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A FLORESTA E O AMBIENTE SOCIAL

ABSTRACT

This article presents some thoughts in social forestry. Each social science has a unique perspective and methodology to contribute to our understanding of social forestry, practices, but the main point is to select professionals with knowledge and commitment to forest and rural communities. The main objective of this article is to add to the needs and concepts in social forestry.

INTRODUÇÃO

Benefícios da floresta não devem ser vistos somente pela tradicional análise econômica. Na realidade social um benefício não é obtido específicamente em um ponto. Enquanto muitos benefícios da floresta têm um preço de mercado, outros que possuem alto valor para a humanidade, tais como a qualidade do ar e da água, não possuem um valor direto de troca. Muitos benefícios do ecossistema florestal não possuem valor financeiro, apesar do alto valor para a comunidade. A análise do problema não é nova, mas a solução é complexa. Kaufman and Kaufman, já em 1946Kaufman H. and Kaufman L.C. 1946. Toward Stabilization and Enrichment of a Forest Community. The University of Montana and The U.S. Forest Service. Missoula. Montana., colocaram que a questão central não é a rápida destruição dos recursos florestais contra uma produção sustentada, mas sim o problema da proteção do interesse público e a distribuição equitativa dos beneficies da floresta. Na realidade, o profissional florestal utiliza a ciência social simplesmente para evitar que pessoas incendeiem a floresta e aceitem noções sobre a ciência florestal. Como beneficio social, o profissional deve intervir no ecossistema para incentivar ganhos sociais, deixando o deslumbramento com a árvore num segundo plano.

A AÇÃO DO HOMEM

A declaração da pioneira conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, define Meio Ambiente como o sistema físico e biológico global em que vivem o homem e outros organismos (Rovere, 1993Rovere, E.L. 1993. Os Problemas da Avaliação do Impacto Ambiental no Brasil. Subsídio; INESC. Brasília-DF.). O homem se destaca do todo, o que Ihe permite adotar uma visão objetiva da natureza tanto dentro quanto fora de si mesmo. O ego ou eu começa como um observador do si-mesmo e termina controlando-o e dominando-o. O ego ganha seu poder através do uso da razão e da vontade (Lowen, 1986Lowen, A. 1986. Medo da Vida. Summus Editorial Ltda. São Paulo. SR). A ação das atividades em "social forestry" devem reduzir os impactos sociais negativos dos efeitos das atividades humanas sobre a natureza.

"Social Forestry" é tida como a mais recente invenção dos conservacionistas internacionais. Porém, os profissionais florestais não podem permitir que as práticas sociais florestais assumam uma postura monopolítica, mas sim, induzam um aprimoramento ou uma atualização constante as normas técnicas.

O PROCESSO DA EDUCAÇÃO

Educar é uma atividade orientada para transformar as circunstâncias através da transformação dos sujeitos, interferindo nos seus processos de aprendizagem. Portanto, para educar é preciso definir que orientação se pretende dar aos processos de aprendizagem (Werthein, 1986Werthein, J. 1986. Educação e Participação. IICA-MEC. Philobiblion Livros de Arte Ltda. Rio de Janeiro. RJ.).

Muitas estratégias educativas têm sido propostas para o desenvolvimento do ecossistema florestal em benefício de comunidades. Entre elas, temos os sistemas agrossilviculturais, silvo-pastoril, agro-silvo-pastoril e outros como apicultura e peixes em consórcio com árvores. Porém, o pequeno produtor, por produzir pouco e, conseqüentemente, com reduzida capacidade de poupança, está sujeito a enormes obstáculos para se beneficiar, em condições satisfatórias, dos instrumentos da política agrícola. A insuficiência de recursos, principalmente nos períodos de entressafra, concorrem para que seja obrigado a vender antecipadamente e a baixos preços a produção, a fim de que possa adquirir os bens essenciais de consumo de que necessita. Portanto, a dependência econômica do pequeno produtor gera um ciclo vicioso (IICA, 1983IICA. 1983. Participação dos Pequenos Agricultores na Produção de Alimentos. IICA. Brasília, DF.), e num processo educativo, os profissionais florestais devem desenvolver novos valores tais como planejamento a longo prazo e um trabalho ético, além de introduzir tecnologia.

As atividades devem ser direcionadas visando evitar o que aconteceu com os investimentos incentivados nas atividades do reflorestamento que favoreceram os grandes proprietários de terras e grandes corporações, aumentando a desigual distribuição da renda e da terra no Brasil (Prado, 1986Prado, A.C. 1986. Uma Avaliação dos Incentivos Fiscais do FISET. Brasil Florestal, Boletim Técnico. Brasília-DF.).

"SOCIAL FORESTRY"

Os programas de treinamento e curriculum para a área social florestal necessitam incorporar as várias linhas de pensamento na identificação das forças que afetam a natureza social da floresta, e não simplesmente uma disciplina. Uma efetiva aplicação de "social forestry" requer uma visão holistica, integrando uma amplitude de técnicas e informações. Conhecimento adquirido de um sistema de pesquisa florestal permitirá à sociedade escolher sabiamente o uso, assim como obter os benefícios ambientais, econômicos e espirituais da floresta (NCR, 1990NCR. 1990. Forestry Research: A Mandate for Change. National Academy Press. Washington, D.C.).

O profissional florestal na área social precisa de qualificação em levantamento e análise de dados que cubra toda a amplitude social e a conecção com dados biofísicos, um conhecimento de mercado de produtos pouco convencionais, uma percepção do funcionamento e processo da estrutura social e valores culturais, qualificação no manejo de organizações sociais que afetam o homem e a floresta, e uma habilidade para ouvir, entrevistar, organizar, informar, persuadir e dirigir participantes em projetos florestais sócias (Hoskins, 1993Hoskins, M. W. 1992. Social Forestry: Myths and Realities. Paper presented at American Association for the Advancement of Science Annual Meeting. Washington D.C.).

O estado incorpora as ações da sociedade. A gestão da sociedade é uma gestão política. Uma gestão organizada, que só é obtida através das formas de controle popular organizada, que são em seu cerne as associações e partidos políticos. Como não existiu até o presente, no Brasil, uma organização política da sociedade de forma efetiva, prevaleceram as organizações dos grupos econômicos que apesar de serem a minoria, possuem organízação e impõe à sociedade os seus pontos que são incorporados pelo estado. Com isso aumentaram os conflitos sociais, face a exploração dos recursos naturais de forma desordenada e de interesse desses grupos (Lima, 1994Lima.J.P.C. 1994. Modelo de Análise de espécies florestais em Sistemas Agroflorestais no Estado do Rio de Janeiro. Relatório de Pesquisa. UFRRJ/CNPq.).

Nossa demanda é criar um profissional da Engenharia Florestal que não seja exclusivamente um aplicado cientista social, nem ortodoxo engenheiro, mas sim um que combine o conhecimento necessário para fornecer a longo prazo o maior benefício social, e não simplesmente maximizar a produção da Biomassa.

BIBLIOGRAFIA

  • Hoskins, M. W. 1992. Social Forestry: Myths and Realities. Paper presented at American Association for the Advancement of Science Annual Meeting. Washington D.C.
  • IICA. 1983. Participação dos Pequenos Agricultores na Produção de Alimentos. IICA. Brasília, DF.
  • Kaufman H. and Kaufman L.C. 1946. Toward Stabilization and Enrichment of a Forest Community. The University of Montana and The U.S. Forest Service. Missoula. Montana.
  • Lima.J.P.C. 1994. Modelo de Análise de espécies florestais em Sistemas Agroflorestais no Estado do Rio de Janeiro. Relatório de Pesquisa. UFRRJ/CNPq.
  • Lowen, A. 1986. Medo da Vida. Summus Editorial Ltda. São Paulo. SR
  • NCR. 1990. Forestry Research: A Mandate for Change. National Academy Press. Washington, D.C.
  • Prado, A.C. 1986. Uma Avaliação dos Incentivos Fiscais do FISET. Brasil Florestal, Boletim Técnico. Brasília-DF.
  • Rovere, E.L. 1993. Os Problemas da Avaliação do Impacto Ambiental no Brasil. Subsídio; INESC. Brasília-DF.
  • Werthein, J. 1986. Educação e Participação. IICA-MEC. Philobiblion Livros de Arte Ltda. Rio de Janeiro. RJ.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 1994
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