Resumos
Foi isolada uma amostra de T. cruzi do roedor silvestre, Calomys expulsus, Lund, 1841, capturado no norte do município de Formosa, Goiás, através de inoculações em animais de laboratório, e subseqüente xenodiagnósticos com R. neglectus, T. infestans e P. megistus. A amostra de T. cruzi apresentou patogenicidade muito baixa para os animais inoculados, mas conferiu resistência a reinjecções a cêpa Y de origem humana. As jornias sanguícolas tiveram um comprimento total médio de 21.8 µ e o índice nuclear foi 1.15.
Trypanosoma cruzi; Calomys expulsus; Triatomíneos, infecção natural
A strain of T. cruzi was isolated from the wild rodent Calomys expulsus, Lund, 1841, captured in the northeastern part of the county of Formosa, state of Goiás This strain was isolated through inoculations into laboratory animals and subsequent xenodiagnosis with R. neglectus, T. infestans and P. megistus. This strain has low pathogenicity for the inoculated animals but develops resistance against reinfection with the Y strain of T. cruzi. Blood trypanosomes have a mean total length of 21.8 µ and the nuclear index was 1.15.
Trypanosoma cruzi; Calomys expulsus; Triatominae natural infection
NOTAS E INFORMAÇÕES/NOTES AND INFORMATIONS
Nota sobre a infecção natural de Calomys expulsus, Lund, 1841 (Cricetidae-Rodentia) pelo Trypanosoma cruzi
Note on natural infection of the Calomys expulsus, Lund, 1841 (Cricetidae-Rodentia) by Trypanosoma cruzi
Dalva A. Mello; Maria Lúcia Teixeira
Do Departamento de Medicina Complementa r da Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília 70.000 Brasília, D.F. Brasil
RESUMO
Foi isolada uma amostra de T. cruzi do roedor silvestre, Calomys expulsus, Lund, 1841, capturado no norte do município de Formosa, Goiás, através de inoculações em animais de laboratório, e subseqüente xenodiagnósticos com R. neglectus, T. infestans e P. megistus. A amostra de T. cruzi apresentou patogenicidade muito baixa para os animais inoculados, mas conferiu resistência a reinjecções a cêpa Y de origem humana. As jornias sanguícolas tiveram um comprimento total médio de 21.8 µ e o índice nuclear foi 1.15.
Unitermos:Trypanosoma cruzi. Calomys expulsus. Triatomíneos, infecção natural.
ABSTRACT
A strain of T. cruzi was isolated from the wild rodent Calomys expulsus, Lund, 1841, captured in the northeastern part of the county of Formosa, state of Goiás This strain was isolated through inoculations into laboratory animals and subsequent xenodiagnosis with R. neglectus, T. infestans and P. megistus. This strain has low pathogenicity for the inoculated animals but develops resistance against reinfection with the Y strain of T. cruzi. Blood trypanosomes have a mean total length of 21.8 µ and the nuclear index was 1.15.
Uniterms:Trypanosoma cruzi. Calomys expulsus. Triatominae natural infection.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, 20 espécies de roedores silvestres foram encontrados naturalmente infectadas pelo Trypanosoma cruzi (Pessoa e Martins3, 1977). No entretanto, a presença deste parasito não havia sido ainda assinalada no roedor Calomys expulsus. De acordo com Ribeiro4 (1973), só na família cricetidae cinco espécies foram encontradas albergando o agente etiológico da doença de Chagas.
No decorrer das pesquisas que vem sendo realizadas sobre a transmissão de T. cruzi em foco silvestre, ao norte do município de Formosa, Estado de Goiás, um exemplar de C. expulsus foi encontrado naturalmente infectado por este protozoário.
C. expulsus é um roedor pequeno um pouco maior que o camundongo. Ele pode ser encontrado em campos naturais, pastagens, áreas desmatadas, próximo a florestas, campos de cultura e, às vezes próximo às casas. Embora sua área de distribuição geográfica não esteja ainda devidamente delimitada, pode ser encontrado no centro-oeste nordeste e em algumas regiões do sul do Brasil. É um roedor de hábitos estritamente crepuscular e noturno. Seus ninhos são feitos principalmente de traçados de grama seca e encontram-se no solo em tufos de gramíneas ou entre folhagens e troncos de árvores mortas.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A amostra de T. cruzi foi inicialmente isolada através de inoculações do sangue do animal positivo, por via intraperitoneal, em ratos com um mês de idade e camundongos albinos com 15 dias. Subseqüentes xenos foram realizados empregando-se ninfas do IV e V estágios de R. neglectus, T. infestans e P. megisfus. Um total de 6 C. expulsus, nascidos no laboratório, foram também utilizados para inoculação com a amostra do tripanosoma em estudo
Foram ainda realizados: cultura em NNN, estudos histopatológicos, biometria das formas sanguícolas e testes de resistência dos animais infectados à inoculações com a cepa Y.
A identificação específica do parasito foi feita atendendo os critérios recomendados por Barretto1 (1970)
3. RESULTADOS
Os ratos e camundongos inoculados com material positivo, seja sangue ou fezes de barbeiro, nunca tiveram parasitemia patente e todos sobreviveram à infecção. Porém, esta foi comprovada nestes animais pelos achados dos xenos positivos e ninhos de leishmania nos tecidos.
Os corações destes animais foram submetidos "in totum" a estudo histopatológico. Os achados microscópicos no músculo cardíaco consistiram em graus variados de infiltração de células mononucleares associada ou não à presença de ninhos de leishmanias.
Na maioria das vezes foram identificados cistos contendo parásitos, sem reação celular associada. Secções de fígado, músculo esquelético e tubo digestivo foram também examinadas com resultados negativos, exceto em caso que mostrou miosite crônica focal.
Em inoculações realizadas em C. expulsus, nascidos em laboratório, foi possível determinar o período de prepatência nestes animais, que variou entre 7 e 14 dias, e a curva parasitêmica embora muito baixa, foi acompanhada durante 30 dias após o primeiro exame positivo (ver Tabela).
Dois exemplares de cada espécie de animal infectado no laboratório com a cepa em estudo, foram reinoculados com 0,1 ml. de sangue proveniente de camundongos, infectados com a cepa Y, apresentando parasitemia muito alta. Os animais assim reinfectados sobreviveram até 2 meses após inoculação, quando foram então sacrificados. Os camundongos testemunhos, entretanto, sucumbiram entre 6 10 dias após a inoculação com a cepa Y.
A cultura realizada em meio NNN, com sangue obtido de punção cardíaca, de animal com parasitemia patente, foi positiva com 18 dias de semeio mantido a temperatura ambiente.
A morfologia dos tripanosomas encontrados no sangue apresenta-se semelhante ao T. cruzi. Desenhos realizados em câmara clara (1.250x) são encontrados na Figura
Os resultados da micrometria realizada em 20 tripanosomas (µ) foram:
Comprimento total 21.8 (16.725.8)
Flagelo livre 4.4 ( 2.7 6.6)
Largura 1.1 ( 0.5 1.6)
Distância NP 8.2 ( 6.8 9.3)
Distância NA 7.1 ( 4.9 9.3)
índice Nuclear 1.15( )
4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A amostra do T. cruzi isolada de C. expulsus e estudada no presente trabalho apresenta patogenicidade extremamente baixa, o que difere de todas as amostras isoladas de roedores e estudadas por Ribeiro4 (1973). Mesmo os C. expulsus inoculados experimentalmente tiveram parasitemia muito baixa e um período de prepatência longo (ver Tabela).
Analisando-se os resultados da micrometria realizada nos esfregaços sanguíneos, observa-se que as medidas médias estão compatíveis com aquelas apresentadas por Ferriolli e col2. (1968) para amostras de T. cruzi humanas e de outros animais.
Não obstante o comportamento da evolução da infecção nos animais experimentalmente infectados, as características morfológicas aliadas a cultivabilidade de tripanosoma em estudo, os resultados dos xenos e o encontro de ninhos de leishmania nos tecidos examinados levam, como é recomendado por Barretto 1 (1970), a conclusão de que o tripanosoma em estudo se trata da espécie cruzi. Assim sendo, C. expulsus pode ser considerado como mais uma espécie de roedor a albergar naturalmente a infecção pelo T. cruzi.
Recebido para publicação em 27/04/1977
Aprovado para publicação em 14/07/1977
Trabalho realizado, em parte, com o auxíli o do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq-6228/75 S IP/08-032)
- 1. BARRETTO, M. P. Estudos sobre reservatórios e vectores silvestres do Trypanosoma cruzi. XLIII. Sobre a validade das espécies americanas incluídas no subgénero Schisotrypanum Chagas, 1909 do género Trypanosoma Gruby, 1843. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 13:272-8, 1970.
- 2. FERRIOLLI FILHO, F. et al. Estudos sobre reservatórios e vectores silvestres do Trypanosoma cruzi. XXIV. Variação dos dados biométricos obtidos em amostras do T. cruzi isoladas de casos humanos da doença de Chagas. Rev. Soc. bras. Med. trop., 2:1-8, 1968.
- 3. PESSOA, S. B. & MARTINS, A. V. Pessoa-parasitologia médica. 10ª ed. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Koogan, 1977.
- 4. RIBEIRO, R. D. Novos reservatórios do Trypanosoma cruzi. Rev. bras. Biol., 33:429-37, 1973.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
24 Abr 2006 -
Data do Fascículo
Dez 1977
Histórico
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Aceito
14 Jul 1977 -
Recebido
27 Abr 1977