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Pé torto congênito

Resumos

Embora o pé torto congênito seja uma das deformidades congênitas mais comuns dos membros inferiores, ainda há controvérsias com relação à etiologia e ao tratamento. Apesar da frequência relativamente alta, o tratamento é desafiador, pois objetiva a obter um pé funcional, flexível, plantígrado e indolor, com resultados permanentes. O método de Ponseti destaca-se por propiciar resultados mais satisfatórios e diminuir a necessidade de cirurgias. Entretanto, o tratamento cirúrgico deve ser indicado após falha do tratamento conservador adequadamente realizado. A tendência atual consiste em evitar as extensas liberações cirúrgicas e, quando houver necessidade de cirurgia, preconizam-se correções localizadas, também conhecidas por liberações "à la carte". A perspectiva futura fundamenta-se em conhecer resultados de tratamento a longo prazo e novos conhecimentos sobre a etiologia do pé torto congênito, especialmente do ponto de vista genético, que poderão, eventualmente, auxiliar na determinação do prognóstico e até no tratamento. Nível de Evidência: Nível II, revisão sistemática.

Pé torto; Deformidades do pé; Anormalidades congênitas


The clubfoot is one of the most common congenital deformities affecting the lower limbs, it still presents controversial aspects regarding etiology and treatment. In spite of its relatively high frequency, the treatment is still challenging, since the long-term aim is achieving an everlasting flexible, plantigrade, pain-free and totally functional foot. The Ponseti method has gained attention and popularity because of its satisfactory results and surgery avoidance. Presently, surgical treatment is indicated only after failure of conservative methods, avoiding extensive soft-tissue release, but performing localized corrections of the deformities, a technique also know as "a la carte" release. The future perspective is based on the knowledge about long-term results and new understanding of the clubfoot etiology, especially in the genetic field, which may eventually be helpful for prognostic and treatment. Level of Evidence: Level II, systematic review.

Clubfoot; Foot deformities; Congenital abnormalities


ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO

Pé torto congênito

Daniel Augusto Carvalho Maranho; José Batista Volpon

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil

Correspondência Correspondência: Av. Caramuru, 2100, apto 1424 Ribeirão Preto-SP, Brasil, CEP 14030-000 Email: danielmaranho@hotmail.com

RESUMO

Embora o pé torto congênito seja uma das deformidades congênitas mais comuns dos membros inferiores, ainda há controvérsias com relação à etiologia e ao tratamento. Apesar da frequência relativamente alta, o tratamento é desafiador, pois objetiva a obter um pé funcional, flexível, plantígrado e indolor, com resultados permanentes. O método de Ponseti destaca-se por propiciar resultados mais satisfatórios e diminuir a necessidade de cirurgias. Entretanto, o tratamento cirúrgico deve ser indicado após falha do tratamento conservador adequadamente realizado. A tendência atual consiste em evitar as extensas liberações cirúrgicas e, quando houver necessidade de cirurgia, preconizam-se correções localizadas, também conhecidas por liberações "à la carte". A perspectiva futura fundamenta-se em conhecer resultados de tratamento a longo prazo e novos conhecimentos sobre a etiologia do pé torto congênito, especialmente do ponto de vista genético, que poderão, eventualmente, auxiliar na determinação do prognóstico e até no tratamento. Nível de Evidência: Nível II, revisão sistemática.

Descritores: Pé torto. Deformidades do pé. Anormalidades congênitas.

INTRODUÇÃO

O tratamento do pé torto congênito idiopático (PTC) tem apresentado importante evolução, pois, há poucos anos, as amplas liberações cirúrgicas eram a regra, tendo em vista os resultados insatisfatórios das técnicas de manipulação, então utilizadas. Hoje, o método de Ponseti consagra-se pelos resultados mais satisfatórios e pela diminuição da necessidade de liberações cirúrgicas extensas.

Na disciplina de Ortopedia Pediátrica e de Afecções do Pé do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto o método de Ponseti foi introduzido há 10 anos pelo autor senior (JBV), após discussão de detalhes de tratamento com o criador do método.

Em comparação com o método de Kite houve completa mudança do prognóstico e resultados da deformidade, que se confirmaram ao longo dos anos, não apenas em experiência local, mas também em outros centros nacionais e internacionais.

É proposta desta revisão apresentar e discutir as principais idéias sobre a afecção, com base na literatura e experiência dos autores, com a finalidade de aumentar a compreensão e divulgação de conceitos modernos de etiologia, anatomopatologia e tratamento do pé torto congênito.

PÉ TORTO CONGÊNITO IDIOPÁTICO (PTC)

O PTC é definido como uma deformidade caracterizada por mau alinhamento complexo do pé que envolve partes moles e ósseas, com deformidade em equino e varo do retropé, cavo e adução do médio e antepé.1-5

Com incidência aproximada de um para cada 1.000 nascidos vivos, predomina no gênero masculino, na proporção de 2:1, e tem acometimento bilateral em 50% dos casos.6-9 São encontradas variações populacionais em relação à incidência sendo que, nos chineses, é cerca de 0,39 casos por 1.000 nascidos vivos, nos caucasianos um a três casos por 1.000 nascidos vivos, enquanto que nos havaianos ocorre em cerca de sete por 1.000 nascidos vivos.6

ETIOLOGIA

Com etiologia ainda desconhecida, foram propostas várias teorias para explicar a origem do PTC, considerando-se causas intrínsecas ou extrínsecas, entre as quais: posição intrauterina do feto, compressão mecânica ou aumento da pressão hidráulica intrauterinas10,11; parada no desenvolvimento fetal12; infecções virais13; deficiências vasculares14,15; alterações musculares16-20; alterações neurológicas21-27; defeito no desenvolvimento das estruturas ósseas3,28,29 e defeitos genéticos.7,30-39

A constatação da existência de tecido fibrótico nos músculos, fáscias, ligamentos e bainhas tendíneas da região posteromedial do tornozelo e retropé18,20 corroboram a hipótese de defeito primário de partes moles e unidades neuromusculares que levam às alterações ósseas.16,18,21,22,24,26,40

As proteínas citocontráteis e miofibroblastos identificadas nos tecidos contraturados posteromediais do retropé30,34 são estruturalmente semelhantes àquelas presentes na fibromatose palmar e expressam níveis elevados de colágeno tipo III e determinados fatores de crescimento, quando comparados aos tecidos não contraturados.41,42

Encurtamento, fibrose e retração dos músculos e ligamentos no PTC seriam geneticamente induzidos, resultando em capacidade anormal de retração que, possivelmente, estaria relacionada às deformidades congênitas primárias e também às recidivas que ocorrem, mesmo após tratamento adequado.

Fatores genéticos podem estar envolvidos na origem do PTC como sugerem estudos que evidenciaram aumento na incidência familiar e em gêmeos idênticos.7,43 Diversas investigações identificaram genes com evidência de associação com o PTC.33,36-38,44-46.Por outro lado, fatores externos relacionados ao desenvolvimento também foram considerados6,31,35 e a deformidade parece não se desenvolver antes da 12ª semana gestacional, conforme estudo ultrassonográfico fetal.47

O consenso acerca do real padrão de herança genética ainda não foi estabelecido, mas sugere-se herança de padrão poligênico multifatorial influenciável por fatores externos48,49, com dominância incompleta e penetrância variável.35

ANATOMIA PATOLÓGICA

As relações tridimensionais entre os ossos estão alteradas de forma complexa e, segundo Ponseti4, as deformidades mais graves encontram-se no retropé, onde o tálus e o calcâneo estão em equino acentuado, o calcâneo está posicionado medialmente e angulado em varo e o navicular está com acentuado desvio medial. Além disso, os ligamentos posteriores do tornozelo, como os da região medial e plantar, estão encurtados e espessados. Os músculos tríceps sural, tibial posterior e flexores dos dedos estão encurtados.

O tálus apresenta má-formação morfológica, o colo está angulado medial e plantarmente, em comparação com um pé normal.12,17,18, 20,28,29,50-52 Além disso, o colo está encurtado e, em alguns casos, ausente28. O calcâneo encontra-se voltado medialmente no plano horizontal3,50, em equino, aduzido e invertido, com a tuberosidade anterior direcionada para o maléolo lateral e sob a cabeça do tálus (varo).18,20,51-55 Nos casos mais graves, há angulação medial do eixo longo do calcâneo.20,28 O navicular está em extrema inversão, medializado e deslocado sobre a cabeça do tálus12,52,54 de modo a articular com a porção medial da cabeça do tálus e, não raramente, está em contato com o maléolo medial.18,20,28,50,56 O cuboide desloca-se medialmente em relação ao calcâneo.52-54 As articulações tarsometatarsais e as diáfises dos metatarsais estão medializadas e causam adução do antepé20,53 que está pronado em relação ao retropé, pois o primeiro e o segundo metatarsais encontram-se angulados plantarmente em relação ao quinto, que, em geral, está alinhado com o retropé. Tal relação origina o cavo.53

Há complexas e amplas anomalias nos ligamentos posteriores do tornozelo e posteromediais do retropé12,50,55,57,58, como retrações que exercem forças deformantes e resistência às correções. O ligamento deltoide e o ligamento calcaneonavicular plantar ("ligamento em mola") estão encurtados e espessados.42,55,58,59

Além disso, no PTC, os músculos da panturrilha são menores1,12,28,50,56,57,60,61, o tamanho do pé, como um todo, e dos ossos, individualmente, também é menor50. Desta forma, o músculo tríceps sural encontra-se invariavelmente contraturado e encurtado16-18, 50, 55-58, embora não seja claro se o encurtamento é primário ou secundário.

Músculos anômalos ou acessórios são mais frequentes no pé torto congênito idiopático58,62-67 e também há variações nas inserções tendíneas9,16, inclusive com inserção mais medial do tendão calcâneo (Aquiles), o que contribui para o varismo.58

Foram descritas más-formações vasculares no PTC cuja origem pode ser congênita, ou então, adaptativa à deformidade grave e prolongada.14 A anomalia mais frequente é ausência ou hipoplasia da artéria tibial anterior, que está presente proximalmente na perna, mas termina abruptamente no tornozelo ou na panturrilha, com rede anastomótica deficiente ou ausente.14,68-73 A ausência do pulso pedioso é mais frequente no PTC de maior gravidade e nas crianças com mais idade.74 Em situações mais raras, pode haver insuficiências vasculares mais acentuadas, que comprometem também a perfusão fornecida pela artéria tibial posterior.71,75-78 Nestes casos, o suprimento sanguíneo ocorre isoladamente pela artéria fibular.73

MÉTODOS DE TRATAMENTO

O método de Kite

Em 1932, Kite79,80 em oposição aos métodos então usados, publicou um método de manipulação mais gentil que visava a corrigir cada componente do PTC separadamente, e não simultaneamente. A correção do aduto consistia na abdução do pé com fulcro no mediopé e apoio na articulação calcaneocuboidea. A correção do varo era feita com eversão do retropé, com cunhas ou trocas gessadas. As manipulações forçavam sucessivamente a abdução e pronação do antepé. Após a correção do aduto e da inversão, os equinos do antepé e do retropé eram corrigidos com a dorsiflexão progressiva.

Entretanto, tanto o método de Kite como outras técnicas de manipulação e troca gessada antecessoras não permitiam correção completa das deformidades e resultavam em pés com cavo residual, deformidade em "mata-borrão", torção lateral do tornozelo, achatamento e deformação da face superior do corpo do tálus, subluxação do navicular, rigidez ligamentar e capsular, entre outras alterações.4 Como outros autores não conseguiram reproduzir a mesma taxa de bons resultados descrita por Kite81,82, retomaram o tratamento cirúrgico quando havia resistência à correção pela técnica conservadora. A clássica liberação medial de Codivilla era bastante realizada.83

A liberação posteromedial

Nos anos 70, a partir dos trabalhos de Turco58,59, a liberação extensa de partes moles tornou-se popular, com ênfase na liberação posteromedial. Porém, a complicação de hipercorreção com valgismo no retropé ocorria com frequência. Assim, variações da técnica surgiram nos anos 80 e 90.84-87 Entretanto, os resultados a longo prazo continuaram a ser insatisfatórios, com rigidez articular e ligamentar, anquilose, fraqueza do tríceps e dos dorsiflexores, deformidade residual devido à hipocorreção ou hipercorreção, deslocamento do navicular, achatamento e necrose do tálus, necrose de pele, infecções, cicatrizes com hipersensibilidade, distúrbios da marcha, dor e artrose tardia.4,51,54,60, 82,88-91 A atual tendência é evitar cirurgias com extensas liberações articulares1,5 e o uso da cirurgia como método de correção primário fica limitado ao procedimento à la carte, onde são liberadas apenas as estruturas necessárias para a obtenção da correção.92 (Figura 1)


O método de Ponseti

Ponseti, após estudos aprofundados sobre a anatomia patológica e funcional do PTC, a partir da década de 40, desenvolveu e aprimorou método próprio de tratamento, em vista dos maus resultados obtidos com tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos, então em prática. Estabeleceu detalhes sobre as manobras de manipulação e de confecção do gesso, bem como o seguimento após secção do tendão calcâneo e estratégias de prevenção de recidivas, com base na idade da criança e na cooperação dos pais. Além disso, identificou e divulgou os erros mais comumente praticados.93

Outros métodos iniciais de tratamento como o uso de órtese de Denis Browne, fisioterapia, alongamentos e bandagens (método francês) podem ter relativo sucesso, quando adequadamente aplicados, mas é comum a falha na obtenção da correção completa da deformidade.94

O método de Ponseti1,4,53, composto, basicamente, por manipulações e trocas gessadas seriadas, secção percutânea do tendão calcâneo e uso de órtese de abdução tornou-se o método preferencial para o tratamento do PTC idiopático em muitos países, nos últimos dez anos (Bor; Coplan, Herzenberg, 2009; Dobbs, Gurnett, 2009; Dobbs et al., 2004b; Herzenberg; Radler, Bor, 2002). Com a grande aceitação, foi estendido para crianças mais velhas95-98; pés complexos e resistentes99; pés recidivados100, inclusive recidivas após extensa liberação cirúrgica101, e também, nos casos não idiopáticos, como na mielomeningocele102,103 e artrogripose distal104,105.

O fundamento da técnica pela manipulação é corrigir as deformidades por meio da mudança plástica dos elementos contraturados e encurtados, que possuem elevada capacidade elástica na criança mais nova. Pirani, Zeznik e Hodges52 confirmaram, com o uso da ressonância nuclear magnética que, com o método de Ponseti, não há apenas correção da relação entre os ossos do pé, mas remodelamento ósseo orientado pelos estímulos mecânicos, de acordo com a clássica lei de Wolff.

O tratamento, segundo Ponseti1, deve ser iniciado nos primeiros dias de vida, com manipulações suaves, feitas em intervalos de cinco a sete dias e, a seguir, aplicação de aparelho gessado cruropodálico, com o joelho flexionado ~90º. O cavo é a primeira deformidade a ser corrigida com a supinação do antepé e apoio plantar na cabeça do primeiro metatarsal. A adução e o varismo são corrigidos simultaneamente nos próximos três ou quatro gessos, com contra-apoio na face lateral da cabeça do tálus e abdução do antepé, em supinação. Ao se conseguir abdução de ~70º, o varo deverá estar corrigido. Apenas após a correção da adução e varismo, deve ser iniciada a correção do equino com gesso modelado na parte posterior do pé, com flexão dorsal. Ponseti denominou "erro de Kite" o apoio realizado na articulação calcaneocuboidea e a tentativa de correção do varismo com pronação, pois há, respectivamente, bloqueio do calcâneo aduzido abaixo da cabeça do tálus (o que impede a rotação lateral do calcâneo e mantém a deformidade em varo) e a acentuação do cavo.93,94,106 A Figura 2 ilustra um caso tratado pelo método de Ponseti.


O método de Ponseti está sendo amplamente difundido, tanto nos países desenvolvidos, como naqueles em desenvolvimento107-112, em virtude dos bons índices de correção obtidos, que se aproximam de 90%4,60,95,113,114, enquanto que, na técnica de Kite, cerca de 50% dos casos requerem intervenção cirúrgica e cerca de 40% apresentam deformidade residual.115 Outro fator importante é que o tempo de tratamento pela técnica de Kite é de aproximadamente vinte e dois meses, enquanto que, pelo método de Ponseti, é de dois a quatro meses.116 Herzenberg, Radler e Bor.117 relataram que o método de Ponseti foi capaz de reduzir significativamente a necessidade de liberação cirúrgica posteromedial (3% contra 94% pela técnica tradicional da época).

No entanto, a maioria dos casos tratados pelo método de Ponseti apresenta equino residual e requer secção percutânea do tendão calcâneo, realizada originalmente com lâmina de bisturi oftalmológico, através de pequena incisão na pele. A tenotomia é indicada quando o retropé não alcança 15º de dorsiflexão, após ser obtida a correção do varismo e do aduto, sendo necessária em 70 a 90% dos pacientes.1,4,95,114,117-119 A tentativa de correção forçada do equino com gesso produz a clássica deformidade em "mata-borrão".

Ainda, as recidivas após o tratamento podem ser frequentes e fazem parte da própria história natural da doença e são causadas pelos mesmos fatores patológicos que iniciaram a deformidade.93 O uso da órtese de abdução e a manipulação domiciliar diária devem ser incentivados, pois podem atuar preventivamente. As recidivas podem ser rapidamente tratadas com duas ou três trocas gessadas, mas casos com forte tendência à supinação dinâmica são candidatos à transferência do tendão do músculo tibial anterior para o terceiro cuneiforme.93 A cirurgia pode prevenir futuras recidivas e corrigir o ângulo talocalcaneano60. A ocorrência de varo e/ou aduto residual também podem ser tratadas com correções cirúrgicas localizadas, como as osteotomias no mediopé (cunha de subtração do cuboide ou cunhas combinadas) ou no calcâneo (Dwyer), que evitam as liberações cirúrgicas articulares.1

Secção do tendão calcâneo

Por muito tempo, a secção percutânea do tendão calcâneo foi amplamente realizada, sem, no entanto, descrições das complicações e riscos do procedimento. Entretanto, existe no meio ortopédico receio quanto à possibilidade de lesão das estruturas adjacentes e preocupação quanto à qualidade da cicatrização tendínea.

Recentemente foram relatadas complicações após tenotomia percutânea do Aquiles como sangramento excessivo, atribuídos à lesão da artéria fibular posterior ou veia safena parva118 e formação de pseudoaneurisma.73

Estudos clínicos com seguimento tardio mostraram que a tenotomia não causa efeitos tardios como enfraquecimento tendíneo e roturas.53,60,113,120,121 Estudos prévios em outros tipos de doenças mostraram que há reparação completa do tendão calcâneo após sua secção total na junção miotendínea122, ou mais distalmente123,124 O tendão parece sofrer completa reparação dentro de seis semanas após a secção.120 Mais recentemente, a reparação do tendão calcâneo após tenotomia percutânea no PTC foi estudada e verificou-se rápida cicatrização, com recuperação da transmissão mecânica de movimentos em todos os casos com três semanas após a secção e, aos seis meses pós-secção, o tecido de reparação assemelhava-se ao tendão normal.125,126

Diversos instrumentos foram utilizados para secção percutânea do tendão calcâneo. Inicialmente, Ponseti preconizava o uso de lâmina de bisturi oftalmológica. Como ela é longa e pontiaguda, foi sugerido o uso de uma lâmina oftalmológica mais curta e de extremidade arredondada.118 Lâminas de bisturi comuns como as de nº 11 e 15 são amplamente utilizadas. Mais recentemente, a agulha de calibre 1,6 mm tem sido empregada.125-128

Mais importante que o instrumento utilizado, é a técnica cirúrgica da tenotomia. O ponto de entrada deve ser rasante à borda medial do tendão calcâneo, cerca de 1,0 cm acima da inserção, de modo a evitar o feixe vasculonervoso tibial posterior. A secção deve ser avaliada de forma palpatória, com a extremidade do instrumento. A ultrassonografia pode ser usada para avaliação transoperatória da tenotomia125,126,128, de modo a garantir que ela seja completa e que o equino seja corrigido.

CLASSIFICAÇÃO DO PTC

O PTC tem expressão variável e há classificações que consideram somente aspectos clínicos e, outras, que levam em consideração também os aspectos radiográficos. Entretanto, nenhum sistema de classificação prevaleceu até o momento, mas as principais classificações são a de Dimeglio129 e a de Pirani.110,130,131

A classificação de Pirani é mais simples e mais recente, porém ainda está em fase de validação (informação pessoal). Ela é baseada num sistema de graduação simples, composto por três variáveis no retropé e três no mediopé.110 Cada variável pode ser pontuada em zero, meio e um ponto. (Figura 3)


PÉS COMPLEXOS E RESISTENTES

Alguns pés não são passíveis de correção pela técnica manipulativa clássica de Ponseti, ou mesmo, a aplicação incorreta do método pode iatrogenicamente produzir deformidades mais complexas. Clinicamente, esses pés são caracterizados por apresentarem equino rígido acentuado, flexão plantar grave de todos os metatarsais, com aparência de um pé mais encurtado. Há prega transversal plantar profunda tanto medial como lateralmente, além de encurtamento e hiperextensão do hálux. O tendão calcâneo está mais tensionado que o habitual, é longo, fibrótico, palpável até a metade proximal da panturrilha e produz equino acentuado, com profunda prega posterior no tornozelo. O antepé, além da adução, está em acentuada flexão plantar, tanto medial como lateralmente. O maléolo lateral é mais protruso. O tálus é aparentemente menor e sua cabeça não é facilmente palpável, como no PTC habitual, sendo frequentemente confundida com a tuberosidade anterior do calcâneo.99

A tentativa de correção pela técnica habitual não funciona porque o apoio ocorre na tuberosidade anterior do calcâneo, com hiperabdução na articulação de Lisfranc e piora da flexão plantar dos metatarsais. Há grande número de trocas gessadas e os gessos escorregam com facilidade. Por isso, muitos ortopedistas optam pelo tratamento cirúrgico.

Nesses casos, o próprio Ponseti99 recomendou técnica modificada de manipulação. A correção requer, inicialmente, correta identificação da cabeça do tálus, que está menor que o habitual, em frente aos maléolos, com percepção dinâmica do navicular e da tuberosidade anterior do calcâneo. No momento do contra-apoio, para manipulação e confecção do gesso, deve-se estar atento para fazê-lo realmente na cabeça do tálus, e não na proeminente tuberosidade anterior do calcâneo. A abdução deve atingir cerca de ~40º, após duas ou três trocas gessadas. Após, inicia-se a correção do cavo com apoio sob a cabeça do primeiro e do quinto metatarsal, para correção da flexão plantar do antepé, com um auxiliar fazendo contra-apoio no joelho. (Figura 4) O gesso deve ser muito bem moldado, para evitar escorregar, e o joelho é imobilizado em flexão de ~110º.


Após correção do cavo, é feita secção do tendão calcâneo de forma habitual e a correção do equino é, em geral, feita com trocas gessadas semanais para ganho de dorsiflexão, até cerca de 10º. Após, é prescrito o uso de órtese com abdução de ~40º.

CRIANÇAS MAIS VELHAS E PÉS RECIDIVADOS

O método de Ponseti tem sido utilizado em crianças mais velhas100, inclusive acima de dois anos96,98, como método de tratamento inicial, com resultados satisfatórios. Nas crianças maiores foram sugeridas modificações do método, como a obtenção de ~40º de abdução, e não ~70º como nas crianças mais novas. Além disso, as manipulações e trocas gessadas são realizadas a cada duas semanas, para permitir maior acomodação e remodelamento das partes moles e ósseas. Caso permaneça equino residual após tenotomia, pode ser feita liberação posterior da tibiotársica e subtalar.

No entanto, o limite superior de idade, tanto para o tratamento pelo método de Ponseti, como para a realização da tenotomia percutânea, não está bem estabelecido.

O uso do método de Ponseti também foi estendido para pés recidivados, inclusive após liberações cirúrgicas, com relatos de bons resultados101.

PTC TERATOLÓGICOS, SINDRÔMICOS E NEUROLÓGICOS

O método de Ponseti tem sido utilizado para tratamento do PTC na artrogripose com resultados satisfatórios a curto prazo104,105,132, embora com modificações como realizar a secção percutânea do tendão calcâneo como primeira medida corretiva104 ou mesmo, aceitar ganho de abdução de 40-50º132, inclusive na órtese de abdução. Aparentemente, a flexibilidade do pé melhora com a evolução do tratamento e menor taxa de correção cirúrgica é necessária. Entretanto, as recidivas são comuns.132

O método também tem sido aplicado em casos de mielomeningocele102,103, mas vale lembrar que em doenças que apresentam alterações da sensibilidade dos pés, o tratamento com gesso pode ser perigoso e provocar graves lesões de pele, fraturas por estresse e deformidade plástica, em especial após correções agudas, como por exemplo, secção do tendão calcâneo.103

Em geral, quando comparados com PTC idiopático, o método de Ponseti no tratamento de PTC sindrômico resulta em maior número médio de trocas de gessos e maior frequência de falhas, recidivas e necessidade de procedimentos cirúrgicos adicionais. No entanto, a correção proporcionada é satisfatória na maioria dos casos.133

O uso da órtese de abdução também deve ser estimulado, apesar da tendência de ocorrer menor adesão da família e maior incidência de lesão de pele. A abdução deve ser a mesma da obtida no final do tratamento com gesso.103

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para assegurar que os pacientes com PTC sejam adequadamente tratados de forma cada vez menos invasiva, com pés funcionais, flexíveis, indolores, sem deformidades ou calosidades e que não necessitem de calçados especiais, será necessário não somente conhecer a patogênese da doença e outros detalhes técnicos, mas também os resultados funcionais tardios dos diversos tipos de tratamento. A maioria das pesquisas relacionadas ainda é de curto e médio prazos e comparam o método de Ponseti com outros métodos, cirúrgicos ou não. Assim, futuramente, novas evidências ajudarão a resolver as atuais dúvidas e controvérsias relacionadas ao tratamento do PTC.

Artigo recebido em 14/10/09, aprovado em 10/11/09

Trabalho realizado no Setor de Ortopedia Pediátrica e Afecções do Pé do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto. SP. Brasil.

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Ago 2011
    • Data do Fascículo
      2011

    Histórico

    • Recebido
      14 Out 2009
    • Aceito
      10 Nov 2009
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