Resumos
Foi estudada a resposta sorológica à vacinação contra a rubéola, por via subcutânea, com a cepa vacinal viva atenuada Wistar RA 27/3, num grupo de 30 professoras da rede municipal de ensino de São Paulo. Foram escolhidos, como participantes do grupo, indivíduos destituídos de imunidade contra a rubéola, tendo as dosagens de anticorpos inibidores da hemaglutinação e fixadores do complemento sido feitas em amostras de soro colhidas 10, 30, 90 e 180 dias após a vacinação. Tanto nas provas de inibição da hemaglutinação, como fixação do complemento, observou-se uma soro-conversão de 96,6%. Não se observaram quaisquer relações vacinais no grupo em estudo.
Rubéola; Hemaglutinação; Anticorpos fixadores de complemento
The effect of Wistar RA 27/3 live attenuated rubella virus vaccine, given subcutaneously, was evaluated in 30 susceptible female schoolteachers aged 20 to 35 years and over, from the city of São Paulo, Brazil. The serum samples, to be tested for hemagglutination-inhibiting (HI) and complement fixing (CF) antibodies, were collected 10, 30, 90 and 180 days after vaccination. Of the 30 susceptible adults who received the Wistar RA 27/3 vaccine, 96,6% showed seroconversion in the HI and CF tests. No unusual reactions occured.
Rubella vaccine; Hemagglutination inhibition tests; Complement-fixation tests
ARTIGO ORIGINAL
Resposta sorológica de adultos à vacinação contra a rubéola
Serologic response in adults to vaccination for rubella
J. A. N. CandeiasI; Cornélio P. RosenburgII; M. L. RáczI
IDo Departamento de Microbiologia e Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP "Setor Saúde Pública" Av. Dr. Arnaldo, 715 São Paulo, SP Brasil
IIDo Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP Av. Dr. Arnaldo, 715 São Paulo, SP Brasil
RESUMO
Foi estudada a resposta sorológica à vacinação contra a rubéola, por via subcutânea, com a cepa vacinal viva atenuada Wistar RA 27/3, num grupo de 30 professoras da rede municipal de ensino de São Paulo. Foram escolhidos, como participantes do grupo, indivíduos destituídos de imunidade contra a rubéola, tendo as dosagens de anticorpos inibidores da hemaglutinação e fixadores do complemento sido feitas em amostras de soro colhidas 10, 30, 90 e 180 dias após a vacinação. Tanto nas provas de inibição da hemaglutinação, como fixação do complemento, observou-se uma soro-conversão de 96,6%. Não se observaram quaisquer relações vacinais no grupo em estudo.
Unitermos: Rubéola, vacina. Hemaglutinação, anticorpos inibidores. Anticorpos fixadores de complemento.
ABSTRACT
The effect of Wistar RA 27/3 live attenuated rubella virus vaccine, given subcutaneously, was evaluated in 30 susceptible female schoolteachers aged 20 to 35 years and over, from the city of São Paulo, Brazil. The serum samples, to be tested for hemagglutination-inhibiting (HI) and complement fixing (CF) antibodies, were collected 10, 30, 90 and 180 days after vaccination. Of the 30 susceptible adults who received the Wistar RA 27/3 vaccine, 96,6% showed seroconversion in the HI and CF tests. No unusual reactions occured.
Uniterms: Rubella vaccine. Hemagglutination inhibition tests. Complement-fixation tests.
INTRODUÇÃO
A imunização contra a rubéola é feita com vacinas vivas atenuadas preparadas com diversas cepas de vírus, sendo, de um modo geral, muito satisfatórios os resultados obtidos, em todos os aspectos sob que possam querer analisar-se. Diversas pesquisas feitas no sentido de avaliar a eficiência das vacinas atualmente disponíveis 4,18,21, 30 comparam os níveis de anticorpos inibidores da hemaglutinação e anticorpos neutralizantes conseguidos com o processo vacinal, com os que se desenvolvem na infecção natural. Raramente fazem referência aos anticorpos fixadores do complemento, considerando vários autores que estes não se formam na infecção vacinal11,13,24,43. Tal conceito não tem mais razão para aceitar-se, uma vez que, respeitando determinadas técnicas, é possível detectar a presença de anticorpos fixadores do complemento como resposta à vacinação contra a rubéola19,30,36.
A finalidade da presente pesquisa é avaliar a eficiência da vacina Wistar RA 27/3, em indivíduos adultos, em termos da soro-conversão obtida e comparar os níveis de anticorpos inibidores da hemaglutinação e fixadores do complemento, dosados em amostras de soro colhidas após a vacinação.
MATERIAL E MÉTODOS
Soros de prova
Os indivíduos selecionados para a vacinação provieram de um grupo previamente estudado9, tendo sido escolhidos aqueles em que foi reconfirmada a ausência de imunidade contra a rubéola, isto é, os que possuíam títulos de anticorpos inibidores da hemaglutinação menores do que S e títulos de anticorpos fixadores do complemento menores do que 4. Foram vacinados 52 indivíduos do sexo feminino, com idade variando entre 20 e 35 anos ou mais, pertencentes à rede municipal de ensino de São Paulo. Cada um recebeu 0,5 ml da vacina Wistar RA 27/3, numa só dose, por via subcutânea, na região deltóide, depois do que se submeteram a coletas de sangue, por punção venosa, 10, 30, 90 e 180 dias após a vacinação. Dos 52 indivíduos vacinados, somente se aproveitaram 30, total que corresponde aos que atenderam às coletas previstas. As diversas amostras de soro obtidas foram conservadas a -20oC, até serem testadas.
Reação de inibição da hemaglutinação
Esta reação foi realizada segundo o método de microtitulação em placas "V" (Cooke Engineering Co.) com volumes de 0,025 ml e 0,050 ml, respeitando-se as normas estabelecidas pelo Center for Disease Control10, dentre as quais, a que se refere à remoção dos inibidores inespecíficos do soro com o reagente heparina/MnCl2. Utilizou-se um antígeno comercial* * Flow Laboratories, Inc. Rockville, U.S.A. tendo sido feita sua titulação em triplicata, antes da execução de cada reação de modo a poder confirmar-se a utilização de 4 unidades aglutinantes do antígeno. Na reação de inibição da hemaglutinação os soros foram testados nas diluições de 1 :8 até 1 :256.
Reação de fixação do complemento
A reação de fixação do complemento foi realizada de acordo com as normas estabelecidas por Lennette23 - usando-se 4 unidades de um antígeno obtido de células BHK-21 infectadas; a extração deste antígeno foi feita segundo técnica descrita por Schmidt e Lennette35, com tampão de glicina 0,1 M em pH 9,5. Nesta reação os soros foram testados nas diluições de 1:4 até 1:32.
RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta a distribuição dos títulos de anticorpos inibidores da hemaglutinação nos diversos períodos depois da vacinação. Já no 10° dia puderam detectar-se anticorpos cujos tíulos tinham uma média geométrica de 12,6, valor que ao fim de 30 dias passou para 17,6, aumentando nos períodos seguintes para 26,9 e 41,8. Estes valores traduzem, de modo bem evidente, a atividade imunizante da vacina utilizada.
Na Tabela 2 é apresentada a distribuição dos títulos de anticorpos fixadores do complemento. Neste caso, os níveis de anticorpos, apesar de não acompanharem os observados para os anticorpos inibidores da hemaglutinação, continuam refletindo a eficiência da vacinação.
Na Tabela 3 apresentam-se os aumentos dos títulos pós-vacinais, comparando-se as proporções de soros em que puderam ser detectados tais aumentos, ao se titularem os anticorpos inibidores da hemaglutinação e fixadores do complemento. Esta comparação permite estabelecer a taxa de soro-conversão obtida, que foi de 96,6%.
Na Figura estão representadas graficamente as médias geométricas dos títulos de anticorpos, pós-vacinais, inibidores da hemaglutinação e fixadores do complemento.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A infecção natural ocasionada pelo vírus da rubéola é acompanhada da formação de anticorpos inibidores da hemaglutinação, neutralizantes, fixadores do complemento e anticorpos identificáveis por técnicas de imunofluorescência, sendo ainda possível comprovar a simultaneidade de outras respostas sorológicas6, 28,38.
Os estudos comparativos feitos entre as diversas cepas vacinais de vírus da rubéola e a chamada cepa "selvagem" são concordes em demonstrar que os níveis de anticorpos inibidores da hemaglutinação e neutralizantes são inferiores aos observados na infecção natural19,22,24,25,36. Já em relação aos anticorpos fixadores do complemento e anticorpos identificáves por imunofluorescência não é possível encontrar esta concordância nos primeiros trabalhos publicados a respeitos8,11,13,24,25, uma vez que se faz referência à sua ausência, na resposta vacinal. Os trabalhos posteriores8,19,36 demonstram, definitivamente, que não há razão para semelhante observação, dado que ambos os tipos de anticorpos podem ser identificados, desde que utilizadas técnicas de maior sensibilidade. Schmidt e Lennette36, comparando as técnicas de extração alcalina e de concentração no preparo do antígeno fixador do complemento do vírus da rubéola, afirmam que o antígeno obtido pela primeira técnica é mais sensível na evidenciação dos anticorpos fixadores do complemento pós-vacinais, em vista dos resultados que obtiveram em 21 indivíduos vacinados com a cepa vacinal HPV77-DK12. Furesz19 também encontrou elevada percentagem de crianças vacinadas com as vacinas HPV-77 e Cendehill com anticorpos fixadores do complemento, considerando, no entanto, terem sido melhores os resultados obtidos com o antígeno concentrado. Nossos resultados confirmam as observações anteriores, quanto à presença de anticorpos fixadores do complemento, após vacinação com a cepa viva atenuada Wistar RA 27/3. Seus níveis mostraram-se inferiores aos observados na infecção natural, o que confirma observações anteriores22,30,36. No entanto, os anticorpos fixadores do complemento puderam ser titulados desde 10 dias até 180 dias, depois do processo vacinal, fato que contraria o conceito de que a presença ou ausência de anticorpos fixadores do complemento seria um indicador do tipo de infecção contraída, isto é, infecção natural ou infecção vacinal. Na infecção natural, como na vacinação, podem ser identificados anticorpos fixadores do complemento, sendo as diferenças observadas mais de natureza quantitativa do que qualitativa 19,36. Os níveis de anticorpos inibidores da hemaglutinação acompanharam, sensivelmente, o padrão de infecção natural em áreas cosmopolitas3 até 3 meses após a vacinação; depois deste período deveria esperar-se discreto declínio no valor da média geométrica dos títulos, o que só veio a ocorrer a partir de seis meses. A soro-conversão de 96,6% obtida neste estudo é comparável à referida por outros autores1,7,17,27,40.
Os critérios que devem ser seguidos para aceitação de uma vacina viva atenuada são de múltipla natureza, mas devem salientar-se dentre estes, os que se aplicam ao poder imunogênico, grau de atenuação e transmissibilidade. No presente trabalho só foi considerado o poder imunogênico e o grau de atenuação. As averiguações no sentido de despistar reações clínicas pós-vacinais não levaram a resultados que permitissem confirmar observações de outros autores, tanto no que respeita adenopatias, febre e "rash" cutâneo13,29,41, quanto artralgias3,34, uma vez que nenhum dos indivíduos vacinados apresentou quaisquer queixas a respeito. Nestas condições, se aliarmos a taxa de soro-conversão de 96,6% obtida, à ausência de reações clínicas, parece-nos ser possível falar em favor da eficiência e inocuidade da vacina utilizada e sugerir, amparados em nossas observações e de outros autores2,5,14,20,29,32, seu uso nas cond ições em que este se torne necessário ou, mesmo, obrigatório.
Na profilaxia da rubéola a duração da imunidade conferida pela vacina tem particular importância, uma vez que, podendo o processo vacinal ser instituído na infância um dos esquemas recomendados deverão transcorrer vários anos até à idade fértil, situação que, na mulher, adquire aspectos críticos se o poder protetor da vacina tiver desaparecido. Como os níveis de anticorpos vacinais são inferiores aos da infecção natural, mesmo que o seu padrão de desenvolvimento acompanhe o desta última, desaparecerão mais precocemente. Os estudos a longo prazo sobre a persistência de anticorpos vacinais demonstram que, apesar daquele declínio, a percentagem de indivíduos vacinados em que não é possível detetar-se qualquer tipo de anticorpos é muito pequena. Nossos resultados, já ao final de 6 meses, apesar de limitados a um número muito reduzido de dados, confirmam as observações de outros autores12,15,16,21,33,42. Estes falam em favor do uso da vacina, sendo, no entanto, necessário fundamentar as recomendações para sua aplicação em estudos epidemiológicos locais feitos de modo regular. Só depois de termos definido a natureza local do problema da rubéola é que se abrirão reais perspectivas para estudo das opções oferecidas na profilaxia da rubéola: imunização de grupos infantis, imunização de adolescentes ou de adultos, respeitado o objetivo fundamental da prevenção da infecção fetal. Do mesmo modo, só depois de iniciarmos estudos sobre a transmissibilidade das cepas vacinais atenuadas usadas em nossos grupos populacionais, dentro das condições epidemiológicas locais, poderemos formular conclusões a respeito daquele aspecto da vacinação, conclusões que se incluam ou não no consenso geral de que as cepas vacinais, apesar de poderem ser consideradas teoricamente como transmissíveis, oferecem, com esta característica, um risco muito pequeno e, quase certamente, um risco muito menor do que o inerente à não vacinação26,31,37,39.
Recebido para publicação em 14/02/1977
Aprovado para publicação em 28/03/1977
Pesquisa financiada pelo Departamento de Assistência Escolar da Secretária de Educação da Prefeitura Municipal de São Paulo
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
02 Maio 2006 -
Data do Fascículo
Set 1977
Histórico
-
Recebido
14 Fev 1977 -
Aceito
28 Mar 1977