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O OLHAR DE UMA FRANCESA EXPLORADORA NA AMAZÔNIA NA VIRADA DO SÉCULO XX: TRADUÇÃO COMENTADA DE VOYAGE AU RIO CURUA, DE OCTAVIE COUDREAU

THE VIEW OF A FRENCH LADY TRAVELLER IN THE AMAZON AT THE TURN OF 20TH CENTURY: COMMENTED TRANSLATION OF OCTAVIE COUDREAU’S VOYAGE AU RIO CURUA

Resumo

No presente trabalho, tem-se como objetivo apresentar a tradução do francês para o português do Brasil do primeiro capítulo da obra Voyage au Rio Curua (1903), de Octavie Coudreau, acompanhada de comentários a respeito das escolhas tradutórias. Também é um objetivo deste artigo apresentar algumas informações biobibliográficas sobre a autora, bem como comentários a respeito do texto de Coudreau. A obra em questão é um relato de viagem e foi fruto de uma das várias missões exploratórias realizadas pela autora. Octavie Coudreau iniciou seu trabalho como exploradora ao lado de seu marido, Henri Anatole Coudreau, trabalho esse que continuou sozinha após a morte do esposo.

Palavras-chave
Tradução de Relato de Viagem; Tradução Comentada; Octavie Coudreau

Abstract

In the present work, we aim to present the translation from french into brazilian portuguese of the first chapter of the book Voyage au Rio Curua (1903), by Octavie Coudreau, accompanied by comments about translation choices. It is also an objective of this article to present some biobibliographic informations about the author, as well as comments about Coudreau’s text. The work in question is a travel report and was the result of one of several exploratory missions carried out by the author. Octavie Coudreau began her work as a traveller/explorer alongside her husband, Henri Anatole Coudreau, a job she pursued alone after her husband’s death.

Keywords
Travel Report Translation; Commented Translation; Octavie Coudreau

Introdução

As excursões realizadas por diversos brasileiros e europeus a partir do século XVIII contribuíram para o descobrimento científico (nos moldes de uma ciência eurocêntrica) a partir dos trabalhos de naturalistas exploradores. Até o século XIX os mitos e lendas sobre a Amazônia dominavam o imaginário europeu sobre essa região e os relatos de viagem dos naturalistas que viajaram pelos rios e matas da Amazônia tiveram grande contribuição para a mudança do olhar sobre ela, pois “os trabalhos dos naturalistas que percorreram a região, já a partir do século XVIII, foram, aos poucos, contribuindo para a mudança dessa mentalidade para uma nova representação que marca o distanciamento diante do exotismo do novo mundo” (Souza Filho, 2012Souza Filho, Durval de. “Ciência e Arte nas fotografias de viajantes na Amazônia no século XIX”. História, comunicação, biodiversidade na Amazônia. Organizado por Malcher, Maria Ataide; Marques, Jane Aparecida; De Paula, Leandro Raphael. São Paulo: Acquerello, 2012. Disponível em: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/257/1/CapitulodeLivro_ImprensaParaenseHistoria.pdf. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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, 9). As informações colhidas por diversos exploradores que descreveram a fauna, flora, geografia e as pessoas habitantes da Amazônia contribuíram para a descoberta da realidade amazônica para além da imaginação mítica.

A respeito do interesse dos exploradores franceses pela região amazônica, Henri CoudreauCoudreau, Octavie. Voyage au Rio Curua : 20 novembre 1900 - 7 mars 1901. Paris : Lahure, 1903. afirma em seu livro Les Français en Amazonie que nenhuma região do mundo onde há franceses vivendo, poderia ser considerada “estrangeira” a seus conterrâneos e assim, “[t]oda região onde a França possui grandes interesses de comércio ou de influência, merece ser estudada pelos franceses” (Coudreau, 1887Coudreau, Henri Anatole. Les français en Amazonie. Paris: Librairie Picard-Bernheim et Cie e Alcide Picard et Kaan éditeurs, 1887. Disponível em: https://bityli.com/foMRR. Acesso em 20 de mar�o de 2022.
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, p. 51 1 « Toute contrée où la France possède de grands intérêts de commerce ou d’influence, mérite d’être étudiée par les Français ». ). Vale lembrar que as viagens exploratórias de Henri e Octavie Coudreau iniciaram na Guiana Francesa e depois seguiram para o norte do Brasil, sempre na região amazônica.

Ele continua, ainda na introdução do livro, dizendo que essa missão nos territórios da “Alta” Guiana Francesa seria um caminho para a realização de um desejo antigo de fazer com que a Guiana Francesa não fosse apenas a Guiana de Caiena, mas sim uma Guiana mais ampla, chamada por ele de “França Equinocial”, que compreenderia a região amazônica do Maroni ao Juruá, de Caiena a Manaus. O interesse comercial e colonial da França em relação à Amazônia no século XIX levou à contratação de Henri e Octavie Coudreau para realizarem diversas missões exploratórias que, por sua vez, deram origem a relatos de viagem riquíssimos a respeito da Amazônia.

Octavie Coudreau, explorador(a) da Amazônia

Marie Octavie Renard (1870-1938), que mais tarde se tornou Coudreau pelo casamento, iniciou suas viagens no interior do Pará acompanhando as expedições lideradas por seu marido. O casal realizou essas viagens a serviço do governo do Pará entre 1883 e 1899. Após a morte de Henri em 1899, Octavie continuou realizando expedições no Pará e Amazonas, como relata Souza Filho (2008)Souza Filho, Durval de. “Ciência e Arte nas fotografias de viajantes na Amazônia no século XIX”. História, comunicação, biodiversidade na Amazônia. Organizado por Malcher, Maria Ataide; Marques, Jane Aparecida; De Paula, Leandro Raphael. São Paulo: Acquerello, 2012. Disponível em: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/257/1/CapitulodeLivro_ImprensaParaenseHistoria.pdf. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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. Henri Coudreau faleceu em 1899 durante uma viagem no alto Trombetas deixando sua esposa devastada. Apesar de sua enorme perda, ela deu prosseguimento à missão exploratória e a partir de então, Octavie Coudreau passou a realizar as viagens liderando sozinha diversas expedições.

Tanto Henri quanto Octavie Coudreau deixaram diversas obras nas quais estão registradas suas descobertas. Octavie se utilizava de mapas, gravuras e foi uma mulher pioneira ao utilizar a fotografia para ilustrar suas descobertas e relatos. Souza Filho (2012)Souza Filho, Durval de. “Ciência e Arte nas fotografias de viajantes na Amazônia no século XIX”. História, comunicação, biodiversidade na Amazônia. Organizado por Malcher, Maria Ataide; Marques, Jane Aparecida; De Paula, Leandro Raphael. São Paulo: Acquerello, 2012. Disponível em: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/257/1/CapitulodeLivro_ImprensaParaenseHistoria.pdf. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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comenta que Henri Coudreau foi um dos primeiros exploradores a trazer material fotográfico para explorações na América. Após se casar com Octavie, Henri divide a tarefa de fotógrafo com a esposa, esta que “seguramente foi a primeira mulher a fotografar a Amazônia e suas gentes” (Souza Filho, 2012Souza Filho, Durval de. “Ciência e Arte nas fotografias de viajantes na Amazônia no século XIX”. História, comunicação, biodiversidade na Amazônia. Organizado por Malcher, Maria Ataide; Marques, Jane Aparecida; De Paula, Leandro Raphael. São Paulo: Acquerello, 2012. Disponível em: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/257/1/CapitulodeLivro_ImprensaParaenseHistoria.pdf. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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, p. 12).

Vale comentar que seu nome já foi muito confundido e grafado de maneira errada em trabalhos brasileiros devido à abreviação “O. Coudreau” que utilizava com frequência e por esse motivo “é comum encontrar o seu nome grafado como Olga, Otile, Otília, Odília, Otávia, Ondine, Otille etc” (Souza Filho, 2012Souza Filho, Durval de. “Ciência e Arte nas fotografias de viajantes na Amazônia no século XIX”. História, comunicação, biodiversidade na Amazônia. Organizado por Malcher, Maria Ataide; Marques, Jane Aparecida; De Paula, Leandro Raphael. São Paulo: Acquerello, 2012. Disponível em: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/257/1/CapitulodeLivro_ImprensaParaenseHistoria.pdf. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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, p. 17). Como relata Souza Filho, foi a partir do trabalho de Sébastien Benoit2 2 Benoit, Sébastien. Henri Anatole Coudreau (1859-1899) – Dernier Explorateur français en Amazonie. Paris. L’Harmattan, 2000, p. 88 no qual foram verificadas em diferentes documentos as assinaturas de Octavie Coudreau feitas por extenso que foi possível ter certeza do nome da exploradora.

Octavie Coudreau descreve em seus livros ter se embrutecido ao longo de tantas viagens em condições precárias, sem conforto, debaixo do sol do equador, passando boa parte de seus dias em lugares inóspitos. Era frequentemente confundida com um homem tanto por sua aparência física e vestimentas, como pelo simples fato de ser a pessoa dirigindo uma expedição. Descrita como enérgica, conduzia as missões com pulso firme, regras muito bem estabelecidas e cobrava obediência de seus trabalhadores.

A própria Octavie Coudreau se autointitulava “explorateur” (explorador), no masculino, dizendo que esta palavra não suportaria o feminino: “je suis explorateur, – ce mot ne supporte pas d’être féminisé” (Coudreau, 1901Coudreau, Octavie. Voyage au Cuminá 20 Avril 1900 - 7 Septembre 1900, Paris: A. Lahure, 1901. Disponível em: https://archive.org/details/voyageaucumin1901coud . Acesso em 14 de março de 2022.
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, p. 1) e continua se referindo ao seu ofício de explorador/exploradora sempre no masculino ao longo de Voyage au Cuminá (1901). Vale lembrar que Octavie é oriunda de um contexto no qual a mulher era suposta de desempenhar um papel de gênero definido. Desbravar terras selvagens além-mar certamente não era uma atividade ligada à mulher, assim, é possível entender por que O. Coudreau entende seu ofício de explorador/exploradora no masculino, pois está muito longe do papel designado às mulheres como na sociedade europeia da época em que vivia.

Estabelecido o perfil de Octavie que transgride a norma de gênero da época, é importante frisar que mesmo tendo escapado de uma maneira ou de outra da opressão de gênero no sentido de não ter desempenhado o papel atribuído às mulheres na sociedade europeia da época, O. Coudreau performava por sua vez um outro tipo de opressão. Ela era racista e violenta em relação aos negros e acreditava na inferioridade racial destes. Descrita como “uma mulher de fibra, de coragem, e, provavelmente, mais obstinada que Henri” (Souza Filho, 2012Souza Filho, Durval de. “Ciência e Arte nas fotografias de viajantes na Amazônia no século XIX”. História, comunicação, biodiversidade na Amazônia. Organizado por Malcher, Maria Ataide; Marques, Jane Aparecida; De Paula, Leandro Raphael. São Paulo: Acquerello, 2012. Disponível em: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/257/1/CapitulodeLivro_ImprensaParaenseHistoria.pdf. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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, p. 17), passou do lugar de coadjuvante das explorações do marido para (após a morte dele) um papel central, comandando as expedições exploratórias, porém, a mesma mulher de fibra que desbravou a Amazônia era aquela que punia fisicamente os trabalhadores negros que a acompanhavam nas expedições.

As viagens de Octavie Coudreau resultaram na publicação de diversos livros que registraram suas viagens. O primeiro deles foi a finalização do trabalho iniciado por Henri, Voyage au Trombetas: 7 août - 25 novembre 1899, publicado em 1899. E nos anos seguintes escreveu sozinha a respeito das missões conduzidas por ela mesma: Voyage au Cuminá: 20 avril 1900 - 7 septembre 1900 publicado em 1901; Voyage au rio Curuá: 20 novembre 1900 – 7 mars 1901 publicado em 1903; Voyage à la Mapuera: 21 avril 1901 – 24 décembre 1901 também publicado em 1903; Voyage au Canumá : 21 août 1905 - 16 février 1906 publicado em 1906.

O gênero relato de viagem

A viagem é tema constante no universo literário, seja ela simbólica ou geográfica, esta representa uma passagem, passagem do tempo, passagem do espaço, do ser. A questão inicial que nos toca diz respeito à sua constituição enquanto gênero literário, seu status dentro do sistema literário brasileiro, bem como suas características centrais, para, em seguida, voltarmo-nos especificamente ao objeto de estudo que nos compete, a saber, a obra de Octavie Coudreau, Voyage au Rio Curua (1903), bem como nossa tradução para o português brasileiro.

Com efeito, trata-se de um gênero complexo, que pode ser estudado sob diferentes perspectivas, seja como fonte documental, por um viés histórico, antropológico, sociológico, seja por um viés literário, explorando suas características estéticas e ficcionais. Tais encaminhamentos direcionam nosso olhar sobre o texto em diversos aspectos, tais como a “veracidade” das informações ali contidas. Por essa razão, importa adotarmos uma determinada abordagem diante do texto que, no nosso caso, por se tratar de uma análise motivada pela tradução de um excerto da obra de Octavie Coudreau, buscará atentar tanto para autenticidade das informações documentais, quanto para aspectos linguísticos. A esse respeito, afirma Rossato que:

Os relatos dos viajantes estrangeiros foram e ainda são muito utilizados como fontes nos estudos de várias áreas, como a História, a Sociologia e a Antropologia. Até a década de 1970, essa documentação foi usada sem maiores análises críticas, sem a preocupação de contextualizar a fala desses viajantes e o local de produção desses discursos. Ilka Boaventura Leite percebeu que os viajantes são citados por determinados autores, como Gilberto Freyre para ‘enfatizar o caráter democrático das relações sociais da sociedade brasileira’, enquanto outros os utilizam para dizer justamente o contrário, ou seja, que as relações raciais no Brasil são marcadas por forte racismo. Entre esses últimos podemos citar Roger Bastide, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni

(Rossato, 2007Rossato, Luciana. A lupa e o diário: história natural, viagens científicas e relatos sobre a Capitania de Santa Catarina (1763-1822). Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2007., p 15).

Ou seja, importa, igualmente, conhecer o autor do relato, bem como saber a quem este se destina, quais suas motivações, seu escopo. É sabido que países como França, Portugal, Espanha financiaram viagens que tinham como intuito não apenas a busca por conhecimento geográfico e cultural, mas sim avaliar o local e suas possibilidades de exploração econômica, pois, certamente, tais fatores influenciarão a redação do relato. No que tange à autoria do texto, Pageaux reforça o fato de que:

Dans le récit de voyage, l’écrivain-voyageur est producteur du récit, objet privilégié du récit, organisateur du récit, et metteur en scène de sa propre personne. Il est narrateur, acteur, expérimentateur et objet d’expérimentation, mémorialiste de ses propres faits et gestes, héros de sa propre histoire sur un théâtre étranger dont il se fait l’annaliste, le chroniqueur et l’arpenteur privilégiés. Il est surtout persuadé, parce qu’il est voyageur, qu’il est un témoin unique

(Pageaux, 1989Pageaux, Daniel-Henri. “De l’imagerie culturelle à l’imaginaire”. Pr�cis de litt�rature compar�e. Dirigido por Brunel, Pierre Brunel e Chevrel, Yves. Paris: PUF, 1989. pp. 133-162. URL: http://rrlinguistics.ru/journal/article/548/. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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, p. 135).

Portanto, conhecer a autora nos elucidará quanto a questões fundamentais da constituição de seu relato. De acordo com Pageaux, pode-se entender o autor-viajante como uma espécie de narrador autodiegético, que narra sua própria história, bem como a de um determinado povo, a partir de sua realidade. No caso que nos compete, trata-se de uma francesa exploradora, em expedição no Norte do Brasil, realizando uma viagem com fins mercantilistas, no início do século XX. Tal particularidade levanta a questão sobre a autenticidade das informações que compõem o relato, uma vez que não se trata de uma “autoridade” sobre o local do qual fala, mas de uma estrangeira, que necessita de brasileiros para se informar sobre a região. Ou seja, certamente, este relato soará diferente para leitores franceses e para os leitores brasileiros da tradução. Nesse sentido, no processo de tradução, foi preciso fazer uma série de alterações no texto, em busca de uma maior acuidade das informações veiculadas, sobretudo quanto aos topônimos e antropônimos, afrancesados no texto-fonte, conforme veremos mais adiante.

Aqui, o que está em jogo é o pacto de leitura, afinal, ao iniciarmos a leitura de um relato de viagem, estabelecemos uma espécie de contrato de confiança acerca das informações do texto. Provavelmente, o leitor francês não buscará em outras fontes comprovações adicionais sobre o conteúdo do texto, sobre a veracidade de seus dados geográficos, culturais etc. No entanto, ao traduzirmos este relato de viagem sobre o Brasil para leitores brasileiros, a não observância sobre informações equivocadas, certamente, despertará a suspeição no leitor e a dúvida sobre a pertinência do relato enquanto fonte documental. Por isso, optamos por corrigir determinados dados equivocados encontrados no texto.

Conforme destaca Ribeiro, o relato de viagem na historiografia literária brasileira pode ser visto sob duas perspectivas: por um lado, defende-se a ideia de que o gênero está no cerne da formação de uma literatura brasileira, tendo como símbolo a Carta de Pero Vaz de Caminha, aliás, tida por Bosi como a autêntica certidão de nascimento do Brasil. Merquior também reforça essa ideia afirmando que “É costume iniciar a história da literatura nacional pelo exame das obras escritas, quase sempre sem intenção artística, por colonos ou viajantes, nos dois primeiros séculos do Brasil” (Merquior, 1996Merquior, J. G. De Anchieta a Euclides: breve hist�ria da literatura brasileira I. 3. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996., p. 12). Por outro lado, Ribeiro aponta o desaparecimento do gênero nos manuais de história da literatura, “revelando, por parte dos pesquisadores, a inclusão de tal literatura na lista dos “gêneros menores” (Ribeiro, 2007Ribeiro, Roberto Carlos. Literatura de viagem e historiografia literária brasileira. I Revista Letras & Letras. v. 23, nº 1 (2007): 145-159. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/letraseletras/article/view/25280/14073. Acesso em 02 de março de 2022.
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, p. 145). Assim como no relato de Pero Vaz de Caminha, é possível identificarmos a relação mercantilista como o motor gerador do relato de Octavie Coudreau, no qual a autora busca descrever com detalhes o local e os costumes de seus habitantes. As informações paratextuais da obra, por exemplo, nos indicam sua natureza documental, uma vez que apresenta nos apêndices coordenadas geográficas, tais como altitude e latitude dos locais explorados e uma tabela de figuras. A seguir, nos comentários de tradução, apresentaremos outros exemplos que corroboram tais afirmações, além de elucidar nosso posicionamento tradutório diante de tal texto.

Comentários de tradução

Antes de iniciar os comentários sobre a tradução, é pertinente informar que a tradução do primeiro capítulo da obra Voyage au Rio Curua (1903), de Octavie Coudreau, foi realizada a quatro mãos, o que possibilitou um auxílio mútuo diante de questões postas pelo texto. O diálogo durante o processo tradutório foi fundamental para o melhor entendimento da obra e a elaboração de uma tradução que contemplasse duas visões sobre o mesmo texto, partindo do princípio de que cada nova leitura de um texto revela novos aspectos de sua composição.

Conforme dito anteriormente, o gênero relato de viagem poderia ser sucintamente definido como o resultado do encontro entre duas culturas distintas e, geralmente, hierarquizadas, a do escritor-viajante e a do objeto observado. Sob esse prisma, entendemos melhor a perspectiva adotada por Octavie Coudreau em seu texto, uma vez que a autora se posiciona constantemente como ser superior, como representante do poder colonizador, manifestado em asserções pejorativas sobre o povo e a cultura local, como no trecho abaixo, em que diz que:

Os Mocambeiros não respeitam e não reconhecem nada; eles não querem trabalhar e não sabem obedecer. Não podemos nem mesmo dizer que são simples crianças que não sabem conduzir a própria existência, são seres viciosos e nocivos, eles são inúteis do ponto de vista do valor social3 3 « Les Mucambeiros ne respectent et n’ont la reconnaissance de rien ; ils ne veulent pas travailler et ne savent pas obéir. On ne peut même pas dire que ce sont simplement des enfants qui ne savent pas diriger leur existence, ce sont des être vicieux et malfaisants, ils sont nuls au point de vue de la valeur sociale »

(1903, p. 15).

A esse respeito, as palavras de Pageaux são esclarecedoras, quando afirma que « L’image est donc l’expression, littéraire ou non, d’un écart significatif entre deux ordres de réalité culturelle » (Pageaux, 1989Pageaux, Daniel-Henri. “De l’imagerie culturelle à l’imaginaire”. Pr�cis de litt�rature compar�e. Dirigido por Brunel, Pierre Brunel e Chevrel, Yves. Paris: PUF, 1989. pp. 133-162. URL: http://rrlinguistics.ru/journal/article/548/. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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, p. 135). Com efeito, a autora descreve os habitantes da região de maneira vilipendiosa, a partir de sua realidade, ilustrando a afirmação de Pageaux de que:

[...] à l’intérieur d’une société et d’une culture envisagées comme champs systématiques, l’écrivain écrit, choisit son discours sur l’Autre, parfois en contradiction totale avec la réalité politique du moment : la rêverie sur l’Autre devient un travail d’investissement symbolyque continu. Si, au plan individuel, écrire sur l’Autre peut aboutir à s’autodéfinir, au plan collectif, dire l’Autre peut aussi servir les défoulements ou les compensations, justifier les mirages ou les fantasmes d’une société

(Pageaux, 1989Pageaux, Daniel-Henri. “De l’imagerie culturelle à l’imaginaire”. Pr�cis de litt�rature compar�e. Dirigido por Brunel, Pierre Brunel e Chevrel, Yves. Paris: PUF, 1989. pp. 133-162. URL: http://rrlinguistics.ru/journal/article/548/. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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, p. 151).

Além das declarações sobre a população local, a autora descreve a região, ora objetivamente, como quando detalha que “em todo o paraná do Curuá, de uma extensão de 18,7 quilômetros, há somente um lugar um pouco alto, e apenas seis casas foram construídas, mas tão próximas umas das outras que de longe elas parecem formar uma única habitação”4 4 « Ces terres hautes sont excessivement rares ; dans tout le parana du Curuà, d’une longueur de 18 kilomètres 700, il n’y a qu’un endroit un peu haut, et, six maisons seulement y sont bâties, mais si près les unes des autres que de loin elles paraissent ne faire qu’une seule et même habitation ». (1903, p. 6), ora de maneira subjetiva, como no trecho abaixo, em que a autora nos presenteia com uma descrição poética do Rio Curuá, que revela a subjetividade do olhar da viajante, e nos permite identificar suas qualidades literárias:

Grandes nuvens passam na imensidão do céu, às vezes percebe-se o brilho discreto das estrelas; algumas velas deslizam sem barulho, caminhando lentamente, como fantasmas; essas velas formam manchas brancas que cortam violentamente a doçura indecisa do horizonte; um vento fresco me traz inebriantes perfumes de orquídeas... estou completamente sozinha, isso basta, não é preciso mais para me fazer perfeitamente feliz5 5 « De gros nuages passent dans l’immensité du ciel, parfois on aperçoit la lueur discrète des étoiles ; quelques voiles glissent sans bruit, cheminent lentement, pareilles à des fantômes ; ces voiles font des taches blanches qui tranchent violemment sur la douceur indécise de l’horizon ; un vent frais m’apporte d’enivrants parfums d’orchidées... je suis complètement seule, cela suffit, il n’en faut pas plus pour me rendre parfaitement heureuse... » ...

(1903, p. 3)

Quanto à nossa tradução, buscamos nos aproximar ao máximo do estilo de escrita da autora, reproduzindo vícios de linguagem, tais como tautologias identificadas no texto, como “revivre à nouveau”, traduzido por “reviver novamente”, entre outras. O mesmo ocorreu no que diz respeito ao ritmo da obra, marcado por uma pontuação oscilante, mais prosódica que gramatical, e que fora mantida na tradução. Afinal, corroboramos com Meschonnic, quando este afirma que “La ponctuation est la part visible de l’oralité” (Meschonnic, 2000Meschonnic, Henri. La ponctuation, graphie du temps et de la voix. Revue La Licorne, n� 52 (2000). Disponível em: https://licorne.edel.univ-poitiers.fr/index.php?id=5856. Acesso em 25 de mar�o de 2022.
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, p. 289) e, por essa razão, merece atenção especial no processo tradutório. Aliás, a esse respeito, Isabelle Serça denuncia o lugar secundário ocupado pela pontuação, ao declarar: «Que l’on effectue des coupes dans un texte, que l’on en modifie l’expression, et l’on criera aussitôt à la censure; mais corriger la ponctuation d’un auteur ne semble pas ou tout du moins n’a longtemps pas été considéré comme un crime de lèse-majesté» (Serça, 2012Serça, Isabelle. Esthétique de la ponctuation. Paris: Gallimard, 2012., p. 78).

Ademais, Octavie Coudreau reproduz foneticamente antropônimos brasileiros em seu texto, o que gera erros de grafia, como, por exemplo, o nome da etnia dos “índios Barés”, grafado no relato francês como “Barrès”, ou ainda “Estève”, traduzido por “Esteves”, “Thomasia”, na tradução “Tomásia”, “Raymond Simoès”, em português “Raimundo Simões”, entre outros. O mesmo ocorre com topônimos, tais como “Capão”, no texto-fonte “Capao”, bem como o nome da cidade de “Alenquer”, grafado no relato com a letra “m” (“Alemquer”), ou ainda o barco a vapor que ela diz se chamar “Prudentes-de-Moraes”, mas por sabermos do nome da personalidade política brasileira do ex-presidente, “corrigimos” o nome para Prudente de Morais. Outrossim, foram feitas correções ortográficas em outras palavras utilizadas em português no texto-fonte, como “carne secca”, grafada com dois “c”, bem como “cannarana”, na tradução “canarana”, ou ainda “castanhos”, para “castanhas”.

Além das notas de rodapé presentes no texto de Coudreau, nas quais, geralmente, busca explicar elementos lexicais e culturais da realidade brasileira e amazônica, como “jacaré”, em que a autora acrescenta uma nota para indicar a equivalência com “crocodile”, ou então para explicar o nome “Chico”, indicando em nota tratar-se do diminutivo de Francisco, inserimos notas das tradutoras para indicar as palavras que aparecem em português no texto-fonte, pois acreditamos que sejam informações pertinentes para o entendimento da relação da autora com a cultura brasileira e como isso se manifesta em seu texto.

Uma das características do texto de Octavie Coudreau que mais chama a atenção de leitoras e leitores do século XXI é seu racismo patente. A decisão tomada frente a esse texto foi a de reescrever o texto na língua de chegada de forma que permanecesse evidente a visão de sua autora. Assim, buscou-se manter uma postura ética – no sentido bermaniano de tradução ética (Berman, 2013Berman, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie-Hélène Catherine Torres; Mauri Furlan; Andreia Guerini. 2ª edição. Tubarão: Copiart; Florianópolis: PGET/UFSC, 2013.) – apesar de não ter sido essa a postura da autora do texto frente ao Outro que encontrou em suas explorações e analisou de forma etnocêntrica. O racismo de Octavie Coudreau expresso em seu discurso merece, portanto, comentário mais extenso.

De início é necessário destacar que a mentalidade civilizatória colonialista de Octavie Coudreau percebe indígenas e afro-brasileiros de maneiras distintas. Enquanto ela observa os hábitos indígenas com curiosidade e atenção (mesmo que seja para o uso desses conhecimentos de forma a beneficiar sua missão exploratória), ela interpreta os modos e valores dos negros com menosprezo e repulsa. Isso não significa dizer que seu comportamento frente às comunidades indígenas de maneira geral ou em relação a uma ou outra pessoa indígena especificamente não seja racista, já que, claro, há uma perspectiva etnocêntrica-eurocêntrica por parte de Octavie Coudreau ao julgá-los incivilizados, no entanto, o racismo de O. Coudreau se manifesta de outra forma quando se trata dos negros. Na interpretação dela, os negros são sub-humanos, quase bestiais, tanto por seu aspecto físico quanto por sua moral. Não é apenas o exótico anedótico, mas sim o bizarro abominável que causa verdadeira ojeriza.

Kabengele Munanga (2020)Munanga, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. 4ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. destaca que, no século XVIII, os grandes pensadores iluministas ao invés de contribuírem para uma mudança no olhar europeu sobre os negros num movimento de correção da imagem negativa que se tinha sobre eles, na verdade contribuíram para a consolidação da noção depreciativa circulante. Munanga resume dizendo que “[s]exualidade, nudez, feiura, preguiça e indolência constituem os temas-chave da descrição do negro na literatura científica da época” (Munanga, 2020Munanga, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. 4ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2020., p. 27). Octavie Coudreau, na virada do século XIX para o século XX ainda tinha essas mesmas percepções e afirmou em seus livros que os negros seriam depravados, de aparência animalesca, preguiçosos e indolentes. Como afirma Souza Filho, Octavie Coudreau era:

Racista, preconceituosa, fazia questão de deixar clara a visão enviesada que tinha em relação aos negros quilombolas e mestiços de negros com índios, para ela seres degenerados, preguiçosos, ladrões, traiçoeiros e incapazes de ascender a quaisquer condições civilizatórias superiores que fossem

(Souza Filho, 2012Souza Filho, Durval de. “Ciência e Arte nas fotografias de viajantes na Amazônia no século XIX”. História, comunicação, biodiversidade na Amazônia. Organizado por Malcher, Maria Ataide; Marques, Jane Aparecida; De Paula, Leandro Raphael. São Paulo: Acquerello, 2012. Disponível em: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/257/1/CapitulodeLivro_ImprensaParaenseHistoria.pdf. Acesso em 10 de mar�o de 2022.
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, p. 16).

Além das diversas descrições preconceituosas que faz dos negros, outro exemplo aparece na fala de Alexandre transcrita por Octavie Coudreau, ocasião na qual ela reproduz marcas de oralidade, e dá destaque ao “erro” na fala dele ao dizer “argente” em vez de “agente”. Em nossa tradução, reproduzimos a descrição da fala: no trecho “c’est moi qui suis le gouverneur du Pacoval, je suis l’Argente (l’agent) du gouvernement” traduzido como “sou eu o governador do Pacoval, eu sou o Argente (agente) do governo”. Octavie Coudreau também usa ainda de ironia para se referir aos Mocambeiros do Pacová, “Quand messieurs les nègres sont en fête ou bien qu’ils sont gris, ils obligent le pauvre Chico à se lever au milieu de la nuit pour leur servir du tafia [...]”, que traduzimos como “Quando os senhores negros estão em festa ou alcoolizados, eles obrigam o pobre Chico a se levantar no meio da noite para lhes servir tafiá [...]”. Mais um exemplo é a descrição repleta de preconceitos a respeito das práticas religiosas dos Mocambeiros. O racismo religioso de O. Coudreau se revela ao descrever as imagens de santos como sacrilégios, diz que as rezas pareciam mais insultos ao divino e acredita ser totalmente inadequado e esdrúxulo fazer uma mistura do sagrado com o profano já que após as rezas, havia rituais com música, dança e uso de bebida alcóolica.

Nossa abordagem ao traduzir todos os trechos em que é revelado o racismo de O. Coudreau foi no sentido de permitir que continuasse evidente no texto traduzido em língua portuguesa as marcas do racismo da autora do texto original. Mesmo que alguém tentasse traduzir esse texto na tentativa de amenizar ou disfarçar o racismo de sua autora essa tarefa seria impossível, pois são muitas as formas de demonstração do racismo, não apenas no uso de uma ou outra palavra isoladamente de forma pejorativa (e que pudesse ser traduzida por uma palavra mais neutra na língua de chegada), mas sim toda mentalidade expressa em seu discurso.

Considerações finais

Buscamos, com este artigo, apresentar a tradução comentada do primeiro da capítulo da obra Voyage au Rio Curua (1903), de Octavie Coudreau, além de uma breve biografia da autora, bem como reflexões sobre o gênero relato de viagem. Octavie se tornou uma mulher notável na história das viagens exploratórias à Amazônia, tendo liderado diversas expedições, após o falecimento de seu marido, papel incomum para uma mulher. A autora deixou diversas obras à posteridade, nas quais narrou suas viagens e descobertas, tendo conquistado um lugar de destaque em um meio essencialmente masculino.

Coelho, Benchimol e Miranda (2020)Coelho, Matheus Camilo; Benchimol, Alegria; Miranda, Elis de Araújo. “As Contribuições de Henri Coudreau à Coleção Etnográfica do Museu Paraense Emílio Goeldi”. Museologia & Interdisciplinaridade. v. 9, nº 17 (2020): 202-219. DOI: 10.26512/museologia.v9i17.19690. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/view/19690. Acesso em 24 de fevereiro de 2022.
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comentam sobre o esposo de Octavie Coudreau, Henri Coudreau, afirmando que por vezes os relatos e imagens apresentados por ele eram “imprecisos e permeados por ideologias de sua época”, mas que apesar disso as documentações deixadas por ele são ricas e “servem de fontes para antropólogos, geógrafos e historiadores até os dias de hoje para o estudo de costumes, localização, hábitos, relações políticas e sociais desses povos indígenas e, principalmente, de representações que se fazia acerca dos mesmos” (p. 204). Ainda que a declaração seja direcionada a Henri Coudreau, acreditamos que tal fato serve, igualmente, aos escritos de Octavie.

Quanto ao nosso projeto de tradução, buscamos manter explícito o racismo de Octavie Coudreau, conscientemente, para que, dentre outros motivos, ficassem registradas as palavras de uma europeia, francesa, na virada do século XX, sobre comunidades negras amazônicas bem como sobre indivíduos que compunham essas comunidades. Como tal, serve de documento histórico, já que o relato de viagem é um gênero que registra não somente informações gerais e dados (mais ou menos) precisos seguindo a objetividade da metodologia científica, mas também impressões subjetivas da pessoa autora do relato.

Ainda no que concerne às escolhas tradutórias, optamos por manter ao máximo as características estéticas do texto, sem embelezar ou clarificar passagens. O mesmo ocorreu quanto ao ritmo e oralidade da obra, preservados em sua pontuação e sintaxe. Apenas corrigimos alguns antropônimos e topônimos brasileiros afrancesados no texto-fonte, bem como palavras grafadas incorretamente em português. Por fim, vale destacar o uso de notas das tradutoras, inseridas para indicar a presença de palavras em português no texto-fonte.

  • 1
    « Toute contrée où la France possède de grands intérêts de commerce ou d’influence, mérite d’être étudiée par les Français ».
  • 2
    Benoit, Sébastien. Henri Anatole Coudreau (1859-1899) – Dernier Explorateur français en Amazonie. Paris. L’Harmattan, 2000, p. 88
  • 3
    « Les Mucambeiros ne respectent et n’ont la reconnaissance de rien ; ils ne veulent pas travailler et ne savent pas obéir. On ne peut même pas dire que ce sont simplement des enfants qui ne savent pas diriger leur existence, ce sont des être vicieux et malfaisants, ils sont nuls au point de vue de la valeur sociale »
  • 4
    « Ces terres hautes sont excessivement rares ; dans tout le parana du Curuà, d’une longueur de 18 kilomètres 700, il n’y a qu’un endroit un peu haut, et, six maisons seulement y sont bâties, mais si près les unes des autres que de loin elles paraissent ne faire qu’une seule et même habitation ».
  • 5
    « De gros nuages passent dans l’immensité du ciel, parfois on aperçoit la lueur discrète des étoiles ; quelques voiles glissent sans bruit, cheminent lentement, pareilles à des fantômes ; ces voiles font des taches blanches qui tranchent violemment sur la douceur indécise de l’horizon ; un vent frais m’apporte d’enivrants parfums d’orchidées... je suis complètement seule, cela suffit, il n’en faut pas plus pour me rendre parfaitement heureuse... »

Referências

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  • Coelho, Matheus Camilo; Benchimol, Alegria; Miranda, Elis de Araújo. “As Contribuições de Henri Coudreau à Coleção Etnográfica do Museu Paraense Emílio Goeldi”. Museologia & Interdisciplinaridade v. 9, nº 17 (2020): 202-219. DOI: 10.26512/museologia.v9i17.19690. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/view/19690. Acesso em 24 de fevereiro de 2022.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    13 Ago 2022
  • Aceito
    20 Set 2022
  • Publicado
    Nov 2022
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