Soroprevalência e fatores de risco para infecção pelo Helicobacter pylori
Seroprevalence and risk factors for Helicobacter pylori infection
Francisco de Agostinho Júnior 1
Moraes et al. apresentam interessante estudo sobre a soroprevalência do Helicobacter pylori em pré-escolares e escolares e analisam os fatores de risco nas crianças com sorologia positiva. Desde os estudos iniciais (1), mostrando a colonização de bactérias semelhantes às do gênero Campylobacter (grego = bastonete encurvado) na mucosa gástrica, associada a alterações histológicas, tem-se atribuído a esta bactéria, mais tarde denominada (2) de Helicobacter pylori, a participação na gênese da gastrite, da úlcera péptica, do adenocarcinoma gástrico e do linfoma de Malt. Em crianças, a relação entre Helicobacter pylori e gastrite antral foi descrita pela primeira vez por Czinn et al. (3), e em seguida por Drumm et al. (4) O Helicobacter pylori é uma bactéria que apresenta características genéticas e fatores de virulência que lhe permitem sobreviver em um nicho hostil e incomum de pH muito ácido, que é o estômago humano. Esta bactéria é tão bem adaptada ao estômago humano, que após a primeira infecção, que pode ocorrer precocemente na infância, ele estabelece uma infecção crônica para a vida toda.
Como bem abordaram Moraes et al., embora seja fato conhecido que o Helicobacter pylori tem sido isolado no mundo todo, no Brasil os estudos sobre a prevalência da infecção, principalmente em crianças, são poucos e se limitam a algumas regiões. Embora o conhecimento sobre a sua epidemiologia em crianças seja limitado, já que a maioria dos estudos foi realizada em adultos e também porque há dificuldades em se saber quando a infecção é inicialmente adquirida, pode-se afirmar que, semelhantemente ao que ocorre com outros patógenos entéricos, a infância representa a fase de máxima suscetibilidade para infecção pelo Helicobacter pylori (5).
Os estudos epidemiológicos têm mostrado que aproximadamente 50% da população mundial está infectada com este microorganismo, sendo que a sua prevalência (medida de uma dada condição na comunidade) é maior em países em desenvolvimento do que em países desenvolvidos (6). Em crianças abaixo de 10 anos de idade, a taxa de prevalência é de aproximadamente 0,5 a 5% em países desenvolvidos, e de 13 a 60% em países em desenvolvimento. A incidência (taxa de aquisição) da infecção pelo Helicobacter pylori é estimada em 3 a 10% ao ano nos países em desenvolvimento, e de 1% nos países desenvolvidos. A incidência após os 10 anos é aproximadamente de 1% ao ano, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Observamos que os resultados obtidos por Moraes et al. quanto à prevalência do Helicobacter pylori, de 25,8% nos pré-escolares e de 39,4% nos escolares, considerando a região de Pernambuco, estão de acordo com a literatura mencionada.
Quanto aos fatores de risco que influenciam a prevalência e a transmissão do Helicobacter pylori, estudados com detalhes por Moraes et al., encontramos na literatura que a presença desta bactéria está associada à baixa condição socioeconômica, maior densidade de moradia, baixo nível educacional, baixas condições de saneamento básico e fatores dietéticos (7). Além disso, alguns autores mencionam outros fatores que podem ter participação no desenvolvimento da infecção pelo Helicobacter pylori na mucosa gástrica, como sexo, grupos sanguíneos, genótipos HLA e secreção ácida.
Apesar desses dados, há pouco entendimento de como esse microorganismo é transmitido dentro da comunidade. O único fato aceito é o de que o Helicobacter pylori precisa entrar para o estômago através da boca. A bactéria é não invasiva, e, portanto, não pode chegar à mucosa gástrica por outra via.
Vale ressaltar que o método diagnóstico, sorologia, usado por Moraes et al., dosando anticorpo anti-Helicobacter pylori da classe IgG, embora não invasivo, não pode ser usado como teste diagnóstico primário, pois não pode fornecer prova de uma infecção existente. É mais eficaz, portanto, para avaliações epidemiológicas ou para triagens. A base do método sorológico é a capacidade do Helicobacter pylori para despertar uma resposta imune, tanto local quanto sistêmica. O valor da dosagem do anticorpo anti-Helicobacter pylori das classes IgA e IgM é controvertido, entretanto, não parece ser um indicador eficaz na população pediátrica. Além de não poder ser o único teste diagnóstico, a sorologia não pode ser o método usado para monitorizar os efeitos imediatos da terapia antibacteriana, devido ao retardamento entre a erradicação bacteriana e o declínio dos anticorpos (8).
Referências bibliográficas
Título do artigo: "Soroprevalência e fatores de risco para infecção pelo Helicobacter pylori"
Sobe