EDITORIAL EDITORIAL
Paixão, publicação, promoção e pagamento: quais "Ps" motivam os cientistas?
Wallace Chamon
Médico, Departamento de Oftalmologia, Escola Paulista de Medicina - EPM, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil.
Os cientistas têm diferentes razões para submeter um trabalho para publicação. Idealmente, cada publicação deve ser a consequência final de curiosidade: a questão colocada depois de uma observação que não pode ser respondida de maneira satisfatória pelo pesquisador. Ensinar motivação científica é ensinar questionamento, uma vez que a pergunta correta é apresentada a uma mente cientificamente orientada, a consequência natural é um projeto de pesquisa que deve ser finalmente publicado. Então, a ciência pode tornar-se uma profissão e a publicação torna-se indispensável para a promoção e melhor financiamento que mantenha o pesquisador ativo. O pagamento também pode instigar cientistas a publicações em exemplos inquestionáveis de má conduta, mas deve-se considerar que outros fatores sociais podem ser equivalentemente importantes na má conduta científica. Pagamento pessoal direto pode não ser tão importante quanto à manutenção do emprego de um cientista patrocinado por verba pública. De fato, a maioria das fraudes científicas descritas estão mais relacionadas com interesses pessoais do que financeiros(1). A frase "Publicar ou perecer" resume o ciclo: "Pesquisa, Publicação, Financiamento de pesquisas", que é essencial para a sobrevivência da pesquisa acadêmica.
Editores e revisores não sabem quais as razões que levam os pesquisadores a publicar seus trabalhos, por isso eles avaliam os manuscritos com base apenas n a importância e qualidade dos resultados. Em última análise, a qualidade de um trabalho pode ser medida pelo número de vezes que o documento tenha sido citados na literatura científica. Os futuros índices de citação de um manuscrito serão a medida da sua relevância e dirão se editores e revisores foram bem sucedidos em avaliá-lo. Algumas vezes, os cientistas médicos enfrentam um conflito entre serem os únicos a oferecerem determinado tratamento clínico ou cirúrgico e compartilhar abertamente suas descobertas, permitindo que o conhecimento seja disseminado. Não deve haver nenhum conflito: publicar é compartilhar.
Retratação é um mecanismo que os autores e editores usam para comunicar que uma específica publicação não deve ser considerada confiável. Basicamente, uma obra pode ser retratada se for considerada baseada em erros graves, plágio ou fraude, sendo os dois últimos nomeados má conduta científica(2). Um editor é obrigado a considerar uma retratação quando chega à sua atenção qualquer preocupação relacionada com o trabalho. Os próprios autores ou qualquer leitor pode provocá-lo. Quando um manuscrito é retratado, este não é removido das bases de dados científicos, mas será sempre marcada como não sendo confiável. Erros acontecem, má conduta não deveria. "Plágio é a apropriação de idéias, processos, resultados, ou palavras de outra pessoa sem dar o crédito adequado, incluindo os obtidos através da análise confidencial de propostas e manuscritos de pesquisa dos outros. " (Escritório de Política Científica e Tecnológica, 1999)(3). Autoplágio é a utilização dos mesmos dados em diferentes publicações de um mesmo autor, a fim de aumentar o seu número de publicações.
A demanda por eficiência científica pode estar relacionada com o crescimento recente dos papéis retratados, principalmente devido à má conduta(4-7). Um esforço global para expor e controlar a má conduta tem mostrado que a preocupação está presente em todo o mundo(8-15). Em meio a 2.576 publicações retratadas no PubMed até hoje, a oftalmologia conta com 14, sendo a primeira relatada em 1993 [Busca PubMed: (retracted publication) AND ophthalmology]. Isto levou alguns periódicos oftalmológicos a expressarem suas preocupações sobre fraude e plágio(1,14,16). Recentemente, a comunidade científica foi exposta por um cientista que tentou o anonimato e enfrentou o medo de seus próprios colegas ao tentar divulgar a fraude científica na internet(17).
A ciência vai continuar a nortear o conhecimento da humanidade, portanto a sociedade precisa de cientistas que se comprometam em escolher o correto "P" e manter vivo a original, quase infantil, Paixão pela curiosidade.
Recebido para publicação: 22 de abril de 2013
Aceito para publicação: 22 de abril de 2013
Financiamento: Não houve financiamento para este trabalho.
Divulgação de potenciais conflitos de interesse: W.Chamon, Nenhum.
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1Van Buskirk EM. Conflicted! J Glaucoma. 2001;10(4):253-5.
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2Kleinert S, (COPE) CoPE. COPE's retraction guidelines. Lancet. 2009;374(9705): 1876-7.
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3Roig M. Avoiding plagiarism, self-plagiarism, and other questionable writing practices: A guide to ethical writing. Office of Research Integrity (ORI) - US Department of Health & Human Services; [cited 2013 22/March/2013]; Available from: http://ori.hhs.gov/sites/default/files/plagiarism.pdf
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4Findings of research misconduct. NIH Guide Grants Contracts. 2013:NOT-OD-13-049.
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5Lüscher TF. The codex of science: honesty, precision, and truthand its violations. Eur Heart J. 2013;34(14):1018-23.
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6Corbyn Z. Misconduct is the main cause of life-sciences retractions. Nature. 2012; 490(7418):21.
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7Fang FC, Steen RG, Casadevall A. Misconduct accounts for the majority of retracted scientific publications. Proc Natl Acad Sci U S A. 2012;109(42):17028-33.
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8Godecharle S, Nemery B, Dierickx K. Guidance on research integrity: no union in Europe. Lancet. 2013;381(9872):1097-8.
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9Hofmann B, Myhr AI, Holm S. Scientific dishonestya nationwide survey of doctoral students in Norway. BMC Med Ethics. 2013;14:3.
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10Jargin S. On the scientific misconduct: a letter from Russia. Einstein (Sao Paulo). 2013; 11(1):135.
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11Kombe F, Anunobi EN, Tshifugula NP, Wassenaar D, Njadingwe D, Mwalukore S, et al. Promoting Research Integrity in Africa: An African Voice of Concern on Research Misconduct and the Way Forward. Dev World Bioeth. 2013 Apr.
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12Kupferschmidt K, Vogel G. Germany. Plagiarism hunters take down research minister. Science. 2013;339(6121):747.
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13Couzin-Frankel J, Normile D. Scientific integrity. Questions about Japanese researcher go back years. Science. 2012;338(6106):452-4.
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14Dyer C. British doctor fabricated results of a non-existent experiment, US body finds. BMJ. 2012;344:e2839.
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15Promoting research integrity: a new global effort. Lancet. 2012;380(9852):1445.
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16Hollyfield JG. Manuscript fabrication, image manipulation and plagiarism. Exp Eye Res. 2012;94(1):1-2.
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17Couzin-Frankel J. Image manipulation. Author of popular blog that charged fraud unmasked. Science. 2013;339(6116):132.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
23 Maio 2013 -
Data do Fascículo
Dez 2012