientistas também se preocupam em definir os programas, hardware e método utilizado. Portanto, para os que realizam pesquisa similar, é de grande utilidade a leitura deste trabalho.

Ainda sobre Tradução Automática e sua relação com o trabalho PE dos tradutores, temos o segundo capítulo do livro, um artigo intitulado “Comparing NMT and PBSMT for Post-Editing In-Domain Formal Texts: A Case Study”.

Como o próprio título já nos conta, este trabalho será um estudo de caso comparativo sobre a relação entre os trabalhos de TA baseadas em uma rede neural (NMT) e TAs estatísticas baseadas em grupos de frase (PBSMT), para a versão de documentos médicos no par Inglês-Espanhol. O trabalho foi escrito por Sergi Álvarez, Toni Badia e Antoni Oliver, das universidades, Universitat Pompeu Fabra e Universitat Oberta de Catalunya.

O objetivo do trabalho é avaliar a eficácia da operação de pós-editoramento (PE) em textos trabalhados por máquinas. Pois, argumenta-se no texto que este trabalho tem se tornado mais e mais frequente no mercado trabalhístico. Sobre isso os autores argumentam ainda que, este estudo se faz necessário, pois, em outras pesquisas, temos os dados de que muitos tradutores profissionais preferem deletar todo o texto e fazê-lo eles mesmos do zero, caso os segmentos oriundos das máquinas não sejam de boa qualidade, visto que, em sua opinião, assim lhes tomaria menos tempo. Portanto as perguntas centrais que o artigo propõe são: Em qual método de TA (PBSMT ou NMT) obtemos resultados melhores para o pós-editoramento de textos formais de acesso restrito? Qual a relação entre métricas humanas e automáticas para o PE?

O trabalho é então, muito habilmente, dividido em grandes seções. Na seção de número 02, os autores discorrem sobre trabalhos passados que compararam as abordagens neural e estatística baseada em frases de TA. Em uma grande suma, a maioria dos estudos abordados aqui, concluem que a TA baseada em redes neurais resultam em alguns fatores: reduz o esforço de PE, tem uma performance melhor que PBSMT, além de melhorar a qualidade dos resultados de TA e que, em geral, a NMT, ou seja, a TA neural, reduz erros de ordem de palavras e melhora a fluência em certos pares de línguas, assim, menos segmentos necessitam de pós-editoramento.

Nos segmentos 03 e 04, os autores discorrem sobre o processo de treinamento e métodos de referências para analisar os resultados obtidos na pesquisa. Discorrem ainda, sobre a construção do corpus a ser utilizado e seus componentes. Neste último momento, a leitura se torna um pouco menos clara, visto que os autores dependem do conhecimento prévio do leitor sobre alguns termos e processos referentes às análises de TA, assim, há uma tabela de avaliação cujo conteúdo requer uma pesquisa à parte, para ser completamente compreendido.

No seu detalhamento da metodologia, o segmento 05 do artigo, os cientistas explicam os métodos utilizados e suas justificativas, define-se assim alguns aspectos sobre o trabalho de pós-editoramento de textos oriundos de NMT e PBSMT, tais como: fluência e adequação dos textos, a elaboração de um ranking de TAs, ou seja, quais são percebidas como mais eficazes pelos tradutores antes de serem introduzidos ao texto produzido e, por fim, a definição de esforços temporais e técnicos durante o processo de PE.

Nos resultados os autores nos demonstram que a tradução humana, ou seja, cujo agente principal é a pessoa-tradutor, ainda é preferível na visão dos profissionais, em segundo lugar, a NMT tem preferência. No que diz respeito ao corpus, foi constatado que a NMT obtém resultados melhores que a PBSMT, acarretando ainda mais esforço durante o PE, mas de qualidade muito inferior à textos traduzidos por tradutores humanos. O artigo se encerra com a conclusão de que mesmo que os resultados obtidos pela NMT sejam de melhor fluência e adequação, isto não implica, necessariamente, uma redução no esforço de PE, provavelmente pela dificuldade adicional de se identificar erros em produtos mais fluentes.

No terceiro capítulo do livro, temos um artigo intitulado German Light Verb Construction in the Course of the Development of Machine Translation, da pesquisadora Shaimaa Marzouk. O estudo irá tratar sobre o uso de light verbs no idioma alemão em contraste com estruturas de verbo basais (base verb constructions) no trabalho de TA. Durante o capítulo primeiro, somos introduzidos ao conceito de light verbs no alemão, serão assim chamadas, combinações de verbos e substantivos que só podem ser corretamente entendidos com ambos os componentes, aqui comenta-se também três fatores importantes para a pesquisa: seu uso está atrelado à um corpus de textos acadêmicos, técnicos e legais; são verbos frequentemente utilizados, mesmo que de estrutura complexa, podendo ainda não ter equivalentes em outras construções verbais que representam a mesma nuance desta estrutura; por fim, algumas revistas e outras entidades textuais definem, em suas diretrizes, que se evite usar esses verbos, pois podem acarretar diversos problemas linguísticos.

Portanto, o propósito do artigo é estudar como as máquinas de TA lidam com este problema, quais estratégias são utilizadas pelas mesmas e se o uso de estruturas verbais básicas melhora o resultado da TA, em contraste com os light verbs, e assim o faz, apresentando uma linguagem direta e explicativa em relação aos conceitos utilizados.

Para este estudo, foram analisadas 4 máquinas de TA, com diferentes sistemas, como o sistema baseado em regras, sistema estatístico, sistema neural e sistema híbrido. As máquinas foram escolhidas por meio de alguns critérios, como definido na metodologia, sendo estes: ser um sistema online gratuito, oferecer trabalho no par Alemão-Inglês e se utilizar de diferentes sistemas de TA.

A metodologia utilizada foi de abordagens mixas de triangulação, em que 24 sentenças de light verbs foram trabalhadas por 5 sistemas de TA, resultando numa base de dados de 240 sentenças de TA. Ainda sobre a triangulação, os métodos avaliativos desta foram os seguintes: anotação de erros, avaliação humana e avaliação automática. Através dos resultados obtidos, conclui-se que há um alto nível de complexidade quando se trabalha com light verbs, visto que a TA de light verbs foi mais sujeita a erros e sua qualidade aumenta conforme há substituição desses verbos por construções verbais básicas. No que diz respeito à TAs estatísticas e baseada em regras, assim como algumas híbridas, quando ocorria a existência de um equivalente entre estruturas verbais básicas e light verbs, o problema de TA foi eliminado. Porém, nem todos estes verbos possuem equivalentes e nem todos são capazes de expressar as nuances necessárias. Dentro deste estudo, que se propõe a futuras pesquisas com diferentes línguas-alvo, 88% das sentenças foram traduzidas corretamente quando utilizado TA neural.

O trabalho apresenta uma questão interessante: como as TAs, dentre seus diferentes tipos, lidam com estruturas gramaticais específicas de cada língua? Qual tipo de TA é mais efetiva? Este tipo de pesquisa sucinta dúvidas em relação à nossa própria realidade, pois podemos pensar em quais serão os dados obtidos, seguindo a metodologia do artigo, se compararmos estruturar específicas do português nas traduções de TA em diferentes línguas-alvo.

No capítulo 04 “Dialogue-oriented Evaluation of Microsoft’s Skype Translator in the Language Pair Catalan-German”, escrito por Felix Hoberg, da Universidade de Leipzig, o livro nos traz um estudo sobre TA, em específico sobre a tradução automática de texto, no programa Skype. O estudo se ocupa em questionar-se como se avalia uma tecnologia deste tipo, tendo como participantes 21 falantes de alemão, sem proficiência em catalão, resolvendo a tarefa de utilizar, com falantes nativos de catalão, ou seja, uma tarefa com o par Alemão-Catalão. a ferramenta exemplificada acima.

Além disso, o projeto se propõe a analisar o comportamento conversacional dos participantes quando uma TA está envolvida. Aqui é importante salientar que o presente artigo é apenas uma análise preliminar de um estudo maior.

O artigo é divido em 5 seções. Na seção de número 02, somos apresentados ao referencial teórico em termos de pesquisa em diálogos e conversas, no contexto de comunicação mediada por máquinas. Nesta somos introduzidos à questões centrais da pesquisa em comunicação mediada por máquinas: como interagimos online? Como a interação online modifica nosso modo de comunicação? Quais as características de um texto digital? Em seguida, o autor argumenta que, em um chat online, a mensagem irá passar por mais seções entre recipiente e remetente do que uma conversa oral, cara a cara. O percurso será este: da mente do remetente para a digitação da mensagem no teclado, para então ser enviada ao servidor conectado ao programa, depois disso o servidor manda a mensagem para o endereço do recipiente, para ser processada pelo computador do mesmo para somente então termos a possibilidade de se utilizar recursos cognitivos para compreender a mensagem. No caso desta pesquisa, que utilizará o Tradutor do Skype, há um passo a mais no percurso, o de enviar, traduzir via máquina e receber a mensagem original, portanto isso irá impactar os dados em relação ao tempo.

Na seção 03, o autor nos apresenta a metodologia e os participantes da pesquisa. Um tema conversacional foi proposto para produzir dados linguísticos comparativos que pudessem ser analisados no estudo de corpus. Para a coleta desses dados foi utilizado um aparelho de eye-tracking e a última versão do software Skype.

Os resultados do estudo, apresentados na próxima seção, foram os seguintes: os participantes tendem a olhar mais frequentemente para a produção da TA do que para as mensagens originais, em ambas as línguas, assim, ambos os originais, alemão e cataão, recebem dois terços a menos de fixação em comparação aos seus produtos de TA.

O artigo conclui-se com a seção 05, em que o autor argumenta que análises de conversas bilíngues, mediadas por máquinas, são essenciais para podermos apontar em como essa tecnologia irá modificar a forma que os usuários experienciam essas formas de comunicação. Sobre o artigo em si, o pesquisador afirma que os dados coletados são um ponto inicial de tentativa dessa discussão e que mais pesquisas devem ser feitas. O estudo apresenta uma escrita direta e bem compreensível, além de resultar em indagações próprias como: Poderíamos analisar essa questão em outros softwares? Há diferenças cognitivas em pares de línguas diferentes? Como utilizaremos os dados coletados para produzir uma inteligência artificial ou TA de maior qualidade?

No capítulo 05, temos o artigo intitulado “Investigating post-editing:a mixed-methods study with experienced and novice translators in the English-Greek language pair”. O artigo, escrito por Maria Stasimioti e Vilelmini Sosoni, traz uma temática similar à vista em outros capítulos, a da interação entre o tradutor e o trabalho de PE. Desta vez o estudo irá se deter com o par Inglês-Grego, na tarefa de PE em TA Neural, levando em conta as diferentes práticas e perspectivas de tradutores iniciantes e profissionais e seus impactos no produto final.

O estudo apresenta um percurso teórico dos estudos sobre PE e suas questões empíricas de forma concisa e didática, preocupando-se em exemplificar o que há de faltante nesses estudos, antes de apresentar sua metodologia. Além de se utilizar de eye-tracking e keyboard logging, como é de praxe nesses estudos, o artigo se utiliza também de comparações qualitativas e quantitativas do produto final, ou seja, o texto editado, em relação ao texto produzido pela TA neural (Google Tradutor), para avaliar a qualidade e o número/tipo das alterações feitas.

Aqui, destaco que o artigo se propôs a avaliar as percepções prévias dos participantes para com o trabalho de PE e como isso afeta o produto final, um dado que ainda não havia sido utilizado no livro, que pode vir a ser um interessante fator para pesquisas futuras. Além disso os resultados são muito habilmente divididos em três tipos de esforços: esforços técnicos, como movimentos de delete de caracteres, quantidade de teclas pressionadas;, esforços temporais, como o tempo levado nas tarefas de PE pelos participantes; e esforços cognitivos, como número de fixações, tempo de fixação e outros.

A análise dos resultados revelou que, profissionais tendem a investir menos esforços cognitivos que estudantes, produzem mais esforços técnicos e são capazes de concluir a tarefa em menor tempo. Ademais, concluiu-se que a percepção prévia dos tradutores sobre TA não afeta o resultado final em quesito de qualidade, mas que afeta o esforço técnico de parte dos profissionais, ou seja, ocorrem mais mudanças textuais. Como ponto final, os cientistas discorrem sobre a necessidade de explorar o estudo em um ambiente menos controlado, de forma que se possa avaliar os esforços em seu “ambiente natural”.

O sexto capítulo do livro, intitulado The processing of website content in native and non-native language, escrito por Jean Nitzke, das University of Mainz e University of Adger, tem como tema principal o processamento de textos de museus em alemão como língua nativa e em inglês como língua não-nativa. O artigo é divido em quatro partes. A introdução apresenta o objetivo da pesquisa, abordando, inclusive, pesquisas anteriores.

Após a introdução, o pesquisador passa a descrever como o experimento foi feito, não se detendo em nenhum momento a descrever o embasamento teórico. Nessa seção, conhecemos a metodologia, que consistiu em usar o sistema de eyetracking para confirmar a hipótese inicial da pesquisa de que os leitores levariam menos tempo para processar textos em sua língua nativa e também responderiam mais perguntas corretamente sobre os materiais lidos. A pesquisa foi feita com 16 participantes, estudantes de tradução, (13 falantes nativos do alemão, 3 falantes de alemão como primeira língua estrangeira), com média de tempo de estudos de inglês de 10.34 anos. Foram utilizados excertos de dois Digitoriais (um em alemão e um em inglês) de duas exibições online. Após a leitura dos materiais, cada participante respondeu a uma série de perguntas sobre o material lido. Após os textos, também puderam dar feedback sobre a dificuldade em responder as perguntas.

Na próxima parte, são apresentadas as análises e os resultados. Primeiro discute-se a hipótese de que os participantes levariam menos tempo para processar os materiais na língua nativa e que foi refutada, já que o tempo não foi significantemente diferente. Em seguida, discute-se a segunda hipótese de que os participantes responderiam mais questões corretas sobre os materiais lidos na língua nativa e que essa foi confirmada, já que 11 dos 15 participantes responderam mais questões corretas sobre os materiais em alemão. A seção também mostra porque dois participantes tiveram muito baixo rendimento sobre o material em inglês. A terceira parte na seção é dedicada aos dados obtidos no eyetracking, tendo-se como hipótese de que os participantes fixariam mais os olhos nos materiais em língua estrangeira. Os dados mostram que essa hipótese foi parcialmente confirmada, pois a fixação no processamento do texto em inglês foi maior de forma geral, mas não influenciou significativamente para as respostas corretas em ambas as línguas.

O artigo conclui que, apesar de ter havido maior tempo de fixação nos textos em inglês, isso não fez com que os participantes respondessem mais questões corretas. O autor torna claro a implicação positiva de haver nos ambientes de museus um maior número de traduções para que possa haver um alcance maior dos conhecimentos ali apresentados. Também é expresso que o uso de MT é importante para diminuir os custos de tradução, o que, como tradutor, não concordo. Afinal, pesquisas revelam que o trabalho de pós-edição demanda tanto esforço quanto o de tradução. O pesquisador mostra a necessidade de repetir o estudo com um número maior de participantes, em pesquisas futuras que possam, inclusive, envolver a relação das imagens na compreensão dos textos e, também, envolvendo materiais áudio-visuais. Deixa-se clara a falta de pesquisa na área de estudos no contexto de museus através dos sistemas de eyetracking.

O sétimo artigo do livro, Assessing indicators of cognitive effort in professional translators: A study on language dominance and directionality, dos pesquisadores Aline Ferreira (Universidade da Califórnia), Stefan Th. Gries (Justus Liebig University Giessen) e John W. Schwieter (Wilfrid Laurier University) tem como objetivo apresentar o resultado de uma pesquisa em que foram analisados os efeitos da direcionalidade no trabalho de tradução de profissionais da área.

O artigo é dividido em onze partes, das quais cinco dedicam-se a descrever como os indicadores propostos pelos pesquisadores foram observados e analisados em pesquisas anteriores. Ou seja, é feita uma vasta busca por pesquisas que se debruçaram sobre o estudo dos processos de tradução.

Foram recuperados estudos sobre a tradução no nível da palavra, à luz da psicolinguística, tais como as pesquisas de Kroll & Stewart (1994) sobre modelo revisado de hierarquia; Ferreira & Schweister (2014) sobre efeitos relacionados à semântica na tradução entre L1-L3; Klein et a. (1995) sobre geração de palavras em pessoas bilíngues do inglês e francês; entre outros. Em seguidas são apresentadas pesquisas que tiveram como elemento principal análise dos processos cognitivos durante o processo de tradução no nível da frase e do discurso. As pesquisas apresentadas foram de Porkorn (2004) sobre a identificação de traduções por nativos do inglês; Bartlomiejcyk (2004) sobre sua pesquisa sobre as preferências de um grupo de tradutores pela direcionalidade; Pavlovic & Jansen (2009) sobre uma pesquisa com eyetracking para avaliar os esforços em traduzir texto-alvo e texto-fonte; Whynatt & Kosciuczuk (2013) traz o questionamento sobre a tradução para língua não-nativa; entre outros. O foco dessas pesquisas são os processos de tradução no que diz respeito à direcionalidade.

O artigo avaça para os indicadores que vão ser avaliados na pesquisa desenvolvida: domínio da língua, idade e sexo/gênero (nesse tópico os pesquisadores não se detêm muito, mas falam da relevância em diferenciar sexo de gênero no âmbito da pesquisa científica moderna); experiência com a língua.

A hipótese da pesquisa é de que os tradutores profissionais que fizeram parte do estudo levarão mais tempo para fazer tradução inversa do que tradução direta. Para tal pesquisa, foram escolhidos tradutores do par linguístico inglês-espanhol. Foi usado o programa Translog, bem como os protocolos verbais para analisar a tradução de dois textos, um em cada direção. Os resultados são mostrados e analisados com a ajuda de diversos gráficos sobre a variáveis que estavam sendo avaliadas. O estudo mostrou relativa diferença entre os sujeitos avaliados individualmente no que diz respeito ao tempo de fixação, bem como nos grupos de sujeitos. Os pesquisadores concluem falando da necessidade de coletar mais dados para que o grupo seja mais homogêneo, já que a presente pesquisa foi feita com um grupo heterogêneo de sujeitos.

O oitavo capítulo do livro, Attention distribution and monitoring during intralingual subtitling, foi escrito por um grupo de pesquisadores da University of Main (ANke Tardel, Silvia Hansen-Schirra, Moritz Schaeffer, Silke Gutermuth, Volker Denkel) e ZDF Digital (Miriam Hagmann-Schlatterbeck). Dividido em sete partes, o artigo mostra o resultado de uma pesquisa piloto em que foi usado o eyetracking para avaliar e analisar a distribuição de atenção e monitoramento durante o processo de legendagem intralingual.

A curta introdução apresenta o problema e um resumo do processo metodológico. Em seguida, traz-se a revisão da literatura nos tópicos 2 e 3. O segundo tópico fala sobre o processo de legendagem intralingual, abordando a diferença entre tradução intralingual e interlingual, além da legendagem tradicional da legenda para surdos e ensurdecidos. Levanta-se também também a questão de que as pesquisas têm focado mais na tradução interlingual. O terceiro aborda o monitoramento das diversas ferramentas que o software de legendagem traz. Os programas cada vez mais avançados trazem mais ferramentas que ajudam na legendagem, mas também são motivo de competição pela atenção do legendador. As perguntas de pesquisa são formuladas a partir desse aspecto: 1. Como a atenção é distribuída na interface do usuário durante a legendagem e 2. Como a atenção é distribuída e monitorada no que se relaciona a versão final de uma legenda.

Os dados das 8 participantes foram obtidos através do eyetracking. Para tal pesquisa, elas tiveram que legendar três vídeos de cinco minutos, criando legendas para surdos e ensurdecidos. O programa usado foi FAB Subtitler. Seis meses depois da legendagem, as mesmas pessoas tiveram que fazer as legendas novamente e as comparações foram feitas. Em seguida, são feitas as análises e os resultados obtidos mostram que a atenção foi distribuída com maior intensidade no “track de áudio” e na “legenda atual”, mostrando uma carga cognitiva e monitoramento extremamente grande. O presente artigo traz relevantes questionamentos acerca do quanto de atenção o legendador tem que dar aos diferentes elementos dos programas de legendagem. A pesquisa também apresenta necessidade de estudo mais aprofundado já que o grupo amostral foi bem pequeno.

O nono capítulo do livro traz o artigo Eye tracking study of reading for translation and English-Russian sight translation. É relativamente curto, com apenas nove páginas; está dividido em 4 tópicos. Inicialmente apresenta algumas pesquisas realizadas com o eyetracking nos estudos da tradução. Já no tópico 2, as pesquisadoras (Elena Kokanova, Maya Lyutyanskaya e Anna Cherksova, todas da Universidade Federal do Ártico Norte) apresentam o desenho da pesquisa, que consistiu em “coletar e comparar dados estatísticos na atividade oculomotora durante a leitura para tradução e tradução visual” (p. 164) no par linguístico Inglês-Russo. Nesse tópico, são mostrados os detalhes dos equipamentos e dos procedimentos. Dois grupos foram pesquisados: um grupo de estudantes e um grupo de tradutores profissionais.

No tópico 3, são apresentados os resultados e as análises, demonstrando haver diferenças significantes entre a leitura do texto 2 tanto pelos estudantes como pelos profissionais, levando a crer que intérpretes profissionais fazem buscas mais rápida por palavras de suporte no texto fonte durante.

As conclusões e encaminhamentos para pesquisas futuras são apresentadas no tópico 4. São sugeridas pesquisas longitudinais e também que sejam feitos estudos através de uma abordagem mais interdisciplinar. O artigo como um todo mostra os resultados preliminares desse estudo, sendo, portanto, pouco explicativo.

O décimo e último capítulo do livro traz o artigo Emotion and the social embeddedness of translation in the workplace, de Hanna Risku (Universidade de Vienna) e Barbara Meinx (Oesterreichische Nationalbank). O objetivo do trabalho é demonstrar como o tradutor se sente em seu ambiente de trabalho diante das situações problemáticas e como ele se sai nessas circunstâncias. O artigo é divido em 7 partes relativamente curtas e traz em seguida um apêndice com um roteiro de entrevista.

Os tópicos 1, 2 e 3 trazem uma contextualização do objetivo de pesquisa, que são as emoções e como elas são vistas dentro do processo de pesquisa. Também é feita uma análise de como as emoções são analisadas pelas perspectivas psicológicas, cognitivas e situadas (transacionais).

O tópico 4 descreve o desenho da pesquisa e o ambiente do estudo de caso. A pesquisa foi feita através da condução de entrevistas e da observação. Os dados gravados e as anotações feitas foram analisadas através de “categorias dedutivas” gerais derivadas do modelo dinâmico de redes da cognição e ação translacional de Riskiu et al. (2013)” (p. 178).

Os resultados são mostrados no tópico 5, em que as pesquisadoras dividiram as emoções que foram mais relacionadas a determinados aspectos avaliados, tais como equipe de trabalho, autores do texto fonte, gerenciamentos, tradutores externos, e leitores. Em seguida são apresentadas as discussões, conclusões e o apêndice com o roteiro da entrevista.

Percebemos que o livro analisado traz diversas contribuições para as pesquisas na área de tradução e cognição. No entanto, em diversos dos artigos apresentados, observamos que os estudos estão ainda incompletos e que, de certa forma, impossibilita que o leitor compreenda todas as questões avaliadas na pesquisa. Nota-se uma certa pressa em publicar os resultados preliminares, o que torna, muitas vezes, os artigos incompletos.

Observa-se também que existe uma tendência muito grande nas pesquisas em torno do uso das ferramentas como eyetracking, o que, obviamente, enriquece as pesquisas, umas vez que essas ferramentas tecnológicas de pesquisa favorecem a compreensão de fenômenos que, até pouco tempo, eram difíceis ou até impossíveis de serem analisados.

A obra como um todo traz grande contribuição para os estudos cognitivos que envolvem os processos tradutórios, e trazem muitas questões pertinentes que podem ainda ser abordadas e escrutinadas em pesquisas posteriores (repetidoras ou complementares), trazendo ainda mais interesse ao leitor para consumir os estudos completos, que serão derivados desses estudos. A linguagem dos artigos é bastante compreensível, não havendo grandes problemas de compreensão. Por fim, acreditamos que essa obra seja referência na área de estudos cognitivos e tradução.

Referências

  • Tra&Co Group (Ed.). Translation, Interpreting, Cognition: The Way out of the Box Berlin: Language Science Press, 2021, 193 p.

Publication Dates

  • Publication in this collection
    19 June 2023
  • Date of issue
    2022

History

  • Received
    29 Aug 2022
  • Accepted
    17 Oct 2022
  • Published
    Dec 2022
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