ARTIGOS
Instrução programada
Glória Della Monica
Professora do Departamento de Administração da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo
A "instrução-aprendizagem programa", um dos mais modernos métodos pedagógicos, destina-se a aumentar a eficiência do processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista a proficiência dos educandos e levando em conta, principalmente, o ritmo de aprendizado de cada um, relativo aos diferentes ramos do conhecimento humano.
Admite-se, em geral, que o método socrático tenha sido o primeiro exemplo de instrução programada, pois consistia essencialmente num diálogo baseado em perguntas e respostas. Também o método preceptoral, como intercâmbio contínuo de perguntas e respostas entre professor e aluno, utilizando a técnica de desdobramento de informações, pode ser considerado um precursor da instrução programada. Mas foi realmente em 1926 que se iniciou a forma moderna do método, com a invenção da primeira "máquina de ensinar", por Sidney L. Pressey, psicólogo da Universidade do Estado de Ohio, nos EUA. Posteriormente, em 1950, com a elaboração por Skinner da teoria da aprendizagem, criou-se, por assim dizer, uma desenvolvimento do método.
A partir dessa época, o método foi desenvolvido principalmente pelo próprio Skinner e por James Holland, John Bowler e Norman Crowder. Da teoria do reforço de Skinner podemos extrair as seguintes generalizações relacionadas com a instrução programada:
o indivíduo modifica um comportamento, observando as conseqüências das suas ações;
quando uma execução é satisfatória, a sua conseqüência (êxito ou recompensa) é denominada reforço;
o reforço fortalece a possibilidade de repetição de um ato;
quanto mais rapidamente o reforço sucede à execução desejada, tanto maior é a probabilidade de que o comportamento desejado se repita;
quanto mais freqüentemente ocorre o reforço, tanto maior é a probabilidade de que o estudante repita o ato;
a ausência ou o retardamento do reforço após uma ação enfraquece a probabilidade da repetição de um ato;
o reforço intermitente de um ato aumenta a amplitude de tempo na execução desse ato;
o reforço tem efeitos motivacionais.
Das várias avaliações que foram realizadas quanto à aplicação do método, destacam-se a de James K. Litle (colaborador de Pressey), que, em 1934, promoveu pesquisas cujos resultados evidenciaram aumento de aprendizagem; e a de Holland, que, em 1959, relatou êxito obtido graças ao material programado que ele e Skinner utilizaram em cursos de psicologia na Universidade de Harvard. Mais recentemente, pesquisas realizadas em vários centros que utilizam a instrução programada permitiram chegar às seguintes conclusões gerais:
estudantes aprendem com êxito por meio do método de instrução programada;
a quantidade de erros pode ser reduzida;
todos os estudantes evidenciam rendimento, mas o ganho parece ser mais significativo entre os estudantes menos dotados de um grupo;
aprendizes lentos podem apresentar melhor desempenho, em comparação com outros métodos de aprendizagem;
é maior a motivação para aprender quando o professor utiliza o método.
A instrução programada tem as seguintes características gerais:
permite definir objetivos operacionais em termos do que se pretende realizar com os alunos com referência a conhecimentos, habilidades e atitudes;
a informação é apresentada, ordenada em seqüência lógica, em pequenas doses que crescem gradualmente em profundidade e extensão;
a cada informação dada exige-se uma resposta imediata por parte do educando (atividade do aluno);
prevê-se que a percentagem de erro por parte do aluno seja mínima ou mesmo igual a zero (estímulopistas);
segue-se uma recompensa imediata ao esforço realizado pelo educando em dar uma resposta certa (reforço); o programa impede o acúmulo de erros;
o método de ensino por aprendizagem programada permite ao aluno desenvolver-se em seu próprio ritmo;
há avaliação constante:
- do progresso do aluno;
- do próprio programa quanto à sua eficácia.
Os instrumentos usados para sua aplicação são, em primeiro lugar, as máquinas de ensinar, de que, até 1970, existiam, aproximadamente 150 tipos catalogados nos EUA; e os meios mecânicos de instrução programada, desenvolvidos a partir de 1959, que incluem livros e outros materiais escritos, desde os idealizados inicialmente por Homme e Glaser da Universidade de Pittsburgh.
Os textos de instrução programada são apresentados da seguinte forma:
linear, direto ou extrínseco: (anexos I e II)
- lê-se como um livro comum;
- lê-se cada quesito e a cada um dá-se uma resposta;
- a correção da resposta pode ser encontrada na margem esquerda da página ou na página seguinte;
-a resposta é dada pelo sistema de complementação ou resposta aberta;
-o programa linear não admite erro ou procura minimizá-lo;
- a atividade do aluno é contínua;
- não permite frases longas.
ramificado ou intrínseco: (anexo III)
- lê-se o texto em vaivém;
- admite-se o erro, desde que seja corrigido;
- as frases são longas, às vezes até de páginas inteiras ou mais;
- as respostas são de múltipla escolha.
São vantagens, geralmente, apontadas na utilização da instrução programada:
a) fixação de objetivos;
b) ritmo individual de aprendizagem;
c) excelente processo para o aluno aprender sozinho.
São desvantagens:
a) não há sociabilização;
b) possibilidade de neurose pela presença da máquina;
c) alto custo de elaboração dos programas e dos equipamentos;
d) não é utilizável para todas as áreas do conhecimento;
e) limita o ensino das disciplinas aos seus aspectos mais elementares.
Atualmente, aplica-se o método de instrução programada ao treinamento na indústria, de pilotos, de funcionários burocráticos, de técnicos em eletrônica, nos vários níveis do sistema educacional, em diferentes áreas de ensino e disciplinas, em sala de aula ou fora dela.
O método deve ser utilizado com os seguintes cuidados:
explicação cuidadosa por parte do professor;
cuidado para que não haja confusão entre ó método e o conteúdo;
um bom programa necessita da cooperação de três especialistas:
a) um professor da matéria (conteúdo);
b) um técnico em instrução programada (aspecto for mal);
c) um psicólogo.
o instrumento mais simples de apresentação do programa é o livro ou texto;
a forma ramificada é menos monótona para estudantes mais dotados;
a instrução programada não é panaceia: não deve ser usada como único instrumento no desenvolvimento de um curso.
São critérios básicos para a construção de um programa de ensino:
1. Seleção da unidade a ser programada:
campo específico de estudo do programador;
facilidade de tratamento do assunto;
extensão;
escolha, de preferência, de assuntos que apresentem baixo nível de aprendizagem com utilização de outros métodos de ensino;
ordem lógica do material;
o tema deve atender às necessidades especiais dos estudantes;
procurar escolher temas pouco desenvolvidos em livros.
2. Conhecimento sobre a clientela à qual se destina o programa quanto a:
capacidade;
quociente de inteligência;
desempenho do grupo em outras áreas;
nível de leitura do grupo.
3. Explicitação de objetivos que o professor pretende alcançar com o programa.
4. Escolha de um paradigma (ramificado, linear ou outro).
BIBLIOGRAFIA
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Anexo 3 - Clique para ampliar- Hingue, François. La enseñanza programada - hacia una pedagogia cibernética Buenos Aires, Kapelusz, 1969.
- Homme, Lloyd et alii. Técnicas operantes na sala de aula Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1969.
- Skinner, B. F. Tecnologia do ensino São Paulo, Editora Herder & USP. 1972.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
08 Ago 2013 -
Data do Fascículo
Jun 1977