LETRAMENTO FUNCIONAL EM SAÚDE DE PACIENTES PORTADORES DE SÍNDROME CORONARIANA AGUDA

ALFABETIZACIÓN FUNCIONAL EN SALUD DE LOS PACIENTES CON SÍNDROME CORONARIO AGUDO

RESUMO

Objetivo

descrever o letramento funcional em saúde de pacientes com coronariopatias e analisar sua correlação com nível de escolaridade.

Método

estudo analítico, descritivo, com abordagem quantitativa, realizado em hospital cardiológico de Fortaleza-CE, Brasil, de janeiro de 2015 a dezembro de 2018, com 76 participantes. A coleta ocorreu pelo Care Report Form e a categorização do letramento pelo Short Assessment of Health Literacy for Portuguese-Speaking Adults. As análises, pelo Statistical Package for the Social Sciences, utilizaram a relação e entrecruzamento das variáveis pelo teste estatístico Qui-Quadrado de Pearson (p<0,05).

Resultados

evidenciou-se baixo grau de escolaridade e nível de letramento funcional em saúde inadequado em 85,5% dos participantes. A associação entre grau de escolaridade e nível de letramento obteve o valor de p=0,890.

Conclusão

ressaltou-se que o conhecimento do enfermeiro sobre aspectos relacionados à gestão do autocuidado pelos pacientes é estratégia importante para a prestação de uma assistência de qualidade.

DESCRITORES
Doenças Cardiovasculares; Doença da Artéria Coronariana; Enfermagem Cardiovascular; Letramento em Saúde; Educação em Saúde

RESUMEN

Objetivo

describir la alfabetización funcional de los pacientes con enfermedad coronaria y analizar su correlación con el nivel de estudios.

Métodos

estudio analítico y descriptivo con enfoque cuantitativo, realizado en un hospital de cardiología de Fortaleza-CE, Brasil, desde enero de 2015 hasta diciembre de 2018, con 76 participantes. La coleta ocurrió por medio del Care Report Form y la categorización de los conocimientos por medio del Short Assessment of Health Literacy for Portuguese-Speaking Adults. Los análisis, mediante el Statistical Package for the Social Sciences, utilizaron la relación y el entrecruzamiento de las variables mediante la prueba estadístico Chi-Cuadrado de Pearson (p<0,05).

Resultados

se evidenció un bajo grado de escolaridad y un nivel de alfabetización funcional en salud inadecuado en el 85,5% de los participantes. La asociación entre el grado de escolaridad y el nivel de conocimiento obtuvo el valor de p=0,890.

Conclusión

se destaca que el conocimiento del enfermero sobre los aspectos relacionados con la gestión del autocuidado de los pacientes es una estrategia importante para la prestación de una asistencia de calidad.

DESCRIPTORES
Enfermedades Cardiovasculares; Enfermedad de la Arteria Coronaria; Enfermería Cardiovascular; Alfabetización en Salud; Educación en Salud

ABSTRACT

Objective

To describe functional health literacy in patients with coronary artery diseases and analyze its correlation with educational level.

Method

Analytical descriptive study with a quantitative approach conducted in a cardiology hospital in Fortaleza, Ceará (CE), Brazil, from January 2015 to December 2018, with 76 participants. The Care Report Form was used for data collection and literacy categorization was performed using the Short Assessment of Health Literacy for Portuguese-Speaking Adults. Statistical analysis was performed in SPSS software using Pearson’s chi-square test (p<0.05) for testing the relationships and cross-tabulation of the variables.

Results

It was found that 85.5% of the participants had a low level of education and an inadequate level of functional health literacy. The p-value for the association between level of education and level of literacy was 0.890.

Conclusion

Nurses’ knowledge about aspects related to the management of self-care by patients is an important strategy for providing high quality care.

DESCRIPTORS
Cardiovascular diseases; Coronary Artery Disease; Cardiovascular Nursing; Health Literacy; Health education

INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares figuram, no cenário nacional e internacional, como as principais causas de morbimortalidade de forma heterogênea. Estas afecções são um conjunto de patologias que acometem o sistema cardíaco em suas diferentes funções, sendo a Síndrome Coronariana Aguda (SCA) uma delas, que levam a desfechos graves e eventos cardiovasculares maiores, como a morte por Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)⁽¹⁾.

A SCA é caracterizada pelo processo de adoecimento específico das artérias coronarianas, as responsáveis por irrigar o miocárdio, realizando a oxigenação tecidual e mantendo as funções primordiais do músculo cardíaco⁽²⁾. Os pacientes com diagnóstico de SCA ficam sujeitos a complicações cardiovasculares e incapacitações, se não evoluírem com pior desfecho. Medidas de prevenção primária e secundária têm importância indiscutível na saúde da população, com redução nas taxas de hospitalização e de óbitos⁽³⁾.

Nesse contexto, o conhecimento das pessoas com SCA a respeito da reabilitação, do tratamento e da própria fisiopatologia da doença é importante para a adesão às boas práticas e para o bom prognóstico. O conjunto dessas informações adquiridas de forma empírica, ou até mesmo científica, pelos pacientes, definem o conceito de letramento funcional em saúde (LFS)⁽⁴⁾.

O conceito de letramento refere-se ao processo e à capacidade do indivíduo, ou de um grupo de indivíduos, de aprender a ler e escrever, bem como, associado a isto, a compreender e interpretar as informações que recebe diariamente no seu contexto social. O letramento funcional (LF) está diretamente ligado às práticas e relações sociais e como o sujeito se relaciona e beneficia nestes processos, de acordo com a sua expertise, adquirida de forma empírica, lúdica ou didática⁽⁵⁾.

Nessa perspectiva, formulou-se o termo LFS, a respeito das formas de interação do indivíduo com o seu processo de autocuidado, originado do inglês Health Literacy. Este surgiu no início da década de 1970, no artigo Health education as social policy, sendo já no final da década de 1990 citado pela American Medical Association (AMA), em um de seus relatórios, como conceito estruturado⁽⁵⁾.

No Brasil, por se tratar de um neologismo na língua portuguesa, “Letramento Funcional” ainda não possui um consenso firmado, sendo associado erroneamente à alfabetismo. No entanto, vale ressaltar que os termos LF e LFS, mesmo com significâncias diferentes, devem ser atribuídos à capacidade de pensamento crítico e interpretação, divergindo assim de alfabetização⁽⁶⁾.

Partindo desse ideal, observa-se a oportunidade dos cuidados de enfermagem como potencializadores da educação em saúde para o incremento do autocuidado e autonomia do paciente. O enfermeiro desenvolve o papel de educador em todos os campos possíveis de sua atuação, com crucial necessidade de atualização quanto aos novos termos e campos emergentes na área da educação em saúde; atualmente, o LFS é mais um novo campo de protagonismo para a categoria.

Logo, objetiva-se no presente estudo descrever o letramento funcional em saúde de pacientes com coronariopatias e analisar sua correlação com nível de escolaridade.

MÉTODO

Estudo do tipo analítico e descritivo, com abordagem quantitativa, realizado em um hospital cardiológico localizado em Fortaleza-CE, na unidade de internação clínica. As informações foram coletadas por pesquisadores e assistentes do programa de Boas Práticas Clínicas (BPC), de janeiro de 2015 a dezembro de 2018, projeto desenvolvido pelo hospital em parceria com a American Heart Association (AHA) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), contando ainda com a participação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Foram analisadas 255 fichas Care Report Form (CRF), do projeto BPC, todas de pacientes com diagnóstico inicial de SCA. No entanto, foram excluídas fichas com dados incompletos ou não preenchidos, restando apenas 76 fichas, destas foram analisadas a aplicação do questionário Short Assessment of Health Literacy for Portuguese-Speaking Adults (SAHLPA-18).

O SAHLPA-18, versão curta do questionário de avaliação do letramento em saúde, traduzido e validado para o português, foi aplicado durante o período de internação dos pacientes, mensurando o nível de LFS segundo a seguinte pontuação, referente ao número de acertos: letramento inadequado (zero a 14 questões) e adequado (15-18 questões). Além disso, realizou-se a coleta de informações sociodemográficas e clínicas, utilizando a ficha clínica CRF do programa BPC.

Os dados coletados seguiram para construção de um banco de dados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), para avaliação estatística e analítica, utilizando a relação e entrecruzamento das variáveis por meio do teste estatístico Qui-Quadrado de Pearson, considerando significativamente estatístico p<0,05.

Todos os preceitos éticos envolvendo pesquisas com seres humanos foram respeitados e o estudo possui parecer consubstanciado favorável/aprovado (nº 1.469.920) pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Cor/Associação do Sanatório Sírio, São Paulo, Brasil.

RESULTADOS

Quanto ao perfil sociodemográfico, 48 (63,2%) pacientes eram do sexo masculino, 68 (89,5%) declararam-se pardos e 38 (50%) possuíam renda maior que um e menor ou igual a dois salários-mínimos. A média de idade foi de 63 anos. Quanto ao perfil clínico, 33 (43,4%) eram portadores de SCA com supra desnível do segmento ST; 24 (31,6%) SCA sem supra desnível do segmento ST e 19 (25%) possuíam Angina Instável. As principais comorbidades prévias dos participantes encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1
Comorbidades associadas aos pacientes com SCA. Fortaleza, CE, Brasil, 2020

Comorbidades Prévias *	n (76)	%
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)	60	78,9
Diabetes Mellitus (DM)	28	36,8
Dislipidemia (DLP)	28	36,8
IAM prévio	14	18,4
Insuficiência Cardíaca (IC)	7	9,2
IRC dialítica	4	5,3
Acidente Vascular Cerebral (AVC)	4	5,3
Insuficiência renal crônica (IRC)	1	1,3
Fibrilação atrial/Flutter Atrial	1	1,3
Doença Valvar	1	1,3
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)	1	1,3

• ^*
  o mesmo paciente pode contar em mais de uma comorbidade.
• Fonte: Autores (2020).

No que tange aos hábitos de vida, oito (10,5%) pacientes declararam tabagismo atual; 40 (52,6%) tabagismo anterior; 12 (15,8%) etilismo atual; 26 (34,2%) etilismo anterior e um (1,3%) uso de drogas ilícitas atual. Quanto à prática de atividades físicas, apenas oito (10,5%) declararam realizar regularmente (maior ou igual a duas vezes por semana). O nível de escolaridade apresenta-se na Tabela 2.

Tabela 2
Nível de escolaridade dos pacientes com SCA. Fortaleza, CE, Brasil, 2020

Grau de Escolaridade	n	%
Não Alfabetizado	12	15,8
Ensino Fundamental Incompleto	40	52,6
Fundamental Completo	13	17,1
Ensino Médio Incompleto	4	5,3
Ensino Médio Completo	6	7,9
Ensino Superior Completo	1	1,3
Total	76	100

• Fonte: Autores (2020).

Quanto ao nível de letramento, a partir da análise dos 76 questionários, foi possível observar que a grande maioria dos pacientes responderam o teste curto de avaliação do LFS de forma inadequada: 65 (85,5%) participantes obtiveram nível de LFS inadequado e 11 (14,5%) adequado. A associação entre o grau de escolaridade e nível de LFS apresenta-se na Tabela 3.

Tabela 3
Associação entre grau de escolaridade e nível de LFS. Fortaleza, CE, Brasil, 2020

Grau de Escolaridade	Nível de LFS		Valor de p *
	Inadequado n (%)	Adequado n (%)
Não Alfabetizado	10 (83,3)	2 (16,7)	p=0,890
Ensino Fundamental Incompleto	33 (82,5)	7 (17,5)
Fundamental Completo	12 (92,3)	1 (7,7)
Ensino Médio Incompleto	4 (100)	0 (0)
Ensino Médio Completo	5 (83,3)	1 (16,7)
Ensino Superior Completo	1 (100)	0 (0)
Total	65 (85,5)	11 (14,5)

• ^*
  Teste qui-quadrado de Pearson.
• Fonte: Autores (2020).

DISCUSSÃO

O perfil predominante da amostra segue o padrão de pacientes portadores de SCA, no que diz respeito a pesquisas de âmbito nacional: homens coronariopatas com supradesnível do segmento ST, com média de idade de aproximadamente 63 anos, pardos, com ensino fundamental incompleto e com renda maior que um e menor ou igual a dois salários mínimos^(2-3).

Quanto às características clínicas, os fatores de risco observados (Tabela 1) com maior prevalência na amostra foram pacientes hipertensos, diabéticos, dislipidêmicos e com histórico de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) prévio. Foi observado, ainda, que a grande maioria possuía estas e/ou outras comorbidades associadas ao processo de adoecimento cardiovascular.

Em uma revisão integrativa, na qual são comparados os perfis clínicos e demográficos de pacientes com IAM no território brasileiro, evidenciou-se dados semelhantes de comorbidades associadas, sendo na região Nordeste 40,5% relacionadas à DLP e 52,4% à HAS, já na região Sudeste 29% relacionadas à DLP e 58,1% à HAS. Nota-se, de forma geral, a manutenção do percentual de prevalência de DLP e HAS⁽⁷⁾.

Quanto aos hábitos de vida, foi possível observar que 63,1% dos entrevistados fazem ou já fizeram uso de cigarro; 50% fazem ou já fizeram uso de bebida alcoólica. Vale ressaltar que estas informações podem ter algum tipo de viés, pois foram informadas pelo relato dos participantes, com uma possível omissão ou respostas divergentes da realidade pelo caráter social de estigma dos questionamentos.

Associado aos altos índices de tabagismo e etilismo, o estudo evidenciou que apenas uma pequena parcela da amostra realizava algum tipo de exercício físico regular, evidenciando má adesão de boas práticas e comportamento de risco, uma vez que o consumo de álcool e/ou tabaco, bem como sedentarismo, apresentam prejuízos ao funcionamento do sistema cardiovascular⁽⁸⁾.

A avaliação sobre os níveis de escolaridade (Tabela 2) demonstrou que apenas uma pequena parcela dos entrevistados conseguiu concluir o ensino médio e mais da metade da amostra possui o ensino fundamental incompleto. Em pesquisa realizada na região Sudeste do Brasil, tendo como um dos objetivos avaliar o nível de LFS em pacientes portadores de Diabete Mellitus tipo 2, evidenciou-se que a maior parcela dos participantes também possuía apenas ensino fundamental incompleto. Ao utilizar o SAHLPA-18, os autores do referido estudo observaram ainda que mais da metade dos participantes (53,9%) atingiu resultado inadequado na realização do questionário⁽⁹⁾.

No entanto, neste estudo, ao realizar a associação entre as variáveis do LFS e escolaridade (Tabela 3), foi possível observar que o nível de letramento inadequado entre os participantes, independente do grau de escolaridade, manteve-se equiparado, pois não foram encontrados resultados significativos (p=0,890) para associar estes desfechos de forma diretamente proporcional.

Corroborando com o exposto, um estudo brasileiro recente revelou que pacientes com elevado nível de escolaridade, podendo pressupor representativo letramento, apresentaram baixo nível de LFS, com comportamento de risco e não cumprimento de medidas preventivas e terapêuticas durante o processo de autocuidado⁽¹⁰⁾. Logo, as intervenções de educação em saúde pelos enfermeiros devem ser cuidadosamente avaliadas, respeitando as características sociais e culturais de cada indivíduo, não generalizando as estratégias levando em consideração apenas um único fator.

Sugere-se a introdução de uma avaliação prévia do letramento, a fim da escolha de metodologias educativas que otimizem a comunicação da díade enfermeiro-paciente. É necessário desenvolver medidas específicas para o resultado de cada grupo, para que os profissionais possam ajustar sua linguagem e/ou instrumentos de comunicação às necessidades e competências dos pacientes mais suscetíveis a déficits na absorção e assimilação das informações⁽¹¹⁾.

Apontou-se em pesquisa com pacientes renais crônicos em tratamento pré-dialítico, a dificuldade da investigação frente ao LFS devido à carência de descrições nacionais para o embasamento do estudo. Por outro lado, reforçou-se a importância de o enfermeiro intervir nos processos e limitações dos usuários para a melhoria e reforço de suas competências, assim como para a tomada de decisões assertivas no processo de saúde-doença⁽¹²⁾.

O êxito do cuidado de enfermagem está ainda relacionado ao autocuidado que cada pacientes precisa ter após o processo de desospitalização. São os enfermeiros, em sua maioria, os profissionais que orientam os pacientes a respeito de suas rotinas quanto ao uso de medicamentos, alimentação, cuidados em relação às atividades de vida diárias, atividade física e sinais e sintomas de suas doenças após o recebimento de um novo diagnóstico, como por exemplo, os eventos cardiovasculares⁽¹³⁾.

Para uma atuação coerente e de qualidade, é necessário o trabalho de educação e atualização, inicialmente com os próprios profissionais, tendo em vista o caráter recente do campo de atuação de reconhecimento/mensuração dos níveis de LFS do paciente ou da população atendida, bem como a carência de bibliografia nacional que respalde e se adeque à realidade do país.

Estudo reforça esta afirmativa: expõe que o baixo LFS em idosos está diretamente ligado à não adesão à terapêutica medicamentosa e destaca como uma das principais figuras para a mudança deste padrão o profissional enfermeiro, que se aprimorando na temática, pode capacitar-se e colaborar com os processos de boas práticas aos pacientes atendidos⁽¹⁴⁾.

Nesse sentido, a consulta de enfermagem, ação privativa do enfermeiro, atividade no Brasil regulamentada pela Lei nº7.498/86 do exercício profissional, mostra-se como momento oportuno para pôr em ação o incentivo à adesão ao autocuidado e ao incremento do LFS. Isso para orientar e consequentemente melhorar a tomada de decisões assertivas para o incremento do bem-estar físico, e também para o desenvolvimento do pensamento crítico dos pacientes para além do ambiente hospitalar.

Reafirma-se que a compreensão do perfil dos pacientes associada ao nível de LFS representa subsídio importante para a definição das ações em saúde a serem desenvolvidas. Pesquisa afirma que, para realizar as atividades de educação em saúde, os profissionais devem levar em consideração variáveis sociodemográficas e de saúde que estejam relacionadas ao LFS da população, uma vez que cada indivíduo busca, compreende e utiliza as informações à sua maneira⁽¹⁵⁾.

Dessa forma, à medida que se consideram esses fatores e a singularidade dos sujeitos, o trabalho educativo do enfermeiro propicia a todos os pacientes acesso e utilização das informações de forma efetiva, minimizando, consequentemente, condições de agravos e vulnerabilidades em saúde da população⁽¹⁵⁾.

Entende-se que o papel de educador é de extrema relevância nestes contextos, tendo em vista o potencial e emergente risco dos agravos e eventos cardiovasculares maiores relacionados à SCA. É válido ainda ressaltar que as questões de fluxo, a logística de acesso e ainda a procura tardia aos serviços de saúde colaboram para a agudização da patologia, consequente mau prognóstico de reabilitação e superlotação das instituições de referência na área.

Assim, este estudo sugere a estimulação da conscientização sobre o tema, ainda pouco discutido, como medida para o enfrentamento da realidade de pacientes com SCA, reduzindo os impactos negativos nas condições de saúde ao longo dos anos de tratamento⁽¹⁰⁾.

Tem-se como limitações do estudo o pequeno recorte de pacientes avaliados, a quantidade insuficiente de produções investigativas na área do LFS em enfermagem cardiovascular e a confiabilidade nas respostas geradas a partir do relato dos participantes em questionamentos em geral estigmatizadores, o que pode levar ao desvio das afirmações ou levá-los a ocultar informações relevantes pelo receio de julgamentos.

CONCLUSÃO

Evidenciou-se o alto índice de LFS inadequado nos participantes da pesquisa, não havendo associação direta com o nível de escolaridade, fator que chama a atenção para os preconceitos e inferências equivocadas pelos profissionais, caso categorizem os pacientes única e exclusivamente como capazes ou não de gerir o seu processo saúde-doença e práticas de autocuidado de acordo com o grau de escolaridade deles.

A pesquisa confere subsídios que reforçam a necessidade de cuidados longitudinais pelos profissionais da saúde a pacientes com SCA, a fim de evitar complicações e promover estratégias adaptativas para a manutenção da saúde e o autocuidado responsável.

Destaca-se o papel da enfermagem como ordenadora dos processos educativos, sendo relevante a necessidade da capacitação de enfermeiros para essa atuação, desde o processo formativo. Além disso, este estudo subsidia reflexões sobre a importância da investigação do LFS como parte do levantamento de dados para a elaboração de cuidados em saúde cardiovascular pelo enfermeiro.

Este estudo proporcionou a reflexão de que a avaliação de enfermagem para identificar fragilidades para a gestão do autocuidado do paciente não deve inferir de forma isolada que o baixo grau de escolaridade se associa ao letramento inadequado. Sugerem-se pesquisas experimentais que avaliem os impactos da investigação do LFS na manutenção da saúde de pessoas com doenças cardiovasculares a médio e longo prazo, e a elaboração de um questionário específico para a avaliação no contexto do adoecimento cardiovascular.

COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO

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Editado por

Editora associada: Luciana Alcântara Nogueira

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  22 Nov 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  23 Jul 2020
• Aceito
  14 Abr 2021