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AS PESQUISAS BRASILEIRAS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS DE SINAIS: OS ETILS NA PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA TRADUÇÃO

BRAZILIAN RESEARCH ON SIGN LANGUAGES TRANSLATION AND INTERPRETING: THE SLTIS IN GRADUATE PROGRAMS IN TRANSLATION STUDIES

Resumo1 1 A pesquisa apresentada, neste artigo, vincula-se ao Núcleo de Pesquisas em Interpretação e Tradução de Línguas de Sinais – InterTrads, ao Observatório da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais – Otradilis, por meio do Projeto de Pesquisa “Cienciometria dos Estudos da Tradução e Interpretação”, ao doutorado de Fernanda Christmann na Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET-UFSC), sob a orientação da profa. Dra. Maria Lúcia Barbosa de Vasconcellos e coorientação da profa. Dra. Andréia Guerini, e às investigações pós-doutorais realizadas por Carlos Henrique Rodrigues na Universidade de Vigo (UVigo), Espanha, sob a supervisão da profa. Dra. María Teresa Veiga-Díaz.

A constituição do campo dos Estudos da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais (ETILS), nos últimos anos, tem sido impulsionada pelas pesquisas sobre a tradução e a interpretação de línguas de sinais, bem como sobre temas afins. Considerando, portanto, a emergência e consolidação desse campo, apresenta-se, neste artigo, um mapeamento de pesquisas brasileiras de mestrado e de doutorado acadêmicos que envolvam “a tradução e o traduzir” ou “a interpretação e o interpretar” de/entre/para línguas de sinais. Para tanto, realizou-se uma busca nas produções acadêmicas de três programas brasileiros de pós-graduação em Estudos da Tradução, a saber: (1) o da Universidade Federal de Santa Catarina (PGET-UFSC); (2) o da Universidade de Brasília (POSTRAD-UnB); e (3) o da Universidade Federal do Ceará (POET-UFC). Identificou-se que, entre 2005 e 2022, os programas contaram com a defesa de 824 trabalhos de conclusão. Desse número total de trabalhos, 129 (15,6%) deles corresponderam aos critérios de seleção, sendo que, do total de 621 dissertações, 109 (17,4%) delas fazem parte dos ETILS, assim como 20 (9,8%) teses do total de 203. Com os trabalhos mapeados, algumas categorizações e análises foram realizadas em relação: ao enfoque central das pesquisas; à sua distribuição temporal; à autoria e ao perfil dos(as) pesquisadores(as); e a orientação dos trabalhos. De modo geral, observou-se o crescimento do número de pesquisas, ainda que haja certa oscilação nos quantitativos de defesas anuais, o que atesta o fato de os ETILS serem, atualmente, um campo consolidado, profícuo e em franca ascensão no país.

Palavras-chave
Bibliometria; Estudos da Tradução; Estudos da Interpretação; Línguas de Sinais

Abstract

The emergence of Sign Language Translation and Interpreting Studies (SLTIS) in recent years has been drive by research on sign language translation and interpreting, and related topics. Considering the development and consolidation of this field, this paper presents a mapping of Brazilian master’s and doctoral academic research focused on “translation and translating” or “interpretation and interpreting” from/between/to sign languages. To do this, a search was carried out in the academic productions of three Brazilian Graduate Programs in Translation Studies at: (1) the Federal University of Santa Catarina (PGET-UFSC); (2) the University of Brasília (POSTRAD-UnB); and (3) the Federal University of Ceará (POET-UFC). It was identified that, from 2005 to 2022, the programs had the completion of 824 research. Of this total number of research, 129 (15.6%) of them correspond to the selection criteria — of the total of 621 dissertations, 109 (17.4%) of them are within the scope of SLTIS, as well as 20 (9.8%) theses in a total of 203. Therefore, after mapping this academic production, some categorizations and analyses were conducted regarding: the central focus of the research; its temporal distribution; the authorship and profile of the researchers; and the research supervisors. In general, there has been an increase in research within the scope of SLTIS which shows that this field is consolidated, productive, and rapidly rising in Brazil.

Keywords
Bibliometrics; Translation Studies; Interpreting Studies; Sign Languages

Introdução

O campo dos Estudos da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais — ETILS — tem sido anunciado, mapeado e investigado por diferentes pesquisadores(as) brasileiros(as) nos últimos anos (Pereira, 2010Pereira, Maria Cristina Pires. “Produções Acadêmicas sobre Interpretação de Língua de Sinais: dissertações e teses como vestígios históricos”. Cadernos de Tradução, 2(2), p. 99-117, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p99
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; Rodrigues & Beer, 2015Rodrigues, Carlos Henrique & Beer, Hanna. “Os estudos da tradução e da interpretação de línguas de sinais: novo campo disciplinar emergente?”. Cadernos de Tradução, 35(2), p. 17-45, 2015. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v35nesp2p17
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; Santos, 2013Santos, Silvana Aguiar dos. Tradução/Interpretação de Língua de Sinais no Brasil: uma análise das teses e dissertações de 1990 a 2010. 2013. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122677.
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; Souza, 2010Souza, Saulo Xavier de. Performances de tradução para a Língua Brasileira de Sinais observadas no curso de Letras-Libras. 2010. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/94642.
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; Vasconcellos, 2010Vasconcellos, Maria Lúcia Barbosa de. “Tradução e Interpretação de Língua de Sinais (TILS) na Pós-Graduação: a afiliação ao campo disciplinar ‘Estudos da Tradução’”. Cadernos de Tradução, 2(26), p. 119-143, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p119
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). É possível observar, de modo geral, que as origens desse campo se localizam, sobretudo, na área da Educação, da Linguística e das Letras, deslocando-se, gradativamente, para o âmbito específico dos Estudos da Tradução e dos da Interpretação, não apenas no que se refere ao seu enfoque e ao principal contexto de produção de suas pesquisas, mas, também, no que diz respeito à sua fundamentação teórica e às suas metodologias de investigação.

É importante considerar, portanto, que a consolidação de um campo disciplinar relaciona-se a diferentes fatores, dentre os quais podemos citar: (i) a constituição e especificação de um objeto de pesquisa; (ii) a consolidação e ampliação de pesquisas que se organizam em torno desse objeto; (iii) a sistematização de um conjunto de conhecimentos que caracterizam e definem tal objeto, bem como os meios de abordá-lo; (iv) a formação de pesquisadores(as) em programas de pós-graduação; (v) a aproximação e a integração de pesquisadores(as) — em núcleos, em grupos e/ou em programas de pós-graduação — que se articulam para investigar esse objeto; (vi) o volume e a regularidade de publicações específicas (com destaque aos dossiês em periódicos renomados); e (vii) a conquista de espaço em eventos, nacionais e internacionais, dentro da grande área em que o campo se localiza, assim como a promoção de eventos específicos.

A trajetória dos ETILS, no Brasil, evidencia que os fatores supracitados foram partes de sua consolidação, sendo que, cada vez mais, observa-se o campo disciplinar alçando sua maturidade — no que se refere ao seu status científico, epistêmico e político — e contribuindo de modo efetivo em diversas áreas importantes à sociedade contemporânea, tais como: (i) o aprimoramento da formação de tradutores(as) e de intérpretes de línguas de sinais2 2 É importante mencionar que nem todas as línguas de sinais têm recebido o devido reconhecimento e valorização por parte das instituições, já que algumas têm sido priorizadas, muitas vezes, em detrimento de outras. Atualmente, são necessárias políticas e ações que tenham em vista o incentivo e a promoção de todas as línguas de sinais, inclusive daquelas consideradas emergentes, das línguas de sinais indígenas, das línguas de sinais em risco de extinção, dentre outras. , tanto de pessoas surdas quanto não surdas, em cursos técnicos, de graduação e de especialização; (ii) o avanço da formação de pesquisadores(as), no âmbito da pós-graduação, com destaque para o mestrado e o doutorado em Estudos da Tradução; (iii) o fomento a uma diversidade de programas, projetos e ações de extensão, principalmente nas universidades federais, com foco na promoção e na garantia de direitos às comunidades surdas sinalizantes; e (iv) a disponibilização de arcabouços teóricos, de dados e de conhecimentos capazes de alimentar a proposição e o aperfeiçoamento de políticas linguísticas e de políticas de tradução/interpretação.

Considerando, portanto, a emergência, o desenvolvimento e a consolidação do campo dos ETILS, apresentamos um mapeamento das pesquisas brasileiras, em nível de pós-graduação stricto sensu — mestrado e doutorado acadêmicos —, que envolvem “a tradução e o traduzir” ou “a interpretação e o interpretar” de/entre/para línguas de sinais — bem como suas temáticas afins — como seu foco de interesse e, consequentemente, objeto de investigação. Para tanto, partimos de uma busca nas produções acadêmicas (i.e., dissertações e teses) dos três únicos programas brasileiros de pós-graduação em Estudos da Tradução3 3 Considerando as mudanças ocorridas no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (Tradusp), iniciado em 2011/2012, na Universidade de São Paulo (USP), o qual passou, em março 2017, após a unificação de alguns programas do Departamento de Línguas Modernas e do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a constituir-se como um novo programa de Pós-graduação em Letras Estrangeiras e Tradução (LETRA), decidimos não considerá-lo como um Programa específico de Estudos da Tradução, como ele era antes. Portanto, suas produções não foram consideradas, neste texto, ainda que muitas delas tenham sido defendidas antes das alterações de 2017. Como informação, identificamos a seguinte pesquisa relacionada aos ETILS: Convencionalidade nas legendas de efeitos sonoros na legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE) realizada por Nascimento (2018). , a saber: (1) o da Universidade Federal de Santa Catarina (PGET-UFSC), criado em 2004; (2) o da Universidade de Brasília (POSTRAD-UnB), criado em 2011; e (3) o da Universidade Federal do Ceará (POET-UFC), criado em 2014.

Os primeiros registros nacionais sobre a emergência e afirmação dos ETILS

Pode-se considerar que os primeiros trabalhos acadêmicos brasileiros que se dedicaram a identificar e, por sua vez, a sistematizar os estudos que foram realizados, ou que estavam sendo desenvolvidos, sobre a interpretação e/ou a tradução de/entre/para línguas de sinais e que, por sua vez, referiram-se a um campo específico de conhecimento, foram os de Pereira (2010)Pereira, Maria Cristina Pires. “Produções Acadêmicas sobre Interpretação de Língua de Sinais: dissertações e teses como vestígios históricos”. Cadernos de Tradução, 2(2), p. 99-117, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p99
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, Vasconcellos (2010)Vasconcellos, Maria Lúcia Barbosa de. “Tradução e Interpretação de Língua de Sinais (TILS) na Pós-Graduação: a afiliação ao campo disciplinar ‘Estudos da Tradução’”. Cadernos de Tradução, 2(26), p. 119-143, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p119
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e Souza (2010)Souza, Saulo Xavier de. Performances de tradução para a Língua Brasileira de Sinais observadas no curso de Letras-Libras. 2010. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/94642.
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, seguidos pelos de Santos (2013)Santos, Silvana Aguiar dos. Tradução/Interpretação de Língua de Sinais no Brasil: uma análise das teses e dissertações de 1990 a 2010. 2013. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122677.
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e de Rodrigues & Beer (2015)Rodrigues, Carlos Henrique & Beer, Hanna. “Os estudos da tradução e da interpretação de línguas de sinais: novo campo disciplinar emergente?”. Cadernos de Tradução, 35(2), p. 17-45, 2015. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v35nesp2p17
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. A apresentação desses mapeamentos iniciais, neste artigo, tem o objetivo de situar a pesquisa e, por sua vez, de oferecer uma visão geral de como o campo dos ETILS foi se desenvolvendo e, deste modo, permitir que se observem alguns aspectos relevantes, tais como a ampliação significativa do número de pesquisas, sua diversificação temática e sua gradativa localização e consolidação em programas de pós-graduação em Estudos da Tradução.

Quadro 1
Mapeamentos dos ETILS, no Brasil

No artigo, “Produções Acadêmicas sobre Interpretação de Língua de Sinais: dissertações e teses como vestígios históricos”, publicado, em 2010, no volume especial — “Tradução e Interpretação de Línguas de Sinais” — do periódico Cadernos de Tradução, organizado por Ronice Müller de Quadros, Pereira (2010)Pereira, Maria Cristina Pires. “Produções Acadêmicas sobre Interpretação de Língua de Sinais: dissertações e teses como vestígios históricos”. Cadernos de Tradução, 2(2), p. 99-117, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p99
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aborda as teses e dissertações que versam sobre a interpretação (ou tradução) de línguas de sinais, tanto concluídas quanto em andamento, na pós-graduação brasileira. Nesse trabalho seminal, a pesquisadora não apresenta uma denominação específica para reunir tais pesquisas nem realiza uma distinção precisa entre as pesquisas que enfocam a interpretação em relação àquelas que investigam a tradução de línguas de sinais. Contudo, indica a afiliação, cada vez mais visível, de tais pesquisas aos Estudos da Tradução, visto que “[...] as recentes inserções em programas de pós-graduação sobre Estudos da Tradução são um indício significativo de seu fortalecimento neste campo disciplinar” (Pereira, 2010Pereira, Maria Cristina Pires. “Produções Acadêmicas sobre Interpretação de Língua de Sinais: dissertações e teses como vestígios históricos”. Cadernos de Tradução, 2(2), p. 99-117, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p99
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, p. 114).

No texto, “Tradução e Interpretação de Língua de Sinais (TILS) na Pós-Graduação: a afiliação ao campo disciplinar ‘Estudos da Tradução’”, também publicado no volume especial do periódico Cadernos de Tradução, mencionado antes, Vasconcellos (2010)Vasconcellos, Maria Lúcia Barbosa de. “Tradução e Interpretação de Língua de Sinais (TILS) na Pós-Graduação: a afiliação ao campo disciplinar ‘Estudos da Tradução’”. Cadernos de Tradução, 2(26), p. 119-143, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p119
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tem a intenção de argumentar em favor da afiliação das pesquisas sobre tradução e interpretação de línguas de sinais — organizadas sob a sigla TILS — ao campo disciplinar dos Estudos da Tradução. A pesquisadora parte dos mapeamentos dos Estudos da Tradução, nos âmbitos nacional e internacional, para evidenciar a emergência e a afirmação das pesquisas sobre a tradução e a interpretação de línguas de sinais neles e a partir deles. Assim, considera um mapeamento de teses e dissertações, abordando a interpretação/tradução de línguas de sinais desenvolvidas no âmbito internacional, para, após isso, enfocar aquelas defendidas e em curso na PGET-UFSC, programa de pós-graduação que integra.

Souza (2010)Souza, Saulo Xavier de. Performances de tradução para a Língua Brasileira de Sinais observadas no curso de Letras-Libras. 2010. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/94642.
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, na seção “Mapeamento da presença das línguas de sinais nos Estudos da Tradução”, que compõe o primeiro capítulo de sua dissertação “Performances de Tradução para a Língua Brasileira de Sinais observadas no curso de Letras-Libras”, defendida na PGET-UFSC, realiza uma retomada de alguns mapeamentos dos Estudos da Tradução com o intuito de indicar e justificar a afiliação de sua pesquisa a tal campo disciplinar, mais especificamente aos Estudos da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais (ETILS). Além disso, o pesquisador propõe uma categorização e esboço de um possível mapa dos Estudos da Tradução e da Interpretação da Língua Brasileira de Sinais (ETILSB).

Em sua tese, intitulada “Tradução/Interpretação de Língua de Sinais no Brasil: uma análise das teses e dissertações de 1990 a 2010”, desenvolvida no âmbito da PGET-UFSC, Santos (2013)Santos, Silvana Aguiar dos. Tradução/Interpretação de Língua de Sinais no Brasil: uma análise das teses e dissertações de 1990 a 2010. 2013. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122677.
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realiza o mapeamento das pesquisas sobre tradução e interpretação de línguas de sinais na pós-graduação brasileira. A autora tem o cuidado de organizar sua análise distinguindo as pesquisas que abordam a interpretação de línguas de sinais daquelas que investigam a tradução de línguas de sinais, localizando-as, por sua vez, em dois campos específicos, a saber: Estudos sobre Interpretação de Línguas de Sinais e Estudos da Tradução sobre Línguas de Sinais. Embora mencione o emprego do termo ETILS, realizado por Souza (2010)Souza, Saulo Xavier de. Performances de tradução para a Língua Brasileira de Sinais observadas no curso de Letras-Libras. 2010. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/94642.
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, a pesquisadora não o utiliza para se referir a um campo disciplinar específico, preferindo dar ênfase à afiliação das pesquisas envolvendo a Tradução e a Interpretação de Línguas de Sinais (TILS), respectivamente, aos Estudos da Tradução e aos Estudos da Interpretação.

No artigo, “Os Estudos da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais: novo campo disciplinar emergente?”, publicado no volume especial — Estudos da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais — do periódico Cadernos de Tradução, organizado por Carlos Henrique Rodrigues e Ronice Müller de Quadros, Rodrigues & Beer (2015)Rodrigues, Carlos Henrique & Beer, Hanna. “Os estudos da tradução e da interpretação de línguas de sinais: novo campo disciplinar emergente?”. Cadernos de Tradução, 35(2), p. 17-45, 2015. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v35nesp2p17
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, embora resgatem os mapeamentos desenvolvidos por Pereira (2010)Pereira, Maria Cristina Pires. “Produções Acadêmicas sobre Interpretação de Língua de Sinais: dissertações e teses como vestígios históricos”. Cadernos de Tradução, 2(2), p. 99-117, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p99
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e por Santos (2013)Santos, Silvana Aguiar dos. Tradução/Interpretação de Língua de Sinais no Brasil: uma análise das teses e dissertações de 1990 a 2010. 2013. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122677.
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, no âmbito nacional, explorando-os como importantes fontes de identificação das publicações dos Estudos da Tradução e dos Estudos da Interpretação que fizeram referência ou incorporaram pesquisas sobre tradução e interpretação de línguas de sinais, propõem certa atualização com as pesquisas concluídas até 2014. Além disso, buscam refletir sobre a emergência e consolidação dos ETILS no contexto internacional, considerando-se quatro obras de referência dos Estudos da Tradução/Interpretação, e no nacional, também, a partir de quatro edições de um Congresso que, desde 2008, tem como eixo central as pesquisas sobre a tradução e a interpretação de línguas de sinais. Para os autores, o Congresso

possibilitou o contato e intercâmbio de estudantes, profissionais e pesquisadores, tanto surdos quanto ouvintes, de diversas partes do Brasil e, inclusive, do exterior. Ao congregar pesquisas brasileiras, o evento deu um importante passo em direção à visibilidade dos ETILS no Brasil. Os Congressos seguintes prosseguiram com o movimento de afirmação, consolidação e fortalecimento da área, assim como com a difusão das investigações realizadas pelos pesquisadores da área de interpretação e de tradução de línguas de sinais.

(Rodrigues & Beer, 2015Rodrigues, Carlos Henrique & Beer, Hanna. “Os estudos da tradução e da interpretação de línguas de sinais: novo campo disciplinar emergente?”. Cadernos de Tradução, 35(2), p. 17-45, 2015. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v35nesp2p17
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, p. 38).

Essas primeiras propostas de mapeamento de pesquisas, no âmbito da pós-graduação brasileira, identificam e inauguram as bases e o reconhecimento dos ETILS, no Brasil. Outras publicações brasileiras, posteriores, também têm se dedicado a mapear pesquisas no âmbito dos ETILS. Dentre elas, é importante mencionar a publicação de Santos, Costa & Galdino (2016)Santos, Silvana Aguiar dos; Costa, Mairla Pereira Pires & Galdino, Thuanny Sá. “Nas trilhas da tradução e interpretação de Português-Libras em revistas de tradução no Brasil”. Cadernos de Letras da UFF, 26(52), p. 525-545, 2016. DOI: https://doi.org/10.22409/cadletrasuff.2016n52a29
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, sobre a tradução e interpretação de Libras-português em periódicos brasileiros da área da Tradução; a de Santos e Rigo (2016)Santos, Silvana Aguiar dos & Rigo, Natália Schleder. “A produção acadêmica sobre tradução e interpretação de Libras de egressos da pós-graduação da UFSC”. Letras & Letras (UFU), 32(1), p. 124-148, 2016. DOI: https://doi.org/10.14393/LL63-v32n1a2016-7
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, mapeando as publicações dos egressos da pós-graduação da UFSC no campo dos ETILS; a de Santos (2018)Santos, Silvana Aguiar dos. “Estudos da tradução e interpretação de línguas de sinais nos programas de pós-graduação em estudos da tradução”. Revista da ANPOLL, 1(44), p. 394-375, 2018. DOI: https://doi.org/10.18309/anp.v1i44.1148
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, abordando as produções dos ETILS nos programas de Pós-graduação em Estudos da Tradução, no Brasil; a de Linhares (2019)Linhares, Ramon Santos de Almeida. Traduzir a Surditude: diálogos entre pesquisadores surdos do Brasil e a Tradutologia das Línguas de Sinais. 2019. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/214476
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que aborda as produções de pesquisadores(as) surdos(as) brasileiros(as) no campo da tradução e interpretação de línguas de sinais; a de Albres (2020)Albres, Neiva de Aquino. “Estudos da Tradução e Interpretação de Línguas de Sinais: uma história contada com as primeiras pesquisadoras”. In: Rodrigues, Carlos Henrique; Quadros, Ronice Müller de (org.). Estudos da Língua Brasileira de Sinais. Vol. 5. Florianópolis: Editora Insular, 2020. p. 371-390. e de Albres & Prieto (2021)Albres, Neiva de Aquino & Prieto, Rosangela Gavioli. “Pesquisas sobre o intérprete educacional (Libras-português): um panorama nacional a partir de revisão sistemática”. Letras & Letras, 37(2), p. 483-503, 2021. DOI: https://doi.org/10.14393/LL63-v37n2-2021-24
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, com foco nas pesquisas sobre a tradução e a interpretação de línguas de sinais no âmbito educacional.

Os ETILS nos Programas de Pós-graduação em Estudos da Tradução

Como mencionado antes, temos, no país, três programas de pós-graduação, especificamente direcionados à pesquisa no âmbito dos Estudos da Tradução e dos da Interpretação: (1) PGET-UFSC; (2) POSTRAD-UnB; e (3) POET-UFC. Considerando-se isso, optou-se por mapear e analisar a produção de dissertações e de teses desses programas com foco naquelas voltadas à tradução e à interpretação de/entre/para línguas de sinais, assim como proposto, inicialmente, por Santos (2018)Santos, Silvana Aguiar dos. “Estudos da tradução e interpretação de línguas de sinais nos programas de pós-graduação em estudos da tradução”. Revista da ANPOLL, 1(44), p. 394-375, 2018. DOI: https://doi.org/10.18309/anp.v1i44.1148
https://doi.org/10.18309/anp.v1i44.1148...
que considerou os trabalhos defendidos até agosto de 2017.

Entre 2005 e 20224 4 O banco de dados utilizado, com relação às dissertações e às teses defendidas em cada um dos Programas, foi organizado por Fernanda Christmann, no ano de 2021, e atualizado, no que se refere ao campo dos ETILS, em janeiro de 2023. , os programas contaram com a defesa de 824 trabalhos de conclusão de curso, sendo 621 dissertações, distribuídas nos três Programas da seguinte forma: 364 dissertações na PGET (58,6%); 174 no POSTRAD (28%); e 83 na POET (13,4%). E, no âmbito do doutorado, todas as 203 teses na PGET, já que é o único programa brasileiro de Estudos da Tradução que, até então, oferta esse nível. É importante esclarecer que a delimitação temporal foi definida considerando-se que o primeiro programa, no caso a PGET, foi criado em 2004 e que a coleta dos dados foi sistematizada e finalizada em janeiro de 2023.

Com as teses e dissertações já organizadas no banco de dados utilizado, procedeu-se à seleção daquelas que seriam foco da reflexão proposta. Para tanto, realizou-se uma busca de cada um dos seguintes termos: “Libras”, “Sinais”, “Sign”, “Surd”5 5 Optou-se por utilizar apenas o radical da palavra, já que isso potencializa a busca permitindo que sejam também identificadas palavras com prefixos, sufixos ou outros elementos. e “Deaf”, nos títulos e nas palavras-chave. Entretanto, durante tal contato com os títulos e, também, com os resumos, observamos que algumas delas apresentavam temáticas para além daquelas que consideramos específicas aos ETILS, aproximando-se mais da Linguística, da Linguística Aplicada ou da Literatura (Quadro 6). Mesmo assim, por corresponderem aos descritores, as incluímos em nossos dados e as mencionamos em nossa análise. Além disso, alguns trabalhos listados não corresponderam aos descritores (os quais estão sinalizados com um asterisco nos quadros 4 e 5, a seguir), eles foram incluídos devido ao fato de observarmos por seus títulos, orientadores(as) e, até mesmo, autoria — e pelo conhecimento que possuímos deles — que se referem a temas presentes e até mesmo recorrentes no âmbito dos ETILS. Portanto, com os trabalhos selecionados, procedeu-se à sua categorização e análise em relação: (a) à sua distribuição temporal; (b) à autoria e ao perfil dos(as) autores(as); e (c) aos(às) orientadores(as).

Tabela 1
Dados quantitativos dos ETILS na pós-graduação em Estudos da Tradução

Como se observa (Tabela 1), desses 824 trabalhos, 129 (15,6%) corresponderam aos critérios de seleção — foram identificadas 109 dissertações (17,5%), dentre as 621, e 20 teses (9,8%), dentre as 203 —, sendo que a primeira dissertação da área dos ETILS foi defendida na PGET, no ano de 2010, bem como a primeira tese, em 2013. Os temas são diversos, abarcando desde a investigação da interpretação simultânea até a análise de tradução de provas para Libras em vídeo. Encontramos desde pesquisas realizadas por meio de uma abordagem experimental até pesquisas desenvolvidas com base na análise bibliográfica e documental.

(a) Distribuição temporal das pesquisas

Um dos aspectos importantes diz respeito ao como as pesquisas distribuem-se longitudinalmente, desde a primeira pesquisa concluída (2010) até o ano limite do levantamento dos dados (2022). Embora estejamos partindo do ano de 2010, por corresponder ao ano das primeiras defesas de pesquisas dos ETILS, no âmbito da PGET — o primeiro dos programas abordados, neste artigo, a ser criado —, vale mencionar que a primeira pesquisa, identificada na pós-graduação brasileira como sendo dos ETILS, é do ano de 1995: “Língua de Sinais e Literatura: uma proposta de trabalho de tradução cultural”; uma dissertação de mestrado de autoria de Clélia Regina Ramos, orientada por Ana Maria de Amorim Alencar, e defendida no Programa de Pós-graduação em Ciências da Literatura, da Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E, portanto, precede a criação desses três programas de pós-graduação em Estudos da Tradução, assim como diversas outras pesquisas dos ETILS, que também são anteriores ao ano de 2010, e se localizam em programas de pós-graduação em Educação, Letras, Ciências da Linguagem, Linguística etc. (Rodrigues & Beer, 2015Rodrigues, Carlos Henrique & Beer, Hanna. “Os estudos da tradução e da interpretação de línguas de sinais: novo campo disciplinar emergente?”. Cadernos de Tradução, 35(2), p. 17-45, 2015. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v35nesp2p17
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v3...
; Santos, 2013Santos, Silvana Aguiar dos. Tradução/Interpretação de Língua de Sinais no Brasil: uma análise das teses e dissertações de 1990 a 2010. 2013. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122677.
https://repositorio.ufsc.br/handle/12345...
).

Gráfico 1
Distribuição temporal

Observa-se (Gráfico 1), no que diz respeito às pesquisas dos ETILS, que: (i) as primeiras pesquisas foram defendidas na PGET (04 dissertações), no ano de 2010; (ii) a PGET mantém pelo menos uma defesa anual no período pesquisado (2010-2022), sendo o programa com mais pesquisas defendidas (87); (iii) a primeira pesquisa no POSTRAD é defendida em 2015 e na POET em 2016; e (iv) a partir de 2015, há um total expressivo de pesquisas anualmente defendidas, com a média de quatorze (14) por ano.

De modo geral, é possível observar o crescimento do número de pesquisas, ainda que haja certa oscilação nos quantitativos de defesas anuais, em cada um dos programas, as quais se devem a diversas variáveis relacionadas: (i) ao número de orientadores(as) específicos(as) dos ETILS disponíveis e demais interessados em orientar pesquisas nos ETILS; (ii) à abertura de vagas por parte dos programas e dos(as) próprios(as) orientadores(as); (iii) ao quanto as pesquisas de mestrado e de doutorado demoram até a defesa; (iv) às políticas de ingresso e de permanência dos programas; entre outros. Ainda que essas variáveis impactem a produção de teses e dissertações fazendo com que ela oscile, observamos que as pesquisas dos ETILS já fazem parte dos programas, sendo uma parcela significativa de sua produção anual, a qual não pode ser ignorada.

(b) Autoria e perfil dos(as) autores(as)

Outro ponto importante das pesquisas dos ETILS é a sua autoria, no que diz respeito ao perfil dos(as) mestrandos(as) e doutorandos(as). Por uma questão de objetividade e de limitação de espaço, selecionamos apenas dois traços do perfil dos(as) pesquisadores(as): se são pessoas surdas ou pessoas não surdas6 6 Tanto no caso da orientação dos trabalhos quanto de sua autoria, verificou-se se a pessoa era surda ou não a partir das informações disponíveis nos programas, no corpo da dissertação ou da tese e do conhecimento que possuímos dessas pessoas em relação ao seu pertencimento às comunidades surdas brasileiras. Nesse sentido, as pessoas diretamente envolvidas com as comunidades surdas e, por sua vez, com suas pautas em prol das línguas de sinais, da cultura e dos direitos foram consideradas, numa perspectiva socioantropológica (cultural), como pessoas surdas. ; e se são homens ou mulheres7 7 É importante mencionar que optamos em considerar os nomes dos(as) autores(as) e de seus(suas) orientadores(as) e, a partir disso, identificá-los(as) como homens ou mulheres. Contudo, estamos cientes da limitação, imprecisão e equívoco que está classificação pode gerar. Como não aplicamos questionários nem realizamos entrevistas, não vimos outras possibilidades de uma análise mais consistente, adequada e contemporânea da identificação do gênero dos(as) autores(as) e de seus(suas) orientadores(as). Além disso, cabe mencionar que esse recorte limitado se deve também à impossibilidade de identificar outras características que nos permitissem realizar outras abordagens, inclusive interseccionando categorias étnico-raciais, de classe, de gênero, entre outras. De qualquer maneira, os dados indicam a importância e o destaque da atuação de mulheres no campo dos ETILS. .

Essa seleção foi feita considerando-se que, historicamente, as mulheres e as pessoas surdas têm sido excluídas ou sub-representadas em muitas áreas acadêmicas e científicas. Além disso, essa seleção justifica-se e se sustenta pelo fato de os ETILS caracterizarem-se pelas línguas de sinais das comunidades surdas, nesse caso, das comunidades surdas brasileiras. Devido a isso, é muito relevante ter as pessoas surdas como pesquisadoras dos processos tradutórios e dos interpretativos de/entre/para línguas de sinais, assim como de temas afins em programas de pós-graduação em Estudos da Tradução.

Gráfico 2
Autoria surda e não surda

Observa-se (Gráfico 2) que a autoria surda está presente em todos os programas. Considerando-se o total das produções de cada programa, no âmbito dos ETILS, temos o seguinte: (i) 37,9% de autoria surda na PGET-UFSC (33 trabalhos); (ii) 23,3% de autoria surda no POSTRAD-UnB (07 trabalhos); e (iii) 33,3% de autoria surda na POET-UFC (04 trabalhos). Se considerarmos as 129 pesquisas dos ETILS que foram mapeadas, temos que 34,1% das pesquisas na pós-graduação brasileira em Estudos da Tradução foram realizadas por pessoas surdas (44 trabalhos).

É interessante observar também a quantidade de pesquisas desenvolvidas por homens e por mulheres nos programas de Pós-graduação em Estudos da Tradução. Ao analisar esse aspecto, temos o seguinte cenário: (i) 53,3% de pesquisas desenvolvidas por mulheres na PGET-UFSC (49 trabalhos); (ii) 66,6% de pesquisas desenvolvidas por mulheres no POSTRAD-UnB (20 trabalhos); e (iii) 25% de pesquisas desenvolvidas por mulheres na POET-UFC (03 trabalhos). Em relação ao panorama geral dos ETILS, temos que das 129 pesquisas, 72 são de autoria feminina (55,8%).

Ao interseccionar a autoria surda com o sexo dos(as) pesquisadores(as), temos o seguinte: (i) 34,6% de pesquisas desenvolvidas por mulheres surdas na PGET-UFSC (17 trabalhos); (ii) 20% de pesquisas desenvolvidas por mulheres surdas no POSTRAD-UnB (04 trabalhos); e (iii) 66,6% de pesquisas desenvolvidas por mulheres surdas na POET-UFC (02 trabalhos). Portanto, temos que 23, dentre as 72 de autoria feminina, foram produzidas por mulheres surdas (31,9%). Além disso, vale mencionar que das 57 pesquisas feitas por homens no âmbito dos ETILS, 21 delas são de autoria de homens surdos (36,8%).

Esses dados são relevantes visto que evidenciar a participação de mulheres e de pessoas surdas na produção de pesquisas no âmbito dos ETILS, em programas de pós-graduação em Estudos da Tradução, pode contribuir significativamente com sua visibilidade e reconhecimento no meio acadêmico, assim como com a valorização de sua contribuição para os avanços e o enriquecimento do campo, indo de encontro a perspectivas misóginas ou capacitistas.

(c) Orientadores(as)

Com relação aos(às) orientadores(as), é interessante observar que diversos(as) deles(as) estão inseridos nos Estudos da Tradução e/ou nos da Interpretação e não desenvolvem pesquisas com tradução e/ou com interpretação de/entre/para línguas de sinais. Sua disponibilidade e interesse em orientar nos ETILS e, por sua vez, em se aproximar desse campo, têm sido importantes em sua consolidação e crescimento. Outro aspecto que se destaca é a presença de pesquisadores(as) surdos(as) como orientadores(as) na pós-graduação em Estudos da Tradução, visto que a presença das pessoas surdas nesses programas, tanto como pós-graduandos(as) quanto como professores(as)-orientadores(as), é um indicador importante dos avanços e das conquistas históricas, sociais, políticas e acadêmicas dessas comunidades. Se considerarmos a orientação, temos o seguinte:

Quadro 2
Orientadores(as) dos trabalhos de conclusão

Em relação aos(às) orientadores(as) das pesquisas dos ETILS nos três programas, temos: quatorze (14) orientadores(as) na PGET-UFSC, sendo oito (8) mulheres e seis (6) homens; onze (11) orientadores(as) no POSTRAD-UnB, sendo sete (7) mulheres e quatro (4) homens; e oito (8) orientadores(as) na POET-UFC, sendo cinco (5) mulheres e três (3) homens. Observa-se a significativa preponderância de mulheres como orientadoras das pesquisas no âmbito dos ETILS conduzidas nos três programas de pós-graduação em Estudos da Tradução: dentre os 33 orientadores(as), 20 são mulheres, o que representa 60,6%10 10 Note que aqui estamos considerando os(as) orientadores(as) por Programa. Entretanto, se consideramos que a mesma pessoa está em dois programas (i.e., Silvana Aguiar dos Santos e Walter Carlos Costa), esse número cai para 31 orientadores(as). Assim teríamos 19 mulheres e 12 homens, com 61,2% de mulheres. .

Vale mencionar, aqui, que Walter Carlos Costa e Silvana Aguiar dos Santos integram dois programas de pós-graduação, a saber a PGET na UFSC e a POET na UFC, tendo orientado pesquisas nos ETILS em ambos. Outro aspecto interessante diz respeito à quantidade de pesquisas orientadas. Nesse quesito, destacam-se Markus Johannes Weininger e Ronice Müller de Quadros que orientaram, respectivamente: dezoito (18) pesquisas, sendo seis (6) doutorados e doze (12) mestrados; e quinze (15) pesquisas, sendo dez (10) doutorados e cinco (5) mestrados, todas na PGET-UFSC, defendidas entre 2010 e 2021.

Com relação ao quantitativo de pesquisas dos ETILS orientadas por pessoas surdas, temos na PGET-UFSC um orientador e uma orientadora e um orientador no POSTRAD-UnB. Em relação ao total de orientadores(as), esse ainda é um número pequeno, inclusive se comparado ao quantitativo de mestrandos(as) e doutorandos(as) surdos(as) egressos(as) desses programas, já que enquanto os(as) orientadores(as) correspondem a 9,6% do total, os(as) mestrandos(as) e os(as) doutorandos(as) surdos(as) egressos(as) representam 33,6%11 11 Para esses percentuais consideramos a pessoa e não o trabalho. Nesse sentido, além de considerarmos 31 orientadores(as), como explicado acima, as pessoas surdas que realizaram o mestrado e o doutorado foram contabilizadas aqui como uma única ocorrência, como é o caso de: Thaís Fleury Avelar, Nelson Pimenta de Castro, Fernanda de Araújo Machado e Betty Lopes L’astorina de Andrade. Assim sendo, temos 44 trabalhos de autoria surda e 40 pessoas surdas. Procedemos da mesma maneira com a autoria de pessoas não surdas no mestrado e doutorado, como é o caso de: Diego Maurício Barbosa, Márcia Dilma Felício, Marcos Luchi, Natália Schleder Rigo, Saulo Xavier de Souza e Silvana Nicoloso. Portanto, temos 85 trabalhos de autoria não surda e 79 pessoas que não são surdas. . Esse número pequeno, que é resultado inclusive de fatores históricos e sociais, leva-nos a pensar na relevância de políticas por parte dos programas em favor do ingresso, não apenas de pessoas surdas interessados nos ETILS, mas, também, de professores(as)-pesquisadores(as) interessados(as) em orientar tais pesquisas e contribuir com os avanços da área.

Após apresentar um panorama geral das pesquisas do campo dos ETILS, realizadas nesses três programas brasileiros de pós-graduação em Estudos da Tradução, e com o intuito de sistematizá-las, adotaremos uma distinção elementar entre os Estudos da Tradução de Línguas de Sinais (ETLS) e os Estudos da Interpretação de Línguas de Sinais (EILS), a partir da distinção de seu objeto de estudo, respectivamente, “a tradução e o traduzir” e “a interpretação e o interpretar”. Assim, parte-se da premissa de que processos tradutórios e interpretativos, embora possam compartilhar certas características — já que ambos são modos de reformulação, nesse caso interlinguística —, são distintos tanto operacional quanto cognitivamente (Lourenço, 2015Lourenço, Guilherme. “Investigando a produção de construções de interface sintático-gestual na interpretação simultânea intermodal”. Cadernos de Tradução, 35(2), p. 319-353, 2015. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v35nesp2p319
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2015v3...
; Rodrigues, 2018Rodrigues, Carlos Henrique. “Translation and Signed Language: Highlighting the Visual-gestural modality/Tradução e Língua de Sinais: a modalidade gestual-visual em destaque”. Cadernos de Tradução, 38(2), p. 294-319, 2018. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2018v38n2p294
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2018v3...
).

Os Estudos da Tradução de Línguas de Sinais (ETLS)

Neste artigo, compreende-se que em processos tradutórios, o texto-fonte — escrito, em áudio ou em vídeo — chega ao(à) tradutor(a), em sua forma final, por meio de um dado suporte físico ou virtual, para que este possa manipulá-lo, conforme as demandas e necessidades definidas pelo encargo assumido, ajustando-as ao seu modo de trabalho, tendo tempo hábil, ainda que limitado, para consultar recursos de apoio, enquanto desenvolve sua atividade, e para realizar a revisão do texto-alvo, em seu suporte final, antes de sua entrega e/ou de sua disponibilização ao público (Rodrigues, 2018Rodrigues, Carlos Henrique & Santos, Silvana Aguiar. “A interpretação e a tradução de/para línguas de sinais: contextos de serviços públicos e suas demandas”. Tradução em Revista (Online), 24, p. 1-29, 2018. DOI: https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.34535
https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev....
; Rodrigues & Santos, 2018Rodrigues, Carlos Henrique & Santos, Silvana Aguiar. “A interpretação e a tradução de/para línguas de sinais: contextos de serviços públicos e suas demandas”. Tradução em Revista (Online), 24, p. 1-29, 2018. DOI: https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.34535
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).

Com base nessa conceituação, define-se que no âmbito estrito dos ETLS (Quadro 2) estão aquelas investigações que têm como enfoque central a tradução de/entre/para línguas de sinais em suas múltiplas manifestações e variedades e seus temas afins — formação de tradutores(as), crítica de tradução, política de tradução, tecnologias aplicadas à tradução, tradução automática etc. —, excluindo-se os fenômenos interpretativos, os quais estão reunidos sob os EILS.

É importante mencionar que a categorização apresentada nos quadros a seguir (Quadros 3, 4, 5 e 6) tem suas limitações, tendo em vista que foi realizada, principalmente, com base nos títulos e nas palavras-chave, além do conhecimento que possuem o autor e a autora deste artigo. Portanto, para uma categorização mais precisa se faz necessária uma análise do conteúdo dos trabalhos.

Quadro 3
Pesquisas sobre tradução de/entre/para línguas de sinais

Observamos (Quadro 3) a seguinte distribuição dos trabalhos específicos do ETLS, no que se refere aos programas em que foram realizadas: trinta e uma (31) na PGET-UFSC, sendo seis (6) teses e vinte e cinco (25) dissertações; nove (9) dissertações na POET-UFC; e dezoito (18) dissertações no POSTRAD-UnB. É interessante notar que vinte e cinco (25)13 13 Por uma questão de limitação da extensão máxima do artigo, estão indicados apenas os quantitativos dos trabalhos em certas categorizações de temas abordados, sem a explicitação de quais seriam esses trabalhos ou dos critérios empregados para tal. O objetivo da indicação do quantitativo de trabalhos é chamar atenção para certos temas, destacando sua presença, recorrência ou relevância. trabalhos fazem referência à tradução para a Libras em vídeo, focando na direção: português → Libras. Alguns outros, em número bem menor, falam da tradução da Libras em vídeo para o português escrito (01), da Libras escrita para o português escrito (02) ou do português escrito para algum sistema de escrita da Libras (03).

Além desse destaque, encontra-se uma variedade de temas, tais como: legendagem para surdos; tradução literária; tradução de quadrinhos; tradução intersemiótica; tradução de provas/avaliações/exames; tradução de materiais acadêmicos; tradução teatral; tradução de canções; tradução de texto sensível; e tradução comentada.

Os Estudos da Interpretação de Línguas de Sinais (EILS)

Consideramos que, em processos interpretativos, o texto-fonte — durante o seu desenvolvimento escrito ou oral — é, gradativamente, disponibilizado ao intérprete, que o vai recebendo na medida em que ele é produzido e se esvai; fato que demanda uma atuação imediata, e em conformidade com o encargo assumido e com suas circunstâncias de realização, com pouca possibilidade de apoio externo, e com a necessidade de ir ajustando-se ao ritmo de (re)produção/disponibilização do texto-fonte e às características de seu público final que, comumente, acompanha, presencial ou remotamente, o desenrolar de todo o processo (Rodrigues, 2018Rodrigues, Carlos Henrique. “Translation and Signed Language: Highlighting the Visual-gestural modality/Tradução e Língua de Sinais: a modalidade gestual-visual em destaque”. Cadernos de Tradução, 38(2), p. 294-319, 2018. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2018v38n2p294
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; Rodrigues & Santos, 2018Rodrigues, Carlos Henrique & Santos, Silvana Aguiar. “A interpretação e a tradução de/para línguas de sinais: contextos de serviços públicos e suas demandas”. Tradução em Revista (Online), 24, p. 1-29, 2018. DOI: https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.34535
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).

Nessa perspectiva, no âmbito dos EILS (Quadro 4), estão reunidas aquelas pesquisas que possuem como principal objeto a interpretação de/entre/para línguas de sinais em suas múltiplas manifestações e variedades e seus temas afins — formação de intérpretes, história da interpretação, ética do intérprete etc. —, excetuados quaisquer outros fenômenos tradutórios que são tratados especificamente pelo ETLS.

Quadro 4
Pesquisas sobre interpretação de/entre/para línguas de sinais

Observamos (Quadro 4) a seguinte distribuição dos trabalhos específicos do EILS, no que se refere aos programas em que foram realizadas: vinte e oito (28) na PGET-UFSC, sendo cinco (5) teses e vinte e três (23) dissertações; duas (2) dissertações na POET-UFC; e cinco (5) dissertações no POSTRAD-UnB. Os temas são bem diversificados e os mais recorrentes são: análise de características da interpretação (8); interpretação em diferentes contextos (6); aspectos profissionais (5); e uso de estratégias (5).

É importante esclarecer que aquelas pesquisas que consideram temas gerais, sem uma abordagem específica da tradução ou da interpretação, podem ser localizadas tanto nos ETLS quanto nos EILS, indistintamente. Devido a isso, decidimos que seria mais coerente listá-las separadamente, como se pode observar, a seguir (Quadro 5).

Quadro 5
Pesquisas sobre temas gerais envolvendo tradução e interpretação de línguas de sinais

Observamos (Quadro 5) a seguinte distribuição dos trabalhos referentes aos temas gerais que englobam tanto o âmbito do ETLS quanto do EILS, no que se refere aos programas em que foram realizadas: dezenove (19) na PGET-UFSC, sendo seis (06) teses e treze (13) dissertações; uma (1) dissertação na POET-UFC; e sete (7) dissertações no POSTRAD-UnB. De modo geral, vemos que alguns temas aparecem de modo mais recorrente: terminologia e glossários (8); políticas linguísticas/de tradução/de interpretação/de acessibilidade (4); profissão/perfil de tradutores(as)/intérpretes de línguas de sinais (4) e formação de tradutores(as)/intérpretes (3).

Quadro 6
Pesquisas que não abordam diretamente a tradução ou a interpretação de línguas de sinais, mas temas afins

Observamos (Quadro 6) a seguinte distribuição dos trabalhos referentes aos temas não específicos dos ETILS, mas que estão vinculados às línguas de sinais e às comunidades surdas, sendo nove (09) trabalhos no âmbito da PGET-UFSC: três (3) teses e cinco (6) dissertações, versando sobre diferentes temas nos âmbitos da Linguística, da Linguística Aplicada e da Literatura.

ETILS: um campo em plena afirmação e ascensão

Primeiramente, é interessante observar o volume significativo das pesquisas envolvendo a tradução e a interpretação de/entre/para línguas de sinais nos programas de pós-graduação em Estudos da Tradução, assim como o quantitativo de pesquisas desenvolvidas e orientadas por mulheres e, também, por pessoas surdas. Esse número significativo de pesquisas não apenas atesta a consolidação dos ETILS, mas evidencia sua diversidade temática e o seu exponencial crescimento e, sobretudo, indica um possível futuro profícuo, no Brasil. Além disso, demonstram o acesso das pessoas surdas sinalizantes a níveis elevados de formação: mestrado e doutorado — inclusive, como professores(as)-pesquisadores(as) integrantes da pós-graduação — e a possibilidade de que trabalhos de conclusão de curso sejam produzidos e defendidos em Libras, como já ocorre no âmbito da PGET-UFSC. Nesse sentido, corrobora, entre outros, com a visibilidade, o reconhecimento e a valorização das contribuições das mulheres e das pessoas surdas para o avanço dos ETILS.

Tabela 2
Dados quantitativos dos ETILS em relação à classificação das pesquisas

Outro ponto importante diz respeito à necessidade de realização de novos mapeamentos, assim como de análises que considerem o conteúdo dos trabalhos acima listados, bem como outros aspectos não mencionados ou aprofundados neste artigo. Nesse sentido, a variabilidade encontrada nos títulos em relação ao uso do termo “tradução” e ao seu sentido hiperonômico, por exemplo, fazem com que ele possa abarcar diferentes atividades e modalidades, inclusive aquelas específicas da interpretação (i.e., tradução oral); o mesmo vai ocorrer com o uso de outros termos, tais como “tradutor-intérprete”, “intérprete”, “interpretação” e suas variações.

É relevante mencionar também que as bases de dados são instáveis, pois estão sujeitas a atualizações que incluem novas publicações e correções de informações em publicações anteriores, entre outros aspectos. Além disso, em relação à categorização dos trabalhos, ainda que os resumos tenham sido consultados, não foi considerado o seu conteúdo, no que tange à ênfase dada e aos elementos teóricos e metodológicos. A despeito disso, observamos uma diversa e expressiva produção no âmbito dos ETLS, quando o comparamos aos EILS (Tabela 2), o que evidencia o crescente interesse por processos tradutórios envolvendo tais línguas, inclusive aqueles que enfocam e investigam a tradução não escrita, ou seja, aqueles processos tradutórios que possuem o seu texto-alvo em uma língua de sinais oral registrada em vídeo, como define Rodrigues (2018)Rodrigues, Carlos Henrique & Santos, Silvana Aguiar. “A interpretação e a tradução de/para línguas de sinais: contextos de serviços públicos e suas demandas”. Tradução em Revista (Online), 24, p. 1-29, 2018. DOI: https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.34535
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. Esse fato evidencia como as transformações sociais, culturais, políticas e tecnológicas impactam às demandas por serviços de tradução/interpretação e, por sua vez, o interesse sobre esses serviços e a produção de conhecimentos. Cada vez mais, observamos a tradução de línguas de sinais consolidando-se e sendo abordada a partir de suas diferenças operacionais e cognitivas com a interpretação, como uma área específica de atuação profissional, como um campo distinto de formação e como objeto particular de investigação.

Considerações Finais

Essa produção crescente dos ETILS, no país, atesta a relevância social e acadêmica dos programas de pós-graduação, no que se refere à formação de pesquisadores(as) dos Estudos da Tradução e dos da Interpretação, assim como, na graduação, à formação de tradutores(as) e de intérpretes de línguas de sinais — incluindo guias-intérpretes — e, por sua vez, conduz à constituição e ao aperfeiçoamento de políticas de tradução/interpretação capazes de abarcar profissionais surdos(as) e não surdos(as), modalidades de tradução e de interpretação variadas, públicos diversos, línguas de sinais nacionais e de outros países, assim como a língua de sinais internacional, entre outros.

Por outro lado, observou-se, para além do registro e categorização dos dados coletados no mapeamento, que diversos(as) egressos(as) dos três programas de Estudos da Tradução, tanto mestres(as) quanto doutores(as), surdos(as) e não surdos(as), são profissionais da tradução e da interpretação de línguas de sinais que se tornaram investigadores(as) de tópicos importantes à sua atividade laboral, sendo que parte deles(as) já atuava ou passou a atuar como professor(a) na formação de tradutores(as) e de intérpretes de línguas de sinais, inclusive em universidades federais brasileiras que oferecem cursos de graduação direcionados aos(às) profissionais da tradução e interpretação de Libras-português.

Nesse sentido, é possível afirmar, entre outros aspectos, que a pesquisa da pós-graduação, principalmente a específica de Estudos da Tradução, passou a alimentar e a impactar a formação profissional, ao mesmo tempo em que a formação oferecida aos(às) tradutores(as) e intérpretes de línguas de sinais se tornou objeto de pesquisa. Isso se evidencia inclusive pelo fato de muitos(as) mestrandos(as) e doutorandos(as) e seus(suas) orientadores(as) estarem implicados na formação de tradutores(as) e intérpretes de Libras-português nas universidades federais brasileiras e/ou em outras instâncias formativas. Atualmente, observamos avanços no campo profissional dos serviços de tradução e de interpretação de línguas de sinais — estabelecido social, laboral e legalmente —, assim como no campo disciplinar dos ETILS, definido e sustentado em termos científicos e acadêmicos.

No que se refere às perspectivas futuras dos ETILS, é possível vislumbrar: (i) a especialização terminológica e conceitual da área; (ii) a ampliação, diversificação e atualização de seus temas de interesse, em conformidade com as mudanças e demandas contemporâneas; (iii) o aperfeiçoamento de suas metodologias de pesquisa, tanto na coleta quanto na transcrição e análise de dados; (iv) o aumento do número de seus(suas) pesquisadores(as), tanto como mestrandos(as) e doutorandos(as) quanto como orientadores(as), nos programas de pós-graduação em Estudos da Tradução; (v) a criação de novas entidades voltadas à pesquisa em ETILS — núcleos, grupos, centros etc.; (vi) a consolidação do intercâmbio entre a pesquisa brasileira no âmbito dos ETILS com aquela realizada em outros países; (vii) a difusão crescente dos resultados de suas pesquisas em periódicos nacionais e internacionais, inclusive por meio de dossiês específicos; entre outros.

  • 1
    A pesquisa apresentada, neste artigo, vincula-se ao Núcleo de Pesquisas em Interpretação e Tradução de Línguas de Sinais – InterTrads, ao Observatório da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais – Otradilis, por meio do Projeto de Pesquisa “Cienciometria dos Estudos da Tradução e Interpretação”, ao doutorado de Fernanda Christmann na Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET-UFSC), sob a orientação da profa. Dra. Maria Lúcia Barbosa de Vasconcellos e coorientação da profa. Dra. Andréia Guerini, e às investigações pós-doutorais realizadas por Carlos Henrique Rodrigues na Universidade de Vigo (UVigo), Espanha, sob a supervisão da profa. Dra. María Teresa Veiga-Díaz.
  • 2
    É importante mencionar que nem todas as línguas de sinais têm recebido o devido reconhecimento e valorização por parte das instituições, já que algumas têm sido priorizadas, muitas vezes, em detrimento de outras. Atualmente, são necessárias políticas e ações que tenham em vista o incentivo e a promoção de todas as línguas de sinais, inclusive daquelas consideradas emergentes, das línguas de sinais indígenas, das línguas de sinais em risco de extinção, dentre outras.
  • 3
    Considerando as mudanças ocorridas no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (Tradusp), iniciado em 2011/2012, na Universidade de São Paulo (USP), o qual passou, em março 2017, após a unificação de alguns programas do Departamento de Línguas Modernas e do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a constituir-se como um novo programa de Pós-graduação em Letras Estrangeiras e Tradução (LETRA), decidimos não considerá-lo como um Programa específico de Estudos da Tradução, como ele era antes. Portanto, suas produções não foram consideradas, neste texto, ainda que muitas delas tenham sido defendidas antes das alterações de 2017. Como informação, identificamos a seguinte pesquisa relacionada aos ETILS: Convencionalidade nas legendas de efeitos sonoros na legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE) realizada por Nascimento (2018)Nascimento, Ana Katarinna Pessoa do. Convencionalidade nas legendas de efeitos sonoros na legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE). 2018. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Departamento de Letras Modernas, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8160/tde-31072018-164135/en.php.
    https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8...
    .
  • 4
    O banco de dados utilizado, com relação às dissertações e às teses defendidas em cada um dos Programas, foi organizado por Fernanda Christmann, no ano de 2021, e atualizado, no que se refere ao campo dos ETILS, em janeiro de 2023.
  • 5
    Optou-se por utilizar apenas o radical da palavra, já que isso potencializa a busca permitindo que sejam também identificadas palavras com prefixos, sufixos ou outros elementos.
  • 6
    Tanto no caso da orientação dos trabalhos quanto de sua autoria, verificou-se se a pessoa era surda ou não a partir das informações disponíveis nos programas, no corpo da dissertação ou da tese e do conhecimento que possuímos dessas pessoas em relação ao seu pertencimento às comunidades surdas brasileiras. Nesse sentido, as pessoas diretamente envolvidas com as comunidades surdas e, por sua vez, com suas pautas em prol das línguas de sinais, da cultura e dos direitos foram consideradas, numa perspectiva socioantropológica (cultural), como pessoas surdas.
  • 7
    É importante mencionar que optamos em considerar os nomes dos(as) autores(as) e de seus(suas) orientadores(as) e, a partir disso, identificá-los(as) como homens ou mulheres. Contudo, estamos cientes da limitação, imprecisão e equívoco que está classificação pode gerar. Como não aplicamos questionários nem realizamos entrevistas, não vimos outras possibilidades de uma análise mais consistente, adequada e contemporânea da identificação do gênero dos(as) autores(as) e de seus(suas) orientadores(as). Além disso, cabe mencionar que esse recorte limitado se deve também à impossibilidade de identificar outras características que nos permitissem realizar outras abordagens, inclusive interseccionando categorias étnico-raciais, de classe, de gênero, entre outras. De qualquer maneira, os dados indicam a importância e o destaque da atuação de mulheres no campo dos ETILS.
  • 8
    Registramos aqui a data da defesa do primeiro e do último trabalho de conclusão de curso orientado que consta na relação das teses e dissertações sobre os ETILS, considerando-se o período da pesquisa 2005 a 2022.
  • 9
    Consideramos como representantes dos ETILS aqueles(as) professores(as)-orientadores(as) que reúnem publicações em seu Currículo Lattes sobre temas específicos desse campo, sendo pelo menos uma delas individual (tese/dissertação, artigo em periódico, capítulo ou livro). Por outro lado, aqueles(as) professores(as) que não cumprem esse critério, mas reúnem publicações em seu Currículo Lattes sobre diversos temas relacionados a aspectos linguísticos e culturais, a práticas discursivas e/ou aos movimentos das comunidades surdas, foram considerados como representantes dos Estudos Surdos.
  • 10
    Note que aqui estamos considerando os(as) orientadores(as) por Programa. Entretanto, se consideramos que a mesma pessoa está em dois programas (i.e., Silvana Aguiar dos Santos e Walter Carlos Costa), esse número cai para 31 orientadores(as). Assim teríamos 19 mulheres e 12 homens, com 61,2% de mulheres.
  • 11
    Para esses percentuais consideramos a pessoa e não o trabalho. Nesse sentido, além de considerarmos 31 orientadores(as), como explicado acima, as pessoas surdas que realizaram o mestrado e o doutorado foram contabilizadas aqui como uma única ocorrência, como é o caso de: Thaís Fleury Avelar, Nelson Pimenta de Castro, Fernanda de Araújo Machado e Betty Lopes L’astorina de Andrade. Assim sendo, temos 44 trabalhos de autoria surda e 40 pessoas surdas. Procedemos da mesma maneira com a autoria de pessoas não surdas no mestrado e doutorado, como é o caso de: Diego Maurício Barbosa, Márcia Dilma Felício, Marcos Luchi, Natália Schleder Rigo, Saulo Xavier de Souza e Silvana Nicoloso. Portanto, temos 85 trabalhos de autoria não surda e 79 pessoas que não são surdas.
  • 12
    O ano corresponde à data da defesa e não à data de publicação do trabalho.
  • 13
    Por uma questão de limitação da extensão máxima do artigo, estão indicados apenas os quantitativos dos trabalhos em certas categorizações de temas abordados, sem a explicitação de quais seriam esses trabalhos ou dos critérios empregados para tal. O objetivo da indicação do quantitativo de trabalhos é chamar atenção para certos temas, destacando sua presença, recorrência ou relevância.
  • 14
    A pesquisa não possui, em seu título, os descritores utilizados para selecionar aquelas que pertencem aos ETILS. Além disso, não apresenta palavras-chave acompanhando o resumo, como preconizado nas normas. Contudo, o resumo contém os descritores e sabemos que o autor e a orientadora são atuantes na tradução e na interpretação de línguas de sinais e envolvidos com os ETILS. Devido a esses fatores, a pesquisa pode ser localizada e acrescentada ao mapeamento proposto.
  • 15
    Embora, no título e nas palavras-chave, os descritores utilizados para selecionar as pesquisas que pertencem aos ETILS não tenham sido encontrados, o resumo contém os descritores e sabemos que o autor e a orientadora são atuantes na tradução e na interpretação de línguas de sinais e envolvidos com os ETILS.
  • 16
    Embora, no título e nas palavras-chave, os descritores utilizados para selecionar as pesquisas que pertencem aos ETILS não tenham sido encontrados, o resumo contém os descritores e sabemos que o autor e a orientadora são atuantes na tradução e na interpretação de línguas de sinais e envolvidos com os ETILS.
  • 17

Agradecimento

Agradecemos à professora Silvana Aguiar dos Santos pela disponibilidade em dialogar conosco e em contribuir para o aprimoramento do texto.

Referências

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  • Vasconcellos, Maria Lúcia Barbosa de. “Tradução e Interpretação de Língua de Sinais (TILS) na Pós-Graduação: a afiliação ao campo disciplinar ‘Estudos da Tradução’”. Cadernos de Tradução, 2(26), p. 119-143, 2010. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p119
    » https://doi.org/10.5007/2175-7968.2010v2n26p119

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2023
  • Aceito
    25 Jul 2023
  • Publicado
    Set 2023
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