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Risco de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em profissionais da saúde

Risk of infection by the human immune deficiency virus (HIV) among health professionals

Resumos

A fim de investigar o risco ocupacional de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em profissionais da saúde, foram estudados 35 casos de acidentes com material potencialmente contaminado pelo HIV, ocorridos em funcionários do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). Dos 36 profissionais de saúde estudados, 52,8% (19/36) eram auxiliares de enfermagem, 19,4% (7/36) enfermeiras, 13,9% (5/36) atendentes de enfermagem, e 5,5% (2/36) técnicos de enfermagem. Em 47,2% (17/36) dos casos houve exposição parenteral a sangue (acidente com agulha). As mãos e os dedos foram as áreas do corpo mais atingida. Foi empregado o teste imunoenzimático (ELISA) para detecção de anticorpos anti-HIV, sendo realizado em todos os profissionais por ocasião do acidente e com 1,2, 6 e 12 meses após a exposição. Os resultados foram negativos não sendo registrada nenhuma soroconversão. Recomenda-se que a educação continuada para o trabalhador de saúde deve reforçar o uso das precauções universais, especialmente os cuidados com agulhas e outros instrumentos perfurantes.

HIV; Riscos ocupacionais; Ocupações em saúde


To investigate the occupational risk of infection by HIV among health professionals, 36 cases of occupational accidents involving exposure to material potentially infected with HIV, reported at a Brazilian General Hospital (HCFMRP), were studied. Of the injured workers 75% were female and 25% male (ranging from 23 to 49 years old) and just one of them had high-risk behavior of HIV infection. Of these health professionals, 52.8% were nursing auxiliaries, 19.4%, nurses, 13.9%, nursing attendants, 5.5%, laboratory technicians, 2.8% surgery instrumentalist, 2.8% accountants and 2.8% nursing technicians. In 47.2% of cases the workers had a parenteral exposure to blood (needlestick injuries). The right hand and fingers were the body areas most effected. The serologic test to detect HIV antibodies by the ELISA method was required of all the workers. The results were negative and no seroconversion was registered during the one year follow-up period. The professionals were retested one month, 2 months, 6 months and one year after the exposure. In conclusion, the risk of infection by HIV among health professionals of HCFMRP seems to be very low. Continuing education should be provided for health care workers with a view to reinforcing the use of universal precaution, especially those to prevent injuries cause by needles or other sharp instruments

HIV; Working risks; Health occupations


NOTAS E INFORMAÇÕES NOTES AND INFORMATION

Risco de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em profissionais da saúde

Risk of infection by the human immune deficiency virus (HIV) among health professionals

Alcyone Artioli MachadoI; João Carlos da CostaI; Elucir GirII; Tokiko Murakawa MoriyaII; José Fernando de Castro FigueiredoI

IDepartamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, SP - Brasil

IIDepartamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, SP - Brasil

RESUMO

A fim de investigar o risco ocupacional de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em profissionais da saúde, foram estudados 35 casos de acidentes com material potencialmente contaminado pelo HIV, ocorridos em funcionários do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). Dos 36 profissionais de saúde estudados, 52,8% (19/36) eram auxiliares de enfermagem, 19,4% (7/36) enfermeiras, 13,9% (5/36) atendentes de enfermagem, e 5,5% (2/36) técnicos de enfermagem. Em 47,2% (17/36) dos casos houve exposição parenteral a sangue (acidente com agulha). As mãos e os dedos foram as áreas do corpo mais atingida. Foi empregado o teste imunoenzimático (ELISA) para detecção de anticorpos anti-HIV, sendo realizado em todos os profissionais por ocasião do acidente e com 1,2, 6 e 12 meses após a exposição. Os resultados foram negativos não sendo registrada nenhuma soroconversão. Recomenda-se que a educação continuada para o trabalhador de saúde deve reforçar o uso das precauções universais, especialmente os cuidados com agulhas e outros instrumentos perfurantes.

Descritores: HIV. Riscos ocupacionais. Ocupações em saúde.

ABSTRACT

To investigate the occupational risk of infection by HIV among health professionals, 36 cases of occupational accidents involving exposure to material potentially infected with HIV, reported at a Brazilian General Hospital (HCFMRP), were studied. Of the injured workers 75% were female and 25% male (ranging from 23 to 49 years old) and just one of them had high-risk behavior of HIV infection. Of these health professionals, 52.8% were nursing auxiliaries, 19.4%, nurses, 13.9%, nursing attendants, 5.5%, laboratory technicians, 2.8% surgery instrumentalist, 2.8% accountants and 2.8% nursing technicians. In 47.2% of cases the workers had a parenteral exposure to blood (needlestick injuries). The right hand and fingers were the body areas most effected. The serologic test to detect HIV antibodies by the ELISA method was required of all the workers. The results were negative and no seroconversion was registered during the one year follow-up period. The professionals were retested one month, 2 months, 6 months and one year after the exposure. In conclusion, the risk of infection by HIV among health professionals of HCFMRP seems to be very low. Continuing education should be provided for health care workers with a view to reinforcing the use of universal precaution, especially those to prevent injuries cause by needles or other sharp instruments

Keywords: HIV. Working risks. Health occupations

Introdução

Paralelamente ao aparecimento de indivíduos com a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foram sendo relatados casos profissionais de saúde que adquiriram o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) em consequência de sua atividade profissional1,5,11,12.

Como mostram os vários relatos da literatura, determinar a circunstância em que ocorreu a contaminação para o profissional da saúde sempre foi difícil e controvertida4,5,8,9. Através de diferentes estudos realizados em outras localidades tem-se que o risco de infecção após uma simples exposição percutânea por sangue infectado pelo HIV é menor que 1%2,10,13

A presente nota tem o objetivo de mostrar o risco do profissional de saúde no exercício de sua profissão, em adquirir infecção pelo HIV após contato e acidente com material potencialmente contaminado.

Material e Método

Foram analisados, retrospectivamente, 36 casos de funcionários que sofreram acidente de trabalho por material potencialmente contaminado pelo HIV, notificados ao Serviço Médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) no período de junho de 1987 a agosto de 1990. O HCFMRP-USP possuia nesse período cerca de 7.000 funcionários.

Os dados dos funcionários quanto à idade, sexo, local e tempo de serviço, tipo de acidente de trabalho, material com o qual foi exposto, região anatômica em que ocorreu o acidente, pesquisa de anticorpos contra HIV no soro e a ocorrência ou não de soroconversão foram coletados junto aos prontuários médicos. A pesquisa de anticorpos anti-HIV foi realizada pelo método imunoenzimático (ELISA), empregando kits comerciais da marca Abbott (Abbott Recombinant HIV-1 EIA).

Resultados e Discussão

Nos 36 casos estudados, 75% (27/36) dos acidentes ocorreram em profissionais do sexo feminino e 25% (9/36) no sexo masculino. Os profissionais acidentados tinham idade variando de 23-40 anos (média de 34,6 anos) e 94,6% (34/36) deles trabalhavam no hospital por um período superior a um ano.

A categoria profissional que mais se acidentou com material potencialmente contaminado pelo HIV foi a mais diretamente relacionada com o contato direto com o paciente. Assim, 32/36 (88,8%) dos casos ocorreram entre os profissionais de enfermagem e, entre eles, os auxiliares de enfermagem foram os que mais freqüentemente relataram o acidente (Tabela 1).

Esses resultados estão provavelmente relacionados à própria estrutura funcional da divisão de enfermagem do HCFMRP-USR Dessa forma, enquanto às enfermeiras cabem tarefas predominantemente administrativas e às atendentes as tarefas menos complexas no cuidado aos pacientes, são as auxiliares de enfermagem as profissionais mais envolvidas na colheita de sangue e secreções para exame laboratorial e na administração de medicamentos por via parenteral.

A predominância de acidentes em indivíduos do sexo feminino é também provavelmente reflexo da atividade profissional visto que predominam as mulheres entre os profissionais de enfermagem. Fatores outros, tais como a inexperiência no trabalho parecem ser pouco importantes no determinismo do acidente, pois a maioria dos profissionais que se acidentaram eram funcionários antigos do hospital.

Os acidentes ocorreram predominantemente nas extremidades do corpo (mãos e/ou dedos) e foram consequência principalmente de ferimentos com agulha ou contacto com sangue e secreções corporais do paciente (Tabelas 2 e 3).

Apesar de não se dispor de informações sobre as medidas de proteção em uso pelos funcionários no momento do acidente, os dados acima reforçam a necessidade de se manter rigorosa observância das normas de proteção indicadas no cuidado dos pacientes, principalmente quanto ao uso de luvas e a técnica empregada durante a colheita de material ou quando do manuseio de suas secreções.

Com exceção de um funcionário, todos receberam orientação para seguimento clínico e laboratorial após o acidente, seguindo a recomendação dos Centers for Disease Control3 . Todos eles tiveram uma primeira amostra de sangue colhida entre 0 e 12 dias após o acidente com resultado negativo para anti-HIV.

Um funcionário referia comportamento de risco para a infecção pelo HIV. Durante o seguimento sorológico, 30 funcionários submeteram-se a dois testes, 27 a três testes e 20 a quatro testes. Todos os testes resultaram negativos durante o seguimento, confirmando relatos anteriores6,7,10 de que são raros os episódios de soroconversão após acidentes com material potencialmente contaminado pelo HIV.

Apesar disso, e levando em conta os freqüentes aspectos emocionais que se seguem a acidentes dessa natureza, é recomendável manter os profissionais de saúde, mais intensamente expostos ao risco, orientados quanto: 1. à atual dimensão do problema da AIDS no nosso meio, com ênfase ao contingente de indivíduos infectados e ainda assintomáticos; 2. às formas mais freqüentes de contágio durante a atividade profissional; 3. à necessidade de obediência irrestrita ás normas de proteção individual durante as atividades profissionais de rotina.

Recebido para publicação em 18/6/1991

Reapresentado em 14/11/1991

Aprovado para publicação em 22/11/1991

Separatas/Reprints: A.A. Machado - Av. Bandeirantes, 3900 - 14049 - Ribeirão Preto, SP - Brasil.

Publicação financiada pela FAPESP. Processo Saúde Coletiva 91/4994-0.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Out 2003
  • Data do Fascículo
    Fev 1992

Histórico

  • Recebido
    18 Jun 1991
  • Revisado
    14 Nov 1991
  • Aceito
    22 Nov 1991
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