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Posicionamento do sensor de pHmetria esofágica prolongada

Electrode placement for esophageal pH recording

EDITORIAL

Posicionamento do sensor de pHmetria esofágica prolongada

Electrode placement for esophageal pH recording

Roberto Oliveira Dantas

Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP

Descritores: Monitoramento do pH esofágico. Refluxo gastroesofágico, diagnóstico. Esofagite péptica, diagnóstico. Esfíncter esofágico inferior. Estudo comparativo.

Headings: Esophageal pH monitoring. Gastroesophageal reflux, diagnosis. Esophagitis, peptic, diagnosis. Esophageal sphincter, lower. Comparative study.

A medida do pH intraesofágico por período prolongado, continuamente por 24 a 48 horas, é o melhor método para quantificar o refluxo gastroesofágico ácido.

Há mais de 30 anos Johnson e DeMeester estabeleceram, em pessoas supostamente normais, os valores de referência para esta medida, sendo amplamente utilizados em todos continentes(1). Na definição destes valores foi estabelecido que o sensor de pH deveria ser localizado 5 cm acima da borda superior do esfíncter inferior do esôfago. O melhor método para a localização do sensor é a manometria, sendo esta uma das indicações de exame manométrico do esôfago(6). Entretanto, alguns locais onde é realizada a pHmetria prolongada do esôfago utilizam para a localização do sensor a viragem do pH. Este método consiste na retirada intermitente, do estômago para o esôfago, do cateter com o sensor de pH, registro do local de mudança do pH de ácido (abaixo de 4) para alcalino (próximo a 7), e localização do sensor 5 cm acima deste local. Há controvérsias se o método tem o mesmo resultado que a localização com a manometria(3, 4).

Neste número de ARQUIVOS de GASTROENTERO-LOGIA NASI et al.(5) publicam os resultados da avaliação nos mesmos indivíduos do posicionamento do sensor de pH pelos dois métodos, manometria e viragem do pH, e demonstram que em 91,6% dos casos não há concordância de posicionamento e que em 63,2% a diferença entre os dois métodos é de mais de 2 cm. O sensor seria posicionado abaixo do local indicado pela manometria em 90,7% dos casos. A diferença encontrada entre os métodos é importante porque, sendo os valores de referência definidas com o posicionamento do sensor a 5 cm da borda superior do esfíncter inferior, a localização acima ou abaixo deste local irá diminuir ou aumentar o número de episódios de refluxo e sua duração, e não permite a comparação com os valores de referência estabelecidos no programa de análise. O sensor de pH deve ser localizado a 5 cm do esfíncter inferior para evitar a possível migração do sensor para dentro do estômago, principalmente durante a deglutição, quando há o encurtamento do esôfago. A localização acima desta posição reduz a sensibilidade do teste(2).

Embora possa não resolver completamente a controvérsia sobre a precisão do método da viragem do pH, o estudo de NASI et al.(5) tem o mérito de incluir um grande número de casos (1.031 pacientes) e de ter sido realizado em quatro laboratórios de motilidade digestiva. Os resultados demonstraram de maneira inequívoca que os dois métodos não são equivalentes, fato que coloca em dúvida a interpretação dos resultados obtidos com a técnica da viragem, com influência no diagnóstico e na terapêutica.

Seria importante apresentar no trabalho a frequência da localização do sensor em diferentes locais, tendo como referência o local definido pela manometria. Assim, saberíamos quantas vezes o sensor seria localizado a determinada distância do local desejado. Entretanto, o trabalho descreve que em mais da metade dos casos ele seria localizado a mais de 2 cm do local pretendido. Esta diferença não significa erro, se a intenção é localizar o sensor a 5 cm do ponto de viragem do pH mas, sendo assim, não é possível utilizar como referência os valores de normalidade descritos por Johnson e De Meester.

Como a pHmetria prolongada do esôfago é exa-me de grande importância para a quantificação do refluxo gastroesofágico ácido esperamos que, em futuras investigações, sejam avaliadas quais diferenças nos resultados seriam encontradas quando o sensor é localizado em diferentes pontos do esôfago que não aquele localizado a 5 cm da borda superior do esfíncter inferior.

Embora outros métodos possam avaliar o refluxo gastroesofágico, a pHmetria prolongada continua sendo o exame que melhor quantifica o refluxo ácido.

  • 1. Johnson LF, De Meester TR. Development of the 24-hour intra-esophageal pH monitoring composite scoring system. J Clin Gastroenterol. 1986;8(Suppl 1):52-8.
  • 2. Kahrilas PJ, Quigley EMM. Clinical esophageal pH recording: a technical review for practice guideline development. Gastroenterology. 1996;110:1981-96.
  • 3. Klauser AG, Schindlbeck NE, Müller-Lissner SA. Esophageal 24-hour pH monitoring: is prior manometry necessary for correct positioning of the electrode? Am J Gastroenterol. 1990;85:1463-7.
  • 4. Mattox HE, Richter JE, Sinclair JW, Price JE, Case LD. Gastroesophageal pH step-up inaccurately locates proximal border of lower esophageal sphincter. Dig Dis Sci. 1992;37:1185-91.
  • 5. Nasi A, Frare RC, Brandão JF, Falcão AM, Michelsohn NH, Sifrim D. Estudo prospectivo comparativo de duas modalidades de posicionamento do sensor de pHmetria esofágica prolongada: por manometria esofágica e pela viragem do pH. Arq Gastroenterol. 2008;45:261-7.
  • 6. Pandolfino JE, Kahrilas PJ. AGA technical review on the clinical use of esophageal manometry. Gastroenterology. 2005;128:209-24.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Jan 2009
  • Data do Fascículo
    Dez 2008
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